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CASOS PRÁTICOS DE DIREITO COMERCIAL I

2020/2021, TURMA A
Regência: Profs. Doutores António Menezes Cordeiro e Ana Perestrelo de Oliveira

ACTOS DE COMÉRCIO E COMERCIANTES

CASO N.º 1
António, casado com Beatriz, e Carlos, solteiro, donos de uma pastelaria na Avenida de
Roma, compraram à sociedade Fruta, Lda. um carregamento de mangas para fazerem os seus
conhecidos sumos, que atraem multidões. Pode a Frutas, Lda. demandar apenas António, exigindo-
lhe o pagamento do preço total? E, em caso de não pagamento voluntário, pode esta sociedade
executar os bens comuns de António e Beatriz?

A pastelaria pode não ser uma pessoa coletiva se os donos forem pessoas singulares, os
sujeitos são o António e o Carlos. Os sujeitos da relação jurídica são comerciantes. A lógica da lei
entende que quando um comerciante exerce a sua atividade fá-lo, por forma que os proveitos da sua
atividade para beneficio próprio e da sua família, se o beneficio é para a família também os bens
comuns respondem pela atividade, a esposa pode ou não pertencer a sociedade.
No caso de nada dizer quanto ao regime de casamento aplica-se o regime supletivo que é a
comunhão de adquiridos, art.º 1717º CC. Quanto à segunda questão, nada tem a ver com
solidariedade passiva, apenas temos que saber se são executados os seus bens próprios ou se também
os bens comuns (art.º 1691/1 – d) CC). + 15º CCOM – dupla presunção. Presume-se que praticam atos
lucrativos para proveito comum do casal. Qual o maior ato de amor que um comerciante pode
tomar? Casar-se em separação de bens.

A solidariedade passiva pode exigir o cumprimento da obrigação a A ou a C,


indiferentemente. No caso dos cônjuges não vai exigir cumprimento a B, só pode exigir o
cumprimento ao A? Cônjuge tem de provar que não foi para proveito comum. Há uma presunção
que é para proveito comum, cabendo ao cônjuge, em caso disso, ilidir essa presunção mediante
contraprova.
Neste caso não há sociedade, pois não há dados neste caso que nos permitam dizer isso. Há o
A em título individual e o C em título individual que alugam um espaço e passam a exercer uma

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atividade juntos, podendo ser coarrendatários do espaço, coproprietários das máquinas, nas relações
jurídicas que estabeleçam dirigidas a operacionalidade do estabelecimento comercial estão sempre
numa posição paritária, há muitos sujeitos de direito, neste caso não há um sujeito de direito que seja
autónomo face aos dois sujeitos. Os devedores são A e C, a solidariedade passiva pode o credor
escolher quem quer que lhe pague, até pode pedir aos dois, o credor tem essa opção (art.º 100 do
CCM).
A questão em causa está relacionada com a definição do que sejam atos de comércio, sendo
que ato de comércio, neste caso é inequívoco na medida em que estamos perante um contrato.
O Código Comercial, ao destacar atos de comércio, pretende regular factos jurídicos em
sentido lato.
Facto jurídico divide-se em facto jurídico e ato jurídico em sentido estrito. Ato jurídico divide-
se em negocio jurídico e ato jurídico em sentido estrito.
Um facto jurídico é todo acontecimento, natural ou humano e suscetível de produzir efeitos
jurídicos. Um facto em sentido amplo é todo aquele em que o direito associa uma constituição,
modificação ou extinção de situações jurídicas.
O que distingue um facto jurídico em sentido estrito de um ato jurídico, mesmo quando são
humanos o direito não associa consequências à vontade humana manifestada, pode ser um facto de
natureza (caiu uma árvore em cima de um carro, faleceu o Sr. X), isto não são atos jurídicos, pois não
há uma vontade manifestada. O ato jurídico traduz no ato em que a vontade é juridicamente
relevante quanto á pratica do ato ou quanto ao conteúdo do ato (liberdade de celebração e liberdade
de estipulação, isto é o que distingue os atos jurídicos em sentido estrito dos negócios jurídicos).
No ato jurídico em sentido estrito só há contrato de celebração, mas a vontade de estipulação
ou não existe ou não é juridicamente relevante e os negócios jurídicos é relevante a liberdade de
celebração e a liberdade de estipulação (Prof. Menezes Cordeiro).
Negócios jurídicos podem ser unilaterais ou bilaterais em que os bilaterais podem ser
contratos.
Para efeitos da limitação para que seja um ato comercial sabemos que tudo aquilo que seja um
ato jurídico. A árvore que cai em cima de um carro produz efeitos jurídicos no contexto do contrato
de seguro, a seguradora fica obrigada a indemnizar o tomador do seguro.
O ato que esta em causa é um ato comercial tanto no sentido objetivo como subjetivo. É um
contrato que está preenchido no conceito de ato jurídico, sendo um negócio jurídico bilateral,

