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Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Jéssica Daniela Escarameia Nabais

Resumos de Direito Processual


Civil
Conceito de Processo Civil

A palavra processo transmite-nos a ideia de um determinado percurso, da realização continua e


prolongada de uma atividade – traduz uma sequência de factos ou operações que apresentam uma
certa unidade.
è “Processo” deriva de pro+cedere, que significa avançar para.
No sentido jurídico, o processo é uma sequencia de atos destinados à justa composição, por um
órgão imparcial de autoridade (o tribunal), de um litigio, ou seja, de um conflito de interesses – é um
conjunto de peças apresentadas por uma e outra parte para servir à instrução e julgamento de uma
questão: o resultado para que tende a atividade processual constitui a decisão, a sentença à a
sentença resulta da aplicação de normas do direito civil (e não do processo civil) aos factos provados,
o que significa que, são atribuídos direitos subjetivos a uma das partes e, impostos deveres jurídicos
correlativos à outra parte.
Nos casos em que as normas jurídicas não são respeitadas, ou seja, nos casos em que o devedor não
satisfaz a prestação devido ao credor ou em que um inidividuo se apropria ou danifica a coisa
pertencente a outrem, gera-se uma situação de conflito de interesses à atualmente, a forma seguida
para repor a situação tutelada pelo direito civil é alcançada recorrendo aos tribunais, aos quais se
solicita que direm o direito aplicável ao caso concreto.
è Por estas razoes, o CPC proíbe a autotutela no artigo 1º, determinando que a ninguém é licito
o recurso à força com o fim de realizar ou assegurar o próprio direito, salvo nos casos e dentro
dos limites declarados na lei.
- MAS, a ação direta, prevista no artigo 336º CC é admitida em alguns casos, desde que:
o Exista um direito próprio;
o Haja uma impossibilidade de recorrer em tempo útil aos meios coercivos normais;
o Seja indispensável o recurso à força para evitar a inutilização pratica do direito;
o Que o agente não exceda o que for necessario para evitar o prejuízo;
o Que a ação direta não sacrifique interesses superiores aos que o agente visa realizar
ou assegurar;
Neste sentido, tendo em conta que a ação direta se efetua apenas em casos excecionais, podemos
considerar que o Estado tem uma função jurisdicional: este obriga-se através de órgãos próprios –
os tribunais – a conceder ao titular do direito violado a reintegração efetiva do seu direito.
- Os tribunais são órgãos de soberania com competência para administrar a justiça em nome do povo,
nos termos do artigo 202º, nº1 CRP e, as decisões dos tribunais judiciais são obrigatorias para todas
as entidades publicas e prevalecem sobre as de quais quer outras autoridades – artigo 205º, nº2

ASSIM, as 3 bases que sustentam o Estado de Direito Democrático são: Liberdade, Autonomia Privada
e a Responsabilidade: não há Liberdade sem Autonomia, mas também não há́ liberdade e autonomia
sem Responsabilidade. E a Responsabilidade pressupõe a autonomia e a liberdade.
O Processo Civil surge numa situação de conflito, quando há́ uma falha na autonomia privada, assim,
o processo é a realização continua e prolongada de uma atividade, traduzindo uma sequencia
continua de factos ou operações com um certo andamento/desenvolvimento que levam a certo
resultado.

Características do Processo Civil

O Processo Civil é um direito público, na medida em que, há intervenção de um órgão de soberania


(regula o exercício da função jurisidicional do Estado) e, para além disto, é também um direito
instrumental que tutela situações subjetivas (a todo um direito corresponde um meio de tutela) à
as normas contém os tramites para se alcançar a resolução do conflito, que é obtido pela aplicação
das normas substantivas de direito civil.
è O direito processual civil europeu é um direito de harmonização (por ex: envio prejudicial).

Ação e Processo

O processo civil é um critério instrumental à processos de tutela de determinados interesses.

Processo

Declarativo Executivo

É uma sequencia encadeada de


Objeto da nossa cadeira: trata de
atos e formalidades destinadas a
direitos subjetivos, interesses
promover as diligencias
legalmente protegidos e
necessarias à cobrança coerciva
interesses difusos)
de um direito de crédito.
ASSIM, o processo civil é um direito público: há intervenção de um órgão de soberania – é um direito
instrumental.

Ideias iniciais:
1. O processo civil consiste numa sequência de atos destinados à apreciação de uma pretensão
de alguém contra outrem;
2. O direito substantivo do processo civil é o direito civil e comercial;
3. Estão em causa direitos subjetivos, interesses legalmente protegidos e interesses difusos;
4. Tutela provisória (procedimentos cautelares – artigo 362º: Sempre que alguém mostre
fundado receio de que outrem cause lesão grave e dificilmente reparável ao seu direito, pode
requerer a providência conservatória ou antecipatória concretamente adequada a assegurar
a efetividade do direito ameaçado à ex: alimentos);
A garantia da norma de direito civil requer a possibilidade de coativamente ser feita respeitar e,
postula a recorribilidade aos tribunais para reintegrar as situações jurídicas afetas pela sua violação,
bem como prevenir violações ainda não consumadas ou exercer direitos potestativos que não
possam ser feitos valer extrajudicialmente.

- O recurso ao tribunal faz-se mediante a propositura duma ação à sujeito de direito privado (autor)
deduz contra outro (o réu) um pedido, normalmente, afirmando-se titular duma situação jurídica
para a qual requer a tutela do tribunal.

Sujeitos do Processo Civil (mais aprofundado no manual do Prof. Pais do Amaral)

1. Tribunal (Artigo 202º, nº1 CRP)

1ª instância (alçada = 2ª instância - relação


STJ
5.000€) (alçada = 30.000€)

A alçada dos tribunais é o limite do valor da causa até onde o tribunal julga em recurso, ou seja, se o
valor da causa for 3.000€, não pode haver recurso, mas se o valor da causa for 5.000€ pode haver
recurso até à 1ª instancia ou, se o valor da causa for, por exemplo, 15.000€, pode haver recurso até
ao tribunal da relação e assim sucessivamente.

No que diz respeito ao dever de administrar a justiça, o artigo 152º, nº4 estabelece o exercício de
um poder discricionário naquilo que toca aos despachos que decidam matérias confiadas ao
prudente arbítrio do julgador.

Neste sentido, o Tribunal decide a causa e o conhece o mérito da mesma.

è A absolvição da instância acontece quando não estão reunidas as condições para se conhecer
o mérito da causa.

NOTA: O mérito da causa relaciona-se com o conjunto de


factos, provas ou razões na causa que conduzem à formação
de um juízo

2. Partes
No Processo Civil, em regra, não se fala em direitos e deveres, mas sim em ónus (posição subjetiva –
autor e réu não estão obrigados a demonstrar qualquer facto, mas, se assim não procederem com
relação aos que lhe incumbe demonstrar, assumem o risco da sua omissão – se a parte aproveita o
ónus está numa situação favorável à ex: ónus de contestação).
Ainda neste âmbito é possível concluir que as partes têm deveres como a litigância de boa-fé.

3. Objeto
O objeto consiste numa pretensão em relação à qual o Tribunal vai proferir uma decisão à pretensão
concreta: a partir da pretensão o autor tem que formular um pedido – ex: a restituição da coisa.
ASSIM, a pretensão tem de ser fundamentada, uma vez que, a partir da pretensão o autor tem que
formular uma causa do pedido. Contudo, isto não impede que a causa do pedido possa ser formulado
uma segunda vez, com uma causa distinta).

Atos Processuais

Os Atos Processuais são todos aqueles que produzem efeitos no processo e, são ainda atos
processuais aqueles que são praticados antes do processo, mas que têm relevância para o mesmo.
è Os atos inserem-se numa determinada sequência.
A lei e o juíz definem a sequencia processual segundo o princípio da gestão processual (artigo 6º,
nº1) à o ato preclude (o direito processual extingue-se) quando não é praticado no momento
adequado.
Atos:
• Atos do Tribunal – decisão (artigo 152º):
o Despacho (decisão interrumpetória) - ato processual praticado pelo juiz, onde este
pode indeferir (negar) ou deferir (aprovar) determinado pedido, processo, solicitação,
etc;
§ Os despachos podem ser despachos de mero expediente nos casos em que
não apresentam nenhum tipo de conteúdo decisório (não causam prejuízos
para as partes envolvidas)
o Sentença (conhece o mérito da causa).
• Atos das partes
o Strico sensu/simples – produzem efeitos segundo a lei;
o Negócios – produzem os efeitos que as partes querem;
§ Unilaterais;
§ Bilaterais;

Forma e Prazos dos atos

Os atos processuais respondem ao princípio da liberdade de forma nos termos do artigo 131º, nº1 –
o que significa que, há atos escritos e orais.
Contudo, os atos têm que ser praticados em determinados prazos, sendo o prazo geral supletivo um
prazo de 10 dias – artigo 149º, nº1 e, sendo estes prazos contínuos nos termos do artigo 138º, nº1.
è Pode haver uma tolerância do prazo mediante o pagamento de uma multa.
Artigo 140º - Justo impedimento: quando o não cumprimento do ato não seja responsabilidade da
parte em causa.
è Não há relevância nas faltas e vícios da vontade, a não ser que, estejamos no domínio de atos
de carater negocial (ex: 291º), mas estes têm relevância reduzida.

Nulidades Processuais

No que diz respeito às nulidades processuais, a regra geral consta do artigo 195º:
1 - Fora dos casos previstos nos artigos anteriores, a prática de um ato que a lei não admita, bem
como a omissão de um ato ou de uma formalidade que a lei prescreva, só produzem nulidade quando
a lei o declare ou quando a irregularidade cometida possa influir no exame ou na decisão da causa.
2 - Quando um ato tenha de ser anulado, anulam-se também os termos subsequentes que dele
dependam absolutamente; a nulidade de uma parte do ato não prejudica as outras partes que dela
sejam independentes.
3 - Se o vício de que o ato sofre impedir a produção de determinado efeito, não se têm como
necessariamente prejudicados os efeitos para cuja produção o ato se mostre idóneo.

è A prática de um ato que a lei não admite ou a omissão de um ato que a lei impõe produz
nulidade nos termos descritos no artigo.

ASSIM, as nulidades podem ser:

Nulidade

Nulidades da
Tipíca (artigo
sentença
186º e ss.)
(artigo 615º)

Meios do Processo Civil

No âmbito do Processo Civil, há uma clara proibição da justiça privada nos termos do artigo 1º, bem
como uma garantia de acesso aos tribunais, nos termos do artigo 2º do CPC e 20º da CRP.
Para além disto, o Processo Civil garante ainda a existência de independência e imparcialidade do
tribunal, bem como do princípio do contraditório que se traduz numa consequência direta da
igualdade das partes e do processo equitativo).
Por fim, fala-se ainda no princípio da apresentação de uma decisão em prazo razoável, bem como
numa necessidade de fundamentação das decisões judiciais nos termos do artigo 205º CRP.
è A proteção jurídica é ainda um ponto fulcral: a justiça não deve ser negada por falta de
direitos económicos, o que significa que, deve haver um apoio judiciário.

Pressupostos Processuais (completo no Prof. Pais do Amaral – página 109)

Os pressupostos processuais são as condições de conhecimento do mérito da causa ou as condições


para a realização de medidas executivas, o que significa que, para quem seja reconhecido o mérito
da causa e para que sejam realizadas as medidas executivas adequadas é necessário que se
preencham determinados pressupostos processuais – ex: se alguma das partes numa ação de
despedimento for menor, ou seja, sem capacidade de exercício, o tribunal abstém-se de julgar a
causa e profere uma decisão de inadmissibilidade: neste caso o pressuposto é a capacidade jurídica.
è Valor da admissibilidade – a ação é admissível se existirem e se verificarem os pressupostos
processuais (o que não ocorria no exemplo anterior) e vice-versa (a ação é inadmissível se
não se verificarem os pressupostos processuais).
ASSIM, a justificação para a existência dos pressupostos processuais baseia-se no facto de ter de
existir uma legitimidade processual: ex – a competência material do tribunal tem a ver com a boa
administração da justiça à interessa assegurar que estão em juízo as partes interessadas.

Existem várias classificações dos pressupostos processuais:


• Pressupostos Gerais – Pressupostos comuns a todo e qualquer processo e de qualquer fase
do processo.
• Pressupostos Especiais – Situações que se verificam num determinado processo ou numa
determinada fase do processo à ex: pode ser formulado mais do que um pedido no processo;
• Pressupostos Específicos – É necessário ter legitimidade para recorrer;
• Pressupostos Processuais Positivos – Pressupostos que não podem deixar de estar
preenchidos à ex: competência do tribunal tem de estar preenchida obrigatoriamente;
• Pressupostos Processuais Negativos – Pressupostos que podem não se verificar para que a
ação seja procedente de igual forma à ex: exceção de caso julgado (verifica-se quando uma
causa já foi decidida e há uma repetição nos casos em que, essa causa ocorra entre as mesmas
partes e com o mesmo objeto);
• Pressupostos Absolutos – São aqueles que se se verificarem levam a que não seja admissível
nenhuma decisão (nem favorável nem desfavorável) sobre o mérito porque o tribunal não é
materialmente competente;
• Pressupostos Processuais Relativos – Estes pressupostos só condicionam uma decisão
quando esta é desfavorável à parte: é preciso ter presente que uma ação de mérito pode ser
sempre uma ação de precedência (favorável ao autor – desfavorável ao reu) ou de
improcedência (desfavorável ao autor – favorável ao reu) à ex: problema de falta de
capacidade judiciaria de um menor contra o qual é proposta uma ação de despedimento: isto
não é possível porque o menor não tem capacidade judiciaria: se o contrato de emprego fosse
nulo, a decisão não seria favorável ao autor à o problema que se coloca é o de saber se o
tribunal pode declarar a improcedência sendo o reu incapaz – se o resultado for favorável ao
reu à não faz sentido proteger o reu: é muito mais favorável ao reu uma decisão de forma –
ou seja, nem todos os pressupostos são materiais, na medida em que, neste caso o reu não
pode ser condenado se não tiver representado.
- Artigo 278º, nº3 CPC
Ação de mérito

Ação de
Ação de precedência
improcedência

Desfavorável ao
Favorável ao autor e
autor e favorável ao
desfavorável ao réu
réu

A contrapartida negativa dos pressupostos processuais é a exceção dilatória (Contrário dos


pressupostos processuais): em que não se verifica um pressuposto positivo à artigo 576º, nº1 e
577º CPC (título não taxativo) – a consequência é a absolvição da causa que ocorre quando o tribunal
não conhece mérito por falta de pressuposto processual.
Os pressupostos processuais devem ser apreciados antes do conhecimento do mérito da causa e, nos
casos dos pressupostos relativos depende porque podemos passar por cima da falta de um
pressuposto relativo se a decisão for favorável à artigo 278º, nº3.

Pressupostos dos atos processuais

Os atos processuais têm também os seus pressupostos, tal como é passível de ser visto na capacidade
judiciaria, na medida em que, o autor para praticar atos processuais tem de ser capaz e o réu também
tem de ser capaz e se não for tem de estar representado.
Há vários atos que são praticados ao longo do processo à que atos é que podem ser praticados pelo
autor?
• Petição inicial – o réu pode contestar e em determinadas situações o autor pode responder à
contestação à 3 atos processuais.
- estes atos para serem praticados pelas partes necessitam da capacidade processual.
Assim, a capacidade judiciaria se faltar em relação a algum destes atos não é possível proferir uma
decisão sobre o mérito.
É possível por falta de capacidade judiciaria do autor, um processo em que a petição inicial fica sem
efeito? Não porque se esta cai, cai o processo na sua totalidade.
E um processo sem contestação? Ex: o réu incapaz apresenta a contestação – é possível um processo
sem contestação? Sim.

NOTA: A réplica é o articulado ou peça processual pela qual o


autor responde à contestação do réu quando nela tenha sido
formulado um pedido reconvencional, isto é, um pedido
formulado pelo réu contra o autor.

Em relação à replica do reu, se esta ficar sem efeito porque o autor é incapaz o processo continua a
ser admissível.
è Isto permite-nos distinguir os pressupostos processuais que condicionam o proferimento de
uma decisão sobre o mérito da causa (todos os pressupostos relativos à petição inicial são
pressupostos processuais) dos pressupostos dos atos processuais – consequência: a falta de
um pressuposto processual impede o conhecimento do mérito da causa e a falta de um
pressupostos do ato processual causa a invalidade do ato: o ato não vale mas o processo
continua.

Pressupostos

Processuais Dos atos processuais

Quando nao se Quando nao se


verificam: impede o verificam: causam a
conhecimento do invalidade do ato (mas
mérito da causa o processo continua)

Classificações das ações

O recurso ao tribunal faz-se mediante a propositura duma ação – por ela, um sujeito de direito
privado (o autor) deduz contra outro (o reu) um pedido, normalmente, afirmando-se titular duma
situação jurídica para a qual requer a tutela do tribunal.
Consoante o tipo de pedido deduzido, a ação proposta diz-se declarativa ou executiva.
- Artigo 10º CPC
Ações declarativas vs ações executivas
Nos termos do disposto no artigo 10º, as ações são declarativas ou executivas, consoante o seu fim.
- Nas ações declarativas, o autor procura que o tribunal declare a solução para um determinado caso:
o tribunal proferirá uma decisão, com fundamento no direito civil, em que declara, naquele caso
concreto, a existência ou inexistência do direito invocado, ou de certo facto.
- As ações executivas têm por finalidade a realização coerciva das providencias destinadas à efetiva
reparação do direito violado.
è A distinção entre ações declarativas e ações executivas equivale á diferença entre o simples
declarar e executar – no processo declarativo é declarada a vontade concreta da lei, visando
o executivo a execução dessa vontade.

• Ações declarativas – artigo 10º, nº2: o autor procura que o Tribunal declare a solução para
determinado caso à Tribunal proferirá decisão com base no direito civil em que declara,
naquele caso concreto, a existência ou inexistência do direito invocado ou de certo facto à
ou seja, o autor pede ao tribunal que declare a existência ou inexistência dum direito ou dum
facto jurídico, que condene o reu na prestação duma coisa ou dum facto ou que altere as
situações jurídicas das partes em conformidade com um direito potestativo do autor:

§ Ações de simples apreciação (10º, nº3) – visam obter unicamente a declaração da


existência ou inexistência de um direito ou de um facto (10º, nº2, a)) à a ação foi
proposta para pôr termo a uma situação de incerteza. Porém, esta incerteza tem de
ser objetiva, não bastando a simples duvida existente na cabeça do autor, o que
significa que, a dúvida tem de projetar-se no exercício normal dos seus direitos (o
autor contenta-se com a declaração unicamente e não pretende que o tribunal vá
além dela).
- Nestas ações, o autor pede ao tribunal que declare a existência ou inexistência dum
direito (ex: declare que sou proprietário ou que o réu não é proprietário; declare que
sou filho do réu, ou que o réu não é meu filho) ou dum facto jurídico (ex: declare que
celebrei com o réu um contrato válido ou que o contrato que celebrei com o réu é
nulo).
- Assim, as ações de simples apreciação constituem um meio de prevenir litígios,
desempenhando assim uma função preventiva.
§ Positivas – quando o autor pretende que o tribunal declare a existência de um
direito ou de um facto.
§ Negativas – quando o autor requer que seja declarado que o direito não existe
ou que determinado facto não ocorreu à pretende-se obter a declaração de
inexistência de um direito de outrem com a finalidade de pôr termo a uma
situação de incerteza capaz de causar grave insatisfação ou dano apreciável do
autor, ou seja, não é o autor que se arroga determinado direito, mas sim o réu.
Ex: o devedor propõe uma ação contra o credor em que diz não dever nada;
§ Condenação (10º, nº3) – pretende obter a condenação de um réu com base num
direito substantivo (ex: direito de crédito ou de propriedade) à O autor pretende que
seja declarado o seu direito, que está a ser violado pelo reu e que este seja condenado
à reintegração desse mesmo direito, quer através da realização de uma determinada
prestação, quer por meio de uma atitude de abstenção ou omissão (artigo 10º, nº2,
b)).
- Nestas ações, sem prejuízo de o tribunal dever ainda emitir um juízo sobre a
existência do direito, o autor pretende que, em consequência da sua verificação,
condene o réu na prestação duma coisa ou dum facto (ex: condene o réu a pagar-me
a quantia x, a entregar-me a coisa y, ou a realizar o facto z), seja ela devida em
cumprimento duma obrigação, seja ela resultante dum direito real do autor à a
condenação tem sempre como pressuposto logico a violação do direito, mas não é
necessário que ela esteja consumada à da do recurso a juízo ou mesmo à data da
sentença. A ação de condenação pode também ter lugar na previsão da violação do
direito, dando então lugar a uma intimação ao réu para que se abstenha de o violar,
ou à sua condenação a satisfazer a prestação no momento do vencimento.
- Assim, a sentença de condenação pressupõe uma previa declaração da existência do
direito, como sempre acontece. Mas o tribunal não se fica por aqui (como nas de
simples apreciação), pois emite ainda uma ordem destinada a reintegrar o direito
violado.
Ex: o credor pretende que o tribunal, depois de declarar a existência do seu direito e
o respetivo incumprimento condene o reu à realização da prestação devida e à
indemnização pelos danos causados pelo não cumprimento.
- Se a decisão não for cumprida, isto é, se o réu não deu cumprimento à condenação
expressa na sentença, o autor passa a dispor de um título executivo, que é a sentença
condenatória, nos termos do artigo 703º, nº1, a).
§ In futurum – antes de haver a violação já é possível haver a condenação:
previne-se a hipótese de haver violação;
§ Inibitórias – exige-se a omissão da violação de um direito;
§ Constitutivas (10º, nº3) – têm por fim autorizar uma mudança na ordem jurídica:
correspondem aos direitos potestativos à o autor pretende obter através do tribunal,
um efeito jurídico novo que vai alterar a esfera jurídica do reu, independentemente
da sua vontade, o que significa que, este efeito depende da decisão do tribunal, desde
que, estejam verificados os pressupostos que a condicionam, nos termos do artigo
10º, nº2, c).
- Pela ação constitutiva exerce-se um direito potestativo de exercício judicial (ex:
direito ao divórcio, direito à anulação de um contrato) à se o pedido for procedente,
a sentença cria novas situações jurídicas entre as partes, constituindo, impedindo,
modificando, ou extinguindo direitos e deveres fundados em situações jurídicas
anteriores.
Perante o pedido formulado pelo autor, o tribunal ao proferir a sentença, produz
alterações na ordem jurídica, que consistem na constituição, modificação ou extinção
de uma relação ou situação jurídica – o novo efeito jurídico pretendido pelo autor não
depende da vontade do reu e, por isso, não é requerida a condenação deste. O efeito
apenas depende da decisão do tribunal, que a proferirá desde que estejam verificados
os pressupostos e, perante isto, a sentença cria um novo estado jurídico, pela
motivação ou extinção do anterior.
• Ações executivas – Nos termos do artigo 10º, nº4 dizem-se ações executivas, aquelas em que
o credor requer as providencias adequadas à realização coativa de uma obrigação que lhe é
devida à é invocada a falta de cumprimento de uma obrigação expressa na sentença ou
constante de documento, que constitui o titulo executivo: o exequente requer a reintegração
do direito violado ou ainda a aplicação de sanções pela violação.
- Este tipo de ação pressupõe a violação de um direito e, pode ter como finalidade a
reintegração dum direito real, mediante a entrega da coisa sobre que incide ao respetivo
titular, ou a realização especifica duma prestação obrigacional não pecuniária. Mas visa, mais
frequentemente, a realização coativa duma obrigação pecuniária, primária ou de
indemnização, tenha-se esta última constituído como sucedâneo duma relação primária de
obrigação incumprida ou na sequencia da violação dum dever primário de conduta.
As espécies de títulos executivos constam das várias alienas do artigo 705º.
§ Sentença condenatória – condena no cumprimento de qualquer obrigação.

Formas de Processo (Classificação do Processo pela Forma)

Processo comum e processos especiais

Os atos que devem ser praticados e as formalidades que devem ser observadas pelas partes, quer no
momento da propositura da ação, quer no decurso da mesma, não são uniformes em todos os casos,
o que significa que, a tramitação das ações pode assumir aspetos diversos.
Numa primeira qualificação, o artigo 546º, nº1 determina que o processo pode ser comum ou
especial:
¾ O processo especial aplica-se aos casos expressamente designados na lei;
¾ O processo comum é aplicável a todos os casos a que não corresponda processo especial:
artigo 546º, nº2.
Assim sendo, o processo comum constitui a regra, enquanto o processo especial será a exceção:
todos os processos especiais prevalecem sobre os processos comuns.
MAS, os próprios processos especiais, não seguem todos um modelo único – pelo contrário, existe
uma grande diversidade de processos especiais, consoante o tipo de providencias que o autor se
propõe alcançar quando instaura a ação.
è Se o autor pretender instaurar um processo especial mas este não corresponder a nenhum
dos processos especiais identificados na lei (tanto no CPC como em diplomas avulsos), deve
ser instaurada a ação sob a forma de processo comum, em conformidade com a regra geral.
Em suma, os processos especiais seguem as disposições que lhes dizem respeito e ainda as
disposições que, sendo gerais têm por isso, uma aplicação generalizada: artigo 130º a 545º.
è O juiz deve adotar a tramitação processual adequada às especificidades da causa e adaptar o
conteúdo e a forma dos atos processuais ao fim que visam atingir, assegurando um processo
equitativo, nos termos do artigo 547º.

O artigo 552º, nº1, c) exige que o autor indique, na petição inicial, a forma de processo.

x Processo Comum

Processo declaratório vs. processo executivo

Processo comum

Processo Processo
declaratório executivo

O processo declaratório destina-se a alcançar do poder judicial a declaração da vontade da lei no


caso em apreço – o autor pede ao tribunal que declare a solução para o caso que é submetido à sua
apreciação à ex: o tribunal declara que A é titular de um determinado direito de crédito e condena
B a efetuar a prestação correspondente.
O processo executivo tem em vista a realização coativa dessa vontade da lei à ex: pegando no
exemplo anterior, se o devedor não cumpre voluntariamente a decisão proferida pelo tribunal, A
pode propor uma ação executiva para obter, através da penha e posterior venda dos bens do faltoso,
o cumprimento da prestação em que foi condenado.
- Tal como no processo declaratório, a iniciativa do processo executivo tem de partir de quem tem
interesse em ver cumprida a condenação proferida no domínio daquele processo, apesar de estar
em causa o cumprimento de uma ordem ditada pelo tribunal, que é um órgão de soberania.
Tratando-se de interesses particulares, é a parte vencedora na ação de condenação que terá de
propor a ação executiva, de acordo com o princípio do dispositivo.
è ASSIM, podemos concluir que toda a execução tem por base um título, pelo qual se
determinam o fim e os limites da ação executiva – artigo 10º, nº5.
- Os diversos títulos executivos encontram-se referidos no artigo 703º.
MAS, nem sempre o réu deu cumprimento à condenação que a ação declarativa lhe impõe, é
evidente que já não haverá necessidade de instaurar contra ele ação executiva. Se a ação declarativa
foi julgada improcedente, sendo o réu absolvido do pedido, ou o réu foi absolvido da instância, é
também evidente que não se seguirá processo executivo.
è Nas ações de simples apreciação, não tendo sido pedida a condenação do réu – pedido que é
próprio das ações de condenação – não se seguirá ação executiva.
Nas ações constitutivas – em que o efeito jurídico pretendido pelo autor se satisfaz integralmente
com a decisão do tribunal – também ao processo declaratório se não segue o processo executivo –
ex: autor pede que seja decretada a anulação do matrimonio do seu casamento, é suficiente a
decisão que decrete a dissolução do casamento, pois essa decisão irá ser comunicada pelo tribunal
ao registo civil, onde a decisão judicial será averbada e, consequentemente, produzir-se o efeito
pretendido.
Por outro lado, nem sempre o processo executivo é precedido de um processo declaratório à para
que possa ser instaurada execução é essencial que exista um titulo executivo, mas pode ser proposta
ação executiva com fundamento em titulo executivo diferente de sentença à a execução nem
sempre é precedida de processo declarativo.

Jurisdição voluntária vs. jurisdição contenciosa

Processo de jurisdição contenciosa – são a regra geral – destinam-se a dirimir um conflito de


interesses entre as partes, ou seja, o autor e o reu têm interesses conflituantes e, por isso, o autor
pede ao tribunal que resolva esse conflito proferindo a respetiva decisão em conformidade com a lei
substantiva aplicável ao caso à o juiz não decide segundo juízos de conveniência ou oportunidade.
Nestes processos, o tribunal decide de acordo com a lei substantiva aplicável e exerce, assim, a
função jurisdicional, aplicando a lei substantiva ao caso concreto.

Processo de jurisdição voluntária - não existe um conflito de interesses a dirimir, mas apenas um
interesse fundamental, que o juiz procura regular da forma mais conveniente e oportuna à artigos
986º e 987º: nestes processos não é obrigatória a constituição de um advogado e tribunal não está
sujeito a critérios de legalidade escrita, devendo antes adotar em cada caso a solução que julgue mais
conveniente e oportuna à nos termos do nº2 do 986º, o tribunal pode investigar livremente, ainda
que, só sejam admitidas as provas que o juiz considere necessárias.
Nos termos do artigo 988º, as resoluções podem ser alteradas com fundamento em alteração das
circunstâncias e, nos termos do nº2 é percebível que as resoluções proferidas segundo critérios de
conveniência ou oportunidade não é admissível recurso para o STJ.
è A ausência de um conflito de interesses não significa que não possa haver um conflito de
opiniões sobre o mesmo interesse – ex: ação de regulação do exercício das responsabilidades
parentais, proposta por um dos progenitores contra o outro – qualquer dos pais procura
defender a situação que melhor servirá os interesses do filho, embora o o interesse a
defender seja o mesmo: o bem-estar do filho.

Critério de distinção:
- Lebre de Freitas: no processo de jurisdição contenciosa há um conflito de interesses entre uma
parte e outra do contrato; no processo de jurisdição voluntária, muitas vezes só está em causa um
interesse, não havendo um conflito de interesses; outras vezes há vários interesses, mas estes são
solidários ou subordinados.
- MTS: usa outro critério: 987º - no processo de jurisdição voluntária o tribunal decide segundo juízos
de conveniência ou oportunidade o que não acontece no processo de jurisdição contenciosa – faz
com que apareçam processos de jurisdição voluntária que apenas estão regulados no título XV.

Características dos processos de jurisdição voluntária


Os processos de jurisdição voluntária estão previstos nos artigos 986º e ss e estes preceitos
estabelecem diversos princípios que os caracterizam:
1. Princípio do inquisitório – 986º, nº2: o tribunal pode investigar livremente os factos, coligir as
provas, ordenar os inquéritos e recolher as informações convenientes à o juiz dispõe de largo
poder de iniciativa na recolha dos factos que interessam para a decisão, podendo servir-se
das provas que lhes pareçam mais convenientes, sendo-lhe permitido ordenar a realização
de inquéritos ou solicitar informações.
2. Critério de julgamento – o tribunal não está sujeito a critérios de legalidade escrita, devendo
antes adotar a solução que julgue mais conveniente e oportuna – 987º: o juiz não está
vinculado à observância rigorosa do direito aplicável e tem a liberdade de se subtrair a esse
enquadramento rígido e de proferir a decisão que lhe pareça mais equitativa à o juiz
procurará com bom senso encontrar, para o caso concreto, a solução que melhor sirva o
interesse em causa e, sendo difícil encontrar 2 casos exatamente iguais, existem
circunstâncias subjetivas e objetivas a que a lei, geral e abstrata, não atende, pelo que, a
equidade é uma forma de encontrar soluções baseadas na justiça apropriada para um
determinado caso, prescindindo da aplicação do direito estrito.
3. Livre modificação das decisões – as resoluções podem ser alteradas nestes processos, sem
prejuízo dos efeitos já produzidos, com fundamento em circunstancias supervenientes que
justifiquem a sua alteração – 988º, nº1: as decisões proferidas em processo de jurisdição
voluntaria não ganham a força de caso julgado e podem, por isso, ser alteradas, desde que,
se modifiquem as circunstancias que determinaram essas decisões.
4. Inadmissibilidade de recurso para o STJ – das resoluções proferidas segundo critérios de
conveniência ou oportunidade, não é admissível recurso para o STJ conforme preceitua o
artigo 988º, nº2, na medida em que, não está em causa a violação de uma lei substantiva.

Tutela da personalidade
Outro dos processos especiais é a tutela da personalidade – preceitos respeitantes a esta tutela
constituem a concretização do estatuído da CRP que no seu artigo 20º, nº5 estabelece que para
defesa dos direitos, liberdades e garantias pessoais, a lei assegura aos cidadãos procedimentos
judiciais caracterizados pela celeridade e prioridade, de modo a obter tutela efetiva e em tempo útil
contra ameaças ou violações desses direitos.
Assim, a tutela da personalidade tem como objetivo possibilitar a obtenção de uma decisão
particularmente célere que, em tempo útil, assegure a tutela efetiva do direito fundamental de
personalidade dos entes singulares – existe, portanto, um certo paralelismo com o que se verifica
nos procedimentos cautelares porque tal como acontece nestes, a decisão pode ser provisoria e pode
ser proferida sem contraditório prévio.

Pressupostos: nos termos do disposto no artigo 878º, pode ser requerido o decretamento das
providencias concretamente adequadas a evitar a consumação de qualquer ameaça ilícita e direta à
personalidade física ou moral de ser humano ou a atenuar, pu fazer cessar, os efeitos de ofensa já
cometida – artigo 70º CC.

Interpretação das normas processuais


As normas processuais podem comportar diversos sentidos, pelo que haverá necessidade de fixar
aquele que deve prevalecer – o interesse da certeza do direito exige que se estabeleçam critérios
para a indagação do sentido a dar a cada preceito legal à o CC estabeleceu no seu artigo 9º, os
critérios que devem presidir à interpretação da lei e, no que toca ao CPC, este não contem nenhuma
disposição que defina critérios especiais para a interpretação das próprias normas, pelo que, o
interprete terá de se socorrer daqueles princípios gerais que regem a interpretação das leis.
è Na interpretação das normais processuais deve procurar conciliar-se o interesse da retidão e
do progresso da ordem jurídica, bem como o interesse da certeza do direito e da segurança
do conceito jurídico com o princípio da obediência ao poder legitimamente constituído,
essencial à vida social.
O processo está impregnado por um conjunto de princípios gerais: a justa determinação e aplicação
destes princípios é fundamental na interpretação da lei processual, na medida em que, toda a norma
que não esteja de harmonia com eles e constitua exceção não deve ser ampliada.
CONTUDO, o tribunal não está subordinado aos critérios normativos fixados na lei se puder julgar
segundo a equidade, nos termos do artigo 4º CC – a equidade é a justiça no caso concreto, flexível,
humana, independente de critérios normativos fixados na lei.
Neste sentido, o acordo quanto ao recurso à equidade pode ter lugar nos casos em que as partes
submeteram o julgamento do litígio a um tribunal arbitral em que os árbitros, ou seja, os juízes,
podem ser designados pelas próprias partes. Porem, o acordo quanto à equidade só é permitido
quando a relação jurídica controvertida não está subtraída à disponibilidade das partes, isto é, não é
indisponível à a relação é indisponível, por exemplo, no caso das ações sobre o estado das pessoas.

- MTS: há pelo menos 2 ideias que devem ser tidas em conta na interpretação:
• Economia processual (interpretação feita no sentido de evitar custos e diminuir a
complexidade do processo);
• Instrumentalidade (processo civil é instrumental, que está ao serviço de tutela de situações
subjetivas – tem de se tomar em consideração a necessidade de tutela das situações
jurídicas).

Integração de lacunas processuais

Tal como acontece nos restantes ramos do direito, também no direito processual civil se podem
encontrar lacunas, isto é, aspetos que o legislador não previu – como resulta do artigo 8º CC, o
tribunal não pode abster-se de julgar, invocando a falta ou obscuridade da lei ou alegando duvida
insanável acerca dos factos em litigio à assim, apesar de reconhecer a existência de casos omissos
na lei, o juiz não poderá deixar de julgar.
Assim, em conformidade com o que dispõe o artigo 10º CC, os casos que a lei não preveja são
regulados segundo a norma aplicável aos casos análogos e, na falta de caso análogo, a situação deve
ser resolvida segundo a norma que o próprio interprete criaria, se tivesse de legislar dentro do
espirito do sistema, ou seja, em conformidade com os princípios em que se enquadra o direito
constituído.
Aplicação das leis processuais no tempo

No que diz respeito ao tempo (artigo 12º CC), o problema sucede quando uma lei processual antiga
sucede no tempo, na medida em que surgem questões diversas:
è Como deve ser aplicada a lei no tempo? A lei antiga ou a lei nova – qual deve ser aplicada?
- Por vezes a lei nova tem disposições transitórias; outras vezes, não traz disposições
transitórias, mas encontramos no sistema jurídico disposições transitórias setoriais que
ajudam a resolver o problema (ex.: 38º2; 44º3 da lei de organização do sistema judiciário).
è Quando não há norma transitória, como é que se resolve?
- De acordo com as regras gerais que constam no artigo 12º do Código Civil (regra geral: a lei
nova regula todos os atos de um processo que ainda vai ser intentado e os atos de um
processo que já foi intentado – regra geral – não é assim quando a lei diz o contrário).
Em matéria de pressupostos processuais: a lei aplicável é quase sempre a lei que vigora no momento
em que o tribunal decide sobre o processo – com exceção da competência (lei que vigora é a lei que
consta no momento em que a ação é intentada).

Casos especiais de aplicação das leis no tempo:


¾ Leis sobre a competência dos tribunais: pertencendo a jurisdição a todos os órgãos
jurisdicionais, ou seja, aos tribunais no seu conjunto, a competência é apenas a parcela de
jurisdição que cabe a cada um deles: se o tribunal era competente para julgar a ação quando
esta foi proposta, manterá a sua competência até ao final, ainda que nova lei a venha alterar.
¾ Leis sobre o formalismo processual: princípio da aplicação imediata da nova lei não só às
ações futuras, mas também aos atos a praticar futuramente nas ações pendentes à a nova
lei não tem aplicação imediata á forma de processo, ou seja, a ação que tenha sido proposta
sob a forma de processo comum ou especial, conserva essa mesma forma de processo até ao
final, sendo irrelevante a alteração da lei a tal respeito porque de outro modo poderia
conduzir-se à inutilização pratica de alguns atos anteriores, frustrando as legitimas
expetativas das partes.
¾ Leis sobre recursos: quando a nova lei negue recurso, nos caos em que pela anterior era
admitido, não se aplica às decisões anteriores, se o recurso já tiver sido interposto à no caso
de o recurso ainda não ter sido interposto quando entrou em vigor a nova lei, embora a
solução não seja totalmente liquida, existe a propensão da doutrina no sentido de considerar
a não aplicação da lei nova às decisões que admitiam recurso no momento em que foram
proferidas. De contrário, a decisão passaria a ter, pela nova lei, a força de caso julgado que a
lei anterior lhe não atribuía. Assim, a nova lei que altere a admissibilidade de recurso é de
aplicação imediata a todas as decisões que venham a ser proferidas nas causas pendentes,
quer a nova lei negue quer atribua a possibilidade de recurso – considera-se que as
expetativas das partes criadas por força da lei anterior já não entram justificação no momento
em que a decisão foi proferida e, por isso, não existe fundamento para protelar a aplicação
da nova lei.
¾ Lei sobre as alçadas: a alçada de um tribunal corresponde ao limite do valor das causas dentro
do qual o tribunal julgam sem admissibilidade de recurso ordinário: é, portanto, o valor da
alçada no momento em que a ação foi proposta que determina a admissibilidade do recurso.
¾ Lei sobre as provas: são os meios de que o tribunal se serve para demonstrar a realidade dos
factos controvertidos que interessam à decisão da causa: quando se trata de novas normas
de direito probatório material que digam respeito a determinados factos aplica-se o princípio
de que é aplicada a lei antiga, para que não se sujeite as partes a uma alteração da situação
material.
¾ Leis sobre prazos judiciais: artigo 297º CC – se a nova lei veio encurtar um prazo perentório
ou cominatório, deve aplicar-se imediatamente aos prazos que já estiverem em curso, mas
só se conta a partir da entrada em vigor da nova lei, a não ser que, pela lei antiga, falte menos
tempo para o prazo se completar; se a nova lei torna mais longo um prazo perentório ou
cominatório, é também aplicável aos prazos que já estiverem em curso, mas conta-se o
período de tempo decorrido no domínio da lei antiga; quando a nova lei torna mais longo um
prazo dilatório, deve ser adotada idêntica solução; mas, se pelo contrário, a nova lei
encurtado prazo dilatório, também deve aplicar-se imediatamente aos prazos em curso.

Aplicação no espaço do direito processual

Se chegar ao tribunal um processo que respeita uma situação puramente interna não há dúvidas –
ex.: é intentada uma ação no tribunal de lisboa sobre um contrato elaborado por 2 portugueses
residentes em Portugal – aplica-se o CC português.
è Se for uma situação internacional: no plano do direito internacional privado, em princípio,
seria aplicado o código estrangeiro; mas no processo civil, as coisas são distintas – temos de
atender à circunstância de haver normas processuais que regulam situações internacionais –
ex.: Regulamento de Bruxelas – criadas no plano supraestadual;
- Artigo 62º e 63º do CPC – regras gerais à quando não se trata destas normas, a regra é a
aplicação do direto processual no Estado em que a questão está a ser resolvida – o nosso
ordenamento não tem nenhuma norma que diga isto à MTS: diz que aqui vale o princípio
da territorialidade – lei processual civil portuguesa aplica-se diretamente nos processos que
tenham lugar em Portugal.
Contudo, certas normas do CPC pressupõem um juízo substantivo – artigo 11º CPC: personalidade
judiciária – esta norma pressupõe uma decisão de direito substantivo (saber quem tem
personalidade jurídica).
Princípios e deveres estruturantes do Processo Civil

MTS distingue duas visões:


• Visão pragmática do processo civil (garantir o acesso aos tribunais – visão privatística do
processo civil, como sendo um assunto das partes);
• Visão programática do processo civil (processo que não se preocupa apenas com a garantia
de acesso aos tribunais, mas também com a garantia de uma decisão justa).
MTS: hoje só a visão programática é admissível – tribunal como órgão de soberania que procura uma
decisão justa.

Quais são os princípios no quadro da visão programática?

1. Princípio da garantia do acesso aos tribunais


- MTS não refere este princípio, mas Pais do Amaral considera-o.
Artigo 2º, nº1: a proteção jurídica através dos tribunais implica o direito de obter, em prazo razoável,
a decisão judicial.
Por sua vez, no nº2 estabelece-se que a todo o direito (exceto quando a lei determine o contrário)
corresponde a ação adequada a fazê-lo reconhecer em juízo.
A este respeito a CRP, no nº1 do artigo 20º determina que a todos é assegurado o acesso ao direito
e aos tribunais para defesa dos seus direitos e interesses legalmente protegidos, não podendo a
justiça ser denegada por insuficiência de meios económicos à foi publicada a lei que regula o acesso
direito aos tribunais por forma a possibilitar a consulta jurídica e o apoio judiciário a favor e quem se
encontre na situação de insuficiência económica – lei nº34/2004, de 29 de Julho, que foi alterada
pela Lei nº47/2007, de 28 de Agosto.

2. Princípio da instrumentalidade
- MTS considera este princípio, apesar de não ser referido por Pais do Amaral.
O princípio da instrumentalidade traduz uma função instrumental do processo civil – partes não
podem conseguir através do processo e da sua vontade aquilo que não podem conseguir através da
sua vontade fora do processo.
OU SEJA, não é possível através do processo obter direitos indisponíveis que não seriam possíveis
adquirir fora do processo;
Para além disto, este princípio estabelece ainda que não se pode intentar uma ação e a seguir desistir
do processo, pois isso é uma renúncia ao direito – 285º CPC.
3. Princípio do dispositivo
O princípio do dispositivo estabelece que a vontade fundamental no processo é a vontade das partes
– são as partes que têm o domínio do processo à quando o direito de uma pessoa é violado por
outra, estamos perante um conflito de interesses e, o tribunal só poderá resolver esse conflito se a
resolução lhe for solicitada pelo interessado, o que significa que, o pedido é formulado no momento
em que a ação é proposta, ou seja, na petição inicial. O titular do direito violado terá de propor a
ação adequada, desencadeando desse modo a atividade do tribunal para que seja proferida a decisão
que venha a solucionar o conflito.
Segundo o princípio do dispositivo, as partes dispõem do processo, cabendo ao juiz controlar a
observância das normas processuais e, por fim, proferir a decisão acerca do conflito de interesses
que determinou a proposição da ação à a atividade inicial a desenvolver pelas partes está
consagrada no artigo 3º, nº1 que determina que o tribunal não pode resolver o conflito de interesses
que a ação pressupõe sem que a resolução lhe seja pedida por uma das partes e a outra seja chamada
a deduzir oposição. Em resumo, o processo só tem início por força do impulso do autor ao formular
o respetivo pedido ao tribunal – artigo 5º.
è Este princípio tem como contraprincípio os princípios do inquisitório.

O princípio do dispositivo tem menos relevância hoje em dia, mas continua a ser um princípio
fundamental, na medida em que, hoje em dia, o juiz tem um papel mais interventivo.
Este princípio tem hoje limites – o que faz com que MTS afirme que este princípio já não é
constitutivo, mas operativo:
• Artigo 3º, nº1 e 6º, nº1.
As partes têm disponibilidade sobre:
• O início do processo: isto faz com que se fale do princípio do pedido e do impulso processual
inicial – não há processo sem autor à Não há recurso oficioso para o tribunal da relação,
sendo que alguém tem de recorrer (autor ou réu);
• Continuação do processo: princípio do impulso processual subsequente;
• Termo do processo: direito de as partes celebrarem negócios jurídicos processuais que
podem ser unilaterais (ex.: desistência da instância) ou bilaterais (ex.: compromisso arbitral)
– 283º, nº1 e 2; 284º e 288º à tal não é pçossivel quando estão em causa direitos
indisponíveis nos termos do artigo 289º, nº1;
• Quanto à identificação das partes: 552º, nº1 a) CPC – vale quanto a sujeitos processuais que
apareçam supervenientemente no processo – 262º à são também aplicáveis os artigos 311º
e seguintes CPC;
• Quanto ao objeto do processo: distinção entre disponibilidade quanto ao pedido (são as
partes que delimitam e fixam o pedido – 552º1 e) à podem existir ainda pedidos alternativos:
artigo 583º, nº1 – tribunal não pode condenar em quantidade superior ou diverso do pedido,
mas pode condenar em menos do que é pedido - exceções: 376º, nº3.
- Às partes cabe igualmente o ónus da prova dos factos que constituem fundamento da ação
ou da defesa – artigo 342º CC.
- No âmbito do objeto do processo, é ainda importante ter em conta a disponibilidade quanto
aos factos necessários para o juiz julgar:
o Factos principais:
§ Definidos no artigo 5º, nº1 CPC – disponibilidade pertence ao autor ou réu;
§ Artigo 552º1 d) e 572º c);
§ MAS, há que ter em conta o princípio da aquisição processual – tribunal pode
conhecer alguns factos ainda que tenham sido alegados pelo réu e não pelo
autor – 413º CPC à 2 exceções a isto: 5º, nº2 c) CPC.
o Factos complementares: MTS – regra é a da oficiosidade (Tribunal pode conhecer
factos levados a um processo ainda que não alegados pelas partes) e não o da
disponibilidade – tribunal pode conhecer factos complementares mesmo que não
sejam alegados pelas partes – esta opinião não é unânime na doutrina – Lebre de
Freitas não concorda – diz que vale o princípio dispositivo (vale unicamente a vontade
das partes) no que toca aos factos complementares.
o Factos instrumentais: artigo 5º, nº2 a) – vale o princípio da oficiosidade – tribunal
pode e deve conhecer deles oficiosamente – não existe um ónus de alegação.
Assim, nos termos do artigo 608º, nº2, o juiz deve resolver todas as questões que as partes tenham
submetido à sua apreciação. Por outro, o artigo 609º, nº1 dispõe que a sentença não pode condenar
em quantidade superior ou em objeto diverso o que se pedir.

