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2020/2021

DIREITO PROCESSUAL CIVIL I

SIMÃO FINO
Regência: Dr.ª Paula Costa e Silva
2020/2021
Direito Processual Civil I

Introdução Geral

O Direito Processual Civil é uma cadeira que estuda a teoria geral da realização da justiça,
que tende a atingir um procedimento para uma solução justa e o processo civil surge numa fase de
conflito entre as partes. O Direito Processual Civil engloba os princípios fundamentais das estruturas da
justiça sendo que o encadeamento processual é um encadeamento valorativo, pois todo o Direito é
deontologia (“dever ser”).

Em Direito Processual Civil vamos falar de situações em que a autonomia privada falha.

Perguntas para as quais responde o Direito Processual Civil:


 Quem pode intentar uma ação? Problema da legitimidade : a legitimidade conduz à
racionalidade do processo e da decisão. A decisão ao invés da lei não pode ser alterada,
esgotados os recursos. A decisão vai assegurar a segurança e paz jurídica para tal teremos de
estudar a teoria geral dos pressupostos.
 Qual o tribunal competente para o efeito? A jurisdição é o braço da soberania, ou seja,
quando há conflito num Estado diferente da nacionalidade dos intervenientes, todos os
tribunais nacionais dizem ser competentes internacionalmente, os tribunais portugueses
podem ter de aplicar direito estrangeiro. Iremos estudar os problemas de competência interna
dos tribunais.
 Qual o domicílio do réu?
 Qual o objeto da ação?
 A decisão proferida no conflito tem de ser a mais justa possível.
 Quais as garantias processuais?
 Os pressupostos do negócio jurídico ( TGDC) são os mesmo para os pressupostos para o
procedimento civil, sendo que do Direito Processual Civil a autonomia privada não existe.
Pressupostos Processuais: São condições que têm de estar preenchidas para o juiz conseguir
uma decisão de mérito, cada pressuposto tem natureza valorativa. Requisitos.

Cada processo serve para vermos onde esta o certo e o errado. Esta estrutura serve para ver
se o autor tem ou não razão. Se no final é possível adjudicar1 alguma coisa ao autor que ele pediu.
Espécie de metodologia da decisão.

Processo é um facto jurídico. Temos vários factos que concorrem para uma composição final.

Princípio do dispositivo - Alguém tem de instaurar uma ação (pedir alguma coisa). Juridicamente
pede alguma coisa contra alguma pessoa, porque a autonomia privada falhou na composição
entre estas duas pessoas. Este alguém há-de poder dizer alguma coisa. Confrontadas estas duas
declarações há-de alguém dizer onde está a linha entre o certo e o errado. Cada uma das partes
quer persuadir o decisor que tem razão. As partes têm de ter as mesmas chances, igualdade de
condições. E o decisor quer persuadir que a decisão que tomou foi a decisão da razão, a decisão
certa.

Princípio do contraditório - igualdade de armas, necessidade das partes se poderem pronunciar


sobre o que as outras dizem para convencer o juiz. Eu tenho garantias do decisor e vou ter garantias
na própria estrutura do procedimento. Vamos exigir que o decisor seja imparcial e fundamente as
suas decisões. Tenho de conhecer a descrição dos factos das duas partes. O contraditório.

PAULA COSTA E SILVA defende que o processo não visa propriamente conhecer da realidade
(do que efetivamente aconteceu), mas sim da realidade descrita pelas partes, do que trazem à lide
(exemplo - C pode ter partido a mesa de D com um martelo, mas se D disser, na sua Petição Inicial,

1Adjudicação é o ato judicial mediante o qual se declara e se estabelece que a propriedade de uma
coisa se transfere de seu primitivo dono para o credor, que então assume sobre ela todos os direitos de
domínio e posse inerentes a toda e qualquer alienação. Declarar quem é que tem direito a.
que a mesa foi partida com um machado e C nada disser, fica provado - por acordo - que a mesa
foi partida com um machado).É um "verdade" processual.

Ação declarativa - ação destinada a reconhecer ou a constituir um direito subjetivo do autor


(aquele que intenta ou instaura a ação) -, por outras palavras, visa declarar o direito, apreciando a
verificação ou não de um facto, condenando numa prestação ou constituindo uma situação
jurídica) vs. ação executiva - visa executar o direito que anteriormente já foi declarado/reconhecido.
Visa satisfazer um direito anteriormente já declarado/reconhecido.

Efeito de caso julgado2: artigo 620.º e 621.º CPC -. Imutabilidade da decisão. Quando uma sentença
forma caso julgado, a matéria sobre a qual o juiz decidiu não pode ser novamente apreciada em
tribunal para evitar que a mesma questão possa ser novamente apreciada (economia de meios) e
que dois juízes se pronunciem contraditoriamente sobre o mesmo.

O problema é saber o que é a "matéria sobre a qual o juiz decidiu". Há dois tipos: o caso
julgado formal (vale dentro do processo 620.º) e o material (vale dentro e fora do processo em
questão 621.º).

O que acontece se instaurares nova ação que viole o caso julgado de uma ação anterior?
Exceção dilatória de caso julgado (577.º/i), 580.º 581.º).

Absolvição – réu declarado inocente/não culpado. Decisão judicial que declara improcedente a
ação judicial intentada pelo autor contra o réu. Não tem justificação. Não condenação.
 Absolvição do pedido - tribunal absolve o Réu do pedido, ou seja, diz que o Autor não tem
razão naquilo que pediu.
 Absolvição da instância - tribunal absolve o Réu da instância em si, ou seja, diz que não pode
apreciar o pedido porque há um problema na instância, o que não impede que o pedido seja
apreciado em novo processo. Ex: instauras um processo para seres indemnizado por um dano
contra uma vaca. A vaca não tem personalidade judiciária, não pode ser parte numa ação.
A instância não "está boa", falta um pressupostos processual, pelo que há absolvição de
instância.

Transitar em julgado: 628.º - deixa de poder haver recurso (ordinário) ou reclamação da sentença, ou
seja, ela já não pode ser (em princípio) alterada. A partir desse momento, a decisão do juiz consolida-
se e há efeito de caso julgado

Recorrer - impugnar a decisão para um tribunal superior. Vs. Reclamar - impugnar a decisão para o
próprio juiz.

Heterotutela:
A ordem jurídica privada não só deve atribuir direitos subjetivos, mas também garantir a
possibilidade de o seu titular exercer as faculdades neles contidas. Subsidiária e excecionalmente, o
titular poderá exercê-las com recurso a formas de autotutela tipificadas na lei [vide art.º 336º ss. CC].
Todavia, proíbe-se genericamente a autotutela, salvo impossibilidade de recurso em tempo útil
aos meios coercivos normais, a heterotutela [art.º 1º] - (do tribunal quando o autor exerce o seu
direito de ação).
Conclui-se: a garantia jurisdicional dos direitos subjetivos constitui a forma normal da sua
defesa [cfr. art.º 20º-1 CRP].

2Trânsito em julgado é uma expressão usada para uma decisão ou acórdão judicial da qual não se pode
mais recorrer, seja porque já passou por todos os recursos possíveis, seja porque o prazo para recorrer
terminou ou por acordo homologado por sentença entre as partes. Não pode haver mais recursos.
O Conceito

As 3 bases que sustentam o Estado de Direito Democrático são: Liberdade, Autonomia Privada
e Responsabilidade. Não há Liberdade sem Autonomia, mas também não há liberdade e autonomia
sem Responsabilidade. E a Responsabilidade pressupõe a autonomia e a liberdade. Sem isto, é um
sistema totalmente arbitrário ou totalmente totalitário.
O Processo Civil3 surge numa situação de conflito, quando há uma falha na autonomia
privada.
O direito é um sistema de normas de conduta, isto é, por normas primárias, permitivas,
imperativas, e proibitivas, que têm com fim pautar a atuação dos sujeitos jurídicos de acordo com os
valores sociais.
Para que se revistam de juridicidade essas normas primárias carecem da possibilidade de
coativamente serem feitas respeitar. Toda a norma de conduta é garantida por uma norma
secundária sancionatória que se impõe no caso de violação da primeira.
A violação da norma de conduta surge quando outrem atua afetando a integridade de uma
situação jurídica tutelada pelo direito. O titular da situação jurídica tutelada pode então recorrer aos
tribunais, procurando assegurar a satisfação do seu interesse. Por outras palavras, a consumação da
norma violada leva os sujeitos aos tribunais. Mas não só. Também a prevenção da violação e o
exercício de direitos potestativos o justifica. Em todos os casos, o recurso aos tribunais postula a
aplicação de normas instrumentais que regulem as atuações dos sujeitos de direito privado e dos
tribunais tendentes à concretização jurisdicional do direito substantivo. O conjunto e normas,
recortado no âmbito do direito publico, constitui o direito processual civil.
O direito processual civil é assim, um conjunto de normas reguladoras do processo civil, o que
nos remete para o conceito de processo civil – feita mediante o exame sucessivo dos seus elementos
fundamentais: a estrutura (1), a função (2), o objeto (3) e os sujeitos (4) do processo civil.

Estrutura (1)
O termo processo designa uma sequência de fenómenos (atos humanos ou factos naturais)
dirigida a um resultado. Processo é, então, um facto jurídico.4 O processo jurisdicional é sempre uma
sequência de atos jurídicos (das partes, do tribunal, de terceiros intervenientes) encadeados e
relacionados entre si, constituindo uma realidade unitária e estruturada, ordenados para um fim.
Podemos dizer que o processo é o conjunto de atos praticados em cooperação pelo tribunal e
pelas partes de modo a chegar a uma decisão exauriente, a uma justa composição do litígio.
À sequência das formalidades exigidas para a apresentação das posições das partes e para o
proferimento da decisão chama-se procedimento, enquanto um processo no sentido formal e
formalista do conceito.
O encadeamento lógico dos atos processuais pode ser exemplificado com recurso a um
exemplo: se nenhum aluno se pronunciar contra a data de exame proposta pelo professor, este
marcá-lo-á sem mais; se os alunos, por outro lado, sugerirem outras datas, cabe ao professor optar
por uma delas. Embora num outro plano, interessa relembrar o disposto no art.º 1º CPA, relativamente
ao procedimento administrativo.

Esses atos, por sua vez, ordenam-se em fases sucessivas.


O Processo comum é o ponto de referencia subsidiário das restantes formas do processo civil
(art.º546º e 549º/1), que tem na ação declarativa, em 1ª instancia, as seguintes fases:
1. Fase dos articulados
2. Fase da contestação
3. Fase da condensação
4. Fase da instrução – (divide-se em diversos procedimentos probatórios)
 Proposição das provas
 Admissão e produção das provas

3 O processo é Civil pois diz respeito a interesses privados, cujas normas que se aplicam são as de Direito
Civil, pois são estas que regulam as relações jurídicas entre os particulares.
4 Por exemplo: o processo de formação de uma lei; o processo de formação do ato administrativo; o

processo dinâmico da obrigação, desde que se constitui até à sua extinção – o contrato.
 Apreciação da prova pelo julgador
5. Fase da discussão
6. Fase do julgamento

Constituindo o processo jurisdicional uma sequencia de atos jurídicos, dele não fazem parte
factos jurídicos stricto sensu5. Contudo, não significa que os mesmos não possam produzir efeitos no
processo, mas sim que, quando tal acontece, estes efeitos são mediatizados através da prática de
atos jurídicos (processuais) que aí os fazem valer. Por exemplo, “a morte de uma das partes suspende
a instância (art.º 269º/1-a)), mas só depois de alegada (e provada (art.º270º)), salvo o fenómeno da
retroatividade: o facto de a morte ocorrer fora da sequencia processual e, extinguindo a
personalidade jurídica da parte (11º), faz cessar um pressuposto processual; a legação da parte
(270º/2), ou a certificação do falecimento pelo funcionário incumbido da citação (351º/2), são atos
integrados na sequencia processual que condicionam a verificação judicial do facto, subsequente à
respetiva prova (270º/1).

Forma e formalidades:
A forma que o processo deve tomar varia consoante o fim visado. Diferentes fins equivalem a
diferentes atos a ser praticados, e a diferentes formalidades a ser observadas. Primeiramente, resulta
do art.º 546º, nº 1 CPC que podemos ter:
 Processo comum – aplicável a todos os casos a que não corresponda um processo especial
 Processo declarativo
 Processo executivo
 Processo especial – aplicável aos casos expressamente designados na lei (Livro V CPC).
 Tutela da personalidade
 Justificação da ausência
 Interdições e inabilitações
 Prestação de caução
 Consignação em depósito
 Divisão de coisa comum
 Divórcio e separação sem consentimento do outro cônjuge
 Execução especial por alimentos
 Liquidação da herança vaga em benefício do Estado
 Prestação de contas

Facilmente se compreende que o processo comum é a regra e que o processo especial a


exceção. Mais, as regras do processo comum aplicam-se aos processos especiais, sempre que o
aspeto em causa não seja por eles regulado – o processo comum é subsidiário. A indicação da
forma do processo na petição inicial é obrigatória – art.º 552º, nº 1, al c) CPC.

As formalidades processuais pautam-se pela complexidade por duas razões fundamentais:


por um lado, evitar um défice procedimental e diálogo insuficiente entre as partes e, por outro lado,
obstar à crise de legitimação do processo em geral, e da decisão em particular. A primeira das
razões permite o enquadramento da conflituosidade em questão e a formação de consensos que,
em última análise, poderão até determinar a extinção do processo mediante realização espontânea
da prestação em falta, vg. Quanto à segunda das razões apontadas, permite que as partes aceitem
mais facilmente uma decisão legitimamente proferida após intenso e transparente debate entre as
partes e o tribunal.

O Ato processual:
Dizer que o processo é um sequencia de atos jurídicos não resolve internamente o problema
da qualificação dum ato jurídico como processual. Há atos que, praticados fora do processo, têm
relevância exclusivamente processual (procuração, convenção de arbitragem, pacto de jurisdição
ou de competência, renuncia ao recurso), por se destinarem a conformar os requisitos (constitutivos
ou impeditivos) dos pressupostos da decisão de mérito ou de tatos da sequencia processual, e que
por isso hão de também ser qualificados como processuais, ainda que se lhes possa aplicar o regime
da validade dos atos de direito substantivos. Por outro lado, nada impede a possibilidade de um ato

5 Atos naturais.
integrado na sequencia (ou a omissão dum ato da sequência) produzir efeitos tipicamente
substantivos6.

A invalidade do ato da sequência:


Em direito civil as causas de nulidade ou anulabilidade dos negócio jurídicos e, por extensão,
do ato jurídico stricto sensu (art.º 295ºCC) são eficazes no âmbito do ato em causa, sem que, por si,
projetarem a sua eficácia no regime de outros atos jurídicos. É assim, inclusivamente, no campo dos
negócios de alienação, em que a dependência em que a transmissão do direito real (de B para C)
aparenta estar de uma anterior transmissão (de A para B) não representa nunca uma ligação lógica
necessária dos efeitos dum negócio aos do outro, mas uma mera ligação fáctica eventual: se o
primeiro negocio de transmissão for nulo, o segundo sê-lo-á, por via de um vício que é próprio deste
(a ilegitimidade negocial do transmitente), enquanto o aparente direito de B derivar dessa primeira
transmissão; mas, se B adquirir o direito por outra causa, logo a repercussão dos efeitos negativos do
primeiro negocio deixa e se verificar. Por outro lado, pode a celebração de um negocio constituir
convalidação (ex. 895º CC) ou confirmação (art.º 288º) de um negocio anterior; mas nunca a
eficácia do vicio verificado num negocio, seja ele gerador de nulidade ou de anulabilidade, se pode
dizer necessariamente dependente da realização da função de outros negócios posteriores.7

Em processo civil, pelo contrário, a nulidade (ou anulação) dum ato da sequência repercute,
em regra, a sua eficácia nos atos subsequentes que entretanto hajam sito praticados; e, num
movimento de sentido inverso, o efeito de nulidade (ou anulação) do ato só se verifica quando o
vício é suscetível de afetar a realização da finalidade do processo (como sequencia).
Constituem irregularidades suscetíveis de integrar a invalidade processual, a prática de um ato
que a lei não admita e a omissão de um ato ou de uma formalidade que a lei prescreva – art.º 195º/1
– nulidade processual. Não se trata de vícios/defeitos que respeitem ao conteúdo do ato, mas só de
vícios respeitantes à sua existência ou formalidades, ao trâmite do processo. Para determinar a sua
ocorrência há que verificar se a forma do processo (546º e 547º) em que o ato foi praticado ou
omitido consentia (no primeiro caso) ou exigia (no segundo), no momento sequencial da prática ou
da omissão; se não o permitia e ele foi praticado, se o exigia e ele não foi praticado, se sem prejuízo
da preclusão8 das faculdades processuais das partes, foi praticado fora do momento processual
adequado ou se, na prática, não foram observadas as formalidades que a lei prescreve, o vício
verifica-se. Verificado o vicio, se a lei não prescrever expressamente que ele tem como
consequência a invalidade do ato, segue-se verificar a influencia que a pratica ou omissão concreta
pode ter no exame ou na decisão da causa, isto e, na sua instrução, discussão e julgamento, ou no
processo executivo, na realização das providencias executivas (penhora, venda, pagamento). Os
efeitos da invalidade do ato processual repercutem-se nos atos subsequentes da sequência
processual que dele foram absolutamente dependentes (art.º 195º/2).
Quando o vicio tenha lugar durante a prática dum ato a que o juiz presida e seja nele
conhecido, deve logo o juiz, oficiosamente, fazer cumprir a lei (199º/2).

Função (2)
A sequência processual dirige-se a finalidades diversificadas, consoante o tipo de pedido que o autor
formula a tribunal ao instaurar o processo.

“Espécies de ações, consoante o seu fim” – art.º 10º CPC

O Direito Processual Civil parte do princípio de que a todo o direito subjetivo ou interesse
legalmente protegido corresponde uma ação [art.º 2º], assumindo uma função instrumental em

6 Assim acontece com os negócios de autocomposição do litígio celebrados por termo do processo, com
a revelia com efeito cominatório pleno, com a propositura da ação e com a citação do réu.
7 Por exemplo, a sanação (correção) da nulidade negocial superveniente do requisito de validade

(aquisição dos vens vendidos a non domino pelo vendedor) mais não é do que uma integração da
fatispécie normativa imperfeita.
8 Perda do direito de agir/de se manifestar nos autos em face da perda da oportunidade, conferida por

certo prazo.
relação a todas essas situações subjetivas. Constituem, todavia, exceções a esta correspondência
entre direitos e tutela jurisdicional, as obrigações naturais [art.º 402º CC] e os direitos prescritos [art.º
304º-1 CC].

 Ação declarativa – ação destinada a reconhecer um direito subjetivo do autor, mediante a


apreciação da veracidade dos factos que alega contra o réu, condenando a uma prestação
ou constituindo uma situação jurídica.
1. Ação de simples apreciação – autor pede ao tribunal que declare/confirme a
existência ou inexistência de um direito ou de um facto jurídico; corresponde a este
tipo de ações os designados direitos de monopólio (bens materiais ou imateriais
exclusivos, vg. direito de propriedade). (Art.º 4º/2-a)).
 Positivas: declaração de existência de um direito/facto;
 Negativas: declaração de inexistência de um direito/facto [art.º 502º-2]
2. Ação de condenação9 – sem prejuízo de o tribunal dever ainda emitir um juízo
declarativo, pretende-se que, fundamentalmente e em consequência, condene o réu
na prestação de uma coisa ou de um facto; O pedido de declaração prévia do direito
ou do facto jurídico pode ser expresso, caso em que se verifica a cumulação de
pedidos (555º); mas pode o autor limitar-se a pedir a condenação do réu e então o
juízo prévio de apreciação mais não é do que um pressuposto lógico do juízo
condenatório pretendido. Pressuposto lógico da condenação é também a violação de
um direito. Esta não precisa de estar consumada à data do recurso a juízo ou mesmo à
data da sentença. A ação de condenação pode, com efeito, ter lugar na previsão da
violação do direito, dando lugar a uma intimação do réu para que se abstenha de o
violar (1276ºCC: ação possessória de prevenção) ou à sua condenação a satisfazer a
pretensão no momento do vencimento (557º e 610º). Corresponde a este tipo de ações
os direitos a uma prestação [pretensões, vg. direitos de crédito] (art.º 4.º/b).
 Prestação de facto positivo ou negativo, passado ou futuro [art.º 472º-2]
 Entrega da coisa
3. Ação constitutiva – exerce-se um simples direito potestativo10. Impõem sujeições a
terceiros, vg direito ao divórcio. Permite criar uma situação nova na ordem jurídica (ex.
ação de preferência, investigação de paternidade, anulação de contrato, anulação
de casamento, declaração de indignidade sucessória ou ação de despejo). (Art.º 4º/2-
c)).
 Constitutiva proprio sensu
 Modificativa
 Extintiva
 Ação executiva – ação que visa executar11 um direito anteriormente declarado/reconhecido.
Tem como finalidade a realização coativa de uma prestação devida. (Art.º 4º/3).

A tutela do direito material:


Doutrina clássica: a função do processo civil consiste na tutela do direito material, entendido este
quer no sentido (objetivo) de sistema de normas de conduta, quer ao tribunal cabendo impor a sua
observância e reprimir a sua violação, quer no sentido (subjetivo) de direito radicado num sujeito
jurídico carecido da ajuda dos tribunais para o exercer.

O art.º 202º/2 da Constituição consagra a ideia que aos tribunais incumbe “assegurar a defesa dos
direitos e interesses legalmente protegidos dos cidadãos”, confirmando a ideia de que o processo
civil tem por função a tutela de direitos subjetivos, ou de interesses juridicamente protegidos.

Paula Costa e Silva: Processo serve para saber se o autor ou o réu têm razão.

9 Ex. autor do pedido, afirmando-se o proprietário do carro, pretende que o réu seja condenado a restituir-
lho, indemnizando-o pelo facto de ter ficado, ilicitamente, privado da coisa.
10 Faculdade de, unilateralmente, através de uma manifestação de vontade, alterar a ordem jurídica.

Permite criar uma situação nova na ordem jurídica. Impõem sujeições a terceiros. Direito que não merece
contestação. Um ato é potestativo quando o seu cumprimento depende da vontade exclusiva de uma
das partes.
11 Dar cumprimento; satisfazer.
 Não se admitem atos inúteis no processo – art.º 130º CPC que remete para o art.º 6º/1 - o que é
impertinente ou dilatório é por referência ao objetivo do processo que é saber se o autor tem
razão.

A Justa composição do litígio:


Nem sempre a tutela do direito subjetivo (ou do interesse legalmente protegido) se realiza no
processo civil. Para o demonstrar, tem-se argumentado com a distribuição do ónus da prova e com a
admissibilidade da autocomposição do litígio.
Nos sistemas processuais hodiernos12, a duvida insanável do juiz acerca da realidade dos
factos alegados pelas parte é resolvida, não através de um non liquet (declaração do tribunal de
que não pode decidir a causa), mas mediante a imputação a uma das partes das consequências
negativas da falta de prova.

Todo o processo civil tem na sua base um conflito de interesses e visa a sua composição. A
composição não se pode fazer arbitrariamente. Deixando de lado o julgamento equitativo, em todos
os outros casos a sentença de mérito constitui um meio de tutela dos direitos subjetivos e é realizando
esta tutela que os tribunais compõem os litígios que lhes são submetidos.

O art.º 7º/1 CPC estipula a Justa Composição do Litígio como objetivo do processo. É o ponto
de referência para se saber o que vai ser inútil, impertinente e dilatório para se chegar à conclusão,
de se o autor tem ou não razão. Para chegarmos a este resultado final, respeitando o art.º 6º/1 e o
art.º 130º, temos de ver qual a sequência de atos que temos de encadear - Tramitação Processual.
Para se saber a justa composição do litígio, que nos dará o resultado final de saber se o autor
tem ou não razão, tem de se saber qual a composição/cadeia de atos que são necessários, no caso
concreto, para o resultado.

Tramitação processual:

A cadeia de acontecimentos para a justa composição do litígio é um ato complexo e elástico


que só é válida para o nosso ordenamento jurídico.

No entanto, a observância de uma série de atos para se chegar à necessária solução tendo
em conta o respeito por princípios fundamentais é algo universal, independentemente de qual a
cadeia de acontecimentos. Para Paula Costa e Silva: só há 2 princípios fundamentais no processo: o
princípio da Igualdade e o princípio do contraditório. Isto significa que a estrutura/cadeia vai ter de
ser, necessariamente, integrada por atos que sendo necessários à prossecução do resultado final (do
art.º 7º/1) permitem ainda observar os 2 princípios fundamentais.

Decisão de mérito e decisão de absolvição da instância:


A finalidade do processo não é alcançada, em nenhuma destas duas vertentes, quando, na
ação declarativa, o tribunal não profere uma sentença de mérito ou, na ação executiva, não
ordena as providencias executivas por razão diferente da inexistência da obrigação exequenda, e o
processo termina com uma sentença de absolvição da instância.
A sentença de mérito constitui, na ação declarativa, a resposta ao pedido formulado pelo
autor. Pode ser de condenação (do réu) no pedido (a ação é procedente) ou de absolvição (do réu)
do pedido (a ação improcede). Por outro lado, ao pedido do autor (exequente) responde o tribunal,
na ação executiva, ordenando as providencias adequadas ao caso (entrega de coisa; demolição
de obra; penhora, venda e pagamento) ou negando-as por ter sido verificada a inexistência da
obrigação exequenda.
Mas, para que o tribunal se possa ocupar do mérito da causa (decidindo-a ou ordenando-a –
ou negando – a execução), é necessário que se verifiquem determinadas condições, que constituem
os pressupostos processuais. Quando alguns deles não se verifique, ocorre uma exceção dilatória e o
juiz profere uma sentença de absolvição (do reu) da instancia, salvo se o processo deve ser remetido
para outro tribunal ou a falta de pressuposto puder ser sanada (278º/2), ou ainda se, destinando-se a

12 De hoje. Modernos. Contemporâneos.


exceção dilatória a tutelar o interesse de uma das partes, nenhum outro motivo obstar, no momento
da sua apreciação, a que se conheça do mérito da causa e a decisão dever ser inteiramente
favorável a essa parte (278º/3). Quando é proferida a absolvição do réu da instancia o resultado
atingido não representa o atingir do fim do processo, podendo ainda, para que este fim seja atingido,
o autor mover nova ação contra o mesmo réu, com o mesmo pedido e a mesma causa de pedir, isto
é, repetir a causa (581º/1), para nela conseguir a mesma decisão de mérito ou a realização das
mesmas providencias executivas de que a anterior não chegou a ocupar-se.

A simulação do litígio:
A simulação do processo civil seria frustrada se às partes fosse consentido ficcionar a
existência de um litigio inexistente para obter uma sentença que, aparentemente tutelando direitos
ou interesses legalmente protegidos, proporcionasse a obtenção de um resultado proibido por lei ou
o engano de terceiros sobre as situações jurídicas das partes.
Tem lugar a simulação processual quando as partes, de comum acordo, criam a aparência
de um litigio inexistente para obter uma sentença cujo efeito apenas querem relativamente a
terceiros, mas não entre si.
Tem lugar a fraude processual quando as partes, de comum acordo, criam a aparência de um
litigio para obter uma sentença cujo efeito pretendem, mas que lesa um direito de terceiro ou viola
uma lei imperativa.
A simulação do litigio, comum a ambas as figuras, passa quase sempre, mediante prévio
acordo entre as partes, entrei si conluiadas, pela alegação, não contraditada ou apenas
ficticiamente contraditada, duma versão fáctica não correspondente à realidade.
Em todos os casos, o desvio consistente na pretensão da realização, por acordo entre ambas
as partes, de uma finalidade divergente da função do processo civil é essencial ao conceito de
simulação ou de fraude processual.
A alegação de factos que se sabe não se terem verificado e a omissão consciente de factos
essenciais para a solução do litigio constituem má fé processual (542º/2-b)); paralelamente, a
dedução da pretensão ou oposição cuja falta de fundamento se conhece e o uso unilateral do
processo o com o fim de se conseguir um objetivo ilegal de entorpecer a ação da justiça ou de
impedir a descoberta da verdade constituem também má fé processual (art.º 542º/2-a) e d)), mas
por falta de acordo para a realização de um fim anormal, não constituem simulação ou fraude
processual.
Quando o juiz se aperceba da simulação deve anular oficiosamente o processo (612º).
Quando não se aperceba e tiver proferido uma decisão d emérito, o terceiro que com ela
tenha sido prejudicado pode impugná-la, em caso de simulação ou de fraude a uma lei predisposta
para a salvaguarda de interesses particulares, sem que a isso obste o transito em julgado, mediante
recurso de revisão (696º/g).

Objeto13 (3)

Pretensão:
O objeto do processo é a matéria sobre a qual o tribunal é chamado a pronunciar-se, sendo
constituído pelo pedido [forma de tutela jurisdicional requerida: apreciação, condenação,
constituição ou execução] e pela causa de pedir [factos, essenciais ou probatórios, necessários à
fundamentação do direito].
O processo inicia-se com a apresentação da petição inicial, na qual o autor solicita ao tribunal
uma providência de tutela do seu direito ou interesse legalmente protegido, dirigida contra o réu,
titular de um interesse em conflito com o seu (552º/1-e) e 724º/1-f)). O tribunal concede ou nega a
tutela pretendida pelo autor, a menos que se deva abster de se pronunciar sobre o mérito da causa
e absolver o réu da instancia.

13Tudo aquilo sobre o qual incidem direitos de um titular ativo. Aquilo de que se está a tratar. Matéria sobre
a qual o tribunal é chamado a pronunciar-se.
A resposta do tribunal é, na ação declarativa, precedida de discussão entre as partes, as quais
têm a faculdade de se pronunciar sobre todas as questões, de mérito ou processuais, com relevo
para a decisão a proferir.
É o pedido, em si, que determina o conteúdo da decisão. Ele é o objeto do processo.

O litígio:
FRANCISCO CARNELUTTI: para este autor o litígio é constituído por dois elementos: o conflito de
interesses (elemento material) e o binómio pretensão-resistência (elemento formal). O segundo é a
expressão formal da incompatibilidade das posições materiais dos sujeitos perante um bem apto à
satisfação de uma sua necessidade: verificado um conflito de interesses, um dos sujeitos afirma-se
titular tuteado pelo direito, ao qual o outro deve ser sacrificado (pretensão), enquanto o titular do
interesse contraposto se opõe a esta afirmação, negando-a (resistência no plano intelectual, própria
do processo declarativo) ou recusando a satisfação do interesse (resistência no pano material,
própria do processo executivo).

CASTRO MENDES aponta uma dificuldade quanto ao elemento formal apresentada pelo autor:
a nossa lei processual admite expressamente a propositura de ações de condenação em que estão
em causa obrigações constituídas (557º/2), ou obrigações constituídas, mas não vencidas (610º/2),
não obstante o devedor (ou futuro devedor) não as ter impugnado. Casos há, por outro ado, em que
a ação de simples apreciação, proposta contra incertos, visa satisfazer um interesse do autor a cuja
satisfação ninguém se opõe: ação de declaração de propriedade para justificação do registo
predial, bem como a declaração de titularidade de quotas e partes sociais para justificação do
registo comercial. Falta então resistência, quer na aceção material, quer na aceção intelectual, o
que levou CASTRO MENDES a dispensar a resistência na configuração do litígio, reduzindo assim o
elemento material à pretensão.

Conflito de interesses e pretensão:


Na base do processo civil está sempre um conflito de interesses (3º/1). Mas o seu objeto não é
esse conflito, mas a pretensão que, pressupondo-o, é dirigida ao tribunal, que a ela terá de dar
resposta. O conflito de interesses não é ainda o litigio, nele apenas contido posteriormente; o litígio
resulta da pretensão formulada em juízo, independentemente de ela ser contestada ou de o réu de
recusar a satisfazê-la.

Pais Amaral: O conflito de interesses, o litígio, surge quando as normas jurídicas não são
respeitadas – desrespeito ou violação dos direitos de outrem desencadeiam a necessidade de
proceder à reintegração do direito violado. Essa reintegração é feita pelo juízo e não pela autotutela,
que é proibida no art.º 1º CPC.

A jurisdição voluntária:
Constituindo o conflito de interesses a base do processo civil, não há processo civil onde não
haja conflito de interesses, pelo que os processos de jurisdição voluntária estão fora do processo civil,
embora regulados no CPC (986º e ss.).
Os processos de jurisdição voluntária visam a prossecução de interesses não organizados em
conflito. Casos há em que, através do processo, se intenta prosseguir o interesse de uma pessoa
determinada, sem que outro qualquer seja considerado (ex. interdição; curadoria provisória dos bens
do ausente) ou ainda que o interesse de outra pessoa deva ser considerado, mas só num plano
secundário (ex. regulação do poder paternal); e outros há em que se intenta prosseguir os interesses
solidários de duas ou mais pessoas (ex. separação ou divórcio por mutuo consentimento).
A submissão destes casos aos tribunais resulta de se considerar necessária uma cuidadosa
avaliação dos interesses particulares em jogo, que o juiz está me condições de avaliar. Esta atividade
judicial não se trata de uma função jurisdicional, mas antes de uma função administrativa.
A substituição do principio do inquisitório ao principio do dispositivo no campo da introdução
dos factos, a plena consagração do principio do inquisitório no campo da instrução do processo,
alguma postergação (retardamento/atraso) do princípio da legalidade por critérios de conveniência
e oportunidade e a atenuação da rigidez do caso julgado constituem derivações da ideia de que
não há um conflito de interesses a dirimir nos processos de jurisdição voluntária.
Análise da pretensão. A causa de pedir:
A pretensão (pedido) apresenta-se duplamente determinada: no seu conteúdo, referido ao
direito material, consiste na afirmação de uma situação jurídica subjetiva atual ou, na ação
constitutiva, da vontade dum efeito jurídico baseado num situação subjetiva atual, ou ainda na
afirmação da existência ou inexistência de um facto jurídico; na sua função, consiste na solicitação
de uma providência processual para tutela do interesse do autor. Pode assim falar-se de uma
determinação material de uma determinação processual da pretensão.
Ao autor não basta formular o pedido. Tem também de indicar a causa de pedir, isto é, de
alegar os factos constitutivos14 da situação jurídica que quer fazer valer ou negar.
 Para a teoria da individualização bastava ao autor indicar o pedido.
 Para a teoria da substanciação a afirmação da situação jurídica tem de ser fundada em
factos. Esta teoria está inequivocamente consagrada no nosso sistema processual: o autor
deve, na petição inicial, expor os factos que servem de fundamento ao pedido (552º/1-d));
esses factos constituem a causa de pedir e esta delimita o pedido para o efeito de,
juntamente com ele e com as partes, identificar a causa.

A parte que invoca o direito tem de alegar o respetivos factos constitutivos, isto é, todos
aqueles que integram a previsão da norma ou das normas materiais que estatuem o efeito
pretendido. A falta de alegação15 desses factos da lugar à absolvição da parte contrária, por
insuficiência da fundamentação de facto do pedido, isto é, por insuficiência de uma causa de pedir
que se deixou incompleta.
Através do facto constitutivo, a causa de pedir exerce a sua função delimitadora do pedido
ou pretensão, individualizando-o e, por outro lado, ainda quando não simultaneamente, exerce essa
sua outra função, que o fundamenta. Os factos vão-se repercutir no conteúdo da decisão.

Segundo o princípio da disponibilidade das partes, a delimitação do objeto do processo


pertence-lhes. Correlativamente, cabe ao tribunal um dever de cognição segundo duas perspetivas:
enquanto dever de apreciar os factos apresentados [omissão de pronúncia, (art.º 660º-2) e enquanto
dever de não apreciar factos não invocados [excesso de pronúncia, (art.º 661º-1). Ambos os extremos
da pronúncia constituem fundamento de nulidade da sentença [art.º 668º-1d].

Sujeitos (4)
No processo intervêm os sujeitos da relação jurídica processual:
 As partes16 - (autor e réu)
 O Tribunal - (através do juiz ou juízes, quando o tribunal é coletivo nas instâncias de recurso) →
acima de todos e com poderes de autoridade
 Serviços auxiliares (secretaria)

Há, além destes, as testemunhas e peritos (intervenientes acidentais – 251º/1) que também têm
o dever de cooperar (417º/1). O autor - titular de um dos interesses em conflito é aquele que solicita a
tutela judiciária, ao exercer contra o titular (réu) do interesse oposto o seu direito de ação, mediante
dedução dum pedido.