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preenche o 463/1 do CCM, é praticado por um comerciante a titulo profissional. Assim, é um ato de
comércio em sentido objetivo pois está “especialmente regulado(s) neste código” (não apenas pelo
Direito Comercial, mas outras normas que tenham natureza especial;)– art.º 2.º Código Comercial.
É também um ato de comércio em sentido subjetivo. Atos subjetivamente comerciais são atos cuja
comercialidade depende do sujeito que os pratica (artigo 2º/2ª parte do Código Comercial),
preenchendo o artigo 13º Código Comercial – “São comerciantes: 1.° As pessoas que, tendo
capacidade para praticar atos de comércio, fazem deste profissão;”, não havendo quaisquer indícios
que se tratem de pessoas incapazes (7º Código Comercial).
Se não aplicássemos a regra do art.º 2 CCM, sairia a aplicação do art.º 100 CCM e não tínhamos
um regime de solidariedade. Neste caso aplicaríamos o regime da parcialidade prevista no art.º 513
do CC, podendo exigir metade tanto ao A como ao C. Sendo que no caso a divida era divisível, art.º
534 CC.
Se o A tem uma divida própria, só podem afetar os bens do cônjuge devedor art.º 1692 CC, e
1696 CC. Depende do que se disse em cima.
Quem é chamado a execução dos bens é A (titular dos bens) como devedor e B (titular dos
bens), sendo que B não é devedora apenas é chamada a ação para se defender.? Depende do que se
disse acima.

• Sujeitos são comerciantes? Ato tem natureza exclusivamente civil?


Podemos ter atos objetivamente comercial praticado por quem não é comerciante.

Artigo 2/segunda parte – alguma doutrina diz que há uma presunção. O comerciante tem o ónus de
declarar eu aquele ato não foi exercido no âmbito do comercio.
Temos um ato subjetivamente comercial. Aplicar artigo 100º - por contraposição 513º código civil, em
que a regra geral é a parciariedade.

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CASO N.º 2
David, fotógrafo, vende, todos os fins-de-semana, fotografias por si captadas nas feiras da
região. Cansado das longas deslocações, propõe a Elvira, que se dedica à venda de produtos
biológicos por si cultivados, que comprem em conjunto uma carrinha para chegarem às feiras. Assim
fizeram. No entanto, Elvira arrepende-se e não quer pagar o preço acordado. Pode a sociedade
Automóveis, SA. demandar apenas David?