CONTUDO, o princípio do dispositivo tem vindo a ceder gradualmente em benefício do princípio do


inquisitório.

4. Princípio do inquisitório
Este princípio pode ser referido quanto a factos ou provas – o tribunal deve conhecer oficiosamente
os factos e levá-los ao processo – só existe no plano dos processos de jurisdição voluntária e não nos
processos de jurisdição contenciosa (nestes o tribunal não pode investigar factos por sua iniciativa).
Em matéria de prova – o tribunal deve ordenar todas as diligências necessárias à descoberta da
verdade – iniciativa da verdade – artigo 411º: incumbe ao juiz realizar ou ordenar, mesmo
oficiosamente, todas as diligencias necessárias ao apuramento da verdade e a justa composição do
litígio, quanto aos factos de que lhe é lícito conhecer.
Assim, embora o impulso processual pertença às partes, cumpre ao juiz providenciar pelo andamento
regular e célere do processo, promovendo oficiosamente as diligencias necessárias ao normal
prosseguimento da ação e recusando o que for impertinente ou meramente dilatório: o juiz deve
ainda suprir a falta de pressupostos processuais cuja sanação seja possível, determinar a pratica dos
atos necessários à regularização da instancia ou, quando a sanação dependa de certo ato que deva
ser praticado pelas partes, convidando estas a pratica-lo – artigo 6º, nº1 e 2.
¾ Por outro lado, o juiz deve adotar a tramitação processual adequada às especificidades da
causa e adaptar o conteúdo e a forma dos atos processuais ao fim que visam atingir,
assegurando um processo equitativo nos termos do artigo 547º.
¾ Incumbe ao juiz convidar ao suprimento das insuficiências ou imprecisões na exposição ou
concretização da matéria de facto alegada (590º, nº4) e, por sua iniciativa ou a requerimento
de qualquer das partes, o juiz pode requisitar informações, pareceres técnicos, plantas,
fotografias, desenhos, objetos ou outros documentos necessários ao esclarecimento da
verdade – artigo 436º, nº1.
¾ Em qualquer estado do processo, o juiz pode determinar a comparência pessoal das partes
para a prestação de depoimento, informações ou esclarecimentos sobre factos que
interessam à decisão em causa: artigo 452º, nº1.
¾ O tribunal pode ordenar oficiosamente e a todo o tempo a realização da segunda perícia,
desde que a julgue necessária ao apuramento da verdade – artigo 487º, nº2.
¾ Por fim, o juiz pode incumbir um técnico ou pessoa qualificada de proceder aos atos de
inspeção de coisas ou locais ou de reconstituição de factos – artigo 494º, nº1
¾ O tribunal pode inquirir pessoa não oferecida como testemunha, tendo em vista a boa decisão
da causa: artigo 526º, nº1.

- Como se distingue o princípio do inquisitório do princípio da oficiosidade? O da oficiosidade significa


que o tribunal pode conhecer facos desde que sejam levados para o tribunal pelas partes; no
inquisitório, o tribunal deve ir procurar os factos.

5. Princípio da oficiosidade
- MTS considera este princípio, apesar de não ser referido por Pais do Amaral.
Este princípio estabelece que o tribunal pode conhecer factos levados a um processo ainda que não
alegados pelas partes – domínio de aplicação absoluto em matéria de direito à tribunal conhece do
direito, não está vinculado às partes.
Assim, este princípio vale também em matéria de questões, em que se diz que o tribunal pode
conhecer oficiosamente – ex.: maioria das exceções dilatórias.

6. Princípio do contraditório
Se, por um lado, o tribunal não pode resolver o conflito de interesses sem que a resolução lhe seja
pedida por uma das partes, por outro lado, igualmente, não o pode resolver sem que a outra parte
seja devidamente chamada para deduzir oposição – artigo 3º, nº1.
Depois de o autor ter proposto a ação, o reu tem de ser citado para a contestar, sendo-lhe
proporcionada a oportunidade de se defender – artigo 569º, nº1.
è ASSIM, é através da citação do réu que se dá cumprimento ao princípio do contraditório ou
da audiência contraditória.
Este princípio tem consagração legal não só na fase dos articulados, mas em todas as fases do
processo, incluindo na do julgamento, continuando a ser observado na fase do recurso.
Com base neste princípio, surge a proibição das decisões surpresa: não sendo lícito aos tribunais
decidir sobre questões de facto ou de direito, mesmo que de conhecimento oficioso, sem que
previamente haja sido facultada às partes a possibilidade de sobre elas se pronunciarem.
Segundo Lebre de Freitas, é hoje entendido como a garantia da participação efetiva das partes no
desenvolvimento de todo o litigio, mediante a possibilidade de, em plena igualdade, influírem em
todos os elementos que se encontrem em ligação com o objeto da causa e que em qualquer fase do
processo apareçam como potencialmente relevantes para a decisão à este princípio permite a cada
uma das partes deduzir as suas razoes, oferecer as suas provas, controlar as provas do adversário, e
discretear sobre o valor e resultado de umas e outras.

Posto isto, o juiz deve observar e fazer cumprir o princípio do contraditório, não lhe sendo licito, salvo
caso de manifesta desnecessidade, decidir questões de direito ou de facto sem que as partes tenham
tido a possibilidade de sobre elas se pronunciarem – artigo 3º, nº3.
è Mesmo quando não é possível responder por escrito, tem de ser dada à parte a oportunidade
de o fazer oralmente – artigo 3º, nº4.
MAS, o nº2 estabelece que, só nos casos excecionais previstos na lei se podem tomar
providencias contra determinada pessoa sem que esta seja previamente ouvido – ex:
providencias cautelares (perdem o efeito se a pessoa for informada previamente das
mesmas).
- O princípio do contraditório pode ser considerado como emanação do princípio da igualdade das
partes.
7. Princípio da igualdade das partes
Não há processo equitativo sem igualdade das partes – artigo 13º CRP: as partes são iguais perante
a lei – artigo 4º CPC: o tribunal deve assegurar, ao longo de todo o processo, um estatuto de
igualdade substancial das partes, designadamente no exercício de faculdades, no uso de meios de
defesa e na aplicação de cominações ou de sanções processuais.
Ambas as partes devem ser consideradas detentoras dos mesmos direitos e oneradas com os os
mesmos deveres: plena paridade entre si e perante o tribunal à idênticas possibilidades de alcançar
a justiça a que têm direito
- Duplo dever:
o O tribunal tem de tratar as partes de forma igual;
o O tribunal deve corrigir desigualdades entre as partes – dimensão calculosa: 590º,
nº2, b);
- consequência deste princípio: princípio do contraditório – se ambas as partes são iguais, isto
quer dizer que, qualquer parte tem o direito a pronunciar-se sobre qualquer alegação da
outra parte e sempre que seja necessário ouvir as partes, têm de ser ouvidas ambas as partes
à o tribunal não decide antes de haver a possibilidade de ouvir ambas as partes – artigo 3º,
nº3:
o Direito de resposta;
o Direito de audição prévia das partes;
MAS, a lei pode dispensar o contraditório: casos de efeito surpresa – nas hipóteses previstas
na lei e que são residuais à resumem-se às providencias cautelares porque o legislador parte
do princípio que determinadas providencias cautelares, para terem eficácia pratica têm de
constituir uma surpresa para que tenham efeito – ex: arresto pretende evitar a dissipação do
património por parte do devedor: daí a dispensa do contraditório para que não se alerte o
devedor de que foi pedido o arresto, para que este não se desfaça do património.

8. Princípio da cooperação
Na condução e intervenção do processo, devem os magistrados, os mandatários judiciais e as
próprias partes cooperar entre si, concorrendo para se obter, com brevidade e eficácia, a justa
composição do litigio à este princípio deve ser entendido como reciproco nas relações que se
estabelecem entre as partes e entre estas e o tribunal, impondo-se ainda a terceiros
Artigo 7º, nº1:
• Posição das partes: este dever manifesta-se no artigo 8º e no dever de litigância de boa-fé.
- Artigo 417º, nº1: impõe a colaboração de todos para a descoberta da verdade e quando
aplicado às partes é também uma manifestação do princípio da boa-fé.
• Cooperação do tribunal em relação às partes: o juiz deve ter uma posição interventiva no
processo e este dever traduz-se em vários deveres:
o Artigo 6º, nº2: prevenção ou advertência – ex: falta um pressuposto processual: como
no caso em que a parte deve estar representada por advogado e não está - o juiz deve
chamar a atenção para isso;
o Artigo 7º, nº2: dever de esclarecimento – aquilo que as partes alegam não é explicito
para o juiz à este deve procurar esclarecê-las – para evitar que o tribunal venha a
considerar improcedente por falta de esclarecimento: o juiz pode, em qualquer altura
do processo, ouvir as partes, seus representantes ou mandatários, convidando-os a
fornecer os esclarecimentos sobre a matéria de facto ou de direito que se afigurem
pertinentes e dando-se conhecimento à outra parte dos resultados da diligencia.
o Artigo 7º, nº4: dever de auxílio das partes – ex: é necessário um documento que está
numa repartição publica e esta repartição não quer entregar o documento às partes
à o tribunal pode auxiliar as partes e pedir ele próprio o documento
o Dever de consulta previa das partes – proibição das chamadas decisões surpresa:
proibidas no artigo 3º, nº3 à o tribunal pode conhecer de certa matéria
oficiosamente, mas deve ouvir previamente as partes.
O juiz pode também, oficiosamente ou a requerimento de qualquer das partes, requisitar
informações, pareceres técnicos, plantas, fotografias, desenhos, objetos ou outros documentos
necessários ao esclarecimento da verdade – artigo 436º, nº1 e, nos termos do artigo 468º, nº1, a)
ou uma segunda perícia – 487º, nº2.
Além disso, o tribunal pode, por sua iniciativa, inquirir uma pessoa que não foi oferecida como
testemunha, se houver razoes para presumir que essa pessoa tem conhecimento de factos
importantes para a boa decisão da causa – artigo 526º, nº1.
è A cooperação da tribunal para com as partes verifica-se ainda nos casos em que a lei impõe
ao juiz o dever de convidar as partes a suprir deficiências ou imprecisões na exposição da
matéria de facto – artigo 590º: a nulidade deste dever do juiz constituirá nulidade nas
circunstancias previstas no artigo 195º.
- Este dever impõe-se não só às partes, mas a todas as pessoas.
- Os que recusarem a colaboração devida serão condenados em multa imposta pelo artigo 417º, nº2:
ainda que, esta multa, não afaste a possibilidade de o tribunal utilizar ainda os meios coercitivos que
forem possíveis à nada impede que, após a condenação em multa, o juiz orden a apreensão de
documentos – artigos 432º e 433º.
è Quando a recusa é proveniente de uma parte e se torna inviável a realização da diligencia
prevista através da utilização de meios coercitivos, o tribunal apreciará livremente o valor da
recusa para efeitos probatórios.
- Se a parte contraria tiver culposamente tornado impossível a prova ao onerado, inverte-se o ónus
da prova: artigo 417º, nº2, parte final conjugado com o artigo 344º, nº2 CC.
O dever de cooperação tem como limites – que legitimam que a pessoa se recuse a obedecer – os
que vêm consagrados no nº3 do artigo 417º, conforme determina o artigo 7º, nº3:
a) Violação da integridade física ou moral das pessoas;
b) Intromissão na vida privada ou familiar, no domicilio, na correspondência ou nas
telecomunicações;
c) Violação do sigilo profissional ou de funcionários públicos, ou do segredo de estado, sem
prejuízo do disposto no nº4.
A licitude da recusa tem fundamento no artigo 32º, nº8 CRP.

9. Princípio da boa-fé
As partes têm o dever de litigar de boa-fé: artigo 8º - proibição da litigância de má-fé.
- Quando é que a parte litiga de má-fé? Artigo 542º.
Este princípio pressupõe a existência de deveres:
• Dever de verdade: não é uma verdade objetiva e indiscutível à se a parte tiver convencida
da veracidade de alguma coisa que se comprovou que não é verdade – não é possível
conceber isto como uma atuação de má-fé à a litigância de boa-fé pressupõe um dever de
verdade subjetiva: importa que as partes aleguem em juízo algo que estão convencidas que
é verdade;
• Dever de completude: a parte tem de contar a história toda, isto é, tem de contar quer factos
favoráveis, quer factos desfavoráveis.
- Consequências da litigância de má-fé à 542º, nº1 e 543º – multa (sancionatória) e indemnização;
MAS, há mais consequências: o pagamento da multa e a indemnização não compram o ato praticado
e, por isso, a consequência não pode deixar de ser o facto de que o ato que foi praticado deixar de
produzir efeitos;
è Assim, como se verifica, a má-fé processual considera como requisitos relevantes não apenas
o dolo, mas também a culpa grave (negligencia grave) – artigo 542º, nº2: para que se
considere a existência de litigância de má-fé, alguma das partes deve ter atuado com dolo ou
com negligencia grave, não estando abrangidas as situações em que apenas existiu erro
grosseiro ou lide ousada por mera advertência – exige-se que o litigante tenha consciência de
que não lhe assistia razão, o que significa que, não se pode considerar como litigante de má-
fé aquele que supõe que atua em conformidade com o direito por desconhecer ou ignorar
qualquer vicio ou circunstancia anterior.
A parte tem o dever de não formular pretensão ou oposição cuja falta de fundamento devia
conhecer, de não alterar a verdade dos factos e de não omitir factos relevantes para a decisão da
causa, de não fazer do processo ou dos meios processuais um uso claramente reprovável com o fim
de conseguir um objetivo ilegal, impedir a descoberta da verdade, atrasar a ação da justiça ou o
transito em julgado, sem fundamento serio.
- A lei no artigo 612º contem ainda uma outra situação que também podemos considerar de má-fé
bilateral: simulação processual – simulação praticada através do processo;
MAS, tem sido entendido que, a parte não deve ser condenada sem que o juiz dê previamente
cumprimento ao princípio do contraditório.

- Divergência doutrinaria: há quem entenda que para alem da litigância de má-fé, em processo é
ainda possível dar relevância ao abuso de direito – é evidente que o abuso de direito pode ser
praticado em processo, mas o que está aqui em causa é a existência de um abuso dos meios
processuais – MTS: em processo há realmente situações de abuso do processo ou dos meios do
processo – mas quais são essas situações? Aquelas que cabem no artigo 542º e em concreto na alínea
b) do nº2 deste artigo à não há abuso do processo fora da litigância de má-fé.

10. Princípio da gestão processual


Artigo 6º, nº1 CPC: dimensão substancial e instrumental (nº1 e 2º do artigo 6º - duas vertentes deste
princípio à o tribunal tem o dever de promover as diligencias necessárias e providenciar a sanação
da falta de pressupostos processuais: são atribuídas ao juiz um conjunto de faculdades que lhe
permitem decidir o modo de tramitação do processo, mas também o poder de praticar e mandar
praticar os atos considerados necessários para uma rápida e justa resolução do litigio.
ASSIM, cumpre ao juiz dirigir ativamente o processo e providenciar pelo seu andamento célere,
promovendo oficiosamente as diligencias necessárias ao normal prosseguimento da ação, recusando
o que for impertinente ou meramente dilatório e, adotando os mecanismos de simplificação e
agilização processual que garantam a justa composição do litigio em prazo razoável à atribui-se,
como tal, ao juiz o dever de organizar o trabalho do tribunal por forma a que o litigio termine por
uma resolução justa com a celeridade possível: o juiz deve praticar e mandar praticar os atos
necessários à simplificação e agilização do processo.
Neste sentido, o juiz deve começar por não admitir que sejam praticados atos inúteis, nos termos do
artigo 130º, bem como, impedir a utilização de diligencias dilatórias.
è O dever de gestão processual justifica que ao juiz sejam atribuídos poderes que realmente
lhe permitam obstar a essa prática dilatória com a finalidade de agilizar a justa solução do
conflito.
A simplificação e agilaçao que se pretendem no âmbito do dever de gestão processual também se
podem alcançar pela possibilidade que o juiz tem de programar, após audição dos mandatários, os
atos a realizar na audiência final, no âmbito da audiência previa, nos termos do artigo 591º, nº1, g).
Findos os articulados, o juiz pode determinar a junção de documentos com vista a permitir a
apreciação de exceções dilatórias ou o conhecimento, no todo ou em parte, do mérito da causa no
despacho saneador – artigo 590º, nº2, c).
Para alem disto, pode o juiz admitir a inquirição de testemunhas para alem do limite previsto – artigo
511º, nº4 e pode ordenar a apensação de ações, a requerimentos de qualquer das partes (267º).
è O juiz pode excecionalmente aplicar uma taxa de justiça sancionatória quando a ação,
oposição, requerimento, recurso, reclamação ou incidente seja manifestamente
improcedente e a parte não tenha agido com a procedência devida nos termos do artigo 531º.
- Que poderes é que o juiz tem para promover as diligências necessárias ao bom funcionamento da
ação? Artigo 547º CPC.
- Limites: 547º; 630º, nº2 (determina em que condições é que o despacho do juiz é recorrível).
è Nos termos do artigo 193º, no caso de erro na forma de processo ou no meio processual é
permitido a anulação apenas dos atos que não possam ser aproveitados e deve o juiz corrigir
oficiosamente o erro na qualificação do meio processual utilizado pela parte, determinando
que sejam seguidos os termos processuais adequados.
- É admissível a retificação de erros de calculo ou de escrita nos termos do artigo 146º, nº1.
11. Princípio da economia processual
O princípio da economia processual consiste numa interpretação feita no sentido de evitar custos e
diminuir a complexidade do processo: consiste em procurar obter o máximo resultado da atividade
processual desenvolvida, ou seja, procura-se que, com o menor esforço processual possível, se
alcance a resolução do máximo de litígios à para alcançar um determinado resultado processual
devem utilizar-se os meios necessários e não mais do que esses.
Deste modo, pretende-se reduzir o numero de processos e evitar os atos e formalidades
desnecessárias.
O artigo 130º proíbe a realização de atos inúteis e o 131º determina que os atos processuais têm a
forma que melhor corresponda ao fim que visam atingir.
è Artigo 534º.

12. Princípio da autossuficiência


- MTS considera este princípio, mas PA não o menciona.
Este princípio estipula que em processo decidem-se todas as questões que se relacionam com esse
mesmo processo – ex: o reu invoca que o tribunal não tem competência para apreciar a ação – o reu
pode dizer que se o reu não tem competência para apreciar a ação nem sequer tem competência
para apreciar que não tem competência para apreciar a ação.

13. Princípio da recíproca correção


- MTS não menciona este princípio, mas PA considera-o.
Artigo 9º: todos os intervenientes no processo devem agir em conformidade com um dever de
recíproca correção, pautando-se as relações entre advogados e magistrados por um especial dever
de urbanidade à o preceito contém uma referência especial ao dever de urbanidade que se impõe
nas relações entre advogados e magistrados.
No mesmo sentido, o EOA determina que os advogados devem proceder com urbanidade,
nomeadamente para com os colegas, magistrados, árbitros, peritos, testemunhas e demais
intervenientes nos processos, e ainda oficiais de justiça, funcionários notariais, das conservatórias e
de outras repartições ou entidades públicas ou privadas.
O artigo 9º deve ser conjugado com o artigo 150º que diz respeito à manutenção da ordem nos atos
processuais: nos atos processuais deve ser mantida a ordem competindo ao magistrado que e ales
presida tomar as providencias necessárias contra quem perturbar a sua realização.
Assim, sempre que seja retirada a palavra a advogado, advogado-estagiário ou ao magistrado do MP
é, consoante os casos, dado conhecimento circunstanciado ao do facto à AO – 150º, nº4.
è Este dever impõe ainda às partes intervenientes no processo que não usem expressões
desnecessárias ou injustificadamente ofensivas da honra ou do bom nome da outra, ou do
respeito devido às instruções – artigo 9º, nº2.
O artigo 151º, nº6, estabelece que, ao juiz é imposto ao dever de fazer a devida comunicação aos
advogados e, por sua vez, a secretaria deve fazer a comunicação aos advogados e, por sua vez, a
secretaria deve fazer a comunicação às partes e demais intervenientes processuais, dentro dos trinta
minutos subsequentes à hora designada para o seu início.
è O cumprimento do dever de correção impõe que as pessoas não tenham de esperar muito
tempo pelo início das diligencias programadas, sem que sejam elucidadas a tal respeito – a
falta de comunicação implica a dispensa automática dos intervenientes processuais: artigo
151º, nº7.

à Manuel de Andrade enunciava 13 princípios; Lebre de Freitas também enuncia mais.

Jurisdição e Composição judiciária

Tribunais a que são reconhecidos poderes jurisdicionais pelo Estado Português

209º CRP – referência a 4 categorias de tribunais:


• Constitucional;
• Contas;
• Judiciais;
• Administrativos e fiscais;
Alem disso, são ainda referidos os tribunais arbitrários e estaduais.
è Todos os tribunais referidos no artigo 209º CRP são tribunais estaduais, à exceção dos
tribunais arbitrários.

Tribunais arbitrários
Os tribunais arbitrários podem ser:
• Voluntários – a sua jurisdição depende da vontade manifestada das partes através de uma
convenção de arbitragem que consiste num acordo pelo qual as partes envolvidas no litigio
confiam a um tribunal arbitrário voluntario o reconhecimento dos litígios (pressupõem outros
pressupostos, como a matéria em causa: matérias que envolvam interesses patrimoniais ou
sobre os quais os tribunais possam julgar) – artigo 160º, nº1 LOGE.
- A convenção de arbitragem divide-se em:
o Compromisso arbitral – convenção entre as partes que diz respeito a um litígio já
existente (este litígio já pode ser objeto de um tribunal judicial) – 277º, b) e 280 CPC.
o Clausula compromissória – diz respeito a litígios futuros: normalmente faz parte de
um contrato onde constam outras clausulas – ex: para resolver todos os litígios que
possam ocorrer relativos ao presente contrato, as partes acordam em recorrer a um
tribunal arbitral constituído por x número de árbitros.
• Necessários – as partes têm de recorrer obrigatoriamente: não pressupõem uma convenção
de arbitragem, ou seja, são situações em que a própria lei estabelece que os litígios devem
ser resolvidos por tribunais arbitrais necessários – ex: tribunal arbitrário necessário do
desporto.
A regra é de que os tribunais arbitrários sejam voluntários.
A arbitragem pode ainda ser:
• Institucionalizada – organizada e promovida por um centro de arbitragem que organiza toda
a constituição do tribunal e do processo em si;
• Ad hoc – ocorre fora do quadro institucional.
Existem ainda tribunais internacionais - ex: TEDH.

Tribunais Estaduais
Ordem jurisdicional – artigo 209º CRP + 29º lei da organização dos sistemas judiciais.
è Artigo 74º CPC, 211º, nº1 CRP.

A ordem dos tribunais judiciais: os tribunais judiciais são os tribunais comuns – artigo 40º LOSJ – têm
competência subsidiaria ou residual: tudo aquilo que não pertencer a outros tribunais, pertence aos
tribunais comuns.
Os tribunais administrativos e fiscais são tribunais especiais porque só têm competência para as
matérias que a lei indicia especificamente – artigo 212º, nº1 e 3 CRP.

Estrutura dos tribunais

1. Juízes – os juízes dos tribunais judiciais constituem um corpo único e regem-se por um único
estatuto.
- Garantias próprias dos juízes:
• Independência (artigo 203º CRP) – o juiz pratica a sua atividade de forma
independente, estando apenas vinculado à lei. De acordo com a lei, o juiz tem um
dever de imparcialidade, sendo que a lei fala, neste âmbito, de impedimentos e de
suspeições (artigos 115º e ss.) à caso o juiz se encontre impedido por alguma causa,
tem o dever de se declarar impedido e não julgar aquela causa (artigo 116º); as
suspeições (artigo 119º) são uma situação em que, ainda que não haja um
impedimento, ainda assim, se pode duvidar da imparcialidade do tribunal, sendo que
o próprio juiz pode declarar-se suspeito, recusando-se a julgar a causa.
• Irresponsabilidade (artigo 216º, nº1 CRP) – o juiz não pode ser responsável pelas suas
decisões. Ou seja, as decisões do juiz incorrem sempre em prejuízo para uma das
partes, mas isso não significa que deva ser responsabilidade por esse prejuízo, salvo
nas situações de responsabilidade criminal, disciplinar ou civil (Lei 67/2017).
- Quanto à responsabilidade civil do juiz, há́ que ter em conta que quando uma decisão
que é proferida por um juiz, essa decisão é suscetível de causar danos a uma parte
(nomeadamente, por erros) à a solução que decorre da Lei 67/2007 é a de que quem
é demandado é o Estado e não o juiz, sendo que o Estado pode, em determinadas
circunstâncias, exercer posteriormente um direito de regresso sobre o juiz.
• Inamovibilidade (artigo 216º CRP) – os juízes não podem ser transferidos,
aposentados ou despedidos, fora dos casos previstos na lei.

2. Secretaria e funcionários judiciais – a secretaria judicial ocupa-se de aspetos burocráticos e,


cada tribunal ou cada comarca tem órgãos de gestão.

3. Representante do MP – o MP goza de autonomia (artigo 219º, nº2 CRP):


- Ministério Público – alem do juiz existe sempre um representante do MP: representa o
estado e uma determinada categoria de pessoas e em cada tribunal o MP é representado por
um magistrado à a função do MP é o exercício de ação penal: intervenção mais residual no
âmbito do processo civil – representa o Estado e determinadas pessoas (ex: ausentes em
parte incerta) e assume a defesa dos interesses coletivos.
É um órgão do tribunal e tem uma participação ativa, muitas vezes como parte.
- 219º CRP: estatuto do MP
- 3º, nº1 do estatuto do MP: autonomia através da procuradoria geral da república – órgão
superior do MP – tal como os juízes, os magistrados do MP são também responsáveis em
termos civis (apenas através de ação de regresso que o estado venha a exercer contra ele),
disciplinares (violação de deveres disciplinares) e até mesmo criminais.
- mas, há uma grande diferença em relação à magistratura judicial: enquanto nesta não há́
uma hierarquia (não há́ juízes de hierarquia superior ou inferior), o ministério público é um
órgão hierarquizado, isto é, a Procuradoria Geral da República (PGR) pode, por exemplo, dar
ordens a agentes subordinados do MP. Fora este aspeto, existe um paralelismo entre a
magistratura judicial e a magistratura do MP.
ASSIM, o que distingue o MP dos juízes é a circunstância de os magistrados do MP se
encontrarem subordinados aos seus superiores hierárquicos, o que significa que, o superior
hierárquico pode dar uma ordem a um membro do MP o que não é possível no campo judicial
– não há nenhum juiz que dê uma ordem a outro juiz.
è MP é um corpo hierárquico.

4. Existem ainda órgãos de gestão – nomeadamente, as comarcas têm órgãos de gestão


próprios.

5. Existem também auxiliares da justiça – podem existir colaboradores da justiça ou auxiliares


de estudo: artigo 601º, nº1 CPC – técnico à auxiliam o procedimento e têm uma grande
expressão no processo executivo (e não no declarativo).
- Podem ser peritos, consultores, etc., mas há́ um particularmente importante: agente de
execução, que tem hoje um papel fundamental na ação executiva: órgão do tribunal que tem
um papel preponderante no procedimento executivo.

Em Portugal existem 23 comarcas, 5 relações e 1 STJ.


Atualmente existem duas ordens de tribunais: (a) ordem dos tribunais judiciais, cujo supremo
tribunal é o STJ e (b) ordem dos tribunais administrativos e fiscais, cujo supremo tribunal é o STA.
è Há uma grande diferença entre aquilo que cabe à ordem dos tribunais judiciais e que cabe à
ordem dos tribunais administrativos e fiscais: o artigo 211º, nº1 CRP dispõe que os tribunais
judiciais são os tribunais comuns em matéria civil e criminal e exercem jurisdição nas áreas
que não são atribuídas a outra ordem; aos tribunais administrativos e fiscais cabe apenas
aquilo que a lei expressamente disser que é da competência desses tribunais.
Se uma matéria não for nem civil nem criminal (ex: laboral), mas se não couber na competência dos
tribunais administrativos e fiscais, essa matéria caberá́ aos tribunais judiciais.

OU SEJA:
Ordem dos jurisdicional dos tribunais judiciais: 209º e 210º CRP + 29º LOSJ:
1. STJ – órgão superior da ordem dos tribunais judiciais: é normalmente o tribunal de recurso e
tem competência para todo o território nacional – existem 3 secções.
- Pode funcionar em pleno geral ou em pleno nas secções.
2. 2º instância – são em regra tribunais da relação: Artigos 210º, nº4 + 29º, nº2 LOSJ e 77º LOSJ
à normalmente também são tribunais de recurso, embora para certas matérias tenham
competência de 2º instância – em Portugal existem 5: Lisboa, Porto, Évora, Coimbra e
Guimarães.
3. 1º instância – podem ser tribunais de comarca (regra geral) ou de competência alargada –
artigo 33º, nº1 LOSJ + 210º, nº3 CRP.
- os tribunais de comarca têm competência sobre a comarca: em cada comarca há um tribunal
de comarca (23 comarcas em Portugal) à dentro destes temos divisões: artigo 80º e 81º LOSJ
– tribunais de competência genérica e tribunais de competência especializada.
- MAS, os tribunais de primeira instância não são apenas tribunais de comarca, também há
tribunais de primeira instância que têm competência alargada – competência sobre as várias
comarcas – artigo 33º, nº1 LOSJ, 43º, nº4 e 86º, nº1 LOSJ à porem, o critério que permite a
atribuição de competência a tribunal de competência alargada não é apenas um critério
material.
Assim, os tribunais de competência material alargada são: o tribunal de propriedade
intelectual, o tribunal marítimo, o tribunal de instrução de penas e o tribunal central de
instrução criminal.
- Artigo 81º, nº3 LOSJ
Os tribunais administrativos e fiscais têm competência nos termos do artigo 202º, nº3 CRP e 144º
LOSJ à ordem:
1. STA – Supremo tribunal administrativo: funciona em duas secções
2. Tribunais centrais administrativos: são dois – norte e sul – duas secções.
3. Tribunais de centro e secundários – 1ª instância.

- O artigo 211º, nº2 CRP permite que, em 1ª instância, haja tribunais de competência especializada e
tribunais de competência específica, em função da matéria.
- Na nossa OJ não existem apenas tribunais estaduais, também existem tribunais arbitrais, que são
constituídos por árbitros, isto é, juízes que não pertencem à magistratura (existem dois tribunais
arbitrais: os tribunais arbitrais voluntários (são os mais importantes, e que resultam de uma opção
das partes de resolverem o litígio num tribunal arbitral) e os tribunais arbitrais necessários (que a lei
impõe que o litígio seja resolvido nesse tribunal arbitral).

Existem ainda, para além dos tribunais judiciais e dos tribunais administrativos e fiscais, os Julgados
de Paz (artigo 209º, nº2 CRP). Estes julgados de paz são uma forma alternativa de resolução de litígios
e, caracterizam-se por ter uma competência alternativa à dos restantes tribunais, isto é, nunca é
obrigatório propor ação nos Julgados de Paz, mas se for essa a vontade do autor, pode fazê-lo.
è Têm a sua competência delimitada em função da matéria – só́ têm competência declarativa,
não tendo competência para executar nenhuma decisão (artigo 6º Lei dos Julgados de Paz).
- O valor máximo que pode ser objeto de uma ação nos Julgados de Paz é de 15.000€.
- Os julgados de paz têm ainda assim, genericamente, uma competência ampla.

Fora ordem dos tribunais judiciais e dos administrativos e fiscais existe ainda o Tribunal dos Conflitos,
que visa resolver conflitos entre os tribunais à para sabermos em concreto que conflitos são
resolvidos por este tribunal, importa ter presente as definições de “conflitos de competência” e de
“conflitos de jurisdição” presentes no artigo 109º CPC:
¾ Conflitos de competência – artigo 109º, nº2: quando dois ou mais tribunais da mesma
ordem jurisdicional se consideram competentes ou incompetentes para conhecer da
mesma matéria.
- Artigo 110º, nº2: são solucionados pelo presidente do tribunal de menor categoria que
exerça jurisdição sobre as autoridades em conflito.
¾ Conflitos de jurisdição – artigo 109º, nº1: o conflito é entre tribunais de diferentes ordens
jurisdicionais. É aqui que entra o Tribunal dos Conflitos, que irá resolver estes conflitos.
- Este não é um tribunal permanente e é de composição mista (juízes do STJ e do STA).

Pressupostos Processuais

A função de apreciação do mérito da causa é a função natural e expectável das decisões judiciais, na
exata medida em que os tribunais existem para resolver litígios.
No entanto, para que o tribunal possa conhecer do mérito da causa, é necessário que se verifiquem
determinadas condições – os pressupostos processuais.
O desrespeito pelos pressupostos processuais impede o juiz de se pronunciar sobre o mérito da
causa, devendo então ser proferida uma decisão que, em vez de apreciar o mérito, se limita a um
julgamento formal da lide que põe termo ao processo e se traduz na absolvição do réu da instância,
nos termos fixados no artigo 278º, nº1.
è A violação dos pressupostos processuais tem por efeito, em regra, a ocorrência de exceções
dilatórias, as quais constituem, antes de mais, argumentos de defesa ao dispor do réu,
conforme decorre do previsto nos artigos 576º, nº2 e 577º.
Contudo, a absolvição do réu da instância apenas deverá ter lugar quando não seja ou não tenha sido
possível suprir o vício originado pela violação de certo pressuposto processual à esta ideia é
reforçada pelos artigos 278º, nº2 e 3. Deste modo, impõe-se ao juiz, por via do artigo 6º, nº2, o dever
de providenciar oficiosamente pelo suprimento daqueles vícios, desde que estes sejam sanáveis.
- Desta circunstância resulta que só́ depois de verificar se estão preenchidos os pressupostos
processuais é que o Tribunal se vai pronunciar sobre o mérito da causa.

Pressupostos processuais relativos ao tribunal


x COMPETÊNCIA

Os tribunais exercem a função jurisdicional e, esta compete a todos os órgãos jurisdicionais,


considerados no seu conjunto. Porém, em concreto, encontra-se fracionada: a competência é a
parcela de jurisdição que é atribuída a cada um dos órgãos jurisdicionais, ou seja, é a fração do poder
jurisdicional que cabe a cada tribunal.
Competência - fração de poder de jurisdição atribuída a um tribunal ou tribunais.
- Assim, a jurisdição e competência são quantitativamente distintas: a jurisdição constitui o poder de
julgar que é atribuído aos tribunais considerados no seu conjunto, nos termos do artigo 202º CRP e,
a competência é apenas uma parcela desse poder, depois de fracionado entre os diferentes tribunais.
è Em conformidade com o que dispõe o artigo 109º, nº1, há conflito de jurisdição quando duas
ou mais autoridades, pertencentes a diversas atividades do Estado, ou dois ou mais tribunais,
integrados em ordens jurisdicionais diferentes, se arrogam ou declinam o poder de conhecer
da mesma questão – os conflitos de jurisdição podem surgir entre duas autoridades
pertencentes a diferentes atividades do estado (ex: entre a atividade judicial e a atividade
administrativa) ou entre tribunais pertencentes a ordens jurisdicionais diferentes (Ex: entre o
tribunal judicial e o tribunal administrativo).
- O conflito surge, por exemplo, quando a ação foi proposta no tribunal cível e o juiz considera que a
mesma deve correr no tribunal administrativo, por ser de natureza administrativa a questão em
litígio. Assim, o conceito de jurisdição referido nesse preceito engloba não só o poder conferido aos
tribunais em geral, em confronto com o poder dos demais órgãos do estado, mas também o poder
atribuído genericamente a uma certa categoria de tribunais perante as restantes categorias:
¾ Conflito positivo: se ambos se arrogam o poder de conhecer da mesma questão;
¾ Conflito negativo: se ambos declinam o poder de conhecer a mesma questão;
- Os conflitos de competência são solucionados pelo presidente do tribunal de menor categoria que
exerça jurisdição sobre as autoridades em conflito (artigo 110º, nº2) e, os conflitos de jurisdição são
resolvidos, conforme os casos, pelo STJ ou pelo tribunal de conflitos (artigo 110º, nº1).

Assim, para se tratar da distinção entre jurisdição e competência é necessário em primeiro lugar uma
distinção entre diversas visões de competência:
• Competência internacional – Pode ser definida com a medida de jurisdição dos tribunais de
um estado no seu conjunto ou como a fração de um poder de jurisdição atribuída aos
tribunais portugueses pelos tribunais estrangeiros à o problema da competência
internacional coloca-se quando os tribunais são confrontados com a necessidade de julgar
litígios que tenham elementos de conexão com ordens jurídicas estrangeiras ou com mais do
que uma ordem jurídica de um estado soberano – assim, nestes casos, torna-se necessário
verificar se os tribunais de um estado são internacionalmente competentes.
• Competência interna - Quando o tribunal se considera internacionalmente competente tem
de se verificar que é também competente de acordo com as normas da competência interna:
ver que tribunal é competente (ex: Tribunal de Lisboa, de Coimbra, tribunal de competência
genérica, de trabalho) à competência interna: medida de jurisdição de cada tribunal de um
estado, ou seja, a fração de poder jurisdicional atribuída a um tribunal face aos outros do
mesmo estado.
- Artigo 70º, nº2 CPC.
- Artigos 40º e ss da LOSG.
- Primeiro há que se verificar se o tribunal é internacionalmente competente e depois verificar
internamente qual é o tribunal competente: isto quer dizer que há regras que resolvem o problema
da competência internacional e outras regras que resolvem o problema da competência interna. No
entanto, pode haver situações em que estas regras tenham uma dupla funcionalidade: há regras de
competência internacional que têm dupla funcionalidade e há regras de competência interna que
também têm dupla funcionalidade, segundo MTS à ex: artigo 72º CPC.
è OU SEJA, a questão da competência coloca-se ao autor no momento em que pensa instaurar
a ação: o autor terá de saber onde deve propor essa ação, ou seja, determinar o tribunal
competente para proferir respetiva decisão e, para isso, terá de proceder a uma analise dos
critérios que presidem à divisão do poder jurisdicional.
LOSJ + CPC – dualidade de tratamento porque a competência pode ser vista pelo ângulo do tribunal
(este tribunal tem competência para quê? – LOSJ) ou pelo ângulo do processo (em que tribunal é que
vamos instaurar este processo? – CPC).

Ø Competência internacional

A competência interna é estudada antes da internacional por motivos didáticos à porque em termos
de prioridade esta compete à competência internacional.
Depois de sabermos que os tribunais portugueses são competentes é que vamos ver qual é o tribunal
português internamente competente.

- Trata-se de saber se uma determinada questão deve ser resolvida pelos tribunais portugueses ou
pelos tribunais de um Estado estrangeiro à se a situação não revelar qualquer elemento de conexão
com ordens jurídicas estrangeiras, tudo se passa no âmbito da competência interna.
è A competência internacional dos tribunais é, assim, a competência dos tribunais da ordem
jurídica portuguesa para conhecer de situações que, apesar de possuírem, na perspetiva do
ordenamento português, uma relação com ordens jurídicas estrangeiras, apresentam
igualmente uma conexão relevante com a ordem jurídica portuguesa – cada país pode fixar
os elementos de conexão que considera relevantes para se atribuir a competência para julgar
determinados litígios.
Neste sentido, trata-se de saber se uma determinada questão deve ser resolvida pelos tribunais
portugueses ou pelos tribunais de um Estado estrangeiro: se a situação não revelar qualquer
elemento de conexão com ordens jurídicas estrangeiras, tudo se passa no âmbito da competência
interna à a competência internacional dos tribunais portugueses é, assim, a competência dos
tribunais da ordem jurídica portuguesa para conhecer de situações que, apesar de possuírem, na
perspetiva do ordenamento português, uma relação com ordens jurídicas estrangeiras, apresentam
igualmente uma conexão relevante com a ordem jurídica portuguesa.
è Cada país pode fixar os elementos de conexão que considera relevantes para se atribuir a
competência para julgar determinados litígios.
- Nos termos do artigo 59º, sem prejuízo de outra legislação existente (regulamentos europeus e
outros instrumentos internacionais), os tribunais portugueses são internacionalmente competentes
quando se verifique algum dos elementos de conexão referidos nos artigos 62º e 63º ou quando as
partes lhes tenham atribuído competência nos termos do artigo 94º.

Fatores de atribuição da competência internacional


Por força do nº2 do artigo 37º da lei nº62/2013, é atribuída à lei do processo a fixação dos fatores de
que depende a competência internacional dos tribunais judiciais.
Em conformidade, o artigo 62º determina que os tribunais portugueses são internacionalmente
competentes:
a) Quando a ação possa ser proposta em tribunal português segundo as regras de competência
territorial estabelecidas na lei portuguesa – princípio da coincidência: é atribuída
competência internacional aos tribunais portugueses quando a ação deva ser proposta em
Portugal, segundo as regras de competência territorial estabelecidas na lei portuguesa (artigo
70º e ss.) à coincidência entre a competência internacional e a competência interna
territorial.
- Quando, de acordo com as regras da competência territorial previstas na ordem interna, a
ação deva ser instaurada em Portugal, os tribunais portugueses terão competência
internacional para julgar essa ação, mesmo que existam elementos de conexão com ordens
jurídicas estrangeiras.
b) Ter sido praticado em território português o facto que serve de causa de pedir na ação, ou
algum dos factos que a integram – princípio da causalidade: os tribunais portugueses são
internacionalmente competentes para a propositura da ação quando tiver sido praticado em
Portugal o facto que serve de causa de pedir ou algum dos factos que a integram (ex: ação de
divorcio de um casal italiano residente em Portugal, sabendo que nas ações constitutivas, a
causa de pedir é o facto concreto que se invoca – 581º, nº4 – os tribunais portugueses são
internacionalmente competentes para a ação de divorcio proposta por um dos cônjuges com
fundamento na pratica de adultério cometido pelo outro em território português).
c) Quando o direito invocado não possa tornar-se efetivo senão por meio de ação proposta em
território português ou se verifique para o autor dificuldade apreciável na propositura da ação
no estrangeiro, desde que entre o objeto do litígio e a ordem jurídica portuguesa haja um
elemento ponderoso de conexão, pessoal ou real – princípio da necessidade: exige-se que
entre o objeto do litigio e a ordem jurídica portuguesa haja um elemento ponderoso de
conexão, pessoal ou real à a competência é atribuída aos tribunais portugueses quando o
direito invocado pelo autor só possa tornar-se efetivo por meio de ação proposta em
Portugal. Evidencia-se, assim, a necessidade de propor a ação nos tribunais portugueses por
ser o único modo de efetivar o direito do autor.
- Além disso, é atribuída competência internacional aos tribunais portugueses não só nos
casos de necessidade, mas também nos casos de dificuldade. Assim, a ação deve ser proposta
nos tribunais portugueses quando a propositura da ação no estrangeiro representaria para o
autor dificuldade apreciável (ex: situação em que existisse um conflito armado ou de corte de
relações diplomáticas com o país cujos tribunais seriam competentes – assim, os tribunais
portugueses passariam a ser competentes para a propositura da ação, devido a essa
dificuldade).

Como é que se determina a competência internacional dos tribunais portugueses?


Há 3 regimes: regimes europeus, regimes convencionais (resultantes de convenções) e regimes
internos – 62º e 63º CPC:
1. Regimes Europeus
• Os regulamentos que tratam de competência: regulamento Bruxelas 1, regulamento
Bruxelas 2, regulamento 4/2009.
2. Regimes convencionais – resultantes de convenções:
• Convenção do Lugano 2 – tem como objetivo unificar o regime da competência
internacional de decisões no espaço económico europeu à 3 estados-membros só da
convenção: Islândia, Noruega e Suíça + todos os estados-membros da UE.
- Conteúdo desta convenção: fundamentalmente o mesmo dos regulamentos
europeus.
- Problema de saber quando é que se aplica a convenção ou quando é que se aplica o
regulamento: por exemplo, se o reu tiver o seu domicilio na Suíça, aplicamos a
convenção e não o regulamento europeu;
3. Regimes internos – 62º e 63º CPC.

Competência internacional direta e indireta


Quando falamos de competência internacional, falamos de competência direta à ex: interessa saber
se os tribunais competentes são para apreciar uma ação em que é demandado um brasileiro.
No que diz respeito à competência internacional indireta: nem todas as decisões são proferidas por
tribunais portugueses e, em relação às decisões estrangeiras deve saber-se em que condições é que
estas podem ser aplicadas em Portugal à necessário que a decisão seja reconhecida na ordem
jurídica portuguesa: para que tal ocorra – regra: de acordo com a própria lei do estado de
reconhecimento (ex: Portugal) os tribunais que proferiram a decisão têm de ser tribunais
competentes para o fazer à não se esta a aferir qual é o tribunal competente para proferir a decisão
mas sim para reconhecer a mesma, contudo, estes são os mesmos que a podem proferir.
è Artigo 980º, c) CPC.

Competência internacional concorrente e competência internacional exclusiva

A distinção passa por situações em que vários tribunais de vários estados se consideram competentes
sem que nenhum deles reivindique para si próprio a exclusividade da competência à o autor escolhe
o tribunal em que vai propor a ação (ex: tribunais brasileiros, portugueses, argentinos, etc.) –
competência concorrente: tribunais de vários estados são competentes para decidir, sendo que, o
autor pode escolher o tribunal
A competência exclusiva é aquela em que de acordo com a própria legislação, apenas os tribunais
de determinado estado são competentes para apreciar a questão à ex. português: 63º CPC: tribunais
portugueses não reconhecem competência indireta aos tribunais de nenhum outro estado.