O réu também pode deduzir pedidos contra o autor, em reconvenção (contra ação, na qual o
réu assume a posição de autor/reconvinte e o primitivo autor a posição de réu/reconvindo; troca de
posições). O conceito autor abrange todos aqueles que, independentemente de terem sido eles a
instaurar o processo, nele deduziram os seus pedidos, originária ou subsequentemente, ou aderiram à
posição já deduzida.

14 Todo o acontecimento (neste caso de origem humana) que cria direitos.


15 Indicação. Argumentação. Defende.
16 Pode surgir uma 3ª parte no caso de oposição, em situação de equidistante de autor e réu: se

houver chamamento de codevedor solidário, pode gerar-se uma situação de 3 partes com
posições diferenciadas; e pode haver processos com pluralidade de autores e réus.
O conceito de réu é igualmente amplo: todo aquele contra quem uma pretensão é deduzida
ou que subsequentemente assume posição de contrariedade a uma pretensão já deduzida. Casos
de intervenção de terceiros a título principal (311º-320º; 333º-341º), habilitação do sucessor mortis
causa ou inter vivos (351º-357º), 262º a)).

Além das partes principais, pode haver partes acessórias: pessoas com um interesse
dependente do de uma das partes principais e que intervêm na causa para auxiliar essa parte,
através do exercício de atividade própria que obrigatoriamente se subordina à da parte que
coadjuvam (328º/2).

Parte: é aquela que propõe a ação; aquela contra quem é proposta a ação; o sucessor da
parte primitiva e quem subsequentemente intervenha no processo, independentemente de o ser
para o direito material.

A determinação dos sujeitos da relação material controvertida, ou seja, os titulares das


situações jurídicas de direito substantivo que estão em causa no processo, interessa à determinação
da sua legitimidade (art.º 30º/3, 32º/1 e 33º/1 CPC).

É importante saber a qualidade jurídica em que o sujeito atua para que se consiga identificar
a parte processual. Por exemplo, no caso de representação, a parte é o representado. No caso de
substituição processual, a parte é o substituto (embora esteja em causa o interesse do substituído) e
não o substituído.

Depois de determinadas as partes, sabemos que todos os outros são terceiros, mesmo que
sejam titulares de interesses que justificariam a sua intervenção na causa ou que os legitimem a
atuações processuais autónomas como os embargos de terceiro (342º/1) e o recurso extraordinário
(631º/3).

Em suma, os sujeitos processuais são as partes e o tribunal. A parte que requer a ação
declarativa é o autor, enquanto que o réu será a parte contra a qual essa ação é requerida. As
testemunhas e os peritos, por outro lado, serão meros participantes processuais quando intervierem
no processo pendente.

Fases do Processo Comum

O facto de estarmos perante um processo indica-nos desde logo que em causa estão uma
sequência de atos, destinados a um resultado. Sendo este um processo no campo do direito,
compreende-se que falemos num conjunto de factos jurídicos – maxime atos jurídicos – ordenados
para um fim.
Os atos da sequencia processual ordenam-se em fases sucessivas, findas as quais se pode
precludir a possibilidade de praticar atos que, nelas se integrando, não hajam sido praticados.
São as seguintes as fases do processo comum na ação declarativa:
 Fase dos articulados – nesta, as partes alegam a matéria de facto e de direito relevante para
a decisão final. Este nome porque está ordenada em artigos.
 Petição inicial – art.º 552º e seguintes CPC
 Citação do réu – art.º 563º CPC
 Contestação – art.º 569º e seguintes CPC – e possibilidade de reconvenção (583º)
 Notificação da contestação ao autor – art.º 575º CPC
 Réplica (eventualmente) – art.º 584º e seguintes CPC. É uma contestação invertida.
 Fase da condensação /gestão processual – pretende-se verificar e garantir a regularidade do
processo. Aqui procede-se à identificação do objeto do litígio, à decisão daquilo que pode já
ser decidido e à enumeração dos temas que requerem prova subsequente.
 Despacho pré-saneador – art.º 590º CPC
 Audiência prévia (antecedida pela sua marcação da data e pela convocação das
partes) – art.º 591º e seguintes CPC
 Despacho saneador – art.º 595º CPC. Tem como função ver se os pressupostos estão ou
não cumpridos.
 Fase da instrução – momento no qual se tomam as diligências necessárias à prova dos factos
alegados pelas partes, tendencialmente concentradas na audiência final. Fase de produção
de prova.
 Fase da discussão – partes exprimem o seu ponto de vista sobre a decisão a proferir.
 Audiência final – art.º 599º e seguintes CPC
 Fase do julgamento
 Sentença – art.º 607º e seguintes CPC

Terminado o processo em 1ª instancia, pode abrir-se, no prazo do art.º 638º CPC, instancia de
recurso ordinário dirigido à Relação. O processo será então novas fases, mediante o encadeamento
de atos processuais igualmente tipificados na lei processual.

Fase dos articulados


Através dos articulados, autor e réu introduzem no processo os factos principais da causa.
Além dos fundamentos de facto, devem as partes invocar as razões que, no entender de cada uma
delas, deverão constituir fundamentos de direito da decisão, por aplicação de normas jurídicas aos
factos por elas alegados. Destes fundamentos (de facto e de direito) extraem as partes a sua
conclusão sobre o que deve ser a sentença, deduzindo pedidos (sempre, o autor contra o réu;
eventualmente, o réu contra o autor).

1) Petição inicial – 552º CPC:


O autor formula na petição inicial um pedido. Artigo 552º - requisitos da petição inicial: ato
típico de conteúdo tipificado na lei. É através desse ato que tem inicio o procedimento – principio do
impulso. Este ato tem o conteúdo relativamente tabulado pela lei, como se observa pelo artigo. Este
é um ato que afirma ou nega uma situação jurídica subjetiva, ou um facto jurídico, de direito
material, ou manifesta a sua vontade de constituir uma situação jurídica nova com base num direito
potestativo. 552º: regra que dá corpo ao art.º 3º/1 primeira parte. Ato através do qual o autor se dirija
ao tribunal pelido-lhe que resolva um conflito de interesses – o autor postula (ato postulativo). A única
coisa que se pede que se produza automaticamente é que o tribunal exerça a sua função
jurisdicional.

O pedido do autor, conformando o objeto do processo, condiciona o conteúdo da decisão de


mérito com que o tribunal lhe responderá (art.º 698º/2; 609º/1 e 615º/1 d e e)).

Na petição tenho de dizer quais os factos que fundamentam a ação e desses factos vou
retirar um efeito jurídico que se traduz na formulação do pedido. Ao autor não basta formular o
pedido: este tem de ser fundamentado; de facto e de direito (552º/1-d)). O autor há-de indicar os
factos constitutivos da situação jurídica que quer fazer valer ou negar, ou integrantes do facto cuja
existência ou inexistência afirma, os quais constituem a causa a pedir (581º/4). Esta corresponde ao
núcleo fáctico essencial. O autor terá de inovar e descrever faticamente. O autor observa assim o
ónus da substanciação.
A causa de pedir17 exerce função individualizadora do pedido para o efeito da confirmação
do objeto do processo. O tribunal tem de a considerar ao apreciar o pedido e não basear a sentença
de mérito e causa de pedir não invocada pelo autor (608º/2), sob pena de nulidade da sentença
(615º/1-d)): não pode, por ex.,:, em ação em que se pretenda o reconhecimento do direito de
propriedade por um contrato de compra e venda, reconhecê-lo com fundamento na aquisição por
testamento.
Por outro lado, o autor deve, na petição, invocar as razoes de direito pelas quais entende que
o seu pedido merece acolhimento. Ao contrario do que acontece com a causa de pedir, a
fundamentação de direito da petição não condiciona o conteúdo da sentença; o juiz permanece
livre na indagação, interpretação e aplicação do direito (5º/3). Ou seja, por força do princípio do
dispositivo o juiz está limitado na sentença àquilo que houver sido pedido pelas partes quando

17 Facto jurídico que está na génese do pedido.


iniciaram a instância (ou apresentaram pedidos reconvencionais, ou ampliaram os pedidos).
Seguindo o principio ne eat judex ultra vel extra petita partium, o juiz não pode decidir nem além
nem fora do pedido das partes (608º/2 e 615º/1-d)). O mesmo acontece com os factos essnciais - O
juiz só pode condenar no que a parte pediu (mas pode condenar em menos, no que for justo claro) e
com base no que a parte alegou para basear o efeito jurídico (pedido) que pretende. Só quanto ao
direito alegado pelas partes é que o juiz não está vinculado (Iura novit curia).

Com a petição, o autor tem o ónus de apresentar os documentos destinados a provar os


factos por ele alegados, como fundamento do pedido (423º/1), bem como o de propor a prova
constituenda mediante apresentação do rol de testemunhas e requerimento das outras provas a
produzir. JCL - Na petição inicial entra logo a prova documental – e não a prova testemunhal.
Quando o instrutor do processo recebe o processo, já tem provas documentais do objeto do
processo. Quando passa para a fase instrumental o juiz analisa as provas documentais.

O pedido pode não ser único – cumulação (555; 554; 36; 39)).

O pedido traduz –se em efeitos jurídicos constitutivos, modificativos e extintivos. A partir do objeto
limitamos a validade do processo. A petição inicial: é ato declarativo que é devidamente
interpretado art.º 286ºCC (Artigos importantes – o art.º 20/4 CRP (processo equitativo – direito
fundamental do cidadão) + art.º 18/2 CRP (restrições) – limite constitucional. – Petição inicial inicia-se
com a receção na secretaria. As ações instalam-se ou propõem-se. Fazer remissão para o art.º 552
CPC.)

Sobre este ato vamos encontrar possibilidade de resposta - contestação (569º). Para que seja
possível que o reu (parte passiva) possa contestar tem de haver um ato intermédio (para que saiba
que corre contra ele uma ação – a citação – 563º).

2) Citação do réu – 563º CPC:


Há que dar conhecimento ao réu da ação que contra ele foi proposta, proporcionando-lhe o
exercício do direito de defesa. A citação (219º/1 e 563º) pode ser entendida como um ato
fundamental de comunicação, entre o tribunal e o réu, com a tripla função de transmissão de
conhecimento, de convite para a defesa e de constituição do réu como parte. É então um ato
determinado, que dá conhecimento.

A citação pode ser:


 Por via postal – 228º e 246º - por carta registada com aviso de receção
 Por agente de execução ou funcionário judicial – 228º - aquando da recusa do recebimento
da carta registada para citação
 Edital – réu não é encontrado por estar ausente – 228º
 Promovida por mandatário judicial
 No estrangeiro – quando o réu resida no estrangeiro – 239º

Com a citação, a instancia iniciada com a propositura da ação converte-se de bilateral em


triangular: o ato de propositura, agora do conhecimento do réu, estende-lhe a sua eficácia e a
instância estabiliza, ficando, em principio, definida quanto aos sujeitos e ao objeto do processo (art.º
260º e 564º/b). O termo instancia traduz, a partir daqui a ideia de relação, por natureza dinâmica,
existe entre cada uma das partes e o tribunal, bem como entre as próprias partes, na pendência da
causa.
Outro efeito processual da citação é o de inibir o réu de propor contra o autor ação destinada
à apreciação do mesmo objeto processual (564º/c) isto é, de um pedido normalmente deduzido ao
contrário, mas não necessariamente. Se o fizer, haverá litispendência e a segunda ação não poderá
prosseguir (580º/1; 581º/1 e 582º).

A relevância da citação é tao grande que nos ternos do 187º/1 a sua falta determina a
nulidade de todo o processo depois da petição inicial. É evidente que se o reu não se pode
defender, e como as condutas são sequenciais, pressupondo-se umas às outras, se o reu não
contesta isto há de ter uma qualquer repercussão no processo. Se não houve citação há uma
nulidade de tudo aquilo que foi processado, porque o reu não pode exercer o seu direito de
contraditório. Estamos perante um processo complexo, que vai integrar todas as condutas/atos
necessários em face dos estado do procedimento e que não integrara nenhum ato desnecessária
em face da concreta configuração do procedimento.

Com a citação, o réu tem, então, a possibilidade de contestar o ato postulativo do autor da
ação contra si proposta.

Só há contestação se tivermos os dois atos anteriores – petição e citação – uma vez que,
como sabemos, o processo é uma sequência interligada. Estes são os únicos atos que vão existir
necessariamente até à sentença final (até ao ato em que o juiz extingue o processo). A partir daqui
todos os atos até à sentença final podem pertencer ou não fazer parte do concreto procedimento.
 Isto é possível porque a partir da petição e da citação todas as demais condutas não
são de existência necessária para que seja provida, ou que possa ser provida, uma
sentença de mérito, ou seja, aquela que conhece do pedido formulado pelo autor
aquando da petição inicial e que conhecendo esse pedido ou dê razão ao autor,
julgando a ação procedente, ou não dando razão ao autor, e julgado a ação
improcedente. O ato terminal (sentença) não é uma sobreposição necessária com o
conteúdo das outras intervenções processuais. O juiz está vinculado ao que lhe pedem,
mas, e sobretudo, à lei. Assim o juiz declarará a ação procedente ou improcedente
consoante reconheça que o autor tem razão ou não.
 Como é possível que o processo recorra sem defesa por parte do réu? O reu pode não
querer exercer o seu direito de defesa (o que pode ser uma atitude racional). Se ele
entender que a ação é destituída de qualquer fundamentação, que não tem
cobertura no Ordenamento Jurídico, provavelmente o reu adota a atitude correta. Pois
sabe que não é por se defender que o juiz vai dar razão ao autor. Mas atenção,
porque em regra a não pronuncia por parte do réu equivale a uma confirmação da
pretensa deduzida pelo autor da ação.

3) Contestação – 575º CPC


No prazo de 30 dias contados da citação, ou do termo da dilação que tenha lugar, o réu
pode contestar a ação contra ele proposta (569º/1).
O decurso do prazo da contestação, como prazo perentório que é, faz precludir o direito
de contestar (139º/3), salvo o caso de justo impedimento (139º/4 e 140) e ressalva a possibilidade
da pratica do ato nos três dias uteis imediatos ao termo do prazo, mediante pagamento de
multa (139º/5,6 e 7). No entanto, o juiz pode excecionalmente e sem audição do autor, prorrogar
o prazo da contestação por período não superior a 30 dias, quando motivo ponderoso impeça
ou dificulte anormalmente a organização da defesa (569º/5). Nos termos do art.º 569º - “O réu
pode”, o que significa que não é imperativo que a contestação seja feita. Nos termos do art.º
573º/1: “toda a defesa deve ser deduzida …”. Se se quiser exercer um direito de defesa – 573º -
tudo tem de ser dito naquele momento, porque a nossa cadeia de atos é ordenada, temos
momentos destinados ao exercício de certos direitos processuais. Se se permitisse que o reu fosse
contestando ao longo do tempo nunca mais se estabilizava o processo. A partir daquele
momento, de estabilização, sei sobre o que é que o tribunal vai ter de se pronunciar. O réu vai
requerer ao tribunal que diga que o autor não tem razão. Tem o mesmo tipo de eficácia que o
pedido do autor – ato postulativo – conduta de persuasão. A única coisa que se pede que se
produza automaticamente é que o tribunal exerça a sua função jurisdicional.

 Estes dois artigos completam o art.º 3º/1 segunda parte – PRINCÍPIO DO


CONTRADITÓRIO. Autor tendo conhecimento pode também falar? A
configuração/forma dos ato através dos quais o autor pode dizer alguma coisa
depende da concreta conformação da contestação. Se a estrutura da defesa do
réu se assemelha à de ataque do autor, o autor pode responder à defesa do réu
nos mesmos termos em que o reu pode responder ao seu ataque. Por outras
palavras, o autor enumera os fundamentos da pretensão e as razoes, aquilo que
me dá razão18 no plano do direito são estas. Ex.: autor pede indemnização por um
acidente provocado por uma maquina que o reu estava a conduzir: autor tem de
demonstrar o factos que preencham o 583º CC. Como é que a defesa do réu pode
assemelhar-se a esta estrutura de ataque do autor? Quando é que no fundo o
autor tem direito ao contraditório num ato autónomo do processo? Quando o réu,
na sua contestação formula um pedido contra o autor dizendo quais são os
fundamentos de facto e de direito19 para que qualquer pedido contra o autor
deve ser julgado procedente, ou seja, quando o réu deduza reconvenção/pedido
reconvencionado (tribunal não vai resolver o pedido enquanto a parte, querendo,
(primeiro autor) não seja ouvida) – significa que há algo de novo no plano do
processo; naquela estrutura de condutas naquele ato há um conteúdo novo.
Nestes casos (584º/1) o autor pode responder à reconvenção deduzida pelo reu
num ato processual apenas destinado a esta resposta. Se o reu não atacou o autor
nunca pode responder? O réu na contestação pode ter trazido matéria que é de
um ponto de vista da qualificação do objeto do processo matéria nova. Nessa
caso impõe o principio do contraditório que o autor seja ouvido na matéria nova
trazida pelo reu. Temos de olhar para o principio do contraditório (3º/3). Art.º 3º/4: a
lei diz que as estruturas processuais podem prever alguma coisa, ou não, ainda que
de um ponto de vista legal preveja que pode não ser necessária essa intervenção.
Se não houve reconvenção significa que não vai haver um articulado próprio. Se o
reu nada de novo trouxe da contestação o autor não pode responder, porque o
princípio do contraditório não o justifica. Não emerge o direito de resposta do
autor. Tudo depende do conteúdo da contestação.

A contestação é, em sentido material, a peça escrita com que o réu responde à petição
inicial, deduzindo os meios de defesa que tenha contra a pretensão do autor.
Em sentido formal, é um articulado de estrutura semelhante à da petição inicial; começa
por um intróito, em que basta que o réu identifique o processo (“individualizar a ação”); segue-se
a narração, em que são expostos os factos; segue-se a conclusão, em que o réu remata dizendo
se deve ser absolvido da instância, por proceder uma exceção dilatória, ou do pedido, por
improceder a ação; finalmente, há que propor meios de prova constituindo, sem prejuízo de o
reu poder ainda, no caso de reconvir, alterar o requerimento probatório que apresente, no prazo
de 10 dias contados da notificação da réplica (572º).

Quanto às modalidades de defesa, são duas as que estão ao alcance do réu: a defesa
por impugnação e a defesa por exceção (571º).

A impugnação pode ser de facto ou de direito:


 De facto: o réu opõe-se à versão da realidade apresentada pelo autor, negando os factos
alegados na petição inicial; afirmando ou negando, trata-se de declarações de ciência.
Trata-se de manifestações da esfera cognoscitiva sobre fragmentos da realidade que é
objeto de conhecimento.
 Direta: quando o réu nega frontalmente os factos, dizendo que não se verificaram;
 Indireta: quando o réu, confessado ou admitindo parte dos factos alegados, como
causa de pedir, pelo autor, afirma, por sua vez, factos cuja existência é
incompatível com a realidade de outros também alegado pelo autor no âmbito da
mesma causa de pedir, que assim desvirtuam.20; quando o réu alega factos
instrumentais (5º/2-a)) probatórios incompatíveis com factos alegados, como causa
de pedir, pelo autor; quando com estes é incompatível (está em oposição) o

18 Razão de direito = apoio/fundamento normativo/legal.


19 Fundamento de facto: motivo/causa no plano dos acontecimento. Fundamento de direito:
fundamentos/motivos legais.
20 Exemplo: o autor entregou-me a quantia (que diz ter mutuado), mas fê-lo com a intenção de a doar; ou

em pagamento do preço de uma compra que me tinha feito. Fica, por admissão, provada a entrega; mas
o autor terá de provar que a fez para a quanta lhe ser restituída.
conjunto dos factos alegados pelo réu ou a negação, pelo réu, de um dos factos
alegados pelo autor, do qual os restantes dependem (574º72).
 De direito: réu contradiz o efeito jurídico (normalmente, o direito subjetivo material por eles
constituído) que o autor deles pretende extrair, pondo em causa a determinação,
interpretação ou aplicação da norma de direito feita pelo autor na petição inicial.

A exceção consiste na alegação de factos novos dos quais o réu entende que se retira
que o tribunal em que a ação foi proposta não poderá declarar o efeito pretendido – ou porque
tais factos impedem que esse tribunal aprecie o pedido formulado pelo autor (exceção
dilatória) ou porque levam o tribunal, ao apreciá-lo, a julga-lo improcedente (exceção
perentória).
 Dilatória: quando é invocada a falta de um pressuposto processual, isto é, de uma das
condições (relativas às partes, ao tribunal, ao objeto do processo ou à relação entre as
partes e o objeto) exigidas para que o tribunal se possa ocupar do mérito em causa,
respondendo ao pedido formulado pelo autor. Vai buscar, portanto, o seu fundamento
ao direito processual. Se a falta do pressuposto não for sanada (art.º 6º/2 e 278º/2), o juiz
deverá proferir uma sentença de absolvição (do réu) da instância (278º/1 e 576º/2), salvo
se o processo deve ser remetido para outro tribunal (99º/2; 105º/3; 278º/2 e 276º/2) ou
ocorrer a situação prevista no art.º 278º/3. ´
É, em regra, de conhecimento oficioso (578º), mas, mesmo sendo-o, o réu pode argui-la
na contestação e, embora também o possa fazer posteriormente, enquanto não houver
decisão (573º/2), é dele o ónus de alegar os factos em que se baseie, quando ela não se
funde apenas na versão apresentada pelo autor. O art.º 577º elenca exceções dilatórias.
 Perentória: 576º - quando é alegado um facto impeditivo, modificativo ou extintivo da
situação jurídica que o autor se arroga ou, na ação de mera apreciação da existência de
factos, um facto impeditivo da existência do facto jurídico que o autor pretende que seja
declarada. Vai buscar, portanto, o seu fundamento ao direito material. Assim, a
procedência da exceção perentória leva à absolvição do pedido.
Os factos modificativos21 e extintivos22 são de ocorrência posterior ao momento da
constituição do direito, e por isso a sua distinção dos factos constitutivos é mais fácil. Mais
difícil é, por vezes, identificar o facto impeditivo, distinguindo-o do constitutivo – um e outro
são contemporâneos, e o facto impeditivo inibe o efeito do facto constitutivo, só dele se
diferenciando pela necessidade de resolver o problema dos ónus da alegação e da
prova.23

4) Reconvenção
O articulado contestação serve também para o reu deduzir pedidos contra o autor, em
exercício (facultativo) do direito de ação e em ampliação do objeto do processo (266º/1).
Denomina-se reconvenção o pedido (superveniente) deduzido pelo réu que, no âmbito
da reconvenção, toma a designação de reconvinte, enquanto o autor da ação é nela o
reconvindo. Esta apresenta a mesma estrutura formal da petição inicial (552º e 583º).
A reconvenção pode ser inepta, como a petição inicial: mas a consequência da
ineptidão não é, evidentemente, a nulidade de todo o processo, mas a nulidade circunscrita da
própria reconvenção, com a consequente absolvição do reconvindo da instancia
reconvencional. O reconvindo é absolvido da instancia quando o prosseguimento da ação
reconvencional esteja dependente de qualquer ato a praticar pelo reconvinte e este não o
pratique (583º/3).
Para que seja admissível terá de se verificar algum dos elementos de conexão com o
pedido do autor indicados no art.º 266º/2 e não poderá verificar-se nenhum dos requisitos

21 Exemplo: alteração contratual do conteúdo de uma obrigação; incendio que, sem culpa do
depositário, destrói a coisa depositada.
22 Exemplo: decurso do prazo do usufruto ou do pagamento da obrigação.
23 Exemplo: Resulta da lei que quem sofre um dano tem o ónus de provar e, portanto, de alegar os factos

(constitutivos) do art.º 503ºCC, enquanto que os factos (impeditivos) do art.º 505ºCC devem ser alegados e
provados por quem tiver a direção do veículo.
negativos de compatibilidade processual a que se refere o art.º 266º/3, sem prejuízo do disposto
no art.º 37º/2 e 3.
A absolvição do réu não obsta à apreciação do pedido reconvencional, a menos que
este seja dependente do formulado pelo autor (266º/6).

5) Réplica (eventualmente) – 584 CPC


Quando o réu haja deduzido reconvenção na contestação, deverá ser assegurado o
princípio do contraditório ao autor (réu reconvindo quanto à reconvenção) através da réplica
(584º), no prazo de 30 dias a contar daquele em que se considerar notificada a apresentação
da contestação ao autor (585º/3), bem como se a ação for de simples apreciação negativa.
Havendo vários réus, se a secretaria notificar separadamente as contestações
apresentadas o prazo só se inicia com a última notificação.
Na réplica, o autor só poderá responder quanto à matéria das exceções da contestação e
deverá, à semelhança do réu, deduzir toda a defesa quanto à matéria da reconvenção, não
lhe podendo opor nova reconvenção (art.º 502.º/1).

Fase da condensação
Terminada a fase dos articulados, em que os atos do processo são fundamentalmente
praticados pelas partes e pela secretaria, segue-se uma fase em que o juiz tem um papel
predominante. Na nova fase, o julgador toma conhecimento do que se passou na fase anterior
e, assumindo a direção do processo, vai, em dialogo com as partes, convidar autor e réu a
colmatar as deficiências dos articulados e passar pelo seu crivo as posições das partes,
decidindo aquilo que pode desde já ser decidido, definindo as grandes questões que vão ser
objeto de prova e julgamento. Ou seja, o juiz vai dizer o que deve ser perfeiçoado, de modo a
que a decisão seja o mais exauriente possível. O juiz vai dizer às partes o que é da sua
perspetiva o objeto da decisão; bem como o que é que do seu ponto de vista ainda requer
prova, para que a decisão seja adequada aos factos alegados – fase de produção de prova.
Se, nesta sua intervenção, verificar que o processo já contem os elementos suficientes
para que o litígio possa, com segurança, ser decidido de mérito, ou que ocorre a falta de um
pressuposto insuscetível de sanação, o juiz julga imediatamente a causa e, neste caso, a fase da
condensação acaba por absorver a fase de discussão e julgamento.
Na fase da condensação, após o eventual aperfeiçoamento dos articulados deficientes,
resulta o apuamento de questões essenciais da causa, mas também o saneamento do processo,
isto é, a verificação da sua regularidade, com eventual correção de irregularidades dos
articulados e sanação das nulidades e da falta de pressupostos processuais.
Esta fase reflete o principio da cooperação entre partes e tribunal.

1) O despacho pré-saneador:
Findos os articulados, o processo é concluso ao juiz, que, sendo caso disso, profere
despacho destinado a providenciar pela sanação da falta de pressupostos processuais
(convidar as partes a suprir as exceções dilatórias) e/ou a aperfeiçoar os articulados (art.º
590º/2), assegurando assim que o processo se encontra em condições de prosseguir.

Este despacho (pré-saneador) tem uma quádrupla função:


1. Sanação da falta de pressupostos processuais (590º/2-a));
 Quando o juiz não o poder fazer oficiosamente24, caso seja sanável, em virtude de
se estar no campo da exclusiva disponibilidade das partes, deve convidar estas a
praticar os atos necessários à regularização da instância (6º/2).

24 A contrario, a sanação pode ter lugar oficiosamente nos caso do artigo 27, por exemplo.
2. Correção das irregularidades dos articulados (590º/2-b) e 3);
 Falta de requisitos formais (552º; 558º e 207º)
 Falta de documento especial (590º/3)
 O despacho de aperfeiçoamento proferido perante articulado irregular é um
despacho vinculativo, que, como tal, o juiz tem o dever de proferir, pelo que, se
não o fizer, a omissão constitui nulidade processual (195º)
3. Junção de documento que permita a mediata apreciação de exceção dilatória ou o
imediato conhecimento do pedido (590º/2-c));
 Exigido por lei ad probationem (364º/2 CC) ou;
 Livremente adotado pela parte como forma de declaração (222º CC)
4. Completamento dos articulados deficientes (590º/2-b) e 4).

2) Audiência Prévia:
Após os atos praticados em execução do despacho pré-saneador ou, não tendo este lugar,
logo que o processo lhe vai concluso no fim da fase dos articulados, o juiz designa dia para a
audiência prévia/preliminar, observando o preceituado pelo art.º 151º/1 a 3, e indicando o seu objeto
e finalidade (591º/1 e 2). De entre os constantes do at.º 591º/1, salvo art.º 592º/1-a); 592º/1-/b); 591º/1-
d) a f) e 593º/1. Por outras palavras: Depois das partes terem falado e antes de o juiz ditar a sua
sentença há de haver por intermedia a fase de instrução – audiência prévia - ato oral em que estão
presentes as partes e o tribunal e em que se discute o que falta provar; como se vai provar e o que
interessa ou não de tudo quanto foi dito.

Finalidades (principais, cumulativas ou alternativas) da audiência prévia:


a) Tentativa de conciliação das partes (591º/1-a));
b) Discussão sobre as exceções dilatórias (591º/1-b));
c) Discussão de mérito (591º/1-b));
d) Discussão para delimitação dos teros do litígio (591º/1-c));
e) Completamento dos articulados deficientes (591º/1-c));
f) Prolação do despacho saneador – havendo audiência previa, o despacho saneador é ditado
para a ata, a menos que, dada a complexidade das questões a resolver, o juiz decida dá-lo
por escrito (591º/1-d));
g) Determinação da adequação formal, da simplificação ou da agilização processual (591º/1-e))
– proferido o despacho saneador deve o juiz verificar se a forma legal do processo carece de
ser adaptada;
h) Despacho de identificação do objeto do litigio e enunciação dos temas da prova (591º/1-f));
i) Programação da audiência final (591º/1º-g)).

Havendo audiência previa para a consecução de algumas das finalidades indicadas, ou,
tendo ela sido dispensada pelo juiz, para discussão e apreciação das reclamações das partes
(593º/3), nela podem ter lugar ainda os seguintes atos:
a) Alteração do requerimento probatório –(598º/1)- as partes podem alterar, por substituição ou
ampliação, a proposição da prova constituenda. Propostos novos meios de prova, o juiz
decide pela sua admissão. Não havendo audiência previa, às partes deve ser concedida a
alteração dos requerimentos probatórios no prazo (geral) de 10 dias contados da notificação
do despacho que identifica o objeto do litigio e enuncia os temas da prova, embora tal
conduza à retificação do despacho de programação da audiência final;
b) Apresentação do articulado superveniente relativo aos factos que ocorreram ou sejam
conhecidos até ao seu termo (588º/3-a));
c) Prestação de depoimento de parte /456º/3 + aplicação analógica 590º/2-c));
3) Despacho saneador:

É ditado ou escrito para a ata da Audiência Prévia – art.º 595º/2 CPC.

É no Saneamento que o juiz vai conhecer das partes principais


 verifica se os pressupostos estão preenchidos;
 não estando, manda diligenciar pelo preenchimento;
 olha para o que o autor pediu e vê se os factos essenciais estão todos alegados ou não;
 permite também que se realize o ónus do art.º 5º/1.

Neste momento processual, o juiz pode entender que já tem tudo reunido para conhecer do
mérito da causa, não há instrução (que é fase autónoma para produzir mais prova para a decisão do
juiz, se ele precisar de mais provas, se a contradição das partes determinar que assim seja ou se a
atitude das partes o exigir).
 Se ele já tiver certeza do juízo de mérito, não faria sentido estar a prolongar e ele pode
conhecer logo do mérito, mesmo que falte um pressuposto processual.

O despacho saneador tem uma dupla finalidade:

1. A verificação da regularidade da instancia (595º/1) – mediante o apuramento da ocorrência


dos pressupostos processuais ou de uma exceção dilatória, e a apreciação de nulidades. Esta
é uma função normal, razão de ser da sua própria designação;
 Apreciação de nulidade – de entre elas contam-se as decorrentes do não
aperfeiçoamento do articulado.
 Verificado que ocorre uma exceção dilatória, quando a falta ou irregularidade que a
origine não possa ou não tenha sido sanada, o juiz profere a absolvição do reu da
instância, a menos que a lei determine a remessa do processo para outro tribunal
(278º/1 e 2), ou que seja possível o conhecimento de mérito antecipado (595º/1-b) e a
decisão deva ser favorável à parte cujo interesse o pressuposto de destina a tutelar
(278º/3).

Casos de Absolvição da Instância – art.º 278º

Nº1: alternativa quanto ao conteúdo possível da decisão

 Ou conhece do Pedido
• Condenar o réu no pedido – favorável ao Autor
• Absolver o réu no pedido – favorável ao Réu
▪ Tem de se dizer sempre “no pedido” pois nunca se pode condenar em qualquer
outra coisa.
▪ É sempre no pedido, devido ao princípio do dispositivo.

 Ou absolve o Réu da Instância (abstendo-se de conhecer o pedido)


a) Exceção é inversão da estatuição da regra-geral; pode aplicar-se a contrario e não
podem ser expandidas por analogias, sem cuidados.
• Exceção é coisa nova que impede o juiz de conhecer.
• Exceção é quando se traz factos novos – facto novo assume a natureza de
exceção, matéria estritamente processual (pois o juiz está proibido de conhecer
do mérito da causa).
b) Vício que incide sobre o procedimento, o rito
c) Vício processual – não tem possibilidade de se constituir como parte processual.
d) Não é legitimidade material, porque o juiz não pode conhecer do pedido – é vício
processual.
e) Exceção dilatória processual posterga no tempo a possibilidade do Tribunal conhecer
do pedido e proferir decisão de mérito

Juiz só pode dizer 3 coisas: absolve instância, absolve pedido e condena no pedido
O art.º 278º só pode ter em conta vícios processuais, não conhecendo do mérito da causa e sendo a
consequência a absolvição do réu na instância.

Aparentemente Favorável ao Réu – porque há uma absolvição. Mas essa absolvição é com base
numa exceção dilatória, sendo transitória, pois se se der uma absolvição na instância ele ainda tem
outra chance de conseguir a condenação.
 Decisão é favorável ou desfavorável consoante a outra alternativa que com ela possa
chocar. Esta decisão é favorável ou desfavorável consoante a outra decisão que com ela
concorra, e que possa ser proferida no mesmo momento processual, e tendo em atenção o
mérito da causa.25
• Só é favorável ao Réu se, porventura, a alternativa fosse a condenação no pedido
• Favorável ao Autor quando a decisão fosse a absolvição do Réu no pedido.

Nº3: se a falta ou irregularidade for sanada, estão reunidos os pressupostos processuais para o juiz
avançar para a fase seguinte, do conhecimento do pedido/mérito da causa (não absolvendo na
instância).
 Deixa de haver obstáculo processual ao conhecimento do mérito da causa – sanou-se a
exceção dilatória com preenchimento de pressuposto processual.

Se a exceção dilatória permanece, não foi sanada – ou porque não foi no momento certo, ou
porque é insuscetível de sanação – ela subsiste, pelo que se continua, pelo art.º 278º/1, a proibição
de conhecer do mérito da causa e absolver o réu na instância.

Equilíbrio de valores subjacente ao artigo 278º.


O que se tem de perguntar é “que pressuposto em falta”? quem é protegido por ele? Qual o
conteúdo da decisão de mérito que o juiz podia proferir quando vai conhecer da verificação dos
pressupostos processuais?
 O art.º 278º/3 permite que o juiz conheça do mérito da causa, ele não pode é proferir uma
decisão de mérito – salvo se ela for absolutamente favorável à parte processual em causa,
que é protegida pelo pressuposto processual em falta.

Origem do regime do art.º 278º CPC é o regime do processo civil romano.


Contrapunha as competências atribuídas ao Iudex e as competências atribuídas ao Pretor.
 Pretor era funcionário público eleito – que era escolhido pelas pessoas em função dos direitos
que lhes conferia (pelas actios).
 Cada pretor a eleição tinha ações específicas, que se fosse eleito as reconheceria para os
cidadãos. Ex: um reconhecia ação para o esbulho das cabras e outro para o esbulho dos bois,
pessoas votavam conforme aquelas ações que mais lhes interessassem.
 O pretor apresentava essas ações no seu Editum (programa eleitoral do pretor).

Era o pretor que verificava os pressupostos processuais antes de conceder as actios.