A questão em causa está relacionada com a definição do que sejam atos de comércio. O
conceito de ato abrange contratos, negócios unilaterais, atos jurídicos em sentido estrito e, ainda, para
alguns autores, factos jurídicos em sentido estrito e efeitos jurídicos.
Os atos podem ser objetiva ou subjetivamente comerciais.
Os atos comerciais objetivos são aqueles que estão especialmente regulados no Código
Comercial (artigo 2º/1ª parte) - não apenas pelo Direito Comercial, mas outras normas que tenham
natureza especial (diplomas avulsos; leis extravagantes). O art.º 464º/2 Código comercial enuncia que
“As vendas que o proprietário ou explorador rural faça dos produtos de propriedade sua ou por ele
explorada, e dos géneros em que lhes houverem sido pagas quaisquer rendas” não são consideradas
comercias (caso de Elvira), pelo, neste sentido, a compra e venda não se trata de um ato
objetivamente comercial, uma vez que a lei é clara quando diz que atos deste tipo não são comerciais.
O mesmo se diga a respeito de David, nos termos do art.º 230 na exceção 3 – “§ 3º Não se haverá como
compreendido no nº 5 o próprio autor que editar, publicar ou vender as suas obras.”
Não sendo a compra uma atividade comercial não cabe no art.º 463/1 CCM, e não sendo um ato
objetivamente comercial não cabe no art.º 2/ 1 parte CCM. Falta a lógica da revenda, a lógica de
intermediação – 463º.
Por sua vez, atos subjetivamente comerciais são atos cuja comercialidade depende do sujeito
que os pratica (artigo 2º/2ª parte do Código Comercial). Conforme art.º 13º/1 Código Comercial, são
comerciantes as pessoas que, tendo capacidade para praticar atos de comércio, fazem deste profissão.
Ora como vimos a profissão a que ambos se dedicam não são consideradas atividades comerciais, do
ponto de vista objetivo, pelo que não os podemos entender como comerciantes. Estes ato terão
natureza exclusivamente civil, uma vez que “em determinado momento não esteja regulado pelo
direito comercial: Menezes Cordeiro”.

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O que esta previsto no art.º 230 são conjunto de atos que a lei qualifica expressamente como sendo
comerciais, porque são atos que nos termos do art.º 2/ 1 parte, são classificados como objetivamente
comerciais, pois é praticado a titulo profissional pelo David. No entanto houve a exclusão no
paragrafo 3 e exclui o número 5 do artigo 230 CCM, visto ele ser fotografo, logo não sendo um ato
objetivo comercial, não sendo um ato comercial (art.º 2/ 1 parte CCM) o David não é comerciante. No
caso da Elvira também não é comerciante de acordo com o art.º 464/2 CCM.
Contrariamente, no caso da venda esta foi comercial, porque foi praticado por comerciante de
acordo com o art.º 13/2 CCM (porque o Stand se trata de uma sociedade comercial) então é um ato
subjetivamente comercial nos termos do art.º 2/segunda parte. + 463º/3.
Assim, até aqui, concluímos que se trata de um ato unilateralmente comercial, devendo-se
aplicar o regime do art.º 99º Código Comercial, que reitera que “Embora o ato seja mercantil só com
relação a uma das partes será regulado pelas disposições da lei comercial quanto a todos os
contratantes, salvas as que só forem aplicáveis àquele ou àqueles por cujo respeito o ato é mercantil”
– fica de fora a disposição do art.º 100º - (porque o ato não é comercial, mas civil) a solidariedade
como regime regra – a solidariedade dos devedores, neste aspeto, só se verifica relativamente àquele
por cujo respeito o ato é mercantil (STAND). O artigo 99º cede sempre pelo art.º 100º. Aplica-se,
portanto, o artigo 513º, que segue a regra da parciariedade, regime regra do direito civil.
Contrariamente, no direito comercial a regra é a da solidariedade, pelo artigo 100º do Código
Comercial.
O Art.º 101 CCM diz-nos que ainda que não seja comerciante será solidário com o respetivo
afiançado, pois a divida que está a ser garantida é relativa a um ato comercial, então a
responsabilidade do fiador será solidaria (Elvira e David).


CASO N.º 3
Frederico, advogado e amante de pintura, comprou um conjunto de quadros de Júlio Resende
numa galeria de arte, no Porto, pretendendo fazer uma surpresa a Helena, sua mulher. Helena,
contudo, não gostou dos quadros e exigiu que Frederico os tirasse rapidamente de casa. Triste,
Frederico decidiu vender os quadros. Jeremias, comerciante de arte, mostrou-se logo interessado e a
venda realizou-se. Ficou, no entanto, combinado que Frederico guardaria os quadros durante 15 dias,
pelo que este contratou o depósito dos quadros com a galeria de arte onde os comprara, por aquele
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período. Para garantir a segurança dos quadros, Frederico contratou ainda um guarda para vigiar as
pinturas. Qual a natureza dos vários atos descritos?

