Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1. Introdução
Sabemos que é por meio do poder legislativo que o Estado cria as normas, estabelecendo
os direitos e os deveres dos membros da sociedade. E se todas as pessoas cumprissem os seus
deveres jurídicos e respeitassem os correspondentes direitos das outras, isto é, se o
comportamento de todos estivesse em conformidade com o que prescreve o ordenamento
jurídico, não chegaria a desencadear-se qualquer conflito de interesses e consequentemente,
não haveria a necessidade de existirem processos. No entanto, na dinâmica social, não é assim
que as coisas sucedem, pois nem sempre as leis são respeitadas. E é dessa violação que surgem
os conflitos de interesses.
Caso as partes envolvidas não consigam encontrar uma solução para essa contenda, uma
delas pode recorrer aos tribunais, para ver o seu direito violado reintegrado, por meio da decisão
imparcial do Juiz, decisão esta que é dotada de força coercitiva.
E é daqui então que surge um processo.
A) Seu significado
A expressão processo tem origem no vocabulário latino, das palavras pro+cedere, que
significa avançar para, caminhar para frente, avançar para um objetivo. Em suma, a palavra
processo significa a realização continua e prolongada de uma actividade.
Mas é o conceito jurídico que nos interessa. E neste, o processo é uma sequência de
actos destinados a justa composição, por um órgão imparcial de autoridade (o tribunal), de um
litígio. Além deste, existem outros conceitos de processo civil apresentados por diversos
autores, dos quais se seguem:
Para Lebre de Freitas, processo civil “é uma sequência de actos jurídicos destinados à
justa composição de um litígio praticado por um órgão imparcial de autoridade (o tribunal)”.
Conclui Manuel Correia, processo civil “é a sequência lógica e estruturada de actos que
visam a justa composição dos litígios com a finalidade única de administrar a justiça”.
I. Ramo do Dto. Público: o direito processual civil é ramo do direito público porque disciplina
o exercício da função jurisdicional, que é uma função do Estado confiada aos órgãos de
soberania deste, que são os tribunais;
II. Ramo de direito instrumental ou adjetivo: o direito processual civil é um ramo instrumental
do Dto. Civil. Ele é instrumental na medida em que, não são as suas normas que facultam a
solução aplicável ao conflito de interesse existente entre as partes litigantes, nem a resposta
para a questão da existência ou inexistência do direito invocado pelo requerente. O direito
processual civil somente assegura a questão da tramitação processual. Ele visa mostrar os
meios, as etapas e caminhos adequados a seguir, para assegurar a materialização das normas
do Dto. Civil previstas no Código Civil (direito substantivo), mediante a intervenção do
tribunal.
Fontes são os modos de criação e produção de normas jurídicas. É o modo pelo qual o direito é
formado e revelado, enquanto conjunto de normas jurídicas devidamente sistematizado, conformadoras
e disciplinadoras da realidade social de um estado.
Os três marcos fundamentais na evolução legislativa do direito processual civil, são o Código
de Processo de 1876, o Código de 1939 e o Código de 1961.
No ano de 1939, sob a influência marcante do professor Alberto dos Reis, o Código de
Processo Civil de 1876, passou por uma revisão abrangente. Isso porque as soluções do Código
de 1876, à medida que o tempo foi passando, já se mostrava um pouco afastado do novo espírito
da época.
Essa revisão, introduziu alterações substanciais e profundas ao antigo sistema
processual, e visou corrigir as características menos favoráveis deste. O Código de 1939, era
mais aperfeiçoado ao espírito dos tempos e trouxe uma melhoria incontestável à administração
da justiça.
Mas foi em 1961, que se aprovou um terceiro Código de Processo Civil, o actual,
encabeçado pelo professor Antunes Varela, que fez uma reforma ao código de Alberto dos Reis.