- Competência exclusiva dos tribunais portugueses


Nos termos do disposto no artigo 63º, os tribunais portugueses são exclusivamente competentes:
• Em matéria de direitos reais sobre imoveis e de arrendamento de imoveis situados
em território português. Todavia, em matéria de contratos de arrendamento de
imoveis celebrados para uso pessoal temporário por um período máximo de 6 meses
consecutivos, são igualmente competentes, os tribunais do EM da UE onde o
requerido tiver domicílio, desde que o arrendatário seja uma pessoa singular e o
proprietário e o arrendatário tenham domicílio no mesmo EM.
• Em matéria de validade da constituição ou de dissolução das sociedades ou de outras
pessoas coletivas que tenham a sua sede em Portugal, bem como em matéria de
validade das decisões dos seus órgãos. Para determinar essa sede, o tribunal
português aplica as suas regras de direito internacional privado.
• Em matéria de validade de inscrições em registos públicos conservados em Portugal;
• Em matéria de insolvência ou de revitalização de pessoas domiciliadas em Portugal ou
de pessoas coletivas ou sociedades cuja sede esteja situada em território português.
Da competência exclusiva dos tribunais portugueses, resulta ainda uma outra consequência: não
aceitando a jurisdição portuguesa que a causa seja submetida à jurisdição de outro país, também
não aceitará a revisão e confirmação da sentença estrangeira que ao caso diga respeito.
è Para que uma decisão sobre direitos privados proferida por um tribunal estrangeiro tenha
eficácia em Portugal, seja qua for a nacionalidade das partes, é necessário que seja revista e
confirmada por um tribunal português – artigo 978º, nº1 e, para tal, é competente o tribunal
da relação da área em que esteja domiciliada a pessoa contra quem se pretende fazer valer a
sentença – artigo 979º à este é um dos raros casos em que a ação começa no tribunal da
relação e não no de 1ª instancia.

Competência convencional e competência legal


Relacionado com as fontes – competência legal resulta de uma lei interna e a competência
convencional resulta de uma convenção celebrada entre as partes, convenção essa a que na ordem
jurídica portuguesa se chama pacto de jurisdição.
- Ações torpedo – ações em que o autor intenta uma ação num tribunal que sabe que é
incompetente, fazendo-o porque nesses casos, até que o tribunal se declare incompetente, não se
pode propor a mesma ação no tribunal competente, o que o faz ganhar tempo.

- Pactos de Jurisdição
Por força do artigo 59º, os tribunais portugueses são internacionalmente competentes, não só
quando se verifica algum dos elementos de conexão referidos nos artigos 62º e 63º, mas também
quando as partes lhes tenham atribuído competência nos termos do artigo 94º à as partes podem
convencionar qual a jurisdição competente para dirimir determinados litígios, nos termos do
disposto no artigo 94º.
è As partes podem convencionar qual a jurisdição competente para dirimir um litígio
determinado ou os litígios eventualmente decorrentes de certa relação jurídica, contando
que a relação controvertida tenha conexão com mais de uma ordem jurídica.
ASSIM, o pacto pode ser atributivo ou privativo da competência internacional dos tribunais
portugueses:
• Atributivo – quando concede competência a um tribunal ou a vários tribunais portugueses;
• Privativo – quando retira a competência a um ou a vários tribunais portugueses e a atribui
exclusivamente a um ou vários tribunais estrangeiros.
Nos termos do nº2 do artigo 94º, a designação convencional pode envolver a atribuição de
competência exclusiva ou meramente alternativa com a dos tribunais portugueses, quando esta
exista, presumindo-se que seja exclusiva em caso de dúvida.
è O acordo das partes denomina-se pacto de jurisdição e não de competência porque o que as
partes convencionaram diz respeito à jurisdição, isto é, à atribuição da competência dos
tribunais, do nosso ou de outro país, considerados no seu conjunto, e não à repartição da
competência entre os tribunais portugueses.
Pode acontecer, porem, que as partes atribuam, por exemplo, competência ao tribunal de Lisboa:
estão a celebrar um pacto de jurisdição e ao mesmo tempo, um pacto de competência interna,
designando o tribunal competente de entre os tribunais portugueses.
- O pacto só é valido quando se verifiquem os requisitos do nº3 do artigo 94º:
a) O pacto só pode dizer respeito a um litigio sobre direitos disponíveis à direitos que o seu
titutular pode livremente dispor (contrário de indissponviels: ex – casamento). Assim, se o
litigio versar sobre direitos indisponíveis, o pacto não será válido.
b) A eleição do foro só é válida se for aceite pela lei do tribunal designado à a aceitação deve
existir tanto no caso de o pacto de jurisdição atribuir competência exclusiva aos tribunais
portugueses, como no caso em que essa competência é atribuída em concorrência com a de
outros países.
c) O pacto só é válido se for justificado por um interesse sério de ambas as partes ou de uma
delas, desde que, não envolva inconveniente grave para a outra à pretende-se evitar que
seja escolhido um tribunal com o qual a causa e as partes não tenham qualquer conexão
relevante.
d) Proíbe o pacto de jurisdição que recaia sobre materia da exclusiva competência dos tribunais
portugueses à o pacto não pode privar os tribunais portuhueses da competência que a lei
lhe atribui de modo exclusivo (trantando-se de competência exclusiva, a ordem jrudicia
portuguesa não poderia permitir qualquer concorrência com os tribunais estrangeiros).
e) Pacto resulte de acordo escrito e, quanto à menção da jurisdição competente, esta deve ser
expressa à a designação pode ser feita diretamente (ex: o tribunal de lisboa; o tribunal de
paris) ou pode ser feita de maneira indireta, remetendo para o tribunal que for competente
segundo as regras de jurisdição escolhidas.

Regulamentos europeus em matéria de competência internacional

Os regulamentos em causa aplicam-se aos Estados-Membros da UE:


- Alemanha, Bélgica, França, Itália, Luxemburgo, Países Baixos, Dinamarca, Irlanda, Reino Unido,
Grécia, Espanha, Portugal, Áustria, Finlândia, Suécia, Chéquia, Chipre, Eslováquia, Eslovénia, Estónia,
Hungria, Letónia, Lituânia, Malta, Polónia, Bulgária, Roménia, Croácia.
O primeiro passo será sempre invocar o regulamento 1215/2012 e ver se este se aplica: não
passamos primeiro pelo CPC porque na CRP, o artigo 8º estipula um primado do DUE, que nos diz
que sempre que exista uma situação plurilocalizada onde são chamadas ordens jurídicas que fazem
parte da UE, temos de olhar primeiro paras normas deste regulamento.

x Regulamento 1215/2012 – Regulamento Bruxelas I Bis

Chama-se também: regulamento Bruxelas 1 bis à este nome foi atribuído porque estamos perante
um regulamento geral que regula matéria civil e comercial.
Trata-se de uma reformulação do regulamento 44/2001 – vinculativo para todos os estados da UE
com exceção da Dinamarca, mas há um acordo celebrado entre a Dinamarca e a CE em que esta
aceitou ficar vinculada a este mesmo regulamento num acordo.
O TJ pode ser chamado a pronunciar-se sobre a aplicação do regulamento a casos concretos: sucede
com alguma frequência à tao importante quanto o regulamento são as decisões do TJ proferidas
sobre este (à volta de 15 decisões por ano).

Þ Âmbito de aplicação
O âmbito de aplicação deste Regulamento é delimitado em função do preenchimento cumulativo de
três critérios, referentes ao tempo, ao objeto e aos sujeitos.

1. Âmbito de aplicação temporal

Nos termos do artigo 81º do Regulamento, este aplica-se a partir do dia 10 de janeiro de 2015, com
exceção dos artigos 75º e 76º, que passaram a aplicar-se a partir do dia 10 de janeiro de 2014.
Por sua vez, à luz do artigo 66º, nº1, o Regulamento só se aplica às ações judiciais intentadas, aos
instrumentos autênticos formalmente redigidos ou registados e às transações judiciais aprovadas ou
celebradas em 10 de janeiro de 2015 ou em data posterior. Contudo, o artigo 80º do Regulamento
44/2001 continua a aplicar-se às decisões proferidas em ações judiciais intentadas, aos instrumentos
autênticos formalmente redigidos ou registados e às transações judiciais aprovadas ou celebradas
antes de 10 de janeiro de 2015 e abrangidas pelo âmbito de aplicação desse regulamento (artigo 66º,
nº2).

2. Âmbito de aplicação material


- Artigo 1º, nº1 – matéria civil e comercial – independentemente da natureza da jurisdição.
“Matéria civil e comercial” – um conceito específico, autónomo e exclusivo do Regulamento,
já que a qualificação da natureza civil ou comercial de um determinado litígio não é uniforme
nos diferentes Estados-Membros da UE. Fundamentalmente, o objetivo central do legislador
europeu foi o de restringir o âmbito de aplicação material do Regulamento às relações
jurídicas de direito privado.
• Delimitação negativa – o que é que não cabe na matéria civil e comercial: parte final
do nº1 do artigo 1º, e nº2 do regulamento à não se aplica a matérias fiscais,
aduaneiras e administrativas, não é aplicável a medidas de carater social, nem à
arbitragem (problema doutrinário: MTS chama atenção para o considerando 12 do
regulamento e defende que a letra do preceito é importante, bem como as medidas
do ST e os considerandos – o considerando 12 estabelece que o regulamento não é
aplicável à arbitragem, na medida em que, há determinadas situações, em que a
arbitragem voluntaria recorre aos tribunais judiciais como apoio: a exclusão
estabelece que o regulamento não é aplicável a esta situação).
Em todo o caso não se pode excluir do âmbito de aplicação do regulamento: proposta
uma ação abrangida pelo âmbito de aplicação do regulamento nos tribunais
portugueses mas as partes da ação tinham celebrado uma convenção arbitral à isto
não impede que os tribunais não possam verificar a convenção de arbitragem.
O regulamento também não se aplica nos termos da alínea e) do regulamento.

OU SEJA,
Estão excluídas da sua aplicação as matérias que, apesar de revestirem natureza civil ou comercial,
digam respeito a:
¾ Estado e capacidade jurídica das pessoas singulares;
¾ Regimes de bens do casamento;
¾ Relações que produzem efeitos comparáveis ao casamento;
¾ Falências;
¾ Concordatas e outros processos análogos;
¾ Segurança social;
¾ Arbitragem – em algumas situações, é necessário aos tribunais arbitrais recorrer à ajuda dos
tribunais judiciais (ex: para a apreensão de um documento), não sendo este regulamento
aplicável a estas situações. No entanto, o próprio Regulamento diz que não prejudica a sua
aplicação a estes casos.
¾ Obrigações de alimentos decorrentes de uma relação familiar, parentesco, casamento ou
afinidade;
¾ Testamentos ou sucessões;
¾ Matérias fiscais, aduaneiras e administrativas (artigo 1º, nº1, 2ª parte);
¾ Responsabilidade do Estado por atos ou omissões no exercício da sua autoridade. Nada obsta,
no entanto, à aplicação deste Regulamento quando esteja em causa uma ação proposta por
ou contra uma autoridade publica, desde que o âmbito da ação se reconduza ao domínio do
direito privado.
É irrelevante a natureza da jurisdição, ou seja, não importa qual a espécie de tribunal ou a forma do
processo, segundo o direito interno do EM (artigo 1º, nº1, 1ª parte).

3. Âmbito de aplicação espacial do regulamento

O Regulamento é vinculativo para todos os Estados-Membros, com uma especialidade em relação à


Dinamarca.
Artigo 6º do Regulamento à MAS, mesmo quando não se verifique o requisito do artigo 6º, isto é, o
requisito do domicílio do requerido no Estado-Membro, é de igual forma aplicado o regulamento se
for aplicável o artigo 18º, o 21º, o 24º ou o 25º.

Aplicando-se o regulamento:
• Critério geral de competência:

a) Réu domiciliado na UE
Como critério geral de competência, o Regulamento estabelece que se o réu tiver domicílio ou sede
num dos Estados-Membros, este deve ser demandado, independentemente da sua nacionalidade,
junto dos tribunais desse Estado-Membro – artigo 4º, nº1 à trata-se de uma solução que visa
assegurar a proteção legal das pessoas domiciliadas na UE.
- O artigo 5º nº1 estabelece a ideia de que a única hipótese de a pessoa não vir a ser demandada no
tribunal do domicílio é haver uma outra regra de competência que designe outro tribunal
competente ou também competente para apreciar a ação.
¾ À luz do princípio perpetuatio, aquilo que releva é que o domicílio do réu se encontre fixado
no território da UE no momento em que a ação é proposta, sendo irrelevantes quaisquer
alterações posteriores de domicílio.
¾ Se o autor desconhecer o domicílio atual do réu, designadamente se o mesmo tem domicílio
dentro ou fora do território da UE, o Regulamento será aplicável se o último domicílio
conhecido do réu se situar no território de algum Estado-Membro.
¾ Este artigo estabelece o princípio da equiparação, segundo o qual as pessoas domiciliadas
num Estado-Membro, que não possuam a nacionalidade desse Estado, ficam sujeitas às
regras de competência internacional aplicáveis aos nacionais desse Estado (artigo 4º, nº2).
¾ Contudo, mesmo que o réu tenha o seu domicílio ou sede no território de um Estado-
Membro, pode ainda assim ser demandado num outro Estado-Membro, quando se verifique
alguma das regras especiais de competência previstas nos artigos 7º e ss., ou quando esteja
em causa alguma competência de natureza exclusiva (artigo 24º) ou convencional (artigo
25º).
¾ Havendo pluralidade de réus, o artigo 8º permite que uma pessoa domiciliada num
determinado Estado-Membro seja demandada perante os tribunais do(s) Estado-Membro
onde os demais réus tenham o seu domicílio, desde que os pedidos, ainda que tenham por
base fundamentos jurídicos distintos, estejam ligados entre si por um nexo tão estreito que
haja interesse em que sejam instruídos e julgados simultaneamente para evitar decisões que
poderiam ser inconciliáveis se as causas fossem julgadas em separado, ou seja, desde que no
caso em concreto se verifique uma conexão subjetiva.

b) Réu não domiciliado na UE


Se o réu não tiver domicílio ou sede num Estado-Membro, em princípio, o Regulamento não poderá́
ser aplicado, atenta a circunstância de não se encontrar preenchido o seu âmbito subjetivo. Nessa
eventualidade, a competência internacional para o conhecimento do litígio será definida pela lei
interna do Estado no qual foi proposta a ação. MAS, o artigo 6º, nº1, estabelece exceções a este
princípio – situações em que apesar de o demandado não ter domicílio no estado membro, ainda
assim o regulamento é aplicado:
• Artigo 18º, nº1;
• Artigo 21º, nº2;
• Artigos 24º e 25º;

- No caso português, a competência internacional será regulada pelo disposto nos artigos 62º, 63º
ou 94º CPC.
è O Regulamento procurou, contudo, atenuar o desequilíbrio que poderia ser gerado por esta
solução, dado que um determinado Estado-Membro pode consagrar, a nível interno, normas
mais protecionistas para os seus cidadãos e empresas (isto é, normas que permitam eleger
mais facilmente o seu foro em caso de conflito internacional), comparativamente com um
outro Estado-Membro.

Artigo 6º, nº1 – em regra, o regulamento só é aplicável se o demandado tiver domicílio num estado-
membro: nestas situações aplica-se sempre. Se o demandado não tiver domicílio num estado-
membro, em princípio, o regulamento não se aplica à nas situações previstas neste artigo, esses
preceitos são aplicáveis mesmo que o demandado não tenha domicílio nume estado-membro.
è Quando é que se considera que alguém tem domicílio num Estado-membro?
- Resposta expressa: artigos 62º (visa evitar a aplicação das normas de conflitos de direito
comercial privado – se não fosse este preceito para saber se um alemão tinha domicilio em
Portugal, era preciso consultar a lei alemã à o regulamento evita este procedimento ao dizer
que se aplica a lei portuguesa) e 63º do regulamento (determina que as pessoa coletivas se
consideram domiciliadas no local onde tiverem a sua sede, a sua administração central ou
algo equiparado).
Este regulamento é sobre competência internacional e por isso, à partida, os tribunais dos estados-
membros teriam de competência para apreciar uma determinada questão: isto sucede em vários
preceitos. Mas, há preceitos do próprio regulamento que não se ficam pela determinação a
competência internacional, definindo ao mesmo tempo, a competência interna – ex: artigo 7º.

- Exceções: assim, nos termos do artigo 6º, nº1, se estivermos perante litígios em determinadas
matérias, a ação pode ser proposta nos tribunais do Estado-Membro do domicílio do réu, mesmo
que este tenha o seu domicílio ou sede num Estado terceiro.
Essas matérias são:
¾ Contratos de consumo – artigo 18º, nº1;
¾ Contratos individuais de trabalho – artigo 21º, nº2;
¾ Matérias relacionadas com competência exclusiva dos tribunais dos Estados-Membros da UE
– artigo 24º;
¾ Matérias relacionadas com extensão da competência (pactos de jurisdição) – artigo 25º.

c) Critérios especiais de competência

Mesmo que o réu tenha o seu domicílio num Estado-Membro da UE, este pode, ainda assim, ser
demandado nos tribunais de um outro Estado-Membro se, no caso concreto, se verificar alguma
das regras especiais de competência previstas nos artigos 7º a 25º - artigo 5º, nº1.
Note-se que, estando simultaneamente preenchida a regra geral do domicílio do reu e uma regra
especial de competência, a regra especial não derroga a regra geral: verificando-se no caso concreto
algum critério especial de competência, o autor tem a possibilidade de escolher entre propor a ação
nos tribunais do Estado-Membro do domicílio do réu ou nos tribunais do Estados-Membros que
sejam competentes à luz desse critério especial; ou seja, a competência desses tribunais é
alternativa.
à Isto a não ser que no caso se verifique alguma situação de competência exclusiva (artigo 24º) ou
convencional (artigo 25º), as quais afastam os critérios gerais e especiais de competência.
- Neste sentido, a regra é o artigo 4º, nº1. E, o artigo 5º, nº1 permite que o reu seja demandado num
outro estado membro no âmbito das secções 2ª a 7ª que contém critérios especiais de competência:
não há prevalência dos critérios especiais sobre o critério geral à é o autor que escolhe se vai propor
a ação no tribunal de domicilio do demandado ou se sendo aplicado algum dos critérios especiais,
prefere propor a ação num desses tribunais no âmbito dos critérios especiais.
è Há uma concorrência entre critérios.

3 grupos de situações:
- Artigo 7º a 9º:
¾ Artigo 7º, nº1 – competência em matéria contratual - quando esteja em causa uma obrigação
jurídica livremente consentida por uma pessoa para com outra e na qual se baseia a ação do
demandante, este artigo determina que a ação pode ser proposta perante o tribunal do lugar
onde foi ou deva ser cumprida a obrigação em questão, ou seja, o tribunal competente é o
do lugar onde a obrigação foi ou devia ser cumprida à implica a necessidade de determinar
o lugar de cumprimento da obrigação – a aliena b) estabelece uma regra: quer no caso da
venda de bens, quer no caso da prestação de serviços.
a) Contrato de compra e venda de bens – lugar num Estado-Membro onde os bens
foram ou devem ser entregues, salvo estipulação em contrário.
Havendo pluralidade de lugares de entrega num mesmo Estado-Membro, o tribunal
competente para conhecer de todos os pedidos baseados no contrato é o tribunal em cuja
jurisdição territorial se situa o lugar da entrega principal, que deve ser determinado em
função de critérios económicos.
Na falta de fatores determinantes para definir o lugar da entrega principal, o autor pode
demandar o réu no tribunal do lugar de entrega da sua escolha.
b) Contrato de prestação de serviços – lugar num Estado-Membro onde os serviços
foram ou devam ser prestados, salvo convenção em contrário.
Sendo o serviço prestado em diversos Estados-Membros, o tribunal competente para
conhecer de todos os pedidos baseados no contrato é o da jurisdição onde se encontra o lugar
da prestação principal dos serviços.
É ainda relevante o aspeto de saber se, tendo o litígio por objeto o cumprimento da obrigação
de pagamento de uma quantia pecuniária, ainda que emergente de um contrato de compra
e venda ou de prestação de serviços, a ação pode ou não ser proposta juntos dos tribunais do
lugar onde a obrigação devia ser cumprida e não perante os tribunais do lugar onde os bens
foram entregues ou os serviços prestados à nossa jurisprudência tem respondido de forma
contraditória a esta questão.
¾ Artigo 7º, nº2 – competência em matéria extracontratual – nestas ações, o réu pode ser
demandado perante o tribunal do local onde ocorreu ou poderá ocorrer o facto danoso.
Se o lugar onde ocorreu esse facto não coincidir com o lugar onde se verificou o dano, a ação
pode ser instaurada nos tribunais do lugar onde se verificou o dano – a propósito da última
hipótese há duas situações paradigmáticas:
• Violação de direitos de personalidade através da imprensa;
• Violação de direitos de personalidade através da internet.
- O conceito de “responsabilidade civil extracontratual” tem vindo a ser interpretado de forma
subsidiaria em relação ao conceito de “responsabilidade civil contratual”. Assim, o conceito
de matéria extracontratual é hoje reconduzido a qualquer ação que tenha em vista pôr em
causa a responsabilidade do demandado e que não esteja relacionado com a matéria
contratual.
- O conceito “lugar onde ocorreu ou poderá́ ocorrer o facto danoso”, segundo a jurisprudência
do TJUE, abrange tanto o lugar onde se verificou o evento causal, assim como aquele onde se
verificou o facto danoso. Aquilo que é relevante é que exista uma forte ligação entre o litígio
e o tribunal.
¾ Artigo 7º, nº3 – situação em que no processo penal é pedida uma indemnização: determina
que para essas ações é competente o tribunal onde foi intentada a ação.
¾ Artigo 7º, nº5 – ações relativas à exploração de uma sucursal: é competente o tribunal da
própria sucrussão.
¾ Artigo 7º, nº8 – a ação proposta contra vários demandados com vários domicílios em vários
estados membros: este artigo permite que a ação seja proposta contra vários réus no tribunal
de um domicílio único deles desde que sejam cumpridos determinados requisitos.

- Artigo 35º - regime próprio para as providencias cautelares:


¾ O Regulamento estabelece que as medidas provisórias, incluindo as medidas cautelares,
previstas na lei de um EM, podem ser requeridas às autoridades judiciais desse EM, ainda que
a competência para o conhecimento do mérito da causa pertença aos tribunais de um outro
EM – artigo 35º.
¾ Esta solução tem fundamento na necessidade de tutela da urgência, isto é, pode suceder que
a lesão de um direito seja de tal forma iminente que não se torne possível ao requerente, sob
pena de se consumar a violação do direito, requerer a adoção de medidas cautelares junto
dos tribunais competentes para o conhecimento do mérito da causa.
¾ As medidas provisórias, incluindo as medidas cautelares, impostas pelo tribunal competente
para conhecer do mérito da causa, sem que o requerido seja notificado para comparecer, não
deverão ser reconhecidas ou executadas nos termos do presente Regulamento, a menos que
a decisão que contém a medida seja notificada ao requerido antes da execução (artigo 2º, a)).
- Tal não deverá obstar ao reconhecimento e execução dessas medidas ao abrigo da lei
nacional.
¾ O regime é definido pelo artigo 35º de acordo com as regras de competência do estado em
causa mesmo que o tribunal de um outro estado seja competente para reconhecer a ação
principal.
¾ A providencia cautelar não é suficiente porque é provisoria e vale até que na ação principal
se decida qual dos dois contendentes tem razão.
¾ Deste artigo resulta uma opção conferida a quem requer a providencia cautelar: esta pode
sempre ser requerida no tribunal competente para apreciar a ação principal ou, em
alternativa, pode requerer-se a providencia cautelar não no tribunal competente para
apreciar a ação principal mas nos próprios tribunais que prevê no seu direito interno, a
providencia cautelar.
- Artigo 2º, a), 2º paragrafo: para efeitos de reconhecimento e execução de decisões, o termo
decisão abrange as medidas provisorias (...) à ex: a ação principal tem de ser proposta em
Espanha mas é possível requer a providencia em Portugal se for uma providência constante
da lei portuguesa, mas a decisão proferida em Portugal não é uma decisão para efeitos do
capitulo III considerada uma verdadeira decisão: esta decisão não vai ser reconhecida em
nenhum outro estado, ao passo que, a decisão obtida em Espanha, no estado do tribunal que
é competente para a decisão da ação principal vai ser vinculativa para todos os estados.
à Assim, o artigo 35º permite uma opção mas apenas as medidas provisorias que são obtidas
do estado que são obtidas do estado competente para ação principal são vinculativas para
todos os outros estados em causa.
¾ Se medidas provisórias, incluindo medidas cautelares, forem decididas por um tribunal de um
Estado-Membro que não seja competente para conhecer do mérito da causa, os seus efeitos
deverão confinar-se ao território desse Estado-Membro.
- Há́ aqui uma alternativa:
• As medidas provisórias podem sempre ser requeridas no tribunal do domicílio do réu.
• Medidas provisórias que estejam previstas na lei de um EM podem ser requeridas no
tribunal desse Estado-Membro.

- Proteção da parte contratual mais fraca


¾ Orientação geral: temos uma distribuição assimétrica da competência porque a lei estabelece
que os segurados, consumidores e trabalhadores só podem ser demandados dos tribunais do
seu domicílio, ao passo que, essas mesmas partes podem demandar os segurados, as
contrapartes e as entidades patronais quer nos tribunais do seu domicílio, quer noutros
tribunais.
¾ Competência em matéria de seguros: o Regulamento estabelece critérios especiais de
competência, os quais visam proteger a “parte mais fraca”. Neste tipo de litígios, o legislador
europeu presume que existe um desequilíbrio ou uma desigualdade entre as partes, razão
pela qual se torna necessários conceder privilégios jurisdicionais aos segurados.
O segurador domiciliado num EM pode ser demandado:
• Nos tribunais do Estado-Membro do seu domicílio;
• No tribunal do lugar em que o tomador do seguro, ou segurado ou o beneficiário tiver
o seu domicílio, quando a ação seja intentada por qualquer um deles;
• Tratando-se de um cossegurador, perante o tribunal do EM onde tiver sido intentava
a ação contra o segurador principal – artigo 11º, nº1.
• Perante o tribunal do lugar onde ocorreu o facto danoso, se o seguro for de
responsabilidade civil ou respeitar a um imóvel – artigo 12º.
O artigo 13º estende este regime a terceiros. Assim, em matéria de seguros de
responsabilidade civil, o segurador pode também ser chamado à ação no processo
intentado pelo lesado contra o segurado, desde que a lei desse tribunal o permita,
sendo certo que, por força do nº2 deste artigo, o regime previsto nos artigos 10º, 11º
e 12º aplica-se no caso de ação intentada pelo lesado diretamente contra o segurador,
sempre que tal ação direta seja possível à luz da lei interna do EM onde a ação é
proposta.
- Sendo a ação proposta pelos segurados contra o tomador do seguro, o segurado ou o
beneficiário, são internacionalmente competentes os tribunais do EM onde o tomador do
seguro, o segurado ou o beneficiário tenham o seu domicílio – artigo 14º à protege-se,
assim, a “parte mais fraca”.
¾ Competência em matéria de contratos de consumo: nestas ações, aplica-se a regra de que a
ação proposta por um consumidor (alguém que intervém numa relação estranha à sua
atividade comercial ou profissional) contra a outra parte do contrato (alguém que tem
atividade comercial ou profissional) pode ser intentada quer nos tribunais do Estado-
Membro onde essa parte tiver o seu domicílio, quer nos tribunais do Estado-Membro onde
o consumidor tiver o seu domicílio – artigo 18º, nº1.
- O consumidor pode intentar a ação nos tribunais do Estado-Membro onde tiver o seu
domicílio, mesmo que a parte contrária não possua domicílio ou sede num Estado-Membro
da UE.
- Por outro lado, a fim de proteger a parte mais fraca (o consumidor), o legislador estabelece
que a contraparte (vendedor/prestador de serviços) só́ pode intentar uma ação contra o
consumidor nos tribunais do Estado-Membro onde este tenha o seu domicílio.
¾ Competência em matéria de contratos individuais de trabalho: a ação proposta pelo
trabalhador contra o empregador que tenha o seu domicílio ou sede num determinado
Estado-Membro pode ser intentada, à escolha do autor (artigo 21º, nº1):
• Nos tribunais desse Estados-Membros;
• Nos tribunais do Estados-Membros do lugar onde ou a partir do qual o trabalhador
efetua habitualmente o seu trabalho;
• No tribunal do lugar onde efetuou mais recentemente o seu trabalho.
- Não tendo a entidade patronal domicílio ou sede num Estado-Membro, esta pode, mesmo
assim, ser demandada perante os tribunais do Estado-Membro onde ou a partir do qual o
trabalhador presta habitualmente o seu trabalho ou onde efetuou mais recentemente o seu
trabalho, ou ainda no EM onde se situa ou situava o estabelecimento que contratou o
trabalhador.
- Pretendendo a entidade patronal mover uma ação judicial contra o trabalhador, essa só́
pode ser proposta junto dos tribunais do Estado-Membro em que o trabalhador tenha o seu
domicílio – artigo 22º. Mais uma vez, temos aqui a lógica de proteção da parte mais fraca.

Þ Competência exclusiva
Artigo 24º: situação em que o regulamento é aplicável mesmo que o demandado não tenha domicílio
no estado-membro – regras universais de competência exclusiva como o caso do nº1 que se refere
às ações de direitos reais sobre imoveis: se se comprar um imóvel em Portugal, este será reclamado
apenas em Portugal à regra geral.
Esta competência, sendo exclusiva, derroga quer o critério geral do domicílio do réu (artigo 4º), quer
os critérios especiais de competência constantes dos artigos 7º e ss., quer ainda a competência
eventualmente fixada através da celebração de pactos de jurisdição (artigo 25º).
è Esta competência, porque é exclusiva, prevalece sobre a competência determinada pelos
critérios gerais e especiais do Regulamento 1215, assim como impede a celebração de um
pacto de jurisdição.
A violação é sempre de conhecimento oficioso (artigo 27º) e constitui um impedimento ao
reconhecimento de uma decisão proveniente de outro Estado-Membro: se este proferir uma decisão
em violação das regras de competência, em Portugal não se pode reconhecer essa decisão, porque
estar-se-ia a violar o Regulamento 1215 (artigo 45º, nº1 e) ii)).
- O facto de o autor e/ou o réu não residirem num Estado-Membro da UE não impede a atribuição
da competência aos tribunais de um Estado-Membro, se a matéria cair num dos casos do artigo 24º.

- Exceção: contratos de arrendamento celebrados por uso temporário por um período


máximo de 6 meses consecutivos.
O disposto no artigo 24º não é bilateralizável: este artigo não é aplicável quando o elemento de
conexão se verifique em relação a um Estado terceiro, ou seja, só́ se aplica se o elemento de conexão
se verificar num Estado-Membro. Por exemplo: as partes que estão a litigar são domiciliadas num
Estado-Membro, mas o imóvel que está a ser litigado está situado num Estado terceiro – neste caso,
não se aplica o artigo 24º, mas sim a regra geral do artigo 4º.
• Quanto às ações reais (artigo 24º, nº1) – quanto aos direitos reais, a ação tem de se basear
no direito real e não no contrato que tem como efeito essencial o direito de propriedade. Por
exemplo, A celebra um contrato CEV de um imóvel e vão agora discutir o pagamento do preço
– neste caso, discute-se matéria contratual e, por isso, não se aplica este artigo. Diferente é
se se estiver a discutir a ocupação não autorizada de um imóvel; ou se estivermos perante
uma ação de reivindicação; ou se estivermos perante uma ação de preferência – nestes casos
já é o direito real que está a ser discutido.
Já́ em relação ao arrendamento, o legislador não impõe restrições: estarão abrangidas por este artigo
todas as situações relativas ao arrendamento.
• Matéria de validade da constituição, de nulidade ou de dissolução de sociedades ou de outras
pessoas coletivas ou associações de pessoas singulares ou coletivas, ou de validade das
decisões dos seus órgãos (artigo 24º, nº2) – nestas matérias, o tribunal aplica as suas regras
de direito internacional privado e, por isso, não se pode aplicar o artigo 63º, nº1 CPC.

Þ Competência Convencional = Pactos de jurisdição


Artigos 25º e 26º:
• Aplica-se independentemente do domicílio das partes – aquilo que fica para o regime interno
dos estados membros é muito pouco.
- Se o domicílio das partes não conta, não podemos imaginar situações em que ambas as
partes têm domicílio no estado? Sim e aplica-se de igual forma o regulamento à a situação
será puramente interna se for atribuída competência aos tribunais internos, mas se for para
retirar força a estes tribunais nos termos do artigo 4º, nº1, justifica-se a aplicação do
regulamento.
Este regime convive com uma Convenção de Haia.

- O artigo 25º prevê̂ a possibilidade de as partes celebrarem entre si pactos atributivos de jurisdição,
isto é, convencionarem quais os tribunais que serão internacionalmente competentes para dirimirem
relações jurídicas plurilocalizadas em caso de litígio à é uma manifestação do princípio da
autonomia privada.
Basta que as partes tenham designado o(s) tribunal(is) de um EM, mesmo que nenhuma delas tenha
domicílio nesse EM ou em qualquer EM, para que estas regras internacionais do artigo 25º se
apliquem.
Tem de se ter atenção a outra situação: se ambas as partes são domiciliadas no mesmo EM e se:
1. Atribuem, através do pacto, competência aos tribunais de outro EM–nesse caso, o pacto
inclui-se no âmbito do artigo 25º.
2. Atribuem, através do pacto, competência aos tribunais dos tribunais desse mesmo EM (onde
ambas são domiciliadas), ou seja, aos tribunais que já seriam competentes – nesse caso, a
convenção só́ se inclui no âmbito do artigo 25º se derrogar a competência de outros EM.

à Se for atribuída competência aos tribunais de um Estado terceiro, o pacto não se inclui no âmbito
do artigo 25º.
Para que o pacto de jurisdição seja válido, tem de observar determinados requisitos formais e
substantivos:
Quanto aos formais:
1. Ser celebrado por escrito ou verbalmente, com confirmação escrita (artigos 25º, nº1 a) e 25º,
nº2);
2. Observar os usos que as partes tenham estabelecido entre si ou, no caso de comércio
internacional, os usos que as partes conheçam ou devam conhecer e que, em tal comércio,
sejam amplamente conhecidos e regularmente observados pelas partes em contratos do
mesmo tipo, no ramo comercial concreto em questão (artigo 25º, nº1 b) e c).

Quanto aos substantivos:


1. Não pode violar normas de natureza imperativa - saber se o pacto é substantivamente nulo
quanto à sua validade substantiva implica saber se está de acordo ou não com a lei do EM do
tribunal ou tribunais designados no pacto, incluindo as regras de conflito de leis desse EM.
2. As partes não podem pretender, com o pacto de jurisdição, afastar a competência exclusiva
prevista no artigo 24º (artigo 25º, nº4). (LIMA PINHEIRO diz que neste caso o pacto é ineficaz,
TEIXEIRA DE SOUSA diz que é inválido).
3. Não pode violar as normas de natureza imperativa previstas nos artigos 15º, 19º ou 23º, em
relações de seguro, consumo ou trabalho (artigo 25º, nº4). (LIMA PINHEIRO diz que neste
caso o pacto é ineficaz, TEIXEIRA DE SOUSA diz que é inválido)

- A interpretação do pacto de jurisdição cabe ao Tribunal convencionado como o competente.


è As partes têm total liberdade na escolha do tribunal competente para o conhecimento do
litigio, sem necessidade de demonstrarem ou de justificarem qualquer tipo de interesse
legítimo quanto à jurisdição por elas escolhida (como é imposto pela lei portuguesa no artigo
94º).
Por conseguinte, sendo a eleição do foro pelas partes autónoma relativamente aos direitos nacionais
dos EM, a validade do pacto de jurisdição deve ser aferida à luz dos requisitos estabelecidos no artigo
25º do Regulamento e não segundo os critérios previstos no nosso direito interno.

NOTA: a invalidade do contrato não põe em causa a cláusula atributiva de


competência, há aqui uma autonomia do pacto em relação ao contrato.
ASSIM:
¾ Artigo 25º:
o nº4 – pactos não são validos se contrariarem os regimes especiais;
o nº1 – requisitos do pacto: um pacto de jurisdição é um contrato com requisitos
normais de qualquer contrato – o próprio artigo 25 diz-nos porque lei é que vamos
apreciar se o contrato é valido ou invalido e, este artigo esclarece que esses aspetos
são regulados pela lei interna do estado de aforro.
- O pacto para ser valido deve indicar a relação jurídica pela qual surgiu o processo;
- As partes terão de indicar os tribunais competentes.
o nº5 – autonomia das convenções sobre a competência (a sua validade é apreciada
autonomamente do contrato em que estão inseridas): o contrato pode ser invalido
mas se a clausula, isto é, o pacto de jurisdição, for valido, o tribunal designado é o
tribunal competente para apreciar a validade do próprio contrato onde o pacto de
jurisdição se situa.
o Em princípio, a competência que é atribuída a um tribunal designado pelas partes é
uma competência exclusiva.

¾ Artigo 26º:
o É competente o tribunal de um estado no qual o requerido compareça – é proposta
uma ação num tribunal que não é o tribunal competente, pelo que, o reu tem a
possibilidade de arguir a competência do tribunal, mas se o reu quiser e comparecer
em juízo e não arguir a incompetência do tribunal, então tacitamente aceita a
competência do tribunal incompetente à celebração tacita de um pacto de
competência, noa sentido em que não resulta de acordo expresso entre as partes, mas
sim de um comportamento omissivo do reu.
- Isto exige que alguma das partes tenha domicílio no estado membro? O artigo 26º é
aplicável nas mesmas situações em que é aplicado o artigo 25º, independentemente
do domicílio das partes à opinião unanimemente aceite na doutrina, atualmente.
- Este regime não é aplicável se o reu vai a juízo para arguir a incompetência do
tribunal e não pode de forma tacita ser afastada a competência exclusiva do artigo
24º.

Dupla funcionalidade do artigo 25º - as partes podem resolver não apenas a questão da competência
internacional, mas também da competência territorial.

Efeitos:
Em princípio, o pacto atribui competência exclusiva ao Tribunal designado no pacto à MAS isso não
quer dizer que as partes não possam atribuir uma competência alternativa, podendo a parte
escolher entre propor a ação no tribunal designado no pacto ou no tribunal competente por via do
Regulamento, ou estabelecer que o pacto só beneficie uma das partes (ou seja, apenas uma das
partes beneficia da hipótese de escolha), ou que a parte, seja ela qual for, possa propor a ação no
seu domicílio ou no domicílio do réu.
è Como o pacto atribui competência exclusiva, se a ação for intentada num tribunal diferente
do designado e o demandado não comparecer em juízo, o tribunal deve declarar-se
oficiosamente incompetente, quando o demandado seja domiciliado noutro EM – artigo 28º,
nº1.
Em certos casos, a convenção pode ser vinculativa para terceiros. Por exemplo: A celebra um
contrato de seguro e o pacto de jurisdição está no contrato de seguro. Contudo, o segurador não é
A, mas sim um terceiro. Nesse caso, o segurador fica imediatamente abrangido ou vinculado pelo
contrato celebrado entre o tomador (A) e a seguradora.

Þ Pactos tácitos de jurisdição – artigo 26º: se a parte não arguiu a incompetência do


tribunal, é porque tacitamente aceitou a competência desse mesmo tribunal, ou, por outras
palavras, significa que foi celebrado tacitamente um pacto de jurisdição. E assim, o tribunal,
que até podia não ser competente, passa a sê-lo.
- Contudo, esta solução não vale para as situações em que a ação tenha sido intentada junto de um
determinado tribunal, em violação de uma regra de competência exclusiva. Aliás, como determina o
artigo27º, o tribunal de um EM no qual seja instaurada, a título principal, uma ação relativamente à
qual tenha competência exclusiva o tribunal de outro EM por força do artigo 24º, deve declarar-se
oficiosamente incompetente.
- Diversamente, se a ação for intentada num tribunal internacionalmente incompetente, e o réu não
comparecer em juízo, o tribunal tem competência para apreciar a sua própria competência, devendo
o juiz, nesse caso, declarar-se oficiosamente incompetente (artigo 28º, nº1).
Se o pacto de jursidição não for cumprido, haverá́ prejuízos para a parte demandada.
Genericamente, reconhece-se que um dos efeitos gerados pelo incumprimento do pacto de
jurisdição é a responsabilidade contratual.

Quanto ao pacto tácito, haverá́ que distinguir entre duas situações:


1. O réu não contesta, mas não alega a incompetência – neste caso haverá um pacto tácito.
2. O réu não contesta, mas comparece numa diligência e nada diz sobre a incompetência – a
comparência poderá́ ter aqui subjacente a aceitação da competência e, por isso, a celebração
de um pacto tácito.
O que é importante para que haja um pacto tácito é, então, que a parte tenha uma intervenção
processual, e no âmbito dessa intervenção não seja arguida a incompetência do Tribunal.
è Tal como sucede com o artigo 25º, não é exigido que a parte tenha domicílio num EM para
que haja a celebração de um pacto tácito.
Mais uma vez, quando o artigo 26º tenha aplicação, não se poderá́ recorrer à lei interna.

Quando a ação é proposta no EM internacionalmente competente, mas não no tribunal


territorialmente competente, há́ que distinguir entre duas situações:
• A competência territorial era regulada no Regulamento (ex: 7º) – nesse caso há́ uma dupla
funcionalidade e por isso não é necessário recorrer ao direito interno.
• A competência territorial não é regulada nos termos do Regulamento, mas sim pelo direito
interno do EM – neste caso teríamos de recorrer ao CPC.

Controlo da competência
è Em que circunstâncias é que o tribunal da ação vai declarar se é ou não competente de acordo
com o regulamento?
– Artigo 27º: ressalva da competência exclusiva que nunca pode ser afastada e justifica que
o tribunal mesmo que o reu não invoque a incompetência, este pode oficiosamente, declarar-
se incompetente.
- Artigo 28º, nº1: situação em que há um reu domiciliado num estado membro que não é
demandado no tribunal do seu domicilio mas sim noutro e nesse caso se o reu não
comparecer em juízo, o tribunal, oficiosamente, aprecia se é ou não competente à se for
proposta no domicilio do demandado, o tribunal fica a aguardar a alegação de parte do
demandado mas não aprecia, oficiosamente, a sua competência.

è Que decisão é que o tribunal toma se decidir que é incompetente?


- a consequência é determinada de acordo com o direito interno: determina a incompetência
absoluta do tribunal – o tribunal português que seja internacional incompetente, declara-se
absolutamente incompetente à artigo 96º, a).

Þ Regime da litispendência europeia


Situação em que estão pendentes várias ações entre as mesmas partes, com a mesma causa de pedir
e o mesmo pedido em vários estados-membros – isto não pode suceder à regime aplicável: artigo
29º, nº3 e 30º, nº2.
O Regulamento estabelece regras que visam impedir a litispendência, isto é, que dois tribunais de
diferentes EM se vejam na contingência de proferir decisões contraditórias em ações pendentes que
tenham as mesmas partes, o mesmo pedido e a mesma causa de pedir.
Nestes casos, o tribunal no qual a ação tenha sido proposta em segundo lugar deve, oficiosamente,
suspender a instância até que o tribunal onde a ação foi proposta em primeiro lugar decida sobre a
sua própria competência – artigo 29º, nº1.
è Para esse efeito, o Regulamento prevê o dever de qualquer um dos tribunais informar o outro
acerca da data em que a ação foi submetida à sua apreciação, por forma a determinar-se qual
deles é o competente para o conhecimento da sua própria competência – artigo 29º, nº2.
Sendo estabelecida a competência do tribunal que foi demandado em primeiro lugar, o segundo
tribunal deve declarar-se incompetente a favor daquele – artigo 29º, nº3.
Þ Para evitar o uso abusivo de meios processuais ou evitar táticas de litigação abusivas
(“torpedo italiano”), e para reforçar a eficácia dos acordos exclusivos de eleição do foro
competente, o artigo 31º, nº2 passou a estipular que, se for demandado um tribunal de um
EM ao qual tenha sido atribuída competência exclusiva por força da celebração de um pacto
de jurisdição nos termos do artigo 25º, os tribunais dos outros EM, ainda que acionados em
primeiro lugar, devem suspender a instância até que o tribunal que foi demandado com base
no pacto de jurisdição se pronuncie sobre a sua própria competência.
Assim, à luz desta nova regra, o tribunal escolhido pelas partes passa a ter “prioridade na
determinação da sua jurisdição” à no caso de esse tribunal se declarar competente com base na
celebração desse pacto, os tribunais dos outros EM devem declarar-se incompetentes a favor desse
tribunal – artigo 31º, nº3.

OU SEJA:
- se o tribunal da primeira ação se declarar competente, o tribunal da segunda ação vai-se declarar
incompetente à prioridade ao tribunal onde foi instaurada a primeira ação. – Artigo 31º, nº2.
- exceção: hipótese em que houve um pacto de jurisdição – as partes propuseram uma ação quer no
tribunal de acordo com este pacto, quer num outro tribunal à prioridade é dada ao tribunal que é
competente de acordo com o pacto de jurisdição, mesmo que a ação neste seja a segunda a ser
proposta.

x Regulamento 2201/2003

Este regulamento vincula todos os EM, com exceção da Dinamarca.

Þ Âmbito de aplicação

1. Âmbito temporal
Artigo 63º - Tratados com a Santa Sé (Concordatas): O regulamento é aplicável sem prejuízo do
Tratado Internacional (Concordata) entre a Santa Sé e Portugal, assinado no Vaticano, em 7 de Maio
de 1940 (nº 1). Qualquer decisão relativa à invalidade do casamento regulada pelo Tratado a que se
refere o nº 1 é reconhecida nos Estados-Membros nas condições previstas na secção 1 do capítulo
III (nº2).

2. Âmbito material
Artigo 1º - matérias civis: decisões em matéria matrimonial e responsabilidade parental.

No que diz respeito ao divorcio, separação ou anulação do casamento:


è Vale para todo e qualquer casamento? Vale para casamento entre pessoas do mesmo sexo?
- Problema de saber se num estado-membro em que não seja admitido o casamento entre
pessoas do mesmo sexo, o tribunal do estado-membro tem de declarar o divórcio à esses
estados, não são obrigados a reconhecer casamentos entre pessoas do mesmo sexo
celebrados noutros estados membros, pelo que, não seriam obrigados a celebrar o divorcio
dos mesmos.
Quanto aos processos de divórcio, estão incluídos todos os processos
Noção de tribunal que consta no artigo 2º, nº1: entre nós, o divorcio por mútuo consentimento pode
ser da competência não dos tribunais mas das conservatórias à a noção de tribunal dada por este
artigo permite-nos concluir que esses divórcios nas conservatórias também são abrangidos pelo
regulamento.
è Tudo isto deve ser interpretado de forma autónoma – quanto ao direito português estão
abrangidos: o divorcio sem consentimento do outro cônjuge, o divorcio por consentimento,
a separação de pessoas e bens, a ação de anulação do casamento e a ação de declaração de
inexistência do casamento.

Quanto às ações relativas à responsabilidade parental importa referir o artigo 1º, nº1, b) + artigo 2º,
nº7 + artigo 7º, nº9 + artigo 10º.

3. Âmbito espacial
Não temos nenhum requisito quanto ao domicílio do demandado: portanto, este regulamento aplica-
se quando, de acordo com os seus próprios critérios de competência, houver um tribunal de um
estado-membro que é competente, independentemente do domicílio do demandado ou do
demandante à é aplicável sempre que um dos elementos de conexão atribua competência a um
EM.
è Importância dos considerandos: 5º e 12º.