1º Compra de cinco quadros por parte de Frederico advogado- não se trata de um ato de comércio
nem a título subjetivo, nem a título objetivo uma vez que Frederico não é comerciante, é advogado,
não faz da pratica de atos de comércio a sua profissão, não se encontra preenchido o art.º 13, nem o
art.º 2º 2ª parte. À luz do art.º 464/1 este ato é igualmente não comercial uma vez que o conjunto de
quadros comprados se destinava ao uso do comprador ou da sua família (neste caso da sua mulher
Helena), posto isto, e de acordo ao art.º 464 nº1 e ao art.º 2º 1ª parte não se encontra preenchido o
critério objetivo de ato de comércio.

2º venda desses quadros pela galeria de arte - Trata-se de um ato de comércio, em primeiro lugar a
título objetivo por via do art.º 2º1ª parte e da classificação da galaria de arte como comercial feita pelo
do art.º 230º nº 5, não se aplicando a exceção do terceiro parágrafo do mesmo artigo. Em segundo
lugar trata-se de um ato de comércio a título subjetivo à luz Art.º 13º nº 2 (sociedade) e do art.º 2º 2ª
parte.
MC elucida uma categoria daqueles que, não sendo comerciantes, podem ser aplicadas, em
determinados casos, casuisticamente, regras comerciais.

Qual aa diferença entre contrato de trabalho e a prestação de serviços? Na prestação de serviços não
há dependência. No contrato de trabalho o empregador tem poder de direção sobre o contratado.

Quando o frederico compra não tem a intenção de revender. A revenda é apenas uma vicissitude.
Nesse sentido, o ato tem natureza civil.
Compra por jeremias é um ato objetivamente comercial – 463º/1 e também subjetivamente, uma vez
que se trata de uma sociedade comercial, nos termos do artigo 13º/2.
Deste modo, trata-se de um ato misto – cuja aplicação do artigo 99º é perentória.

Prevalece a venda ou compra no caso do deposito? Depósito é civil, segundo o professor. F foi quem
contratou os serviços de deposito; enquanto estão depositados não estão destinados ao comércio;

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Contrato de prestação de serviços: não é objetivamente comercial, nem subjetivamente.

ESTUDAR MATERIA DOS ATOS ACESSORIOS? É PRECISO UM ATO COMERCIAL


POR/PARA SER ACESSÓRIO?
RELACIONAR ESTE PROBELMA COM OS ATOS COMERCIAIS POR ANALOGIA.

Coloca-se a questão da possibilidade de considerar comerciais atos que não surjam nem no
Código Comercial, nem em leis que alteraram o Código Comercial, nem em leis que se assumam, elas
próprias, como comerciais. Isso implicaria o recurso à analogia para qualificar, como comercial, um
certo ato.
A doutrina dividiu-se quanto a esta matéria:
a) Contra a analogia, pronunciaram-se, nomeadamente, Guilherme Moreira e Oliveira
Ascensão.
b) A favor da mesma, pronunciaram-se nomes como Cunha Gonçalves e Coutinho de Abreu
(primeiro qualifica e depois aplica o regime).
c) Outros autores, como Azevedo e Silva e Eduardo Saldanha, preferem falar no caráter
taxativo da enunciação dos atos de comércio objetivos, excluindo a analogia.
d) No campo oposto surge a teoria do acessório, segundo a qual seriam objetivamente
comerciais, também aqueles que sejam acessórios dos atos comerciais regulados na lei. Defende
esta teoria, por exemplo, Cunha Gonçalves. Ex.: Maria vai à almedina e compra 100 CC para
revender. Para o efeito, compra caixas de cartão moldáveis. A compra dos CC é objetivamente
comercial? Sim. Já a Maria não é comerciante. E a compra das caixas? Tendo em conta os quatro
requisitos não. Levando a teoria do acessório ao extremo vivencia-se uma insegurança jurídica. É
preciso alguma certeza e previsibilidade. Hoje em dia o problema tende a conduzir-se ao seguinte.
Não devemos reconduzir os atos acessórios… hoje em dia a teoria do acessório tende a reconduzir-se
ao instituto da analogia. Não tem limites ao que é/pode ser considerado acessório; aquilo que faz
parte do complexo de produção).
e) O Prof. PPV vai mais longe e diz que podem ser qualificados como comerciais por
analogia não apenas os atos acessórios, mas também outros que fossem valorativamente próximos
dos atos especialmente regulados na lei comercial.