 Portanto, o cidadão dirigia-se ao pretor e pedia a actio (quer que certo direito lhe seja
reconhecido) e o pretor ouvia a contraparte.
 Mas ele não julgava a ação, quem julgava era o Iudex.
 O pretor deixava de exercer a jurisdição, que era do iudex.

Iudex julgava a ação, seguindo as instruções do pretor.


 Se porventura se verificar A e B então condamnarem debit (deve ser condenado) exceptio
(uma exceção material). Ex: condeno a devolver as cabras, excepto se tenha firmado acordo
com o outro que ela as podia usar.
 Apareciam as exceptio, mas eram exceptio materiais. E porquê materiais?
• Porque a montante o pretor só concedia à actio, dando a ordem para o iudex julgar, se
os pressupostos processuais estivessem todos preenchidos – a ação chegava às
“mãos” do iudex totalmente sanada de ausência de pressupostos processuais.

25 PCS: Contraponto entre a decisão de mérito que viria a ser proferida, perante os elementos que o juiz
tem, e a decisão que é proferida de absolvição na instância – sempre em comparação com a outra
alternativa.
▪ Disjunção pessoal e temporal (fases distintas) em que se podia conhecer dos
pressupostos e outra que se podia conhecer do mérito da causa.

Nos sistemas processuais, muitos ainda têm esta influência – sistema italiano replica isto, não
tendo integrado de que quem decide de uma coisa é quem decide da outra26; e havia fases
sequenciais em que primeiro era decidido uma coisa e só depois era decidido outra.
 Este regime deixou de fazer sentido quando passou a haver coincidência temporal e
coincidência funcional – doutrina alemã dos anos 70 que só 40 anos depois chegou ao CPC
português, sendo hoje um sistema extremamente moderno. Maior parte dos sistemas
processuais civis ainda não absorveu esta evolução.

2. O conhecimento imediato do mérito da causa - é uma função eventual, destinada a evitar o


retardamento da decisão de mérito quanto ela é, com segurança, já possível na fase na
condensação.
 Caso do conhecimento das exceções perentórias, por exemplo.

No CPC de 1961, o despacho saneador era imediatamente seguido pela seleção dos factos
assentes.
 Seleção feita de entre os factos articulados pelas partes, pois, de acordo com o princípio do
dispositivo, na vertente do princípio da controvérsia, só esses factos (e excecionalmente os
introduzidos pelo juiz por serem notórios ou de conhecimento do tribunal) e os
complementares resultantes da instrução é que podem (e devem) ser tidos em consideração
nas fases seguintes do processo.

Facto principais (art.º 5º/1) - são os factos que integram a causa de pedir e os que fundam as
exceções. Deles deduzem-se os factos probatórios bem como os factos acessórios, que permitem ou
impedem que a dedução se faça.

Há ainda uma identificação do objeto do litígio e enumeração dos temas da prova, bem como a
preparação das fases seguintes.

Fase da instrução
Fase de produção de prova (596º/1 e 599º remete 410º e ss.). O tema da prova tem três
diferentes aceções27: a prova como atividade; a prova como meio; a prova como resultado. Lebre
Freitas reduz a dois sentidos: a prova como meio e a prova como resultado.

Enquanto meio, a prova como dizer respeito à fonte de prova manifestar-se como fator
probatório.
A fonte de prova é uma pessoa ou uma coisa. Constituem fontes de prova pessoal a parte e a
testemunha, enquanto conhecedores de factos relevantes para o processo.
Constituem fontes de prova real os documentos (362º) e os monumentos. (coisas portadoras
de indícios naturais do facto relevante, como o objeto semidestruído pelo fogo; o vidro com uma
impressão digital).
A fonte de prova nada servirá se não revelar os factos relevantes para o processo: o
documento escurito tem de ser lido; a fotografia tem de ser vista; a testemunha ou a parte tem de
narras os factos que a sua memória regista. Neste ato de revelação ou manifestação dos factos que
dele resultam, o meio de prova torna-se fator probatório.

A produção dos meios de prova no processo visa demonstrar a realidade dos factos alegados
pelas partes ou, numa outra perspetiva, demonstrar a verdade da alegação por elas feita. Esse

26 PCS: “Explique, à luz do que sabe das competências pretor e iudex, os artigos tal e tal do Código de
Processo Civil Italiano”
27 Segundo CASTRO MENDES.
resultado probatório, alcançado por u meio de prova isolado ou pelo conjunto de maios de prova
produzidos sobre um facto, pode ser ainda denominado como prova.
Diz o art.º 341ºCC que “as provas têm por função a demonstração da realidade dos factos”
que, fazendo coincidir o resultado com a função da prova, apela para o conceito da prova como
meio probatório.28

Quanto ao objeto, a prova incide sobre os factos pertinentes para o objeto do projeto; do seu
objeto são excluídos os conceitos de direito. Esses factos são, em primeira linha, os factos principais.
Mas também os factos instrumentais são objeto de prova.

Quanto ao ónus da prova, sabemos que o autor, bem como o réu reconvinte e aquele contra
quem é proposta a ação de simples apreciação negativa, têm o ónus de alegar os factos
constitutivos da sua situação jurídica, o os elementos constitutivos do facto jurídico cuja existência
querem que seja declarada, ao passo que o réu, bem como o autor reconvindo e o que move a
ação de simples apreciação negativa, têm o ónus de alegar os factos impeditivos, modificativos ou
extintivos desse situação jurídica, ou os elementos impeditivos desse facto, voltando ainda os
primeiros a ter o ónus de alegar os factos que impeçam, modifiquem ou extingam os efeitos dos que
a contraparte alegues.
Em principio, quem tem o ónus de alegar tem também o ónus de provar os factos que do
primeiro são objeto (342º e 242º/1 CC).

Discussão
1) Audiência Final – art.º 410º e ss. e 599º e ss.

A instrução do processo termina, como sabemos, na audiência final, cuja data é designada
na audiência prévia (591º/1-g)) ou, quando ela seja dispensada, em despacho proferido nos termos
do art.º 593º/2-d) – em qualquer caso tem em conta a duração provável das diligências de prova aa
efetuar antes dela.
Feita uma tentativa inicial de conciliação, têm sucessivamente lugar na audiência final,
quando devam realizar-se, os depoimentos de parte, a exibição de documentos não escritos, os
esclarecimentos dos peritos como complemento da prova pericial e a inquirição de testemunhas.
Terminada a produção de prova, entra-se na fase da discussão da causa.
Na audiência final, reúnem-se o tribunal, as partes e os intervenientes acidentais necessários à
produção da prova, assim como a ajuda técnica ao tribunal e às partes, para realizarem os atos
conducentes ao apuramento da prova da matéria de facto.

Partes expressam os seus pontos de vista sobre as decisões, de facto e de direito, a proferir.
A audiência final decorre sempre perante um juiz singular (599º), haja ou não prova a produzir.
A audiência é sempre gravada (155º/1).

2) Sentença
A sentença é o ato final do juiz. Após a discussão do aspeto jurídico da causa, inicia-se a fase
da sentença, última fase do processo declarativo. A sentença é o ato em que o tribunal vai ponderar
os resultados obtidos ao longo de todo o processo e definir a solução jurídica da causa, fazendo uma
apreciação crítica de todas as provas produzidas.
O Juiz tem de conhecer = decidir (609º) tudo o que lhe foi pedido e não pode conhecer de
outras coisas para alem daquelas que lhe pediram que conheça. Art.º 608º - expressão forte do
principio do dispositivo. Por força do princípio do dispositivo o juiz está limitado na sentença àquilo
que houver sido pedido pelas partes quando iniciaram a instância (ou apresentaram pedidos
reconvencionais, ou ampliaram os pedidos). Porquê? Porque, por exemplo, se A intentasse uma ação
contra B para receber 20 euros , e B, contra todas as expectativas era condenado a pagar 20 000 000

28 Enquadrar com os artigos 388º e 390º CC e 415º, 420º, 421º e 604º/8 CPC.
euros. O mesmo acontece com os factos essenciais. O juiz só pode condenar no que a parte pediu
(mas pode condenar em menos, no que for justo claro) e com base no que a parte alegou para
basear o efeito jurídico (pedido) que pretende. Só quanto ao direito alegado pelas partes é que o juiz
não está vinculado.
Decisão só é boa se for exauriente – se esgotar todos os objetos que foram colocados a uma
decisão do tribunal.
A sentença é um ato individual, proferida apenas por um juiz, que não é necessariamente o
juiz da audiência de discussão e julgamento. 29
A sentença é uma decisão definitiva e, uma vez proferida, fica imediatamente esgotado o
poder jurisdicional daquele órgão quanto à matéria daquela causa, sem prejuízo da possibilidade de
retificação ou da interposição de recurso30 - termina o processo em 1ª instância e pode abrir-se
instância de recurso31 ordinário dirigido à Relação (art.º 638º). .

Resumindo brevemente:

Resumindo o que até aqui foi dito, as fases do processo pressupõem-se umas às outras32:
• Petição
• Citação
• Contestação (conteúdo depende de existir ou não ataque do réu)
• Se existir reconvenção o autor pode responder.
• A seguir trata-se da sentença? Sim, se a ação tiver grande simplicidade.
 Tipicamente autor e reu não estão de acordo quanto ao modo de ser da realidade
que consubstancia os factos essenciais dos quais resulta fundado o pedido do autor e
exceção deduzida pelo réu.
 O juiz não sabe o que aconteceu. Argumentos de autor e reu são distintos – conflito de
interesses. O juiz vai tentar saber como se configurou a realidade. Vai ter de saber qual
é a realidade de facto pelo qual vai ditar uma realidade de direito.
 Que factos têm de ser provados? Aquilo que fizer falta (os factos necessários)
em relação à pretensão que o autor deduziu, e, em caso disso, ao pedido
efetuado pelo reu contra o autor. Como não há a possibilidade de aplicar o
direito se não tiver uma base de facto, eu, parte, tenho de saber qual a base de
facto que o juiz considera relevante provar para que possa decidir com base
nas razoes de direito que lhe dei. Distinção entre tudo o que é dito e aquilo que
é realmente necessário é do mais difícil. A perceção das partes relativamente à
consolidação da matéria de facto não tem de coincidir com o juiz. As partes
têm de fazer prova, não para elas, mas para convencer o juiz de uma certa
versão da realidade. Há uma cooperação necessário entre parte/juiz. O juiz há-
de dizer as partes do objeto que ainda vão ser discutidas e as razoes de facto
essenciais que são necessárias demonstrar para este dar razão a um ou a outro.
Esta fase de produção de prova é a fase de instrução (596º/1 e 599º remete 410º
e ss.). Depois das partes terem falado e antes de o juiz ditar a sua sentença há
de haver por intermedia a fase de instrução – audiência prévia (591º/2 e 595º/1
e 2)– ato oral em que estão presentes partes e tribunal em que se discute o que
falta provar; como se vai provar e o que interessa ou não de tudo quanto foi
dito.
 Em processo parte-se do final para a história. Quais os fundamentos de facto e
de direito com que baseiam este(s) pedido(s)?!

Não há processo equitativo sem contraditório.

29 Excetuam-se, evidentemente, as decisões dos tribunais coletivos: os acórdãos.


30 Mais se desenvolverá quanto à sentença em sede de composição da ação e em sede de recurso
31 Reapreciação.
32 É muito importante que tenhamos presente que o processo é uma realidade cinética – as coisas vão

acontecendo de forma ordenada para chegarmos a um resultado final)


• Audiência final
• Sentença - 607º e ss. – ato final do juiz. Processo entregue ao juiz para que se abra uma
conclusão do processo para ser proferida uma sentença.
Juiz tem de conhecer = decidir (609º) tudo o que lhe foi pedido e não pode conhecer de
outras coisas para alem daquelas que lhe pediram que conheça. Art.º 608º - expressão forte
do principio do dispositivo. Por força do princípio do dispositivo o juiz está limitado na sentença
àquilo que houver sido pedido pelas partes quando iniciaram a instância (ou apresentaram
pedidos reconvencionais, ou ampliaram os pedidos), mas não obsta a que profira decisão que
se inscreva no âmbito da pretensão formulada. Porquê? Porque, por exemplo, se A intenta-se
uma ação contra B para receber 20 euros , e B, contra todas as expectativas eras condenado
a pagar 20 000 000 euros. O mesmo acontece com os factos essenciais. O juiz só pode
condenar no que a parte pediu (mas pode condenar em menos, no que for justo claro) e com
base no que a parte alegou para basear o efeito jurídico (pedido) que pretende. Só quanto
ao direito alegado pelas partes é que o juiz não está vinculado.
Decisão só é boa se for exauriente – se esgotar todos os objetos que foram colocados a uma
decisão do tribunal.

O Art.º 609º/1 insere-se no contexto do principio do dispositivo – “A sentença não pode


condenar em quantidade superior ou em objeto diverso do que se pedir.”

A estrutura (o processo) tem uma maior ou menor complexidade, mas é sempre complexa. O
contraditório vai depender do conteúdo concreto das condutas processuais que integram a cadeira.

Se há atos postulativo, que são condutas de postulação, quer dizer que há atos que não são
condutas de postulação – são os Negócios Processuais. A grande contraposição entre os atos que
integram a cadeira (que é o procedimento) é que opõe as condutas que vimos até aqui aos
negócios processuais.

Há uma situação jurídica cujo conteúdo é radicalmente alterado – o dever de dizer o direito
por parte do tribunal. Quando o autor pede alguma coisa há um efeito que não se provoca logo – a
sentença/o resultado. Quando um ato é um ato postulativo o tribunal tem o dever de conhecer =
decidir, autonomamente utilizando os critérios que a lei lhe dá. Por isso é que o conteúdo da
sentença não se confunde efetivamente com aquilo que é pedido ao tribunal. Tribunal não pode dar
mais, mas pode não dar coisa nenhuma.

O ato processual que atinge a categoria de negocio processual retira da esfera do tribunal
não é o dever de decidir, é o direito de decidir exercendo a função jurisdicional. O negocio
processual vai determinar o modo de ser, dentro das margens de autonomia privada que as partes
têm, de configuração, pressupostos processuais, vai regular essas matérias impedindo que o juiz as
confronte com o padrão de legalidade para saber se pode ou não aceitar o que foi autonomamente
disposto. O juiz só vai poder verificar-se o negocio processual pode ou não valer, se é bom ou não.

Significa que na nossa cadeia vamos ter atos de persuasão e atos constitutivos, que vinculam
a intervenção do tribunal.
• Exemplo: art.º 94º - as partes podem num conflito plurilocalizado, que apresenta conexão com
mais de uma ordem jurídica, determinar que tribunais serão competentes para o conhecer.
Através de um pacto de jurisdição. A pergunta não é: qual o tribunal competente? Mas sim: o
tribunal perante o qual concretamente se instaurou uma ação é competente? Está em causa
dizer que seja qual for o critério legal que atribua jurisdição a um concreto tribunal, a
competência desse tribunal não vai ser aferida por esse critério legal, mas sim pelo pacto, pelo
negocio processual. Será o negócio processual a atribuir jurisdição ao concreto tribunal. A
única coisa que o tribunal perante o qual foi instaurada a ação pode fazer é verificar se o
pacto pode ou não valer, se no fundo os limites à convenção processual, que é o pacto de
jurisdição, foram ou não respeitados (heterovinculação). Neste caso as partes retiraram das
margens de conhecimento do tribunal um pressuposto processual que foi a competência
internacional. Não é uma persuasão do tribunal para que se convença que é competente.
Este tem de aceitar, não pode discutir sobre isso.
 Relevância: a existência de um processo de atos constitutivos, como os negócios
processuais, vai refletir efeitos na cadeia, na sequencia.
O princípio do dispositivo em confronto com o
princípio do inquisitório33
Segundo o art.º 608/2 CPC o juiz tem de resolver todas as questões que as partes tenham
submetido à sua apreciação, relativamente ao objeto do processo, as questões entre o réu e o autor
surgem na contestação. O juiz tem de dar resposta a todas as questões que as partes suscitaram. O
juiz conhece daquilo que as partes alegam como questões. O juiz tem um limite, “pode ocupar-se
senão das questões suscitadas pelas partes” – há um limite do tribunal e este limite é mais
compreensível se atendermos à nulidade que é de conhecimento oficioso, e à anulabilidade que
não é de conhecimento oficioso.
Se o juiz disser que o contrato é nulo por falta de forma, sem o autor contestar, tal é possível,
porque as nulidades são de carácter oficioso, se for uma anulabilidade não pode. – art.º 608/2 in
fine.*

Dentro do objeto do processo temos o pedido – art.º 609º CPC – o pedido limita o objeto
possível da condenação.
Art.º 615 º CPC – causas de nulidade da sentença – alínea d) – interligada com o art.º 608º/2
CPC – a sentença é nula, tem as mesmas consequências.

O que é que isto tem de ver com os factos essenciais e instrumentais (5º/2)?
Há uma ligação do princípio do dispositivo e do poder do tribunal com o conteúdo da
decisão – este objeto processual limita o conteúdo da sentença, e o princípio do dispositivo é
essencial para perceber a ligação das questões do art.º 608 e 615/1/d) CPC.

O Art.º 411 CPC | Princípio do inquisitório | que sobre o juiz incumbe um dever – as partes são
encabeçadas num ónus. O “ Apuramento da verdade e à justa composição do litígio, quanto aos
factos de que lhe é lícito conhecer” – é um híbrido de poder-dever que é limitado. Ele tem de
descobrir o que aconteceu, para chegar à justa composição da causa, quanto aos factos que é lícito
conhecer. As questões resultam de factos – narram uma sequência de factos e acontecimentos.
As questões surgem pela qualificação jurídica dos efeitos narrados. Aplicando as regras
jurídicas a estes factos, os factos que entram no processo, são só factos jurídicos. Tem de haver uma
descrição dos acontecimentos, a história vai ter consequência no plano no Direito.
A preocupação do princípio do dispositivo funda-se em encontrar quais os factos jurídicos que
podem fundamentar a decisão. E fundamentar a decisão como? O juiz vai ter de dizer se há um erro
que resulte de nulidade; ele tem de ficar convencido que a história narrada pelo autor e de acordo
com a prova da história narrada é consistente, que aquela questão efetivamente existiu.

Factos: art.º 5º CPC | princípio do dispositivo –| às partes cabe alegar os factos essenciais, o juiz não
alega, só conhece e decide. Estes factos essenciais constituem a causa de pedir. O destinatário da
regra é o juiz, o declaratário são as partes. – Ou a forma tem um efeito excecional ou tem forma de
pedido.

Factos essenciais. É sempre por referência à regra em que a parte se fundamenta para retirar um
efeito jurídico.

Art.º 5/2 CPC- são ainda considerados pelo juiz: “são tidos em conta”- factos que podem
fundamentar a decisão. O Juiz decide, portanto, que um facto é considerado quando pode
fundamentar uma decisão.

O º 5º/2 tem suscitado dúvidas na doutrina e na jurisprudência - o problema está na


interpretação da alínea b: os factos desta alínea são factos essenciais, instrumentais ou de terceira
categoria? PCS - são factos essenciais ou instrumentais.
Para PCS, um facto concretizador de outro facto pode ser essencial para a compreensão do
facto que foi concretizado. E para além disso, também há a possibilidade de factos instrumentais

33 Ver: Análise do juiz Jorge Augusto Pais do Amaral


serem concretizadores de factos também eles instrumentais - mas não adquirem a forma de facto
essencial.

Artigo 552/d) e e)
Factos instrumentais têm de advir dos factos essenciais. O juiz não pode fazer uma investigação
extrajudicial.
Na instrução da causa o juiz pode retirar outros factos.

Art.º 5º/3 – IMPORTANTE. “As partes dão os factos, o tribunal o Direito” - Se na petição disser que
celebrei um contrato CV nada impede que o tribunal diga que não, e que se trata antes de um
contrato de prestação de serviços (ex. recibos verdes). Trata-se de uma questão de qualificação de
direito.

Princípios têm de se concretizar normativamente. 5º/1 – os factos essenciais são o preenchimento de


uma determinada previsão normativa. Na causa de pedir tem de ser alegado o(s) facto(s), e
preencher os pressupostos de direito (por ex., do 483º - ilicitude, nexo de causalidade, dano…).

A categoria de complementar ou concretizadora é da mesma ordem de instrumental ou


essencial? Não. O tipo legal pode ser mais ou menos complexo na sua construção. Por exemplo o
art.º 483 CC – o que está entre virgulas “ com dolo ou mera culpa” cai, e fica aquele que ilicitamente;
ilicitamente atribuiu uma descrição à conduta – a ação procede se não houver ilicitude? É um facto
essencial, estes factos concretizam o ato ilícito.

Pegando ainda no exemplo da responsabilidade civil | art.º 483º CC |: Á luz do art.º 5/2/b CPC – o
ilícito é essencial – o dolo ou mera culpa estão a qualificar a ação, mas neste caso está a
concretizar, e são partes essenciais. Este tipo legal da responsabilidade civil é um ato complexo,
existem factos essenciais que são concretizáveis. O que joga este art.º 5º CPC nº1 – há um limite na
aliena a), o juiz pode fundamentar a decisão pelos factos essenciais, os essenciais têm de ter sido
alegados pelas partes, a natureza instrumental ou essencial dos factos não dispensa o princípio do
contraditório. Decorreram da prova que foi produzida.

Poderes de suprimento do Tribunal – quando os factos são essenciais – o juiz tudo tem de
fazer para que a base de facto seja integral e completa.

*O réu na contestação diz que o contrato é anulável. O que há aqui de radical na


intervenção do réu? Ele trouxe factos ao processo que são novos – quando alguém invoca uma
invalidade traz factos que comprovam. Isto desencadeia o principio do contraditório por parte do
autor, pois trouxe factos novos ao processo (primeira dimensão do principio do contraditório). O reu
pode dizer que é anulável, mas que o juiz se aperceba que o ato é nulo.

Ver 287ºCC. A anulabilidade, sendo um vicio de um ato jurídico, é aposto ao ato jurídico para
interesse de um privado. 247º.

As partes não têm de pedir ao tribunal, como no caso das anulabilidades, que se pronuncie sobe a
nulidade dos negócios. O tribunal deve conhecer oficiosamente. Quando a lei estabelece a nulidade
a lei está a proteger interesses que estão para alem dos interesses das partes. Há um interesse de
ordem pública. Interesses esses sindicados pelo juiz. Mas o que tem isto que ver com o principio do
contraditório? O juiz encabeçado no dever de conhecer de uma matéria que as partes não
submeteram a sua apreciação (286). O processo da persuasão. As partes não falaram da nulidade.
Mas sim o juiz. É este que verifica a existência de uma nulidade. Sempre que não apenas as partes,
mas também o tribunal traga matéria para decisão, que não foi submetida a contraditório prévio, o
juiz tem de abrir o debate da matéria (segunda dimensão do principio do contraditório). (art.º 3º CPC
- remissão 20º/4 CRP – HÁ UMA MATRIZ CONSTITUCIONAL QUE IMPÕE ESTA DECISÃO).

• “o juiz deve observar …” – submeter-se a;


• “fazer cumprir ao longo do processo o principio do contraditório…” – juiz notifica a parte do
ato que acabou se ser praticado; este é o modo de interação entre o tribunal e as partes.
• “não lhe sendo lícito…” – partes têm de impedir que o juiz decida sem terem tido a
possibilidade de o persuadir. Elas não querem que o juiz diga que o negocio é nulo sem elas
poderem demonstrar que o ato é nulo ou deixa de ser nulo não lhes interessa que o tribunal
diga que é nulo – porque o que está em questão é observar se o réu é ou não condenado. O
desvalor do ato do juiz é a invalidade do próprio ato de decisão34, não uma RC. Isto porque:
para que é que interessa às partes desencadear uma ação de RC contra o juiz? Nada, têm é
de impedir que o juiz decida sem que possam persuadir primeiro o tribunal. O pensamento
nesta disciplina deve ser cinético e o parâmetro de referencia na analise dos casos deve ser
sempre o que é pedido.

3º/4CPC - O que qualifica a exceção é a existência de factos novos. Ao juiz cabe determinar se deve
ou não haver convocação da audiência prévia, de acordo com os parâmetros que a lei lhe dá.

552º CPC – processos de declaração comuns do 552º seguem forma única – a forma do 558º. Mas há
também processos especiais que não seguem esta forma. SE TIVERMOS DE OLHAR PARA PROCESSO
ESPECIAL NÃO DEVEMOS OLHAR PARA 552º, MAS SIM PARA A PARTE DO CODIGO QUE TEM ESSE
PROCESSO ESPECIAL.

552º/… alínea d) “tem de trazer ao processo os factos essenciais e expor as razões de direito” – Aquilo
que não é essencial é instrumental. Não há factos intermédios.
EX: Autor diz que reu tem de suprir defeitos da obra. A pergunta é: o CC dá ao autor esse direito? Está
nas regras da empreitada? Sim, ele tem então direito e factos, então nos termos da alínea e) do 552º
faz o pedido. O que o tribunal vai ter de fazer então é, olhando para o pedido, perguntar se as razoes
de direito e os factos são suficientes para o pedido. O facto desencadeia a regra?

483ª/1CC – se não demonstrar o modo da ação (dolosa, negligente, ilícita) não há direito à
indemnização.
Os factos críticos e essenciais que desencadeiam o tipo são sempre iguais. Se os factos da regra do
tipo são enunciados da mesma forma, se são sempre aqueles (dolosa, negligente, ilícita e etc.). Por
outro lado, em concreto, os factos que preenchem as previsões do tipo são diferentes. Ex: caso da
prostituta (encomenda carruagem para passear pela cidade e atrair clientes; queria uma carruagem
diferente das comuns. Na entrega ela não paga o preço da criação da carruagem, pelo que é
demandada pela empresa para pagar. A decisão é que ela não pode ser condenada a pagar, pois
a empresa sabia que a carruagem seria para pratica ilícita e sabia que o pagamento seria fruto
dessa mesma prática ilícita) tem o mesmo desfecho que o caso do plutónio, apesar de terem factos
diferentes a preencher as previsões do tipo.
O importante da dicotomia entre factos essenciais e factos instrumentais não é o modo da relação
entre os factos, mas o modo da relação e o tipo legal que se está a aplicar.

Á luz do art.º 5/2/b CPC – o ilícito é essencial – o dolo ou mera culpa estão a qualificar a ação,
mas neste caso está a concretizar, e são partes essenciais. Este tipo legal da responsabilidade civil é
um ato complexo, existem factos essenciais que são concretizáveis. O que joga este art.º 5º CPC nº1 –
há um limite na aliena a), o juiz pode fundamentar a decisão pelos factos essenciais, os essências têm
de ter sido alegados pelas partes, a natureza instrumental ou essencial dos factos não dispensa o
princípio do contraditório. Decorreram da prova que foi produzida.
Poderes de suprimento do Tribunal – quando os factos são essenciais – o juiz tudo tem de fazer
para que a base de facto seja integral e completa.

34Invalidade da decisão em si? Não - invalidade em cadeia. A sentença cai porque vem na
sequencia da violação do contraditório.
Formação da Matéria de Facto: Factos Principais,
Instrumentais … - continuação
• Essenciais

Art.º 5º/1 – cabe às partes, e só a elas, alegar os factos essenciais da causa, i.e., aqueles que
integram a causa de pedir e os que fundam as exceções.
 são essenciais porque a causa de pedir é consubstanciada por esses - Essa alegação é feita
nos articulados35

• De conhecimento oficioso

Art.º 5º/2/c – factos de conhecimento oficioso (remete para o art.º 412º)


 Factos notórios: do conhecimento geral, facilmente cognoscível pela generalidade das
pessoas de determinada esfera social36, de tal modo que não haja razão para duvidar da
sua ocorrência.
 Factos que o tribunal tem conhecimento por exercício das suas funções: conhecimento
funcional.

• Instrumentais

Art.º 5º/2/a – factos instrumentais que, por natureza, não carecem de alegação e são oficiosamente
considerados na decisão de facto, como resultantes da instrução da causa.
É um facto que não foi articulado nos articulados.
 Estes factos instrumentais só poderão ser considerados se tiverem sido articulados os essenciais
aos quais esses são instrumentais. - Só pode haver instrumentais dos essenciais que já tenham
sido discutidos pelas partes.

Não são condicionantes diretas da decisão e a sua função é a de permitir atingir a prova dos
factos principais.

Art.º 5º/2/b – factos complementares são essenciais ou instrumentais?37


 (Lebre Freitas) São complementares pois: Consideração de factos principais que
complementam ou concretizam os alegados nos articulados. - Tem de ser a parte que
beneficia do efeito constitutivo, impeditivo, modificativo ou extintivo que os tem de invocar e
manifestar vontade de deles se aproveitar.

✓ Se complementarem factos essenciais são factos essenciais também;


✓ Se complementarem factos instrumentais, eles terão de estar presentes para que a
ação seja julgada procedente? Não, porque eles serão igualmente instrumentais.

O juiz não pode considerar um facto, ainda que instrumental, se não tiver respeitado o
princípio do contraditório.
 O que eles são dependem do facto que as provas concretizem
 PCS: não há 3º categoria como diz MTS. Um facto concretizador de outro facto pode ser
essencial para a compreensão do facto que foi concretizado.

35 PCS: Os factos essenciais são essenciais por referência ao tipo legal em que a parte se fundamenta. É
sempre por referência à regra em que a parte se fundamenta para retirar a consequência jurídica que eu
sei ou não se um facto é essencial. Se o facto puder ser retirado e a ação, mesmo assim, puder ser julgada
procedente ou não, o facto não é essencial. Eu terei de perguntar à regra quais os factos que se têm de
verificar
36 Que tem de abranger obrigatoriamente as partes e o juiz da causa.
37 PCS: Esta alínea surge uma vez que fala de factos que não são da mesma ordem do que os essenciais

ou instrumentais.
E para além disso, também há a possibilidade de factos instrumentais serem concretizadores
de factos também eles instrumentais - mas não adquirem a forma de facto essencial

MTS: se os complementares forem essenciais a causa de pedir não existia porque estava incompleta,
faltando um dos factos essenciais.
PCS: mas a causa de pedir tem 2 finalidades
➢ Permite ao réu saber do que se está a defender (conjunto de factos de inteligibilidade)
➢ Procedibilidade

Porque apareceu este regime para estes factos? Porque não é fácil reduzir a complexidade
dos factos e saber com certeza o que é essência ou não – tempo de julgamento seria mais longo.
Lei não permitia ir buscar factos complementares e teria que se repetir o processo. Objetivo de
evitar a improcedência – regra vem de um princípio de prevalência de substância sobre a forma.

Perante um facto complementar do facto essencial ou do facto instrumental é relevante


saber se verificado ou não esse facto complementar se pode ou não julgar procedente a ação
ou a exceção.

Diferença entre o nº1 e o nº2 - a causa de pedir só é constituída por factos essenciais - art.º
581º/4, que diz o que é a causa de pedir.

O mínimo de concretização da causa de pedir é fundamental para garantir a


inteligibilidade (o entendimento) da ação, mas para que a ação seja julgada procedente é
necessário a verificação de todos os factos essenciais. Ora o réu não precisa da verificação de
todos os factos essenciais para saber do que se está a defender, ele só precisa disso para
conseguir defender-se quanto à procedência da ação. Desta forma resulta daqui, segundo PCS,
que o conteúdo último da alínea b do art.º 5º/2 é que esta regra permite ainda julgar procedente
uma ação contra a qual o réu se conseguiu defender porque ela era inteligível, mas em que
faltava a alegação de factos que não são necessários para a inteligibilidade, mas são
estritamente necessários para a procedência.

O juiz é o destinatário desta norma porque se o juiz considerar na decisão factos


essenciais não alegados pelas partes a decisão é nula - 615º/1/d - temos aqui a instauração de
um limite aos poderes do juiz, na medida em que ele não pode fundamentar uma decisão em
factos essenciais não alegados.

Ora que poderes assistenciais devem ser dados ao juiz para que seja possível o proferir de
uma decisão exauriente? Esta pergunta tem, na sua retaguarda, um problema, que consiste em
saber se quando o juiz tem poderes assistenciais não pode estar em causa a rutura do princípio
da igualdade, porque juiz deixa de ser imparcial, ou seja, se ele faz alguma coisa para conseguir
algo, mesmo que seja corrigir os vícios, ele não perde a sua imparcialidade?

Ao juiz devem ser dados poderes assistenciais, mas sem que perca a sua imparcialidade
na decisão - assim, quando o juiz deteta uma deficiência ele deve ter um comportamento igual,
seja qual for a parte relativamente à qual a deficiência é tratada.

Esta necessidade de atribuição de poderes assistências ao juiz esta relacionamento com o


suprimento das insuficiências na matéria de facto, nos termos do art.º 590º/2-b - se o juiz verificar
que há uma insuficiência na alegação de matéria de facto o juiz deve, ao abrigo do art.º
590º/2/b e nº4, exortar a parte em causa, ou ambas, se se verificar o mesmo problemas nas duas,
para suprir essas insuficiências - poder assistencial muito forte, porque no fundo o juiz está a
indiciar, seja ao autor seja ao réu, que ainda falta a alegação de factos que sejam necessários
para que haja uma decisão de mérito compatível com o tipo legal que a parte alega e com as
suas consequências.
O que acontece se o juiz não faz o que a lei lhe impõe que faça, ou seja, o juiz não exorta
a parte? Ocorre uma nulidade processual secundária - o juiz não pratica o que a lei impunha e a
partir daqui todos os atos subsequentes são destruídos em cadeia.

Estes poderes assistenciais do juiz tem um enquadramento maior, nomeadamente:


• no art.º 7º nº1 - “obter justa composição do litígio” - a composição do litígio só se obtém
com uma decisão de mérito, mas ela também tem de ser justa e para além disso tem que
ser obtida com eficácia;
• art.5º e art.º 581º/4 - que faz com que toda a matéria de facto relevante fosse alegada
de modo a que houvesse a melhor base de facto possível para que fosse possível esgotar
o assunto e permitindo chegar a uma justa decisão;
• nº 2 - obter esclarecimentos, o juiz apenas pretende retirar dúvidas - pelo que não se
sobrepõe ao art.º 590º, pois os artigos têm finalidades distintas;
• no art.º 429º/1;
• no art.º 452º/1 e 467º/1 como manifestações tópicas do art.º 411º;
• no art.º 590º/2-a - exceções dilatórias são a consequência do não preenchimento dos
pressupostos processuais.
 Porque é que a falta de pressupostos processuais impedem o proferir da decisão de
mérito? Porque os pressupostos processuais tem por função garantir que estão
criadas as melhores condições processuais que o sistema conhece para que seja
possível dar cumprimento ao art.º 7º/1, ou seja, para que seja proferida uma
decisão justa à composição do litígio.

Princípios do Processo Civil

 Princípios Estruturantes - São aqueles que são conaturais ao processo civil, pelo que lhe são
indispensáveis. Só admitem uma consagração absoluta, pelo que, qualquer desvio, é apenas
excecional (logo, insuscetível de aplicação analógica – art.º 11º).

1. Garantia de Acesso aos Tribunais


• Encontra-se previsto no art.º 2º/2 e dispõe que, a todo o direito corresponde uma
ação adequada para o fazer reconhecer em juízo.
• Função: garantir o acesso aos tribunais, mas também eliminar obstáculos ao referido
acesso, que impendam sobre os mais carenciados, em virtude das custas da ação
ou dos honorários dos advogados.
• Relevante: regime de acesso ao direito e aos tribunais – Lei 34/2004.

2. Princípio da Autossuficiência
• Também designado de princípio da tutela provisória da aparência (Castro Mendes)
• Em matéria processual, a aparência vale como realidade para o efeito de se
determinar se essa aparência corresponde ou não à realidade.
• Deste decorre, ainda, a regra constante do art.º 30º/3: a legitimidade depende dos
factos descritos na petição inicial.