Þ Reconhecimento das decisões:


Artigo 21º - As decisões proferidas num Estado-Membro são reconhecidas nos outros Estados-
Membros, sem quaisquer formalidades (nº1).
Artigo 25º - O reconhecimento de uma decisão não pode ser recusado com o fundamento de a lei do
Estado-Membro requerido não permitir o divórcio, a separação ou a anulação do casamento com
base nos mesmos factos.
Relações com a Convenção de Haia, de 19 de outubro de 1996, relativa à competência, à lei aplicável,
ao reconhecimento, à execução e à cooperação em matéria de poder paternal e de medidas de
proteção de menores – artigo 61º:
• Este regulamento, em matéria respeitante à responsabilidade parental, é uma adaptação da
Convenção de Haia: há matérias paralelas, e há́ outras nas quais o Regulamento concretiza o
que resulta da Convenção.

O Regulamento prevalece sobre a Convenção em certos casos:


1. Quando a criança tenha a sua residência habitual no território de um Estado-Membro;
2. Em relação ao reconhecimento e à execução de uma decisão proferida pelo tribunal
competente de um Estado-Membro no território de outro Estado-Membro, mesmo se a
criança em causa residir habitualmente no território de um Estado não membro que seja
parte contratante na referida convenção.

Quando não se aplica o Regulamento, para aferir a competência do Tribunal português, recorre-se:
• Artigo 72º CPC (divórcio).
• Artigo 80º CPC (ações com outro objeto).
• Artigo 9º Regime Tutelar Cível (ações de poder paternal).

Þ Competência internacional
Regra geral – artigo 3º: são competentes para decidir das questões relativas ao divórcio, separação
ou anulação do casamento, os tribunais do Estado-Membro:
• Em cujo território se situe:
o A residência habitual dos cônjuges, ou
o A última residência habitual dos cônjuges, na medida em que um deles ainda aí resida,
ou
o A residência habitual do requerido, ou
o Em caso de pedido conjunto, a residência habitual de qualquer dos cônjuges, ou
o A residência habitual do requerente, se este aí tiver residido pelo menos, no ano
imediatamente anterior à data do pedido, ou
o A residência habitual do requerente, se este aí tiver residido pelo menos, nos seis
meses imediatamente anteriores à data do pedido, quer seja nacional do Estado-
Membro em questão quer, no caso do Reino Unido e da Irlanda, aí tenha o seu
'domicilio';
• Da nacionalidade de ambos os cônjuges ou, no caso do Reino Unido e da Irlanda, do 'domicílio'
comum.

- Artigo 4º - o tribunal em que, por força do artigo 3º, estiver pendente o processo é igualmente
competente para reconhecer da reconvenção, desde que, esta seja abrangida pelo âmbito de
aplicação do presente regulamento.
- Artigo 5º - extensão da competência – o tribunal do EM que tiver proferido uma decisão de
separação é igualmente competente para converter a separação em divorcio, se a lei desse EM o
previr.
- Artigo 7º - competências residuais – se nenhum tribunal de um EM for competente nos termos dos
artigos 3º, 4º e 5º, a competência, em cada EM, é regulada pela lei desse EM: só se aplica a lei interna
quando nenhum dos tribunais dos outros EM possa ser competente, nos termos do regulamento.
- Artigo 6º - competências exclusivas – a competência definida nos artigos 3º, 4º e 5º tem carater
exclusivo quando, qualquer dos cônjuges:
• Tenha a sua residência habitual no território de um Estado-Membro; ou
• Seja nacional de um Estado-Membro ou, no caso do Reino Unido e da Irlanda, tenha o seu
'domicilio' no território de um destes dois Estados-Membros, só por força dos artigos 3.o, 4.o
e 5.o pode ser demandado nos tribunais de outro Estado-Membro.
Há́ que fazer, neste âmbito, uma distinção:
i. No artigo 24º do Regulamento Bruxelas I bis, quando se fala em competência exclusiva, fala-
se do tribunal que é exclusivamente competente para conhecer determinadas ações.
ii. Neste Regulamento de Bruxelas II bis, trata-se da exclusividade da aplicação do próprio
Regulamento.

Þ Competência nas ações de responsabilidade parental


Regra geral – artigo 8º: os tribunais de um Estado-Membro são competentes em matéria de
responsabilidade parental relativa a uma criança que resida habitualmente nesse Estado-Membro
à data em que o processo seja instaurado no tribunal.
è Um Acórdão do STJ concretizou o conceito de residência habitual: ideia de estabilidade do
domicílio, assente, designadamente, num conjunto de relações sociais e familiares,
demonstrativas da integração na sociedade local.

- Artigo 9º - deslocação lícita da criança de um EM para outro: quando uma criança se desloca
legalmente de um Estado-Membro para outro e passa a ter a sua residência habitual neste ultimo,
os tribunais do Estado-Membro da anterior residência habitual da criança mantém a sua
competência, em derrogação do artigo 8º, durante um período de três meses após a deslocação,
para alterarem uma decisão, sobre o direito de visita proferida nesse Estado-Membro antes da
deslocação da criança, desde que o titular do direito de visita, por força dessa decisão, continue a
residir habitualmente no Estado-Membro da anterior residência habitual da criança.
Esta solução não se aplica se o titular do direito de visita referido no nº1 tiver aceite a competência
dos tribunais do Estado-Membro da nova residência habitual da criança, participando no processo
instaurado nesses tribunais, sem contestar a sua competência (nº2).

- Artigo 10º - rapto internacional de criança: em caso de deslocação ou retenção ilícitas de uma
criança, os tribunais do Estado-Membro onde a criança residia habitualmente imediatamente antes
da deslocação ou retenção ilícitas, continuam a ser competentes até a criança passar a ter a sua
residência habitual noutro Estado-Membro.
- Artigo 11º - é uma adaptação do que a Convenção de Haia dispõe quanto ao regresso da criança.
Impõe-se que, antes que se discuta o que quer que seja, a criança regresse ao EM onde residia antes
do rapto.
- Artigo 12º - extensão da competência: os tribunais do Estado-Membro que, por força do artigo 3º,
são competentes para decidir de um pedido de divórcio, de separação ou de anulação do casamento,
são competentes para decidir de qualquer questão relativa à responsabilidade parental relacionada
com esse, nas circunstâncias referidas por este artigo.
- Artigo 13º - quando a criança não tem residência habitual: se não puder ser determinada a
residência habitual da criança nem for possível determinar a competência com base no artigo 12º,
são competentes os tribunais do Estado-Membro onde a criança se encontra. Esta solução é
igualmente aplicável a crianças refugiadas ou a crianças internacionalmente deslocadas, na
sequência de perturbações no seu país (nº2).
- Artigo 15º - foro não conveniente: quando o tribunal, apesar de ser competente, entende que, pelo
facto de a criança ter uma ligação particular, ou pelo objeto da causa, é mais conveniente para
apreciar essa causa, remetendo então para esse.
è Este Regulamento não contém nenhuma regra sobre os pactos de jurisdição celebrados de
forma expressa, mas contém algumas regras das quais resultam pactos tácitos de jurisdição:
se a parte demandada não invocar a incompetência do tribunal, o tribunal que era
incompetente passa a ser competente – artigo 9º, nº2.
Þ Medidas cautelares
Artigo 20º - em caso de urgência, o disposto no presente regulamento não impede que os tribunais
de um Estado-Membro tomem as medidas provisórias ou cautelares relativas às pessoas ou bens
presentes nesse Estado-Membro, e previstas na sua legislação, mesmo que, por força do presente
regulamento, um tribunal de outro Estado-Membro seja competente para conhecer do mérito.
As medidas tomadas por força do nº1 deixam de ter efeito quando o tribunal do Estado-Membro
competente quanto ao mérito ao abrigo do presente regulamento tiver tomado as medidas que
considerar adequadas (nº2).

Þ Litispendência e ações pendentes


Artigo 19º - quando os processos de divórcio, separação ou anulação do casamento entre as mesmas
partes são instaurados em tribunais de Estados-Membros diferentes, o tribunal em que o processo
foi instaurado em segundo lugar suspende oficiosamente a instância até que seja estabelecida a
competência do tribunal em que o processo foi instaurado em primeiro lugar (nº1).
Quando são instauradas em tribunais de Estados-Membros diferentes ações relativas à
responsabilidade parental em relação a uma criança, que tenham o mesmo pedido e a mesma causa
de pedir, o tribunal em que o processo foi instaurado em segundo lugar suspende oficiosamente a
instância até que seja estabelecida a competência do tribunal em que o processo foi instaurado em
primeiro lugar (nº2).
Quando estiver estabelecida a competência do tribunal em que o processo foi instaurado em
primeiro lugar, o tribunal em que o processo foi instaurado em segundo lugar declarar-se
incompetente a favor daquele.
è Neste caso, o processo instaurado no segundo tribunal pode ser submisso pelo requerente à
apreciação do tribunal em que a ação foi instaurada em primeiro lugar (nº3).
Pode suceder que haja falsas litispendências – quando os objetos não são iguais, mas só uma das
ações pode ser considerada procedente.

x Regulamento 4/2009

Considerando 9º - é fácil obter uma condenação numa ação de prestação de alimentos e é fácil ser
num Estado diferente onde a ação foi proposta.
è Este regulamento é aplicado a todos os EM, incluindo a Grã-Bretanha e Dinamarca.
Þ Âmbitos de aplicação

1. Âmbito material
Este Regulamento é aplicável às obrigações alimentares decorrentes das relações de família, de
parentesco, de casamento ou de afinidade (artigo 1º, nº1) à se a obrigação decorrer de um regime
sucessório já não se aplica este regulamento – problema de saber se se aplica a casamentos de
relações do mesmo sexo à em Portugal não há nenhuma objeção a que tal aconteça.

2. Âmbito espacial
Considerando 15 – a circunstância de um requerido ter a sua residência num Estado terceiro não
deverá ser motivo para a não aplicação do regulamento à o regulamento em causa é de aplicação
universal, ou seja, aplica-se sempre quer o requerido tenha domicílio num Estado-Membro ou não:
é aplicável independentemente do domicílio dos interessados.

Em termos de competência internacional:


• O regulamento é aplicável sempre que os termos dos artigos 3º a 7º haja um tribunal do
estado-membro que seja competente para apreciar a ação e em termos de reconhecimento
de decisões é aplicado a qualquer outros estados-membros.
• Em termos de lei aplicável e reconhecimento de decisões este regulamento articula-se com
duas convenções de Haia: sobre a cobrança de alimentos.

Neste regulamento, regula-se apenas a competência internacional ou também a interna?


- O artigo 3º define não só a competência internacional, como também a competência interna.

Critério geral:
• Critério do artigo 3º:
a) Local em que o requerido tem a sua residência habitual;
b) Local em que o requerente tem a sua residência habitual;
- É possível requerer quer no tribunal da residência habitual do devedor ou no tribunal em
que o credor tem a sua residência.
c) e d) - situações de extensão da competência:
c) - o tribunal que, de acordo com a lei do foro tem competência para apreciar
uma ação relativa ao estado das pessoas, quando o pedido relativo a uma
obrigação alimentar é acessório dessa ação, salvo se esta competência se
basear unicamente na nacionalidade de uma das partes – há aqui uma
extensão da competência.
d) – o tribunal que, de acordo com a lei do foro, tem competência para apreciar
uma ação relativa à responsabilidade parental, quando o pedido relativo a uma
obrigação alimentar é acessório dessa ação, salvo se esta competência se
basear unicamente na nacionalidade de uma das partes – há aqui uma
extensão da competência.
Eleição do foro – artigo 4º:
As partes podem convencionar que o seguinte tribunal ou tribunais de um Estado-Membro têm
competência para decidir quaisquer litígios que tenham surgido ou que possam surgir entre elas em
matéria de obrigações alimentares:
• O tribunal ou tribunais do EM no qual uma das partes tenha a sua residência habitual;
• O tribunal ou os tribunais de um Estado-Membro de que uma das partes tenha a
nacionalidade.
• No que se refere às obrigações alimentares entre cônjuges ou ex-cônjuges:
o O tribunal competente para deliberar sobre os seus litígios em matéria matrimonial, ou
o O tribunal ou os tribunais do Estado-Membro em cujo território estava situada a sua
última residência habitual comum durante um período de pelo menos um ano.
As condições previstas nas alíneas a), b) ou c) têm de se encontrar reunidas aquando da celebração
do pacto relativo à eleição do foro ou quando a ação é instaurada no tribunal.

è Pacto de jurisdição nunca é valido se disser respeito a alimentos relativos a menores:


proteção de menores.

Artigo 5º - celebração tácita de um pacto de jurisdição: é competente o tribunal de um Estado-


Membro perante o qual o requerido aparece e não argui a incompetência.
Artigo 6º - competência subsidiária: quando um tribunal não for competente nos termos dos
números anteriores, a competência pode averiguar-se perante a nacionalidade comum de ambas as
partes.
Artigo 7º - fórum necessitatis – prevê a situação em que não há nenhum tribunal competente por
força dos artigos 3º, 4º, 5º e 6º e então pode-se atribuir, embora em casos excecionais, competência
aos tribunais de um Estado-Membro 3º.
è Cooperação internacional entre autoridades/entidades centrais: entidades encarregadas de
facilitar a aplicação deste regulamento.
O litígio, contudo, deve apresentar uma conexão suficiente com o Estado-Membro do Tribunal
demandado.
Ø Competência interna

Podemos ir ao direito interno português quando estamos no âmbito de uma causa que não cabe no
âmbito de aplicação de nenhum dos regulamentos à legislador tem de encontrar um critério
razoável que atribuía a competência aos tribunais de um determinado Estado-Membro. E, para além
disto, depois de apurada a competência internacional dos tribunais portugueses, importar
determinar o tribunal competente internamente, o que significa que, também aqui, tem de se
recorrer à competência interna.
A competência é fixada no momento de interposição da ação – artigo 38º LOSJ – o que significa que
são irrelevantes as modificações de facto que decorram ao longo da ação (artigo 38º1). As
modificações de direito, ou seja, qualquer modificação ao regime da competência é
maioritariamente irrelevante (artigo 38º, nº2), a não ser:
• Que seja suprimido o órgão a que a causa estava afeta;
• Quando o Tribunal não era competente, mas uma alteração legislativa determina que passa
a ser competente. Assim, por motivos de aproveitamento da ação, a ação continua a decorrer
nesse Tribunal.

- Critérios pelos quais se atribui competência aos tribunais portugueses quando a causa não couber
no âmbito de aplicação de num dos regulamentos europeus:
• Artigo 62º e 63º:
- Artigo 62º enuncia vários critérios:
o Alínea a) – Critério da coincidência – os tribunais que se reconheçam territorialmente
competentes (artigo 70º a 80º), então serão também internacionalmente
competentes.
- A inclusão deste critério revela que o legislador considerou estar-se perante uma
situação de competência internacional logo que determinada situação jurídica
apresenta elementos de estraneidade – MTS critica esta metodologia legal, com
fundamento em que pressupõe injustificadamente a simultaneidade de competência
territorial e competência internacional e, assim, duplica inutilmente o modo de
aferição desta última.
o Alínea b) – Critério da causalidade – este critério determina a competência
internacional dos tribunais portugueses sempre que tenha sido praticado em
território nacional ou facto ou algum dos factos integradores da causa de pedir (a
parte final: factos integradores – tem aplicação nos casos de causa de pedir complexa,
constituída por uma pluralidade de atos ou factos jurídicos.
- Regente entende que não deveria ter lugar no CPC porque a circunstância de ter
acontecido em Portugal um facto que serve de causa de pedir, não tem conexão
suficiente com a ordem jurídica portuguesa, segundo MTS – este critério já chegou a
estar fora do CPC: seria sempre um caso de competência exorbitante.
o Alínea c) – Critério da necessidade – este critério traduz um caso excecional e
subsidiário de competência que alarga a competência internacional dos tribunais
portugueses às situações em que o direito invocado apenas se possa efetivar por meio
de ação proposta ou em que seja apreciavelmente difícil para o autor a sua
propositura no estrangeiro à referenciam-se assim as situações em que por
impossibilidade jurídica ou prática, não é possível propor a ação num outro estado:
justifica-se, desde que, a ação tem conexão com a ordem jurídica portuguesa –
abrange tanto os casos de incompossibilidade absoluta, como os casos de
impossibilidade relativa, e até uma dificuldade em tornar efetivo o direito por meio
de ação instaurada em tribunal estrangeiro. Se, por exemplo, é celebrado um contrato
num estado em que só vigora o critério do domicílio do demandado e o demandado
não tem domicílio nesse estado: não é possível admitir a ação nesse estado, mas
também não seria em Portugal porque não tem domicílio em Portugal à o que
acontece? – aplica-se o critério da necessidade.
- A impossibilidade (absoluta ou relativa) tanto pode ser jurídica quando nenhuma das
jurisdições com as quais o caso se encontra conexo se considera competente par o
conhecimento da ação ou quando a jurisdição estrangeira não reconhece, em
abstrato, o direito carecido de tutela (é o caso de portugueses residentes em país
estrangeiro que não conhece o divórcio e, por isso, instauram a respetiva ação em
Portugal) como de facto ou material.
- A afirmação da competência dos tribunais portugueses depende ainda da existência
de algum ponderoso elemento de conexão, pessoal ou real, entre o objeto do litigio e
a ordem jurídica nacional, nomeadamente a nacionalidade de uma ou de ambas as
partes ou a situação dos bens em causa na ação.
¤ Afirmada, por um destes critérios, a competência da jurisdição portuguesa, cabe
determinar seguidamente o tribunal em concreto territorialmente competente para ação
– a questão é resolvida no caso de atuação do critério da coincidência, emq eu a realização
da previsão das normas atributivas da competência determina, simultaneamente, o
tribunal em concreto competente.
- Nos restantes casos, não existindo com a ordem jurídica portuguesa nenhuma das
conexões especificas dos artigos 70º e ss, a competência territorial fixa-se de acordo com
as normas gerais do artigo 80º, nº2 e 3, devendo a ação, conforme os casos, ser instaurada
no tribunal do domicilio do autor, no lugar em que o réu se encontre ou no tribunal de
Lisboa; mas, não havendo hierarquia ou graduação entre os diversos critérios de aferição
consagrados no artigo 62º, podem os tribunais portugueses ser simultaneamente
competentes por via do critério da coincidência, servindo então as normas de
competência territorial à determinação do tribunal internamente competente.
- Artigo 63º enuncia as regras sobre competência exclusiva:
o Alinhamento existente com o disposto no artigo 24º do 1215/2012.
o Já antes do artigo 63º, vigorava na ordem jurídica portuguesa uma fonte (convenção
de Bruxelas anterior) com a mesma redação – não há uma novidade, isto é, não há
algo novo na ordem jurídica portuguesa.
o O facto de haver competência exclusiva dos tribunais portuguesas significa que não
são validos os pactos de jurisdição que tiram essa competência, nem são reconhecidas
decisões estrangeiras que violem esta competência exclusiva.
o Neste sentido, a enunciação dos fatores de competência exclusiva dos tribunais
portugueses traduz-se numa reserva de jurisdição que impede os tribunais de ordens
jurídicas estrangeiras de conhecer, com eficácia perante a jurisdição portuguesa, de
ações que tenham por objeto as matérias consideradas de interesse público referidas
nas diversas alíneas.

Artigo 64º - são da competência dos tribunais judiciais as causas que não sejam atribuídas a outra
ordem jurisdicional.

No que diz respeito à competência convencional:


Os artigos 94º e 95º regulam a competência convencional internacional e interna, isto é, regulam o
princípio da liberdade contratual enquanto fator de atribuição de competência direta – o primeiro
(94º) prevê os pactos de jurisdição, através dos quais as partes convencionam sobre a jurisdição
nacional competente para apreciar um litigio que apresente elementos de conexão com mais de uma
ordem jurídica (competência internacional), e o segundo os pactos de competência (95º) em que as
partes dispõem sobre a competência dos tribunais portugueses no seu confronto reciproco
(competência interna) à para além destes casos, podem ainda as partes através da convenção de
arbitragem, atribuir a um tribunal arbitral competência para dirimir determinado conflito.
Artigo 94º - os pactos de jurisdição podem ser atributivos ou privativos, sendo este carater sempre
apreciado na perspetiva da ordem jurídica portuguesa:
¾ Pactos atributivos – atribuem competência aos tribunais portugueses, ou seja, são pactos
que concedem competência aos tribunais portugueses para apreciação de pedido referente
a uma situação jurídica plurilocalizada, para o que não eram por lei competentes.
¾ Pactos privativos – atribuem competência aos tribunais portugueses e a um outro estado-
membro – assim, são pactos privativos aqueles que lhes retiram a competência que para
tanto tinham por lei, ainda que, no primeiro caso se mantenha a competência internacional
legal duma ou mais jurisdições estrangeiras.
- É também um pacto de jurisdição a convenção pela qual as partes atribuem a uma jurisdição
estrangeira competência concorrente com a competência internacional legal de já dispunham, e de
que continuam a dispor, os tribunais portugueses. É ainda um pacto de jurisdição aquele que retira
a uma jurisdição estrangeira a competência que esta até então tinha, em concorrência com a
competência internacional legal da jurisdição portuguesa, que se mantém à nestes dois casos é
difícil qualificar, segundo o professor Lebre de Freitas, o pacto como privativo ou atributivo, na
medida em que, na perspetiva da ordem jurídica portuguesa (que é a que revela para aquela
qualificação), a jurisdição não sofre alteração.
- Este artigo tem um campo de aplicação raro, na medida em que, só se aplica em matérias que não
são abrangidas por nenhum dos 3 regulamentos, ou situações em que é atribuída competência a um
Estado que não seja um Estado-Membro.
è O artigo 94º estabelece as condições de validade do pacto.
- No que diz respeito ao nº2 do artigo 94º, este só abrange o pacto privativo, pelo que, dir-se-ia
resultar que, sendo o pacto atributivo de jurisdição, a competência alternativa dos tribunais do
estado estrangeiro não se pode manter com a consequência de não poder ser confirmada a sentença
que venha a ser proferida por tribunal desse Estado. CONTUDO, TAL NÃO É CORRETO: assim, sendo
o pacto privativo, a designação convencional de jurisdição estrangeira, quando são legalmente
competentes os tribunais portugueses, pode envolver a atribuição àquela de competência exclusiva,
caso em que passará a ser a única competente para o conhecimento da causa, ou de mera
competência alternativa, passando então a ser competente para a respetiva apreciação, alem da
jurisdição portuguesa, a jurisdição estrangeira.
è É também requisito dos pactos de jurisdição, o litígio não recair sobre matéria da competência
exclusiva dos tribunais portugueses (artigo 63º). No entanto, existem outras limitações em
campos específicos, nomeadamente no domínio do direito do trabalho e do direito marítimo
internacional, em que não se admitem pactos privativos de jurisdição.
- Exige-se ainda que a eleição do foro seja aceite pela lei do tribunal designado, não se
verificando este requisito se a lei do Estado da jurisdição escolhida considerar esta privada de
competência ou uma outra por ela designada exclusivamente competente para a causa.
- Por fim, deve o pacto mencionar expressamente a jurisdição competente.
- Atualmente a violação do pacto privativo de jurisdição determina a incompetência absoluta
do tribunal: esta incompetência não é contudo de conhecimento oficioso nos termos do
artigo 97º, nº1 à não sendo de conhecimento oficioso, não pode gerar indeferimento da
petição inicial em despacho liminar, mas apenas absolvição do réu da instância (ao contrário
do que o artigo 99º, nº1 e 3 dá a entender), de acordo com o Professor Lebre de Freitas.

Para sabermos qual o tribunal competente em termos de competência territorial – se nenhum dos
casos previstos nos artigos 70 e ss. se encontrar preenchido, deve ser aplicada a regra geral do artigo
80º que considera que, em todos os casos não previstos nos números anteriores, é aplicada a regra
de que é competente para a ação o tribunal do domicilio do réu à fixam-se aqui critérios gerais
atributivos de competência territorial quando o réu é uma pessoa singular, os quais apenas atuam
se a situação jrudiica em apreço não realizar a previsão de nenhum dos critérios especiais.
Assim, segundo a norma supletiva geral do nº1, o tribunal residualmente competente em razão do
território é o do domicílio do réu, que se trate do lugar da sua residência habitual, quer do seu
domicílio profissional, eletivo ou legal. O autor não pode, porém, salvo o caso de confronto com duas
residências habituais e o de divergência entre o domicilio legal e o domicilio voluntario do empregado
público, optar por um desses diversos foros, antes devendo instaurar a ação no domicílio legal ou
eletivo do reu, sempre que exista, e recorrer ao domicilio profissional quando de relações
profissionais se trate.
- Não tendo aplicação o nº1 por o réu ter o domicilio e a residência em país estrangeiro, nos termos
do nº3, a ação deve ser instaurada no tribunal do local do território português em que tenha
residência não habitual ou em que se encontrar (isto é, em que for sabido que se encontra à data da
propositura da ação), ainda que acidentalmente à não se encontrando o réu em Portugal, deve sê-
lo no tribunal do domicilio do autor, ou, residindo este no estrangeiro, no tribunal de Lisboa.
è OU SEJA, importa considerar o artigo 80º, nº3 que contem uma regra de recurso salvatória
que se destina apenas a dizer qual é o tribunal português competente, quando nós, através
dos 3 critérios do 62º chegamos à conclusão que os tribunais portugueses são
internacionalmente competentes à se não se conseguir aplicar nenhum dos critérios deste
mesmo preceito 80º, em ultima analise, o tribunal competente, será o tribunal de lisboa.

Assim, depois de apurada a competência internacional dos tribunais portugueses, importa, no plano
interno, determinar o tribunal competente à a competência dos tribunais judiciais, no âmbito da
jurisdição civil, é regulada conjuntamente pelo estabelecido nas leis de organização judiciária e pelas
disposições deste código – artigo 60º, nº1.
Nos termos do disposto no artigo 60º, nº2, a jurisdição reparte-se, na ordem interna, pelos tribunais
judiciais segundo a matéria, o valor, a hierarquia e o território.
- Artigo 37º LOSJ – na ordem jurídica interna a competência que passe pelos tribunais judiciais
obedece a critérios como a matéria, o valor, a hierarquia e o território: 4 critérios à 60º, nº2 CPC –
nenhum dos preceitos está completo porque a forma do processo também apresenta um papel
fundamental.

NESTE SENTIDO,
Passos para resolver casos de competência INTERNA:
1. Ver que tipo de ação é e referir o artigo 10º CPC;
2. Ver em relação à hierarquia;
3. Ver em relação ao valor da ação;
4. Ver em relação à matéria;
5. Ver em relação ao território;

1º passo – consultar o artigo 10º CPC


- Artigo 10º CPC
Ações declarativas vs ações executivas
Nos termos do disposto no artigo 10º, as ações são declarativas ou executivas, consoante o seu fim.
- Nas ações declarativas, o autor procura que o tribunal declare a solução para um determinado caso:
o tribunal proferirá uma decisão, com fundamento no direito civil, em que declara, naquele caso
concreto, a existência ou inexistência do direito invocado, ou de certo facto.
- As ações executivas têm por finalidade a realização coerciva das providencias destinadas à efetiva
reparação do direito violado.
è A distinção entre ações declarativas e ações executivas equivale á diferença entre o simples
declarar e executar – no processo declarativo é declarada a vontade concreta da lei, visando
o executivo a execução dessa vontade.

• Ações declarativas – artigo 10º, nº2: o autor procura que o Tribunal declare a solução para
determinado caso à Tribunal proferirá decisão com base no direito civil em que declara,
naquele caso concreto, a existência ou inexistência do direito invocado ou de certo facto à
ou seja, o autor pede ao tribunal que declare a existência ou inexistência dum direito ou dum
facto jurídico, que condene o reu na prestação duma coisa ou dum facto ou que altere as
situações jurídicas das partes em conformidade com um direito potestativo do autor:

§ Ações de simples apreciação (10º, nº3) – visam obter unicamente a declaração da


existência ou inexistência de um direito ou de um facto (10º, nº2, a)) à a ação foi
proposta para pôr termo a uma situação de incerteza. Porém, esta incerteza tem de
ser objetiva, não bastando a simples duvida existente na cabeça do autor, o que
significa que, a dúvida tem de projetar-se no exercício normal dos seus direitos (o
autor contenta-se com a declaração unicamente e não pretende que o tribunal vá
além dela).
- Nestas ações, o autor pede ao tribunal que declare a existência ou inexistência dum
direito (ex: declare que sou proprietário ou que o réu não é proprietário; declare que
sou filho do réu, ou que o réu não é meu filho) ou dum facto jurídico (ex: declare que
celebrei com o réu um contrato válido ou que o contrato que celebrei com o réu é
nulo).
- Assim, as ações de simples apreciação constituem um meio de prevenir litígios,
desempenhando assim uma função preventiva.
§ Positivas – quando o autor pretende que o tribunal declare a existência de um
direito ou de um facto.
§ Negativas – quando o autor requer que seja declarado que o direito não existe
ou que determinado facto não ocorreu à pretende-se obter a declaração de
inexistência de um direito de outrem com a finalidade de pôr termo a uma
situação de incerteza capaz de causar grave insatisfação ou dano apreciável do
autor, ou seja, não é o autor que se arroga determinado direito, mas sim o réu.
Ex: o devedor propõe uma ação contra o credor em que diz não dever nada;
§ Condenação (10º, nº3) – pretende obter a condenação de um réu com base num
direito substantivo (ex: direito de crédito ou de propriedade) à O autor pretende que
seja declarado o seu direito, que está a ser violado pelo reu e que este seja condenado
à reintegração desse mesmo direito, quer através da realização de uma determinada
prestação, quer por meio de uma atitude de abstenção ou omissão (artigo 10º, nº2,
b)).
- Nestas ações, sem prejuízo de o tribunal dever ainda emitir um juízo sobre a
existência do direito, o autor pretende que, em consequência da sua verificação,
condene o réu na prestação duma coisa ou dum facto (ex: condene o réu a pagar-me
a quantia x, a entregar-me a coisa y, ou a realizar o facto z), seja ela devida em
cumprimento duma obrigação, seja ela resultante dum direito real do autor à a
condenação tem sempre como pressuposto logico a violação do direito, mas não é
necessário que ela esteja consumada à da do recurso a juízo ou mesmo à data da
sentença. A ação de condenação pode também ter lugar na previsão da violação do
direito, dando então lugar a uma intimação ao réu para que se abstenha de o violar,
ou à sua condenação a satisfazer a prestação no momento do vencimento.
- Assim, a sentença de condenação pressupõe uma previa declaração da existência do
direito, como sempre acontece. Mas o tribunal não se fica por aqui (como nas de
simples apreciação), pois emite ainda uma ordem destinada a reintegrar o direito
violado.
Ex: o credor pretende que o tribunal, depois de declarar a existência do seu direito e
o respetivo incumprimento condene o reu à realização da prestação devida e à
indemnização pelos danos causados pelo não cumprimento.
- Se a decisão não for cumprida, isto é, se o réu não deu cumprimento à condenação
expressa na sentença, o autor passa a dispor de um título executivo, que é a sentença
condenatória, nos termos do artigo 703º, nº1, a).
§ In futurum – antes de haver a violação já é possível haver a condenação:
previne-se a hipótese de haver violação;
§ Inibitórias – exige-se a omissão da violação de um direito;
§ Constitutivas (10º, nº3) – têm por fim autorizar uma mudança na ordem jurídica:
correspondem aos direitos potestativos à o autor pretende obter através do tribunal,
um efeito jurídico novo que vai alterar a esfera jurídica do reu, independentemente
da sua vontade, o que significa que, este efeito depende da decisão do tribunal, desde
que, estejam verificados os pressupostos que a condicionam, nos termos do artigo
10º, nº2, c).
- Pela ação constitutiva exerce-se um direito potestativo de exercício judicial (ex:
direito ao divórcio, direito à anulação de um contrato) à se o pedido for procedente,
a sentença cria novas situações jurídicas entre as partes, constituindo, impedindo,
modificando, ou extinguindo direitos e deveres fundados em situações jurídicas
anteriores.
Perante o pedido formulado pelo autor, o tribunal ao proferir a sentença, produz
alterações na ordem jurídica, que consistem na constituição, modificação ou extinção
de uma relação ou situação jurídica – o novo efeito jurídico pretendido pelo autor não
depende da vontade do reu e, por isso, não é requerida a condenação deste. O efeito
apenas depende da decisão do tribunal, que a proferirá desde que estejam verificados
os pressupostos e, perante isto, a sentença cria um novo estado jurídico, pela
motivação ou extinção do anterior.
• Ações executivas – Nos termos do artigo 10º, nº4 dizem-se ações executivas, aquelas em que
o credor requer as providencias adequadas à realização coativa de uma obrigação que lhe é
devida à é invocada a falta de cumprimento de uma obrigação expressa na sentença ou
constante de documento, que constitui o titulo executivo: o exequente requer a reintegração
do direito violado ou ainda a aplicação de sanções pela violação.
- Este tipo de ação pressupõe a violação de um direito e, pode ter como finalidade a
reintegração dum direito real, mediante a entrega da coisa sobre que incide ao respetivo
titular, ou a realização especifica duma prestação obrigacional não pecuniária. Mas visa, mais
frequentemente, a realização coativa duma obrigação pecuniária, primária ou de
indemnização, tenha-se esta última constituído como sucedâneo duma relação primária de
obrigação incumprida ou na sequência da violação dum dever primário de conduta.
As espécies de títulos executivos constam das várias alienas do artigo 705º.
§ Sentença condenatória – condena no cumprimento de qualquer obrigação.

ASSIM, analisando o direito subjetivo conseguimos perceber que tipo de ação é que estamos a falar
e, a partir daí, desenvolver o procedimento da competência interna que, deve corresponder aos 4
requisitos indicados.
è Para um Tribunal ser competente ele tem que ser competente em função de todos os critérios
que a lei exige para ele ter competência à critérios têm de ser conjugados e sobrepostos.

Há, assim, uma repartição entre os diversos tribunais portugueses, do poder de julgar, que se
subdivide nas categorias do artigo 60º, nº2, de acordo com o explicitado no artigo 37º, nº1 LOSJ:
HIEARQUIA

VALOR

COMPETÊNCIA

MATÉRIA

TERRITÓRIO

I. Competência em razão da matéria


São da competência dos tribunais judiciais as causas que não sejam atribuídas a outra ordem
jurisdicional – artigo 64º: É a LOSJ que determina quais as causas que, em razão da matéria, são da
competência dos tribunais e das secções dotadas de competência especializada (artigo 65º CPC).
É vantajoso fracionar a competência dos tribunais em função da matéria devido à especificidade das
normas que integram os diversos ramos do Direito e dada a complexidade das questões que se
colocam a quem tem de decidir.
è Há́ tribunais de competência especializada, em função do critério da competência em relação
da matéria.

As leis de organização judiciária determinam quais as causas que, em razão da matéria, são da
competência dos tribunais e das secções dotados de competência especializada – artigo 65º à em
consonância, determina o artigo 40º, nº1 da lei 62/2013 que os tribunais judiciais que têm
competência para as causas que não sejam atribuídas a outra ordem jurisdicional. Ou seja, se as
causas não forem atribuídas por lei a alguma jurisdição especial, como, por exemplo, tribunais
administrativos ou tribunais de contas, entende-se que são da competência dos tribunais judiciais.
¾ Nos tribunais judiciais ficam as causas que não sejam atribuídas a outra ordem jurisdicional
(artigo 64º). Se a lei nada disser, o Tribunal tem competência genérica.

➢ É a LOSJ que determina quais as causas que, em razão da matéria, são da competência dos
tribunais e das secções dotadas de competência especializada (artigo 65º).

Por sua vez, o nº2 deste preceito dispõe que a presente lei determina a competência, em razão da
matéria, entre os tribunais judiciais de primeira instância, estabelecendo as causas que competem
às secções de competência especializada dos tribunais de comarca ou aos tribunais de competência
territorial alargada.

Os tribunais de comarca são de competência genérica e de competência especializada nos termos do


artigo 80º, nº2 à neste sentido e tendo em conta os números seguintes deste artigo, os juízos
designam-se pela competência e pelo nome do município em que estão instalados, mas também
determinam quais os juízos de competência especializada que podem ser criados, admitindo que
pode haver juizões de competência especializada mista e ainda que pode proceder-se à agregação
de juízos.

ASSIM, temos, no que diz respeito a matéria:

¾ Matéria cível;
¾ Matéria criminal;
¾ Matéria de instrução criminal;
¾ Matéria de família e menores;
¾ Matéria de trabalho;
¾ Matéria de comércio;
¾ Matéria de execução;

E, podem ser criados os seguintes juízos de competência especializada:

¾ Central cível (razão da matéria e do valor);


¾ Local cível (razão da matéria e do valor)
¾ Central criminal (razão da matéria e da alçada);
¾ Local criminal (razão da matéria e da alçada);
¾ Local de pequena criminalidade (em razão da matéria e da alçada);
¾ Instrução criminal (em razão da matéria);
¾ Família e menores (em razão da matéria);
¾ Trabalho (em razão da matéria)
¾ Comércio (em razão da matéria);
¾ Execução (em razão da matéria).
As várias secções de competência especializada dos tribunais de comarca encontram-se enumeradas
no artigo 81º, nº2 LOSJ, sendo depois tratadas autonomamente, no que toca à sua competência em
razão da matéria, nos artigos: 117º (secções cíveis); 118º (secções criminais); 119º a 121º (secções
de instrução criminal); 122º a 125º (secções de família e menores); 126º e 127º (secções do trabalho);
128º (secções de comercio); 129º (secções de execução).

è O artigo 130º dispõe sobre a competência dos juízos locais cíveis, locais criminais, locais de
pequena criminalidade, de competência genérica e de proximidade.

Por seu lado, os tribunais de competência territorial alargada, que são aqueles que possuem
competência para mais do que uma comarca ou sobre áreas especialmente referidas na lei (artigo
83º, nº1 LOSJ), encontram-se enumerados no artigo 83º, nº3 LOSJ.
- O artigo 81º LOSJ determina que os tribunais de comarca se desdobram em:
• Instâncias centrais que integram secções de competência especializada – nestas podem ser
criadas as seguintes secções de competência especializada: cível, criminal, instrução criminal,
Família e menores, trabalho, comercio, execução.
• Instâncias locais que integram secções de competência genérica e secções de proximidade –
as secções de competência genérica podem ainda desdobrar-se em secções cíveis, em
secções criminais e em secções de pequena criminalidade.
O poder jurisdicional é repartido pelos diversos tribunais considerados no mesmo plano, sem que
entre eles exista uma qualquer relação hierárquica ou de subordinação.
Os tribunais judiciais, como órgãos de soberania da organização judiciária, têm competência para
administrar a justiça em nome do povo (artigos 202º, nº1 CRP e 2º, nº1 LOSJ).
è As decisões dos tribunais são obrigatórias para todas as entidades públicas e privadas e
prevalecem sobre as de quaisquer outras entidades – artigos 205º, nº2 CRP e 24º, nº2 LOSJ.

ASSIM, na competência em função da matéria: temos de atender ao objeto do processo para saber
qual é o tribunal competente – ex: ação de divorcio será no tribunal de família e menores.
• Há situações que merecem uma ponderação mais cuidada: out-out - a mais duvidosa são os
casos em que o facto que é alegado em juízo pode merecer uma de diferentes qualificações
jurídica – ex: o autor tem a duvida de saber se o contrato que celebrou é um contrato de
prestação de serviço ou é um contrato de trabalho – como o autor não está seguro da
qualificação jurídica do contrato: se a ação for proposta no tribunal de trabalho, e este só tem
competência para apreciar o contrato se o mesmo for um contrato de trabalho à se chegar
à conclusão que não é de trabalho vai simplesmente dizer que não tem competência material
para apreciar o contrato.
• A segunda dificuldade respeita aos casos et-et: um mesmo facto preenche simultaneamente
duas qualificações jurídicas: ex – um facto ilício que gera responsabilidade contratual e
extracontratual – se o tribunal só for competente para apreciar segundo a responsabilidade
contratual, o tribunal tem competência para apreciar o facto ilícito de acordo com qualquer
que seja a qualificação que ele possa ter à porque é simultaneamente gerador de ambas as
situações.

- A competência pode ser convencional: acordada pelas partes – autonomia da clausula do próprio
contrato: as partes convencionam qual é o tribunal competente – é uma convenção autónoma do
contrato, pois a convenção pode ser valida e o contrato invalido.

II. Competência em razão do valor da causa


Em relação ao valor da causa há dois passos que têm de ser verificados:
• Ver o valor do processo;
• Ver se é competência do tribunal central ou local;

As leis de organização judiciaria estabelecem quais as causas que, pelo seu valor, se inserem na
competência da instância central e da instancia local – artigo 66º - remete para os artigos 41º, 117º,
nº1 e 130º, nº1, a) LOSJ.
ASSIM, há que definir o valor do processo através da regra do artigo 296º e ss CPC:
¾ Citar o artigo 296º, nº1 CPC;
¾ Ver as regras especiais dos artigos 298º e ss CPC;
¾ Se não se aplicar a regra especial, aplica-se a regra geral do artigo 297º CPC;

Nas ações declarativas de processo comum, o artigo 41º da lei nº62/2013 determina a competência,
em razão do valor, entre os juízos centrais cíveis e os juízos locais cíveis, nas ações declarativas de
processo comum – este critério de aferição só é aplicável:
• Entre as instâncias dos tribunais de comarca, isto é, entre as instâncias centrais e locais (artigo
81º LOSJ);
• Dentro dos tribunais de comarca, só é aplicável para o efeito da delimitação da competência
das secções cíveis (das instâncias centrais) face à das secções de competência genérica das
instâncias locais;
• Se a ação for de natureza declarativa;
• Se a ação a instaurar seguir a forma de processo comum.

Determinação do valor da causa


Conforme determina o artigo 296º, nº1, a toda a causa deve ser atribuído um valor certo, sendo este
um elemento de indicação obrigatória na petição inicial (artigo 552º, nº1, f) à é através do valor da
causa que se conclui se a respetiva decisão está contida dentro da alçada do tribunal ou se a excede
e, portanto, se não é suscetível de recurso.
Para se proceder à determinação do valor da causa:

1. Critérios gerais e critérios especiais para a fixação do valor


Para fixação do valor da causa, a lei começa por formular critérios gerais: artigo 297º - a que se segue
a indicação de critérios para casos especiais: artigos 298º, 300º e ss à por isso, antes de fixe o valor
da causa, a parte terá de indagar primeiramente se ao caso se aplica algum dos critérios especiais
anunciados. Caso contrário, o valor da causa terá de ser encontrado por aplicação das regras gerais.
O artigo 297º determina os critérios gerais para a fixação do valor da causa:
• Se o pedido formulado é o de condenação em determinada quantia, esse deverá ser o valor
a indicar e, se for pedido o reconhecimento de vantagem de valor económico, a este se
atenderá para fixar o valor da causa;
• Se houver cumulação de pedidos – artigo 555º - o valor resulta da soma de todos eles à se
acessoriamente se pedirem interesses vencidos e os que se vencerem na pendencia da ação,
só o valor dos vencidos será somado ao valor do pedido principal;
• No caso de pedidos alternativos – artigo 553º - será considerado o pedido de maior valor;
• No caso de pedidos subsidiários – artigo 554º - deve atender-se ao valor do primeiro, que é
aquele que o tribunal aprecia primordialmente.

Para além destes critérios gerais, o artigo 298º fixa critérios para casos especiais:
• O valor da ação de despejo determina-se multiplicando por 30 a importância da renda mensal
e somando-lhe o montante das rendas em divida ou o da indemnização que tiver sido pedida,
escolhendo entre estes dois últimos valores o que for superior;
• Nas ações referentes a contratos de locação financeira, o valor a indicar é o que corresponde
à soma das importâncias em divida até ao fim do contrato e dos juros moratórios vencidos.
• Nas ações de alimentos definitivos, o valor da ação obtém-se multiplicando o montante
mensal pedido por 5 anuidades (5x12) e, a mesma operação deve ser feita para calcular o
valor da ação de contribuição do cônjuge para as despesas domésticas (992º).
• Nas ações de prestações de contas (941º e ss.), escolhe-se entre a receita bruta e a despesa,
o quantitativo mais elevado.

O artigo 303º fica o valor das ações sobre o estado das pessoas (ações de divorcio, de separação
judicial de pessoas e bens, as de anulação do casamento, as de investigação de maternidade ou
paternidade, as de impugnação de maternidade, de impugnação de paternidade ou de impugnação
de perfilhação, as de natureza do processo e medidas cautelares, etc.) ou sobre interesses imateriais
ou difusos:
• As ações sobre o estado das pessoas ou sobre interesses materiais consideram-se sempre
de valor equivalente à alçada da relação (30.000€) + 0,1 à esta possibilidade traduz a
importância que é atribuída a estas ações porque permite que da sentença se possa recorrer
até ao STJ devido a esse +0,1.
• O nº2 estende as mesmas regras às ações para atribuição da casa de morada de família,
constituição ou transferência do direito de arrendamento;
• Nos processos para tutela de interesses difusos, o valor da ação corresponde ao do dano
invocado, com o limite máximo do dobro da alçada do tribunal da relação.

2. Momento a que se atende para a fixação do valor


O artigo 299º, nº1 estabelece a regra geral de que para a fixação do valor da causa se deve tomar
em conta o momento em que a ação é proposta.
- 2 exceções:
¾ Uma no caso de ter sido deduzido pedido reconvencional: artigo 266º, nº2, c) e d) – casos em
que o reu se propõe a obter compensação e ainda quando o pedido do reu tende a conseguir,
em seu beneficio, o mesmo efeito jurídico que o autor se propõe a obter;
¾ Outra no caso de ter sido requerida intervenção principal;
Nestes casos excecionais, ao valor do pedido formulado pelo autor na petição inicial soma-se o valor
do pedido formulado pelo reu na reconvenção ou pelo interveniente – mas, nem sempre estes
valores devem ser adicionados ao valor do pedido do autor à qualquer desses valores só é somado
ao valor do pedido formulado pelo autor quando os pedidos sejam distintos (não se considera
distinto o pedido quando a parte pretenda conseguir o mesmo efeito jurídico que o autor se propõe
a obter ou quando a parte pretenda obter a mesma compensação de créditos: artigo 530º, nº3.
è Ao valor do pedido formulado pelo autor soma-se o valor do pedido deduzido na reconvenção
ou na intervenção principal de forma automática (este valor aumentado mantém-se mesmo
que haja posterior desistência do pedido) e é este valor que determina admissibilidade de
recurso.
O nº3 do artigo 299º dispõe que o aumento só produz efeitos em relação aos atos e termos
posteriores à reconvenção ou à intervenção à o aumento do valor da ação não afeta os termos e
atos já praticados no processo.
O artigo 299º, nº4 prevê os casos em que o valor não se pode logo determinar no momento em que
é instaurada a ação – neste caso, o valor inicialmente atribuído deve ser corrigido logo que do
processo constem os elementos necessários para o efeito.
è Nestes casos do nº4 pode dizer-se que a fixação do valor é diferida para um momento
posterior à propositura da ação: artigo 552º, nº1, f) representa apenas o valor provável da
causa.
Nos termos dos artigos 117º, nº1, a) e 130º, nº1, a) da lei 62/2013 – as ações declarativas cíveis com
processo comum são propostas:
• Na secção cível da instância central (central cível), quando o seu valor for superior a 50.000
à a partir de 50.001€;
• Na secção de competência genérica da instância local (local cível), quando o seu valor for igual
ou inferior a 50.000€.
- A incompetência em razão do valor da causa é sempre de conhecimento oficioso do tribunal, seja
qual for a ação em que se suscite – artigo 104º, nº2 CPC.

