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DIREITO PROCESSUAL CANÔNICO I

NOÇÕES GERAIS Pars statica - 1/5

Pe. Dr. Luigi Zuncheddu


Pars statica 1/5 - Noções gerais

Introdução ao Direito Processual


Terminologia processual
Os tipos de processo
Natureza jurídica do processo
Aplicação das leis no processo
Requisitos processuais
Introdução ao Direito Processual

Direito - ubi societas, ibi ius (M.T. Cicero): conjunto de normas que regulamentam
a vida da comunidade para atingir o bem comum.
Processo: conjunto de instrumentos técnicos e formais que o ordenamento utiliza
para garantir a sua aplicação ao caso concreto e, assim, resolver as eventuais
controvérsias jurídicas.
Direito processual: aquela parte do ordenamento jurídico que visa resolver as
controvérsias de modo respeitável.
Direito processual canônico: aquela parte do ordenamento jurídico da Igreja que
visa resolver as controvérsias que atingem a sua missão de modo respeitável.
Terminologia processual

Processo: sucessão racional ordenada e progressiva de atos legítimos a dar


solução a uma controvérsia; na sucessão ordenada e progressiva, há uma relação
e interdependência entre os atos.

Juízo - iudicium dare: ato próprio da autoridade judicial, que resolve uma
controvérsia, com base nos elementos fornecidos pelas partes.

Procedimento - ratio/modus procedendi: o aspecto formal do processo, as


solenidades através das quais ele ocorre.
Terminologia processual

Causa: indica o objeto e a matéria do processo, distinguindo-o dos aspectos


formais; às vezes é utilizado para indicar algum tipo de processo, quanto ao seu
objeto (ex. causas matrimoniais).

Lide: situação de conflito que dá origem ao processo; na litis contestatio (câns.


1513-1516 CDC) o juiz define os termos da controvérsia.

Instância: 1) em relação ao aspecto vital e dinâmico do processo, como início da


controvérsia, várias vicissitudes, conclusão da mesma, ou para indicar o grau
hierárquico do Tribunal, ex. de primeira instância; 2) respeito aos vários pedidos
ou questões submetidas ao juiz.
Terminologia processual

Apelação: apresentação de um pedido à autoridade, após ter recebido uma


negação, contra o ato que a produziu.

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Procedimento canônico: uma série de atos com o objetivo de realizar um ato final
e definir em sua sequência as diferentes posições subjetivas dos sujeitos
envolvidos.

Processo canônico: o procedimento utilizado, em sua estrutura dialética, se


identifica por seu desenvolvimento em contraditório, para chegar à verdade.
Os tipos de processo

Em razão da autoridade que intervém


Processos judiciais: A solução compete à autoridade judicial da Igreja. A
potestade judicial faz parte do poder de regime, é exercida pelos juízes e pelos
colégios judiciais. Regras procedurais obrigatórias para os juízes. Respeito
integral e formal do direito de defesa e contraditório.
Processos não judiciais: A solução está com pessoas sem autoridade judicial: a)
particulares [critérios de equidade, justiça e pacificação] ex. transação,
arbitragem, conciliação; b) autoridade administrativa ou executiva [atos e
processos administrativos] ex. decretos, dispensas, separação matrimonial,
processo super rato, in favorem fidei, recursos administrativos.
Os tipos de processo

Em razão da matéria

Processos especiais: Livro VII, Parte III, “Alguns processos especiais” Tit. I -
Processos matrimoniais; Tit. II - Nulidade da sagrada ordenação; Tit. III - Modos de
evitar os juízos.

Processos não especiais: Todos os outros processos que não são especiais.
Os tipos de processo

Em razão da forma

Processo ordinário: Livro VII, Parte II, Seção II. A forma escrita é predominante;
fases processuais temporalmente predeterminadas.

Processo oral: Livro VII, Parte II, Seção II. A forma oral é prevalecente, sem excluir
alguns necessários autos escritos. Podem ser tratadas pelo processo
contencioso oral todas as causas não excluídas pelo direito.
Os tipos de processo

Em razão do objeto [a qualificação jurídica do direito a ser defendido ou reivindicado ]


No entanto que a matéria pode ser de coisas espirituais, anexas às espirituais,
violação de leis eclesiásticas [cf. cân. 1401 CDC], pelo objeto há três categorias
de processo [cf. cân. 1400 CDC]:
Processo contencioso: Entre dois sujeitos, pessoas físicas ou jurídicas. Direitos a ser
defendidos ou reivindicados e fatos jurídicos a ser declarados, cân. 1400 §1, 1º.

Processo penal: Violação externa da lei penal. Delitos, no que se refere a declaração
da pena, cân. 1400 §1, 2º.