3. Princípio da Igualdade das Partes


• Garantia de participação efetiva das partes no desenvolvimento de todo o litígio.
• Postula a igualdade das partes entre si e perante o tribunal: em paridade perante o
tribunal, dispondo dos mesmos direitos e oneradas com os mesmos deveres.
• Decorre do princípio da igualdade (art.º 13º CRP) e ainda do princípio do Estado de
Direito Democrático (art.º 1º CRP).
• No plano da alegação, exige-se que os factos alegados por uma das partes
possam ser contraditados pela outra, tendo ambas, em igualdade, a faculdade de
se pronunciarem.
• Encontra-se previsto no art.º 4º do CPC.
• Exceção: quando uma das partes é o Ministério Público (art.º 632º/4 do CPC)
4. Princípio do Contraditório

O princípio do contraditório postula que não pode ser tomada nenhuma decisão sem que as
artes se tenham pronunciado sobre a questão – significa que não pode, o tribunal, tomar uma
decisão sem que a outra parte seja devidamente chamada para deduzir oposição (art.º 3º/1 do
CPC).
Vale isto dizer que não podem ser tomadas quaisquer providências contra uma pessoa, sem
que ela seja previamente ouvida, e que o juiz não pode decidir quaisquer questões de facto ou
direito, sem que as partes tenham tido a possibilidade de se pronunciarem sobre tais quês.
O resultado de um processo só pode ser justamente obtido se conferir as partes a igualdade
de armas – porque no processo, esta é sempre a estrutura, há alguém que ataca e aquele que é
atacado tem de ter armas adequadas para se poder defender, não se entende um processo justo se
houver desequilíbrio das partes. Colocadas as partes em situação similar com as mesmas armas. A
igualdade de condições sobre os factos que são alegados no processo. 4º CPC.
Eu tenho garantias do decisor e vou ter garantias na própria estrutura do procedimento.
Vamos exigir que o decisor seja imparcial e fundamente as suas decisões. Tenho de conhecer a
descrição dos factos das duas partes. O contraditório.
Quando alguém invoca uma invalidade traz factos que comprovam. Isto desencadeia o
principio do contraditório por parte do autor, pois trouxe factos novos ao processo (primeira dimensão
do principio do contraditório).
Sempre que não apenas as partes, mas também o tribunal traga matéria para decisão, que
não foi submetida a contraditório prévio, o juiz tem de abrir o debate da matéria (segunda dimensão
do principio do contraditório). (Art.º 3º CPC - remissão 20º/4 CRP – HÁ UMA MATRIZ CONSTITUCIONAL
QUE IMPÕE ESTA DECISÃO).
Nos termos do artigo 3º o juiz não pode resolver um conflito de interesses sem que haja pedido
e que seja deduzida oposição. Ora só há oposição se as partes forem citadas, ou seja, que lhes seja
dada a possibilidade de se defenderem, consagrando isto o principio do contraditório.
Ou seja, tanto as partes como o tribunal podem desencadear o principio do contraditório.

“ I - O princípio do contraditório encontra-se ínsito na garantia constitucional de acesso ao


direito consagrada no art.º 20.º da CRP e traduz-se na possibilidade dada às partes de exercerem o
seu direito de defesa e exporem as suas razões no processo antes de tomada a decisão.
II - É o princípio do contraditório – com expressão na lei ordinária nos art.º 3.º, n.º 3, e 4.º do CPC
– que garante uma participação efetiva das partes no desenrolar do litígio num quadro de equilíbrio e
lealdade processuais e lhes assegura a participação em idênticas condições até ser proferida a
decisão.
III - Tal princípio proíbe as chamadas decisões-surpresa, ou seja, impede que o tribunal tome
conhecimento de questões, ainda que de apreciação oficiosa, sem que as partes tenham tido a
prévia oportunidade de sobre elas se pronunciarem, a não ser que a sua audição se revele
manifestamente desnecessária.38
“1- Existe, presentemente, uma conceção ampla do princípio do contraditório, a qual teve
origem em garantia constitucional da República Federal Alemã, tendo a doutrina e jurisprudência
começando a ligar ao princípio do contraditório ideias de participação efetiva das partes no
desenvolvimento do litígio e de influência na decisão, passando o processo visto como um sistema,
dinâmico, de comunicações entre as partes e o Tribunal;
2- Cabe ao juiz respeitar e fazer observar o princípio do contraditório ao longo de todo o
processo, não lhe sendo lícito conhecer de questões sem dar a oportunidade às partes de,
previamente, sobre elas se pronunciarem;
3- Com o aditamento do nº 3, do art.º 3º, do CPC, e a proibição de decisões-surpresa,
pretendeu-se uma maior eficácia do sistema, colocando, com maior ênfase e utilidade prática, a
contraditoriedade ao serviço da boa administração da justiça, reforçando-se, assim, a colaboração
e o contributo das partes com vista à melhor satisfação dos seus próprios interesses e à justa
composição dos litígios;
4- Contudo, o dever de audição prévia só existe quando estiverem em causa factos ou
questões de direito suscetíveis de virem a integrar a base de decisão;

38

http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/7a0213873c28f649802580ed005420c9?Ope
nDocument
5- A inobservância do contraditório constitui uma omissão grave, representando uma nulidade
processual sempre que tal omissão seja suscetível de influir no exame ou na decisão da causa, sendo
nula a decisão (surpresa) quando à parte não foi dada possibilidade de se pronunciar sobre os factos
e respetivo enquadramento jurídico.”39

Contraditório está presente em todos os articulados do processo.

Violação do princípio do contraditório:


• 195º CPC – nulidade processual - é diferente porque não há uma decisão (ex. falta de
citação, violando-se o principio do contraditório, que leva à nulidade processual). Tem que ver
com questões mais formais; com os atos.
• 615º CPC- tem que ver com questões e conteúdo. 615º/d última parte – (excesso de
pronúncia) há excesso de pronuncia quando estamos perante uma decisão surpresa.

Sempre que há uma omissão obrigatória do juiz para o desenrolar do processo estamos perante uma
nulidade processual – 195º CPC. Estas nulidades processuais costuma dizer a doutrina que é uma
nulidade fraca. Se não for arguida é um bocado indiferente. E só pode ser arguida no próprio
processo.

Na questão das decisões surpresa e nulidade da sentença:


Se o juiz decidir de forma surpreendente ou condenar o réu sobe um facto que não foi
discutido pelas partes há um problema, que surpreende negativamente autor e reu. Essas decisões
surpresa normalmente fundamentam-se na violação do contraditório. Mesmo em questões de
conhecimento oficioso tem de se dar liberdade às partes de se pronunciarem sobre a questão.
Se houver uma decisão surpresa, segundo MTS, há uma nulidade da sentença porque houve
excesso de pronúncia, porque tem a ver com o conteúdo da decisão.

Exemplo: igualdade de armas. Se o juiz dá um prazo para o autor fixar documentos e na dá ao réu
podemos estar perante uma nulidade processual. O contraditório não é só dar a possibilidade, é dar
também a igual oportunidade.

Em suma, relativamente ao principio do contraditório, ou estamos perante uma nulidade processual


ou perante uma nulidade da sentença.

➔ Duas vertentes: direito de audiência prévia e direito de resposta.


➔ Objetivo: incidir positivamente no desenvolvimento e no êxito do processo.
➔ Exceções: possibilidade de dispensa da audiência prévia.

5. Princípio da Legalidade da Decisão


• São extraídos das regras jurídicas, ou não normativos, quando se reconduzem à
equidade (art.º 4º do CC) ou a poderes discricionários.
• Deste decorre o princípio da fundamentação: presente no art.º 205º da CRP;
assegura aos destinatários da decisão o conhecimento das razões de facto e de
direito que levaram o juiz a proferi-las; deve ser cumprido, quer no momento da
emissão da sentença, quer durante todo o processo.
• Inobservância: caso de nulidade, eventual (art.º 615º/1/b) do CPC). Manifestações:
artigos 154º CPC e 607º.

39 http://www.dgsi.pt/jtrg.nsf/-/9C9B68362E36005280258286003C9906
 Princípios Instrumentais - São aqueles que procuram a otimização dos resultados do processo,
pois que aceitam várias graduações consoante as circunstâncias e admitem uma
ponderação pelo legislador das suas vantagens e dos seus inconvenientes.

1. Principio da instrumentalidade
O processo civil não é um fim em si mesmo, destina-se à tutela de situações subjetivas.

2. Princípio da indisponibilidade objetiva das situações jurídico-privadas (art. 289º) - a lei


substantiva utiliza as expressões “direitos indisponíveis”/”relação jurídica indisponível”, o
que significa que existem matérias em relação às quais a vontade das partes não tem
importância. A ligação disto com o processo civil é que a mesma limitação que existe
no plano substantivo (fora do processo) quanto à relevância da vontade das partes,
existe dentro do processo civil: se as partes não podem por si mesmas iniciar, modificar
ou extinguir uma situação jurídica, no direito processual também não podem assumir
comportamentos que levem a semelhante efeito.

Exemplo: Estabelecimento da maternidade ou da paternidade - não é possível fazê-lo de


forma totalmente voluntária Ideia fundamental de que aquilo em relação ao qual a vontade das
partes não é relevante fora do processo então tampem não o será dentro do processo.

O processo é um instrumento para fazer valer direitos materiais. Nunca posso através do processo
conseguir produzir efeitos que não conseguiria produzir assim fora do processo

3. Princípio da Cooperação
• Previsão: artigo 7º do CPC, sendo aplicável nas relações entre as partes e nas
relações das partes para com o tribunal e do tribunal para com as partes; as partes
e o Tribunal devem colaborar entre si. Já durante a fase judicial, as partes devem
colaborar entre si e com o Tribunal para a descoberta da verdade. No fundo, há um
dever de atuação que tem de ser orientado para a proporcionalidade e a
eficiência.
• Exceções: art.º 7º/ 3 e art.º 417º/3 do CPC.

• Concretização para as partes: princípio da boa fé processual, ou da litigância de


boa fé, nos termos do art.º 8º do CPC; a violação implica a litigância de má fé;
 Litigância de boa fé (art.º 8º) – as partes devem colaborar com o Tribunal,
nomeadamente, prestando esclarecimentos sobre a matéria de facto e de
direito. De acordo com o art.º 417º/1, percebemos que uma das partes pode
requerer a entrega de um documento que esteja na posse da contraparte
(art.º 429º). As partes devem alegar tudo aquilo que é constitutivo do seu
direito ou em que versa a sua defesa e tudo o que seja verdade, porque se
assim não for viola-se imediatamente um dever de esclarecimento e o
princípio da boa fé. O art.º 542º/2 b) versa precisamente sobre este dever de
esclarecimento. O dever de colaboração tem os limites do art.º 417º/1,
quando importe a violação da integridade física ou moral ou a violação da
intimidade da vida privada ou do sigilo profissional e do segredo de Estado.
A violação de todos estes deveres resulta em litigância de má fé (art.º 7º e
542º/2 c)), contudo, esta consequência é conjugada com outras.
Existe ainda um dever funcional, que se destina a incrementar a eficiência
do processo, a assegurar a igualdade de oportunidade das partes, a
promover a descoberta da verdade e a garantir um processo equitativo.

• Concretizações para o tribunal: dever de esclarecimento (tribunal se esclarecer


junto das partes quanto às dúvidas que tenha sobre as alegações, pedidos ou
posições em juízo) e o dever de prevenção (prevenir as partes sobre as eventuais
deficiências ou insuficiências das suas alegações ou pedidos – art.º 6º);
Assim, o dever de colaboração/cooperação desdobra-se em vários, para o
Tribunal:
 Dever de prevenção ou advertência – advertir as partes sobre a falta de
pressupostos.
 Dever de esclarecimento – sempre que o magistrado tiver dúvidas sobre
matérias de facto ou de direito, deve pedir às partes para prestarem
esclarecimentos sobre essas matérias.
 Dever de auxiliar as partes – é sobretudo visível em função de dificuldades no
exercício dos seus direitos ou de deveres processuais. Ex: sempre que um
autor ou réu precisa de obter uma determinada informação que está na
posse de serviços administrativos.
 Dever de consulta das partes – o Tribunal deve, sempre que pretenda
conhecer oficiosamente de matéria de facto ou de direito, cuja
possibilidade de as partes pronunciarem ainda não se verificou, dar essa
possibilidade às partes para falarem de sua justiça. Ou seja, o Tribunal deve
ouvir as partes, ainda que possa conhecer sobre matéria que não seja
necessariamente obrigatória a alegação pelas partes.
• No âmbito do dever de cooperação do Tribunal com as partes, é
exigida a substituição de poderes discricionários por poderes-deveres,
ou seja, os poderes que servem de instrumento para o exercício da
cooperação não podem ser exercidos discricionariamente pelos
Tribunais. A omissão do exercício destes deveres traduz-se numa
nulidade processual, porque o Tribunal deixa de praticar um ato que
não pode omitir – art.º 195º/1.
• Esta nulidade processual só se torna patente quando o Tribunal
profere uma decisão, ou seja, a nulidade é arguida como nulidade
da decisão proferida, ainda que seja considerada uma nulidade
processual por omissão de um poder-dever art.º 615º/1 d), 666º e 685º.
• Este princípio também se manifesta no dever de urbanidade, ou seja,
é transversal um dever de correção e urbanidade patente no art.º
9º/1.

• Divergência doutrinária:
 Miguel Teixeira de Sousa - Sempre que o juiz se aperceba de um vício formal
em algum dos documentos que seria sanável através da correção de uma
das partes e não a convidar a saná-lo há uma nulidade processual
 Lebre de Freitas - o juiz pode cooperar, não é uma obrigação sua e as partes
é que deveriam ter feito de forma diferente pelo que não se verifica
qualquer nulidade processual

4. Princípio do Dispositivo

O principio do dispositivo sucede quando alguém pede alguma coisa a outra parte 552º–
tanto por meio da petição inicial (por parte do autor) como na reconvenção (por parte do réu).
Postula que o processo se encontra na disponibilidade das partes e fundamenta-se na
circunstância de os interesses presentes no processo civil serem predominantemente interesses
privados (art.3º/1/1ª parte);
Este concretiza-se no princípio do impulso processual (Ao autor cabe solicitar a tutela
jurisdicional; incumbe às partes praticarem os atos que determinam a pendência da causa o
andamento do processo, pelo que o tribunal não decide enquanto não houver uma causa
pendente e não supre as omissões das partes numa causa instaurada, ou seja, alguém tem de pedir
alguma coisa para o processo de desenrolar, não vai ser o juiz a instaurar uma ação em nome do
autor, a propositura da ação tem de partir deste último; o principio do dispositivo centra-se no ato de
pedir); e no princípio da disponibilidade privada (incumbe às partes a definição do objeto e da causa
de pedir - Ao propor a ação, autor formula o pedido, determinado formalmente pela providência
requerida e materialmente pela afirmação duma situação jurídica, dum efeito querido ou dum facto
jurídico, e fundado, de acordo com a imposição de substanciação, numa causa de pedir, assim
conformando o objeto do processo).
O ónus (de alegação e da prova) da iniciativa processual cabe às partes e são elas que
devem formular o pedido e alegar a matéria de facto que lhe serve de fundamento (art.º 5º CPC) ,
bem como são elas que, de certa maneira, estimulam o desenvolvimento dos atos processuais e são
elas que querendo podem pôr termo ao processo( por desistência da instância ) e determinar o
conteúdo da decisão sobre o mérito da causa, nos casos de confissão do pedido, desistência do
pedido e transação.
A preocupação do princípio do dispositivo funda-se em encontrar quais os factos jurídicos que
podem fundamentar a decisão. E cada uma das partes quer persuadir o decisor que tem razão.

O juiz tem de conhecer = decidir (609º) tudo o que lhe foi pedido e não pode conhecer de
outras coisas para além daquelas que lhe pediram que conheça. Art.º 608º/2 –“juiz deve resolver
todas as questões que as partes tenham submetido à sua apreciação (…) não pode ocupar-se senão
das questões suscitadas pelas partes, salvo se a lei lhe permitir ou impuser o conhecimento oficioso
de outras” - expressão forte do principio do dispositivo. Por força do princípio do dispositivo o juiz está
limitado na sentença àquilo que houver sido pedido pelas partes quando iniciaram a instância (ou
apresentaram pedidos reconvencionais, ou ampliaram os pedidos), mas não obsta a que profira
decisão que se inscreva no âmbito da pretensão formulada. Porquê? Porque, por exemplo, se A
intentasse uma ação contra B para receber 20 euros , e B, contra todas as expectativas eras
condenado a pagar 20 000 000 euros. O mesmo acontece com os factos essenciais. O juiz só pode
condenar no que a parte pediu (mas pode condenar em menos, no que for justo claro) e com base
no que a parte alegou para basear o efeito jurídico (pedido) que pretende. Só quanto ao direito
alegado pelas partes é que o juiz não está vinculado

Como realidade complexa e cinética que é desdobrado em diversos atos, a violação de um


principio deste teor irá inquinar a decisão final do processo. Assim, à luz do artigo 615º/d) e e) CPC, a
violação deste principio acarreta a nulidade da sentença, sendo, consequentemente, nulo todo o
processo.
Nos termos do art.º 615º/4 há a possibilidade de reclamação e/ou recurso. A nulidade da
sentença é fundamento para recorrer para o tribunal da relação. A sentença produz efeitos até
declarar que é ou não nula pela relação. Se der razão vai obrigar a primeira instancia a repetir o
julgamento. O tribunal de primeira instancia está vinculado à decisão tomada pelo tribunal da
relação. Há casos em que o recurso não é admissível. Aí a única solução é reclamar

➔ Objeto do processo vai limitar o conhecimento do tribunal e o objeto da sentença. O principio


do dispositivo limita o principio do inquisitório.
➔ Previsões normativas: 609º/1; 342º; 574º/2 do CPC;
➔ Limitações:
✓ Quanto a aplicação do direito aos factos dados como provados, o juiz não está limitado
aos que as partes alegarem.
✓ O juiz pode conhecer oficiosamente o direito material estrangeiro que couber aplicar ao
caso, mesmo que as partes o não invoquem (art.348ºCC)
✓ Em terceiro lugar (fase do saneamento – art.º 590º CPC) o juiz pode e deve proceder à
sanação de irregularidades da instância, sempre que isso for possível. Deve desde logo
sanar a falta de pressupostos processuais.

5. Princípio do Inquisitório

Proposta a ação, cumpre ao juiz providenciar pelo andamento regular e célere do processo,
promovendo oficiosamente as diligências necessárias (art.º 411º) ao normal prosseguimento da ação
e recusando o que for impertinente; deve, ainda, suprir a falta de pressupostos processuais cuja
sanação seja possível, determinar a prática de atos necessários à regularização da instância e
convidar à sua prática (art.º 6º/1 e 2);
PCS: o juiz deve ajudar na justa composição do litígio, tendo de conhecer e alcançar a
verdade material.
Projeta-se, essencialmente, na fase da instrução da causa (fase de produção de prova; juiz
entra mesmo no mérito da causa; o que é que ficou e não ficou provado;), incluindo os atos que têm
lugar na audiência final de discussão e julgamento. Neste sentido, as partes devem submeter-se às
inspeções necessárias, responder aos que lhes for perguntado, facultar o que lhes foi requisitado.
“ Apuramento da verdade e à justa composição do litígio, quanto aos factos de que lhe é
lícito conhecer” – é um híbrido de poder-dever que é limitado – juiz tem de criar a máxima convicção
sobre se um facto ficou ou não provado – 607º. Ele tem de descobrir o que aconteceu, para chegar
à justa composição da causa, quanto aos factos que é lícito conhecer. As questões resultam de
factos – narram uma sequência de factos e acontecimentos. As questões surgem pela qualificação
jurídica dos efeitos narrados. Aplicando as regras jurídicas a estes factos, os factos que entram no
processo, são só factos jurídicos. Tem de haver uma descrição dos acontecimentos, a história vai ter
consequência no plano no Direito.
Este principio decorre do princípio da gestão processual (art.º 6º, 547º e 541º) – o juiz deve dirigir
ativamente o processo e providenciar pelo andamento célere, promovendo oficiosamente o que for
impertinente e, ouvidas as partes, adotando os mecanismos de simplificação e agilização processual
que garantam a justa composição do litigio em prazo razoável (art.º 193º e 146º).
O juiz tem, no campo da instrução do processo, a iniciativa e às partes incumbe o dever de
colaborar na descoberta da verdade, respondendo ao que lhes for perguntado, submetendo-se às
inspeções necessárias, facultando o que for requisitado e praticando os atos que forem determinados
(art.º 417º/1).
O não uso, pelo juiz, dos poderes instrutórios que a lei lhe confere, pode traduzir numa nulidade
processual, nos termos do 195º/1, porquanto consiste na omissão de um ato que a lei prescreve.
O inquisitório em sentido estrito concretiza-se a partir então do artigo 410º - da instrução.
Máximo esplendor do juiz na prova. O juiz é o destinatário das provas. Poderes conferidos ao juiz.
Desde 2013 também se manifesta na fase do saneamento – se o juiz vê que um artigo está
deficiente o juiz vai convidar as partes a corrigir as deficiências, se sanável – aproveitamento máximo.
Equiparando, o saneador vai tentar salvar ao máximo os atos processuais que já foram
praticados pelas partes.

➔ Manifestações: art.º 411º; art.º 547º, 590º/4, 436º/1, 452º, 487, 494º e 536º/1 do CPC.

6. Princípio da Legalidade do Processo


• Postula que o processo segue a tramitação legalmente estabelecida, que se impõe
às partes e ao tribunal. Juízes julgam segundo o Direito – art.º 203º, 204º CRP + art.º
5º/3 CPC.
• As formas de processo são: comum ou especial; sendo as formas especiais são
“excecionais” e só se aplica às situações assim previstas (no CPC); a forma comum
aplica-se supletivamente e segue a forma única.

7. Princípio da Economia Processual


• Máximo resultado com o mínimo esforço – art.º 130º, que proíbe a prática de atos
inúteis; art.º 131º que determina a simplicidade da forma).
• ECONOMIA DE ATOS E FORMALIDADES – corolário do Princípio da Adequação
Formal. Explica a simplificação das formalidades dos atos praticados no processo,
adequação da tramitação processual às especificidades da causa (art.º 547º, 37º/2
e 3), proibição da prática de atos processuais inúteis (art.º 130º) e redução da forma
dos atos úteis à sua expressão mais simples (art.º 131º/1)

8. Princípio da Estabilidade da Instância


• Previsto no art.º 260º;
• Exceções: intervenção de terceiros (311º e ss.); incidente de habilitação - é um
incidente nominado (351º e ss.); verifica-se em duas situações – na hipótese de
morte ou extinção de alguma das partes, em que o processo para continuar exige
que alguém substitua a pessoa coletiva ou a pessoa em causa (se não houver –
inutilidade superveniente da lide).
9. Principio da Gestão Processual
• (art.º 6º/1 parte final) – o juiz pode, embora ouvindo previamente as partes, adotar
mecanismos de agilização e adaptar a tramitação processual da melhor forma
possível para obter uma solução mais rápida, mas claro, dentro dos limites fixados
pela lei. Assim, de acordo com a especificidade do caso, o juiz pode alterar a
tramitação processual, tornando-a mais complexa ou mais simples, ou simplesmente
diversa. Por exemplo, numa hipótese de responsabilidade contratual, em que o
autor vem dizer que celebrou um contrato com um hotel, através do qual o réu
ficou obrigado a realizar determinada prestação, sendo que até agora o réu não
realizou nenhuma prestação e, com isso, o autor teve enormes prejuízos, logo, quer
ser ressarcido dos prejuízos decorrentes do incumprimento contratual, pode
imaginar-se que o réu vem dizer que, de facto, celebrou um contrato com a outra
parte, mas esse contrato é nulo e, por isso, não tem de cumpri-lo. Teoricamente,
para resolver o caso, as partes iriam discutir a validade ou invalidade do contrato e,
no fim, o juiz iria decidir, podendo decidir que efetivamente o contrato era nulo. Isto
significa que toda a atividade de prova, que poderia ser muito dispendiosa, dos
factos ou dos danos foi inútil. Assim, o juiz poderia dizer que, ainda que a lei não o
previsse, iriam, antes de passar à prova e análise dos danos, discutir a validade do
contrato. Assim, o instrumento de que o juiz se serve para esta gestão processual é,
de acordo com o art.º 547º, a adequação formal.
• NOTA: a adequação formal é particularmente recomendada ao juiz quando a
ação não tem valor superior a metade da alçada da Relação (art.º 597º).

10. Princípio da boa fé


• (art.º 8º) – funciona como um limite à atuação das partes, ao domínio das partes
sobre o processo, que resulta sobre o princípio do dispositivo. Neste âmbito fala-se
na litigância de má fé, que quer dizer que alguma das partes ou as duas atua em
séria violação dos deveres de lealdade e de probidade (ex.: art.º 542º/2).
• Há que ter em conta as seguintes situações:
 O autor demanda sem razão, mas de boa fé e sem culpa – a consequência
é que essa parte vai cair na ação e pagar as custas, mas não existe lugar a
indemnização porque o autor não agiu ilicitamente.
 O autor demanda sem razão, mas de boa fé e com culpa – essa parte vai
cair na ação, paga as custas, mas não há lugar a indemnização, uma vez
que tal só sucede quando haja dolo, exceto nas situações dos art.º 374º/1 e
858º e 866º.
 O autor demanda sem razão, de má fé – vai cair na ação, pagar as custas e
está sujeito a pagar indemnização como litigante de má fé – art.º 542º/1.
• Este princípio implica ainda um dever de verdade, que exige que a parte não deve
alegar factos que sabe que não são verdadeiros e não deve impugnar factos que
sabe que são verdadeiros.
• Há ainda um dever de veracidade subjetiva, em que é imposto à parte que não
minta, mas não é imposto que tenha a certeza do que afirma.
• Pode ainda discutir-se se o dever de verdade exige que a parte reponha a verdade
quanto a uma alegação feita pela contraparte que sabe não corresponder a
verdade. A resposta é que este dever só impõe que não minta em afirmações
próprias e a seu favor.
• Estando de má fé, haverá lugar a uma sanção processual (multa) e a uma
indemnização à contraparte pelos danos e prejuízos que essa litigância de má fé
possa ter causado. Mas atenção, a multa e a indemnização não “compram” a
litigância de má fé: o processo continua.
• A lei também dá relevância à simulação processual, em que o autor e o réu
combinam certas situações entre si . É sancionada pelo disposto no art.º 612º.
• Há autores que defendem que, além da litigância de má fé, é possível dar
importância ao abuso do processo e do direito de ação. MTS não concorda,
afirmando que efetivamente pode existir abuso de processo, por exemplo, na alínea
d) do nº2 do art.º 542º, mas não acrescenta nada à litigância de má fé.
11. Principio da Prevalência da Substância sobre a Forma

O principio da prevalência da substância sobre a forma significa a prevalência da decisão de


mérito sobre questões meramente formais.

Autor esqueceu-se de colocar pormenores essenciais na causa de pedir, pelo que não está
completa e o juiz descarta a ação por esse motivo.

Para evitar decisões de mérito injustas, na opinião do próprio juiz, por um requisito da lei
processual, a lei em 2013 flexibilizou a forma como pode chegar ao juiz factos que ainda relevam
para julgar procedente a ação. Por um lado, evita-se as decisões formais, por falta de factos
essenciais, por outro lado evito as decisões de improcedência por falta de articulação de factos
complementares concretizadores – regra integrada no principio da prevalência da substância
sobre a forma.
Este princípio evita que o juiz, chegando ao fim do processo vá conhecer do preenchimento
dos pressupostos processuais e chegue à conclusão de que o Tribunal não tinha competência, por
exemplo. Não podia ter dito mais cedo porque não tinha instância processual para o fazer, com
este princípio já pode.

Significa que nós deixamos de dar relevância às consequências do não preenchimento de


pressupostos processuais permitindo que o juiz profira decisões de mérito e, por outro lado, atribuímos
ao juiz poderes assistenciais fortes, de modo que ele exorte as partes ao preenchimento da causa de
pedir, ou das exceções da defesa do réu, para que ele consiga chegar à decisão de mérito que é a
mais justa para o litígio. Juiz colabora com as partes para a justa composição do litígio. Palavra justa
está associada aos poderes assistenciais do juiz para que ele consiga ter tudo o que é necessário
para uma decisão boa e seja proferida no processo.

Os pressupostos processuais são como os pressupostos do NJ. A falta dos mesmos destrói o
título. Os pressupostos processuais não são arbitrários (art.º 18.º + 20.º CRP não permitem barreiras
desproporcionadas ao exercício da ação). Se o pressuposto em falta se destina a proteger o réu, o
mesmo não pode ser condenado no pedido, porque falta uma condição para que aquela seja a
melhor decisão de mérito possível.
E se proteger o autor? O réu pode ser condenado no pedido? Claro que sim, visto que o
pressuposto em falta não prejudicou a possibilidade de uma decisão integralmente favorável ao
autor. Esta decisão vai ser sempre aquela que é proferida tipicamente quando faltam pressupostos
processuais, mas que é, contudo, ultrapassada por uma decisão de mérito: absolvição do pedido ou
condenação do pedido – sempre que a decisão de mérito seja a mais favorável possível para a
parte protegida pelo pressuposto em causa.
A tudo isto chamamos prevalência do mérito sobre a forma. A decisão de forma apenas existe
quando é necessária, na medida em que tenho de proteger a parte que é protegida pelo
pressuposto em falta. Se o pressuposto proteger eu avanço então para uma decisão de mérito. Há
uma prevalência do mérito sobre a forma, porque é a decisão de mérito que determina se o autor
tem ou não razão (objetivo do processo).

“Descreva a relevância do princípio da prevalência da substância sobre a forma e identifique as suas


manifestações mais relevantes no direito positivo português.”

A reforma do Código de Processo Civil (CPC), feita em 2013, visou tornar os litígios menos
demorados, de forma a que mais rapidamente se chegue à justa composição do litígio, cumprindo-
se assim a função do Processo de realizar a justiça e de se chegar ao resultado final, ao saber-se se o
autor tem ou não razão, como aponta PAULA COSTA E SILVA.
Nestas mudanças legislativas consagrou-se, nomeadamente no artigo 6º do CPC, um poder-
dever de gestão processual para o juiz, que promove a celeridade do processo tendo poderes
inquisitórios e de direção processual mais reforçados.

Aliado a este reforço de poderes, motivado pela agilização e simplificação do processo civil,
surge no Direito Processual Civil o princípio da prevalência da substância sobre a forma. Este princípio
surge, como refere CARLOS BATALHÃO, numa modelação do processo civil em termos mais flexíveis,
simples e sem formalismos adjetivos, centrando-se “na análise e resolução das questões essenciais
ligadas ao mérito da causa”.

Portanto, o primado da substância sobre a forma implica que, desde 2013, se obedece à ideia
de que todos os impedimentos da decisão de mérito devem ser removidos, se tal for possível. PAULA
COSTA E SILVA entende que atender a este princípio significa, por um lado, não dar relevância às
consequências do não preenchimento de pressupostos processuais – permitindo que o juiz profira
decisões de mérito – e, noutra vertente, atribuir ao juiz poderes assistenciais fortes – de modo a que
ele exorte as partes ao preenchimento da causa de pedir ou da defesa do réu, para que o julgador
consiga chegar à decisão de mérito que é a mais justa para o litígio, aflorando o princípio da
cooperação patente no artigo 7º/1 CPC. O juiz afigura-se como aquele que providencia pela
sanação da falta de pressupostos processuais, como indica LEBRE DE FREITAS, e que colabora com as
partes para a justa composição do litígio.

A construção doutrinária em torno deste princípio processual tem a sua base em inúmeros
preceitos de direito positivo. Como manifestações importantes deste princípio, a título de exemplo,
tomemos as seguintes disposições do CPC: artigo 5º/2, al. b – dá permissão ao Tribunal para ter em
conta factos que as partes não utilizaram, desde que estas sejam ouvidas sobre eles, suprindo a
inércia de uma das partes21; artigo 5º/2, al. c – flexibiliza a forma como podem chegar ao
conhecimento do juiz factos relevantes para considerar procedente a ação; artigo 146º, artigo
193º/3, artigo 590º/3 e 4 – permite que o juiz corrija (ou dê espaço a corrigir) erros nos atos processuais;
artigo 411º – princípio do inquisitório.

É a observância do princípio da prevalência do mérito sobre a forma que, no entender de


ARTUR CORDEIRO, tem justificado a maior atribuição de novos poderes de gestão processual ao juiz,
que o obrigam a uma atuação mais exigente – para identificar omissões e/ou lapsos dos restantes
intervenientes processuais e solicitando a respetiva supressão – e mais responsável pelo fracasso ou
sucesso na justa composição do litigio.

O princípio da prevalência da substância sobre a forma surge, assim, no Direito Processual Civil
português, conjugado com o reforço dos poderes de agilização, direção e adequação da
tramitação processual pelo juiz. Esta conjugação torna evidente que toda a atividade processual,
nos Tribunais portugueses, deve ser orientada para favorecer a obtenção de decisões sobre a
substância do caso e não sobre a forma, possibilitando a supressão de erros pela parte e evitando
irregularidades puramente adjetivas que não permitam a composição do litígio, ou, a justa
composição do litígio, distorcendo-se o conteúdo da sentença de mérito, condicionada por
questões processuais.
Competência

A função jurisdicional está reservada pela CRP aos tribunais (art.º 202º/1 CRP).

Por jurisdição40, ou função jurisdicional, entende-se o poder de julgar que, na organização do


Estado, é atribuído aos tribunais. O termos jurisdição também é usado para referir o poder
genericamente atribuído a cada categoria de tribunais (ou ordem jurisdicional) em face das demais
categorias.

Por competência entende-se a fração/parcela de poder jurisdicional que é atribuída pela lei a
cada tribunal.
No nosso sistema, o poder jurisdicional está repartido pelos vários tribunais: cada tribunal tem o
poder de julgar apenas determinada espécie ou determinado conjunto de litígios, e não todos os
que lhes são submetidos pelas partes. A cada tribunal é atribuída uma parcela do poder jurisdicional
– é a competência abstrata desse tribunal. A competência concreta diz respeito ao pode
reconhecido a um determinado tribunal para julgar certo litigio.41

Regras de competência: são normas que definem os critérios de repartição do poder


jurisdicional e permitem determinar, relativamente a cada litigio, qual o tribunal a quem foi atribuído o
poder de o apreciar. Ou seja, delimitam a fração do poder jurisdicional atribuída a cada tribunal.
A repartição de competências pode tomar como referentes critérios como a matéria, a
hierarquia, o território, o valor da ação…

A distribuição de competências ou do poder jurisdicional pode diversas entidades pode fazer


surgir situações de conflitos.

Exemplos:
• Por aplicação das regras de competência em razão da matéria, apura-se que uma ação
de indemnização por ano causados ou sofridos por navios deve ser intentada no tribunal
marítimo.
• Por aplicação das regras de competência em razão do território, verifica-se que uma ação
de condenação no pagamento de obrigação emergente do contrato deve ser intentada
no tribunal do domicílio do devedor.

Em conformidade com o que dispõe o art.º 109º/1 CPC há conflito de jurisdição quando duas
ou mais autoridades pertencentes a diversas atividades do Estado, ou dois ou mais tribunais,
integrados em ordens jurisdicionais diferentes se arrogam42 – conflito positivo - ou declinam – conflito
negativo - o poder de conhecer da mesma questão. Os conflitos jurisdicionais podem surgir por
exemplo entre o tribunal judicial e o tribunal administrativo.43

Os conflitos podem ainda ser de competência – art.º 109º/2 CPC: surge quando dois ou mais
tribunais da mesma ordem jurisdicional se consideram competentes ou incompetentes para
conhecer da mesma questão.

40 Jurisdição administrativa e fiscal; jurisdição cível…


41 Exemplo: um tribunal de propriedade intelectual é (abstratamente) competente para julgar ações que
versem sobre direitos de autor e outros direitos conexos. O juízo central Cível do Tribunal da Comarca do
Porto é (concretamente) competente para julgar a ação de condenação proposta por A contra B.
42 Consideram-se competentes; invocam que são eles os competentes.
43 Exemplo: uma entidade administrativa e um tribunal consideram-se competentes para conhecer de

uma mesma questão litigiosa; um tribunal cível e u tribunal administrativo consideram-se competentes
para conhecer do mesmo litígio.
As regras para resolver os conflitos de jurisdição e os conflitos de competência constam dos
artigos 110º a 114º CPC.
Os conflitos de jurisdição são resolvidos conforme os casos pelo Supremo Tribunal de Justiça ou
pelo Tribunal dos Conflitos - art.º 110/1 CPC.
Os conflitos de competência são solucionados pelo Presidente do Tribunal de menor categoria
que exerça jurisdição sobre autoridades em conflito – art.º 110/2 CPC.