III. Competência em razão da hierarquia


Os tribunais judiciais encontram-se hierarquizados para efeitos de recurso das suas decisões (artigo
67º CPC) e de conhecimento de causas em 1ª instância (artigos 68º e 69º CPC) à existem tribunais
de 1º instância, da relação e o STJ.
è A hierarquia traduz-se apenas no poder conferido aos tribunais superiores de, pela via de
recurso, revogarem ou alterarem as decisões dos tribunais inferiores.

No que toca a recursos:


• Aos tribunais de 1ª instância (tribunais de comarca) cabe-lhes o julgamento de todas as
questões, qualquer que seja o valor da ação;
• Quando o valor da ação ultrapassa a sua alçada (5.000€), será possível interpor recurso das
suas decisões para o tribunal da Relação, que julgará em 2ª instância;
• Se a ação tiver um valor superior ao da alçada do Tribunal da Relação (30.000€), a decisão por
este proferida pode ainda ser objeto de recurso para o STJ.
Há,́ porém, ações que admitem sempre recurso, independentemente do seu valor – artigo 629º, nº2
e 3 CPC:
¾ Tribunais de 1ª instância (compreendem os tribunais de Comarca)
Os tribunais de 1ªinstância são, em regra, os tribunais de comarca e designam-se pelo norma da
circunscrição em que se encontram instalados nos termos do artigo79º LOSJ à aos tribunais de 1ª
instância compete o conhecimento dos recursos das decisões dos notários, dos conservadores do
registo e de outros que, nos termos da lei, para eles devam ser interpostos ao abrigo do artigo 67º.
Nos termos do artigo 80º LOSJ, compete aos tribunais de comarca conhecer das matérias que não
são da competência dos outros tribunais. Ou seja, o tribunal de comarca tem uma competência
residual.
Os tribunais de comarca são de competência geral e especializada (artigo 80º, nº2 LOSJ) à compete-
lhes o conhecimento dos recursos das decisões dos notários, dos conservadores do registo e de
outros que, nos termos da lei, para eles devam ser interpostos – artigo 67º CPC.
A propósito do desdobramento dos tribunais de comarca, encontramos vários juízos (artigo 81º, nº3).
A lei qualifica como juízo de competência geral o juízo central cível e o juízo local cível – artigos 117º
e 130º LOSJ.

- A competência do juízo central cível encontra-se definida no artigo 117º, sendo que essas
competências são:
• A preparação e julgamento das ações declarativas cíveis de processo comum de valor superior
a 50 000,00 €;
• Exercer, no âmbito das ações executivas de natureza cível de valor superior a 50.000 €, as
competências previstas no Código do Processo Civil, em circunscrições não abrangidas pela
competência de juízo ou tribunal;
• Preparar e julgar os procedimentos cautelares a que correspondam ações da sua
competência;
• Exercer as demais competências conferidas por lei.

Existem então dois critérios para a determinação do âmbito de competência do juízo central cível: o
valor da causa (50.000€) e a forma do processo (tem de ser um processo declarativo comum).
è Os juízos locais cíveis terão competência quando a mesma não for atribuída a tribunais de
competência territorial alargada (artigo 130º, nº1 LOSJ), que são tribunais de primeira
instância que, ao contrário do que é comum, têm uma competência que pode envolver várias
comarcas ou até todo o território nacional.
Os juízos de proximidade encontram-se referidos no artigo 130º, nº5 LOSJ e têm como competência
praticar os atos referidos nas alíneas deste artigo. Nestes juízos existe uma delimitação de
competência funcional e não jurisdicional à estes juízos não se consideram, em si, competentes para
determinar uma ação, mas apenas para a prática de determinados atos.

¾ Tribunal da Relação (2ª instância – artigo 67º LOSJ)


Estes tribunais têm competência territorial sobre várias comarcas à atualmente existem 5 Tribunais
da Relação:
• Os tribunais da relação estão divididos em várias secções: cível, penal, social, Família e
menores, comercio, propriedade intelectual e concorrência, regulação e supervisão.
Existem tribunais da relação em Lisboa, Porto, Coimbra, Guimarães e Évora.
As secções cíveis julgam as causas que não estejam atribuídas a outras secções – artigos 54º e 74º,
nº1 LOSJ.
Em matéria de recurso, só chegam às Relações as ações cujo valor seja superior à Alçada do Tribunal
de comarca (5.000€) – artigo 68º, nº2 CPC: compete às relações o conhecimento dos recursos
interpostos de decisões proferidas pelos tribunais de 1ª instância.
è Em termos de hierarquia, existe uma regra segundo a qual nenhum juiz julga outro juiz da
mesma hierarquia, e por isso mesmo existem as regras do artigo 73º, b) LOSJ: em primeira
instância, as Relações apreciam as ações que sejam propostas contra juízes de Direito, juízes
militares de primeira instância, procuradores da República e procuradores-adjuntos, por
causa das suas funções.
O artigo 73º LOSJ define as competências das suas secções, segundo a sua especialização.

¾ Supremo Tribunal de Justiça


É o órgão superior da hierarquia dos tribunais judiciais – artigo 3º, nº1 LOSJ à tem várias secções:
cíveis, social e penal, podendo haver outras – artigo 47º, nº1 LOSJ.
O STJ conhece dos recursos e das causas que por lei sejam da sua competência – artigos 69º, nº1
CPC, 52º LOSJ, 53º LOSJ, 54º LOSJ e 55º LOSJ.
Este tribunal, tem sede em lisboa e compreende secções em matéria cível, em matéria penal e em
matéria social: as secções cíveis julgam as causas que não estejam atribuídas a outras secções, as
secções criminais julgam as causas de natureza penal e as secções sociais julgam as causas referidas
no artigo 126º.
è Nos termos do disposto no artigo 56º, o julgamento nas secções é efetuado por 3 juízes,
cabendo a um juiz as funções de relator a os outros juízes as funções de adjuntos.
Compete-lhe ainda o conhecimento dos recursos interpostos de decisões proferidas pelas Relações
e, nos casos especialmente previstos na lei, pelos tribunais de 1ª instância – artigo 69º, nº2 CPC.
ASSIM, o STJ é um tribunal de revista: cabe-lhe rever o modo como foi feita a aplicação da lei
substantiva aos factos provados nas decisões proferidas pelas instâncias e a interpretação que estas
fizeram das leis processuais. No entanto, em certas circunstâncias, as partes podem requerer que o
recurso interposto da decisão proferida pelo tribunal de 1ª instância suba diretamente para o STJ –
isso só é possível se no recurso apenas se suscitarem questões de direito, isto é, quando não tiver
sido impugnada a decisão sobre a matéria de facto. Por outro lado, também se exige que as partes
não impugnem quaisquer decisões interlocutórias.
O modo de julgamento do STJ tem a seguinte especialidade: há uma matéria muito especifica que é
da competência das duas secções cíveis do STJ que são os acórdãos de uniformização de
jurisprudência.
è O presidente do STJ determina que o julgamento do recurso se faça com intervenção do pleno
das secções cíveis, quando tal se mostre necessario ou conveniente para assegurar a
uniformidade da jurisprudência – artigo 686º. Por sua vez, podem as partes interpor recurso
para o pleno das secções viceis quando o STJ proferir acordao que esteja em contradição com
outro anteriormente proferido pelo mesmo tribunal no domínio da mesma legislação e sobre
a mesma questão fundamental de direito – artigo 688º.
- O recurso para uniformização da jurisprudência também pode ser interposto pelo MP nos casos do
artigo 691º.
- O mais comum é o julgamento de recursos, normalmente de recursos interpostos nos Tribunais da
Relação, e mantém-se a regra de que os juízes não julgam juízes da mesma hierarquia.

IV. Competência em razão do território


A competência em razão do território resulta da atribuição a cada tribunal de uma certa circunscrição
territorial, situando em cada uma das circunscrições as várias causas, através de um elemento de
conexão que a lei considera decisivo à este critério resulta do facto de cada tribunal pertencer a
uma circunscrição territorial
Tem dois parâmetros:
• Circunscrição territorial correspondente ao tribunal – o STJ tem competência em todo o
território e os tribunais da Relação, assim como os tribunais judiciais de 1ª instância, na área
das respetivas circunscrições: na área das respetivas comarcas – artigo 43º, nº1 LOSJ.
• Elemento de conexão de cada tipo de ações com a circunscrição:
o Foro do réu: constitui a regra geral de que a ação se propõe no Tribunal do domicílio
do réu, sendo que esta regra só se aplica se não houver nenhuma regra especial, isto
é, é supletiva. Se o réu for uma pessoa coletiva ou uma sociedade, não se pode falar
em “domicílio” e, por isso, o artigo 81º, nº2 vem apresentar um termo semelhante –
sede.
- Não tendo aplicação o nº 1, por o réu não ter domicílio (nem residência habitual,
nem domicílio profissional, eletivo ou legal) em Portugal, e não ter também aqui
residência, tendo um e outra no estrangeiro, a ação deve ser instaurada no tribunal
do local do território português em que tenha residência não habitual ou em que se
encontrar, ainda que acidentalmente (lugar do paradeiro) – artigo 80º, nº3 CPC.
à Não se encontrando o réu em Portugal, deve sê-lo no tribunal do domicílio do
autor; ou, residindo este (autor) no estrangeiro, no tribunal de Lisboa – artigo 80º,
nº3 CPC.
o Foro da situação dos bens: devem ser propostas no tribunal da situação dos bens as
ações referentes a direitos reais ou pessoais de gozo sobre imoveis, a ação de divisão
de coisa comum (artigos 925º e ss. CC), de despejo, de preferência (artigos 1028º e ss.
CC) e de execução específica sobre imóveis (artigo 830º CC), e ainda as de reforço,
substituição, redução ou expurgação de hipotecas (artigo 991º a 1007º CC) – artigo
70º CPC.
- Em rigor, mesmo sem serem mencionadas, o Prof. Lebre de Freitas entende que as
ações de execução específica se devem incluir neste foro, pois constituem ações
constitutivas cujo trânsito em julgado opera a transferência do direito real (ou
pessoal) de gozo do promitente alienante para o promitente adquirente (artigo 830º,
nº1 CC).
- Pelo contrário, este preceito não é aplicável às ações de declaração de nulidade ou
de anulação de contratos reais relativos a imóveis, para as quais vigora a norma geral
do artigo 80º.
o Foro obrigacional: é o do lugar onde deve ser cumprida a obrigação. O artigo 71º
reporta-se às situações contratuais, em que o tribunal competente é o tribunal do
domicílio do réu.
- Este artigo estabelece ainda outra solução, em determinadas situações,
nomeadamente quando o réu seja pessoa coletiva ou quando, situando-se o domicílio
do credor na área metropolitana da Lisboa e do Porto, o réu tenha domicílio na mesma
área metropolitana.
- Para a determinação do domicílio, deve atender-se ao que dispõem os artigos 82º e
ss. CC. Por sua vez, o lugar onde a obrigação devia ser cumprida é o que resulta dos
artigos 772º a 776º CC.
- O artigo 71º, nº2 estabelece o foro para as ações destinadas a fazer valer a
responsabilidade civil extracontratual, seja por facto ilícito, seja pelo risco. Tendo a
responsabilidade pré́-contratual natureza extracontratual, o preceito aplica-se-lhe.
o Foro do autor: é o do lugar do seu domicílio ou residência. Para as ações de divórcio
e de separação de pessoas e bens, é competente o tribunal do domicílio ou da
residência do autor – artigo 72º CPC.

O artigo 82º apresenta outra regra geral, estabelecendo que “havendo mais de um réu na mesma
causa, devem ser todos demandados no tribunal do domicílio do maior número; se for igual o
número nos diferentes domicílios, pode o autor escolher o de qualquer deles”.
- Se a ação se destinar a efetivar a responsabilidade civil baseada em facto ilícito ou fundada no risco,
o tribunal competente é o correspondente ao lugar onde o facto ocorreu – artigo 71º, nº2.
- Entende-se que o tribunal do lugar onde ocorreu o facto pode dispor dos elementos sem
necessidade de os solicitar a outro tribunal e, por isso, está em melhor posição para a boa
administração da justiça – ex: as ações emergentes de acidente de viação devem ser propostas onde
ocorreu o acidente.
- Foro do autor é o do lugar do seu domicilio ou residência: para as ações de divórcio e de separação
de pessoas e bens é competente o tribunal do domicilio ou a residência do autor – artigo 72º
(subjacente a este critério, está certamente a ideia de querer beneficiar o autor, que é geralmente
quem sofre os efeitos da rutura do casamento e quer pôr termo a tal situação.
è O STJ tem competência em todo o território; os tribunais da relação têm, em regra,
competência na área das respetivas circunscrições; os tribunais judiciais de comarca
possuem, em regra competência nas respetivas comarcas – artigo 43º, nº1 e 3 LOSJ.
- Podem existir tribunais judiciais de 1ª instância com competência para mais do que uma
comarca: tribunais de competência territorial alargada.

ASSIM:
- Em relação ao território há que ver:
¾ Onde é que se intenta a ação;
¾ Ver se esse local é comarca ou não;
¾ Se for comarca, ver a que comarca pertence;
¾ Ver se existe o juízo que queremos, se não temos que ir para o tribunal da comarca;
I. Ver onde é que se intenta a ação
Artigo 71º CPC diz-nos como devemos proceder para saber onde intentar a ação – este artigo dá-nos
3 opções:
Ø Exigir o cumprimento de obrigações;
Ø A indemnização pelo não cumprimento ou pelo cumprimento defeituoso;
Ø A resolução do contrato por falta de cumprimento.
(é o chamado foro shopping)
o No domicílio do réu; ou
o No local onde a ação deveria ser cumprida se o réu for pessoa coletiva (empresas)

Artigo 71º, nº2 dá-nos duas opções:


Ø Responsabilidade civil baseada em facto ilícito;
Ø Responsabilidade civil baseada no risco

o No lugar onde o facto ocorre.

II. Citar o artigo do número de comarcas e ver se é comarca ou não


- Ver o artigo das Comarcas;
- Ver artigo 64º da lei de organização e funcionamento do sistema judiciário à caso seja comarca,
deve ter todas as competências. Mas, mesmo assim, ver o anexo III.
• Se o local for comarca então deve ter sede na cidade da comarca, bem como, todas as
competências – temos somente de confirmar do mapa III da LOSJ.
• Se o local em que nós queremos intentar a ação não for uma comarca, então é certo que
pertence a uma, logo temos que ir ao anexo III da LOSJ.

III. Ver a que comarca pertence


Exemplo: Queremos intentar uma ação no Central Cível de Guimarães
Anexo III
• Tribunal Judicial da Comarca de Braga;
• Sede: Braga;
• Tribunal da Relação Competente: Guimarães;
• Área de competência territorial: Municípios de Amares, Barcelos, Braga, Cabeceiras de Basto,
Celorico de Basto, Esposende, Fafe, Guimarães etc...
Sabemos então que Guimarães pertence à comarca de Braga.

IV. Ver se o tribunal em que temos que intentar a ação tem o juízo que queremos
- Caso 1: caso direto:
• Olhando para a competência do tribunal de Guimarães temos que, este tem juízo central
cível, logo poderíamos intentar em Guimarães a ação sem ter que recorrer a Braga.
- Caso 2: caso da falta de competência do tribunal recorrendo à comarca:
• Ainda na comarca de Braga, queremos intentar uma ação a nível central cível no tribunal de
Barcelos à Barcelos não é comarca, mas pertence à comarca de Braga. Olhando para as
competências do tribunal de Barcelos percebemos que este só tem local cível e não central
cível, por isso temos que recorrer ao tribunal da comarca, logo a ação teria que ser intentada
no Tribunal de Braga, visto que, tem central cível e é a comarca de Barcelos.
- Caso 3: pode ainda acontecer o caso dos chamados juízos de proximidade:
• Na comarca de Bragança, queremos intentar uma ação em Alfândega da Fé: Alfândega da Fé
não é comarca e, pertence à comarca de Bragança. Mas, ao analisarmos a competência do
Tribunal de Alfândega da Fé, percebemos que esta não tem tribunal, mas sim um juízo de
proximidade.
- Ora, havendo somente um juiz de proximidade temos que ver na competência dos outros
tribunais da mesma comarca de Alfândega da Fé ou seja nos tribunais da comarca de
Bragança qual é que abrange o município da Alfândega da Fé. Sabemos que Macedo de
Cavaleiros abrange Alfândega da Fé, logo intenta-se la a ação à intenta-se lá a ação porque
Macedo de Cavaleiros tem competência genérica.
- Contudo, se Macedo de Cavaleiros não tivesse essa competência e tivesse juízes específicos
teríamos que recorrer ao tribunal da relação de Macedo de Cavaleiros que seria o de
Bragança, ou seja, a pessoa de Alfândega da Fé ou teria que ir a Macedo de Cavaleiros intentar
a ação ou a Bragança para o efeito.
- Caso 4: sede da comarca diferente da própria comarca:
• Este caso acontece nas comarcas das áreas metropolitanas de lisboa e do Porto visto que
estas estão divididas em três comarcas e duas comarcas respetivamente. Olhando para a
Comarca de Porto Este que abrange a área territorial de Felgueiras, sabemos que alguém de
Felgueiras não havendo a competência necessária para intentar uma ação no tribunal de
felgueiras terá que recorrer á comarca que é a comarca de Porto à esta que está sediada no
Tribunal de Penafiel pois é sede da comarca não tendo nada a ver com o Porto propriamente
dito.
- Isto acontece por causa das áreas metropolitanas e da grande lisboa e grande porto.
¤ Extensão e modificações da competência
As regras sobre a competência dos tribunais podem ser sujeitas a alguns desvios pelo aparecimento
de questões suscitadas no decurso da ação à verificadas certas condições, o tribunal estende a sua
competência por forma a poder julgar essas questões para as quais não teria normalmente
competência. assim sendo, o tribunal competente para determinada ação, passa a sê-o também para
questões nela suscitadas.
è A extensão e modificações da competência encontram-se previstas nos artigos: 91º a 95º:
- Extensão da competência:
o Em relação às questões incidentais – artigo 91º;
o Em relação às questões prejudiciais – artigo 92;
o Em relação às questões reconvencionais – artigo 93º;
- Modificação da competência:
o Pacto privativo e atributivo de jurisdição – artigo 94º;
o Competência convencional – artigo 95º;

Questões incidentais – artigo 91º


Questão incidental é a questão surgida no decurso do processo – o incidente pressupõe a existência
de uma questão a resolver que se configure como acessória e secundária face ao objeto da ação ou
do recurso e como ocorrência anormal e com autonomia processual em relação ao processo principal
(por vezes, o conhecimento do objeto de uma causa exige que previamente seja decidida uma
questão que faz parte do encadeamento logico da sentença a proferir – não é possível proferir a
sentença final sem que antes seja decidida essa questão incidental).
è O tribunal competente para a ação é também competente para conhecer dos incidentes que
nela se levantem e das questões que o réu suscite como meio de defesa nos termos do artigo
91º, nº1: extensão da competência do tribunal a estas questões incidentais.
Existem alguns incidentes da instância tipificados na lei: 296º a 310º; 311º a 350º; 351º a 357º; 358º
a 361º e até os próprios procedimentos cautelares podem ser instaurados como incidentes da ação
nos termos do artigo 364º, nº1 in fine.

Se, no decurso da ação, falecer uma das partes, o tribunal competente para a ação sê-lo-á, também,
para decidir o incidente de habilitação. Normalmente, o tribunal competente para a habilitação dos
sucessores da parte falecida é o lugar da abertura a sucessão. Porém, se não for este o tribunal da
causa, passa a ter, por extensão, competência também para a habilitação.
Do mesmo modo, o tribunal competente para julgar a ação proposta com fundamento num contrato
celebrado entre o autor e o réu, é também competente para conhecer da nulidade do contrato
invocada pelo réu, mesmo que para o conhecimento desta nulidade fosse a competência atribuída a
outro tribunal, no caso de ter sido alegada em ação autónoma.
Esta extensão está limitada pelo disposto no nº2 do artigo 91º: a decisão das questões e incidentes
suscitados não constitui caso julgado fora do processo respetivo, o que significa que, a decisão
proferida sobre os incidentes ou sobre os meios de defesa que não envolvam diretamente o objeto
da ação, vale apenas como caso julgado formal nos termos do artigo 620º, isto é, não valerá fora
daquele processo. Só constituirá caso julgado material, nos termos do artigo 621º, se tal for
requerido por alguma das partes (porém, para que o requerimento nesse sentido possa ser atendido
não pode faltar ao tribunal a competência necessária, em razão da nacionalidade, da matéria ou da
hierarquia.

Questões prejudiciais – artigo 92º


Se o conhecimento do objeto da ação depender da decisão de uma questão que seja da competência
do tribunal criminal ou do tribunal administrativo, pode o juiz sobrestar na decisão até que o tribunal
competente se pronuncie nos termos do artigo 92º, nº1.
Por vezes, o conhecimento do objeto da causa está dependente do conhecimento prévio de uma
certa questão, o que significa que, o conhecimento da causa não pode ter lugar sem que se decida
uma questão que faz parte do encadeamento logico da sentença a proferir – esta questão tem de ser
previamente julgada e, por isso, se diz prejudicial, ou seja (pré)judicial.
è É questão jurídica prejudicial toda aquela cuja solução constitua pressuposto necessário da
decisão de mérito (quer esta necessidade resulta da configuração da causa de pedir, quer da
arguição ou existência duma exceção tanto perentória como dilatória, quer ainda do objeto
de incidentes em correlação logica com o objeto do processo, e seja mais ou menos direta a
relação que corra entre essa questão e a pretensão.
Nestes casos, a lei, em vez de estender a competência ao tribunal da causa, atribui ao juiz a faculdade
de sobrestar, isto é, de interromper a decisão até que o tribunal competente se pronuncie sobre a
questão prejudicial – a suspensão da decisão não pode, porém, aguardar sem limites de tempo, que
seja decidia pelo tribunal competente a questão prejudicial à a suspensão fica sem efeito se a ação
penal ou administrativa não for exercida dentro de um mês ou se o respetivo processo estiver
parado, por negligencia das partes, durante o mesmo prazo. Neste caso, o juiz da ação decidirá a
questão prejudicial, mas a decisão não produz efeitos fora do processo em que for proferida nos
termos do artigo 92º, nº2.

- Diferentemente do que é consentido pelo artigo 91º, nº2, o artigo 92º não dá a possibilidade de
alguma das partes requerer que a decisão que venha a ser proferida pelo tribunal judicial cível sobre
a questão prejudicial constitua caso julgado material.

è Questão prejudicial vs. causa prejudicial:


- uma causa é prejudicial em relação a outra quando a decisão daquela pode prejudicar a
decisão desta, isto é, quando a procedência da primeira tira a razão de ser à existência da
segunda (ex: a ação em que o autor pede a anulação de compra e venda constitui causa
prejudicial em relação a uma outra ação em que se pretende exercer o direito de preferência
em tal compra. Na verdade, se a decisão daquela causa for no sentido de anular o contrato
de compra e venda já não tem razão de ser o julgamento da causa em que se discute o direito
de preferência) à não é isto que está a ser tratado neste artigo, mas sim a questão
prejudicial.

Competência para as questões reconvencionais – artigo 93º


A reconvenção tem lugar quando o réu formula, na ação contra ele proposta, um pedido autónomo
contra o autor – o tribunal da ação é competente para as questões deduzidas por via de reconvenção,
desde que tenha competência para elas em razão da nacionalidade, da matéria e da hierarquia. Se a
não tiver, é o reconvindo absolvido da instância nos termos do artigo 93º, nº1.
è Assim, a competência do tribunal da ação estende-se às questões suscitadas na reconvenção
de que não poderia conhecer segundo as regras da competência em razão do valor ou do
território. Basta que o tribunal tenha competência em razão da nacionalidade, da matéria e
da hierarquia – se faltar tal competência, o reconvindo (o autor) será absolvido da instância.
Neste sentido, quando o pedido formulado pelo réu seja distinto do que foi deduzido pelo autor, os
respetivos valores somam-se nos termos do artigo 299º, nº2, o que significa que, é alterado o valor
inicial da causa à essa alteração pode fazer com que o tribunal onde a mesma corre deixe de ser
competente em razão do valor, o que implicará a necessidade de remeter a ação para o tribunal que
passou a ser o competente.
O nº2 do artigo 93º estipula então que, quando a tribunal deixe de ser competente em razão do
valor, deve o juiz oficiosamente remeter o processo para o tribunal competente.

Pactos e competência convencional – artigo 94º e artigo 95º


O artigo 94º e o artigo 95º tratam de casos em que, a competência seria normalmente atribuída a
um tribunal para dirimir um litigio mas é modificada por convenção das partes:
¾ Se a convenção tem por fim afastar as regras que regulam a competência internacional dos
tribunais portugueses estipulada no artigo 62º, estamos perante um pacto privativo ou
atributivo de jurisdição nos termos do artigo 94º:
o O pacto será atributivo quando concedam competência aos tribunais portugueses
para apreciação de pedido referente a uma situação jurídica plurilocalizada para o
qual não eram competentes.
o O pacto será́ privativo quando lhes retirem a competência que para tanto tinham por
lei.
o É também um pacto de jurisdição a convenção pela qual as partes atribuem a uma
jurisdição estrangeira competência concorrente com a competência internacional
legal de que já dispunham, e de que continuam a dispor os tribunais portugueses.
o É ainda um pacto de jurisdição aquele que retira a uma jurisdição estrangeira a
competência que esta tinha até então, em concorrência com a competência
internacional legal da jurisdição portuguesa, que se mantém.
o Para que o pacto de jurisdição seja válido, tem de preencher cumulativamente certos
requisitos (artigo 94º, nº3):
§ Dizer respeito a um litígio sobre direitos disponíveis;
§ Ser aceite pela lei do tribunal designado;
§ Ser justificada por um interesse sério de ambas as partes ou de uma delas,
desde que não envolva inconveniente grave para a outra;
§ Não recair sobre matéria da exclusiva competência dos tribunais portugueses;
§ Resultar de acordo escrito ou confirmado por escrito, devendo nele fazer-se
menção expressa da jurisdição competente. Ver, para este efeito, o artigo 94º,
nº4 CPC.
o A violação do pacto privativo de jurisdição determina a incompetência absoluta do
tribunal (artigos 96º, a) e 97º, nº1 CPC). Esta incompetência tem, todavia,
especificidades de regime: não é de conhecimento oficioso (artigo 97º, nº1), nem
admite o aproveitamento dos autos a que alude o artigo 99º, nº2 e 3. Por outro lado,
não sendo de conhecimento oficioso, não pode gerar indeferimento da petição inicial
em despacho liminar, mas apenas absolvição do réu da instância, diversamente do
que o artigo 99º, nº1 e 3 dá a entender.
¾ Se a convenção entre as partes tem em vista a alteração das regras da competência interna,
em razão do território, trata-se de um caso de competência convencional prevista no artigo
95º:
o Este artigo veda às partes (impede as partes) a possibilidade de afastarem as regras
de competência em razão da matéria, da hierarquia e do valor da causa.
o Porém, o preceito permite às partes afastar, por convenção expressa, a aplicação das
regras de competência em razão do território, sal nos casos a que se refere o artigo
104º, isto é, salvo nos casos em que a incompetência relativa é do conhecimento
oficioso do tribunal.
o Pode dizer-se que se trata de um pacto de aforamento, segundo o qual é dada às
partes a possibilidade de escolher o foro, ou seja, o tribunal territorialmente
competente para conhecer de certos litígios.
o O tribunal escolhido por convenção das partes tem competência exclusiva e, por isso,
o tribunal que, segundo a lei, seria o competente, deixa de o ser.
o Os requisitos de forma exigidos para a convenção sobre a competência em razão do
território são os previstos no nº2 do 95º:
§ Exigência de designação das questões a que se refere o critério de
determinação do tribunal que fica sendo competente;
§ A designação das questões abrangidas pelo acordo pode ser feita pela
especificação do facto jurídico suscetível de as originar nos termos do artigo
95º, nº4 – assim, podem as partes limitar-se a fazer referência a eventuais
questões emergentes de certo contrato;
§ Redução a escrito;
o A competência resultante da convenção das partes é tao vinculativa como a que
deriva da lei nos termos do artigo 95º, nº3.
o A competência fundada na estipulação do pacto é vinculativa para as partes (artigo
95º, nº3 CPC), importando a sua infração a incompetência relativa do tribunal (artigo
102º CPC). O tribunal não pode conhecer oficiosamente essa violação, a qual está por
isso dependente de arguição da parte (artigo 103º, nº1 CPC), sob pena de ficar
sanada a falta do pressuposto.
o Em compensação, o tribunal conhece oficiosamente a nulidade do pacto de
competência, tendente ao afastamento das regras de competência que, segundo o
nº1 não podem ser afastadas por vontade das partes e, consequentemente, da
incompetência do tribunal em que, de acordo com o pacto, a ação seja proposta
(artigos 97º e 104º CPC).

Tribunal competente no caso de pluralidade de réus – artigo 82º


Outro desvio das regras da competência verifica-se no caso de pluralidade de réus: quando o tribunal
competente para determinada ação é o do lugar do domicilio do réu, nos termos do artigo 80º, tal
regra não pode ser observada se a ação for proposta contra vários réus com domicílios situados em
áreas correspondentes a diversos tribunais à o artigo 82º regula esta situação atribuindo a
competência ao tribunal do domicilio do maior número deles e, se for igual o número, dá ao autor a
possibilidade de escolher.
è Nestes casos, o reu ou réus que se encontrem em posição minoritária, ou até, de igualdade,
não poderão invocar a incompetência do tribunal, se este não corresponder ao do lugar do
seu domicílio.

¤ Modalidades de incompetência
Antes de propor a ação, deve o autor procurar saber qual o tribunal competente para a mesma,
tendo em conta as diversas regras enunciadas – desde logo, deve apurar se ação tem conexão com
a jurisdição de outros países. Em caso afirmativo, terá de se averiguar da competência internacional
dos tribunais portugueses à se essa conexão não existir, a questão nem sequer é suscitada.
Constatada a competência dos tribunais portugueses, é chegado o momento de saber qual deles tem
competência para decidir a ação, considerando os critérios da competência interna:
• Em primeiro lugar deve averiguar qual o tribunal de 1ª instância territorialmente competente:
se na respetiva área só existir um tribunal de competência genérica, a pesquisa estará
simplificada;
• Se na propositura da ação, não forem respeitadas as regras da competência, as consequências
que daí derivam dependem do tipo de violação.

A lei distingue entre incompetência absoluta e incompetência relativa:


¾ A incompetência absoluta corresponde à violação de normas de interesse e ordem pública;
¾ A incompetência relativa corresponde à violação de meras normas de interesse e ordem
particular.

A competência fixa-se no momento em que a ação se propõe, pelo que, se a ação foi proposta no
domicilio do réu, que vivia, por exemplo, em Viseu, por ser este o tribunal territorialmente
competente, o tribunal mantém a sua competência mesmo que, entretanto, o réu tenha transferido
o seu domicilio para Coimbra.

¨ Incompetência absoluta
Nos termos do artigo 96º, determinam a incompetência absoluta do tribunal:
a) A infração das regras de competência em razão da matéria e da hierarquia e das regras de
competência internacional;
b) A preterição de tribunal arbitral;
Assim, a incompetência absoluta corresponde à infração das regras de competência em razão da
matéria e da hierarquia, das regras de competência internacional e ainda no caso em que a ação foi
proposta no tribunal comum quando devia ter sido no tribunal arbitral.
Neste sentido, a incompetência absoluta pode ser arguida pelas partes, o que significa que, pode ser
arguida pelo próprio autor que foi quem a ocasionou e, exceto se decorrer da violação de pacto
privativo de jurisdição ou de preterição de tribunal arbitral voluntário, deve ser suscitada
oficiosamente pelo tribunal, enquanto não houver sentença com transito em julgado proferida sobre
o fundo da causa nos termos do artigo 97º, nº1.
è Tudo isto só pode ter lugar enquanto não houver sentença com transito em julgado sobre o
mérito da causa, o que significa que, a arguição ou o conhecimento oficioso pela primeira vez
tanto pode verificar-se no tribunal de 1ª instância como no tribunal de recurso.
- A violação das regras de competência em razão da matéria que apenas respeitem aos
tribunais judiciais só pode ser arguida, ou oficiosamente conhecida, até ser proferido
despacho saneador, ou, não havendo lugar a este, até ao inicio da audiência final ao abrigo
do artigo 97º, nº2: neste caso, o legislador considerou que a violação seria menor e por isso
encurtou o prazo – ex: caso da ação que foi proposta num tribunal de competência genérica
em vez de o ter sido num tribunal de competência especializada. Seria mais grave e encontrar-
se-ia no âmbito do nº1 o exemplo em que a ação é proposta num tribunal judicial em vez de
ser num tribunal não judicial – ex: proposta num tribunal comum quando o deveria ter sido
num tribunal administrativo.

Conforme dispõe o artigo 99º, nº1, a verificação da incompetência absoluta implica a absolvição do
réu da instância ou o indeferimento em despacho liminar, quando o processo o comportar:
• Absolvição do réu da instância – quando a citação não depende de prévio despacho judicial,
porque incumbe à secretaria promovê-la oficiosamente (artigo 226º, nº1), o juiz terá́ o
primeiro contacto com o processo já́ depois dos articulados. Conhecerá o vicio no momento
de proferir o despacho saneador – artigo 595º, nº1, a). Neste caso, ao conhecer da
incompetência absoluta, tem de limitar-se a absolver o réu da instância. Na verdade, o juiz
depara com uma exceção dilatória (artigos 577º, a) e 278º, nº1 a)) o que terá́ como
consequência a absolvição do réu da instância por forca do artigo 576º, nº1 e 2;
• Ou indeferimento em despacho liminar, quando o processo o comportar – o processo
comporta o indeferimento liminar quando a citação depender de prévio despacho judicial
(artigo 266º4). Neste caso, o juiz, em vez de ordenar a citação do réu, profere despacho de
indeferimento liminar ao detetar o vício da incompetência absoluta do tribunal, de que deve
conhecer oficiosamente.

ASSIM:
- O processo comporta o indeferimento liminar quando a citação depender de prévio despacho
judicial: artigo 226º, nº4 – neste caso, o juiz em vez de ordenar a citação do reu, profere despacho
de indeferimento liminar ao detetar o vicio da incompetência absoluta do tribunal, de que deve
conhecer oficiosamente.
- Quando a citação não depender de prévio despacho judicial, porque incumbe à secretaria promove-
la oficiosamente – artigo 226º, nº1 – o juiz terá o primeiro contacto com o processo já depois dos
articulados e, conhecerá do vicio no momento de proferir o despacho saneador – artigo 595º, nº1,
a) à neste caso, ao conhecer da incompetência absoluta tem de limitar-se a absolver o réu da
instancia.
Na verdade, o juiz depara-se com uma exceção dilatória – artigo 577º, nº1 e 278º, nº1, a), o
que terá como consequência a absolvição do reu da instância por força do artigo 576º, nº1 e
2.
- Se a incompetência for arguida antes de ser proferido o despacho saneador:
o Pode conhecer-se dela imediatamente;
o Pode reservar-se a apreciação para esse despacho – se arguida posteriormente ao despacho,
deve conhecer-se logo da arguição: artigo 98º.
- Se a incompetência só for decretada depois de findos os articulados, podem estes aproveitar-se,
desde que o autor requeira, no prazo de 10 dias a contar do transito em julgado da decisão, a remessa
do processo ao tribunal em que a ação deveria ter sido proposta, não oferecendo o réu oposição
justificada tal como se verifica no artigo 99º, nº2.
- Se não for requerida pelo autor a remessa do processo para o tribunal onde a ação devia ter sido
proposta, a incompetência absoluta leva a que sejam inutilizados todos os atos praticados.

è A decisão que determine a incompetência absoluta do tribunal tem apenas o valor de caso
julgado formal, só valendo no respetivo processo nos termos do artigo 100º: é uma forma de
garantir a liberdade de julgamento de cada juiz à exceção: artigo 101º, nº1 e 2 em que a lei
permite que o STJ ou o Tribunal de Conflitos decida, de forma definitiva, através de recurso
interposto do acórdão do Tribunal da Relação, qual o tribunal competente, em razão da
matéria ou da hierarquia, para julgar a ação.

ASSIM, é sempre admissível recurso, independentemente do valor da causa, se tiver por fundamento
a violação das regras de competência internacional em razão da matéria ou da hierarquia ou a ofensa
de caso julgado nos termos do artigo 629º, nº2, a).

Preterição do tribunal arbitral (dentro da incompetência absoluta)


A preterição do tribunal arbitral consiste no facto de ter sido proposta uma ação com violação do
compromisso arbitral previamente estabelecido entre as partes à se as partes se haviam
comprometido a submeter a decisão do litigio a um tribunal arbitral, mas depois uma delas propôs a
ação num tribunal comum, houve desrespeito do autor pelo compromisso que haviam assumido – o
réu pode invocar a preterição do tribunal arbitral.
A preterição do tribunal arbitral pode também resultar do não cumprimento da lei que o impunha –
esta preterição pode dizer respeito a um tribunal arbitrário necessário (ocorre quando foi proposta
num tribunal comum uma ação que, por imposição legal, é da competência de um tribunal arbitral –
1082º) ou a um tribunal arbitral voluntário (ocorre quando foi proposta num tribunal comum a ação
que devia ter sido proposta no tribunal convencionado pelas partes).
è O tribunal deve conhecer oficiosamente das exceções dilatórias, salvo da incompetência
absoluta decorrente da violação de pacto privativo de jurisdição ou da preterição do tribunal
arbitral voluntário de da incompetência relativa nos casos não abrangidos pelo disposto no
artigo 104º, nos termos do artigo 578º: a preterição do tribunal arbitral voluntário não é,
portanto, de conhecimento oficioso – 578º à trata-se, portanto, de uma exceção que terá
de ser invocada pelo réu.

¨ Incompetência relativa
A incompetência relativa corresponde à infração das regras de competência fundadas no valor da
causa, na divisão judicial do território ou decorrentes do estipulado na convenção prevista no artigo
95º, tal como estipula o artigo 102º:
¾ A incompetência relativa pode ser arguida pelo réu, sendo o prazo de arguição o prazo fixado
para a contestação, oposição ou resposta ou, não havendo lugar a estas, para outro meio de
defesa que tenha a faculdade de deduzir de acordo com o artigo 103º, nº1.
¾ O conhecimento da incompetência relativa está dependente da sua arguição pelo réu e este
deve fazê-lo dentro do prazo fixado para apresentar a sua defesa: a arguição não pode parir
do autor;
¾ Sendo a incompetência arguida pelo réu, o autor pode responder no articulado subsequente
da ação ou, não havendo lugar a este, em articulado próprio, dentro de 10 dias, ao abrigo do
artigo 103º, nº2.
O artigo 104º estabelece, porém, várias exceções ao determinar que a incompetência em razão do
território deve ser conhecida oficiosamente pelo tribunal, sempre que os autor fornecerem os
elementos necessários nos casos previstos:
a) Nas causas a que se referem o artigo 70º, nº1 primeira parte; artigo 71º, nº2; os artigos 78º,
83º e 84º; o artigo 85º, nº1; o artigo 89º, nº1 primeira parte e nº2;
b) Nos processos cuja decisão não seja precedida de citação do requerido:
o Nestes casos, se ao juiz não fosse dada a possibilidade de conhecer oficiosamente da
incompetência, esta nunca poderia ser conhecida antes de proferida a decisão-
c) Nas causas que, por lei, devam correr como dependência de outro processo:
o A razão de ser desta alínea justifica-se com a vantagem que resulta da apensão de
processos.
Assim, o juiz deve conhecer oficiosamente da incompetência em razão do território sempre que os
autos fornecerem os elementos necessários para o efeito: significa isto que, o juiz só pode servir-se
dos elementos contidos nos autos e não deve fazer diligencias estranhas à tramitação normal do
processo com a finalidade de averiguar essa incompetência.
è A incomeptencia relativa é ainda sempre de conhecimento oficioso quando resultar da
infração das regras da competência que dizem respeito ao valor da causa, seja qual for a ação
em que se suscite nos termos do artigo 104º, nº2.
MAS, quando a incompetência relativa é arguida pelo réu, produzidas as provas indispensáveis à
respetiva apreciação, o juiz decide qual é o tribunal competente para a ação ao abrigo do artigo 105º,
nº1.

- Se a exceção de alguma das alíneas for julgada procedente, por o tribunal ser considerado
incompetente, o processo é remetido para o tribunal competente.
- Se a exceção de alguma das alíneas for julgada improcedente, o processo prosseguirá normalmente
no tribunal onde se encontra pendente.
è A remessa da ação para o tribunal competente ou o seu prosseguimento no tribunal onde foi
proposta a ação só se verificarão depois de ter transitado em julgado o despacho que
apreciou a exceção de incompetência relativa nos termos do artigo 105º, nº3.
No caso de a incompetência radicar na violação de pacto privativo de jurisdição, o juiz não pode
ordenar a remessa do processo para o tribunal estrangeiro competente, visto que, a sua jurisdição
não vai alem das fronteiras de Portugal à só lhe resta proferir despacho a absolver o réu da instância.
- Tendo o processo sido remetido para outro tribunal, aí continuará os seus termos, visto que, a
instância não foi julgada extinta ao abrigo do artigo 278º, nº2.
è Da decisão que aprecie a competência cabe reclamação, com efeito suspensivo, para o
presidente da respetiva Relação, o qual decide definitivamente a questão – artigo 105º, nº4.
E, nos termos do nº2 deste artigo, a decisão transitada em julgado resolve a questão da
competência, mesmo que tenha sido oficiosamente suscitada
Neste sentido, se a exceção for julgada improcedente, não mais pode vir a ser discutida esta questão
no processo; se a exceção for julgada procedente, o processo é remetido para o tribunal competente
(artigo 105º, nº3) – fica vinculado à decisão do juiz que ordenou a remessa do processo, isto é, o juiz
do tribunal ad quem, ao receber o processo, não poderá declarar-se incompetente.
Nestes casos, a decisão transitada em julgado tem força de caso julgado material e resolve-se assim
definitivamente a questão.

As Partes

As partes processuais constituem os sujeitos que requerem ou contestam a concessão de tutela


judiciária para uma determinada situação subjetiva ou que auxiliam a parte que a requer ou a
contesta.

Espécies das partes


• Partes principais: autor e réu;
• Partes acessórias: têm um interesse conexo com o que está na causa do processo; é um
interesse próprio e não alheio, mas é conexo – assumem uma função auxiliar – ex.: assistente
– 326º e seguintes;
A parte que requer a tutela é o autor e a parte que a contesta é o réu.
A parte que auxilia o autor ou o réu é uma parte acessória.
Podem ainda intervir no processo terceiros, que não sejam parte na ação – intervenção de terceiro.
Note-se que nem todos os terceiros em relação ao processo são necessariamente terceiros perante
a própria parte que está em juízo - por exemplo, artigo 581º, nº2, a propósito das exceções da
litispendência e do caso julgado, que nos diz que na aferição destas exceções, quando há́ necessidade
de verificar se as partes são as mesmas, então o que se considera não é uma identidade física, mas
sim uma identidade do ponto de vista da qualidade jurídica à é o caso do de cuius e dos herdeiros,
que possuem a mesma qualidade jurídica e, por isso, constituem apenas uma parte – identidade de
partes.
Deste modo, há́ que distinguir entre:
1. Terceiros perante o processo.
2. Terceiros perante as partes.
Esta distinção tem consequências, nomeadamente para efeitos de impedimento do juiz. Por
exemplo, imagine-se que é proposta uma ação contra um devedor solidário, e que esse devedor
solidário é uma pessoa completamente estranha ao juiz, mas sucede que o outro devedor solidário,
que não foi demandado, é, por exemplo, cônjuge do juiz: poder-se-ia dizer que neste caso não
haveria nenhum impedimento a que o juiz julgasse a causa, uma vez que o seu cônjuge não era parte
no processo. Mas pergunta-se: irá mesmo o juiz julgar uma causa em que o seu cônjuge é devedor
solidário do réu? Tal não poderá́ acontecer, justificando que o devedor demandado e o devedor não
demandado não sejam partes diferentes.

Þ Regras:
O representante (ex: em caso de menores) da parte não vê̂ os efeitos refletirem-se na sua esfera,
mas sim na esfera jurídica do representado.
è Não é possível que a mesma parte seja simultaneamente parte ativa e parte passiva
(proibição do negócio consigo mesmo). Por exemplo, duas filiais da mesma sociedade não
podem litigar uma contra a outra.

» Identificação das partes – artigo 552º (petição inicial):


Delimitação das partes:
¾ Identificação das partes: quem identifica é o autor (552º1 a));
¾ Parte é quem é identificado como tal e não quem devia ser apontado como tal;
¾ Identificação do autor: não levanta problemas

- 3 problemas quanto à identificação do réu:


• Problema para quem queira demandar – problema na identidade do réu; ou o autor desiste
da ação ou então há absolvição do réu:
o Erro na identificação passiva quanto à pessoa – por exemplo, o autor engana-se e
indica como réu uma pessoa diferente daquela que deveria ter sido demandada. Em
termos processuais, este é um erro “irrelevante”, na medida em que não se pode
corrigir em termos processuais. A consequência que virá daqui é a improcedência da
causa.
• Erro na identificação do réu e não na sua identidade: não há dúvidas de que o réu é aquele;
troca-se, por exemplo, o nome ou o apelido; petição inicial pode ser corrigida de forma
oficiosa:
o Erro na identificação passiva quanto ao nome – por exemplo, o demandado chama-
se Joel e foi indicado como chamando-se João. Se vier a ser citado o Sr. Joel, não
haverá́ consequências; mas se realmente vier a ser citada uma pessoa diferente
daquela que o autor invocou, teremos uma situação de falta/inexistência de citação:
não pode ser citado numa ação alguém que não seja réu nessa mesma ação.
• Réu é corretamente identificado, e não há problema quanto à identidade, mas acaba por ser
citada uma pessoa diferente – 178º b): falta de citação;

Quando não existe uma das partes:


• Temos de distinguir consoante se trata de uma proposição de uma ação contra uma parte já
existente ou quando é superveniente:
o Quando é originariamente: falta de personalidade judiciária – 188º 1 d);
o Quando é superveniente – 269º1 a) e 279º: MAS, há possibilidade de sanação;

» Partes principais vs partes acessórias:


São partes principais o autor e o réu.
As partes acessórias são aquelas que assumem, em juízo, uma posição de apoio/auxílio das partes
principais, sendo que esse auxílio é resultante de o facto de as partes acessórias serem titulares de
uma relação jurídicas ou de um interesse que possa ser afetado pela decisão que seja proferida na
ação à por isso, a parte acessória tem interesse em que a ação seja julgada procedente quanto à
parte que auxilia.
è Podemos ver nos artigos 326º e ss. uma modalidade de intervenção de terceiros que
corresponde à modalidade de intervenção de parte acessória – o assistente.
Esta distinção também tem reflexo na possibilidade de intervenção do MP numa ação. O MP, dentro
das suas funções, pode também intervir, quer como parte principal (numa posição equivalente à de
autor ou de réu), quer como parte acessória – artigo 325º CPC.