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Para o Prof. Menezes Cordeiro, o problema da qualificação de certos atos como comerciais,
com recurso à analogia, representa um exercício teórico de interpretação e de construção jurídicas.
Não lhe parece de todo possível discutir a possibilidade do uso da analogia na qualificação de atos
como comerciais sem antes saber quais as implicações em jogo.
Para este, o debate da possibilidade do recurso à analogia na qualificação de atos de comércio
corresponde a uma inversão metodológica. A qualificação não é causal do regime (10º - Coutinho
abreu faz inversa, como supra dito); antes decorre deste, isto é, dever-se-ia partir do regime jurídico
para a qualificação e não o contrário.
Não se deve a priori e em abstrato qualificar ou não qualquer ato como comerciante. O
caminho certo é o inverso:
1º Perante um ato, há que lhe determinar o regime;
2º Conhecido este: se se tratar de um regime comercial, o ato é comercial, sob pena de
inutilidade do próprio conceito.
As regras do Direito comercial são especiais: à partida, não são excecionais. Comportam, como
se viu, aplicação analógica. Posto isto, pode assentar-se o seguinte:
- Perante um ato que não esteja “especialmente regulado neste Código” – ou situação
equivalente – há que verificar se o seu regime é “comercial e especial”; sendo a resposta positiva, o
ato é comercial.
- Perante um ato lacunoso, há que lhe apurar o regime: seja pela analogia, seja pela norma
que o intérprete criaria. Na integração da lacuna, podem ser usadas normas e princípios comerciais –
desde que não excecionais – de acordo com as regras gerais aqui aplicáveis. Perante o resultado
obtido, se chegarmos à conclusão de que o ato ficou como que “especialmente regulado neste
Código”, ele é comercial. Um exemplo: as obrigações resultantes da culpa in contrahendo,
verificadas aquando da preparação de um contrato comercial, serão elas próprias comerciais.

Vejamos um exemplo mais pormenorizado:


A culpa em contrahendo na preparação de um ato comercial. Rompo injustificadamente as
negociações e aproveito-me da informação que recolhi durante o processo negocial e vou concorrer
com a contraparte usando a informação que lhe tinha sido disponibilizada no processo negocial.

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A e B negociavam com C para obtenção de peças classificadas como secretas, há ultima hora
decidem fazer umas peças na China usando a informação facultada pelo C. Que responsabilidade
têm o A ou o B?
Há solidariedade Passiva ou é uma obrigação solidaria.
Pode ou não (de acordo com o Prof. Menezes Cordeiro) aplicar o regime de acordo com o art.º
100 do Código Comercial?
Primeiro: é um ato de comercio para efeitos do art.º 2? Não, pois não houve nenhum ato de
comercio, não houve contrato.
Mas a esta situação aplica-se analogicamente o registo previsto para os atos de comércio,
porque o art.º 227 Código Civil manda aplicar a responsabilidade que decorreria de um contrato em
si, logo devemos aplicar com a necessárias aplicações o regime do contrato que teria sido celebrado,
para efeitos da obrigação de confidencialidade. Temos que ir ver analogicamente qual é a norma que
se aplicava, porque por aplicação analógica das regras dos contratos comerciais à negociação pré-
contratual, implica que aquela situação é regulada pelo Direito Comercial e se é regulada pelo Direito
Comercial aplica-se o art.º 100 Código Comercial, então são solidariamente responsáveis. Se são
Solidariamente responsáveis dizemos que há uma regulação especial do Direito Comercial aplicado
ao ato em causa, se assim é então o ato é também ele um ato de comercio para este efeito.