Modalidades de Competência
• Competência Internacional
• Competência Interna

Sempre que o litígio que é submetido a juízo apresenta elementos de estraneidade44


relativamente à ordem jurídica portuguesa, põe-se, antes de mais, uma questão de competência
internacional dos tribunais portugueses.

Exemplo:

A, português, propõe contra B, também português, mas residente em Espanha, uma ação de
condenação com vista ao cumprimento de uma obrgação emergente de um contrato de
empreitada. Pergunta-se: atento ao facto de B residir em Espanha, serão os tribunais portugueses
competentes para esta ação?

A competência internacional consiste na fração do poder jurisdicional atribuída aos tribunais


portugueses, em face dos tribunais estrangeiros, para julgar questões que estão conexionadas com
ordens jurídicas estrangeiras.

Se qualquer dos seus elementos como sejam, as partes, o pedido, ou a causa de pedir tiverem
somente conexão com uma ordem jurídica o problema não surgirá.

A competência interna corresponde à repartição, entre os diversos tribunais (portugueses), do


poder de julgar - 60º/2 CPC.

A competência fixa-se no momento da propositura da ação, o que significa que o que


interessa é o domicílio do réu na propositura da ação, o domicílio afere-se através da residência atual
do réu, e esta residência atual tem de se provar através da demonstração de uma série de factos
que concretizam o elemento de conexão.
Sendo a competência um pressuposto, se falta um pressuposto há uma exceção dilatória e
consequentemente há absolvição da instância, a possibilidade de concretização/manipulação dos
efeitos do processo não são possíveis quando se fixa a ação no tribunal competente.

Fixa-se sempre no tribunal e não sai daqui ( a Professora Paula Costa e Silva utiliza o exemplo
do cão, ou seja o cão não sai quando se senta daquele local ) – é a competência do tribunal fixado
que vai determinar a análise de outros factos, sendo que são irrelevantes as modificações de facto
que ocorram posteriormente, a não ser nos casos especialmente previstos na lei. E são igualmente

44 PIRES DE LIMA.
irrelevantes as modificações de direito, exceto se for suprimido o órgão a que a causa estava a afeta
ou lhe for atribuída competência de que inicialmente carecia para o conhecimento da causa.

A pergunta que o tribunal deve fazer é: “ sou competente ou incompetente?” – Salvo se o


critério de competência preterido for territorial, o tribunal que declara que é incompetente envia o
processo para o tribunal competente. Há tribunais territorialmente localizados num determinado local
(critério territorial ) depois de verificado este pressuposto , vêm os outros.

Como começamos a determinar a competência? | Há vários critérios para determinar|

1. Elementos de conexão com uma ordem jurídica estrangeira | competência internacional | se


há incompetência, há absolvição da instância.
2. Atender à ordem dos tribunais quanto à matéria, saber se são de jurisdição comum ou se são
de jurisdição administrativa.
3. Dentro da competência interna existem diversos critérios, sendo que o território está
circunscrito a áreas (o Tribunal de Lisboa, por exemplo, não pode julgar todos os casos do país,
a competência organiza-se por critérios políticos também, nomeadamente quanto à
organização judicial dos tribunais da primeira instância).

COMPETÊNCIA INTERNACIONAL:
Estamos perante o âmbito da competência internacional quando determinada
causa/questão está em conexão com várias ordens jurídicas. Estamos perante um conflito
plurilocalizado.

Trata-se de saber se uma determinada questão deve ser resolvida pelos tribunais portugueses
ou pelos tribunais estrangeiros. É necessário verificar qual é a jurisdição competente para apreciar o
litígio. Se a situação não revelar qualquer elemento de conexão com a ordem jurídica estrangeira,
tudo se passa no âmbito da competência interna.

A existência de um conflito plurilocalizado obriga a que cada ordenamento jurídico disponha


de regras destinadas a definir os critérios segundo os quias os seus tribunais são competentes para
resolver esses litígios: sãos as normas sobre a competência internacional.
As regras sobre a competência internacional permitem apenas determinar se os tribunais
portugueses são, no seu conjunto, competentes para decidir o litigio; mas já não definem qual o
tribunal concretamente competentes, essa é a função das regras da competência interna.

Uma vez que cada Estado define unilateralmente os critérios de distribuição do poder
jurisdicional (competência interna), é inevitável que as diferentes ordens jurídicas possam considerar
os seus tribunais simultaneamente competentes para o conhecimento do mesmo litigio. Nessa
hipotese, o autor poderá escolher o tribunal (a jurisdição) no qual irá propor a ação, de acordo com
os seus interesses, designadamente em função dos custos inerentes, do conteúdo do Direito material
aplicável ou da maior ou menor facilidade de reconhecimento de uma decisão. Esta possibilidade
de escolha do foro é praticamente ineliminável, embora possa ser combatida através da
harmonização ou mesmo uniformização das regras sobre a competência internacional (por via
convencional ou, na UE, por via do Direito da União Europeia).

A competência internacional dos tribunais portugueses é, assim a de situações que, apesar de


possuírem, na perspetiva do ordenamento português, uma relação com ordens jurídicas estrangeiras,
apresentam igualmente uma conexão relevante com a ordem jurídica portuguesa.

A diferença entre a competência interna e a internacional consiste no seguinte: a


competência interna respeita às situações que na perspetiva da ordem jurídica portuguesa, não
possuem qualquer conexão relevante com outras ordens jurídicas; a competência internacional
refere-se aos casos que apresentam uma conexão com outras ordens jurídicas. A competência
internacional dos tribunais portugueses é, assim, a competência dos tribunais da ordem jurídica
portuguesa para conhecer de situações que, apesar de possuírem, na perspetiva do ordenamento
português, uma relação com ordens jurídicas estrangeiras, apresentam igualmente uma conexão
relevante com a ordem jurídica portuguesa.

Note-se que no caso concreto pode implicar somente o funcionamento das regras da
competência interna, mas a aplicação das regras da competência internacional nunca dispensa a
aferição do tribunal internamente competente. Suponha-se que por exemplo que dois portugueses
domiciliados em território português se pretendem divorciar em Portugal; a situação contende
apenas com a competência interna dos tribunais portugueses, pelo que só têm de ser aplicadas as
correspondentes regras de competência relativas à ação de divórcio. Em contrapartida, se forem
dois espanhóis, domiciliados em Espanha, que se desejam divorciar em Portugal, isso exige,
primeiramente, a verificação da competência internacional dos tribunais portugueses para a ação
de divórcio e depois a análise do tribunal competente na ordem interna para essa mesma ação, ou
seja, requerer a conjugação da aferição da competência internacional com a aplicação das regras
sobre competência interna.

Cada país pode fixar os elementos de conexão que considera relevantes para se atribuir a
competência para julgar determinados litígios:
Conforme dispõe o art.º 59º CPC sem prejuízo do que se encontre estabelecido em
regulamentos europeus ou outros instrumentos internacionais, os tribunais são competentes
internacionalmente quando se verifique algum dos elementos de conexão referidos no art.º 62º e 63º
CPC, ou quando as partes lhes tenham atribuído competência nos termos do art.º 94º CPC. No direito
interno português, a competência internacional dos tribunais portugueses está regulada nestes
artigos.
Sendo assim, os elementos de conexão da ação com a ordem jurídica de diferentes países
deve atender-se para atribuir competência internacional aos tribunais portugueses está prevista nos
art.º 62º e 63º CPC.

Conforme a estipulação do art.º 59º, vimos então que a competência internacional encontra-
se igualmente estabelecida em regulamentos europeus os quais prevalecem sobre as normas de
direito interno nos termos do n.º 4 do artigo 8.º da CRP.
Mais, da interpretação do art.º 63º, retira-se que as regras de competência internacional de
direito interno só se aplicam quando não devam prevalecer as mencionadas regras de direito
europeu ou de direito internacional.

Quando algum destes instrumentos seja aplicável, é pelas regras nele estabelecidas que deve
aferir-se a competência dos tribunais portugueses. Se for aplicável algum desses instrumentos e dele
não resultar a competência dos tribunais portugueses, também não poderá tal competência resultar
da aplicação das regras internas.

Do artigo acima referido – que trata da competência internacional a nível do direito interno – pode
retirar-se desde logo que são várias as fontes de competência internacional. Cabe, desde logo, referir
as fontes europeias, presentes essencialmente sob a forma de regulamentos:
• Regulamento 1215/2012
• Regulamento 2201/2003
• Regulamento 4/2009

Ao nível da competência internacional, podemos falar em competência direta – se há uma


regra que expressamente diz “o tribunal competente é…” – ou em competência indireta – se os
tribunais de um Estado reconhecem competência aos tribunais de outro Estado. Mais, podemos
definir competência concorrente – se há vários tribunais potencialmente competentes – ou
competência exclusiva – se há apenas um tribunal internacionalmente competente. Se estamos
perante uma situação de competência concorrente, então terá de ser encontrada a solução mais
favorável. Podemos, ainda, distinguir entre competência legal, se resultar da lei, ou competência
convencional, se resultar de pactos de competência.
Regulamento (UE) nº 1215/2012:
Em conformidade com as regras gerais do Direito da União Europeia, o Regulamento e as
modificações que nele vierem a ser introduzidas vinculam diretamente os seus destinatários, não
carecendo de qualquer ato de receção para a produção dos seus efeitos no território dos Estados da
União.

➔ Se por ventura houver conexão com um a ordem jurídica estrangeira começa-se por analisar
a competência internacional, sendo que uma ação é regulada por uma pluralidade de
fontes, para a resolução de um caso prático teremos de ir primeiro ao regulamento da
competência internacional.
➔ O CPC só se aplica subsidariamente – quando não existe instrumento internacional e sobre ele
prevaleça.
➔ Esses Estados para efeito do exercício da jurisdição são estrangeiros ou não sob o ponto de
vista de Portugal? Esses Estados que integram a União de Estados são estados estrangeiros ou
não relativamente a Portugal. Para responder a esta questão temos a classificação entre a
competência primária e a secundária, sendo que a competência primária (intenta a ação) e
a secundária ( decide se aplica a sentença estrangeira ). - Tem de ser célere para produzir
efeitos com o Estado do destino. A nossa integração num espaço de cooperação não apaga
as soberanias, mesmo com a existência da EU, não apaga as soberanias, portanto as decisões
proferidas por tribunais estrangeiros, são mesmo estrageiros.
➔ Na regulação da competência internacional o que se pergunta é: a regra positiva esteja ela
onde estiver pode ser derrogada pelas partes, as partes podem afastar por convenção, por
contrato a competência que resulta das regras? Se as partes puderem afastar as regras não é
a lei, é a vontade das partes. Se as partes não puderem afastar as regras a fonte primária é a
lei, o princípio geral é que que as regras do direito positivo são suscetíveis de derrogação – é o
princípio geral, mas há exceções:
1. Sempre que há uma parte mais frágil do contrato, a lei protege a parte mais fraca –
vamos encontrar zonas que são excluídas da Auto violação, da parte mais frágil – e
ainda exceções que tenham razões de ser mais fortes. Os elementos de conexão
existindo uma certa margem de proteção – conferem uma proteção de valores e
deste modo não há arbítrio nos elementos de conexão.

Para se saber se o Regulamento 1215/2012 é aplicável ao caso concreto, é necessário analisar os


seus âmbitos objetivo/material, subjetivo/espacial e temporal. Se algum destes elementos falhar é
que passamos para o CPC.

Âmbito de aplicação do Regulamento:

➔ Âmbito de aplicação temporal

Aplicam-se os artigos 66º a 81º do Regulamento:

Artigo 81º
"O presente regulamento (...). Aplica-se a partir de 10 de janeiro de 2015, com exceção dos artigos
75.º e 76.º , que se aplicam a partir de 10 de janeiro de 2014.
O presente regulamento é obrigatório em todos os seus elementos e diretamente aplicável nos
Estados- Membros nos termos dos Tratados."

Se o caso não fizer menção à data, presumem que o âmbito temporal está preenchido.

➔ Âmbito de aplicação material/objetivo

O Regulamento 1215/2012 é aplicável em matéria civil e comercial independentemente da


natureza da jurisdição, isto é, do tribunal que é competente na ordem interna - art.º 1/1 - que pode
ser civil, comercial , laboral ou mesmo criminal. – A matéria civil e comercial não deve ser
interpretada segundo o direito de qualquer Estado Membro, mas de acordo com os objetivos e o
sistema do Regulamento e com a observância dos princípios gerais que decorrem do conjunto dos
sistemas de Direito nacionais. (Delimitação positiva).

Este regulamento não abrange (delimitação negativa):


 Matérias fiscais, aduaneiras e administrativas;
 Estado e capacidade de pessoas singulares;
 Regimes matrimoniais, testamentos e sucessões
 Falências, concordatas e processos análogos;
 Segurança Social;
 Arbitragem;

➔ Âmbito de aplicação subjetivo/espacial

O regulamento aplica-se sempre que o demandado tenha domicílio num dos Estados
membros (4º e 6º/1). Existem, porém, regras de competência exclusiva que são aplicáveis qualquer
que seja o domicílio do réu (artigo 24º), bem como outras disposições – caso não tenha domicílio num
dos estados membros, o regulamento apenas será aplicável nos casos expressamente previstos
(18º/1; 21º/2; 24º e 25º).

Regra geral do regulamento – art.º 4º: se o réu tiver domicílio num estado membro, deve ser
demandado nos tribunais desse Estado. Os tribunais desse Estado são, em principio, competentes
para a ação, não sendo relevante a nacionalidade do réu.

Para efeitos da aplicação do regulamento, é irrelevante a nacionalidade do réu, apenas revelando o


local do domicílio.

Exemplo: se o réu tiver nacionalidade canadiana, mas residir em Itália, o regulamento aplica-se,
porque a nacionalidade é irrelevante.

Ratio do art.º4º: “visa-se tutelar o interesse do réu, eximindo-o (desobrigando-o) ao ónus de superar as
dificuldades práticas inerentes à condução da lide em país estrangeiro”

Desvios à regra geral: estabelecem que as pessoas domiciliadas num Estado-Membro só podem ser
demandadas perante tribunais de OUTRO Estado-Membro quando se verifique:
• Um critério especial de competência (artigo 5.º);
• Uma competência legal exclusiva (artigo 24.º);
• Uma competência convencional (artigo 25.º);

Regras especiais: (concorrem/podem prevalecer sobre a regra geral – que é o critério do domicílio
do réu): Artigo 5.º do Regulamento

O regulamento ADMITE, em determinadas situações, que o réu domiciliado num Estado-


membro seja demandado NOUTRO Estado-membro. Para o efeito, será necessário que aos tribunais
deste segundo Estado seja reconhecida competência por força dos critérios especiais (art.º 5º).

O artigo 5.º do Regulamento refere que as pessoas domiciliadas num Estado-Membro só


podem ser demandadas nos tribunais de outro Estado-Membro nos termos do art.º 7.º e ss. do
Regulamento.

As regras especiais atribuem competência a tribunais de Estados diversos do Estado de


residência do réu, mas que não excluem a normal competência dos tribunais deste último. Ou seja,
os critérios que constam no artigo 7.º concorrem/ou são alternativos ao critério do domicílio do réu.
Significa isto que para uma mesma ação, existem vários tribunais internacionalmente competentes. O
autor pode escolher onde intentar a ação -ou no tribunal do Estado do domicílio ou no Estado para
que aponta o critério especial;
Nos termos do art.º 7º, entre as competências especiais que o demandante pode utilizar em
alternativa à competência do tribunal do Estado de domicilio do demandado salientam-se:

• Se o litígio tem por objeto uma relação contratual, o artigo 7.º, n.º1, al. a) estabelece que o
réu pode ser demandado perante o tribunal do lugar onde foi ou deva ser cumprida a
obrigação em causa. Paralelamente o artigo 7.º, n.º1, al. b) do Regulamento, preceitua
que, o lugar do cumprimento da obrigação em questão será:
a) No caso de venda de bens (móveis): o lugar no Estado-Membro onde os bens foram
ou devam ser entregues, ou onde a prestação deva ser paga;
b) No caso da prestação de serviços: o lugar no Estado-membro onde, nos termos do
contrato, os serviços foram ou devam ser prestados. Ex. Contrato entre A e B, onde
A se obriga a pintar a casa de B situada em Lisboa (contrato de prestação de
serviços), se A não cumprir os tribunais competentes à luz do artigo 7.º 1 alíneas a) e
b) serão os tribunais portugueses, porque o serviço (pintura da casa) devia ter sido
prestada em Lisboa, onde se situa a casa de B.

• Em matéria extracontratual – a competência é do tribunal do lugar do facto danoso (7º/2);

O critério de competência aplica-se não só aos casos em que ocorreu um facto danoso, mas
também naqueles em que o facto pode ocorrer.

Ratio: este critério especial de competência é justificado pela proximidade do foro do lugar onde
ocorreu o facto danoso relativamente às provas, e visa permitir ao requerente (autor) a fácil
identificação do tribunal a que se pode dirigir e ao requerido (réu) prever razoavelmente aquele
perante o qual pode ser demandado.

MTS em relação ao artigo 7.º: refere que tem uma dupla-função:


a) Competência internacional: Fixa a competência internacional dos tribunais (jurisdição
competente); (2.º Passo);
b) Competência territorial: Dentro da jurisdição competente indica a competência territorial
(prevista nos artigos 70 e ss. do CPC) - quando o legislador se refere “ao lugar” está a
determinar a competência internacional e territorial porque está a ir ao lugar especifico
dentro do Estado.

Regras Excecionais que prevalecem acima de tudo: Artigo 24.º e 25.º do Regulamento

 Competência exclusiva – regras que valem independentemente de qual seja o domicílio do


réu (ou seja, mesmo que o réu não esteja domiciliado num Estado membro). É tratada no art.º
24º, que constitui exceção perante o art.º 6º/1.

“essa competência, porque é exclusiva, prevalece sobre a competência determinada pelos


critérios gerais e especiais (cf. artigo 4.º e 5.º do Regulamento), e impede a celebração de um
pacto de jurisdição (2.ª parte, n.º 4, do artigo 25.º do Regulamento).”

Perante determinadas matérias há Tribunais exclusivos para julgar as mesmas, independentemente


do domicilio do réu.

As principais situações em que se verifica aquela competência exclusiva são as seguintes:

1. Matéria de direitos reais sobre imóveis e arrendamentos de imóveis;


2. Matéria de validade da constituição, nulidade ou dissolução de sociedades ou outras
pessoas coletivas (não havendo aqui lugar à aplicação do art.º 63º);
3. Matéria de validade de inscrições e registos públicos;
4. Matéria de registo ou validade de patentes, marcas, desenhos ou modelos;
5. Matéria de execução de decisões – o tribunal onde estiver pendente a ação é
exclusivamente competente para a executar, não estando com isto o regulamento a
determinar o tribunal competente.
Caso se intente uma ação noutro tribunal que não o exclusivamente competente à luz do
artigo 24.º do Regulamento, o art.º 27º do Regulamento indica-nos a consequência → o tribunal deve
declarar-se oficiosamente incompetente.

Se não o fizer, verifica-se um fundamento de recusa de reconhecimento ou execução, nos


outros Estados Membros, da decisão que proferir (artigo 45.º, n.º1, alínea e), ii) e artigo 46.º do
Regulamento);

NOTA: a competência exclusiva dos tribunais de um Estado-Membro não depende de o réu estar
domiciliado no território de um Estado-Membro.

Ratio da norma: (segundo LIMA PINHEIRO): os critérios de competência exclusiva coincidem


tendencialmente com os elementos de conexão relevantes para a aplicação dos regimes
imperativos desse Estado-Membro;

Pactos atributivos de jurisdição (competência convencional) – art.º 25º e 26º – reconhecem-se às


partes, independentemente do seu domicilio, a possibilidade de livremente atribuírem ao tribunais de
um Estado a competência para dirimirem os litígios que tenham surgido ou possam resultar de uma
determinada relação jurídica (art.º 25º/1) – as partes escolhem o tribunal que irá resolver o litígio. A
convenção deve determinar o tribunal ou os tribunais competentes para a aplicação da causa - art.º
25/1/1ª parte do Regulamento.

Este pactos têm, um efeito derrogatório e, por sua vez, um efeito atributivo, visto que atribuem
competência a determinado tribunal, competência essa que será exclusiva, a menos que as partes
tenham convencionado o contrário, tendo o tribunal designado no pacto prioridade na apreciação
da validade desse acordo. Como consequência desta competência exclusiva do tribunal escolhido,
nenhum outro tribunal permanece competente para a apreciação da ação – o tribunal no qual a
causa foi proposta em violação do pacto de jurisdição deve declarar-se oficiosamente
incompetente – i) quando o demandado for domiciliado no território de um Estado – Membro e ii)
não comparecer em juízo. O controlo da competência é feito com base nos artigos 27º e 28º.

Sendo os pactos de jurisdição eles próprios negócios, a sua validade tem de ser avaliada. Quanto às
exigências formais:

 O pacto de jurisdição é um contrato celebrado entre as partes, pelo que deve


respeitar todos os requisitos exigidos quanto à formação do contrato. O pacto de
jurisdição exige, tal como um contrato substantivo, uma proposta e uma aceitação.

 Forma escrita - alínea a) do n.º2;


• “Não basta uma aceitação ou adesão tácita; exige-se certeza e clareza no
estabelecimento do acordo de vontades entre as partes, acordo que deve ser
escrito, ou sendo verbal, a sua confirmação por escrito – a existência de um
documento escrito (de teor constitutivo ou confirmativo), nos precisos termos
constantes da alínea a) do nº 1 do art.º 25º, assume a natureza de formalidade
ad substantiam.”

“Compreender-se-á que, facultando o Regulamento a derrogação dos critérios


gerais aí enunciados em matéria de competência e, em homenagem ao
princípio da autonomia da vontade das partes, concedendo a estas o primado
na escolha da jurisdição (com exclusão dos casos imperativamente regulados
nos artigos 24º e 27º), em função da celebração entre elas de um pacto,
autonomizando-o e reforçando a sua proteção jurídica, nos termos dos artigos
25º, nºs. 1 e 5 e 31º, nºs. 2 e 3, tal pacto, pela relevância que lhe é assinalada,
deva ser clara e inequivocamente comprovado.”45

45(Cfr. Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 13-nov.-2018 (Relator CABRAL TAVARES), Processo n.º
6919/16.0T8PRT.G1.S1)
 De acordo com os usos que as partes tenham estabelecido entre si;
 No comércio internacional, de acordo com os usos que as partes conheçam ou devam
conhecer e que, em tal comércio, sejam amplamente conhecidos e regularmente
observados.

Requisitos materiais do pacto (art.º 25º/4):

Os pactos de jurisdição do art.º 25º do Regulamento são válidos nas seguintes condições:
• Esses pactos não podem derrogar nenhuma das competências exclusivas previstas no
art.º 24º; por exemplo, não se pode fazer um pacto de jurisdição em matéria de direitos
reais.
• Esses pactos não podem contrariar os requisitos mais exigentes que valem para os
pactos de jurisdição em matéria de seguros, contratos celebrados por consumidores e
contrato individual de trabalho – artigos 15º; 17º; 19º e 23º do Regulamento.

Artigo 25.º, n.º 5 do Regulamento: A nulidade do contrato não impede o funcionamento da cláusula
atributiva de competência. Cf. Acórdão do Tribunal de Justiça de 03/07/1997 - Benincasa vs. Dentalkit
– como a invalidade do negócio não implica a invalidade do pacto é no tribunal designado que
deve ser apreciada a invalidade daquele negócio.

Pacto tácito – art.º 26º do Regulamento:

Segundo o Prof. Miguel Teixeira de Sousa e a Prof. Paula Costa e Silva não se admite que este Pacto
seja denominado como tácito.
a) Se a parte comparecer em juízo e não arguir a incompetência do tribunal esse torna-se
competente para conhecer do litígio, exceto se houver outro tribunal com uma
competência exclusiva para apreciar a causa;
b) O regime vale igualmente quando a incompetência do tribunal resultar de um pacto
de jurisdição;
c) O referido efeito de atribuição de competência não se produz se o réu comparecer
(comparecer, significa no ordenamento jurídico português contestar) em juízo para
arguir a incompetência do tribunal ou se houver um outro tribunal exclusivamente
competente.

Caso Prático

Imagine-se que António e Giovanni celebram um contrato de compra e venda sobre o objeto
X em Berlim. Nesse mesmo contrato as partes acordaram que “se existir um litígio derivado do
incumprimento do contrato, os tribunais portugueses seriam os internacionalmente competentes”
(pacto de jurisdição). Passados dois meses, António não entrega o objeto X a Giovanni.
Giovanni intenta uma ação num tribunal alemão, e António apresenta a sua contestação sem
nunca se pronunciar sobre a incompetência internacional desse tribunal alemão.

Isto significa que António compareceu (à luz do ordenamento jurídico português significa que
contestou), e que não arguiu a incompetência do tribunal quando o poderia ter feito, o que significa
que este consente na atribuição da competência internacional aos tribunais alemães, daí dizer-se
que estamos perante um pacto de jurisdição tácito.
Quando o réu não tem domicílio num Estado-Membro (artigo 6.º do Regulamento)

Se o réu não for domiciliado em Estado-membro, aplica-se o disposto no artigo 6.º/1 do


Regulamento " Se o requerido não tiver domicílio num Estado-Membro (no caso de ter domicílio no
Brasil, por exemplo) a competência dos tribunais de cada Estado-Membro é regulada em princípio
pela lei interna desse Estado sem prejuízo da aplicação das regras relativas à competência exclusiva
prevista no art.º 24º do Regulamento e aos pactos de jurisdição prevista regulação no art.º 25º do
Regulamento. Aquela competência exclusiva é independente do domicilio do demandado e, por
isso, existe mesmo que este não seja domiciliado num Estado-membro: é o que resulta do art.º 6º.

➔ MTS: significa que a competência é em princípio regulada pela lei interna do Estado do foro
(ou seja, onde o autor intentou a ação);

➔ Nota (MTS): contra um Réu “demandado com domicílio num Estado terceiro podem ser
invocadas quaisquer regras

➔ de competência vigentes na ordem interna do Estado do foro, mesmo que elas sejam
consideradas exorbitantes e não possam ser invocadas contra demandados com domicílio
num dos Estados-Membros (artigo 6.º, n.º 2 do Regulamento).

Assim,

i. Se não se estiver perante matéria de consumo (artigo 18.º/1 Regulamento), nem de contratos
de trabalho (artigo 21.º, n.º 2 Regulamento );
ii. Se não existir matéria de competência exclusiva (artigo 24.º do Regulamento);
iii. Se não existir a celebração de um pacto de jurisdição (artigo 25.º do Regulamento).

ENTÃO O REGULAMENTO NÃO SE APLICA.

Neste sentido, se o Regulamento não se aplica, se a ação que tem por objeto um conflito
plurilocalizado e se é intentada nos tribunais portugueses, então é necessário averiguar se os Tribunais
Portugueses são internacionalmente competentes:

i. A competência internacional dos tribunais portugueses é regulada pelo disposto nos artigos
59.º, 62.º, 63.º, e 94.º do CPC.
ii. MTS: assim, para que um tribunal português seja competente para apreciar um litígio, é
necessário que entre o litígio e a ordem jurídica portuguesa haja um elemento de conexão
considerado pela lei suficientemente relevante para justifica o julgamento desse litígio.

Esses elementos de conexão aferem-se segundo 4 critérios (infra desenvolvidos):

1. Critério da coincidência (artigo 62.º al. a) – regras da competência territorial (artigos


70.º e ss. do CPC – atenção ao artigo 71.º do CPC (foro obrigacional – artigos 772-776.º
do Código Civil) e artigo 63.º - competência exclusiva);
2. Critério da causalidade (artigo 62.º, al. b));
3. Critério da necessidade (artigo 62.º, al. c));
4. Critério da vontade das partes (artigo 94.º);

MTS: “estes critérios são alternativos: basta a verificação de um deles para os tribunais portugueses
serem internacionalmente competentes”.
Se não existir elemento de conexão os tribunais portugueses não são competentes LOGO há uma
exceção dilatória nos termos do artigo 96.º, 99.º, 576.º, 577/a) do CPC que se for procedente dá azo à
absolvição do réu da instância nos termos do artigo 278º/1/al. a) do CPC.

Também neste regulamento são tratadas as medidas provisórias e cautelares (art.º 20º). O
regulamento não impede a tomada de medidas provisórias previstas em determinado Estado-
Membro, mesmo que esse seja, à partida, incompetente. Estas medidas apenas podem ser adotadas
relativamente a pessoas ou bens presentes num determinado Estado-Membro, só valendo no Estado
em que a medida é instaurada. As mesmas deixarão de ter efeito quando o tribunal competente
para apreciar do mérito da causa tiver tomado as medidas que considere adequadas.

O Regulamento estabelece também regras sobre a litispendência internacional (art.º 19 ou 29º


?). “(…) quando ações com a mesma causa de pedir e entre as mesmas partes forem submetidas à
apreciação de tribunais de diferentes Estados membros, qualquer tribunal que não seja o tribunal
demandado em primeiro lugar deve suspender oficiosamente a instância até que seja estabelecida
a competência do tribunal demandado em primeiro lugar”. Diz o Professor Miguel Teixeira de Sousa
que o nº 1 deste preceito esconde situações de “falsa ou quase litispendência” (p.e. uma ação de
divórcio proposta por um cônjuge e uma ação de separação proposta pelo outro em tribunal
distinto).

Em Suma: Quadro Geral

Critério geral do domicílio do réu - art.º 4º do Regulamento

Critério exclusivo | competência exclusiva - art.º 24º do Regulamento

Critério especial | Competências especiais - art.º 5/1 e art.º 7º e ss.

Convenção das partes | Pacto de Jurisdição | art.º 25º do Regulamento - vale como exclusiva.
Regras de Competência Internacional do Direito Interno:

Os critérios de atribuição de competência internacional aos tribunais portugueses


estabelecidos na lei interna constam dos artigos 62º; 63º e 94º CPC.

No artigo 62º CPC estabelecem-se três critérios: o critério da coincidência (A); o critério da
causalidade (B) e o critério da necessidade.

A. Princípio da Coincidência

É atribuída competência internacional aos tribunais portugueses, quando a ação deva ser
proposta em Portugal, segundo as regras da competência internacional estabelecidas em lei
portuguesa. As regras da competência internacional constam do art.º 70º ss. CPC. Verifica-se,
portanto, uma coincidência entre a competência internacional e a competência interna territorial.
Quando de acordo com as regras da competência territorial previstas na ordem interna, a
ação deva ser instaurada em Portugal, os tribunais portugueses terão competência internacional
para julgar essa ação, mesmo que existam elementos de conexão com ordens jurídicas estrangeiras.
Assim conforme a alínea a) do art.º 62º CPC conjugado com o que dispõe do art.º 70º CPC, as
ações relativas a direitos reiais ou pessoais de gozo sobre imóveis devem ser propostas no tribunal da
situação dos bens. Se os bens estão situados em Portugal, os tribunais portugueses terão
competência, não só interna, como internacional, por aplicação do referido princípio da
coincidência.

B. Princípio da Causalidade

Os tribunais portugueses são internacionalmente competentes para a propositura da ação


quando tiver sido praticado em Portugal o facto que serve de causa de pedir ou algum dos factos
que a integram. É fácil idealizar um exemplo: basta que imaginemos uma ação de divórcio de um
casal italiano que vive em Portugal, sabendo que nas ações constitutivas a causa de pedir é o facto
concreto que se invoca para obter o efeito pretendido - art.º 581/4º CPC - os tribunais portugueses
são internacionalmente competentes para a ação de divórcio proposta por um dos cônjuges com
fundamento na prática de adultério cometido pelo outro em território português.

Ou outro exemplo: Os tribunais portugueses são internacionalmente competentes quando,


apesar de o facto ilícito ter ocorrido no estrangeiro, partes dos danos se produziram em Portugal.

C. Princípio da necessidade

O critério da necessidade abarca não só a impossibilidade jurídica, por inexistência de tribunal


competente para dirimir o litígio em face das regras de competência internacional das diversas
ordens jurídicas com as quais ele apresenta uma conexão relevante, como também a
impossibilidade prática, derivada de factos anómalos impeditivos dos funcionamento da jurisdição
competente.

Exige-se, porém, que entre o objeto do litígio e a ordem jurídica portuguesa haja um elemento
ponderoso de conexão, pessoal ou real. Segundo o princípio da necessidade, a competência é
atribuída nos tribunais portugueses quando o direito invocado pelo autor só possa tornar-se efetivo
por meio de ação proposta em Portugal. Evidencia-se, assim, a necessidade de propor a ação nos
tribunais portugueses por ser o único modo de efetivar o direito do autor.

Além disso é atribuída competência internacional aos tribunais portugueses não só nos casos
de necessidade, mas também nos casos de dificuldade. Assim, a ação deve ser proposta os tribunais
portugueses quando a propositura da ação no estrangeiro representaria para o autor dificuldade
apreciável.

Como exemplo de um caso de dificuldade apreciável na propositura da ação no estrangeiro,


podemos idealizar uma situação em que existisse um conflito armado, ou de corte de relações
diplomáticas com o país cujos tribunais seriam competentes. Assim, os tribunais portugueses
passariam a ser competentes para a propositura da ação, devido a essa dificuldade que o autor de
deparou. Poderá dizer-se que estamos perante na presença de uma atitude de último recurso.
Pretende-se, por esta via, prevenir a denegação de justiça que resultaria da circunstância de não ser
possível ou ser muito difícil propor uma ação no estrangeiro.

No artigo 63º CPC estabelece-se o critério da exclusividade.


Neste artigo é enumerado um conjunto de matérias relativamente às quais os tribunais
portugueses são exclusivamente competentes, em termos tais que não reconhecidas em Portugal
decisões que sobre essas matérias sejam proferidas por tribunais estrangeiros (980º/c)).
Este artigo tem de ser lido em conjugação com o artigo 24º do Regulamento (UE) nº1215/2012.
Assim, as regras do artigo 63º que determinam a competência exclusiva dos tribunais portugueses só
terão aplicação nos casos que não forem subsumíveis à norma do artigo 24º do referido
Regulamento.

Competência Internacional Convencional: Pactos Atributivos e Pactos Privativos de Jurisdição no


CPC:

Tal como acontece no Regulamento (UE) nº1215/2012, também o CPC permite, em


determinados termos, que as partes acordem sobre a matéria da competência internacional dos
tribunais portugueses, seja atribuindo-lhes competência, seja afastando a competência que lhe está
reconhecida. Trata dessa matéria o artigo 94º CPC.
Por força do art.º 59º CPC os tribunais portugueses são internacionalmente competentes não só
quando se verifica algum dos elementos de conexão referidos nos art.º 62º e 63º CPC, mas também
quando as partes lhes tenham atribuído competência nos termos do art.º 94º CPC.
Quer dizer as partes podem convencionar qual a jurisdição competente para dirimir
determinados litígios, nos termos do disposto no art.º 94º CPC.

Ao analisar a questão da competência internacional deveremos previamente verificar se


existe algum pacto privativo ou atributivo de competência internacional aos tribunais portugueses.

Art.º 94º/1 CPC: as partes podem convencionar qual a jurisdição competente para dirimir um litígio
determinado, ou litígios eventualmente decorrentes de certa relação jurídica – contando que a
relação controvertida tenha conexão com mais de uma ordem jurídica.

O pacto negociado pelas partes pode ser atributivo ou privativo da competência internacional dos
tribunais portugueses.

a) Pacto Atributivo: quando concede competência a um tribunal ou a vários tribunais


portugueses.
b) Pacto Privativo: Quando retira competência a um ou a vários tribunais portugueses e atribui
exclusivamente a um ou vários tribunais estrangeiros.

Por força do art.º 94/2 CPC a designação convencional pode envolver a atribuição de
competência exclusiva ou meramente alternativa com os tribunais portugueses – quando esta exista,
presumindo-se que seja exclusiva em caso de dúvida.

O acordo das partes denomina-se pacto de jurisdição e não de competência porque o que
as partes convencionaram diz respeito à jurisdição, isto é, à atribuição da competência dos tribunais,
do nosso ou de outro país, considerados no seu conjunto e não à repartição da competência entre
os tribunais portugueses.