» Ministério Público:
O MP é o órgão do Estado encarregado de o representar, exercer a ação penal e defender a legalidade
democrática e os interesses determinados pela lei. Neste sentido, compete ao MP representar não
só o Estado, mas também as regiões autónomas, as autarquias locais, os incapazes, os incertos e os
ausentes em parte incerta, defender a independência dos tribunais, promover a execução das
decisões dos tribunais para que tenham legitimidade, intervir nos processos de falência e me todos
os que envolvam interesse público e recorrer sempre que a decisão resulte de conluio das partes no
sentido de fraudar a lei ou tenha sido proferida com violação de lei expressa.
Assim sendo, o MP pode intervir como parte principal quando representa o Estado, as regiões
autónomas e as autarquias locais, os incapazes, os incertos e os ausentes e nos inventários
obrigatórios, ou como parte acessória quando intervém, não se se justificando a sua intervenção
como parte principal, sejam interessados na causa das regiões autónomas, as autarquias locais,
outras pessoas coletivas públicas, pessoas coletivas de utilidade pública, incapazes e ausentes.

Pressupostos processuais relativos às partes

Como resulta do artigo 152º, nº1, os juízes têm o dever de administrar a justiça, proferindo despacho
ou sentença sobre as matérias pendentes.
Para que o juiz possa dar razão ao autor, isto é, para que a ação seja julgada procedente torna-se
necessário que a providencia por si requerida esteja em conformidade com determinada norma de
direito substantivo.
Quando o juiz chega a proferir sentença julgando procedente ou improcedente a pretensão do autor,
diz-se que o tribunal conheceu do mérito da causa ou proferiu decisão de fundo à ao propor a ação,
o autor pretende que ela termine exatamente deste modo, isto é, com decisão sobre o mérito e,
proferida a sentença, esta torna-se inalterável logo que transite em julgado.
è Os requisitos necessários para que a ação possa proceder constituem as chamadas condições
da ação.
Porém, o juiz antes de se preocupar com a pretensão formulada pelo autor, terá de primeiramente
averiguar da existência dos chamados pressupostos processuais – estes constituem os requisitos de
cuja verificação depende a apreciação do mérito da causa à são as questões prévias ao
conhecimento de fundo e condicionam precisamente esse conhecimento, isto é, o conhecimento do
mérito da causa.
Neste sentido, a falta de pressupostos processuais pode determinar que o juiz se abstenha de
conhecer do mérito e, em vez disso, tenha de absolver o réu da instancia – o juiz deve procurar suprir
a falta de pressupostos processuais ou convidar as partes a fazê-lo, quando a sanação dependa de
atos a praticar por estes nos termos do artigo 6º, nº2. Mas, não sendo sanada a falta, geralmente o
juiz absolverá o réu da instância, o que não impedirá o autor de propor outra ação sobre o mesmo
objeto ao abrigo do artigo 279º, nº1.

Pressupsotos
processuais

Positivos Negativos

Aqueles cuja
Personalidade verificaçao obsta a que
Capacidade Judiciária
judiciária o juiz aprecie o mérito
da ação

Legitimidade Interesse processual Litispendência Caso julgado

Competência do Existencia de
Patrocinio judiciário
tribunal compromisso arbitra

A grande maioria dos pressupostos processuais é de conhecimento oficioso do tribunal – artigos 577º
e 578º.
Assim, temos como pressupostos:
¾ Personalidade judiciária;
¾ Capacidade judiciária;
¾ Legitimidade;
¾ Patrocínio;
¾ Interesse processual;

x PERSONALIDADE JUDICIÁRIA
A personalidade judiciária consiste na suscetibilidade de ser parte – artigo 11º, nº1 – partes são as
pessoas que requereram, ou contra as quais foi requerida a providencia judiciária que se pretende
alcançar através da ação à o processo exige, pelo menos, duas partes em posições opostas: o autor,
requerente ou demandante e o réu, requerido ou demandado. E, neste sentido, pode dizer-se que a
personalidade judiciária consiste na possibilidade de requerer ou de contra si ser requerida qualquer
das providencias de tutela jurisdicional reconhecidas na lei à faltando a personalidade judiciária,
não há sequer parte no processo.
Personalidade judiciária: suscetibilidade de ser parte à artigo 11º; só tem relevância dentro do
processo – há pessoas meramente judiciárias, que não são pessoas jurídicas; para além de ser
exclusivo em termos processuais, é também exclusivo de certo processo, segundo MTS.

Assim sendo, as partes devem ficar logo identificadas na petição inicial nos termos do artigo 552º,
nº1, a).
è Porém, outras pessoas podem vir a ter intervenção no processo quer em substituição
daquelas, quer ao lado delas: a substituição ocorre quando, no decurso da causa, ocorreu a
transmissão da coisa ou do direito litigioso por ato entre vivos – artigo 263º - ou por
substituição de pessoa falecida – artigo 351º.
- A intervenção de 3ºs pode ser espontânea ou provocada, conforme resulta, respetivamente,
dos artigos 311º e 316º.
Além do autor e do réu, como partes principais, podem outras pessoas assumir no processo uma
posição subordinada: são partes acessórias – ex: assistência – o assistente é uma pessoa que tem
interesse jurídico em que a decisão do pleito seja favorável a uma das partes e, por isso intervem no
processo como seu auxiliar nos termos do artigo 326º.

Þ Critérios de atribuição de personalidade judiciária:


- A personalidade judiciária é definida (critério de atribuição) na lei segundo o critério da coincidência
– quem tiver personalidade jurídica tem igualmente personalidade judiciária: artigo 11º, nº2 -
significa 2 coisas: todos os que têm personalidade jurídica têm personalidade judiciária - quem tem
personalidade judiciária pode ser parte de um processo - ex.: não se podem propor ações contra a
Câmara Municipal.

ASSIM, a personalidade jurídica vem a ser a qualidade de pessoa ou sujeito de direito – têm
personalidade judiciária todas as pessoas singulares, as pessoas jurídicas, ou seja, as pessoas
coletivas e as sociedades a que esta seja reconhecida.
Relativamente a sujeitos ou pessoas estrangeiras, há que considerar o artigo 26º CC, segundo
o qual, o inicio e o termo da personalidade jurídica são fixados pela lei pessoal de cada
individuo, que é a lei da sua nacionalidade ou, se o individuo for apátrida, a lei do lugar onde
ele tiver a sua residência habitual ou, se for menor ou interdito, o seu domicilio legal.
Relativamente às pessoas coletivas, a sua lei pessoal é a do Estado onde se encontra situada
a sede principal e efetiva da sua administração ou, se for uma pessoa coletiva internacional,
a designada na convenção que a criou ou nos respetivos estatutos ou, na sua falta, a do pais
onde estiver a sede principal: as sociedades comerciais têm como lei pessoal a lei do Estado
onde se encontre situada a sede principal e efetiva da sua administração.
Ou seja, as pessoas coletivas, porque dotadas de personalidade jurídica, têm igualmente
personalidade judiciária. É o que se verifica em relação às associações constituídas por
escritura pública e às fundações reconhecidas pela autoridade administrativa independente
(artigo 158º CC), às sociedades comerciais devidamente registadas (artigo 5º CSC) e às
sociedades civis sob forma comercial (artigo 1º, nº4 CSC).

- Porém, o princípio da coincidência sofre exceções, situações em que quem não tem personalidade
jurídica, tem personalidade judiciária: artigo 12º (lei chega a estender a personalidade judiciária a
quem não tem personalidade jurídica nos termos do disposto no artigo 12º: este preceito admite,
como partes na causa, entidades às quais não é reconhecida personalidade jurídica) e 13º:

- Critério da autonomia/diferenciação patrimonial (artigo 12º) – este artigo estende a personalidade


judiciária a entidades que não têm personalidade jurídica. É o caso da herança jacente (artigo 12º/a))
que consubstancia os bens que determinado de cuius deixou e ainda não foram aceites (artigo 2046º
CC); e ainda o caso dos patrimónios autónomos, tendo em consideração que o STJ entendeu que um
fundo de investimento imobiliário pode ser considerado um património semelhante ao da herança
jacente, não pela circunstância de não ter titulares, mas pela circunstância de os titulares desse fundo
de investimento serem de determinação muito difícil e de esta variar constantemente.

Artigo 12º:
¾ Herança jacente: a que está aberta, mas ainda não aceite nem declarada vaga para o Estado
– herdeiros ainda não estão determinados; artigo 12º - ação pode ser proposta contra a
herança jacente à herança jacente é a parte, tendo personalidade judiciária, não sendo
qualquer sucessível parte no processo.
¾ Patrimónios autónomos semelhantes cujo titular não esteja determinado: ex.: bens doados
ou legados ao nascituro: 952º CC à doutrina mais recente tem entendido que não tem
personalidade judiciária porque os seus titulares não são determinados;
- MTS defende que o artigo 12º a) última parte pode ser suscetível de interpretação extensiva:
aplicável aos patrimónios autónomos cujo titulares embora não sejam indeterminados, são
com uma multiplicidade tal que os aproxima dos patrimónios autónomos cujos titulares são
indeterminados;
¾ Associações sem personalidade jurídica e as comissões especiais;
¾ Sociedades civis;
¾ Sociedades comerciais irregulares: só adquirem personalidade jurídica com registo definitivo;
¾ Condomínio também tem personalidade judiciária;
¾ Navios – nos casos previstos em legislação especial: artigo 28º DL 352/86 – é o próprio navio
que responde, sendo este demandado – claro que é representado

Artigo 13º:
Nestes casos: pode propor-se a ação contra a sucursal ou pela própria sucursal – ou seja, este artigo
estende ainda a personalidade judiciária às sucursais, agências, filiais, delegações ou representações
de uma pessoa coletiva, se a ação proceder de factos por ela praticados à trata-se de entidades que
são apenas órgãos de administração local e, como tais, subordinados à administração central – em
princípio, não deviam ter personalidade judiciária, a qual pertence à pessoa coletiva ou sociedade.
Porém, quando estão em causa factos por elas praticados, podem demandar e ser demandadas.

¾ Artigo 13º, nº2:


O nº2 deste artigo prevê os casos em que o facto foi praticado pela administração principal sedeada
no estrangeiro, quando está em causa obrigação contraída por um português ou estrangeiro
domiciliado em Portugal à se a administração principal tiver a sede ou o domicilio em país
estrangeiro, as sucursais, agências, filiais, delegações ou representações estabelecidas em Portugal
podem demandar e ser demandadas, ainda que a ação derive de facto praticado por aquela, quando
a obrigação tenha sido contraída com um português ou com um estrangeiro domiciliado em Portugal.
o Se tiver sede ou domicílio em território nacional, só terão personalidade judiciaria as
sucursais, agências, filiais, delegações ou representações quando o objeto da ação diz
respeito a factos por ela praticados;
o Se a administração principal tiver a sede ou domicílio no estrangeiro, à administração local é
reconhecida personalidade judiciária, não só em relação aos factos por si praticados, mas
também aos que foram praticados pela administração central, quando a obrigação tenha sido
contraída com um português ou com um estrangeiro domiciliado em Portugal.
A atribuição da personalidade judiciária às sucursais e outras congéneres não atinge a personalidade
da sociedade ou pessoa coletiva, podendo esta demandar e ser demandada.

Note-se que a regra do artigo 13º cede perante a do artigo 7º Regulamento 1215/2012, na medida
em que, de acordo com o artigo 7º, nº5, a sucursal só pode ser “acionada” se o litígio estiver
relacionado com a exploração da mesma (funcionamento da sucursal – ex: contrato de exploração
de serviços de fornecimento de aguas). Assim, se o litígio não estiver relacionado a exploração da
sucursal, esta não é “acionável” e, por isso, não se poderá́ recorrer ao artigo 13º, nº2 CPC.
è Assim, se o Regulamento 1215/2012 for aplicável e o litígio não estiver relacionado com a
exploração da sucursal, o artigo 13º, nº2 CPC não poderá́ ser aplicado.

NOTA: todas as entidades a que é reconhecida personalidade judiciária nos


termos dos artigos 12º e 13º, são representadas em juízo nos termos
definidos pelo artigo 26º.
Artigo 13º, nº2 CPC:
• Administração principal com sede em país estrangeiro
• Sucursal em Portugal
• Podem demandar e ser demandadas
• Facto: pode estar relacionado com a sociedade ou com a sucursal
• Residente português ou domiciliado em Portugal

Artigo 7º, nº5:


• Administração principal na UE
• Facto tem de estar relacionado com a exploração de sucursal – este é o cerne da discussão
(ao contrário do 13º CPC que abrange tanto a sociedade como a da sucursal) à
• Tribunal do lugar da sucursal – regra de competência

MTS diz que só podemos aplicar o 13º, nº2 quando não aplicamos o regulamento – porque se
pudéssemos aplicar o regulamento e aplicássemos este estaríamos a fugir ao regulamento:
estaríamos a ferir a supremacia do legislador comunitário.

è Esta problemática só se coloca do lado passivo.


Se for do lado ativo: CPC.

MTS fala ainda em:


- Critério da afetação do ato – têm personalidade judiciária as sucursais, agências, filiais ou
delegações de uma pessoa coletiva relativamente a atos que por elas tenham sido praticados (artigo
7º, nº1) à quem praticou o ato pode igualmente estar em juízo quando a ação o tem por objeto (ex:
a filial de uma cadeia de supermercados possui personalidade judiciária para instaurar uma ação de
pagamento de bens fornecidos a um cliente ou para ser demandada pelos prejuízos causados com a
sua não entrega – é claro que a concessão dessa personalidade judiciaria em nada atinge a mesma
personalidade da própria pessoa coletiva, que continua a poder demandar e ser demandada.

- Critério da proteção de terceiros – segundo o critério da proteção de terceiros, é atribuída


personalidade judiciária passiva – e apenas passiva – às pessoas coletivas irregulares embora estas
pessoas irregulares, quando demandadas, possuam personalidade judiciária para a dedução de
reconvenção. MAS, a concessão de personalidade judiciária às pessoas coletivas irregulares não é
exclusiva: a ação pode ser proposta só contra a pessoa irregular, apenas contra os sujeitos que,
segundo a lei, tenham responsabilidade pelo facto que serve de causa de pedir da ação ou
simultaneamente contra a pessoa irregular e aqueles sujeitos (artigo 8º, nº1).
Consequências da falta de personalidade
A falta de personalidade judiciária é, em princípio, insanável, o que significa que, tendo sido
constatada a sua falta, seja do lado do autor ou do lado do réu, o tribunal deverá proferir despacho
em que diz abster-se de conhecer do pedido, absolvendo o réu da instância, por força do disposto no
artigo 278º, nº1, c).
Exemplo: Imagine-se que é proposta uma ação contra uma pessoa coletiva que não existe ou contra
uma pessoa singular que faleceu: em ambos os casos se tratam de situações de inexistência. O
problema que se coloca é o de saber se esta inexistência se reconduz a outra situação relativa às
partes, ou se pelo contrário pode ser reconduzida à falta de personalidade judiciária. TEIXEIRA DE
SOUSA adota esta última posição, afirmando que se se trata de uma situação de inexistência, a parte
não tem personalidade judiciária, uma vez que nem sequer pode ser parte.

MAS, o artigo 14º prevê uma exceção - a falta da personalidade judiciária é um pressuposto
insanável, em regra. Contudo pode ser sanável nos termos do artigo 14º: quando a ação foi
indevidamente proposta contra a sucursal, agência ou filial, delegação ou representação, a falta de
personalidade judiciária pode ser sanada mediante a intervenção da administração principal e a
ratificação ou repetição do processado.
Ou seja, se a ação foi proposta contra qualquer dessas entidades quando o devia ter sido contra a
administração principal, o vicio pode ser sanado pela intervenção desta no processo: ou ratifica todo
o processado que, por isso, prosseguirá, ou não ratifica e, neste caso, terá de ser repetido.
è Quando não é possível a sanação: pressuposto insuprível, estamos perante uma exceção
dilatória – 278º1 c); 571º2 2ª parte; 577º c).

O artigo 14º, contudo, não distingue consoante se trate de uma sucursal demandante ou de uma
sucursal demandada:
¾ Quando a sucursal seja autora na causa, o juiz deve, cumprindo o artigo 6º, nº2, ordenar a
citação da respetiva administração principal. Se esta intervier e ratificar o processo, fica
regularizada a instância.
- Se intervier mas, em vez de ratificar, repetir o processado, tal garantirá também a
regularização da instância.
- Já se a administração principal não intervier, persiste o vício e o juiz absolverá o réu da
instância.
¾ Se a sucursal for ré́ na causa, o juiz, ainda em cumprimento do artigo 6º, nº2, deve também
ordenar a citação da administração principal da demandada, como meio de assegurar a
regularização da instância: assim, a administração principal pode intervir, ratificando ou
repetindo o processado.
- Se esta não intervier, não ratificando nem repetindo o processado, o problema já não se
coloca ao nível do pressuposto da personalidade judiciária, uma vez que o vício foi entretanto
suprido por via da citação da administração principal. Neste caso, tudo se passa como se,
desde o início, a ação tivesse sido instaurada diretamente contra a administração principal,
pelo que a contestação fica sem efeito e o ente jurídico em causa incorre em revelia do réu
(artigos 567º e 568º) à não haverá́ justificação neste caso para a absolvição da instância,
uma vez que tal configuraria uma vantagem injustificada para a administração principal, com
a agravante de isso ser pouco compatível com o principio da economia processual, na medida
em que é previsível que uma nova ação (similar à primeira) venha a ser proposta contra esta
administração principal.
Note-se que, a citação ordenada pelo juiz, à luz do artigo 6º, nº2, não impede que a parte contrária
à sucursal requeira a citação da administração principal desta, como forma de tentar sanar o vicio e,
também será de admitir a intervenção da administração principal por sua própria iniciativa.

No caso de a falta de personalidade judiciária resultar de a ação ter sido proposta pelo representante
de pessoa falecida ou contra pessoa falecida, pode pôr-se termo a tal falta mediante a habilitação
dos sucessores prevista no artigo 351º.
ASSIM:
• A falta de personalidade judiciária não sanada constitui uma exceção dilatória nos termos do
artigo 577º, c) – é de conhecimento oficioso.
• Se a citação do réu depender de prévio despacho judicial e a exceção não for sanável nos
termos do artigo 14º, o artigo 226º, nº4 estipula que, pode o juiz indeferir liminarmente a
petição inicial;
• Se a falta de personalidade judiciária só for reconhecida no despacho saneador, deve o juiz
proferir despacho de absolvição do réu da instância.
• Quando a falta de personalidade judiciária for sanável, nos termos do artigo 14º, o tribunal,
antes de proferir despacho de absolvição do réu da instância, deve providenciar para que a
administração principal proceda à sanação nos termos do nº2 do artigo 6º.
Ou seja, nas hipóteses em que a falta de personalidade judiciária não é sanável, consubstanciar-se-á
uma exceção dilatória (artigo 577º, c) que é de conhecimento oficioso e as consequências serão
distintas atendendo ao momento em que se tem o conhecimento desse vicio:
1. Se a citação do réu depender de prévio despacho judicial – artigo 266º, nº4 – e se a exceção
não for sanável nos termos do artigo 14º, pode o juiz, em vez de ordenar a citação, indeferir
liminarmente a petição inicial.
2. Se a falta de personalidade judiciária só́ for reconhecida no despacho saneador, deve o juiz
proferir despacho de absolvição do réu da instância por falta de um pressuposto processual.
Imunidades diplomáticas
Por vezes, há dadas entidades que não estão sujeitas à jurisdição do Estado português – imunidade
de jurisdição: não podem demandadas no tribunal português, sem o seu consentimento.
Gozam de imunidades de jurisdição, ou seja, não podem ser demandadas no tribunal de outro
Estado:
1. Diplomatas – convenção sobre relações diplomáticas – 1961: ver artigo 31º como exceções;
convenção sobre as relações consulares: ver artigo 43º como exceções;
2. Certas organizações internacionais – ex: ONU; UE; Banco Central Europeu;
3. Estados estrangeiros – depende, contudo, a que titulo é que o Estado age. Neste âmbito,
distinguem-se:
o Atos de soberania (ius imperii) – por estes atos, o Estado não pode ser demandado nos
tribunais de outro Estado.
o Atos de gestão – ex: a embaixada daquele Estado celebrar um contrato de empreitada.
Por estes atos, o Estado já poderá́ ser demandado no tribunal de outro Estado.
O Estado só goza de imunidade nos seus poderes de soberania e não quando está no mesmo patamar
de uma pessoa singular; mesmo nos primeiros atos, o tribunal pode conhecer uma ação proposta
contra um Estado estrangeiro, quando este renuncia – esta renúncia pode ser expressa ou tácita.
è Estas regras estão codificadas na convenção das Nações Unidas sobre as imunidades – 17 de
janeiro de 2005

A imunidade é renunciável.

x CAPACIDADE JUDICIÁRIA
Para que o juiz possa conhecer do mérito da causa não basta que as partes tenham personalidade
judiciária: é necessário que possuam igualmente capacidade judiciária.
è Esta matéria está regulada nos artigos 15º a 29º.

Neste sentido, a capacidade judiciária traduz-se na aptidão para adquirir direitos e para os exercer –
podemos considerar 2 graus de capacidade:
¾ Capacidade de gozo de direitos;
¾ Capacidade de exercício desses direitos.
Na generalidade, as pessoas têm capacidade de gozo de direitos, o que se traduz na capacidade
judiciária. No entanto, a lei, por vezes, impõe algumas restrições a essa capacidade de gozo, bem
como limitações à capacidade de exercício dos direitos à assim sendo, neste ultimo caso, embora a
pessoa tenha plena capacidade de gozo de direitos, a lei, pretendendo protege-la contra a sua
inexperiência (caso da menoridade) ou contra o seu deficiente estado de saúde mental (caso de
acompanhamento de maior), determina que não poderá exercer por si os direitos de que é titular,
apenas o podendo fazer por meio de um representante legal.
è Incapacidade de exercício de direitos: artigos 123º (incapacidade dos menores) e 138 e ss.
(acompanhamento de maior) CC.

Artigo 15º - capacidade judiciária consiste na suscetibilidade de estar, por si, em juízo – significa
também o poder de escolher livremente quem o representa na ação: capacidade de exercício de
direitos e deveres processuais porque quem tem capacidade judiciaria pode praticar qualquer ato
em juízo à aqueles que não possuem capacidade judiciária não podem estar por si mesmos em juízo
nem por meio de representante por si livremente escolhido, na medida em que, o seu representante
é imposto por lei.
ASSIM, a capacidade judiciária tem por base e por medida a capacidade de exercício de direitos: nº2
do artigo 15º: correspondência entre a capacidade judiciária e a capacidade do exercício de direitos,
o que significa que, possuem plena capacidade judiciária aqueles que possuem igualmente total
capacidade de exercício de direitos: geralmente as pessoas singulares ou coletivas possuem plena
capacidade de exercício de direitos.
è Possibilidade de poder estar por si em juízo implica a possibilidade de a parte, por si, tomar
diversas decisões relativas à lide, seja a de propor ou não propor a ação, de contestar ou não
a ação, a de desistir da instância ou do pedido, a de confessar o pedido e a de transigir.

Esta disposição levanta um problema de interpretação (MTS) – podemos ver esta capacidade de
exercício em função do ato que justifica o processo; mas podemos também ver esta capacidade de
exercício em função dos efeitos que podem decorrer do processo.
Por exemplo, no caso de uma ação feita a um incapaz, a lei estabelece que o incapaz tem capacidade
para aceitar a ação, contudo, sendo parte num processo, este não tem capacidade para estar em
juízo, ou seja, não tem capacidade judiciária.
Deste modo, quando se lê “por base e por medida a capacidade do exercício de direitos”, deve
entender-se antes que a capacidade judiciária tem por base e medida a capacidade para produzir os
efeitos que podem decorrer da ação.
→ Há uma novidade legislativa, que suprime as categorias da interdição e da inabilitação,
substituindo-as pelo regime do maior acompanhado. Isto traduz-se, concretamente, em que há
situações de incapacidade de exercício que são supridas pelo representante e, à luz deste novo
regime, pelo acompanhante e, no caso dos (antigos) inabilitados, através da autorização para propor
a ação.
Quanto à parte passiva, não faz sentido autorizar alguém a ser réu e, por isso, não é exigida tal
autorização. Contudo, no caso de o réu estar sujeito a um regime de representação, a situação é
diferente: exigir-se-á́ que a ação seja proposta contra o incapaz, mas indicando o representante do
incapaz.
è O facto de alguém não ter capacidade judiciária, não significa que não tem personalidade
judiciária. Embora sendo parte, e tendo personalidade judiciária, não pode por si só estar em
juízo. O menor que não tem capacidade judiciária é claro que tem personalidade, mas por
exemplo não pode iniciar a PI, outorgar a procuração, receber a citação, etc.

Em todo o caso, em algumas situações, nomeadamente naquelas que constam do artigo 40º e 58º
das ações declarativas e executivas as partes têm de estar representadas obrigatoriamente por
advogados: não interessa neste caso se a parte é ou não capaz porque mesmo que seja capaz tem
de estar, nestes casos, representada em juízo. Neste sentido, costuma dizer-se que a representação
que é feita pelo advogado é independente da capacidade judiciária e que é limitada à técnica do
processo e não à condução do mesmo: teoricamente, isto quer dizer que, quem comanda o processo,
é a parte e não o advogado e que o advogado faz apenas aquilo que a própria parte lhe ordena na
parte técnica à a realidade está longe de ser assim porque a politica do processo em grande parte
é realizada pelo próprio advogado.
è Esta forma de representação distingue-se da capacidade judiciaria pelo facto de a
representação ser feita para efeitos meramente técnicos (TEIXEIRA DE SOUSA não concorda).

A capacidade judiciária pode ser definida como a capacidade da pessoa por si, pessoal e livremente,
decidir sob orientação de defesa dos seus interesses em juízo, em aspetos que não são de mera
técnica jurídica porque os aspetos de mera técnica jurídica, seja a parte capaz ou incapaz, têm de ser
representados por um advogado.

Contudo, algumas pessoas têm a sua capacidade de exercício de direitos limitada e, neste caso, a sua
capacidade judiciária acompanha essa limitação.

Quando falamos de capacidade de exercício há, desde logo, duas situações a considerar:
• Pessoas coletivas – necessitam sempre de representação: representação orgânica: só podem
estar em juízo representadas (representação orgânica). A lei trata da representação orgânica
nos artigos 24º (representação do Estado) e 25º (representação das outras pessoas coletivas
e sociedades):
o Artigo 24º - o Estado é representado pelo Ministério Público, sem prejuízo dos casos
em que a lei especialmente permita o patrocínio por mandatário judicial próprio,
cessando a intervenção principal do Ministério Público logo que este esteja
constituído.
o Artigo 25º - encontra-se neste artigo uma norma remissiva: “as demais pessoas
coletivas e as sociedades são representadas por quem a lei, os estatutos ou o pacto
social designarem” (artigo 25º, nº1).
• Pessoas singulares: rata-se de uma capacidade natural, sendo que, em situações de
incapacidade, essa incapacidade poderá́ ser suprida pela representação:
o Têm capacidade de exercício – não necessitam de representação;
o Não têm capacidade de exercício – necessitam de representação em juízo: legal.

O artigo 26º refere-se aos casos em que as entidades têm personalidade judiciária, mas não têm
personalidade jurídica: Salvo disposição especial em contrário, os patrimónios autónomos são
representados pelos seus administradores e as sociedades e associações que careçam de
personalidade jurídica, bem como as sucursais, agências, filiais ou delegações, são representadas
pelas pessoas que ajam como diretores, gerentes ou administradores.

Incapacidade judiciária: situação que se verifica quando uma entidade que não goza de capacidade
judiciária em geral ou para os atos discutidos no processo, surge a atuar por si no processo.
Esta, num sentido amplo, pode originar a falta de um pressuposto processual (absolvição da instância
– todo o processo fica inquinado) ou a falta de um pressuposto de atos processuais (o processo
continua e não termina por faltar a capacidade judiciária porque esta respeita apenas a um ato do
processo).
Ex.: quando, do lado ativo, o autor é menor ou é um maior acompanhado carecido de representação
e este propõe a ação ou ele próprio assina a procuração. Também pode acontecer se o maior
acompanhado demande o réu sem essa autorização. Incapacidade judiciária que gera a falta de um
pressuposto processual.
Ex. do lado passivo: a ação é proposta contra o próprio incapaz e é citado o próprio incapaz (porque
não se citou o representante ou se citou mal). Se não houver sanação, a consequência é a absolvição
da instância.

Representação orgânica das pessoas coletivas


É consultado o direito substantivo (civil ou comercial) e, vê-se, de acordo com este, quem é que tem
capacidade para representar a pessoa coletiva e esse mesmo órgão que tem capacidade para
representar a pessoa coletiva em juízo – artigo 25º, nº1: as pessoas coletivas são representadas por
quem é eleito.
Genericamente, há que considerar o artigo 163º CC e 996º, nº1 CC e alguns preceitos do CSC que
definem qual o órgão ou entidade que representa a sociedade: ex – sociedade por quotas é
representada pelo gerente; sociedade anónima é representada pelo conselho de administração.
Há ainda que acrescentar as situações que nos termos do artigo 12º correspondem a pessoas
judiciárias, isto é, as entidades que têm personalidade judiciaria e, que não têm personalidade
jurídica: artigo 12º estende-se a personalidade judiciária para alem da personalidade jurídica.
è Quem é que representa um algo autónomo: ex – herança jacente?
- vamos ao direito substantivo – regime civil.
Podemos também ainda ter presente o disposto nos artigos 195º e 163º CC quanto as associações
que não tenham personalidade jurídica: resulta que essa representação cabe às pessoas que são
gerentes ou administradores.

Representação legal: pessoas singulares


Artigo 15º, nº2: orientação para sabermos como é que aferimos a capacidade judiciaria das pessoas
singulares: tem por base e por medida a capacidade de exercício à quem tiver capacidade de
exercício, tem capacidade judiciaria.
è Problema: capacidade de exercício para quê?
- é sempre possível que qualquer ação termine com uma decisão de procedência ou de
improcedência. Mas, se desde logo, nos der a entender que esta base medida da capacidade
de exercício deve ser uma capacidade de exercício em relação a qualquer dos possíveis efeitos
da ação: este preceito tem-se interpretado no sentido em que esta capacidade de exercício é
para a produção tanto de efeitos positivos (favoráveis à parte) como para a produção de
efeitos negativos (desfavoráveis à parte).
- Ex: suponha que: é doado um computador a um menor: a doação ne sequer necessita, para
produzir efeitos, de ser aceite: partir do momento em que foi celebrado o contrato de doação,
o menor tem direito ao bem.
- Se o doador não entregar o computador, o menor tem capacidade de exercício para exigir o
computador que foi doado?
- Isto ilustra o analisado anteriormente: para obter um resultado favorável, o menor
tem essa possibilidade de receber o computador; mas o menor tem de ter capacidade
para alienar o bem que lhe foi doado? Ele tem capacidade para o efeito favorável, mas
não tem capacidade para alienar o computador: para tal ação, o menor tem de estar
representado em juízo: nº2 do artigo 15º - não tem nada a ver com o ato que entrega
a causa de pedir porque a causa de pedir é a doação e para aceitar a doação este tem
capacidade, apenas não tem para instaurar uma ação que se possa traduzir em efeitos
negativos.

Distingue-se a:
¾ Parte ativa – regra do nº1 do artigo 16º: os menores e os maiores acompanhados sujeitos a
representação só podem estar em juízo pelos seus representantes à os menores têm
representantes legais que são os seus progenitores e o maior acompanhado tem um
representante legal.
¾ Parte passiva – ex: situação de um menor que vai ser réu: em matéria da representação não
há nenhuma diferença: 16º, nº1; um menor acompanhado para ser réu necessita de
autorização: não – artigo 19º, nº1 – autorização para a prática de atos em juízo, mas não para
ser demandado.
Esta distinção impõe-se porque há duas formas de suprir a incapacidade das pessoas singulares:
¾ Regra de representação – representação do incapaz por alguém;
¾ Regra de autorização – situação em que a parte tem de ser autorizada a praticar determinado
ato: ex – entende-se que determinados interesses estão a ser postos em causa por outra
pessoa e que é conveniente propor uma ação contra essa pessoa – quem vai propor a ação é
o maior acompanhado desde que tenha havido autorização.

Modos de suprimento da incapacidade judiciária – artigo 27º


Com a finalidade de proteger certas pessoas contra a sua inexperiência ou incompleta formação ou
contra o seu deficiente estado mental, a lei determina que não podem exercer, por si próprias, um
direito cuja titularidade lhes é reconhecida – estão nesta situação os menores e os maiores
acompanhados: a sua incapacidade de exercício é suprida pelos meios adequados previstos na lei.
è Os atos jurídicos não deixarão de ser exercitados pelo facto de o incapaz não os poder praticar
ele próprio.
Neste sentido, os menores e os maiores acompanhados sujeitos a representação só podem estar em
juízo por intermédio dos seus representantes, exceto quanto aos atos que possam exercer pessoal e
livremente nos termos do artigo 16º, nº1.

Importa considerar que são basicamente as relativas aos menores e aos maiores acompanhados:

Þ Dos menores:
A incapacidade dos menores é suprida pelo poder paternal e, subsidariamente, pela tutela, na
medida em que, quando os pais tenham sido excluídos, inibidos ou suspensos da administração dos
bens do menor, ser-lhe-á instituído um regime de administração de bens nos termos do artigo 1922º
CC.
Neste sentido, os menores são representados em juízo pelos seus pais, pelo que, é necessário o
acordo de ambos para a propositura de ações ao abrigo do artigo 16º, nº2.
è Nas ações propostas contra o menor, ambos os progenitores devem ser citados – artigo 16º,
nº3.
Isto leva ao problema de saber o que é que sucede na hipótese de haver um desacordo entre os dois
progenitores: quer na parte ativa, quer na parte passiva pode não haver consonância entre os pais –
ex: um pode entender que se deve intentar a ação e o outro discorda.
- A lei dá a solução para este problema – artigo 18º, nº1: divergência quanto à propositura da
ação; quando o desacordo entre os progenitores surge quando a ação já está proposta – ex:
menor ser demandado e os progenitores não estão de acordo quanto ao conteúdo da
contestação – artigo 18º, nº2 e 3.

Assim, se houver desacordo entre os pais há que distinguir:


• Se o desacordo surge acerca da conveniência de intentar a ação, pode qualquer deles
requerer ao tribunal competente para a causa a resolução do conflito – artigo 18º, nº1;
• Se o desacordo apenas surgir no decurso do processo pode qualquer dos pais, no prazo de
realização do primeiro ato afetado pelo desacordo, requerer ao juiz da causa que providencie
sobre a forma de o incapaz nela representado, suspendendo-se entretanto a instância –
artigo 18º, nº2.
Quando o requerimento é feito por um dos progenitores, o juiz depois de ouvir o outro e o MP,
decide de acordo com o interesse do menor: a representação pode ser atribuída a um dos pais ou ao
MP, ou pode ser designado curador especial – artigo 18º, nº3.

Em relação a estas situações, importa ter presente que há um regime mais amplo quanto aos
progenitores do que quanto aos tutores, na medida em que, relativamente aos tutores é importante
ter em mente o artigo 938º, e) CC: os tutores necessitam de uma autorização prévia do MP para
propor uma ação. Relativamente aos progenitores, estes têm poderes de representação mais amplos
do que os tutores e não necessitam, em todo e qualquer caso, de uma autorização para propor uma
ação: 938º, nº1, c) – necessitam de autorização apenas para revisão de coisa comum, mas não para
outras ações.

Þ Dos maiores acompanhados:


O maior impossibilitado, por razoes de saúde, deficiência, ou pelo seu comportamento, de exercer,
plena, pessoal e conscientemente, os seus direitos ou de cumprir os seus deveres, beneficia das
medidas de acompanhamento previstas no artigo 138º CC.
O acompanhamento em causa é decidido pelo tribunal, após audição pessoal e direta do beneficiário
e ponderadas as provas – em qualquer altura do processo, podem ser determinadas as medidas de
acompanhamento provisorias e urgentes – artigo 139º CC à O acompanhamento do maior visa
assegurar o seu bem-estar, a sua recuperação, o pleno exercício de todos os seus direitos e o
cumprimento dos seus deveres, salvo exceções: artigo 140º, nº1 CC.
è O artigo 141º CC estipula ainda que, o acompanhamento é requerido pelo próprio ou,
mediante autorização deste, pelo cônjuge, unido de facto, por qualquer parente sucessível
ou, independentemente de autorização, pelo MP.
O acompanhante, maior e no pleno exercício dos seus direitos, é escolhido pelo acompanhado ou
pelo seu representante legal, sendo designado judicialmente. Na falta de escolha, o
acompanhamento é deferido, no respetivo processo, à pessoa cuja designação melhor salvaguarde
o interesse imperioso do beneficiário nos termos do artigo 143º, nº1 e 2 CC.

Contudo,
O exercício pelo acompanhado de direitos pessoais e a celebração de negócios da vida corrente são
livres, salvo disposição da lei ou decisão judicial em contrário – são pessoais os direitos de casar ou
constituir situações de união, de procriar, de perfilhar ou de adotar, de cuidar e de educar os filhos
ou os adotados, de escolher profissão, de se deslocar no país ou no estrangeiro, de fixar domicilio e
residência, de estabelecer relações com quem entender e de testar.
No que diz respeito à publicidade, o artigo 893º CC determina que o juiz decide que tipo de
publicidade deve ser dada ao início, ao decurso e à decisão final do processo, em face de cada caso
concreto: quando necessário pode determinar-se a publicação de anúncios em sítio oficial, a
regulamentar por portaria do membro do Governo responsável pela área da justiça.
è Quando o interesse do beneficiário o justifique, o tribunal pode dirigir comunicações e ordens
a instituições de crédito, a intermediários financeiros, a conservatórias do registo civil, predial
ou comercial, a administradores de sociedades ou a quaisquer outras entidades – artigo 894º.
Assim, seguindo esta linha de pensamento, o processo segue os termos previstos nos artigos 891º e
ss e termina pela decisão do artigo 900º, em que o juiz designa o acompanhante e define as medidas
de acompanhamento à a decisão é passível de recurso de apelação, tendo legitimidade o
requerente, o acompanhado e, como assistente, o acompanhante – artigo 901º.
A decisão de acompanhamento transitada permite que, a pedido do requerente, do acompanhado,
do acompanhante ou do MP, sejam relacionados os bens do beneficiário – artigo 902º, nº1.
è Após o transito em julgado da decisão, o acompanhante pode requerer a anulação dos atos
praticados após as comunicações referidas no artigo 894º, quando estejam abrangidas pelas
medidas de acompanhamento – artigo 903º.
O artigo 904º dispõe acerca do termo e alteração do acompanhamento do seguinte modo:
1. A morte do beneficiário extingue a instância;
2. As medidas de acompanhamento podem, a todo o tempo, ser revistas ou levantadas pelo
tribunal, quando a evolução do beneficiário o justifique;
3. Ao termo e à modificação das medidas de acompanhamento aplicam-se, com as necessárias
adaptações e na medida do necessário, o disposto nos artigos 892º e ss, correndo os
incidentes por apenso ao processo principal.

Nomeação do representante legal

Pode acontecer que o incapaz não tenha representante legal na altura em que se pretende propor
uma ação em seu nome ou quando a ação foi proposta contra ele. A lei admite, no artigo 17º CPC, a
designação de um curador provisório em duas situações:
1. Quando o incapaz não tem representante legal e a ação é urgente – artigo 17º, nº1.
2. Quando o incapaz deva ser representado por um curador especial/provisório – artigo 17º,
nº3. E quando é que deve ser? Nas situações em que o litigio é entre o próprio representante
e o representado (ex: ação de impugnação da paternidade – artigo 1846º, nº3 CC) e quando
o próprio conflito seja entre representados pelo mesmo representante.

Assim:
Os menores e os maiores acompanhados sujeitos a representação só podem estar em juízo por
intermedio dos seus representantes, exceto quanto aos atos que possam exercer pessoal e
livremente nos termos do artigo 16º - os menores cujo exercício das responsabilidades parentais
compete a ambos os pais são por estes representados em juízo, sendo necessário o acordo de ambos
para a propositura de ações.

Porém, pode acontecer que o incapaz não tenha representante legal na altura em que se pretende
propor uma ação em seu nome ou quando a ação foi proposta contra ele à se a urgência da
nomeação do representante não se compadece com a demora própria do respetivo processo, deverá
ser nomeado um curador provisório que cessará as suas funções logo que seja nomeado o
representante legal ao abrigo do artigo 17º.
- Se a questão da incapacidade judiciária surgir no momento da citação, por se ter verificado a
impossibilidade de o citado a receber, o incapaz será representado na ação por um curador especial:
artigo 20º, nº1.
è A representação do curado especial cessa quando for julgada desnecessária ou quando se
juntar documento que mostre ter sido concedido o benefício de acompanhamento e
nomeado representante ao acompanhado – o representante nomeado no processo de
proteção através de acompanhamento é citado nos termos do artigo 20º, nº1 e 4.
Nos termos do artigo 17º, nº2, o curador provisório pode praticar os mesmos atos que competiriam
ao representante geral, cessando as suas funções logo que o representante nomeado ocupe o lugar
dele no processo.

- Pode ainda surgir a necessidade de nomear curador provisório, apesar de não faltar o representante
legal: é o que sucede quando, no decurso do processo, se verifica a falta de acordo dos progenitores
quanto à orientação da defesa dos interesses do menor – artigo 18º, nº2.
- Os maiores acompanhados que não estejam sujeitos a representação podem intervir em todas as
ações em que sejam partes e devem ser citados quando tiverem a posição de réus, sob pena de se
verificar a nulidade correspondente à falta de citação, ainda que, tenha sido citado o acompanhante
ao abrigo do artigo 19º, nº1.

Defesa do incapaz pelo Ministério Público (sub-representação: artigo 21º):


A lei procura salvaguardar os interesses dos incapazes e, por isso, perante uma situação em que o
incapaz é demandado e não contesta, a lei procura evitar que esta falta de contestação fique na
negligência dos seus representantes.
Assim, dá a lei ao incapaz uma segunda oportunidade de defesa, a cargo do MP (sub-representa-te),
sempre que o incapaz ou o seu representante legal, quando devidamente citados, não deduzirem
oposição. Para isso, é citado o MP e corre novamente o prazo para a contestação.

Neste sentido, as pessoas que, por anomalia psíquica ou outro motivo grave, estejam
impossibilitadas de receber a citação para a causa são representadas nela por um curador especial
de acordo com o artigo 20º, nº1 à se o incapaz ou o seu representante legal não deduzir oposição,
incumbem ao MP a defesa dele, para o que será citado, preferencialmente por transmissão
eletrónica de dados, nos termos definidos na portaria prevista no nº1 do 132º, correndo novamente
o prazo para a contestação: artigo 21º, nº1.
è Quando o MP represente o autor, será nomeado um defensor oficioso – artigo 21º, nº2 –
este defensor oficioso desempenhará o papel que ao MP caberia.
Posto isto, cessa a representação do MP ou do defensor oficioso, logo que seja constituído
mandatário judicial do ausente ou do incapaz – artigo 21º, nº3 – não surgirá, portanto, a necessidade
de tal representação, se o ausente ou o incapaz já tiverem constituído mandatário judicial.

INCAPACIDADE JUDICIÁRIA QUE CONSTITUI FALTA DE UM PRESSUPOSTO DE ATOS PROCESSUAIS:


O processo está regularmente, mas depois há atos que sofrem desta incapacidade. Imagine-se que o
menor replica ou interpõe recurso sem esta representação. O processo constitui-se regularmente, o
que sucede é que falta o pressuposto capacidade para a prática daqueles atos. Se não houver
sanação, tudo se passa como se a réplica não tivesse sido apresentada pelo autor ou o recurso não
tiver sido interposto. Tais atos não podem valer no processo, sem sanação.
Repartição do ónus da prova no que toca à incapacidade judiciária:
O autor é que tem que provar a capacidade judiciária do réu – o pressuposto capacidade judiciária
destina-se a proteger o incapaz. O réu, por seu turno, tem que provar a (in)capacidade judiciária do
autor.

Sanação da incapacidade judiciária e da irregularidade de representação


É importante ter em conta que ao autor incumbe assegurar os pressupostos processuais, mas já não
lhe incumbe assegurar os pressupostos dos atos processuais do réu.
O autor, para assegurar o pressuposto da capacidade judiciária deve:
1. Se for incapaz, estar representado;
2. Se for o réu o incapaz, propor a ação contra ele, mas indicando os seus representantes.
A capacidade judiciária, contudo, também é um pressuposto de atos processuais: o ato praticado
pela parte não é válido se não for praticado pelo representante do incapaz. Mas aí a consequência é
que é o ato processual que fica sem efeito, não havendo situação de falta de um pressuposto
processual.

Assim, a incapacidade judiciária e a irregularidade de representação são sanadas mediante a


intervenção ou a citação do representante legitimo do incapaz – artigo 27º, nº1.
è Se estes ratificarem os atos anteriormente praticados, o processo segue como se o vicio não
existisse – artigo 27º, nº2: ou seja, se o incapaz estiver por si em juízo, quando só́ podia estar
por intermédio do seu representante legal, verifica-se um caso de incapacidade judiciária,
que constitui uma exceção dilatória (artigo 577º, c)). A incapacidade judiciária pode, no
entanto, ser sanada a todo o tempo pela intervenção do representante legítimo: basta que
este ratifique o processado pelo incapaz para que o vício se considere sanado.
No caso de não ratificação, fica sem efeito o processado a partir do momento em que a falta se
verificou, renovando-se os prazos para a prática dos atos atingidos.
Se o vício não for sanado (não houver ratificação nem repetição), ou seja, havendo omissão, há́ que
distinguir entre a situação de:
1. Falta de um pressuposto processual – a consequência é a absolvição do réu da instância por
incapacidade judiciária, que constitui uma exceção dilatória (artigo 577º, c)).
2. Falta de um pressuposto de um ato processual – a consequência é que ato praticado pelo
incapaz fica sem efeito, originando uma situação de revelia; mas o processo continua. É o que
sucede se faltar a capacidade judiciária em relação a outros atos que não a P.I. (em relação à
qual a representação, em caso de incapacidade, é condição do pressuposto de capacidade
judiciária), como por exemplo, a réplica, esses ficarão sem efeito, mas o processo continua,
uma vez que nestes casos a falta de representação leva apenas à falta de um pressuposto de
um ato processual.