O actual código de processo civil (de 1961), traz as seguintes características inovadoras:
i) Consagra a obrigação do dever de fundamentação das decisões do juiz;
ii) Introdução ao processo dos articulados supervenientes.
Temos como sujeitos no processo civil, primeiramente, o tribunal que não é parte do
processo, mas sim o órgão de soberania que profere a decisão, e este é um sujeito exclusivo. E,
posteriormente, temos as partes (autor e réu ou ainda demandante e demandado de modo geral)
que em função do tipo de processo isto é, do meio processual em causa, estes últimos poderão
receber outras denominações (ex: autor e réu/ré, exequente e executado, recorrente e requerido),
etc.
Nesta senda, estamos diante de uma espécie de relação triangular, em que, o tribunal
encontra-se no topo, dotado de ius imperi, conforme disposto nos artigos 105.° e 172.° da
Constituição da República de Angola (doravante CRA), cujas suas decisões judiciais têm força
vinculativa especial para as partes, pois com o tribunal, as partes têm uma relação de
subordinação.
2) Réu: é a parte contra a qual a acção é movida. O réu é chamado a se defender das
alegações apresentadas pelo autor, apresentando suas próprias argumentações,
fazendo jus ao princípio do contraditório.
F) Acesso à justiça
Supondo que, um devedor não faz a prestação devida ao seu credor ou não cumpre em
tempo devido com a prestação a que estava adstrito, essa atitude de desrespeito ou violação dos
direitos do credor, desencadeiam a necessidade de proceder à reintegração desse direito violado.
Vimos que, anteriormente nos sistemas primitivos, a primeira via a ser usada para
remediar tais situações de ofensa ao direito do particular era fazendo recurso à própria força,
afim de o particular, por si mesmo, repor a solução que decorre do direito substantivo aplicável.
Mas este sistema de justiça privada, assente no princípio fundamental da autodefesa
(337.° do CC) e da acção directa (336.° do CC), é um sistema imperfeito, manifestamente
inadequado às exigências de uma sociedade civilizada. Pois, com certeza em vez de resolver os
conflitos de interesses, constituiria uma fonte geradora de outros conflitos, devido aos excessos
de injustiça que daria lugar.
Por estas razões, o artigo 1.° do Código de Processo Civil, proíbe a autodefesa
determinando que “a ninguém é lícito o recurso à força com o fim de realizar ou assegurar o
próprio direito, salvo nos casos e dentro dos limites declarados na lei”.
Mas não basta porém, que a lei atribua aos interessados a possibilidade de obterem a
composição do litígio, é aos particulares que cabe a iniciativa de pôr em funcionamento a
máquina jurisdicional, propondo a acção adequada no tribunal competente.
Como é de conhecimento geral, nem sempre as pessoas dispõem de meios financeiros
que lhes permitam suportar as custas da acção ou os honorários dos advogados. E para tornar
efectiva a garantia do acesso à via judiciária para todos, foi publicada a Lei que regula o acesso
ao direito e aos tribunais, visando possibilitar o apoio judiciário a favor de quem se encontre
em situação de insuficiência económica. Em Angola trata-se da Lei n.º
Não há na lei processual civil, nenhuma disposição que estabeleça critérios especiais
para a interpretação do direito adjectivo.
Aplicação no Tempo
A doutrina geral aceite no direito civil, como se sabe, é a de que a nova lei só rege para
o futuro (art 12.° do CC), não se aplicando aos factos pretéritos.
E no direito processual civil, vigora um princípio doutrinário que é o Princípio da
Aplicação Imediata da LPC. Significa isto que, havendo alguma alteração na lei, aplicar-se-a
imediatamente a lei nova, pois a alteração do direito substantivo (CPC) não afecta de modo
algum no direito subjetivo (CC).
Acrescenta ainda Alberto dos Reis, que quando se publica uma lei nova, significa que o
Estado considera a lei anterior imperfeita e defeituosa para a administração da justiça ou para
o regular funcionamento do poder judicial.