CASO N.º 4
Vasco, trabalhador dos correios, entra, todos os dias, às 9h00 e sai às 17h00. Amante de
filatelia, decidiu, há algum tempo, montar um pequeno quiosque numa Praça lisboeta, para se
distrair um pouco ao fim do dia, antes de ir ter com a mulher, por volta das 19h00. Para manter
aberto o quiosque todo o dia, Vasco contratou um empregado, Manuel. Qual a natureza (civil ou
comercial) do contrato celebrado?

A primeira questão aqui em causa está relacionada com a definição do que sejam atos de
comércio.
O Código Comercial, ao destacar atos de comércio, pretende regular factos jurídicos em
sentido lato.
Facto jurídico divide-se em facto jurídico em sentido estrito e ato jurídico. Ato jurídico divide-
se em negocio jurídico e ato jurídico em sentido estrito.
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Um facto jurídico é todo o acontecimento, natural ou humano, suscetível de produzir efeitos
jurídicos. Um facto em sentido amplo é todo aquele a que o direito associa uma constituição,
modificação ou extinção de situações jurídicas.
O que distingue um facto jurídico em sentido estrito de um ato jurídico, mesmo quando são
humanos o direito não associa consequências à vontade humana manifestada, pode ser um facto de
natureza (caiu uma árvore em cima de um carro, faleceu o Sr. X), isto não são atos jurídicos, pois não
há uma vontade manifestada. O ato jurídico traduz no ato em que a vontade é juridicamente
relevante quanto á pratica do ato ou quanto ao conteúdo do ato (liberdade de celebração e liberdade
de estipulação, isto é o que distingue os atos jurídicos em sentido estrito dos negócios jurídicos).
No ato jurídico em sentido estrito só há contrato de celebração, mas a vontade de estipulação
ou não existe ou não é juridicamente relevante e os negócios jurídicos é relevante a liberdade de
celebração e a liberdade de estipulação (Prof. Menezes Cordeiro).
Negócios jurídicos podem ser unilaterais ou bilaterais em que os bilaterais podem ser
contratos.
Para efeitos da limitação para que seja um ato comercial sabemos que será tudo aquilo que seja
um ato jurídico. A árvore que cai em cima de um carro produz efeitos jurídicos no contexto do
contrato de seguro, a seguradora fica obrigada a indemnizar o tomador do seguro.
No caso sub judice estamos perante um contrato de trabalho, cabendo averiguar se se trata de
um contrato objetiva e subjetivamente comercial.
Nos termos do art.º 2.º Código Comercial “Serão considerados atos de comércio todos aqueles
que se acharem especialmente regulados neste Código” (não apenas pelo Direito Comercial, mas
outras normas que tenham natureza especial;). O contrato de trabalho não vem regulado no código
comercial, mas sim no código do trabalho, pelo que, tendo em conta o preceito do art.º 2º do Código
Comercial, este ato não é objetivamente comercial.
Por sua vez, um ato que não seja objetivamente comercial não implica que o autor do mesmo
não seja considerado comerciante, isto é, não seja considerado um ato subjetivamente comercial.
Os atos subjetivamente comerciais são atos cuja comercialidade depende do sujeito que os
pratica (artigo 2º/2ª parte do Código Comercial – “e, além deles, todos os contratos e obrigações dos
comerciantes, que não forem de natureza exclusivamente civil, se o contrário do próprio ato não
resultar.”), preenchendo o artigo 13º Código Comercial – “São comerciantes: 1.° As pessoas que,
tendo capacidade para praticar atos de comércio, fazem deste profissão;”.
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Nos termos do art.º 13º são comerciantes; (a) as pessoas que tendo capacidade (de exercício)
(art.º7º+127º do CC); (b) pratica atos de comercio (230/5? – 463º/1 - 464º); (c) fazendo deste profissão:
índices de profissionalidade segundo o professor Menezes Cordeiro – pratica habitual e reiterada
(não tem de ser continua); prática lucrativa (o comércio visa o lucro); prática juridicamente autónoma
em nome próprio (não trabalhar por conta de outrem; a autonomia não pode falhar para o Prof. MC);
ou prática tendencialmente exclusiva (não possibilidade de dedicar-me a uma serie de atividades de
forma limitada - ele trabalha nos correios, o professor Oliveira Ascensão nem considera este
requisito) - índices de profissionalidade segundo o professor Coutinho Abreu – prática
tendencialmente habitual e reiterada1; prática juridicamente autónoma; O professor considera
também que para ser comercial basta que tenha conexão com o comercio. Não é por ser um ato
secundário que deixa de ser comerciante.
Indícios móveis: basta que haja indício que demonstrem com clareza para se poder que se faz
deles profissão - Prática reiterada habitual. Não é pela falha de um destes requisitos que se vai deixar
de se considerar que a prática é comercial.
Em suma, subjetivamente Vasco é comerciante.