Há que distinguir três situações:


a) Incapacidade stricto sensu – sucede quando, violando o artigo 16º, nº1, o incapaz não está
representado, seja do lado passivo seja do lado ativo:
o Regime aplicável é o do artigo 27º, nº1, conjugado com o do artigo 28º, nº2, sendo o
regime sempre o mesmo (o representante legal deve intervir, ratificando ou
repetindo, caso contrário fica sem efeito o processado pelo incapaz), dependendo
depois do momento em que o juiz se apercebe do vício:
§ Se o vicio se verificar logo na petição inicial:
¾ Se o incapaz for o autor e não houver ratificação nem repetição pelo
representante, o juiz profere despacho liminar, havendo lugar à
absolvição da instância (artigos 577º, c) e 278º, nº1 c)).
¾ Se o incapaz for o réu, o processo prossegue, produzindo-se as
consequências próprias da omissão do ato em causa, por invalidade do
praticado pelo incapaz (citação do MP para assumir a sub-
representação e, se ele não contestar, revelia do réu).
§ Se o vício respeitar a ato processual posterior à propositura da ação – ou seja,
o juiz apenas se apercebe do vício posteriormente à P.I. (ex: réplica pelo
incapaz):
¾ O processo prossegue, produzindo- se as consequências próprias da omissão do ato em
causa, por invalidade do praticado pelo incapaz (citação do MP para assumir a sub-
representação e, se ele não contestar, revelia do réu).
b) Irregularidade – sucede quando, embora o incapaz esteja representado em juízo, não o está
pelo devido representante legal:
o Nos casos de irregularidade, aplica-se novamente o regime dos artigos 27º e 28º,
dependendo novamente do momento em que o juiz se apercebe do vício.
o Se a irregularidade de verificada consistir na preterição de um dos pais, tem-se como
ratificado o processado anterior, quando o preterido, devidamente notificado, nada
disser dentro do prazo fixado. Havendo desacordo dos pais acerca da repetição da
ação ou da renovação dos atos, esse desacordo será́ decidido em conformidade com
o disposto no artigo 18º - artigo 27º, nº3.
c) Falta de autorização (artigo 29º) – trata-se da falta de autorização ou deliberação que o
representante da parte (incapaz, pessoa coletiva, ente com mera personalidade judiciária)
devesse obter para exercer a representação:
o Tem de se distinguir se o vício afeta:
§ A parte ativa – se o representante do autor carece de autorização ou
deliberação para a propositura da ação, a sua não obtenção no prazo fixado
pelo juiz, por traduzir a falta de um pressuposto processual, dá lugar à
absolvição do réu da instância (artigos 29º, nº2, 577º, d) e 278º, nº1 c)).
§ A parte passiva – se a autorização ou deliberação for exigida ao representante
da parte passiva, que não a obtém, fica a contestação, por falta de um
pressuposto deste ato processual, sem efeito continuando o processo como
se o réu não deduzisse oposição (sem prejuízo, quando o réu for um incapaz,
do regime da sub-representação).

Neste sentido, há irregularidade de representação quando, embora o incapaz esteja representado


em juízo, não o esteja pelo devido representante, ou seja, por aquele a quem a lei atribui o poder de
representação à as consequências são as mesmas da incapacidade.
è Se a irregularidade consistir na preterição de um dos pais, tem-se como ratificado o
processado anterior, quando o preterido, devidamente notificado, nada disser dentro do
prazo fixado.
- Havendo desacordo dos pais acerca da repetição da ação ou da renovação dos atos, esse
desacordo será decidido em conformidade com o disposto no artigo 18º - artigo 27º, nº3.

NOTA: se houver necessidade de fazer intervir um menor em causa pendente, não


havendo acordo entre os pais para o efeito, pode qualquer deles requer a suspensão da
instância até resolução do desacordo pelo tribunal da causa, que decidirá no prazo de
30 dias – artigo 18º, nº5.

Concluindo, há várias situações em que a contestação fica sem efeito, sendo que a consequência
geral é a revelia; contudo, existe o regime especial que é aplicável antes de o incapaz se tornar revel
(artigo 21º - sub-representação pelo MP): neste caso, a contestação fica sem efeito, mas como o
incapaz tem de ser protegido, ele não entra automaticamente em revelia; antes desta, suceder-se-á́
a possibilidade de o incapaz ser representado pelo MP. Se o MP não contestar, então aí haverá́
revelia.
Hoje em dia, com a alteração legislativa (em que os regimes de inabilitação e de interdição foram
unificados no regime do maior acompanhado), o curador tem funções de assistência e, nalgumas
situações, de representação. É isso que justifica que o atual nº1 do artigo 27º, além do representante
legítimo, fale no curador do incapaz.

OU SEJA:
O suprimento da incapacidade é a forma que a lei prevê de serem exercidos os direitos processuais
pelo incapaz. A lei resolve isso através do suprimento da incapacidade judiciária – permitindo que o
incapaz exerça os direitos através da pessoa que o representa.
A sanação da incapacidade pressupõe que esta já tenha ocorrido e tenha viciado o processo. O que
sucede é que a lei faculta uma forma de cessar os efeitos do vício. A sanação pressupõe que não
tenha havido suprimento. Por seu turno, em que é que consiste a sanação? Cessar retroativamente
os efeitos da incapacidade através do suprimento.
Sanação é diferente de suprimento: o suprimento é a forma que a lei prevê de serem exercidos os
direitos e deveres do incapaz. A sanação é a cessão retroativa dos efeitos.
No artigo 16º/1 – tratando-se de um menor: a incapacidade é suprida por intermédio dos
representantes do menor (normalmente os pais – 124º + 1878º CC) – a ação vai ser proposta pelos
pais invocando a representação do menor; tratando-se de maior acompanhado: a ação há de ser
proposta pelo representante do MA na qualidade de representante de tal MA.
Quando se trate de MA não sujeitos ao regime de representação – artigo 19º - supre-se a
incapacidade mediante o acompanhamento do representante – o suprimento dá-se pela
autorização/orientação do acompanhante (artigo 19º/2).
Como dizia AV, o representante do menor age no lugar do incapaz/em substituição do mesmo,
embora seja o incapaz que é parte. Já o acompanhante, não age no lugar, mas sim ao lado (assistindo-
o).

Sanação da incapacidade propriamente dita:


- Este pressuposto processual é sanável, ao contrário de outros pressupostos. O regime da sanação
não é o mesmo em função da espécie concreta da incapacidade. Dentro da incapacidade lato
sensu distinguem-se 3 espécies de vícios: incapacidade judiciária strictu sensu (aquela que ocorre em
relação às pessoas que carecem de representação e agem por si em juízo); irregularidade da
representação (numa representação irregular – aqui aparece um representante que não é o que a lei
diz que deve estar em juízo) – ex.: em vez de estar representado pela mãe e pai, está a ser
representado só por um; falta de autorização ou deliberação do representante ou da própria parte
(há situações em que a parte para agir em juízo tem que ter autorização – ex.: 1938º/1/e). Se o tutor
aparecer, estamos perante a incapacidade judiciária traduzida neste vício.
• Artigo 27º - suprimento da incapacidade judiciária (strictu sensu) + irregularidade da
representação + 28º.
• Artigo 29º - falta da autorização ou deliberação.
• À sanação da falta de autorização – 29º.

Regime da sanação da incapacidade judiciária strictu sensu que gera a falta de um pressuposto
processual – art. 27º + 28º (ex: o autor menor propõe ele próprio a ação):
Esta incapacidade é sanável? Sim. Como? Os artigos respondem: (27º) sanadas mediante a
intervenção ou citação do representante do incapaz + (28º) a sanação deve operar logo que o juiz se
aperceba de algum dos vícios, a todo o tempo, oficiosamente.
A sanação opera por intervenção do representante legal ou por citação desse mesmo pelo juiz. A
sanação pode operar por intervenção espontânea. Quando ela não opera espontaneamente, a
sanação há de ter lugar através da notificação do representante do autor/citação do representante
do réu, a requerimento ou oficiosamente, com vista a suprir sem exceção e no momento devido.
Para que haja sanação é preciso que seja notificado o representante do autor ou citado o
representante legítimo do réu. Esta notificação/citação podem ter lugar após requerimento da parte
ou oficiosamente pelo juiz. O art. 28º não fala de requerimento, mas tal hipótese não pode ser
descartada.
A determinação do juiz deve ter lugar logo que ele se aperceba – a todo o tempo (pode até ser em
recurso – pode ser o STJ a aperceber-se).
Quid iuris se transitar em julgado? Nesse momento já não é possível sanar o vício – a sentença por
transitar em julgado fica válida na ordem jurídica.
Quando a sanação é feita por iniciativa do juiz: esta notificação/citação podem ter lugar em 2
momentos distintos: ou ele se apercebe antes da citação (no momento do despacho liminar, se
houver) – ordena a notificação do representante legal do autor ou citação do representante legal do
réu. Como não tinha havido citação, está a evitar que a incapacidade, no que toca ao réu, se dê. O
normal é que o processo continue, atinja algum grau de desenvolvimento, e haja citação sem que o
juiz se aperceba que haja um vício (despacho pré-saneador/despacho saneador).
Como é que se procede à sanação?
¾ Incapacidade do lado do autor
O juiz ordena isto – o representante pode ratificar os atos anteriormente praticados (art. 27º/2/1ª
parte); o representante pode não ratificar e não os renovar (art. 27º/2/2ª parte) – fica sem efeito e
tem que haver absolvição da instância por verificação de uma exceção dilatória; o representante do
autor pode não ratificar mas renovar os atos praticados – apresenta uma nova PI – o vício fica sanado;
o representante pode ratificar alguns atos e não ratificar outros (ex.: ratifica a petição inicial, mas
não a réplica do incapaz) – art. 27º/2/2ª parte.
¾ Incapacidade do lado do réu
As alternativas são essencialmente as mesmas: pode ratificar os atos praticados pelo incapaz; pode
não ratificar (são anulados esses atos); pode não ratificar e renovar os atos; pode não ratificar nem
renovar os atos - o processo pode ficar sem contestação e seguir à revelia.
Diferença entre a incapacidade do lado ativo e passivo: para haver sanação do lado passivo, basta a
citação do representante legal do réu – se ele ratificar, tudo bem; se não ratificar, tudo bem; se não
ratifica nem renova, tudo bem. Para incapacidade do lado passivo: basta a citação – a partir do
momento em que ele é citado, a incapacidade fica sanada. Estamos a falar de um pressuposto de
atos processuais.

Quanto ao autor: não basta a notificação: é preciso que este ratifique ou renove os atos praticados
porque, caso não haja, há absolvição da instância.
Isto aplica-se mutatis mutandis à incapacidade strictu sensu como falta de pressuposto de atos
processuais. Estas regras aplicam-se também à sanação de irregularidade de representação.
Quanto à sanação de falta de autorização e deliberação:
Ex. de falta de deliberação – o gerente de uma sociedade por quotas, para propor ação contra os
outros sócios – tem que ter deliberação.
è Artigo 29º - distingue consoante falte do lado ativo e passivo. Mas em ambos os casos é
notificado e é designado prazo.
Falta que diz respeito ao autor: o réu é absolvido da instância – artigo 29º/2/1ª parte;
Falta que diz respeito ao réu: o artigo 29º/2/2ª parte – o processo segue como se o réu não deduzisse
oposição – origem à falta de um pressuposto processual.

x PATROCÍNIO
O patrocínio jurídico consiste na assistência técnica prestada às partes por profissionais do foto:
geralmente as partes não têm os conhecimentos indispensáveis para conduzir o pleito e, por isso,
devem estar representadas em juízo por técnicos devidamente habilitados para o fazer à aliás, é
sempre conveniente que não sejam as próprias partes a conduzir diretamente a defesa dos seus
interesses no processo, por lhes faltar a serenidade desinteressada para esse efeito - Consiste na
representação das partes por profissionais do foro na condução e orientação técnico-jurídica do
processo. Este está associado à expressão mandato judicial. Entendido em 2 sentidos: no sentido do
mandato enquanto contrato + conjunto de poderes de representação. Conjunto de poderes forenses
em cujo exercício se concretiza o patrocínio judiciário.

Exercício do mandato judicial:


Quem são as pessoas habilitadas ao mandato forense? Artigo 1º/1 da lei 49/2004 (lei que regula e
estabelece os atos próprios dos advogados e solicitadores) – licenciados em Direito inscritos na AO +
solicitadores + advogados estagiários. Nº5 – consistuem atos próprios.
• Advogados do foro – licenciados em Direito, completado o estágio e inscritos na O.A. – art.
66º/1 do Estatuto da O.A.
o Crime de procuradoria ilícita – prática de atos próprios de advogado sem serem tal;
o Os próprios magistrados podem exercer o patrocínio desde que não sejam ele próprio,
cônjuge e afins.
• Advogados estagiários – licenciados em Direito, duração máxima de 18 meses, tem 2 fases –
artigo 195º do Estatuto do O.A. Que competência têm? Uma vez concluída a primeira fase do
estágio, sob orientação do patrono, podem praticar os atos que são da competência dos
solicitadores.
• Solicitadores – licenciados em Solicitadoria ou em Direito + inscritos nas ordens dos
solicitadores ou agentes de execução:
o Podem exercer mandato judicial em casos de 1ª instância;
o Em causas que não seja admissível recurso.

Direitos e deveres dos advogados: deveres de independência ou autonomia técnica, vinculados a


critérios deontológicos e deveres + dever de sigilo profissional + dever de competência e isenção (art.
98º/2 + art. 99º EOA).
Responsabilidade dos advogados – estão vinculados ao cliente pelo contrato de mandato judicial e o
incumprimento implica responsabilidade contratual. Mas a questão dos danos é muito complexa.
Como é que se quantificam os danos? Doutrina da perda de chance ou da probabilidade – perda da
oportunidade de obter uma vantagem para cálculo dos danos. Primeiro determina-se qual é o dano
total e depois procura determinar-se a probabilidade do êxito que tal teria.
è Mandatários limitados e judiciais.

è Neste sentido, o artigo 40º torna obrigatória a constituição de advogado em determinados


casos.
O patrocínio judiciário é exercido plenamente pelos advogados e, em termos limitados, pelos
advogados estagiários e pelos solicitadores – sendo que, este é diferente da assistência técnica
prevista no artigo 50º, na medida em que, esta é prestada ao advogado e não propriamente à parte.

Constituição obrigatória de advogado


Em todas as causas é admitida a intervenção de advogados em representação das partes. Porém, há
causas em que, pela sua importância ou pela sua natureza, essa intervenção se torna obrigatória:
nestes casos há um pressuposto processual, na medida em que, nas outras causas a intervenção de
advogado é apenas facultativa, o que significa que, as partes podem litigar por si.
Há casos em que há obrigação de constituir mandatário judicial e há casos em que não há essa
obrigação.

Situações de constituição obrigatória de mandatário:


• A parte não pode litigar sem mandatário oficial no processo – casos do artigo 40º.
Situações em que não é obrigatória a constituição de advogado:
• São as demais situações;

Assim, nos termos do artigo 40º é obrigatória a constituição de advogado:


a) Nas causas de competência de tribunais com alçada, em que seja admissível recurso
ordinário:
o Esta alínea refere-se às causas da competência dos tribunais de 1ª instancia: a
admissibilidade de recurso ordinário resulta da conjugação do valor da ação com o da
alçada do tribunal de que se recorre e ainda com o valor da sucumbência – artigo 629º
à é admissível recurso ordinário nos casos em que o valor da ação é superior ao da
alçada do tribunal de que se recorre, quando o valor em que a parte decaiu
(sucumbência) é também superior a metade dessa mesma alçada.
b) Nas causas em que seja sempre admissível recurso, independentemente do valor:
o Os nºs 2 e 3 do artigo 629º fazem alusão a essas causas cujas decisões admitem
sempre recurso independentemente do valor da causa e da sucumbência.
c) Nos recursos e nas causas propostas nos tribunais superiores:
o Geralmente, as causas são propostas nos tribunais de 1ª instância. Porém, há casos
em que são propostas no Tribunal da Relação – ex: indemnização contra magistrados.
Em suma, nos tribunais superiores é sempre obrigatória a constituição de advogado, quer para a
propositura das ações nos casso em que têm o seu inicio no Tribunal da Relação, quer nos casos em
que as causas sobem ao tribunal superior pela via do recurso.
è Mesmo nos casos em que é obrigatória a constituição de advogado, podem as próprias partes,
por si sós, fazer requerimentos que não envolvam questões de direito – artigo 40º, nº2:
questões não técnicas.

Mandato
O advogado é indispensável à adminsitração da justiça e, como tal, deve ter um comportamento
público e profissional adequado à dignidade e responsabilidades da função que exerce, cumprindo
pontual e escrupulosamente os deveres consignados no Estatuto e todos aqueles que as leis, os usos,
os costumes e as tradições profissionais lhe impõem.
è Os poderes de representação em juízo são conferidos ao advogado (mandatário) pela parte
(mandante ou constituinte) por meio de mandato judicial).

- Mandato forense: conferido para ser exercido em qualquer tribunal, incluindo os tribunais ou
comissões arbitrais e os julgados de paz – artigo 2º da Lei nº49/2004.
Neste sentido, a legislação especial constante do DL nº267/92 dispensou a intervenção notarial nas
procurações passadas a advogados para a pratica de atos que envolvam o exercício do patrocínio
judiciário, quer concedam simples poderes forenses erais, quer poderes especiais para que o
advogado possa desistir do pedido ou da instancia, confessar o pedido ou transigir à o mandato
judicial também pode ser conferido por declaração verbal da parte no auto de qualquer diligencia
que se pratique no processo nos termos do artigo 43º, b) – designa-se por procuração apud acta.
O mandato pode também ser conferido por um terceiro – por um advogado ou juiz – quando é o juiz:
situações são verdadeiramente especiais: casos de urgência – 51º, nº1 e 3.
è O mandato atribui poderes ao mandatário para representar a parte em todos os atos e termos
do processo principal e respetivos incidentes, mesmo perante tribunais superiores, sem
prejuízo das disposições que exijam outorga de poderes especiais por parte do mandante –
artigo 44º, nº1.

EM SUMA:
O mandato judicial pode ser conferido (artigo 43º):
1. Por meio de instrumento público ou por documento particular, nos termos do Código do
Notariado e da legislação especial. O DL 267/92 de 28/11, no seu artigo único, dispensou a
intervenção notarial nas procurações passadas a advogados para a prática de atos que
envolvam o exercício do patrocínio judiciário, quer concedam simples poderes forenses
gerais, quer poderes especiais.
2. Por declaração verbal da parte no auto de qualquer diligência que se pratique no processo.

A eficácia do mandato depende de aceitação, que pode ser manifestada no próprio instrumento
público ou em documento particular, ou resultar de comportamento concludente do mandatário –
artigo 44º, nº4 à a aceitação pode ser expressa ou resultar do comportamento que o mandatário
assumiu, que revele claramente que aceitou o mandato.
Em geral, o mandato judicial é exercido por advogados, que têm de ser licenciados em Direito e de
estar inscritos na OA. Contudo, há duas situações em que o mandato pode ser exercido por alguém
que não advogado:
1. Os magistrados judiciais podem litigar em causa próprio;
2. O DL 148/200 de 19 de julho, que assegura a representação dos membros do Governo quando
são demandados pelo exercício das suas funções pelo órgão próprio do Estado.

Normalmente, a escolha do advogado cabe à parte. Contudo, isto pode não suceder:
1. Quando a parte beneficie do apoio judiciário, caso em que será́ a OA a designar o advogado;
2. Quando é o próprio tribunal, em caso de urgência, a nomear um advogado.
Assim, nos poderes que a lei presume conferidos ao mandatário está incluído o de subestabelecer o
mandato – artigo 44º, nº2:
• O substabelecimento consiste na transferência total ou parcial para outro advogado, dos
poderes que lhe foram conferidos e este é feito pela forma de procuração – pode ser feito
com reserva ou sem reserva de poderes:
o No substabelecimento com reserva haverá uma pluralidade de mandatários – em
qualquer altura o primeiro mandatário poderá reassumir os poderes de representação
e patrocínio;
o O substabelecimento sem reserva implica a exclusão do anterior mandatário – artigo
44º, nº3: significa que o mandatário põe termo ao mandato que anteriormente lhe foi
conferido pela parte, sendo substituído por outro advogado à terá de haver prévia
autorização do mandante para que se proceda à total transferência de poderes.

- Artigo 45º, nº2 estabelece poderes forenses especiais, que não estão incluídos na concessão do
mandato judicial – transação, confissão e desistência – apenas podendo o advogado praticar um
destes atos se estiver munido de uma procuração que os autorize expressamente a praticar qualquer
desses atos. Se o mandatário praticar um desses atos sem procuração de poderes especiais, a parte
tem a possibilidade de ratificar ou não: só produz efeitos a transação, confissão ou desistência
praticada pelo mandatário se for ratificada pela parte:
Os mandatários judiciais podem confessar a ação, transigir sobre o seu objeto e desistir do
pedido ou da instancia, quando estejam munidos de procuração que os autorize
expressamente a praticar qualquer desses atos: artigo 45º, nº2 – esses atos traduzem-se num
poder de disposição sobre direitos alheios e, por isso, a lei exige que o mandatário só os possa
praticar quando munido de procuração que individualize a causa e autorize expressamente a
fazê-lo.
- Porém, quando a nulidade da confissão, desistência ou transação provenha da falta de poderes do
mandatário judicial ou da irregularidade do mandato, a sentença homologatória é notificada
pessoalmente ao mandante, com a cominação de, nada dizendo, o ato ser havido como ratificado e
a nulidade suprida.
- Se declarar que não ratifica o ato, este não produz quanto a si qualquer efeito – artigo 291º, nº3
CC.
è O mandatário pode desistir livremente do recurso interposto, sem necessidade de
procuração com poderes especiais e, neste caso, não há disposição de um direito material –
neste sentido, determina o artigo 632º, nº5 que o recorrente pode, por simples
requerimento, desistir do recurso interposto até à prolação da decisão.
Revogação e renúncia do mandato
Artigo 47º - prevê a revogação e a renuncia:
• A revogação é feita pelo mandante – cliente do advogado;
• A renuncia é feita pelo mandatário – pelo advogado;
O mandato pode ser revogado pela parte que concedeu os poderes e também pode o advogado
renunciar ao mandato recebido:
¾ A revogação e a renúncia devem ter lugar no próprio processo e são notificadas tanto ao
mandatário ou ao mandante, como à parte contrária: artigo 47º, nº1:
o É a partir da notificação que se produzem os efeitos da revogação e da renúncia –
artigo 47º, nº2.
O nº3 do artigo 47º determina os casos em que é obrigatória a constituição de advogado, se a parte,
depois de notificada da renúncia, não constituir novo mandatário no prazo de 20 dias - mas durante
esses 20 dias, o mandatário renunciante continua a ter poderes no processo e a estar vinculado ao
mesmo até que haja novo mandatário ou até que passem os 20 dias:
a) Suspende-se a instância, se a falta for do autor ou do exequente;
b) O processo segue os seus termos, se a falta for do réu, do executado ou do requerido,
aproveitando-se os atos anteriormente praticados;
c) Extingue-se o procedimento ou o incidente inserido na tramitação de qualquer ação, se a falta
for do requerente, oponente ou embargante;
Isto compreende-se porque:
• o autor está interessado em que o processo prossiga e, por isso, se não constituir novo
mandatário, a instância fica suspensa e, mais tarde, será considerada deserta nos termos do
artigo 282º, nº1.
• Se foi o réu que não constitui novo mandatário, não se pode suspender a instância porque
isso seria do seu interesse – neste caso, o processo seguirá os seus tramites aproveitando-se
os atos praticados pelo advogado cujo mandato terminou;
• Sendo o patrocínio obrigatório, se o reu, o reconvindo, o executado ou o requerido não
puderem ser notificados, é nomeado oficiosamente mandatário nos termos do nº3 do artigo
51º - artigo 47º, nº4.

Extensão do mandato
Mandato vs procuração – o mandato é o contrato que liga o cliente ao advogado; a procuração é o
ato unilateral pelo qual se concedem poderes à pela simples emissão da procuração, o mandato
não fica concluído porque é necessária a aceitação do mandatário – artigo 44º, nº4: essa aceitação
pode ter lugar expressamente ou resultar de comportamento concludente do mandatário – ex:
junção da procuração ao processo.
A extensão e o alcance dependem dos termos da procuração – esta extensão deve ser apurada em
função do:
• Número de ações que a procuração cobre:
o Ou a procuração se refere só a certas ações: artigo 44º:
§ Os poderes valem apenas para as ações referidas expressamente na
procuração;
o Ou a procuração se refere a qualquer ação: artigo 45º, nº1;
• Da amplitude dos poderes conferidos:
o Na procuração podem ser conferidos poderes forenses gerais, para qualquer ação:
artigo 44º, nº1, 2 e 3;
o Ou poderes forenses especiais;

Patrocínio a título de gestão de negócios


Em caso de urgência, o patrocínio judiciário pode ser exercido como gestão de negócios – artigo 49º,
nº1: ocorre quando uma pessoa assume a direção de negócio alheio no interesse e por conta do
respetivo dono, sem para tal estar autorizada – supõe a falta de procuração ou mandato e, esta falta
equipara-se à nulidade da procuração ou mandato, ou ao seu excesso.
Neste sentido, a gestão de negócios traduz-se numa intromissão não autorizada na esfera jurídica de
outrem que pode trazer prejuízos ao titular – a parte deve ratificar a gestão dentro do prazo que o
juiz lhe fixar, sob pena de o gestor ser condenado nas custas que provocou e na indemnização do
dano causado à parte contraria ou à parte cuja gestão assumiu – artigo 49º, nº2 à a não ratificação
determina que fiquem sem efeito os atos praticados pelo gestor.
è O despacho para fixar o prazo para a ratificação é notificado pessoalmente à parte cujo
patrocínio o gestor assumiu – artigo 49º, nº3.

Vícios do patrocínio
Não há advogado constituído no processo: parte aparece a litigar por si em nome próprio – falta de
constituição de advogado: 41º
• Artigo 48º: no anterior não há advogado constituído; nestes casos deste artigo há um
advogado constituído, mas este é um mandatário aparente: ou não tem mandato por
falta de procuração; ou tendo mandato, a procuração é irregular quanto à forma –
irregularidade do mandato; embora o mandatário tenha uma procuração regular, esta
pode ser insuficiente – insuficiência do mandato
Estes vícios podem ser arguidos pela parte ou conhecidos oficiosamente pelo tribunal e são sanáveis
através da notificação para ser sanado o vício.
- Mas, se o vicio for da falta de constituição de advogado – a notificação tem de ser feita à própria
parte e o advogado tem de ser constituído; se for um caso do 48º: notificação a parte e ao
mandatário aparente e a sanação faz-se com a correção do vicio
Se os vícios não forem sanados:
• vicio respeita à parte ativa e à petição inicial: este vicio gera a absolvição da instância –
577º h): falta de um pressuposto processual
• vicio respeita ao autor ou reu mas não à petição inicial: invalidade do próprio ato;
contestação não vale – falta de um pressuposto de um ato processual

Falta ou irregularidade do mandato: consequências


O modo de sanação da falta de constituição de advogado e as consequências dessa falta encontram-
se reguladas no artigo 41º: se a parte não constituir advogado, sendo obrigatória a constituição, o
tribunal, oficiosamente ou a requerimento da parte contrária, fá-la-á notificar para o constituir
dentro de prazo certo.
• Falta de constituição de advogado, sendo obrigatória – quando a parte não constitui
advogado, sendo obrigatória a constituição:
o O juiz, oficiosamente ou a requerimento da parte contrária, determina a sua
notificação para o constituir dentro de prazo certo, sob pena de o réu ser absolvido
da instância, quando a falta é do autor (artigo 41º). Esta constitui uma exceção
dilatória (artigo 577º, h)), sendo que a consequência, na falta de sanação do vício, é a
absolvição do réu da instância, uma vez que o que está em causa é a falta de um
pressuposto processual.
o Se o mandatário em falta for o do réu e não for sanada a falta no prazo fixado, ficará
sem efeito a defesa que tiver apresentado; se a falta de advogado constituído se
verificar na fase de recurso, este não terá́ seguimento. O que está aqui em causa é a
falta de um pressuposto de um ato processual.
• Há́ um advogado a atuar em juízo em representação da parte, mas não existe procuração, ou
existe mas é insuficiente ou irregular (artigo 48º) – a falta de procuração e a sua insuficiência
ou irregularidade podem, em qualquer altura, ser arguidas pela parte contrária e suscitadas
oficiosamente pelo tribunal. O juiz fixa o prazo dentro do qual deve ser suprida a falta ou
corrigido o vício e ratificado o processado, findo o qual, sem que esteja regularizada a
situação, fica sem efeito tudo o que tiver sido praticado pelo mandatário, devendo este ser
condenado nas custas respetivas e, se tiver agido culposamente, na indemnização dos
prejuízos a que tenha dado causa – isto é que acontece se o vício respeitar à parte ativa
(artigo 577º, h)), sendo que a consequência, na falta de sanação do vício, é a absolvição do
réu da instância, uma vez que o que está em causa é a falta de um pressuposto processual.

Já se o vício respeitar à parte passiva, fica sem efeito tudo o que o mandatário judicial da parte
passiva tenha praticado, mas o processo continua (está em causa aqui a falta de um pressuposto de
um ato processual).
è Ambas as situações constituem exceções dilatórias – artigo 577º, h).

Responsabilidade do mandatário
Comete uma infração disciplinar o advogado ou advogado estagiário que, por ação ou omissão, violar
dolosa ou culposamente algum dos deveres consagrados no presente Estatuto, nos respetivos
regulamentos e nas demais disposições legais – artigo 115º, nº1 da lei 145/2015.
è Quando se reconheça que o mandatário da parte teve responsabilidade pessoal e direta nos
atos pelos quais se revelou a má-fé na causa, dar-se-á conhecimento do facto à Ordem dos
Advogados ou à Câmara dos Solicitadores, para que estas possa aplicar as sanções respetivas
e condenar o mandatário na quota-parte das custas, multa e indemnização que lhes parecer
justa – artigo 545º.

Teoria da perda de chance – se um advogado deixar de interpor recurso, impedindo que a sentença
não favorável à parte possa vir a ser apreciada pelo Tribunal, a responsabilidade do advogado é
aferida segundo esta teoria: apesar de não haver garantia de que, mesmo que o recurso viesse a ser
interposto, viesse a ser procedente, o que releva aqui é a própria perda de chance. Contudo, o
advogado só pode ser responsável se o próprio tribunal decidir fazer um julgamento “dentro do
próprio julgamento”, tendo de ser verificada se haveria alguma chance de o recurso vir a ser favorável
à parte.

x LEGITIMIDADE
Para que o juiz possa conhecer do mérito da causa, torna-se necessário que as partes, além de
possuírem personalidade e capacidade judiciárias tenham legitimidade para a ação à a
personalidade e a capacidade judiciárias constituem uma qualidade das partes genericamente
exigida para todos os processos ou alguns deles, ao passo que a legitimidade consiste na posição das
partes numa determinada ação.
Isto significa que, o autor é o titular do direito e que o réu é o sujeito da obrigação - a legitimidade
como pressuposto processual exprime, assim, a relação entre a parte no processo e o objeto deste
(a pretensão ou pedido) e, portanto, a posição que a parte deve ter para ocupar-se do pedido,
deduzindo-o ou contradizendo-o.
Assim:
• A parte terá legitimidade como autor, se for ela quem juridicamente pode fazer valer a
pretensão perante o réu, admitindo que a pretensão tenha existência.
• A parte terá legitimidade como réu, se for ela a pessoa que juridicamente se pode opor à
pretensão do autor, por se essa a pessoa cuja esfera jurídica é diretamente atingida pela
providencia requerida, se a ação vier a proceder.
Se tal não se verificasse, isto é, se as partes fossem ilegítimas, a decisão que viesse a ser proferida
sobre o mérito da causa não teria eficácia, visto que, não poderia vincular os verdadeiros titulares da
relação jurídica litigiosa, ausentes da lide.
è É, portanto necessário que estejam em juízo as pessoas que são os titulares da relação jurídica
controvertida.
O artigo 30º, nº1 define a legitimidade servindo-se do critério do direito interesse que a parte pode
ter em demandar ou em contradizer..

Neste sentido, a legitimidade pode ser singular ou plural.

Ø Legitimidade singular
Prende-se com a questão de saber quem pode ser autor e réu.
è Quando falamos de legitimidade falamos da possibilidade de estar em juízo contra um certo
objeto – esse objeto tem de ter uma ligação com a pessoa para que esta tenha legitimidade.

MTS: possibilidade de estar em juízo quanto a certo processo processual, isto é, a faculdade de
demandar e a sujeição de ser demandado quanto a um dado objeto;
- é sempre uma posição das partes relativamente a um objeto – ideia de relação;
- pressuposto visa assegurar que estejam no processo as pessoas que tenham relação com o
objeto processual;

O artigo 30º CPC (que provavelmente virá a ser reformulado) trata desta matéria, criando enormes
complicações neste âmbito (TEIXEIRA DE SOUSA):
• Tradicionalmente, o nº 1 e 2 tinham um critério para aferir a legitimidade (critério do
interesse) e o nº 3 estabelecia outro critério (critério da titularidade da relação material
controvertida). Hoje em dia já não se aprecia a legitimidade em função do critério do
interesse.
Na maior parte das situações espera-se que a legitimidade seja reconhecida a quem tenha a
titularidade do direito – legitimidade direta. Mas a lei admite ainda a possibilidade de alguém que
não é o titular do direito tenha legitimidade – legitimidade indireta.

Legitimidade direta vs indireta: a direta é a que é reconhecida a um titular ativo e


passivo da situação subjetiva em litígio; a indireta é a que é concedida a quem não é
titular ativo ou passivo da situação subjetiva – é designada também por substituição
processual

Þ Legitimidade direta
Legitimidade de quem é alegadamente o titular do direito.
O nº 1 do artigo 30º começa por dizer que o autor é parte legítima quando tem interesse direto em
demandar e que o réu é parte legítima quando tem interesse direto em contradizer. Isto é dizer que,
são partes legitimas o alegado titular do direito, porque é ele quem tem interesse em demandar, e é
a contraparte quem tem interesse em contradizer.

Artigo 30º CPC: pressuposto processual insanável, cuja falta origina a absolvição de instância
(isto dentro da legitimidade singular):
- tem de se verificar 2 elementos:
o elemento processual: interesse direto em demandar e em contradizer
o elemento material: poder de produção de efeitos jurídicos – para que alguém seja
parte legitima, é necessário que a pessoa, agindo por si só, tenha o poder de produzir
os efeitos da decisão de procedência ou improcedência da ação

Ou seja, há que aferir, em regra, pela titularidade dos interesses no processo, isto é, como dizem os
nos 1 e 2 do artigo 30º, pelo interesse direto em demandar, exprimido pela vantagem jurídica ou
utilidade que resultará para o autor da procedência da ação, e pelo interesse direto em contradizer,
exprimido pela desvantagem jurídica que resultará para o réu da sua perda (ou, considerado o caso
julgado material formado pela absolvição do pedido, pela vantagem jurídica que dela resultará para
o réu).
O autor terá interesse em demandar porque tem interesse em obter uma decisão favorável
(procedência da ação) e o réu terá́ interesse em contradizer porque tem interesse numa decisão de
improcedência da ação, uma vez que é na sua esfera jurídica que se irá repercutir o efeito da eventual
condenação.
è O credor tem interesse direto em pedir ao tribunal que condene o devedor no pagamento da
importância que este lhe deve e o devedor tem interesse em intervir como réu, porque é na
sua esfera jurídica que se irá repercutir o efeito da eventual condenação no pagamento da
importância peticionada pelo autor.
Sendo ambos partes legitimas, a decisão terá́ efeito útil, ficando a causa definitivamente julgada.

Ex: o pai pode ter interesse em que seja paga ao seu filho, de maioridade, uma importância que lhe
é devida por determinada pessoa. No entanto não tem legitimidade para propor a adequada ação
contra a o devedor, em substituição do filho: falta-lhe o interesse direto à não é suficiente o
interesse indireto o reflexo.

TEIXEIRA DE SOUSA: se fizermos uma análise mais fina, verificamos que, no entanto, há́ situações em
que verdadeiramente não se pode falar na titularidade do direito: por exemplo, em relação à
declaração de nulidade, não se pode dizer que haja um direito à nulidade; assim, em termos estritos,
não se pode dizer que é parte legítima numa ação de nulidade o titular do direito, uma vez que este
não existe.
Tal é confirmado pelo Direito positivo, nos artigos 286º e 287º CC que nos dizem que tem
legitimidade para pedir a declaração de nulidade quem tiver interesse nessa mesma declaração. Não
se aplica aqui o critério da titularidade do direito, mas sim o critério do interesse.
Outra situação em que não se pode falar na titularidade de um direito é nas situações de direitos
absolutos que tem um titular ativo mas não têm um titular passivo: não há́ uma relação credor-
devedor.
è No artigo 1311º diz-se que a ação de reivindicação pode ser proposta contra o detentor da
coisa: não havendo um titular passivo, a lei tentou delimitar um que pode ser demandado
(quem é parte legítima).
No artigo 30º encontramos não apenas a referência ao interesse no nº 1, mas a definição dos
interesses em demandar e em contradizer no nº 2. É aqui que, segundo MTS estamos fora do campo
da legitimidade. Na realidade, poderemos ter as seguintes situações:
1. O autor tem interesse em demandar e o réu não tem interesse em contradizer (é parte
ilegítima).
2. O autor não tem interesse em demandar (parte ilegítima) mas o réu tem interesse em
contradizer.
Isto serve para explicar que a legitimidade do autor e a legitimidade do réu são aferidas
autonomamente.

O interesse significa a utilidade para o autor e o prejuízo para o réu e, neste sentido, dispõe o nº2 do
artigo 30º que o interesse em demandar se exprime pela utilidade derivada da procedência da ação
e o interesse em contradizer, pelo prejuízo que dessa procedência advenha.
Ora, o artigo 30º, nº2 define que o interesse em demandar se exprime pela utilidade derivada da
procedência da ação – até aqui, faz sentido. Se isto é assim em relação ao autor, em relação ao réu
deveríamos dizer que este teria interesse quando a improcedência da ação lhe trouxesse alguma
coisa (lhe fosse útil). Se assim fosse, também seria lógico. Era isto que seria coerente (TEIXEIRA DE
SOUSA).
Contudo, não é isto que está no nº2 do artigo 30º à este artigo, em vez de utilizar utilidade vs
utilidade, usa utilidade vs prejuízo:
¾ Utilidade e prejuízo são conceitos correlativos: utilidade para o autor é prejuízo para o réu.
Ora, a legitimidade do autor e a legitimidade do réu são aferidas autonomamente: por isto
mesmo, o critério do artigo 30º, nº2 não se poderia utilizar, porque se estabelece que quando
há́ utilidade para uma parte há́ prejuízo para a outra, o que implica que se uma parte é
legítima (ou ilegítima), a outra é necessariamente legítima (ou ilegítima), o que não é verdade.

Neste sentido, a lei procura afastar as dúvidas acerca da legitimidade das partes através do nº3 do
artigo 30º que dispõe que na falta de indicação são considerados titulares do interesse relevante
para o efeito da legitimidade os sujeitos da relação controvertida, tal como é configurado pelo autor
à veio fornecer um critério subsidiário para efeito de determinação da legitimidade das partes:
• Na redação anterior à reforma do Processo Civil que entrou em vigor em 1997, não constava
deste preceito a expressão “tal como é configurada pelo autor”.
• Comparando a redação anterior com a atual verificamos que num caso e no outro é tida
sempre em conta a relação controvertida; a diferença está no modo de encontrar a
legitimidade dos sujeitos dessa relação à anteriormente eram partes legitimas as pessoas da
relação controvertida que viessem a ser consideradas como tal pelo juiz, depois de ouvidas
as partes. Atualmente, a relação controvertida tem a configuração que o autor lhe quis dar.
• Com esta alteração o legislador quis pôr termo a uma questão desencadeada por um caso
concreto julgado no TR de Lisboa em 1918: tratava-se de um contrato de compra e venda de
60 toneladas de chumbo, que o vendedor não cumpriu integralmente. O comprador
demandou um comerciante português, como sendo este o vendedor, na contestação, alegou
o réu que se limitara a ser mero intermediário de uma sociedade espanhola, sendo esta a
verdadeira vendedora.

Assim, a querela radicava na questão de saber qual a relação controvertida a que se devia atender:
a apresentada pelo autor na PI ou a que viesse a resultar da própria causa?
1. Na tese defendida por BARBOSA DE MAGALHÃES, as partes eram legitimas, atendendo à
relação controvertida tal como configurara o autor. Por isso, nenhum obstáculo impedia o
tribunal de conhecer do mérito da causa. E, no caso de se provar que, na verdade, não foi o
réu quem vendeu o chumbo, a ação devia ser julgada improcedente, sendo o réu absolvido
do pedido.
2. Na tese defendida por ALBERTO DOS REIS, o réu era parte ilegítima, por não ser o sujeito da
relação material controvertida litigada, visto não ser ele o vendedor. Sendo assim, o juiz não
podia conhecer do mérito da causa, por falta de um pressuposto processual. Devia, pois,
absolver o réu da instância.
O legislador veio a optar pela expressão “tal como é configurada pelo autor”, aderindo à
posição de BARBOSA DE MAGALHÃES, o que faz corresponder a legitimidade das partes à
titularidade da relação controvertida descrita pelo autor na PI.

SEGUNDO MTS:
Critério de coincidência entre a legitimidade e a titularidade do direito: artigo 30º1 e 3 CPC
- quem é o titular do interesse em demandar quando a parte não for titular de um direito subjetivo?
2 situações, segundo MTS: Quando é demandado alguém que não pode ser considerado titular
passivo do direito ou porque não está em jogo um direito subjetivo – como se determina a
legitimidade? O critério continua a ser o mesmo: a titularidade do interesse em demandar e o
interesse em contradizer – MAS, o critério tem de ser outro, não podendo ser o da titularidade do
direito subjetivo – temos de recorrer a outro critério: MTS diz que a titularidade do interesse há de
pertencer ou há-de considerar-se que pertence a quem há de retirar alguma vantagem da decisão –
pode ser um terceiro interessado

- 30º2: de acordo com uma conceção antiga do MTS, o 30º2 aparece como desconectado do nº1 e
3 do artigo 30º - defende que está em causa o interesse processual no nº2 e não o interesse direto
em demandar e o interesse direto em contradizer, como se verifica nos números 2 e 3; MTS defende
que o interesse do nº2 é um interesse diferente, é um interesse processual

Existência de direito subjetivo


Coincidência entre titularidade do direito e do interesse
Coincidência entre legitimidade e interesse em contradizer – artigo 30º/1 e também nº3 do CCP
30º/1 – autor é parte legítima quando tem interesse direto em demandar

Quando a parte não for titular de um direito subjetivo – quando não está em jogo um direito
subjetivo ou quando está um em causa um demandado que não se possa dizer que é titular passivo
de um direito subjetivo (ex: direito real)

Determinação – interesse em demandar ou contradizer – neste caso não há coincidência entre a


titularidade do interesse ou do direito subjetivo à portanto, o critério terá de ser outro – MTS diz que
a titularidade do interesse há de considerar-se quem retira alguma vantagem da decisão – a
titularidade do interesse é dessa pessoa - ex: um 3º interessado
30º/2 – não referido, uma vez que aparece como desconectado no nº1 e nº3, de acordo com a opinião
do professor MTS – consagração legal de um outro pressuposto à interesse processual, interesse na
tutela jurisdicional, interesse medido pela utilidade da tutela jurisdicional para o autor e para o réu
O interesse é neste sentido ≠ daquele que decorre da titularidade do direito (30º/1 e 3)

Elemento material:
- para que haja legitimidade, não basta a legitimidade do direito – é necessário que a parte possa
produzir os efeitos próprios da decisão pela sua presença no processo – a procedência ou
improcedência da ação tem efeitos aquisitivos ou dispositivos para o autor e para o réu: ASSIM,
compreende-se que quem pode estar na ação é aquele que tem direito a esta disposição
- para alguém ser autor legitimo: para além do interesse em demandar, tem de poder dispor do
direito – pode haver situações em que apesar de ser titular não tem poderes de disposição do direito:
o titular do direito não pode ser considerado parte legítima, neste caso – ex.: A é casado com B e
discute-se a titularidade de um terreno de A – este é o único titular, mas não pode dispor desse
direito, se estiver num regime de comunhão de bens, é necessário haver um litisconsórcio necessário

Desta forma, hoje raramente se poderá falar de ilegitimidade das partes: deixou de se tornar
necessário ter em conta a verdadeira relação jurídica, na medida em que, o tribunal já não terá de
averiguar se a relação jurídica de direito substantivo, cuja discussão lhe é submetida, se estabeleceu
entre o autor e o réu.
Neste sentido, atualmente muito dificilmente nos deparamos com algum caso de ilegitimidade, na
medida em que, se aceita a configuração que o autor quis dar à relação controvertida, sendo o réu
do processo aquele que o autor quer demandar à a ilegitimidade surgirá naqueles casos em que se
verificar divergência entre as pessoas identificadas peo autor e as que realmente foram chamadas a
juízo, isto é, quando estas pessoas não são os sujeitos da relação controvertida delineada pelo autor.
è A parte é sempre legitima se for tida como titular da relação jurídica tal como é configurada
pelo autor na petição inicial.

Þ Legitimidade indireta
Esta encontra-se consagrada na exceção enunciada no artigo 30º, nº3 CPC (“na falta de indicação da
lei em contrário”) à esta legitimidade é também denominada substituição processual legal.
Esta pessoa vai litigar em nome próprio, mas com base num direito alheio – o artigo 30º, nº3 diz
então que a não coincidência entre a parte e a titularidade do direito tem de resultar da lei.
è Um caso frequente de substituição processual legal é o caso da solidariedade; outro caso é o
do administrador de insolvência. Outro caso particularmente importante é o previsto no
artigo 1405º CC da legitimidade cada um dos comproprietários para reivindicar a coisa
comum.
Temos também no CPC um outro caso de substituição processual, que é o que resulta do que se
encontra do artigo 263º, em que durante a pendência da causa alguma das partes transmite esse
direito litigioso a um terceiro:
¾ Se for o réu a transmitir o bem, a partir da transmissão do bem (em que o réu já não é o
proprietário do bem), o réu continua na ação, mas agora como substituto processual do
adquirente desse bem, tendo assim uma legitimidade indireta. Atente-se que quando o
terceiro intervém em substituição do réu na ação (artigo 30º, nº1), a substituição processual
termina.
É possível uma substituição processual voluntária? TEIXEIRA DE SOUSA refere que em algumas OJ
sim, mas entende que em Portugal não: a substituição processual por iniciativa da parte (voluntária)
só será possível nos casos em que a própria lei a admitir – por exemplo, no artigo 34º, nº1: a ação
deve ser proposta por ambos os cônjuges, ou por um deles com a autorização do outro.
Uma consequência da substituição processual é a de que o caso julgado obtido na ação contra o
substituto será extensível à parte substituída.