Pode acontecer, porém, que as partes cheguem a identificar um dos tribunais portugueses –
assim se as partes atribuírem por exemplo a competência ao tribunal de Lisboa, estão a celebrar um
pacto de jurisdição.
O pacto de jurisdição só é válido quando se verificam cumulativamente os requisitos do art.º
94/3 CPC.

➔ 94º/3/a) CPC - determina que o pacto só pode dizer respeito a um litígio sobre direitos
disponíveis;
➔ 94º/3/b) CPC - outro dos requisitos dispõe que a eleição do foro só é válida se for aceite pela
lei do tribunal designado;
➔ 94º/3/c) CPC - O pacto de jurisdição só é válido se for justificado por um interesse sério de
ambas as partes ou de uma delas, desde que não envolva inconveniente para a outra;
➔ 94º/3/d) - Proíbe o pacto de jurisdição que recaia sobre matéria da exclusiva competência
dos tribunais portugueses - o pacto não pode privar os tribunais portugueses da competência
que a lei lhe atribuiu de modo exclusivo - art.º 63º CPC
➔ 94º/3/e) CPC - que o pacto que resulte de acordo escrito e quanto à menção da jurisdição
competente deve ser expressa.

• Art.º 94º/3/a) CPC - Direitos Indisponíveis – são os que estão subtraídos à livre
disponibilidade das partes como por exemplo os relativos ao estado das pessoas.
Casamento e filiação. Um direito deve considerar-se indisponível quando o seu titular
não puder privar-se dele por simples ato de vontade.

A “contrario sensu” os direitos disponíveis são aqueles que o titular pode livremente dispor, se o litigio
versar sobre direitos indisponíveis não será válido o pacto de jurisdição.

• Art.º 94º/3/c) CPC - Com este requisito pretende-se evitar que seja escolhido um tribunal
com a qual a causa e as partes não tenham qualquer conexão relevante.

Assim o elemento de conexão entre o tribunal designado e a causa deve ser de ordem pessoal
(domicílio ou nacionalidade) ou real ( situação dos bens) - art.º 62/a) + 41/2 CPC.

Entende-se que não devem ser consideradas relevantes as convenções que objetivamente
correspondiam a manifestações de oportunismo, capricho ou mera comodidade.
COMPETÊNCIA INTERNA:
Como vimos, a competência interna corresponde à repartição, entre os diversos tribunais
(portugueses), do poder de julgar - 60º/2 CPC. Estas subdivide-se, conforme resulta do artigo
anteriormente mencionado, em:

(a) Competência em razão da matéria;


(b) Competência em razão do valor da causa;
(c) Competência em razão da hierarquia judiciária;
(d) Competência em razão do território.

A questão da competência coloca-se ao autor quando pensa em instaurar a ação. A


competência fixa-se no momento em que a ação se propõe (38º/1 LOSJ e 259º CPC) – momento da
receção da petição inicial pela secretaria – salvo ocorrendo posteriormente modificações de facto
previstas na lei – 260º e ss. CPC. O autor terá de saber onde deve propor a ação, ou seja, determinar
o tribunal competente para proferir a respetiva decisão. Para isso, terá de proceder a uma análise
dos critérios que presidem à divisão do poder jurisdicional.

Depois de apurada a competência internacional dos tribunais portugueses, importa, no plano


interno, determinar o tribunal competente. A competência dos tribunais judiciais, no âmbito da
jurisdição civil, é regulada conjuntamente pelo estabelecido nas Leis de Organização Judiciária,
pelas disposições deste Código ( art.º 60º CPC ) e ainda pelos mapas do ROFTJ.

Nos termos do art.º 60/2 CPC, a jurisdição reparte-se, na ordem interna, pelos diferentes tribunais
segundo a matéria, valor da causa, a hierarquia judiciária e o território. No mesmo sentido dispõe o
art.º 37º/1 da Lei 62/2013 – Lei de Organização do Sistema Judiciário. Para o Tribunal ser competente
tem que ser competente em função de todos os critérios.

Nota: subjacente à aplicação destes critérios está, para efeitos de DPC, que os tribunais judiciais
portugueses sejam competentes, não havendo competência de outra ordem jurídica para a causa –
209º/1 CRP (40º/1 LOSJ e 64º CPC).

A) Competência em razão do território

A competência de cada Tribunal resulta da conjugação de dois fatores: a circunscrição46


territorial correspondente ao tribunal e o fator de conexão considerado decisivo atenta a natureza
da ação.

Quanto à circunscrição:

• Supremo Tribunal de Justiça tem competência para atuar sobre todo o território.

• Os tribunais da Relação e os tribunais de 1ª instância, por sua vez, têm nas áreas das respetivas
circunscrições. Art.º 43º da Lei 62/2013 LOSJ.
➔ A área de competência dos tribunais da Relação é a definida no artigo 32º/1 LOSJ;
➔ Os tribunais de comarca têm jurisdição sobre a área territorial de competência da
respetiva comarca (art.º 33º/4 LOSJ), sendo o territorio nacional dividido em 23 comarcas
(art.º 33º/2 LOSJ);
➔ Tribunais judicias de 1ª instância de competência alargada têm uma área territorial de
competência que excede a da comarca – art.º 83º/4 LOSJ.

No que respeita aos fatores que determinam, em cada caso, qual é o tribunal territorialmente
competente, é no CPC que os encontramos, determinando, em cada caso, o tribunal territorialmente

4646 Delimitação. Área.


competente, ou seja, que elege, relativamente a cada ação, a conexão relevante para efeitos de
localização do litígio na esfera de competência de um determinado tribunal.

Entre os elementos de conexão relevantes para a determinação da competência territorial,


podemos aferir o foro do réu, o foro real ou da situação dos bens , o foro obrigacional, o foro do
autor, e o foro sucessório.

• Foro do réu (80º CPC) - constitui Regra Geral – quando não exista disposição especial para a
atribuição da competência territorial (art.º 70º a 79º CPC), é competente para a ação, por
força desta regra, o tribunal do domicílio do réu. Com este princípio procura a lei facilitar a
defesa do réu. A regra do 80º CPC vale para o réu que seja pessoa singular. Para a
determinação do domicílio do réu deve atender-se ao que dispõe os artigos 82º e ss. CC.
Quando o réu for uma pessoa coletiva, será demandado no tribunal da sede da
administração principal ou na sede da sucursal, agência, filial, delegação ou representação,
conforme a ação seja dirigida contra aquela ou contra estas (81º/2 CPC). Quando o réu for o
Estado, se não existir uma disposição especial, a ação deve ser proposta no tribunal do
domicílio do autor (81º/1 CPC).

Regras especiais:

• Foro real ou da situação de bens (70º) – as ações deste teor devem ser propostas no tribunal
onde estejam situados os bens que delas são objeto.
• Foro obrigacional – é o lugar onde deve ser cumprida a obrigação (art.º 71º/1 CPC) - O lugar
onde a obrigação deve ser cumprida é o que resulta do disposto do art.º 772 e 776º CC. Assim:
a ação destinada a exigir o cumprimento de obrigações, ou indemnização pelo não
cumprimento, por exemplo, deve ser proposta no tribunal do domicílio do réu (devedor)
quando este seja pessoa singular, a menos que o réu e o autor estejam ambos domiciliados
na mesma área metropolitano, caso em que o autor poderá escolher entre o tribunal do
domicílio do réu ou o tribunal do lugar onde a obrigação devia ser cumprida. Quando o réu
seja pessoa coletiva, o autor pode optar entre o tribunal do domicílio do réu ou do lugar do
cumprimento. Havendo pluralidade de réus e sedo um deles pessoa singular, parece dever a
ação intentada no lugar do domicilio deste ultimo.
• Foro do lugar em que o facto ilícito ocorreu (71º/2) – nas ações destinadas a pedir a
condenação do réu em indemnização com fundamento em responsabilidade civil
extracontratual (por facto ilícito ou pelo risco), é competente o tribunal do lugar onde o facto
ocorreu.
• Foro do autor (72º) – as ações de divórcio e de separação de bens e pessoas devem ser
intentadas no tribunal do domicílio ou da residência do autor.
• Foro competente para a ação principal (78º/1-c)) – em matéria de procedimentos cautelares,
quando estes sejam requeridos antes de intentada a ação principal, a regra geral é a da
competência do tribunal onde deva ser proposta a ação respetiva. Exceção (nº1/a) e b)).
• Em matéria de ação executiva – veja-se as soluções especiais constantes dos artigos 85º a 90º
CPC.

Regras quanto à pluralidade de réus e cumulação de pedidos para que sejam competentes tribunais
diferentes – art.º 82º/1 a 3 CPC:
➔ quando o critério aplicável for o do domicílio do réu devem ser todos demandados no
tribunal do domicílio do maior número; se for igual o número nos diferentes domicílios, pode
o autor escolher o de qualquer deles. Nestes casos, o réu ou os réus que se encontrarem na
posição minoritária ( ou até em igualdade) não poderão invocar a incompetência do
tribunal , se este não corresponder ao lugar do domicílio.
➔ O autor pode, salvas as hipóteses especialmente previstas na lei, escolher qualquer dos
tributais para a propositura da ação.
Exemplos:

• A sociedade comercial A, com sede e estabelecimento comercial em Lisboa, pretende


propor contra B, residente no Porto, uma ação destinada a obter a condenação deste no
cumprimento de obrigações emergentes de um contrato: a ação deve ser proposta no
tribunal da comarca do Porto (tribunal do domicílio do réu).
• C, residente em Matosinhos, vítima de um acidente de viação que considera ter sido
causado por D, domiciliado em Santarém, acidente esse ocorrido em Coimbra, pretende
propor uma ação de indemnização contra o mesmo: a ação deve ser intentada no
tribunal da comarca de Coimbra (tribunal do lugar onde o acidente ocorreu).

B) Competência em razão da matéria – assente no Princípio da especialização:

A competência dos tribunais judiciais em razão da matéria é residual, ou seja, têm


competência para todas as causas que não sejam atribuídas a outra ordem jurisdicional - art.º 64º
CPC.

Ordens jurisdicionais – 209º CRP:


 Tribunais Judiciais – 1ª instância; Tribunal da Relação e STJ – 209º/1-a) CRP;
 Tribunais Administrativos e Fiscais – 209º/1-b) CRP;
 Tribunal de Contas – 209º/1-c) CRP;
 Tribunais marítimos; tribunais arbitrais e julgados de paz – 209º/2 CRP – existência facultativa.

A lei de organização judiciária determina quais as causas (objeto do pedido) que, em razão
da matéria, são da competência dos tribunais e das secções dotados de competência
especializada - art.º 65º CPC. Quer dizer que as causas que não forem atribuídas por lei a alguma
jurisdição especial, como, por exemplo Tribunais administrativos ou Tribunal de Contas, entende-se
que são da competência dos Tribunais judiciais.

No mesmo sentido, afirma o artigo 80º que compete aos tribunais de comarca preparar e
julgar os processos relativos a causas não abrangidas pela competência de outros tribunais.

Portugal está dividido em 23 comarcas – art.º 33º LOSJ. Em cada comarca, há um tribunal de
comarca.

Na verdade, a competência em razão da matéria assenta no princípio da especialização, é


vantajoso fracionar a competência dos tribunais em função da matéria do litígio, dado que é muito
vasta a especificidade das normas que integram os diversos ramos do Direito e são muito complexas
as questões que se colocam a quem tem de decidir. Desta repartição da competência em função
das matérias a decidir resultará necessariamente a melhor qualidade e mais agilidade da atividade
judicial.

No quadro dos tribunais judiciais, os tribunais superiores (Relações e STJ) são tribunais de
competência genérica (ou seja, com competência para julgar quaisquer causas que sejam da esfera
de competência dos tribunais judiciais, sem especialização em razão da matéria), sem prejuízo da
sua organização interna prever a existência de secções especializadas (32º/3; 47º/1 e 67º/3 LOSJ). No
entanto, o STJ conhece, em principio, apenas de matéria de direito /46º LOSJ).

No que se refere aos tribunais de 1ª instância, apesar de a lei afirmar que eles são, em regra, os
tribunais de comarca (29º/3 e 79º LOSJ), a verdade é que se prevê a existência, a par destes de
tribunais de competência territorial alargada (art.º 33º/1 e 83º LOSJ).
Os tribunais de competência territorial alargada têm competência especializada em razão da
matéria, servem para matéria muito específica. Temos:
 Tribunal da propriedade intelectual – artigo 111º da LOSJ;
 Tribunal da concorrência, regulação e supervisão – artigo 112º da LOSJ;
 Tribunal marítimo – artigo 113º da LOSJ;
 Tribunal de execução das penas – artigo 114º da LOSJ;
 Tribunal central de instrução criminal – artigo 116º da LOSJ.

A primeira coisa que fazemos, é ver se há algum tribunal de competência territorial alargada
competente. Em princípio, não sairá um destes tribunais, pelo que, a primeira coisa que teremos
de dizer na resolução do caso prático será: em razão da matéria, esta ação não é da
competência dos tribunais de competência territorial alargada.

Vai para os Tribunais de Comarca tudo o que não for para os tribunais de competência alargada
(lógica residual).

Quanto aos Tribunais de Comarca, estes são de competência genérica (abrangendo


quaisquer causas não atribuídas por lei a outro tribunal – 80º/1 LOSJ) e de competência especializada
art.º 80/2 da Lei 62/2013 - LOSJ.

Dentro das Comarcas existem vários tipos de tribunais: juízos de proximidade, juízos de competência
especializada, juízo central civil e juízo local cível

Quanto à Competência Especializada (art.º 81º/3 LOSJ) temos (infra):


 Juízos centrais cíveis – 117º LOSJ;
 Juízos centrais criminais – 118.º LOSJ;
 Juízos de instrução criminal – 119º a 121.º LOSJ;
 Juízos de família e menores – 122º-125º LOSJ;
 Juízos do trabalho – 126º-127º LOSJ
 Juízos de comércio – 128º LOSJ
 Juízos de execução – 129º LOSJ
 Juízos locais cíveis, criminais, de pequena criminalidade – 130º LOSJ:
 Com competência residual, quando a causa não seja da competência de outro juízo
(130.º/1. LOSJ).

Competência especializada não são nem o juízo cível central nem o juízo cível local, são os outros
todos.

Não estando perante um caso de competência especializada, deveremos partir para os juízos cíveis
central e local.

Em complemento determina o art.º 81º deste diploma que os tribunais da comarca se desdobram
em:

1. Juízo Central Cível – art.º 117º LOSJ


➔ Para este só vão ações que são de processo comum e cujo valor da causa seja superior a
50.000€

2. Juízo Local Cível - (art.º 130.º, n.º 1)


➔ Só para lá vão ações de processo especial cujo valor da causa seja inferir a 50.000€
(competência residual)
C) Competência em razão do valor da causa

As leis de organização judiciária determinam quais as causas que, pelo seu valor se inserem na
competência da instância central e da instancia local (art.º 41º LOSJ e 66º CPC).

A competência do juízo local cível (e do juízo de competência genérica), como visto, é


residual – 130º/1 LOSJ.

A competência do juízo central cível é que é delimitada em rezão do valor da causa, uma vez
que apenas lhe cabe a preparação e julgamento das ações declarativas cíveis de processo comum
no valor superior a 50. 000 € - art.º 117º/1 LOSJ.

O valor da ação é atendido ao valor do ato – art.º 300º e ss. CPC.

A incompetência em razão do valor da causa é sempre de conhecimento oficioso do tribunal,


seja qual for a ação que se suscite. Compreende-se que assim seja, porque estão em causa princípios
da organização judiciária.

Exemplos:

• Uma ação declarativa de resolução de um contrato, de processo comum, com o valor


de 100.000 é da competência do juízo central cível, já se o seu valor for de 20.000 a ação
será antes da competência do juízo local cível.
• Uma ação de reivindicação da propriedade de um imóvel, de processo comum, que
tenha o valor de 75.000 é da competência do juízo central cível.
• Uma ação de divisão comum, que segue processo especial (925º e ss. CPC) é da
competência do juízo local cível independentemente do seu valor.

D) Competência em razão da hierarquia judiciária

A competência encontra-se distribuída entre os tribunais de primeira instancia, os tribunais da


Relação e o Supremo Tribunal de Justiça – artigos 67º a 69º CPC e artigos 42º e 80º LOSJ. Os tribunais
judiciais encontram-se hierarquizados para efeito de recurso das suas decisões.

Supremo Tribunal de
Justiça

Tribunais da Relação

Tribunais Judiciais de
1ª Instância
Os tribunais estão hierarquizados formando uma pirâmide, cuja base é contruída pelos
tribunais da 1ª instância. No plano intermédio encontram-se os tribunais da relação, que funcionam
como tribunais de 2ª instância. No vértice da pirâmide situa-se o Supremo Tribunal de Justiça.

A regra geral, em matéria cível, é de que os tribunais superiores apenas conhecem dos
recursos, e que as ações são propostas nos tribunais de primeira instância. 80º/1 LOSJ.

Tribunais de 1ª instância – 67º CPC; 80º/1 LOSJ; 42º LOSJ:

• Estando situados na base da pirâmide, compete-lhes o julgamento de todas as questões,


qualquer que seja o valor da ação. Quando o valor ultrapassa a sua alçada (5.000 euros) será
possível interpor recurso das suas decisões para o tribunal da Relação, que julgará em 2ª
instância. Se a ação tiver um valor superior ao da alçada do tribunal da Relação (30.000
euros), a decisão por este proferida pode ainda ser objeto de recurso para o Supremo Tribunal
de Justiça. Há, porém, ações que admitem sempre recurso, independentemente do seu valor
- art.º 629º nº 2 e 3 CPC.
• Os tribunais de primeira instância apesar de constituírem a base da pirâmide tem a função de
julgar além de outros os recursos interpostos das decisões dos notários e conservadores do
registo.

Tribunais da Relação:
• Regra geral: Conhecem dos recursos e das causas que por lei sejam da sua competência –
art.º 68/1 CPC.
• Exceções: funcionam como tribunais de 1ª instância (73º LOSJ) para:
✓ Julgar ações propostas contra juízes de direito e juízes militares de 1ª instância,
procuradores da República e procuradores-adjuntos, por causa das direito e juízes
militares de 1ª instância, procuradores da República e procuradores-adjuntos, por
causa das funções (quando a causa tem que ver com a profissão que exercem) –
73º/b) LOSJ;
✓ Julgar processos por crimes cometidos pelos magistrados e juízes militares referido
acima e recursos em matéria contraordenacional a eles respeitante - 73º/c) LOSJ;
✓ Julgar processos judiciais de cooperação judiciária internacional em matéria penal -
73º/d) LOSJ;
✓ Julgar processos de revisão e confirmação de sentença estrangeira, sem prejuízo da
competência legalmente atribuída a outros tribunais - 73º/e) LOSJ + 979º CPC.
• Os tribunais da Relação são por via de regra tribunais de 2ª instância, designam-se pelo nome
do município em que se encontram instalados.
• Os tribunais da Relação compreendem secções em matéria cível, penal, social, família,
menores, comércio, propriedade intelectual e de concorrência, regulação e supervisão.
• Existem tribunais da Relação em Lisboa, Porto, Coimbra, Guimarães e Évora.

Supremo Tribunal de Justiça:


• Tem sede em Lisboa - art.º 45º da Lei nº 62/2013 - LOSJ.
• Compreende secções em matéria cível, penal e social.
• Por via de regra o STJ apenas conhece de matéria de Direito por força do art.º 46º da Lei nº
62/2013 - LOSJ.
• Conhece dos recursos e das causas que por lei sejam da sua competência - art.º 68º/1 e 69º/1
CPC
• Julga o PR, o Presid. Assembleia da República e o P.M pelos crimes praticados no exercício das
suas funções (53º a) da LOSJ)
• Julga os recursos de decisões proferidas na 1ª instância pelas secções (53º b) LOSJ)
• Julga processos por crimes cometidos por Juízes do STJ e dos tribunais da Relação e
magistrados do MP que exerçam funções junto destes tribunais, ou equiparados, e julga os
recursos em matéria contraordenacional respeitantes a estas pessoas; julga os pedidos de
habeas corpus devido a prisão ilegal (55º a), b), c) LOSJ)
• O STJ é, pois, essencialmente um tribunal de revista. Cabe-lhe rever o modo de como foi feita
a aplicação da lei substantiva, aos factos provados nas decisões proferidas pelas instâncias e
as interpretações que estas fizeram das leis processuais.
• No entanto, em certas circunstâncias, as partes podem requerer que o recurso interposto da
decisão proferida pelo tribunal de 1ª instancia suba diretamente para o STJ – como se
compreende isto só é possível se no recurso apenas se suscitarem questões de direito, isto é,
quando tiver sido impugnada a decisão sobre matéria de facto. Por outro lado, também se
exige que as partes não impugnem quaisquer decisões interlocutórias. Trata-se de um recurso
“per saltum”, visto que não passa pelo Tribunal da Relação. Tal só acontece quando estes
critérios se verifiquem em simultâneo (644º e 678º CPC):
✓ O valor da causa é superior à alçada (44º LOSJ) da Relação
✓ O valor da sucumbência é superior a metade da alçada da Relação
✓ As partes, nas suas alegações, suscitam apenas questões de direito
✓ As partes não impugnam, no recurso de apelação previsto no 644º/1 do CPC, qualquer
decisão interlocutória (678º/1 CPC)
• Cabe ao STJ a uniformização de jurisprudência. Uma convergência. Irem a um ponto de
encontro.

A hierarquia judiciária não significa que os juízes dos tribunais de grau inferior dependam ou
devem obediência aos de grau superior. A hierarquia traduz-se no poder conferido aos tribunais
superiores de, pela via de recurso, revogarem ou alterarem as decisões dos tribunais inferiores.
Conforme dispõe o art.º 203º CRP os tribunais são independentes e apenas estão sujeitos à lei.
Nos termos do art.º 4º da Lei 62/2013 os juízes julgam apenas segundo a CRP e a lei e não estão
sujeitos a quaisquer ordens ou instruções, salvo o dever de acatamento das decisões proferidas em
via de recurso por tribunais superiores. E não podem ser responsabilizados, por via de regra, das suas
decisões.

Extensão e modificações da competência:

a) Enunciado

As regras sobre a competência dos tribunais podem ser sujeitas a alguns desvios pelo
aparecimento de questões suscitadas no decurso da ação. Verificadas certas condições, o tribunal
estende a sua competência por forma a poder julgar, para além da ação, essas questões para as
quais não teria normalmente competência.

Assim, sendo o tribunal competente para determinada ação, passa a sê-lo também para
questões nelas suscitadas. Por outras palavras, a competência do tribunal para julgar a ação
estende-se aos incidentes e às questões que nela sejam levantadas, como meio de defesa. A
extensão e modificações da competência estão previstas nos art.º 91º a 95º CPC.

Estes preceitos preveem a extensão da competência em relação às questões incidentais (art.º


91º CPC), às questões prejudiciais (art.º 92º CPC) e às questões reconvencionais (art.º 93º CPC). Da
modificação da competência tratam os artigos 94º (pactos privativo e atributivo de jurisdição) e art.º
95º CPC (competência convencional).

b) Questões incidentais

A primeira destas disposições legais diz respeito às questões incidentais. Questão incidental ou
incidente é a questão surgida no decurso do processo, distinta da questão principal que dele era
objeto, mas com ela relacionada. O incidente pressupõe em regra a existência de uma questão a
resolver que se configure como secundária face ao objeto da ação o do recurso e como ocorrência
anormal e com autonomia processual em relação ao processo principal. Não é possível proferir a
sentença final sem que antes seja decidida essa questão incidental.

O tribunal competente para a ação é também competente para o conhecimento dos


incidentes que nela se levantem e das questões que o réu suscite como meio de defesa - art.º 91º/1
CPC.

➔ Os incidentes constituem ocorrências estranhas ao desenvolvimento processual. O tribunal


competente para conhecer da ação passa a sê-lo também para conhecer destas
questões que, normalmente, não caberiam na sua competência. Verifica-se a extensão
da competência do tribunal a estas questões.

Exemplos:

A grande parte dos incidentes estão dispersos pelo CPC, estão tipificados na lei, como incidentes da
instância os seguintes:
• Verificação do valor da causa - art.º 260º a 310º CPC
• Intervenção de terceiros - art.º 311º a 350º CPC
• Liquidação - art.º 358º a 361º CPC

Se no decurso da ação falecer uma das partes o tribunal competente para a ação sê-lo-á
também para decidir o incidente de habilitação. Normalmente, o tribunal competente para a
habilitação dos sucessores da parte falecida é do lugar da abertura da sucessão. Porém se não for
este tribunal em causa, passa a ter por extensão, competência também para a habilitação.

Deste modo, o tribunal competente para julgar a ação proposta com fundamento num
contrato celebrado entre o autor e o réu, é também competente para conhecer da nulidade do
contrato invocada pelo réu, mesmo que para conhecimento desta nulidade fosse competência
atribuída a outro tribunal, no caso de ter sido alegada como autónoma.

Esta extensão da competência tem limites previstos no art.º 91/2º CPC – assim a decisão das questões
e incidentes suscitados não constitui caso julgado fora do processo respetivo, exceto se alguma parte
requerer o julgamento com essa amplitude e o tribunal for competente do ponto de vista
internacional e em razão da matéria e da hierarquia.

Consequência: se a decisão proferida sobre incidentes ou sobre meios de defesa que não envolvam
diretamente o objeto da ação, mesmo que transitada em julgado, vale apenas como caso julgado
formal - art.º 620º CPC - o que significa que não valerá fora daquele processo

➔ Só constituirá caso julgado material art.º 621º CPC se tal for requerido por alguma das
partes, isto é, se alguma das partes requerer o processamento da questão como numa
ação autónoma (para uma questão valer fora do processo). Porém, para que o
requerimento neste sentido possa ser atendido, não pode faltar ao tribunal a competência
necessária, em razão da nacionalidade, da matéria, ou da hierarquia.

c) Questões Prejudiciais

Se o conhecimento do objeto da ação depender da decisão de uma questão que seja da


competência do tribunal criminal ou do tribunal administrativo, pode o juiz sobretestar na decisão até
que o tribunal competente se pronuncie - art.º 92º/1º CPC. Por vezes, o conhecimento do objeto da
causa está dependente do conhecimento prévio de uma certa questão. Quer dizer, o conhecimento
da causa não pode ter lugar sem que se decida uma questão que faz parte do encadeamento
lógico da sentença a proferir. Esta questão tem, portanto, de ser previamente julgada, e por isso se
diz prejudicial, ou seja, (pré) judicial.

É questão prejudicial: toda aquela cuja solução constitua pressuposto necessário da decisão de
mérito, quer esta necessidade resulte da configuração da causa de pedir, quer da arguição ou
existência duma exceção (perentória ou dilatória), quer ainda do objeto de incidentes em
correlação lógica com o objeto do processo, e seja mais ou menos direta a relação que corra entre
essa questão e a pretensão.

➔ Neste caso, a lei em vez de estender a competência ao tribunal da causa, atribui ao juiz a
faculdade de sobretestar, isto é interromper a decisão até que o tribunal competente se
pronuncie sobre a questão prejudicial.
➔ O art.º 92º CPC – faz referência unicamente a questões prejudiciais para cujo
conhecimento é competente o tribunal criminal ou o tribunal administrativo. Tem
aplicação quando o tribunal criminal ou administrativo têm competência para o
conhecimento de questão que se torna necessário para a decisão de outra questão que
constitui objeto da ação proposta no tribunal judicial cível,
➔ Se o juiz do tribunal cível tiver de proferir decisão sobre essas questões, fá-lo-á apenas com
a finalidade de tornar possível o prosseguimento do processo.

d) Competência para questões reconvencionais

A reconvenção tem lugar quando o réu formula, na ação contra ele proposta, um pedido
autónomo contra o autor.

O tribunal da ação é competente para questões deduzidas por via de reconvenção, desde
que tenha competência para elas em razão da nacionalidade, da matéria e da hierarquia; se a não
tiver é o reconvindo absolvido da instância - art.º 93º/1 CPC.

No Caso de reconvenção, quando o pedido formulado pelo réu seja distinto do que foi
deduzido pelo autor, os respetivos valores somam-se, nos termos do art.º 299º/2 CPC. Neste caso é,
portanto, alterado o valor inicial da causa.

Essa alteração do valor da causa pode fazer com que o tribunal onde a mesma corre deixe
de ser competente em razão do valor, o que implicará a necessidade de remeter a ação para o
tribunal que passou a ser competente. Neste sentido, determina o nº2 do art.º 93º CPC que, quando,
por virtude da reconvenção, o tribunal deixe de ser competente em razão do valor, deve o juiz
oficiosamente remeter o processo para o tribunal competente.

Competência convencional:

Tal como na competência internacional, também no que respeita à competência interna a lei
permite que as partes convencionarem sobre o tribunal competente para a ação, embora em
termos muito limitados (art.º 94º CPC).

• O art.º 95º CPC autoriza apenas que as partes, por acordo, afastem as regras de competência
em razão de território (mas já não as de competência em razão de matéria, da hierarquia e
do valor do processo), mesmo aí com exceções a numerosos casos como refere o artigo 104º
(isto é nos casos em que a incompetência relativa é do conhecimento oficioso do tribunal).
Pode dizer-se que se trata de um pacto de aforamento segundo o qual é dada às partes a
possibilidade de escolher o foro, ou seja, o tribunal territorialmente cometente para conhecer
de certos litígios.
• O tribunal escolhido por convenção das partes tem competência exclusiva. Por isso, o tribunal
que, segundo a lei, seria o competente, deixa de o ser.
• A competência resultante da convenção das partes é tão vinculativa como a que deriva da
lei - art.º 95º/3 CPC.
• A convenção deve satisfazer os requisitos de forma do contrato que é fonte da obrigação,
contanto que seja reduzida a escrito, e deve designar as questões a que se refere bem como
o critério de determinação do tribunal que fica como sendo competente (art.º 95º/2 e 4 CPC).

VIOLAÇÃO DAS REGRAS DA COMPETÊNCIA: A INCOMPETÊNCIA


ABSOLUTA E A INCOMPETÊNCIA RELATIVA

Modalidades de competência:

Quando a ação seja proposta num tribunal que não é competente, seja do ponto de vista da
competência internacional dos tribunais portugueses, seja do poto de vista da competência interna,
ocorre um vício de incompetência, que constitui uma exceção dilatória (art.º 577º/a CPC).

A lei distingue duas modalidades de incompetência:

➔ Incompetência absoluta – associada a consequências mais drásticas. Decorre da violação


das regras de competência internacional e das regras de competência em razão da
matéria e da hierarquia e ainda da preterição de tribunal arbitral.

➔ Incompetência relativa – associada a consequências menos gravosas. Decorre da


infração das regras de competência em razão do valor da causa e do território, ou da
violação do estipulado em acordos sobre a competência interna (art.º 96º e 102º CPC).

Regime da incompetência absoluta:

• Quem pode suscitá-la: pode ser arguida por qualquer uma das partes e oficiosamente pelo
tribunal, exceto se decorrer da violação de pacto privativo de jurisdição ou de preterição de
tribunal arbitral voluntário (art.º 97º/1 CPC).

• Até quando pode ser arguida ou oficiosamente conhecida: em qualquer estado do processo,
enquanto não houver sentença transitada em julgado (proferido sobre o fundo da causa).
 Porém, se se tratar da violação de regras de competência em razão da matéria que
somente respeitem aos tribunais judiciais (por exemplo: é proposta num tribunal de
comarca uma ação que é da competência do tribunal da propriedade intelectual), só
o pode ser até ao despacho saneador ou, não havendo lugar a este, até ao inicio da
audiência final (art.º 97º/1 e 2 CPC).
 Se o vício for arguido/invocado antes de proferido o despacho saneador, deve
conhecer-se imediatamente da incompetência ou reservar-se apreciação para esse
despacho. Se só depois for invocado, deve ser logo apreciada e decidida a questão
(art.º 98º CPC).

• Consequências da incompetência absoluta:


 A lei associa-lhe o efeito de absolvição do réu da instância ou indeferimento liminar
(discussão para momento posterior), quando haja lugar a despacho desta natureza
(art.º 99º/1 CPC).
➢ Se assim for, em regra não se aproveitam os atos já praticados na ação.
➢ Porém, se a incompetência só for decretada depois de findos os articulados,
poderão tais atos ser aproveitador se o autor requerer a remessa do processo ao
tribunal em que a ação deveria ter sido proposta e o reu não oferecer oposição
justificada (art.º 99º/2 CPC). Esta exceção não se aplica nos casos de violação
de pacto privativo de jurisdição ou de preterição de tribunal arbitra voluntário
(art.º 99º/3 CPC) – não faria sentido esta remessa do processo para uma outra
jurisdição nacional ou para a jurisdição arbitral.

• Valor da decisão sobre incompetência absoluta:


 A decisão de absolvição do reu da instancia por o tribunal ser absolutamente
incompetente, uma vez transitada em julgado, tem apenas valor de caso jugado
formal, com eficácia restringida a processo em que foi proferida (art.º 100º CPC).
➢ Pode acontecer que, sendo proposta nova ação no tribunal considerado
competente nos termos daquela decisão, este ultimo venha também a julgar-se
incompetente, provocando um conflito negativo de competência.

Regime da incompetência relativa:

• Quem pode suscitá-la: pode ser arguida apenas pelo réu, mas já não pelo autor (art.º 103º/1
CPC).
 O tribunal pode conhecer oficiosamente apenas nas situações previstas no art.º 104º
CPC.
➢ Situações de incompetência em razão do valor da causa;
➢ (Numerosas hipóteses de) Situações de incompetência por violação das regras
da competência.

• Até quando pode ser arguida ou oficiosamente conhecida: pode ser arguida pelo réu no
prazo da contestação (art.º 103º/1 CPC).
 Quando a incompetência for de conhecimento oficioso a questão deve ser suscitada
e decidida até ao despacho saneador ou, se a este não houver lugar, até à prolação
do primeiro despacho subsequente ao termo dos articulados.

• Consequências da incompetência relativa:


 A procedência desta exceção dilatória, de menor gravidade, implica apenas a
remessa do processo para o tribunal competente, com integral aproveitamento dos
atos já praticados (art.º 105º/3 CPC).

• Valor da decisão sobre incompetência absoluta:


 Uma vez transitada em julgado resolve definitivamente a questão (art.º 105º/2 CPC).
Pelo que, se a exceção for julgada procedente (que se justifica) e o processo remetido
para outro tribunal, este fica vinculado por aquela decisão e não pode recusar a
competência que lhe foi reconhecida pelo primeiro tribunal (o que se compreende,
pelo facto de o processo de manter o mesmo).

Preterição do tribunal arbitral necessário:

Embora a lei não a enquadre, deve entender-se geradora de incompetência do tribunal a preterição
(rejeição) do tribunal arbitral necessário (art.º 1082º e ss. CPPC). Isso mesmo resulta do art.º 5º/1 da Lei
da Arbitragem Voluntária, para a qual remete o art.º 1085º CPC.
Pressupostos Processuais

Os pressupostos processuais são os requisitos mínimos exigidos e indispensáveis para a


composição de uma relação jurídica processual e respetivo desenvolvimento regular e válido, imune
a vícios que possam nulificá-la, no todo ou em parte.
Os pressupostos são, portanto, requisitos de validade e condições de eficácia do
procedimento.

Como resulta do art.º 152º/1 CPC, os juízes têm o dever de administrar a justiça, proferindo
despacho ou sentença sobre matérias pendentes. Para que o juiz possa dar razão ao autor, isto é,
para que a ação seja julgada procedente, torna-se necessário que a providência por si requerida
esteja em conformidade com determinada norma de direito substantivo. Quando o juiz chega a
proferir sentença transitada em julgado procedente ou improcedente a pretensão do autor, diz-se
que o tribunal conheceu do mérito da causa ou como também se diz, proferiu decisão de fundo. Ao
propor a ação, o autor pretende que ela termine exatamente deste modo, isto é, com a decisão
sobre o mérito. Proferida a sentença, esta torna-se, em princípio, inalterável logo que transite em
julgado.

Os requisitos necessários para que a ação possa proceder constituem condições da ação.