Processo administrativo: Controvérsias originadas de atos do poder administrativo;


apresentação ao Superior ou ao tribunal administrativo, cân. 1400 §2.
Natureza jurídica do processo

Natureza [ou categoria] das relações jurídicas


O Direito ordena as relações sociais, algumas são relações jurídicas. A natureza das
relações jurídicas é a categoria jurídica da posição de um sujeito frente a outro numa
relação jurídica.
Hierarquia dos poderes
Posição ativa: 1) o sistema confia a pessoas ou cargos públicos o poder de obrigar os
demais tendo em vista os interesses da coletividade; 2) direito subjetivo: possibilidade
de obrigar os demais por causa dos interesses próprios; 3) relações jurídicas
facultativas garantem a possibilidade de ação para tutelar um interesse próprio.
Posição passiva: 1) submissão à decisão da autoridade; 2) obrigação de agir
sacrificando o próprio interesse; 3) relações onerosas para obter um benefício.
Natureza jurídica do processo

Principais teorias sobre natureza jurídica do processo


Teoria do contrato: as partes estão de acordo para levar o caso ao juiz.
Teoria da relação jurídica: direitos e deveres próprios da relação processual:
demandante-demandado-juiz, natureza pública.
Teoria da situação jurídica: para os vínculos no processo, não se trata de
relações jurídicas, mas de situações onerosas, possibilidades, faculdades.
Teoria da instituição jurídica: o processo é uma instituição finalizada à solução
das controvérsias, de acordo com a justiça e a verdade; isso gera vínculos
jurídicos e relações de direitos e deveres, onde o interesse particular se coordena
com o interesse público.
Natureza jurídica do processo

Natureza jurídica do processo canônico

O processo canônico -de acordo com a teoria da instituição jurídica- é um


instrumento a serviço de uma finalidade superior: a aplicação do direito
segundo justiça e verdade. As normas processuais, os protagonistas, o
papel das partes e do juiz contribui a impedir o perigo de uma
compreensão unilateral da verdade e da justiça, pois é no processo que
acontece uma discussão paritária entre as partes, em situação de
paridade dialética (contraditório), declarada pelo juiz imparcial, com base
nos atos e provas, de modo que o resultado (sentença) seja convincente
na consciência de todos.
Aplicação das leis no processo

Aplicação de diferentes regras, na mesma situação concreta; regras derrogáveis e


obrigatórias, com limite duplo: eficácia no tempo e no espaço.
Eficácia no tempo - tempus regit actum.
1) Distinção: no processo, se aplica a lei processual em vigor no momento que
começa; pelo que se refere ao direito substantivo, se aplica a lei em vigor no
tempo em que foi praticado o ato que deu origem ao direito material em
discussão.
2) Razão jurídica: cân. 9 CDC, não retroatividade das leis, a não ser que
explicitamente nelas se disponha algo sobre o passado; cân. 16 CDC, tem valor
retroativo uma lei explicativa; cân. 1313 CDC, ao reo se aplica a lei mais favorável.
Aplicação das leis no processo

Eficácia no espaço

1) Distinção: no processo, se aplica a lei processual em vigor no local onde se


celebra o processo [lei e regulamento do tribunal]; pelo que se refere ao direito
substantivo, se aplica a lei em vigor no local em que foi praticado o ato que deu
origem ao direito material em discussão.

2) Princípio canônico: universalidade e uniformidade das leis, mesmo sem


exclusão total da territorialidade; o regulamento do tribunal cuida de regras
menores, disciplinares, de acordo com o princípio de subsidiariedade. Do ponto de
vista substancial, há leis particulares [ex. direito dos religiosos], bem como
aquelas que regem os tribunais da Sé Apostólica.
Requisitos processuais

Requisitos prévios à atividade processual, necessários para apresentar a


demanda ao juiz, são diferentes de:

Requisitos constitutivos das ações, que se referem ao mérito da controvérsia e


devem existir no momento da sentença

Requisitos para a validade dos atos processuais, referem-se ao princípio de


legalidade das formas processuais, que pode se superar em diferentes
modalidades
Requisitos processuais

Requisitos processuais
Req. jurisdicionais: relativos ao poder jurisdicional na esfera judicial, que
permitem ao juiz tratar de um caso concreto.
Req. estruturais: relativos aos tribunais, estruturas através das quais se realiza o
processo; hierarquia dos tribunais eclesiásticos, diferentes graus e instâncias.
Req. pessoais: relativos às pessoas antes do processo acontecer [juiz e seus
colaboradores, advogados, patronos, condições para agir, etc.]
Req. disciplinares: relativos a regras sobre a disciplina a ser observada nos
tribunais, termos e dilações, tempo e lugar do processo.

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