ASSIM:
A substituição processual ou legitimidade indireta: pode ser legal ou voluntária, sendo que a regra é
a legal (permitida ou imposta por lei); a voluntária é a que assenta em convenção das partes – mas,
também tem de ser autorizada por lei:
• Legal: requisitos:
o Alguém que não é titular de todo ou exclusivo de um direito em litígio;
o Ser autorizado por lei;
o A fazer valer esse direito que não é seu;
o Em nome próprio: agindo como parte – é o substituto processual; o titular do direito
é o substituído processual;
Ex.: obrigações solidárias, quer do lado ativo ou passivo (do lado ativo – A, B e C são credores
de 3000 de D – como o crédito é solidário, pode ser litigado apenas um, dois ou todos eles;
quando se litiga um ou 2 deles – estes são substitutos processuais dos outros); 263º CPC: A
propõe uma ação de reivindicação pedido a entrega de certo bem a B – durante o litigio, B
vende a coisa a C, deixando de ser titular da coisa: ele perde a legitimidade direta, mas
mantém uma legitimidade indireta – B que já não é titular do bem, pode e deve continuar no
processo litigando sobre bem alheio – B é substituto processual de C)
• Voluntária: MTS: esta só é admissível quanto à parte ativa; tem de ser autorizada antes do
processo e por lei – ex.: 34º1 CPC – havendo bem comum dos cônjuges, se for um bem imóvel
só pode haver alienação deste com o consentimento dos dois – um pode litigar sobre o imóvel
dos dois, se houver autorização do outro.
A substituição processual pode ainda ser:
• Representativa (substituto defende interesses alheios – caso das obrigações solidárias) vs não
representativa (age na defesa de interesses alheios, mas primordialmente nos interesses
próprios – 1639º1 CC);
• Própria – substituto pode estar em juízo sem a presença do substituído, como é o caso de
obrigações solidárias; imprópria: situações anómalas – ex.: ação sub-rogatória; 608º CC;

- Decisão proferida em relação quanto ao substituto vale em relação ao substituído – 263º3 CPC; 52º,
531º, 538º2 CC.

Þ Ilegitimidade singular
A ilegitimidade singular é, pela sua própria natureza, insanável. Por isso, conduzirá à absolvição do
réu da instância – artigo 278º, nº1 d). Trata-se, neste caso, de uma exceção dilatória (artigos 576º e
577º, e)).

Ø Pluralidade de Partes
Na maioria dos casos, as ações têm apenas duas partes em confronto: é o que acontece no caso em
que o credor demanda um único devedor.
MAS, às vezes a ação é proposta por vários autores ou contra vários réus, casos em que se diz existir
uma pluralidade de partes.

Passiva

Pluralidade
Ativa
de pares

Mista

Assim, a pluralidade pode ser ativa ou passiva, consoante se verifica do lado dos autores ou existe da
banda dos réus. E, pode também ser mista quando a ação é instaurada por vários autores contra
vários réus.
OU SEJA:
¾ Sucede quando a ação é proposta por vários autores (pluralidade ativa) e/ou contra vários
réus (pluralidade passiva) (pluralidade mista, quando é proposta por vários autores contra
vários réus).

A pluralidade pode ainda ser inicial quando acontece no momento em que é proposta a ação, ou
pode formar-se em momento posterior, nos casos de intervenção de terceiros, espontânea (artigo
311º e ss) ou provocada (artigo 316º e ss.).

Inicial
Pluralidade de Intervenção
partes espontânea
Sucede no caso
Em momento
de intervenção
posterior
de terceiros
Intervenção
provocada

Assim, o facto de as partes serem titulares de um direito não assegura em si mesmo a legitimidade,
porque haverá sempre que analisar se não estará em causa uma situação em que as partes não são
titulares exclusivos do direito e que, por isso, outras partes terão que estar em juízo (litisconsórcio
necessário).

Quanto à sua natureza, pode dar origem ao litisconsórcio: há uma pluralidade de partes, mas
unicidade quanto à relação material controvertida; ou à coligação: há não só pluralidade de partes,
mas também diversidade de relações materiais controvertidas.

Litisconsórcio
Pluralidade de
partes
Coligação

Legitimidade Plural:
Quando o interesse respeitar a uma pluralidade de partes principais que se unam no mesmo processo
para discutirem uma só relação jurídica material – litisconsórcio.
- Em muitos casos, há uma pluralidade de partes principais – esta é designada por
litisconsórcio em sentido amplo:
• Litisconsórcio stricto sensu vs coligação: critério de distinção de MTS: no litisconsórcio
acontece uma de duas coisas: ou há só um pedido que é formulado por litisconsortes
ou contra eles OU então há vários pedidos – há pluralidade de pedidos, que são
formulados indiferenciadamente por todos os litisconsortes ou contra todos, e
pluralidade de partes - ex.: A pode pedir contra B e C simultaneamente um pedido de
cumprimento do contrato e pagamento de uma indemnização
- na coligação há sempre dois pedidos que são feitos diferenciadamente por cada um
dos autores coligados OU contra cada um dos réus coligados – ex.: A pede a declaração
de nulidade do contrato contra B e pede o pagamento de uma indemnização contra C
à critério que já vem de CASTRO MENDES: seguido por LF e por MTS
- AV, ALBERTO DOS REIS: defendem outro critério

Þ Litisconsórcio (dentro da legitimidade plural)


O litisconsórcio ocorre quando se discute em juízo uma determinada relação jurídica que envolve
diversos sujeitos, os quais, em virtude de serem titulares da relação controvertida, são partes
principais na ação: este conceito serve para exprimir a imagem de várias pessoas que, no mesmo
processo civil, correm a mesma sorte, associadas que estão no lado do ataque ou no lado da defesa.
Contudo, é importante ter em consideração que nem sempre a intervenção de 3ºs pode dar origem
a litisconsórcio, no sentido em que, para haver litisconsórcio é necessária a formação de uma
pluralidade de partes principais e, por isso, não se formará litisconsórcio no caso da assistência, visto
que o assistente é parte acessória nos termos do artigo326º e ss.
Em alguns casos, a pluralidade das partes não é obrigatória, sendo permitido que só o autor e o réu
tenham intervenção no processo, embora os restantes interessados também o passam fazer, se
assim o quiserem – litisconsórcio voluntário: o único efeito resultante da não intervenção dos
diversos interessados traduz-se apenas na perda dos benefícios que poderiam ser colhidos à assim,
se o credor demandar apenas um dos vários devedores conjuntos, só poderá obter a condenação
daquele réu no cumprimento da quota-parte da sua responsabilidade nos termos do artigo 32º, nº1,
2ª parte – a não intervenção de outros interessados não terá influencia sobre a legitimidade daquele
ou daqueles que estão no processo à as partes mantém a sua posição de autonomia.
Noutros casos, é exigida a intervenção de todos os interessados – litisconsórcio necessário: a não
intervenção de todos os interessados dá origem a uma situação de ilegitimidade daquele ou daqueles
que estão no processo à as partes apresentam-se como se fossem uma única.
è Isto tudo resulta claramente da lei ao determinar que no caso de litisconsórcio necessário há
uma única ação com pluralidade de sujeitos e que, no litisconsórcio voluntário, há uma
simples acumulação de ações, conservando cada litigante uma posição de independência em
relação aos seus compartes nos termos do artigo 35º.
Na verdade, no litisconsórcio voluntário, a cumulação depende exclusivamente da vontade das
partes, enquanto que, no litisconsórcio necessário, a cumulação é imposta pela lei ou resulta de
prévia determinação dos interessados ou da natureza da relação jurídica nos termos dos artigos 32º
e 33º.
ASSIM:
- A ilegitimidade plural só pode verificar-se no caso de litisconsórcio plural, porque no voluntário,
basta que uma parte tenha intervenção no processo – ex: quando não figurarem do lado ativo ou do
lado passivo todos os interessados cuja presença se impõe – nestes casos, faltando algum deles, essa
falta acarreta a ilegitimidade dos restantes.

Classificações a fazer no âmbito do litisconsórcio:


¾ Litisconsórcio inicial vs Litisconsórcio sucessivo
o O litisconsórcio inicial verifica-se no início da causa;
o O litisconsórcio sucessivo verifica-se no decurso do processo, nomeadamente com a
intervenção de terceiros;
- Não tem consagração legal, é apenas uma distinção doutrinária.

¾ Litisconsórcio simples vs Litisconsórcio sucessivo


o O litisconsórcio simples verifica-se quando há pluralidade de partes, mas não
corresponde uma pluralidade de oposições, há uma só oposição: processo bipolar – A
pede o pagamento de uma obrigação solidária contra B e C;
o O litisconsórcio recíproco verifica-se na situações em que há uma multipolaridade,
sendo que, o pólo passivo está em oposição entre si à à medida que aumenta o
número de partes, aumenta o número de oposições: processo multipolar – ex.: há três
comproprietários – a divisão mexe com o interesse de todos, pelo que todos estão em
oposição – recíproco inicial;
- recíproco sucessivo: ex.: incidente designado oposição – 333º a 337º: todos estão
em oposição uns com os outros
- no caso de ser simples: as partes podem ser representadas pelo mesmo advogado;
no caso de ser recíproco: as partes não podem ser representadas pelo mesmo
advogado.

¾ Litisconsórcio subsidiário vs Litisconsórcio eventual


o No litisconsórcio eventual as partes estão no mesmo plano;
o No litisconsórcio subsidiário – artigo 39º - é admitida a dedução subsidiária do mesmo
pedido, ou a dedução de pedido subsidiário, por autor ou contra réu diverso do que
demanda ou é demandado a titulo principal, no caso de dúvida fundamentada sobre
o sujeito da relação controvertida à ex: A propõe uma ação contra E, e contra F
subsidiariamente (o pedido só lhe será́ imposto se não for possível satisfazê-lo contra
E). Esta disposição legal consagra a possibilidade de ser formulado um pedido principal
contra aquele que se considera ser o provável devedor e também um pedido
subsidiário contra um outro suposto devedor.
Assim, esta disposição legal do artigo 39º consagra a possibilidade de ser formulado
um pedido principal contra aquele que se considere ser o provável devedor e também
um pedido subsidiário contra um outro suposto devedor à de acordo com o artigo
554º, o pedido subsidiário é apresentado ao tribunal para ser tomado em
consideração somente no caso de não proceder o pedido anterior – tudo isto acontece
por existirem fundadas dúvidas sobre se a titularidade da relação material
controvertida pertence a um ou a outro sujeito:
§ A dúvida pode acontecer principalmente nos casos em que o credor
desconhece a qualidade jurídica (ex: se a intervenção foi a titulo pessoal ou
como gerente da sociedade) em que o réu interveio no ato ou contrato que irá
ser objeto de discussão na ação
Através desta figura, evita-se a necessidade de propor 2 ações e o risco de decisões
contraditórias, visto que, tudo será decidido no memso processo.
- A pluralidade subsidiária subjetiva pode verificar-se tanto do lado ativo como do lado
passivo:
§ Do lado ativo: verifica-se no caso em que 2 autores se associam, propondo a
ação, no qual o primeiro formula o pedido principal e o segundo o pedido
eventual, que será tido em conta na hipótese de improceder o primeiro – quer
dizer, um dos autores só será tido como titular da relação material
controvertida se for reconhecido que o outro não tem essa qualidade;
§ Do lado passivo: o autor demanda determinado réu a titulo principal e,
invocando dúvida, devidamente fundamentada, sobre quem é o titular passivo
da relação material controvertida, deduz pedido subsidiário contra outro réu
– ex: num acidente de viação em cadeia, o lesado que tenha dúvidas sobre
qual dos dois veículos será o responsável pelo acidente, pode propor ação de
indemnização, contra uma companhia seguradora e, subsidiariamente, contra
a seguradora do dono do outro veiculo.
- MTS admite que se estenda o artigo 39º CPC aos casos de alternatividade

¾ Litisconsórcio sticto sensu: Voluntário vs legal


o Voluntário: existe uma pluralidade de partes que não consta na lei
o Necessário: existe uma pluralidade de partes e que consta na lei, NJ ou pela natureza
da relação jurídica – ilegitimidade quando não se verifica: esta é sanável através dos
incidentes de intervenção de terceiro: 261º, 316º CPC
- Artigo 35º: no necessário, a ação é só uma apesar de haver pluralidade de partes; no voluntário, há
várias ações e cada uma é dependente por si – tantas quantos os litisconsortes – isto tem
consequências relevantes: 190º (falta de citação de um litisconsorte necessário – nulidade de todo o
processo; o que não se verifica no litisconsórcio voluntário); 288º1; 634º1 CC; 368º a) CPC.

O artigo 35º respeita mais, segundo MTS, às consequências dos atos já praticados do que os atos por
praticar – a prática dos atos pode ter lugar autonomamente, individualmente à quer dizer que
depois os 2, têm de apresentar réplica simultânea? NÃO.
Distinção também entre:
o Litisconsórcio parciário – decisão da causa pode ser distinto para cada um dos
litisconsortes
o Litisconsórcio unitário- decisão tem de ser uniforme para cada um dos litisconsortes

ASSIM, a distinção principal que a nosso OJ utiliza é entre o litisconsórcio voluntário e o legal, pelo
que, estes devem ser tratados de forma autónoma:

¾ Litisconsórcio voluntário – artigo 32º CPC


Em regra, o litisconsórcio é voluntário para a generalidade das relações jurídicas com pluralidade de
sujeitos: estes não têm necessariamente que intervir na ação – só se assim o desejarem: a ação pode
ser intentada por todos os interessados ou contra todos eles.
Assim, são possíveis varias situações: podem os interessados decidir propor a ação conjuntamente;
pode o autor propor a ação contra vários réus; depois de proposta a ação, pode o autor ou o réu
promover a intervenção de terceiros.
Ou seja: o direito ao interesse tem vários titulares, o que significa que, embora a questão diga
respeito a vários interessados, a presença de todos na ação respetiva só se verifica porque o autor
decidiu propor a ação contra todos os interessados, ou porque vários interessados decidiram
instaurar em coautoria a ação.
è Artigo 32º: se a relação material controvertida respeitar a várias pessoas, a ação respetiva
pode ser proposta por todos ou contra todos os interessados. Mas, se a lei ou o negócio for
omisso, a ação pode também ser proposta por um só ou contra um só dos interessados,
devendo o tribunal conhecer apenas da respetiva quota-parte do interesse ou da
responsabilidade, ainda que o pedido abranja a totalidade.
Evidentemente que, respeitando a relação a vários interessados e estando todos eles
em juízo, a decisão a proferir na causa resolverá, em simultâneo e quanto a todos, o
diferendo submetido à consideração do tribunal.
Já se o autor optar por propor a ação sozinho ou contra um só dos interessados a
decisão a proferir deverá ficar circunscrita às partes presentes, isto é, deverá vincular
apenas estas.
O nº 2 deste artigo dispõe que se a lei ou o negocio permitir que o direito seja exercido por um só́ ou
que a obrigação comum seja exigida de um só dos interessados, basta que um deles intervenha para
assegurar a legitimidade. As hipóteses que caem aqui são designadamente, as situações de
substituição processual – por exemplo, no caso de obrigações solidarias, em que um titular substitui
os outros titulares (artigo 512º CC); ou nas situações de compropriedade (artigo 1405º CC); ou nos
casos de obrigações indivisíveis.
Assim, por exemplo, o credor da obrigação solidaria não poderá́ obter uma decisão valida
relativamente a todos os devedores, se optar por demandar apenas um dos devedores pela
totalidade do crédito (artigo 522º, 512º/1 e 518º CC). No entanto, mesmo que demandado apenas
por um dos devedores, não deixa de estar assegurada a legitimidade, por força do disposto no artigo
32º/2 CPC.

Regime jurídico do litisconsórcio voluntário:


- Depende de a ação ser proposta de todos réus ou contra todos os réus ou de por alguns ou para
alguns – a relação não depende da legitimidade, mas sim com o quantum de legitimidade dos
intervenientes e com o quantum de efeitos jurídicos produzido pela sentença – varia o regime
jurídico no que toca a estes aspetos
- Sendo vários os sujeitos ativos da relação controvertida podem um deles pedir tudo? e contra um
só deles pode ser pedido tudo?

O problema assurge quando há vários sujeitos e nem todos aprecem como autores e em contra todos
é proposta a ação – a resposta vem do direito material:
- a lei admite que seja pedido tudo, mesmo que o autor seja desacompanhado só restantes ou não –
quando admite: 32º/2, casos em que apesar de aparecer no processo como parte processual apenas
um dos titulares quando envolve uma pluralidade de partes a lei admite que seja na mesma pedido
(ex: obrigações solidárias, indivisíveis)

Quando a lei não admite que um dos sujeitos se substitua a outro 32º/1 2ª parte – caso em que a
não intervenção de todos os interessados não gera ilegitimidade a não intervenção de todos impede
de exercer ou de ser exercido todos os direitos – ex: obrigações conjuntas – por exemplo o autor não
pode pedir a totalidade dívida

Aspeto relevante de saber se a ação é – quantum de efeitos produzidos pela sentença – MTS refere
o litisconsórcio conveniente, que é o voluntário e que é imposto por lei, MAS não para assegurar a
legitimidade, mas sim uma vantagem – não gera ilegitimidade, mas a não intervenção de todos
impede a conceção de vantagens que só é possível com a intervenção de todos – ex: ação de
investigação de maternidade 1819º/2;1873º CC

Nas obrigações solidárias, o credor pode, em vez de propor a ação apenas contra um, demandar
conjuntamente os devedores nos termos do artigo 517º CC à existe vantagem em demandar os
vários devedores quando se pretende obter um titulo executivo (a sentença) contra todos eles – não
ficará abrangido pelo efeito do caso julgado, aquele que não tenha sido parte na ação.
Ex: o credor da obrigação solidária não poderá obter uma decisão valida relativamente a todos os
devedores, se optar por demandar apenas um dos devedores pela totalidade do crédito: artigo 522º
+ 512º + 518º.
è No entanto, mesmo que demandado apenas um dos devedores, não deixa de estar
assegurada a legitimidade, por força do artigo 32º, nº2.
No domínio das obrigações conjuntas, o credor que intente a ação apenas contra um dos diversos
devedores, só poderá obter decisão respeitante à sua quota-parte da divida – artigo 32º, nº2.

*ARTIGO 35º CPC – CONSEQUÊNCIAS DO LITISCONSÓRCIO

¾ Litisconsórcio Necessário – artigo 33º CPC


O litisconsórcio é necessário quando todos os interessados devem demandar ou ser demandados à
tal ocorre quando a lei (legal) ou o negócio (convencional) exigir a intervenção dos vários
interessados na relação controvertida.
Assim, o litisconsórcio é tido como pluralidade de partes que é imposta sob pena de
ilegitimidade, sob pena de absolvição da instancia ou indeferimento liminar quando haja lugar
a ele.

A falta de qualquer um dos interessados é, portanto, fundamento de ilegitimidade dos que


intervieram na ação, ou seja, os intervenientes na ação não têm legitimidade, se desacompanhados
dos restantes que nela deviam figurar.

A preterição do litisconsórcio necessário é, contudo, sanável através de formas de intervenção de


terceiros: por exemplo, a ação deveria ter sido proposta contra E e F e foi proposta apenas contra E
– E não terá́ legitimidade; contudo, poderá́ vir a tê-la com a intervenção de F na ação (artigos 311º e
316º, nº1). O artigo 261º, nº1 possibilita que o pedido para F intervir seja feito mesmo depois de o
tribunal ter absolvido o réu da instância por falta de legitimidade.
è O artigo 35º dispõe que, no caso de litisconsórcio necessário, há́ uma única ação com
pluralidade de sujeitos e no litisconsórcio voluntário, há uma simples acumulação de ações,
conservando cada litigante uma posição de independência em relação aos seus compartes.
MTS sustenta que há aqui um equívoco, uma vez que este artigo pressupõe que a decisão no
litisconsórcio necessário tenha necessariamente de ser uniforme para todas as partes, o que
está errado.

Modalidades de litisconsórcio necessário


• LEGAL – imposto por lei: lei exige sob pena de ilegitimidade;
• CONTRATUAL/CONVENCIONAL – imposto por contrato ou convenção;
• NATURAL – necessidade de garantir o efeito útil normal;

¨ Litisconsórcio necessário legal


Deriva da exigência da lei: artigo 33º, nº1.
Assim sucede, por exemplo, a propósito das obrigações indivisíveis com pluralidade de devedores,
que só de todos eles podem ser exigidas (artigo 535º, nº1 CC), ou do direito de preferência
pertencente simultaneamente a vários titulares (artigo 419º, nº1 CC).

• Artigo 34º - Litisconsórcio ativo e passivo;


• 535º - obrigações indivisíveis com pluralidade de devedores;
• 419º - direito de preferência com pluralidade de titulares;
• 922º, nº1;
• 496º, nº2;
• 1822º, nº2;
• 1822º, nº2;
• 1846º, nº1;
• 2091º, nº1 – exercício de direitos da herança;
• Ação de preferência proposta contra o alienante e o adquirente.

¤ Litisconsórcio necessário legal conjugal – artigo 34º


Este preceito distingue quanto ao litisconsórcio necessário entre legitimidade ativa e legitimidade
passiva:
• Artigo 34º, nº1 – lado ativo:
Devem ser propostas por ambos os cônjuges, ou por um deles com consentimento do outro, as ações
de que possa resultar a perda ou a oneração de bens que só por ambos possam ser alienados ou a
perda de direitos que só por ambos possam ser exercidos, incluindo as ações que tenham por objeto,
direta ou indiretamente, a casa de morada de família.
Ações que tem de ser propostas por ambos os cônjuges, ou por um deles com o consentimento do
outro (artigo 34º, nº1):
1. As ações de que possa resultar a perda e a oneração de bens que só por ambos possam ser
alienados.
2. As ações de que possa resultar a perda de direitos que só por ambos possam ser exercidos,
incluindo as ações que tenham por objeto, direta ou indiretamente, a casa de morada de
família (artigos 1682º -A e 1682º -B CC).

Em ambos os casos estão patentes ações relacionadas com bens comuns – teremos de, à luz
dos artigos 1717º e ss. CC saber qual é o regime de bens do casamento (+ artigo 1678º, nº3
in fine).

OU SEJA:
2 REQUISITOS:
- Natureza dos bens: respeita a natureza dos bens inseridos na ação, bens que só por ambos
os cônjuges podem ser alienados ou direitos que possam ser por ambos exercidos ou casa de
morada de família.
- O segundo requisito respeita aos efeitos ou objeto da ação: tem de se tratar de ações de
que possa resultar a perda ou oneração dos bens ou perda dos direitos ou oneração da casa
de morada de família
- 1º conclusão: litisconsórcio só é imposto em matéria de ações de natureza patrimonial; se for de
natureza pessoal não se verifica esta imposição; 2ª conclusão: necessidade de litisconsórcio na ação
liga-se diretamente com a obrigação imposta pelo direito substantivo dos dois cônjuges participarem
ou assentirem nos efeitos substantivos da ação

1º requisito:
- Obriga a que se saiba quais os ou bens ou os direitos que só por ambos os cônjuges podem ser
alienados ou exercidos – distinção de bens próprios e bens comuns
o Bens próprios
§ Moveis próprios – 1682º, nº2 CC – Cada um dos cônjuges tem legitimidade
para alienar ou onerar, por ato entre vivos, os móveis próprios ou comuns
de que tenha a administração, nos termos do nº1 do artigo 1678º e das
alíneas a) a f) do nº2 do mesmo artigo, ressalvado o disposto nos números
seguintes à se a legitimidade substantiva é singular também no processo
há de ser assim; 1682º, nº3 CC – prevê exceções à regra anterior:
Carece do consentimento de ambos os cônjuges a alienação ou oneração:
- De móveis utilizados conjuntamente por ambos os cônjuges na vida
do lar ou como instrumento comum de trabalho;
- De móveis pertencentes exclusivamente ao cônjuge que os não
administra, salvo tratando-se de ato de administração ordinária –
1678º, nº2 alíneas e), f) e g) – bens moveis próprios de um cônjuge, mas
utilizados como instrumentos de trabalho pelo outro cônjuge.
§ Imóveis próprios – 1682º -A – nº1 - Carece do consentimento de ambos os
cônjuges, salvo se entre eles vigorar o regime de separação de bens:
- A alienação, oneração, arrendamento ou constituição de outros
direitos pessoais de gozo sobre imóveis próprios ou comuns;
- A alienação, oneração ou locação de estabelecimento comercial,
próprio ou comum.
- Quanto à casa de morada de família – 1682º -A nº2 - A alienação,
oneração, arrendamento ou constituição de outros direitos pessoais de
gozo sobre a casa de morada da família carece sempre do
consentimento de ambos os cônjuges;
- ARTIGO 1682º -B (Disposição do direito ao arrendamento) -
relativamente à casa de morada de família, carecem do consentimento
de ambos os cônjuges: A resolução ou denúncia do contrato de
arrendamento pelo arrendatário;
b) A revogação do arrendamento por
mútuo consentimento;
o Bens comuns:
§ Administrados apenas por um dos cônjuges 1678º, nº2 a) – e):
- Dos proventos que receba pelo seu trabalho;
- Dos seus direitos de autor;
- Dos bens comuns por ele levados para o casamento ou adquiridos a
título gratuito depois do casamento, bem como dos sub-rogados em
lugar deles;
- Dos bens que tenham sido doados ou deixados a ambos os cônjuges
com exclusão da administração do outro cônjuge, salvo se se tratar de
bens doados ou deixados por conta da legítima desse outro cônjuge;
- Dos bens móveis, próprios do outro cônjuge ou comuns, por ele
exclusivamente utilizados como instrumento de trabalho;
- relativamente ao moveis: vale a mesma regra dos bens moveis
próprios: 1682º2; quanto aos imóveis: aplica-se o 1682º A – não faz
qualquer distinção.
§ Administrados por ambos os cônjuges – há́ que ter em consideração 3
regras:
- 1678º3: refere-se apenas aos atos de administração – os de administração
ordinária podem ser praticados por cada um dos cônjuges; os de
administração extraordinária têm de ser praticados por ambos – pode
aplicar-se o 34º1 CPC;
- Quanto aos atos de disposição: quanto aos bens moveis: 1682º1; quanto
aos bens imoveis: 1682º A
- pode aplicar-se o 34º1 CPC
De que ações pode resultar a perda ou oneração de bens?
o Ação de declaração de nulidade de compra e venda de um
computador
o Ação de simples apreciação positiva
o Ação de reivindicação
- todas estas devem ser propostas por ambos os cônjuges.

- 1682º B: também são ações que devem ser propostas por ambos os cônjuges.
- OU SEJA, são ações que podem resultar um risco para a titularidade dos bens.

Conclusão: o litisconsórcio só é imposto em matérias patrimoniais, nas pessoais, o litisconsórcio, pelo


menos o necessário não se afigura como possível (ex: divórcio); a necessidade de litisconsórcio liga-
se diretamente com a ligação imposta pelo direito substantivo de os 2 cônjuges participarem ou
consentirem nos efeitos do substantivos da causa.

A lei substantiva determina, nestes casos, em função do regime de bens do casal, quais os bens e
direitos que só podem ser alienados ou exercidos por ambos os cônjuges – artigo 1717º e ss CC.
è Quanto à casa de morada de família: artigos 1682º - B e 1793º CC.
Em vez de ser proposta por ambos os cônjuges – litisconsórcio necessário ativo – pode a ação ser
instaurada por um deles com o consentimento do outro e, se o cônjuge não der o seu consentimento,
a falta pode ser suprida mediante os termos do artigo 29º de acordo com o artigo 34º, nº2.
è O processo de suprimento de consentimento no caso de recusa é regulado pelo artigo 1000º.

• Artigo 34º, nº3 – lado passivo:


Ações que têm de ser propostas contra ambos os cônjuges (artigo 34º, nº3):
o As ações emergentes de facto praticado por ambos os cônjuges;
o As ações emergentes de facto praticado por um deles, mas em que pretenda obter-se decisão
suscetível de ser executada sobre bens próprios do outro – temos de recorrer ao regime das
dívidas.
Verifica-se, portanto, quando a ação diz respeito a um facto praticado por ambos os cônjuges,
quando respeita a dívidas comunicáveis (artigos 1691º e 1695º CC) – quando da ação possa resultar
a perda ou oneração dos bens que só por ambos possam ser alienados ou a perda de direitos que só
por ambos possam ser exercidos, incluindo as ações que digam respeito à casa de morada de familia.
O Prof. LEBRE DE FREITAS acentua o “pretenda” referido no artigo e concede ao credor uma
possibilidade de escolha em propor a ação contra apenas um dos cônjuges, apesar de a dívida ser
comum. TEIXEIRA DE SOUSA critica esta visão, uma vez que não considera a imperatividade do regime
da responsabilidade pela dívida dos cônjuges e é incompatível com o regime que se encontra
estabelecido no âmbito da ação executiva (artigos 741º e 742º).
o As ações compreendidas no nº1 – quando da ação possa resultar a perda ou a oneração de
bens que só por ambos possam ser alienados ou a perda de direitos que só por ambos possam
ser exercidos, incluindo as ações que digam respeito à casa de morada de família.

- Quando é que a divida é comum:


o 1691º, nº1 e 2; 1693º, nº3; 1694º, nº1 e 2 (2ª parte).
o 1691º, nº1 - são da responsabilidade de ambos os cônjuges:
a) As dívidas contraídas, antes ou depois da celebração do casamento, pelos dois
cônjuges, ou por um deles com o consentimento do outro;
b) As dívidas contraídas por qualquer dos cônjuges, antes ou depois da celebração do
casamento, para ocorrer aos encargos normais da vida familiar;
c) As dívidas contraídas na constância do matrimonio pelo cônjuge administrador, em
proveito comum do casal e nos limites dos seus poderes de administração;
d) As dívidas contraídas por qualquer dos cônjuges no exercício do comercio, salvo se
se provar que não foram contraídas em proveito comum do casal, ou se vigorar entre
os cônjuges o regime de separação de bens;
e) As dívidas consideradas comunicáveis nos termos do nº2 do artigo 1693º;

Que significa ser a dívida comum? 1695º - 1. Pelas dívidas que são da responsabilidade de
ambos os cônjuges respondem os bens comuns do casal, e, na falta ou insuficiência deles,
solidariamente, os bens próprios de qualquer dos cônjuges.
2. No regime da separação de bens, a responsabilidade dos cônjuges não é solidária.

- Quando é que a dívida é própria:


o Artigo 1692º:
a) As dívidas contraídas, antes ou depois da celebração do casamento, por cada um
dos cônjuges sem o consentimento do outro, fora dos casos indicados nas alíneas b) e
c) do nº1 do artigo anterior;
b) As dívidas provenientes de crimes e as indemnizações, restituições, custas judiciais
ou multas devidas por factos imputáveis a cada um dos cônjuges, salvo se esses factos,
implicando responsabilidade meramente civil, estiverem abrangidos pelo disposto nos
nº1 ou 2 do artigo anterior:
As dívidas cuja incomunicabilidade resulta do disposto no noº2 do artigo 1694º.
o 1694º, nº2, 1ª parte e 1693º, nº1;
Que significa ser a dívida própria? 1696º, nº1 à pelas dívidas da exclusiva responsabilidade
de um dos cônjuges respondem os bens próprios do cônjuge devedor e, subsidiariamente, a
sua meação nos bens comuns.; 2. Respondem, todavia, ao mesmo tempo que os bens
próprios do cônjuge devedor:
a) Os bens por ele levados para o casal ou posteriormente adquiridos a título gratuito,
bem como os respetivos rendimentos;
b) O produto do trabalho e os direitos de autor do cônjuge devedor;
c) Os bens sub-rogados no lugar dos referidos na alínea a).

Artigo 34º, nº3 2ª parte – facto praticado por um, mas a sentença pode ser a vir a ser aplicada a bens
comuns – factos praticados por 1 mas a responsabilidade é de atos – podem originar dividas comuns.
è Estas são situações que estão contempladas 1691º, nº1, b) – e) e nº2.

Doutrina maioritária (LEBRE DE FREITAS) diz que nestas situações é litisconsórcio voluntário - razões:
¾ Letra da lei – “mas em que pretenda obter-se decisão suscetível de ser executada sobre bens
próprios do outro” o credor pode propor a ação contra os 2 ou contra 1.
MTS – é da opinião de que se trata de litisconsórcio necessário – é instrumental relativamente ao
direito substantivo, neste sentido se estabelece que 1ª respondem os bens comuns e só depois os
bens próprios – 1695º, nº1 CC – respeitando os critérios do direito substantivo à pretenda não
significa uma opção: o artigo 34º pretende regular somente os casos de litisconsórcio necessário.

è A ilegitimidade pode ser sanada mediante intervenção espontânea ou provocada.

¨ Litisconsórcio necessário convencional


O litisconsórcio também pode ser necessário por exigência do NJ como estipula o artigo 33º, nº1 –
ex: quando duas ou mais pessoas efetuam um depósito podem convencionar que a coia só por todos
os depositantes em conjunto possa ser levantada e, em virtude desta convenção, deve ser proposta
por todos os depositantes a ação em que se pede a restituição da coisa depositada à a falta de
qualquer dos interessados origina a ilegitimidade dos restantes.

– Este tipo de litisconsórcio resulta da vontade e, MTS defende que tem de ser reflexo de um regime
substantivo equivalente à as partes não podem convencionar uma conjunção extrajudicial e depois
um convencional - tem de haver uma correspondência entre o substantivo e o processual.

Assim, estes casos resultam da convenção substantiva e da tradução da mesma no âmbito


processual.
è Apesar de a lei ser omissa quanto à forma desta convenção, entende-se que a mesma deve
constar, pelo menos, de documento escrito, ou submeter-se à forma mais solene, se for essa
a do negócio a que respeita o litígio.

¨ Litisconsórcio necessário natural


Artigo 33º, nº2 - a decisão produz o seu efeito útil normal sempre que, não vinculando embora os
restantes interessados, possa regular definitivamente a situação concreta das partes relativamente
ao pedido formulado.
Nestes casos, o litisconsórcio necessário não resulta da lei nem dos termos do contrato, sendo
imposto pela própria natureza da relação jurídica: a decisão produz o seu efeito útil normal quando
regula a situação concreta que foi submetida à apreciação do tribunal à o estabelecimento do
litisconsórcio necessário visa assegurar a solução unitária do conflito, requerida pela natureza da
relação, sem a imposição da força do caso julgado a quem não interveio na ação.
Trata-se, por conseguinte, das ações em que, não intervindo todos os interessados na relação plural
controvertida, a decisão que viesse a ser proferida, a menos que se violasse frontalmente o princípio
básico da relatividade do caso julgado a que lei pretende e deve respeitar, não produziria nenhum
efeito útil.
Assim, o litisconsórcio é necessário se só com a intervenção de ambos se puder regular
definitivamente a questão, a contrario é voluntario se mesmo sem a intervenção de todos a decisão
puder regular definitivamente a situação de todos.
è Torna-se intocável só com a intervenção de alguns = voluntário – ex: ação de invalidação de
beneficiários herdeiros.

Existem casos que consubstanciam um litisconsórcio unitário, dado que a decisão tem de ser a
mesma para todos:
Por exemplo, no caso de uma ação de divisão de coisa comum entre 3 comproprietários, não é
pensável que a mesma seja feita apenas entre 2 comproprietários, uma vez que aquilo que estes 2
dividirem entre si nunca regulará definitivamente a situação, uma vez que o 3º irá fazer valer os seus
direitos.
Se a decisão quanto a alguns não regular definitivamente = necessário
Unitário, pois a decisão tem de ser uniforma em relação a todos os interessados.
è Nestes casos, a decisão há́ de ser sempre simultânea para todos os interessados.
EX: anulação contra todos os intervenientes no negócio jurídico – litisconsórcio necessário passivo.
OU SEJA: a decisão que fosse proferida sem a presença de todos os interessados não produziria um
efeito útil normal: a normalidade do efeito obtido é definida pela própria lei no nº2 do artigo 33º que
estipula que a decisão produz o seu efeito útil normal sempre que possa regular definitivamente a
situação concreta das partes relativamente ao pedido formulado.
Ao apelar à natureza da relação controvertida, o legislador remete para uma ponderação casuística,
conferindo a esta espécie de litisconsórcio necessário uma função residual ou supletiva, o que
equivale a dizer que tal espécie funciona em jeito de válvula de escape do sistema, destinando-se a
cobrir situações que o legislador até poderia ter previsto como casos de litisconsórcio necessário
(que seria litisconsórcio legal) e que, embora não previstos, exigem a presença em juízo de todos os
interessados na relação controvertida.

¾ Litisconsórcio parciário vs litisconsórcio unitário – o primeiro é aquele em que, havendo uma


pluralidade de partes ativas e/ou passivas, pode haver decisões diferentes para cada uma
dessas partes, não tendo a decisão de ser uniforme para todas; no segundo, a decisão é
necessariamente uniforme para todas as partes.

Ilegitimidade Plural
A ilegitimidade plural decorrente da violação do litisconsórcio necessário é suprível pela intervenção
em juízo dos titulares da relação controvertida que não seja, originariamente, partes (intervenção
de terceiro) – artigo 261º.
A intervenção pode ser espontânea (artigos 311º e ss.) ou provocada (artigos 316º e ss.). A
intervenção é admissível até 30 dias depois de transitar em julgado o despacho que, conhecendo da
ilegitimidade, pôs termo ao processo. Admitido o chamamento da pessoa em falta, a instância extinta
considera-se renovada – artigo 261º, nº2.
No litisconsórcio necessário conjugal, a ilegitimidade ativa é sanável pela obtenção do
consentimento do outro cônjuge – artigo 34º, nº2. A ilegitimidade passiva é sanável mediante a
intervenção principal do outro cônjuge, provocada pelo autor, dentro dos 30 dias posteriores ao
transito em julgado do despacho que determinou a absolvição da instância – artigo 261º, nº1 e 2 –
ou a intervenção provocada pelo cônjuge réu – artigo 316º, nº1.

Þ Coligação
A coligação verifica-se nas situações em que há uma pluralidade de partes e uma cumulação de
pedidos (como sucede no litisconsórcio), mas com a particularidade de que os pedidos que são
cumulados são formulados individualmente por cada autor (no caso de pluralidade de autores) ou
contra cada réu individualmente (no caso de pluralidade de réus). Ou seja, na coligação não só existe
pluralidade de partes, como também existe diversidade de relações materialmente controvertidas.
è Trata-se de uma faculdade e não de uma imposição.
É permitida a coligação de autores contra um ou vários réus e é permitido a um autor demandar
conjuntamente vários réus, por pedidos diferentes, quando a causa de pedir seja a mesma e única
ou quando os pedidos estejam entre si numa relação de prejudicialidade ou de dependência – artigo
36º, nº1.
Vários autores podem coligar-se contra 1 ou contra vários réus e, o autor pode demandar vários réus
por pedidos diferentes nos seguintes casos:
1. Quando a causa de pedir seja a mesma e única;
2. Quando os pedidos estejam entre si numa relação de prejudicialidade ou de dependência;
Ex: quando as vítimas do mesmo acidente de viação demandarem, na mesma ação, a companhia de
seguros do veiculo à dado que a coligação é voluntária, a falta de alguma das vitimas na ação não
determina a ilegitimidade da outra ou das outras.
A causa de pedir é o ato ou facto jurídico de onde emerge a pretensão deduzida pelo autor – artigo
581º, nº4.
É igualmente licita a coligação quando a procedência dos pedidos principais dependa essencialmente
da apreciação dos mesmos factos ou da interpretação e aplicação das mesmas regras de direito ou
de clausulas de contratos perfeitamente análogas – artigo 36º, nº2.
Assim, admite-se a coligação quando a procedência dos pedidos principais dependa:
1. Da apreciação dos mesmos factos;
2. Ou da interpretação e aplicação das mesmas regras de direito;
3. Ou da interpretação e aplicação de clausulas de contratos perfeitamente análogos.

Por último, é admitida a coligação quando os pedidos deduzidos contra os vários réus se baseiam na
invocação da obrigação cartular, quanto a uns e da respetiva relação subjacente, quanto a outros –
artigo 36º, nº3 à é o que se verifica na colisão de réus, uns são demandados coo subscritores de um
titulo de crédito e outro ou outros com base na obrigação subjacente que deu origem àquele titulo.
è Assim, para que seja permitida a coligação, torna-se necessário que não se verifique nenhum
os obstáculos previstos no artigo 37º.

Þ Modo de sanar a ilegitimidade: intervenção de terceiro


Atualmente será difícil de ocorrer ilegitimidade singular, na medida em que, a configuração da
relação material controvertida é a que foi gizada pelo autor – o réu do processo é o que ele quer
demandar e só poderá falar-se de ilegitimidade nos casos em que se verificar divergência entre as
pessoas identificadas pelo autor e as que realmente foram chamadas a juiz, ou seja, quando estas
pessoas não são os sujeitos da relação controvertuida delineada pelo autor.
Nestes casos, a ilegitimidade constitui uma exceção dilatória nos termos dos artigos 576º e 577º a)
à em consequência, por força do que dispõe o artigo 278º, nº1, d), o juiz deve abster-se de conhecer
do pedido e absolver o réu da instância.
A ilegitimidade plural pode verificar-se no caso de litisconsórcio necessário: a falta de algum dos
interessados, quer do lado ativo, quer do lado passivo, gera a ilegitimidade de quem está em juízo
não devidamente acompanhado à significa isto que a ilegitimidade é sanável mediante a
intervenção instantânea ou provocada da parte cuja falta gera esse vicio – artigo 261º.

OU SEJA:
Existe o princípio da estabilidade da instância (artigo 260º), segundo o qual, uma vez proposta a ação,
esta deve permanecer a mesma em relação às partes e ao objeto. Contudo, há́ possibilidade de,
durante a pendência, haver modificação das partes (artigo 262º):
1. Uma parte é substituída por outra – fundamentalmente, o que está em causa são situações
de habilitação de herdeiros.
2. Situações de intervenção de terceiros – temos uma causa pendente e verifica-se a
intervenção de alguém que não era parte na causa.
- Pode suceder de diferentes formas:

- Intervenção principal - o terceiro intervém como uma parte paralela, vindo assumir um interesse
paralelo a qualquer uma das partes em juízo. Esta intervenção principal de terceiro pode ser:
• Espontânea (artigo 311º) – por iniciativa do terceiro. Pode ser adesiva (artigo 313º - o terceiro
intervém e adere àquilo que já foi feito, não apresenta um articulado próprio); ou autónoma
(artigo 314º - o interveniente apresenta uma posição autónoma, através de um articulado
próprio).
• Provocada (artigo 316º) – em que alguma das partes em juízo chama o terceiro a intervir.
Temos de distinguir duas situações:
o Ocorrendo preterição de litisconsórcio necessário, qualquer das partes pode chamar
a juízo o interessado com legitimidade para intervir na causa, seja como seu
associado, seja como associado da parte contrária.
o Nos casos de litisconsórcio voluntário, pode o autor provocar a intervenção de algum
litisconsorte do réu que não haja demandado inicialmente ou de terceiro contra
quem pretenda dirigir o pedido nos termos do artigo 39º.
O artigo 317º enuncia um caso de intervenção principal provocada: trata da situação em que estamos
perante uma dívida solidária, e em que se permite que o próprio devedor solidário, que foi
demandado sozinho, possa promover a intervenção dos restantes devedores solidários, dado que
aquele tem um direito de regresso sobre estes.
- Oposição – um terceiro vem opor-se às pretensões de qualquer uma das partes em juízo. A oposição
pode ser:
• Espontânea (artigo 333º) quando, estando pendente uma causa entre duas ou mais pessoas,
um terceiro intervém nela como oponente para fazer valer, no confronto de ambas as partes,
um direito próprio, total ou parcialmente incompatível com a pretensão deduzida pelo autor
ou pelo reconvinte;
• Provocada, em que o réu chama um terceiro que tem um direito incompatível com o direito
do autor. Por exemplo: A põe ação contra B uma ação de cobrança de uma dívida e B vem
entender que quem é o devedor da dívida não é ele mas sim C e, portanto, ele próprio chama
C a intervir na ação para que este venha dizer se é ou não o devedor daquela dívida. Se A
aceitar que B não é o devedor daquela dívida, a ação ocorrerá entre A e C.
A oposição é uma figura que não é muito utilizada. Pelo contrário, no artigo 342º e ss., está prevista
uma modalidade especifica da oposição – embargos de terceiros – que é muito utilizada,
nomeadamente no âmbito da ação executiva, porque é através deste que um terceiro pode vir a
opor-se à penhora de um bem com o argumento de que o bem lhe pertence.

- Intervenção acessória – um terceiro vem assumir uma posição de auxílio (de parte acessória) de
qualquer uma das partes principais.
Esta também pode ser:
• Espontânea (ou assistência) – por iniciativa do próprio terceiro. Este é um auxílio interessado,
porque nos termos do artigo 326º se estabelece que estando pendente uma causa entre duas
ou mais pessoas, pode intervir nela como assistente, para auxiliar qualquer das partes, quem
tiver interesse jurídico em que a decisão do pleito seja favorável a essa parte. Ex típico:
alguém celebra um contrato de arrendamento e o imóvel é reivindicado por um 3º: se a
propriedade do imóvel não for reconhecida ao senhorio, o inquilino veria o seu contrato de
arrendamento cessar, pelo que o inquilino terá́ um interesse jurídico em que a decisão seja
favorável ao senhorio.
• Provocada por uma parte em juízo (artigo 321º) – sucede quando alguém tem um direito de
regresso contra o terceiro e, por isso, chama esse terceiro que, provavelmente, não está
interessado em que o réu seja condenado, uma vez que se tal acontecer ele fará valer o seu
direito de regresso sobre si.

Neste sentido, a intervenção é admissível até 30 dias depois de transitar em julgado o despacho que,
conhecendo da ilegitimidade pôs termo ao processo e, admitido o chamamento da pessoa em falta,
a instância extinta considera-se renovada nos termos do artigo 261º, nº2.
Quer dizer, a intervenção da parte cuja falta ocasiona a ilegitimidade pode ser requerida antes ou
depois do transito em julgado do despacho que pôs termo ao processo à se for requerida antes e a
intervenção for admitida, a instância não chega a extinguir-se, podendo dizer-se que se reanima.
Se a intervenção for requerida depois – nos 30 dias posteriores – renova-se a instância que tinha sido
julgada extinta.
è Pode sanar a falta deste pressuposto não só o autor como também o réu reconvinte.
No litisconsórcio necessário entre os cônjuges, a ilegitimidade ativa é sanável pela obtenção do
consentimento do outro cônjuge – a falta do consentimento pode ser suprida judicialmente por meio
de processo próprio regulado no artigo 1000º - artigo 34º, nº2.
A ilegitimidade passiva é sanável mediante a intervenção principal do outro cônjuge, provocada pelo
autor, dentro dos 30 dias posteriores ao transito em julgado do despacho que determinou a
absolvição da instância – artigo 261º, nº1 e 2 – ou a intervenção provocada pelo cônjuge réu – artigo
316º, nº1

x INTERESSE PROCESSUAL
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