Porém, o juiz, antes de se preocupar com a pretensão formulada pelo autor, terá
primeiramente de averiguar da existência dos chamados pressupostos processuais. Estes constituem
os requisitos de cuja verificação depende da apreciação do mérito da causa. Estes requisitos são,
portanto, “questões prévias” ao conhecimento de fundo. Eles condicionam o conhecimento do
mérito da causa. A falta de pressupostos processuais pode determinar que o juiz se abstenha de
conhecer do mérito e, em vez disso, tenha de absolver o réu da instância.

O juiz deve procurar suprir a falta de pressupostos processuais ou convidar as partes a fazê-lo,
quando a sanação dependa de atos a praticar por estas - art.º 6/2º CPC – consagração do princípio
do inquisitório. Não sendo sanada a falta, geralmente, o juiz absolverá o réu da instância – o que não
impedirá o autor de propor outra ação sobre o mesmo objeto – art.º 279º/1 CPC.

De qualquer modo, o que importa reter é que o processo não chegará a seu termo, isto é, não será
proferida decisão sobre o mérito enquanto no processo não forem tidos em conta determinados
pressupostos processuais.

Os pressupostos processuais podem ser negativos ou positivos.


• positivos – aqueles cuja sua verificação é essencial para que o juiz conheça do mérito da
causa.
• negativos - aqueles cuja verificação obsta a que o juiz aprecie o mérito da ação. Entre estes
podemos referir a litispendência, o caso julgado, e existência de compromisso arbitral.

A grande maioria dos pressupostos processuais são de conhecimento oficioso – art.º 577º e 578º CPC.
Personalidade Judiciária
A personalidade judiciária é a suscetibilidade de ser parte processual – art.º 11º/1 CPC. Partes
são as pessoas que requereram, ou contra as quais foi requerida a providência judiciária que se
pretende alcançar através da ação.

O processo exige pelo menos duas partes em posições opostas:


1. À primeira chama-se autor/requerente/demandante.
2. À segunda parte chama-se réu/requerido/demandado

As partes, como se compreende, devem ficar logo identificadas na petição inicial - art.º 552º CPC
(alínea a).

Porém outras pessoas podem vir a ter intervenção no processo, quer em substituição daquelas, quer
ao lado delas. A substituição acontece quando, ocorreu transmissão da coisa ou direito litigioso por
ato entre vivos – art. 263º CPC - ou por substituição de pessoa falecida – art. 351º CPC.

A intervenção de terceiros pode ser espontânea ou provocada, conforme resulta, respetivamente


dos art. 311º e 316º CPC.

Além do autor e do réu que são as partes principais, podem outras pessoas assumir no processo uma
posição subordinada. São as partes acessórias. É o que se verifica no caso da assistência, o assistente
é uma pessoa que tem interesse jurídico em que a decisão do pleito seja favorável a uma das partes,
por isso intervém no processo como seu auxiliar - art. 326º CPC.

Critérios atributivos:

A personalidade judiciária é atribuída em função de quatro critérios:


(1) Critério da coincidência;
(2) Critério da diferenciação patrimonial;
(3) Critério da afetação do ato;

(1) Critério da coincidência – 11º CPC

De acordo com este critério, a personalidade judiciária é concedida a todas as pessoas jurídicas,
singulares ou coletivas (art.º 11º/2). Todo o ente com personalidade jurídica47 tem igualmente
personalidade judiciária, ativa ou passiva.

• Relativamente a sujeitos ou pessoas estrangeiras (art.º 26º/1 CC) – o inicio e o termo da


personalidade jurídica são fixados pela lei pessoal de cada individuo, que é a lei da
nacionalidade (art.º 31º/1 CC); a personalidade adquire-se no momento do nascimento
completo e com vida – art.º 66º CC;
• Se o indivíduo for apátrida - o inicio e o termo da personalidade jurídica são fixados pela lei do
lugar onde ele tiver a sua residência habitual ou, se for menor ou maior acompanhado, o seu
domicílio legal - art.º 32º/1 CC;
• Quanto às pessoas coletivas – a sua lei pessoal é a do Estado onde se encontra situada a sede
principal e efetiva da sua administração (art.º 33º CC)

47A qualidade de pessoa ou sujeito de direito. Possibilidade de exercer pessoal e livremente a nossa
capacidade jurídica - Suscetibilidade de estar adstrito a direitos e deveres. A personalidade jurídica
adquire-se no momento do nascimento completo e com vida – art.º 66º CC – e termina com a morte – ao
abrigo do art.º 68º CC. No que concerne às pessoas coletivas, embora tenham de estar em juízo por meio
dos respetivos representantes legais, as ações são instauradas em nome delas ou contra elas, pois que são
elas as verdadeira parte.
✓ Se for uma pessoa coletiva internacional a sua lei pessoal é a convenção que a criou
ou nos respetivos estatutos, ou, na sua falta, a do país onde estiver a sede principal (34º
CC).
✓ As sociedades comerciais têm como lei pessoal a lei do Estado onde se encontre
situada a sede principal e efetiva da sua administração (art.º 3º/1 CSC).

(2) Critério da diferenciação patrimonial – 12º CPC

Segundo este critério têm personalidade judiciária determinados patrimónios autónomas (art.º 12º
CPC). Este critério é uma exceção ao critério da coincidência, pois a lei estende a personalidade
judiciária a quem não tem personalidade jurídica.

Englobam-se:
• Herança jacente – art.º 2046º CC – herança cujos titulares ainda não estão determinados
(porque são desconhecidos os sucessíveis ou porque os conhecidos sucessíveis ainda não
aceitaram a herança).
• Patrimónios autónomos stricto sensu
✓ Alínea b) as associações sem personalidade jurídica e as comissões especiais – art.º
195 e 199 do CC.
✓ Alínea c) as sociedades civis - art.º 980 do CC.
✓ Alínea d) as sociedades comerciais antes da data do registo definitivo do contrato pela
qual se constituem nos termos do art.º 5º do CSC.
✓ Alínea e) o condomínio resultante da propriedade horizontal – relativamente às ações
que se inserem no âmbito dos poderes do administrador – art.º 1436º e ss. CC .
✓ Alínea f) os navios, nos casos previstos em legislações especial.

➢ Art.º 26º - “Representação das entidades que careçam de personalidade


jurídica - Salvo disposição especial em contrário, os patrimónios autónomos são
representados pelos seus administradores e as sociedades e associações que
careçam de personalidade jurídica, bem como as sucursais, agências, filiais ou
delegações, são representadas pelas pessoas qu
➢ e ajam como diretores, gerentes ou administradores” – relativamente à
capacidade judiciária.

(3) Critério da afetação do ato – 13º CPC

O art.º 13º CPC estende ainda a personalidade judiciária às sucursais, agências , filiais, delegações ou
representações de uma pessoa coletiva – se a ação proceder de factos por ela praticados. Quer isto
dizem que quem pratica o ato pode igualmente estar em juízo quando a ação o tem por objeto.

Trata-se de entidades que são apenas órgãos da administração local e como tais subordinados à
administração central - em princípio não deviam ter personalidade judiciária, a qual pertence à
pessoa coletiva ou sociedade, porém quando estão em causa factos por ela praticados podem
demandar ou ser demandadas.

Por outro lado, o nº 2º do mesmo preceito prevê os casos em que o facto foi praticado pela
administração principal sedeada no estrangeiro – pela pessoa coletiva -, quando está em causa uma
obrigação contraída por um português ou estrangeiro domiciliado em Portugal.

Se a administração principal – pessoa coletiva - tiver sede ou domicilio em país estrangeiro, as


sucursais, agências, filiais, delegações ou representações estabelecidas em Portugal podem
demandar e ser demandadas, ou seja, detêm personalidade judiciaria, ainda que a ação derive de
facto praticado por aquela, quando a obrigação tenha sido contraída com um português ou com
um estrangeiro domiciliado em Portugal - art.º 13/2 CPC.
Em suma a atribuição da personalidade judiciária às sucursais, agências, filiais, delegações ou
representações depende da circunstância de a administração principal ter ou não sede ou domicilio
em Portugal.

1. Se tiver sede em Portugal (ou domicilio) só terão personalidade judiciária as sucursais,


agências, filiais, delegações ou representações quando o objeto da ação diz respeito a factos
por elas praticados;
2. No caso de a administração principal ter sede ou domicilio no estrangeiro, à administração
local é reconhecida personalidade judiciária, não só em relação aos factos por si praticados,
mas também aos que foram praticados pela administração central, quando a obrigação
tenha sido contraída com um português ou com um estrangeiro domiciliado em Portugal.

A atribuição da personalidade judiciária às sucursais e outras congéneres não atinge a personalidade


da sociedade ou pessoa coletiva, podendo esta demandar ou ser demandada.

Consequências da falta da personalidade judiciária:

A falta de personalidade judiciária, é em princípio insanável – significa isto que tendo sido constatada
a sua falta, seja do lado do autor ou do lado do réu, o tribunal deverá proferir despacho em que diz
abster-se de conhecer do pedido – absolvendo o réu da instância – por força do disposto no art.º
278º/1/c) CPC.

O art.º 14º CPC prevê, porém, uma exceção – quando a ação foi indevidamente proposta contra a
sucursal, agência, filial, delegação ou representação, a falta de personalidade judiciária pode ser
sanada mediante a intervenção da administração principal e a ratificação ou repetição do
processado – quer dizer que se ação foi proposta contra qualquer dessas entidades quando o devia
ter sido contra a administração principal, o vício pode ser sanado pela intervenção desta no
processo de duas formas:
• ou ratifica todo o processado – que por isso prosseguirá;
• ou não ratifica - e neste caso terá de ser repetido.

No caso da falta de personalidade judiciária resultar de a ação ter sido proposta pelo representante
da pessoa falecida ou contra a pessoa falecida pode pôr-se termo a tal falta mediante a habilitação
dos sucessores prevista no art.º 351º CPC.

A falta de personalidade judiciária não sanada constitui uma exceção dilatória - art.º 577/c) CPC. É
de conhecimento oficioso, como a generalidade das exceções dilatórias - art.º 578º CPC.

Se a citação do réu depender de prévio despacho judicial – art.º 226º/4º CPC – e se a


exceção não for sanável nos termos do art.º 14º CPC – pode o juiz em vez de ordenar a citação,
indeferir liminarmente a petição inicial.

Se a falta de personalidade só for conhecida no despacho saneador deve o juiz proferir


despacho de absolvição do réu da instância. Quando a falta de personalidade judiciária for sanável
nos termos do art.º 14º o tribunal antes de proferir despacho de absolvição do réu da instância deve
providenciar para que a administração principal proceda à sanação, do modo acima referido – art.º
6/2 CPC (em nome do dever de gestão processual).
Capacidade judiciária
A) Noção

Para que o juiz possa conhecer do mérito da causa não basta que as partes tenham personalidade
judiciária, é necessário que possuam igualmente capacidade judiciária.

A capacidade judiciária pode entender-se como aptidão para adquirir direitos e para os exercer.
Nos termos do artº 15º/1 esta consiste na suscetibilidade de estar, por si, em juízo48. Sendo assim
podemos considerar dois graus de capacidade, a capacidade de gozo e capacidade de exercício
desses direitos. Na generalidade, as pessoas têm capacidade de gozo de direitos, o que se traduz na
sua capacidade jurídica. Nos termos do quer dispõe o art.º 67º CC as pessoas podem ser sujeitos de
quaisquer relações jurídicas salvo disposição legal em contrário, o que se traduz a sua capacidade
jurídica.

Qualquer ser humano pode tornar-se sujeito de direitos e obrigações, essa capacidade de adquirir
direitos denomina-se capacidade de gozo. Em principio toda a pessoa física tem plena capacidade
de gozo. No entanto, a lei, por vezes, impões algumas restrições à capacidade de gozo.
• Ex: o médico que tratou certa pessoa não ode beneficiar de disposições testamentárias a seu
favor, e o testamento foi feito durante a doença do testador e/ou este vier a falecer dela –
2194º CC

Mas também existem limitações à capacidade de exercício de direitos. Quer dizer, embora a pessoa
tenha plena capacidade de gozo de direitos, a lei, pretendendo protege-la contra a sua
inexperiência (caso da menoridade) ou contra o seu deficiente estado de saúde mental (caso dos
maiores acompanhados), determina que não poderá exercer por si os direitos de que é titular,
apenas o podendo fazer por meio de um representante legal.

À incapacidade de exercício de direitos se referem o artigo 123º (relativamente à incapacidade dos


menores, e a Lei n.º 49/2018 de 14 de agosto (relativamente ao regime dos maiores acompanhados).

➔ Conforme define o art.º 15º CPC – a capacidade judiciária consiste na suscetibilidade de


estar por si, em juízo.
➔ A possibilidade de estar por si em juízo, significa também o poder de escolher livremente
quem o represente na ação. Aqueles quer não possuem capacidade judiciária não
podem estar por si mesmos em juízo nem por meio de representante por si livremente
escolhido. O seu representante é imposto por lei.
➔ A capacidade judiciária tem por base e por medida a capacidade de exercício dos
direitos conforme dispõe o art.º 15/2 CPC.

Ao referir que a capacidade judiciária tem por base e por medida a capacidade de exercício de
direitos, o preceito estabelece a correspondência entre a capacidade judiciária e a capacidade de
exercício dos direitos, querendo significar que possuem plena capacidade judiciária aqueles que
possuem igualmente total capacidade de exercício dos direitos. Geralmente as pessoas singulares ou
coletivas possuem plena capacidade de exercício de direitos.

Em relação aos menores, só quando estes atingem a maioridade, o que acontece quando
perfazem dezoito anos, é que adquirem plena capacidade do exercício de direitos, ficando então
habilitados a reger a sua pessoa e a dispor dos seus bens à luz do art.º 130º CC.
Porém existem exceções à incapacidade dos menores como as que constam do art.º 127º do
CC.

• Assim, o menor com mais de 16 anos tem plena capacidade judiciária para litigar em ação
em que estejam em causa os bens que adquiriu pelo seu trabalho. São, portanto, limitações

48 Implica uma pessoa ter capacidade de gozo e de exercício (ou esta ultima sendo suprida).
que justificam que no art.º 15/2 CPC seja dito que a capacidade judiciária tem por medida a
capacidade de exercício dos direitos.

Quem não tiver (plena) capacidade judiciária só pode estar em juízo através dos seus representantes
legais.

B) Modos de suprimento da incapacidade judiciária

Com a finalidade de proteger certas pessoas contra a sua inexperiência ou incompleta formação ou
contra o seu deficiente estado mental, a lei determina que não podem exercer, por si próprias, um
direito cuja titularidade lhes é reconhecida. Estão nesta situação:
• os menores;
• os maiores acompanhados.

A sua incapacidade de exercício é suprida pelos meios adequados previstos na lei. Os atos jurídicos
não deixarão de ser exercitados pelo facto de o incapaz não os poder praticar por ele próprio. Em
substituição do incapaz agirá o seu representante legal ou agirá o próprio incapaz com
consentimento de certa pessoa ou entidade, o curador – art.º 16/1 CPC.

1. Dos menores

• A sua incapacidade é suprida pelo poder paternal e, subsidiariamente, pela tutela – art.º 1877º
e ss. e 1921º CC.
✓ A parte do processo vai ser o menor, uma vez que tem personalidade judiciária, só que
se o menor não pode atuar livre e pessoalmente no direito privado, por maioria de
razão também não o poderá fazer no direito processual - terá de ser representado para
suprimir o pressuposto da capacidade de exercício.
• Quando os pais tenham sido excluídos, inibidos ou suspensos da administração dos bens do
menores, ser-lhes-á instituído um regime de administração de bens – art.º 1922º CC.
• Na constância do matrimonio, o exercício das responsabilidades parentais pertence a ambos
os progenitores, devendo ser exercidas de comum acordo – at.º 1901º/1 e 2 CC.
• Os menores são representados em juízo pelos seus pais, sendo necessário o acordo de ambos
para a propositura de ações - art.º 16º/2.
• Nas ações contra os menores ambos os progenitores devem ser citados – art.º 16º/3 CPC.
• Se, sendo o menor representado por ambos os pais, houver desacordo entre estes acerca da
conveniência de intentar a ação, pode qualquer deles requerer ao tribunal competente para
a causa a resolução do conflito – art.º 18º/1.
✓ Se o desacordo apenas surgir no decurso do processo pode qualquer um dos pais, no
prazo de realização do primeiro ato afetado pelo desacordo, requerer ao juiz da causa
que providencie sobre a forma de o incapaz ser nela representado, suspendendo-se,
entretanto, a instância – art.º 18º/2.
• Quando o requerimento é feito por um dos progenitores, o juiz, depois de ouvir o outro e o MP,
decide de acordo com o interesse do menor. A representação pode ser atribuída a só um dos
pais, ao MP, ou pode ser designado curador especial – art.º 18º/3.

2. Dos maiores acompanhados - Lei n.º 49/2018 de 14 de agosto

• O maior impossibilitado, por razões de saúde, deficiência, ou pelo seu comportamento, de


exercer, plena, pessoal e conscientemente, os seus direitos ou de, nos mesmos termos, cumprir
os seus deveres, beneficia de medidas de acompanhamento (art.º 138º CC).
• O acompanhamento é decidido pelo tribunal, após audição pessoal e direta do beneficiário,
e ponderadas as provas (art. 139º/1 CC). Em qualquer altura do processo, podem ser
determinadas as medidas de acompanhamento provisórias e urgentes, necessárias para
providenciar quanto à pessoa e bens do requerido (art. 139º/2 CC).
• O acompanhamento é requerido pelo próprio ou, mediante autorização deste, pelo cônjuge,
pelo unido de facto, por qualquer parente sucessível ou, independentemente de autorização,
pelo Ministério Público (art. 141º/1 CC). Esta autorização do beneficiário pode ser suprida pelo
tribunal quando, em face das circunstâncias, este não a possa livre e conscientemente dar, ou
quando para tal considere existir um fundamento atendível (art. 141º/2 CC)
• O pedido de suprimento da autorização do beneficiário pode ser cumulado com o pedido de
acompanhamento (art. 141º/3 CC).
• O acompanhante, maior e no pleno exercício dos seus direitos, é escolhido pelo
acompanhado ou pelo seu representante legal, sendo designado judicialmente (art. 143º/1
CC). Na falta de escolha, o acompanhamento é deferido, no respetivo processo, à pessoa
cuja designação melhor salvaguarde o interesse imperioso do beneficiário, sendo que o art.
143º/2 CC apresenta uma lista.
• Se for um regime de representação, aplica-se o art. 16º/1 CPC
• Se for um regime de autorização, aplica-se o art. 19º/1 CPC. A intervenção do maior
acompanhado quanto a atos sujeitos a autorização fica subordinada à orientação do
acompanhante, que prevalece em caso de divergência com o acompanhado.

C) Nomeação do representante legal

Pode acontecer que o incapaz não tenha representante legal na altura em que se pretende propor
uma ação em seu nome, ou quando a ação foi proposta contra ele. Se a urgência de nomeação de
representante não se compadece com a demora própria do respetivo processo, deverá ser
nomeado um curador provisório. Será um curador “ad litem”, que cessará as suas funções logo que
seja nomeado o representante legal – art. 17º CPC.

Se a questão da incapacidade judiciária surgir no momento da citação por se ter verificado a


impossibilidade de o citando a receber, o incapaz será representado por um curador especial – art.
20º CPC.

A necessidade de nomeação de curador provisório surgirá não só nos casos em que o incapaz não
tem representante legal - art. 17/1 CPC – mas também naqueles casos em que, tendo-o, o mesmo
está impossibilitado de exercer a representação – art. 17/4 CPC.

Pode ainda surgir a necessidade de nomear curador provisório apesar de não faltar o representante
legal, é o que acontece quando no decurso do processo, se verifica a falta de acordo dos
progenitores quanto à orientação da defesa dos interesses do menor – art. 18/2 CPC.

Por fim, pode também ser necessário nomear um curador provisório sempre se os interesses do
incapaz estiverem em oposição com os do representante legal.
• Ex.: nas ações de impugnação da paternidade – 1846º CC

D) Defesa do incapaz pelo Ministério Público – art.º 23º CPC

Se o incapaz ou o seu representante legal não deduzir oposição, incumbe ao Ministério Público a
defesa dele, para o que será citado. Assim dá a lei ao incapaz uma segunda oportunidade de
defesa a cargo do Ministério Público, sempre que o incapaz ou o seu representante legal quando
devidamente citados, não deduzem oposição. Para isso é citado o Ministério Público e corre
novamente o prazo para a contestação.

Quando o ministério público represente o autor, será nomeado um defensor oficioso – art. 21/2 CPC.
Este defensor oficioso desempenhará o papel que ao MP caberia.
Não surgirá, portanto, a necessidade de tal representação, se o ausente ou o incapaz já tiverem
constituído mandatário judicial – art.º 21º/3 CPC.
E) Sanação da incapacidade judiciária e da irregularidade de representação – art.º 27º CPC

A incapacidade judiciária e a irregularidade de representação são sanadas mediante a intervenção


ou citação do representante legítimo ou do curador do incapaz - art. 27/ 1 CPC.

Se estes ratificarem os atos anteriormente praticados, o processo segue como se o vício não existisse
- art.º 27/2 CPC.

Em suma, se o incapaz estiver por si em juízo quando só podia estar por intermédio do seu
representante legal ou de curador, verifica-se um caso de incapacidade judiciária, que constitui uma
exceção dilatória - art. 577/ c) CPC. Mas a incapacidade pode ser sanada a todo o tempo pela
intervenção do representante legítimo. Basta que este ratifique o processado pelo incapaz para que
o vício se considere sanado. A ratificação pode ser feita por simples requerimento.

No caso de não ratificar, fica sem efeito o processado a partir do momento em que a falta se
verificou, renovando-se os prazos para a prática dos atos atingidos.

Há irregularidade de representação quando, embora o incapaz esteja representado em juízo não o


esteja pelo devido representante, ou seja, por aquele a quem a lei atribui o poder de representação.
As consequências são as mesmas que referimos para a incapacidade.

Se a irregularidade verificada consistir na preterição de um dos pais, tem-se como ratificado o


processado anterior, quando preterido devidamente notificado, nada disser dentro do prazo fixado,
havendo desacordo dos pais acerca da repetição da ação ou da renovação dos atos, esse
desacordo será decidido em conformidade com disposto no art. 18º e art. 27/3º CC.

Legitimidade das Partes


a) Noção

A legitimidade49 consiste na posição das partes numa determinada ação.


Significa que o autor é o titular do direito e que o réu é o sujeito da obrigação, considerando
que o direito e a obrigação na verdade existam.
Assim, a parte terá legitimidade como autor se for ela quem juridicamente pode fazer valer a
pretensão perante o réu, admitindo que a pretensão tenha existência.
A parte terá legitimidade como réu se for ela a pessoa que juridicamente se pode opor à
pretensão do autor, por ser a pessoa cuja esfera jurídica é diretamente atingida pela providencia
requerida, se a ação vier a proceder.
Se as partes fossem ilegítimas, a decisão que viesse a ser proferida sobre o mérito da causa
não teria eficácia, visto que não poderia vincular os verdadeiros titulares da relação jurídica litigante,
ausentes na lide.
É, portanto, necessário que estejam em juízo, na posição de autor e de réu, as pessoas que
são titulares da relação jurídica controvertida.

O art.º 30º CPC define a legitimidade servindo-se do critério do direto interesse.


• O autor é parte legítima quando tem interesse direto em demandar.
• O réu é parte legítima quando tem interesse direto em contradizer.

✓ Exemplifiquemos: O credor tem interesse direto em pedir ao tribunal que condene o


devedor no pagamento da importância que este lhe deve. O devedor tem interesse

49 Por legitimidade entende-se a posição que determinado agente ou parte ocupa numa determinada
situação/relação jurídica.
direto em intervir como réu, porque é na sua esfera jurídica que se irá repercutir o efeito
da eventual condenação no pagamento da importância peticionada pelo autor.

Como se viu, para que possamos falar de legitimidade não basta que as partes tenham interesse
jurídico na procedência ou improcedência da ação. As partes têm de ter interesse direto em
demandar ou em contradizer.

Por exemplo:
• Um pai pode ter interesse em que seja paga ao seu filho, maior de idade, uma importância
que lhe é devida por determinada pessoa. No entanto, não tem legitimidade para propor a
adequada ação contra o devedor, em substituição do filho. Falta-lhe o interesse direto. Não é
suficiente o interesse indireto ou reflexo.

O interesse significa utilidade para o autor e o prejuízo para o réu. Neste sentido, dispõe o art.º 30º/2
CPC que o interesse em demandar se exprime pela utilidade derivada da procedência da ação e o
interesse em contradizer, pelo prejuízo que dessa procedência advenha.

Na falta de indicação da lei em contrário, são considerados titulares do interesse relevante para o
efeito da legitimidade os sujeitos da relação controvertida, tal como é configurada pelo autor – art.º
30º/3 CPC – legitimidade (processual) assente na titularidade da relação material controvertida.

A ilegitimidade surgirá nos casos em que se verifica divergência entre as pessoas identificadas pelo
autor e as que realmente foram chamadas a juízo, isto é, quando estas pessoas não são sujeito da
relação controvertida delineada pelo autor. A parte é sempre legitima se for tida como titular da
relação jurídica tal como é configurada pelo autor da petição. No caso de não ser verdadeiro titular,
provando-se isso, observar-se-á a absolvição do pedido – pelo que não faz qualquer sentido o autor
nomear como titular uma pessoa que efetivamente não o é.

Há, portanto, uma necessidade de a ação correr somente entre as pessoas que não são estranhas á
situação jurídica controvertida.

Só é parte legitima quem revela o interesse a uma tutela jurisdicional favorável, seja quanto á
procedência ou improcedência da pretensão concretamente formulada. É parte legítima quem
puder retirar alguma vantagem com a decisão.

Exemplos:

• Um condómino não tem legitimidade processual para cobrar judicialmente os créditos do


condomínio sobre outro condómino, já que não é portador do interesse tutelado pelo direito
invocado, mas pelo contrário o portador desse interesse é o administrador do condomínio em
representação deste;

Legitimidade substantiva/: atribui titularidade às pessoas efetivamente. Só se sabe na fase de


instrução da causa. A consequência da falta é a absolvição do pedido – porque já coloca em causa
o mérito da causa. Legitimidade ao nível do mérito da causa (direito ao conteúdo do pedido
formulado contra o réu – pedido esse fundamentado com factos essenciais).

Legitimidade

Processual – art.º 30º CPC Substantiva/material


• Singular * Mérito da Causa
• Plural * Instrução/Prova
Pode-se ter legitimidade processual, mas não ter legitimidade substantiva. Na hipótese de uma
pessoa se configurar parte da relação material controvertida, mesmo não sendo, não há
ilegitimidade processual – de acordo com o art.º 30º/3 – nós partimos da hipotese de como a autora
intentou a ação.
Não nos podemos esquecer que a verdade processual não é a verdade real. É na fase de instrução
que vamos comprovar a veracidade.

Assim:
• A falta de legitimidade processual constitui uma exceção dilatória – art.º 576º e 577º alínea e).
consequentemente, o juiz deve abster-se de conhecer o pedido e absolver o réu da instância
– art.º 278º/1-d).
• A falta de legitimidade substantiva/material gera absolvição do pedido.

b) Pluralidade de partes

Na maioria dos casos as ações têm apenas duas partes – por exemplo, credor vs. devedor. A isto
chama-se legitimidade singular.

No entanto, por vezes a ação é proposta por vários autores ou contra vários réus. Nestes casos,
existem uma pluralidade de partes. Assim, a pluralidade pode ser:
• Ativa – ação proposta por vários autores;
• Passiva – ação proposta contra vários réus;
• Mista – ação é instaurada por vários autores contra vários réus.

Quando ao momento, a pluralidade das partes pode ser:


• Inicial – quando acontece no momento em que é proposta a ação;
• Superveniente – como por exemplo no caso de intervenção de terceiros, espontânea (art.º
311º e ss.) ou provocada (art.º 316º e ss.).

Quanto à sua natureza, a pluralidade de partes pode dar origem:


• Ao litisconsórcio – há uma pluralidade de partes, mas unicidade quanto à relação material.
Ou seja, temos uma pluralidade de partes para uma única relação material.
• À coligação – há uma pluralidade de partes e uma diversidade de relações materiais
controvertidas.

c) Legitimidade plural – litisconsórcio

Quando o interesse respeitar a uma pluralidade de partes principais que se unam no mesmo processo
para discutirem uma só relação jurídica material estamos perante a figura do litisconsórcio50.

Para haver litisconsórcio é necessária a formação de uma pluralidade de partes principais. Por isso,
não se formará litisconsórcio no caso da assistência, visto que o assistente é parte acessória – art.º
326º e ss.

 Litisconsórcio voluntário – em alguns casos a pluralidade de partes não é obrigatória. É


permitido que só o autor e o réu tenham intervenção no processo, embora os restantes
interessados também o possam fazer, se assim o quiserem, colocando-se ao lado de um ou de
outro.
✓ Há “uma simples acumulação de ações, conservando cada litigante uma posição de
independência em relação aos seus compartes”. Ou seja, neste as partes mantêm a
sua autonomia. Art.º 35º CPC.
➢ A acumulação de ações depende exclusivamente da vontade das partes – art.º
32º CPC.
✓ Sendo voluntário, o único efeito resultante da não intervenção dos diversos interessados
traduz-se apenas na perda dos benefícios que poderiam ser colhidos.

50 Etimologicamente significa comparticipação na lide.


➢ Exemplo: se o credor demandar apenas um dos vários devedores conjuntos, só
poderá obter a condição daquele réu no cumprimento da quota parte da sua
responsabilidade – art.º 32º/1 segunda parte CPC.
➢ A não intervenção de outros interessados não terá nenhuma influência sobre a
legitimidade do(s) outro(s) que estão no processo.

 Litisconsórcio necessário – em determinados casos é exigida a intervenção de todos os


interessados.
✓ Há “uma única ação com pluralidade de sujeitos”. Ou seja, neste as partes
apresentam-se como se fossem uma única. Art.º 35º CC.
➢ A cumulação é imposta por lei ou resulta de prévia determinação dos
interessados ou da natureza da relação jurídica – art.º 33º CPC.
✓ Sendo necessário, a não intervenção de todos os interessados dá origem a uma
situação de ilegitimidade daquele ou daqueles que estão no processo. Os interessados
que participaram na ação não têm legitimidade se não forem acompanhados dos
restantes que nela deviam figurar.

Tendo em conta o que foi dito nos dois pontos precedentes, facilmente se compreende que a
ilegitimidade plural só se pode verificar no caso de litisconsórcio necessário. Faltando algum dos
interessados – do lado ativo ou passivo – essa falta acarreta a ilegitimidade dos restantes.

d) Litisconsórcio voluntário

Em regra, o litisconsórcio é voluntário para a generalidade das relações jurídicas com pluralidade de
sujeitos. Estes não têm necessariamente de intervir na ação. Só se desejarem. A ação pode ser
intentada por todos os interessados ou contra todos eles. Assim, são possíveis várias situações:
• Podem os vários interessados decidir propor a ação conjuntamente;
• Pode o autor propor a ação contra vários réus;
• Depois de proposta a ação, pode o autor ou o réu promover a intervenção de terceiros.

Esta faculdade resulta do art.º 32º CPC – “Se a relação material controvertida respeitar a várias
pessoas, a ação respetiva pode ser proposta por todos ou contra todos os interessados; mas, se a lei
ou o negócio for omisso, a ação pode também ser proposta por um só ou contra um só dos
interessados, devendo o tribunal, nesse caso, conhecer apenas da respetiva quota-parte do interesse
ou da responsabilidade, ainda que o pedido abranja a totalidade.”

Nas obrigações solidárias, o credor pode, em vez de propor a ação apenas contra um, demandar
conjuntamente os devedores – art.º 517º/1 CC. O credor não poderá obter uma decisão válida
relativamente a todos os devedores se optar por demandar apenas um dos devedores da totalidade
do crédito – art.º 522º + 512º e 518º CC. No entanto, mesmo que demandado apenas um dos
devedores, não deixa de estar assegurada a legitimidade – 32º/2 CPC.

No domínio das obrigações conjuntas, o credor que intente a ação apenas contra um dos devedores
só poderá obter decisão respeitante à sua quota-parte da dívida – art.º 32º/1 CPC.

e) Litisconsórcio necessário

O litisconsórcio diz-se necessário quando todos os interessados devam demandar ou ser demandados.

A falta de qualquer dos interessados é fundamento de ilegitimidade dos que intervieram na ação. Ou
seja, os interessados que participaram na ação não têm legitimidade se não forem acompanhados
dos restantes que nela deviam figurar.

Conforme dispõe o art.º 33º/1, o litisconsórcio necessário pode ser:

• Legal – o litisconsórcio necessário é exigido por lei. Por sua vez, há uma distinção entre:
✓ Legitimidade ativa – por quem pode/deve ser proposta a ação
✓ Legitimidade passiva – contra quem é proposta a ação

➢ Exemplo: ações que têm de ser propostas por ambos ou contra ambos os
cônjuges – art.º 34º CPC.
o Em vez de ser proposta por ambos os cônjuges – litisconsórcio necessário
ativo – pode a ação ser instaurada por um deles com o consentimento
do outro. Se não houver consentimento para a propositura da ação, a
sua falta pode ser judicialmente suprida – art.º 34º/2 e 29º CPC.
o Devem ser propostas contra ambos os cônjuges – litisconsórcio
necessário passivo – as ações emergentes de facto praticado por
ambos; as ações praticadas por um deles, mas em que pretenda obter-
se decisão suscetível de ser executada sobre bens próprios do outro; e
ações cumpridas no nº1 – art.º 34º/3 CPC.

• Convencional – o litisconsórcio necessário é convencionado pelas partes.

➢ Exemplo: quando duas ou mais pessoas efetuam um depósito51, podem


convencionar que a coisa só por todos os depositantes em conjunto pode ser
levantada.

✓ Em virtude da convenção, ação deve ser proposta por todos. A falta de qualquer dos
interessados origina a ilegitimidade dos restantes.

➢ Quanto ao nosso exemplo: a ação em que se pede a restituição da coisa


depositada deve ser proposta por todos os depositantes.

• Natural - resulta da própria natureza da relação jurídica – exige-se a intervenção de todos os


interessados para que a decisão produza o seu efeito útil normal. A decisão produz o seu
efeito útil normal quando regula definitivamente a situação concreta que foi submetida à
apreciação do tribunal – art.º 33º/2 CPC.
✓ A decisão tem efeito útil normal quando possa persistir inalterada apesar de não
vincular todos os interessados.
✓ A decisão não produz o seu efeito útil normal numa ação em que intervirem apenas
alguns dos interessados, se os vencedores dessa ação puderem vir a ser chamados a
uma segunda ação, com risco de verem alterada a decisão anterior.

Exemplos de litisconsórcio necessário:


• Obrigações indivisíveis com pluralidade de devedores52 – 535º CC;
• Direito de preferência com pluralidade de titulares – 419º/1 CC;
• Exercício de direitos da herança – 2109º/1 CC.

f) Coligação53

Na coligação há uma pluralidade de partes e uma pluralidade de pedidos – referentes a uma


pluralidade de relações jurídicas materiais.

A cumulação de ações justifica-se pela unidade da fonte de onde promanam.

Assenta numa pluralidade de partes e numa pluralidade de pedidos formulados por vários autores ou
contra vários réus. A coligação é voluntária, uma possibilidade, e não uma imposição.

51 “Contrato pelo qual uma das partes entrega à outra uma coisa, móvel ou imóvel, para que a guarde, e
a restitua quando for exigida” – art.º 1185º CC. Armazenamento.
52 Exemplo: A, B e C comprometem-se a entregar a D um automóvel.
53 Coligar significar tornar unido, ligar, juntar.
É permitida a coligação de autores contra um ou vários réus e é permitido a um autor demandar
conjuntamente vários réus, por pedidos diferentes:
• quando a causa de pedir54 seja a mesma e única (art.º 36º/1 CPC), ou;
✓ Exemplo: temos a mesma causa de pedir quando as vítimas do mesmo acidente de
viação demandarem, na mesma ação, a companhia de seguros do veículo. Dado que
a coligação é voluntária, a falta de alguma das vítimas na ação não determina a
ilegitimidade da outras.

• quando os pedidos estejam entre si numa relação de prejudicialidade ou de dependência –


art.º 36º/1 CPC.
✓ Relação de prejudicilaidade – quando a decisão de um pode influir/influenciar na
decisão do outro.
✓ Relação de dependência – quando o conhecimento de um deles só pode ter lugar no
caso de se verificar a procedência do outro.

É igualmente lícita a coligação quando, sendo embora diferente a causa de pedir, a procedência
dos pedidos principais dependa essencialmente da apreciação dos mesmos factos ou da
interpretação e aplicação das mesmas regras de direito ou de cláusulas de contratos perfeitamente
análogas – art.º 36º/2 CPC.

Por último é admitida a coligação quando os pedidos deduzidos contra os vários réus se baseiam na
invocação da obrigação cartular, quanto a uns, e da respetiva relação subjacente, quanto a outros
– art.º 36º/3 CPC.
✓ Exemplo: é o que se verifica quando, na coligação de réus, uns são demandados como
subscritores de um título de crédito e outro ou outros com base na obrigação subjacente que
deu origem àquele título.

Para que seja permitida a coligação é necessário que não se verifique nenhum os obstáculos
previstos no art.º 37º CPC.

g) Modo de sanar a ilegitimidade

Como se disse, é muito difícil depararmo-nos com uma ilegitimidade singular. A parte é sempre
legitima se for tida como titular da relação jurídica tal como é configurada pelo autor da petição.

Só poderá falar-se em ilegitimidades nos casos, muito raros, em que se verificar divergência
entre as pessoas identificadas pelo autor e as que realmente foram chamadas a juízo, ou seja,
quando estas pessoas não são os sujeitos da relação convertida delineada pelo autor.

Nestes casos, a ilegitimidade constitui uma exceção dilatória – art.º 576º e 577º alínea e).
consequentemente, o juiz deve abster-se de conhecer o pedido e absolver o réu da instância – art.º
278º/1-d).

A ilegitimidade plural pode verificar-se, como dito, no caso de litisconsórcio necessário. A falta
de algum dos interessados, quer do lado ativo, quer do lado passivo, gera a ilegitimidade de quem
está em juízo não devidamente acompanhado.

Significa isto que a ilegitimidade é sanável mediante a intervenção, espontânea ou


provocada, da parte cuja falta gera vício – art.º 261º CPC.
• Intervenção espontânea – terceiro resolve intervir por sua iniciativa na causa pendente – art.º
311º e ss.
• Intervenção provocada – quando a intervenção do terceiro é requerida por qualquer das
partes da ação – art.º 316º e ss.

54 Ato ou facto jurídico que fundamenta a pretensão deduzida pelo autor – art.º 581º/4 CPC.
A intervenção é admissível até 30 dias depois de transitar em julgado o despacho que,
conhecendo da ilegitimidade, pôs termo ao processo. Admitindo o chamamento da pessoa em
falta, a instancia extinta considera-se renovada – art.º 261º/2 CPC.
Ou seja, a intervenção da parte cuja falta ocasiona a ilegitimidade pode ser requerida antes
ou depois do transito em julgado do despacho que pôs termo ao processo. Se for requerida antes e a
intervenção for admitida a instância não chega a extinguir-se. Se for depois a instancia é renovada.

h) Substituição Processual

A substituição processual, também dita legitimidade indireta, verifica-se nas situações em que
a arte legitimidade não é o titular do objeto do processo.

O motivo pelo qual a lei permite a atuação do substituto processual pode ser variado: o
substituto pode intervir, por exemplo, porque é contitular do direito litigado (512º; 1405º/2 CC), porque
é administrador de um património pertencente a um terceiro; ou porque é alienante da coisa
alienada (263º CPC).

A substituição processual também pode ser voluntária, isto é, também pode ter por
fundamento um ato jurídico. Por exemplo, um dos cônjuges pode autorizar o outro a propor uma
ação relativa a um bem comum; a assembleia de condomínios pode autorizar o administrador do
prédio no regime da propriedade horizontal a agir em juízo, em representação dos condóminos,
contra qualquer condómino ou contra um terceiro (1437º/1 CC).

A substituição processual total é aquela em que o substituto processual não é titular do objeto
do processo; a substituição parcial verifica-se quando a aparte é contitular desse objeto. É o que
acontece, por exemplo, quando o credor solidário instaura, desacompanhado dos demais credores,
a ação de cumprimento da dívida (art.º 512º CC) ou o comproprietário reivindica de terceiro a cosa
comum (1405º/2 CC).

A substituição processual pode ser própria ou imprópria.


A substituição própria55 é aquela em que o substituto processual pode estar em juízo sem a
presença simultânea do titular do objeto (generalidade).
A substituição imprópria é aquela em que se exige a presença simultânea do substituto e da
arte substituída. Por exemplo: a sub-rogação judicial requer a citação do devedor (608º CC), o que
significa que a ação sub-rogatória deve ser proposta não só contra o devedor do devedor do autor,
mas também contra este último devedor, que é a parte substituída.

A substituição representativa é aquela em que o substituto processual age na defesa, ainda


que não exclusiva, de interesses alheios. O seu interesse em demandar ou em contradizer é indireto e
não pessoa. Em geral, todavia, a substituição não é representativa, isto é, o substituto processual
defende em juízo interesses próprios, pelo que o seu interesse em demandar ou em contradizer,
embora indireto, é pessoal.

A substituição processual pode verificar-se tanto na parte ativa como na parte passiva. É exemplo de
substituição processual passiva aquela que resulta da alienação da coisa ou de direito litigiosa pela
parte passiva (art.º 263º).

Efeitos:

Um dos efeitos típicos da substituição processual é a extensão à parte substituída do caso julgado
formado na ação em que intervém o substituto processual.

55 Exemplos: art.º 512º e art.º 538º CC


Aula professora Joana Costa Lopes:

Substituição Processual – está em causa o interesse do substituído – 263º CPC – aplicável quando o
objeto da causa é transmitido para terceiro. Substituto ainda tem interesse indireto logo tem
legitimidade para estar no âmbito da ação. Só há a substituição automática quando há uma
habilitação do substituído. Por meio de habilitação o terceiro pode vir para o processo como parte
principal, mas o substituto não deixa de o ser, de ter legitimidade indireta.
• Não corre automaticamente. Tem de haver habilitação (paralelo à intervenção
provocada) - necessário fazer um requerimento ao tribunal.
• Aqui o transmitente continua a ter um interesse indireto na ação. Ou seja, temos dois
interessados.
• Instituto que surge no âmbito da legitimidade processual – exceção à regra do 30º/3 – a
exceção vem na primeira parte – aí remetemos para o 263º - transmitente continua a ser
parte legitima, juntamente com o transmissário

Substituição processual: artigo 30/3 1ª parte; 263 CPC (transmissão do direito em litigio)

Exemplo

António e Bento celebraram um contrato de compra e venda de um prédio (tinha seis frações-
apartamentos).

Bento deve a António 500.000 euros.

O António mete uma ação no pagamento deste montante de condenação no pagamento deste
montante;

Bento venda as frações a Carlos.

Apesar da transmissão o bento tem legitimidade processual indireta. Só pode haver substituição das
partes principais com o regime da habilitação – transmissário passa a ocupar a posição de réu.

A substituição processual acontece quando há:


• sub-rogação;
• Transmissão do direito em litigio (contrato de compra e venda, por exemplo);
• Cessão de créditos;
• Cessão da posição contratual;
• Assunção de dividas;
• Sub-rogação;
o Todos os fenómenos de transmissão de obrigações. portanto.

Artigos importantes: 351º e ss. e mais especificamente 356º

Interesse Processual
A lei não lhe faz referencia direta.

Existe interesse processual quando se puder dizer que o autor tem necessidade de instaurar e fazer
seguir uma ação para a tutela do seu direito.

O interesse processual pressupõe que é inevitável recorrer à via judicial por não restar ao indivíduo
outro modo de satisfazer a sua pretensão.
Os italianos em vez de interesse processual, chamam-lhe interesse em agir e os alemães necessidade
de tutela jurídica. Estas designações são sugestivas para compreender melhor o alcance deste
pressuposto processual.

Significa em suma que, “o direito do demandante em agir está carecido de tutela judicial”, tem por
isso de se socorrer dos tribunais e instaurando o respetivo processo.

Com a exigência deste pressuposto pretende-se evitar que as pessoas sejam chamadas em juízo sem
que nada o justifique e, ao mesmo tempo, evitar que os tribunais sejam sobrecarregados com a
atividade que, por ser desnecessária, não aproveitaria a ninguém.

Para que se justifique a intervenção do tribunal, não basta que o autor alegue e prove a titularidade
de um direito. Deve ainda convencer de que na situação concreta, o seu direito necessita da tutela
judicial que solicita.

Para alguma doutrina, o interesse processual é um pressuposto processual autónomo, cuja não
verificação gera uma exceção dilatória inominada (MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA, tendo acolhimento
na Jurisprudência).

Em sentido contrário, há também quem defenda que o interesse processual não se apresenta como
um pressuposto processual (CASTRO MENDES e RUI PINTO).

Pelo que foi dito, parece que o interesse processual, só diz respeito à parte que toma a iniciativa da
ação, o autor ou o demandante. Porém, depois de proposta, pode também o réu (demandado) ter
interesse em que a ação prossiga. Por isso, a lei tutela os seus interesses, fazendo depender a
desistência da instância da aceitação do réu, se requerida depois de ter sido oferecida a
contestação – art.º 286/1º CPC.

A desistência da instância é livre até ao momento em que o réu apresentar a contestação. A partir
daí depende da aceitação do réu. Na verdade, o réu pode ter interesse em que seja proferida
decisão de mérito para ver resolvida, de uma vez por todas, a questão que no processo é discutida.
Basta pensar na hipótese de a petição inicial ter sido elaborada de forma pouco cuidada, de modo
a comprometer irremediavelmente o êxito da pretensão do autor. Se o réu aceitasse a desistência da
instância, isso apenas conduziria à extinção da instância (art.º 277.º, al. d) – pelo que o autor poderia
mais tarde propor uma nova ação e apresentar uma petição porventura mais esmerada.

Por outro lado, a desistência do pedido é livre, pois, como se compreende, é vantajosa para o réu. E,
continuando a tomar em conta o interesse do réu, a lei determina que a desistência do pedido não
prejudica a reconvenção (art.º 286.º/2).

A existência deste pressuposto processual não é encarada com igual acuidade nas diversas espécies
de ações:

• Ações de condenação e ações executivas: a violação do direito do autor evidencia


claramente a necessidade de pedir ao tribunal a reintegração do direito violado. O autor tem
interesse em propor a ação. Basta que o autor alegue ser titular de um crédito e que houve
incumprimento da prestação por parte do réu para que não fiquem quaisquer dúvidas sobre o
seu interesse processual. Nem se exige que a violação do direito seja atual, pois que é possível
pedir a condenação no pagamento de prestações vincendas e até a condenação in
futurum. Também não existem dúvidas sobre a existência de tal pressuposto processual se o
autor invocar a ofensa de um direito real ou de um direito de personalidade.

Excecionalmente, a lei determina que, apesar de não ser exigível a obrigação no momento em que
a ação é proposta, o réu seja condenado a satisfazer a prestação no momento próprio (art.º 610.º/1).
Neste caso, teve-se em vista o princípio da economia processual, por forma a aproveitar a atividade
processual desenvolvida até ao momento de proferir a sentença.
No entanto, atendendo à ausência de interesse processual do autor, este será condenado nas custas
e a satisfazer os honorários doa advogado do réu - art.º 610º/3.

Se essa mesma falta de interesse processual do autor, por não ser exigível a obrigação, for detetada
no despacho liminar deve determinar o indeferimento liminar. O princípio da economia processual só
deve ter tido em conta no momento de proferir a sentença. Para não desperdiçar toda a atividade
processual até então desenvolvida, a sentença condenará a satisfazer a prestação na data em que
esta se vencer.

Quando o réu não tenha dado causa à ação e a não conteste, são as custas pagas pelo autor (art.º
535.º/1).

• Ações constitutivas: existe interesse processual quando o direito potestativo correspondente


não é daqueles que possa ser exercido por simples declaração de vontade do respetivo
titular.

Quando a ação constitutiva é de divórcio ou de separação de pessoas e bens, o direito potestativo


não pode ser exercido sem o concurso do tribunal.

Se se trata da constituição de uma servidão legal, o direito potestativo em que assenta não tem de
ser exercido necessariamente por via judicial, podendo sê-lo por via extrajudicial. Não se exige,
porém, que o autor, para fundamentar o seu interesse processual, alegue que tentou, sem êxito,
obter o acordo com a parte contrária.

Quando a ação constitutiva tem subjacente um direito potestativo que pode ser exercido mediante
um simples ato unilateral, o tribunal deve abster-se de conhecer do pedido, por faltar o interesse
processual. É o que se passa no caso de revogação ou renúncia de procuração e no caso de
resolução do contrato (art.º 1170.º/1, 1179.º e 436.º CC).

• Ação declarativa de simples apreciação: a questão da presença do interesse processual


surge sobretudo no domínio desta ação, para a qual os defensores do pressuposto exigem
que se verifique uma situação de incerteza objetivamente grave, de molde a justificar a
intervenção judicial.

Nas ações de simples apreciação torna-se mais difícil concluir pela existência do interesse em agir.
Trata-se de ações em que ainda não se verificou qualquer violação do direito. O autor apenas
propõe a ação para pôr termo a uma situação de incerteza ou de dúvida acerca da existência ou
inexistência de um direito ou de um facto.

Qual o grau de incerteza ou de dúvida que se deve exigir para que se possa dizer que o autor tem
interesse processual?

A dúvida tem de ser objetiva e não subjetiva. Tem de ser fundamentada em factos concretos, não
sendo suficiente que exista apenas na mente do autor. Não basta que a ação tenha por objeto a
discussão de uma questão de cariz meramente académico.

Faltará interesse processual ao autor que pretende propor uma ação com o fim de negar a
paternidade que lhe foi atribuída por uma pessoa, em tom jocoso. Esta atribuição, por não ser séria,
não tem qualquer gravidade.

A gravidade da dúvida depende do prejuízo que a situação de incerteza pode gerar.


✓ Se uma pessoa pretende vender um determinado prédio, a incerteza quanto à existência de
uma servidão de passagem pode influenciar o respetivo preço.
Nas ações de simples apreciação devem verificar-se 2 requisitos (para que haja interesse processual):
➔ Objetividade;
➔ Gravidade.

Consequências da falta de interesse processual

A falta de qualquer pressuposto processual constitui exceção dilatória. A falta de interesse


processual, como pressuposto processual, constitui uma exceção dilatória (art.º 577º/2), tendo como
consequência a absolvição do réu da instância. Esta solução para quem defenda, como MIGUEL
TEIXEIRA DE SOUSA, com acolhimento na Jurisprudência, que o interesse processual é um pressuposto
processual.

Nos casos em que a citação depende de prévio despacho judicial - art.º 226.º/4 – se, da petição
inicial, resultar manifesta falta de interesse processual, o juiz deve indeferi-la liminarmente, em vez de
ordenar a citação.

Se a falta do pressuposto for reconhecida no despacho saneador, deve o juiz abster-se de conhecer
do mérito da causa, absolvendo o réu da instância (art.º 278.º, al. e)).

Quando no momento de proferir a sentença se verificar que a obrigação ainda não é exigível, isso
não obstará a que o juiz condene o devedor a satisfazer a prestação no momento em que a
obrigação se vença (art.º 610.º). Neste caso, a única sanção pela falta de interesse processual
traduzir-se-á na condenação do vencedor no pagamento das custas e no dos honorários do
advogado do réu, por se entender que o réu não deu causa à ação (art.º 610.º/3 + art.º 535.º).

Questiona-se, contudo, se se justificará em todo e qualquer caso que o tribunal deixe de apreciar o
mérito da causa se faltar o interesse processual. Ou seja, não se poderá aplicar nestes casos o
previsto no art. 278º/3 2ª parte?

➔ SIM – pode acontecer que falte o interesse processual, mas a melhor tutela do réu seja,
não a absolvição do réu da instância, mas sim a absolvição do pedido. Por exemplo:
estamos perante uma ação de condenação em prestações vincendas e o tribunal chega
à conclusão de que não há mais prestações vincendas a prestar no âmbito do contrato,
tendo sido prestadas todas as prestações que deveriam ter sido prestadas. Ora, neste
caso, poderíamos pensar que neste caso não haveria interesse processual: mas não seria
mais razoável absolver o réu do pedido dizendo isso mesmo (absolvição de mérito)? Neste
caso sim, esta seria uma tutela mais forte, ao ter-se em conta a realidade substantiva, do
que se se absolvesse a instância e ter em conta a realidade processual.

Se a inutilidade da lide surgir no momento posterior à propositura da ação, como acontece, por
exemplo, no caso de desaparecimento da coisa reivindicada, deve a instância ser declarada extinta
(art.º 277.º, al. e)).

Professora PAULA COSTA E SILVA:

1.1 A matéria do pressuposto processual inominado do interesse em agir está, segundo da


Professora Paula Costa e Silva, intrinsecamente ligada à responsabilidade processual simples
que se encontra no artigo 535.º do CPC (responsabilidade do autor pelas custas) e prevê a
inversão do pagamento das custas e encargos processuais, contudo a Professora defende
que na verdade e em termos dogmáticos o que está em causa não é uma responsabilidade
propriamente dita porque a propositura de ações não constitui um ato ilícito, mas sim uma
norma que prevê um critério de imputação de custas e encargos processuais;
1.2 A regra geral que regula a repartição de custas e encargos processuais consta do artigo
527.º do CPC que prevê que “quem perde, paga tudo” – “o vencido paga ao vencedor”;

1.3 Porém, no que diz respeito à responsabilidade processual simples, é essencial abordar o
disposto no artigo 535.º do CPC tendo em conta que é este que regula a inversão das custas,
ou seja, mesmo que o Réu perca a ação e seja condenado no pedido, será o Autor que
terá de pagar as custas e os encargos processuais porque este, apesar de ter razão quanto
ao mérito da causa (teve uma decisão favorável): pe. Ser o autor o credor da obrigação
que vincula o devedor réu, não tem interesse processual e a ação proposta pelo autor não
era justificável ao tempo que este a propôs. Assim a consequência de o Autor intentar ações
inúteis que não merecem tutela jurisdicional no momento em que esta é proposta
consubstancia uma exceção dilatória cuja consequência não é a absolvição do réu da
instância, mas sim a inversão do pagamentos das custas e encargos processuais nos termos
do artigo 535.º do CPC;

1.4 Divergência doutrinária entre o Professor MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA e Professora PAULA COSTA E
SILVA:

a) O Professor MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA defende que o pressuposto processual do interesse em


agir decorre do artigo 30/2.º do CPC na parte que refere a utilidade das ações propostas
e que a falta do interesse processual gera uma exceção dilatória inominada que leva à
absolvição do réu da instância nos termos do artigo 278.º, al. e) do CPC;

b) A Professora PAULA COSTA E SILVA defende que a falta de prossuposto processual não tem
sempre as mesmas consequências, sendo que:

i. Regra Geral: a única consequência da falta de interesse processual é a inversão


de custas que consta do artigo 535.º do CPC, ou seja, mesmo que o Autor tenha
uma decisão favorável, é a este que lhe é imputada a responsabilidade pelas
custas.

Argumentos: à luz do sistema processual como um todo esta posição é possível


sustentar à luz do disposto no n.º 3 do artigo 610.º do CPC (condenações in
futurum) porque este refere que: 3 - Nos casos das alíneas a) e b) do número
anterior, o autor é condenado nas custas e a satisfazer os honorários do
advogado do réu, que prevê e à luz do artigo 557.º do CPC (pedidos de
prestações vincendas) o autor configura o objeto do processo partindo do
pressuposto que as obrigações ainda não são exigíveis (ou seja não existiria
interesse processual) mas se o Autor comprovar que há um grave prejuízo se este
não intentar a ação (alegação de interesse processual) naquele momento é
possível, excecionalmente, configurar ações cujo objeto é a condenação do réu
em prestações que ainda não se venceram (ou seja não são exigíveis). Assim,
neste caso, só é possível o Autor configurar ações sobre prestações vincendas
(art. 557.º do CPC) se este alegar o seu interesse processual que no caso se
materializa na alegação de grave prejuízo se este não intentar a ação naquele
momento;

ii. Contudo se o réu contestar (cf. n.º 1 do artigo 535.º do CPC) a Professora entende
que a previsão do artigo 535.º do CPC não está preenchida e nesse caso, a
consequência de falta de interesse processual será, como defende o Professor
Miguel Teixeira de Sousa, a absolvição do réu da instância;

Patrocínio Judiciário

A) Noção

O patrocínio judiciário consiste na assistência técnica prestada às partes por profissionais do foro.
Geralmente as partes não têm os conhecimentos indispensáveis para conduzir o pleito e, por isso,
devem estar representadas em juízo por técnicos devidamente habilitados para o fazer. Aliás, é
sempre conveniente que não sejam as próprias partes a conduzir diretamente a defesa dos seus
interesses no processo, por lhes faltar a serenidade desinteressada para esse efeito.

O patrocínio judiciário é exercido plenamente pelos advogados e, em termos limitados, pelos


advogados estagiários e pelos solicitadores.

Não se confunde com a assistência técnica aos advogados prevista no art.º 50.º. Esta é prestada ao
advogado e não propriamente à parte. Justifica-se nos casos em que no processo se suscitam
questões de natureza técnica para as quais o advogado não tenha a necessária preparação.

Da sua indicação – que poderá ser feita no articulado, juntamente com o oferecimento das outras
provas ou em requerimento até 10 dias antes da audiência final – deve constar a questão técnica
que irá ser apreciada (art.º 50.º/2).

B) Constituição obrigatória de advogado

Em todas as causas é admitida a intervenção de advogados em representação das partes. Porém,


há causas em que, pela sua importância ou pela sua natureza, essa intervenção se torna obrigatória.
Só nestas causas se poderá falar do pressuposto processual.

Nas outras causas, a intervenção de advogado é apenas facultativa, o que equivale a dizer que as
partes podem litigar por si.

Nos termos do art.º 40º CPC, é obrigatória a constituição de advogado:


• Nas causas de competência de tribunais com alçada, em que seja admissível recurso
ordinário: causas da competência dos tribunais de 1ª instância. A admissibilidade de recurso
ordinário resulta da conjugação do valor da ação com o da alçada do tribunal de que se
recorre e ainda com o valor da sucumbência (art.º 629.º/1). É admissível recurso ordinário nos
casos em que o valor da ação é superior ao da alçada do tribunal de que se recorre, quando
o valor em que a parte decaiu (sucumbência) é também superior a metade dessa mesma
alçada.
• Nas causas em que seja sempre admissível recurso, independentemente do valor: causas em
que é sempre admissível recurso quaisquer que sejam aqueles valores. O art.º 629.º/2 e 3 faz
alusão a essas causas cujas decisões admitem sempre recurso independentemente do valor
da causa e da sucumbência.
• Nos recursos e nas causas propostas nos tribunais superiores: geralmente as causas são
propostas nos tribunais de 1º instância. Porém, há casos em que são propostas no Tribunal da
Relação, funcionando então como tribunal de 1ª instância. Nos tribunais superiores é sempre
obrigatória a constituição de advogado, quer para a propositura das ações nos casos em que
têm o seu início no Tribunal da Relação, quer nos casos em que as causas sobrem ao tribunal
superior pela via do recurso.

Mesmo nos casos em que é obrigatória a constituição de advogado, podem as próprias partes, por si
sós, fazer requerimentos que não envolvam questões de direito (art.º 40.º/2).

C) Mandato

Os poderes de representação em juízo são conferidos ao advogado pela parte por meio de
mandato judicial. Este pode ser conferido por meio de instrumento público ou particular (art.º 43.º, al.
a) CPC).

O mandato judicial também pode ser conferido por declaração verbal da parte no auto de
qualquer diligência que se pratique no processo (art.º 43.º, al. b)).

O mandato atribui poderes ao mandatário para representar a parte em todos os atos e termos do
processo principal e respetivos incidentes, mesmo perante tribunais superiores, sem prejuízo das
disposições que exijam a outorga de poderes especiais por parte do mandante (art.º 44.º/1). Nos
poderes que a lei presume conferidos ao mandatário está incluído o de subestabelecer o mandato –
art.º 44.º/2.

Subestabelecimento: consiste na transferência total ou parcial (pelo mandatário constituído) para


outro advogado, dos poderes que lhe foram conferidos. É feito pela mesma forma da procuração. E
pode ser com reserva ou sem reserva de poderes.

• Com reserva: haverá uma pluralidade de mandatários. Em qualquer altura o primeiro


mandatário poderá reassumir os poderes de representação e patrocínio.
• Sem reserva: implica a exclusão do anterior mandatário (art.º 44.º/3). Isto significa que o
mandatário põe termo ao mandato que anteriormente lhe foi conferido pela parte, sendo
substituído por outro advogado. Terá de haver, portanto, prévia autorização do mandante
para que se proceda à total transferência de poderes.

A eficácia do mandato depende de aceitação, que pode ser manifestada no próprio instrumento
público ou em documento particular, ou resultar de comportamento concludente do mandatário
(art.º 44.º/4).

A aceitação pode ser expressa ou resultar do comportamento que o mandatário assumiu, que revele
claramente que aceitou o mandato.

Os mandatários judiciais podem confessar a ação, transigir sobre o seu objeto e desistir do pedido ou
da instância, quando estejam munidos de procuração que os autorize expressamente a praticar
qualquer desses atos (art.º 45.º/2).
Estes atos traduzem-se num poder de disposição sobre direitos alheios. Por isso, a lei exige que o
mandatário só os possa praticar quando munido de procuração que individualize a causa e o
autorize expressamente a fazê-lo.

Porém, quando a nulidade da confissão, desistência ou transação provenha unicamente da falta de


poderes do mandatário judicial ou da irregularidade do mandato, a sentença homologatória é
notificada pessoalmente ao mandate, com a cominação de, nada dizendo, o ato ser havido como
ratificado e a nulidade suprida; se declarar que não ratifica o ato, este não produz quando a ti
qualquer efeito (art.º 291.º/3 + art.º 1163.º CC).

O mandatário pode desistir livremente do recurso interposto, sem necessidade de procuração com
poderes especiais. Neste caso, não há disposição de um direito material. Neste sentido, determina o
art.º 632.º/5 que o recorrente pode, por simples requerimento, desistir do recurso interposto até à
prolação da decisão.

D) Revogação e renúncia do mandato

O mandato pode ser revogado pela parte que concedeu os poderes e também pode o advogado
renunciar ao mandato recebido. A revogação e a renúncia devem ter lugar no próprio processo e
são notificadas tanto ao mandatário ou ao mandante, como à parte contrária (art. 47.º/1).

É a partir da notificação que se produzem os efeitos da revogação e da renúncia (art. 47.º/2).

Nos termos do art.º 47.º/3, nos casos em que é obrigatória a constituição de advogado, se a parte,
depois de notificada da renúncia, não constituir novo mandatário no prazo de 20 dias:
• Suspende-se a instância, se a falta for do autor ou do exequente;
• O processo segue os seus termos, se a falta for do réu, do executado ou do requerido,
aproveitando-se os atos anteriormente praticados;
• Extingue-se o procedimento ou o incidente inserido na tramitação de qualquer ação, se a
falta for do requerente, opoente ou embargante.

O autor está interessado em que o processo prossiga. Por isso, se não constituir novo mandatário, a
instância fica suspensa e, mais tarde, será considerada deserta (art. 281.º/1). Se foi o réu que não
constituiu novo mandatário, não se pode suspender a instância, porque isso seria do seu interesse.
Neste caso, o processo seguirá os seus trâmites aproveitando-se os atos praticados pelo advogado
cujo mandato terminou.

Sendo o patrocínio obrigatório, se o réu, o reconvindo, o executado ou o requerido não puderem ser
notificados, é nomeado oficiosamente mandatário (art. 51.º/3 + art. 47.º/4).

E) Patrocínio a título de gestão de negócios

Em caso de urgência – que deve ser alegada -, o patrocínio pode ser exercido como gestão de
negócios (art. 49.º/1). Esta dá-se quando uma pessoa assume a direção de negócio alheio no
interesse e por conta do respetivo dono, sem para tal estar autorizada (art. 464.º CC).

Esta supõe a falta de procuração ou mandato. Esta falta equipara-se à nulidade da procuração ou
mandato, ou ao seu excesso.

A gestão de negócios representa uma intromissão não autorizada na esfera jurídica de outrem que
pode trazer prejuízos ao titular (art. 466.º CC).

A parte deve ratificar a gestão dentro do prazo que o juiz lhe fixar, sob pena de o gestor ser
condenado nas custas que provocou e na indemnização do dano causado à parte contrária ou à
parte cuja gestão assumiu (art. 49.º/2).
A não ratificação determina que fiquem sem efeito os atos praticados pelo gestor.

O despacho que fixar o prazo para a ratificação é notificado pessoalmente à parte cujo patrocínio o
gestor assumiu (art. 49.º/3).

A gestão de negócios não se confunde com os casos em que, apesar de ainda não existir
procuração, já existe um contrato de mandato e, portanto, também autorização para o mandatário
intervir. Neste caso, o advogado age como mandatário, embora ainda sem procuração, que terá de
apresentar no prazo que lhe for fixado.

F) Falta ou irregularidade do mandato. Consequências

Conforme patente no art.º 41º CPC, se a parte não constituir advogado, sendo obrigatória a
constituição, o tribunal oficiosamente ou a requerimento da parte contrária, fá-lo-á notificar para o
constituir dentro de prazo certo.

Se o vício não for sanado dentro do prazo fixado, o juiz proferirá despacho de absolvição do réu da
instância, quando a falta é do autor.

Se o mandatário em falta for o do réu e não for sanada a falta no prazo acima referido, ficará sem
efeito a defesa que tiver apresentado.

Se a falta de advogado constituído se verificar na fase de recurso, este não terá seguimento.

Atenção: Não se pode confundir a falta de constituição de advogado com a falta de procuração
prevista no art. 48.º/1. Neste caso, o ato processual foi praticado por advogado, mas este não juntou
aos autos a respetiva procuração. O juiz fixar-lhe-á um prazo para o fazer. Se a procuração que junta
agora ao processo tem data anterior ao ato praticado, a junção virá tudo sanar. Se a procuração foi
passada com data posterior, a parte terá de ratificar o ato praticado pelo advogado.

G) Responsabilidade do mandatário

O advogado tem o dever de não advogar contra o direito, não usar de meios ou expedientes ilegais,
nem promover diligências reconhecidamente dilatórias, inúteis ou prejudiciais para a correta
apreciação da lei ou a descoberta da verdade (art. 85.º/2 da Lei 15/2005, de 26/1).

Quando se reconheça que o mandatário da parte teve responsabilidade pessoal e direta nos atos
pelos quais se revelou a má fé na causa, dar-se-á conhecimento do facto à Ordem dos Advogados
ou à Câmara dos Solicitadores, para que estas possam aplicar as sanções respetivas e condenar o
mandatário na quota-parte das custas, multa e indemnização que lhes parecer justa (art. 545.º).

O advogado que, por ação ou omissão, violar dolosa ou culposamente os seus deveres consagrados
no Estatuto comete infração disciplinar (art. 110.º Estatuto).
Arbitragem
A arbitragem corresponde a uma inegável manifestação do poder de autodeterminação da
vontade das pessoas – o submeter, pelos contraentes através de uma convenção de arbitragem, a
resolução de um litígio a um tribunal arbitral traduz a realização de um negócio jurídico processual
que é expressão da autonomia negocial enão da atividade jurisdicional estadual quando poder
público inerente à soberania do Estado.

Os tribunais arbitrais só possuem competência declarativa – pelo que a execução forçada das
decisões condenatórias proferidas por tribunais arbitrais é lograda nos tribunais estaduais. Mas parece
claro que atualmente podem emitir providências cautelares suscetíveis de antecipar provisoriamente
a decisão definitiva, contanto que a convenção de arbitragem o preveja.

Esta possibilidade atribuídas às partes de resolver os conflitos de interesses ,mediante juízes-


árbitros, permite que tais decisões arbitrais não sejam passíveis de impugnação à luz da teoria geral
do negócio jurídico: estas decisões não podem ser anuladas por qualquer um dos litigantes. Tais
decisões proferidas por tribunais arbitrais apenas podem, ou bem ser objeto de anulação do tribunal
judicial, nos termos e com os fundamentos do art.º 46º da Lei da Arbitragem Voluntária, ou bem
podem ser objeto de recurso para o Tribunal da Relação que desfrute de jurisdição no local da
arbitragem , caso as partes não tenham renunciado os recursos.

Natureza da arbitragem voluntária:

Na arbitragem o litígio termina com a emissão de uma decisão que conhece acerca da
verificação ou não verificação de certos factos e julga o pleito aplicando o direito constituído ou
resolve o conflito de interesses através da equidade – e é exatamente esta possibilidade de julgar
segundo a equidade , que explica por que as partes não se limitam a acordar a constituição de um
tribunal de juízes diferentes dos tribunais e dos juízes estaduais: a submissão da resolução do litígio a
um tribunal arbitral é expressão de um contrato mais intenso pelo que as partes renunciam à
jurisdição estadual no que tange à apreciação do mérito desse litígio.

Quanto aos efeitos:

A convenção de arbitragem celebrada em conformidade com a lei e a vontade das partes


obrigam-nas a promover a composição do litígio no tribunal arbitral. Não se trata de uma mera
opção ou alternativa. Daí que, se algum dos contraentes violar a convenção de arbitragem, o que
equivale a violar um negócio jurídico bilateral, essa violação pode ser invocada perante os tribunais
estaduais como meio de defesa de outro contraente, que tenha sido aí demandado: ele pode
deduzir a exceção dilatória , ou seja a exceção de preterição do tribunal arbitral voluntario ou de
convenção de arbitragem, de jeito a paralisar a ação que contra ele tenha sido motivada no
tribunal estadual à revelia daquilo que fora acordado na convenção de arbitragem.

A procedência desta exceção conduz à absolvição do réu da instância, impedindo o tribunal


estadual de apreciar o mérito da causa – todavia é um exceção que, sendo de conhecimento
provocado, depende da invocação pela parte interessada.

Constituição e o funcionamento do Tribunal Arbitral:

O tribunal arbitral voluntário não institucionalizado deve ser composto por um número impar
de membros, podendo funcionar como um único arbitro, nos termos do art.º 8º da Lei 63/2011 de 14
de Dezembro – O tribunal arbitral é composto por três árbitros salvo se a convenção de arbitragem
dispuser em contrário.

A decisão arbitral; anulação e recurso; reconhecimento e execução de arbitragem efetuada no


estrangeiro: de harmonia com a regra segundo o qual o tribunal arbitral desfruta de competência
para apreciar a sua própria competência, este tribunal pode pronunciar-se sobre a sua própria
competência – art.º 18º, mesmo que, para isso se faça mister apreciar, quer a existência , a validade,
quer a eficácia da convenção de arbitragem ou do contrato em que ela se insira, quer enfim, a
aplicabilidade daquela convenção.

A execução destas decisões do tribunal arbitral, somente poderá correr nos tribunais da 1ª instância,
porém a execução destas decisões dos tribunais arbitrais somente poderá correr nos tribunais
judiciais, in casu, nos juízos de competência genérica ou no juízo de competência especializada da
comarca onde tenha decorrido a arbitragem.

Art.º 20 CRP/4 – as convenções arbitrais têm de estar submetidas ao processo equitativo – Não há
limites constitucionais. Materialmente eles resolvem conflitos – e o Estado reconhece essas decisões?
O Tribunal Arbitral não pode executar – se o Estado não reconhecer – a decisão do Tribunal Arbitral
não é competente.

Lei 63/2011 de 14 de Dezembro – Tipicamente as decisões do tribunal arbitral não admitem recurso, as
partes podem convencionar. Há uma forma de impugnação do Acórdão do Tribunal Arbitral que é a
ação de anulação – nesse caso, o tribunal vai caçar ou não – neste tipo de impugnação o tribunal
estadual não pode reformular o mérito da causa, mas pode impugná-lo. O prevalece a primeira
decisão transitada em julgado (em Processo), quando há colisão entre duas decisões entre um
tribunal estadual e arbitral – prevalece a primeira decisão.

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