• Discussão sobre a prática tendencialmente exclusiva


 Se ele só tivesse o quiosque 2h era considerado comerciante? SIM

Por fim, observado o art.º 2º in fine, são considerados atos comerciais aqueles que não sejam de
natureza exclusivamente civil. A doutrina diverge neste âmbito:
• doutrina tradicional, subscrita nomeadamente por Guilherme Moreira, entende que a natureza
“exclusivamente civil” assiste aos atos regulados apenas no Código Civil;
• teriam natureza exclusivamente civil os atos não especialmente contemplados no Código
Comercial;
• Oliveira Ascensão, numa evolução desta orientação, vem dizer que o ato exclusivamente civil
é o que não possa ser regulado pelo Código Comercial;

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Exemplo: alguém que explore um parque de campismo só no verão considera a pessoa comerciante.

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• seriam atos de natureza exclusivamente civil os que, pela sua natureza, não são conexionáveis
com o exercício do comércio2 – Cunha Gonçalves; Coutinho de Abreu, entre outros.
• O professor Menezes Cordeiro entende por “ato exclusivamente civil”, os atos que, no atual
momento histórico, não estão regulados no Código Comercial. Defende que não parece
viável dar um critério universal para tais atos: caso a caso teríamos de discutir se, perante as
valorações em presença, o ato em jogo ainda se poderia submeter a regras comerciais. O Prof.
Ferreira Borges (e o professor Diogo Coelho) não concordam; o primeiro por achar esta uma
visão excessivamente restritiva. Isto porque o art.º 2º ele próprio alarga o âmbito de aplicação
do Direito Comercial, ao determinar que os atos praticados por comerciantes são atos
comerciais, independentemente de o serem em sentido objetivo ou não. Os “atos
exclusivamente civis” são então uma fronteira à expansão do Direito Comercial. O que o Prof.
FB critica é que a tese do Prof. MC, ao ter como critério para determinar os atos
exclusivamente civis o próprio Direito Comercial, tira quase totalmente a relevância dos atos
em sentido subjetivo.

Assim, estando perante um contrato de trabalho, regulado pelo Código do Trabalho, que é
considerado um contrato de natureza exclusivamente civil (ordenado, horário…), não sendo, por isso,
regulado pelo Código Comercial.
Dependente da posição adotada.

• JOSÉ FERREIRA GOMES – considera o contrato de trabalho de natureza exclusivamente


civil.

O que se podia discutir de uma vertente objetiva – compra de selos podia ser enquadrada no
art.º 230º/5. 463º chega.

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Atos que visem promover o comércio.

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CASO N.º 5
José e Luís, arquitectos, pretendendo remodelar o atelier de que são proprietários, no Chiado,
contrataram Matias, empreiteiro, para fazer as obras. No dia 15 de Janeiro de 2019, já com as obras
prontas e aprovadas, Matias apresenta a factura a José, conhecido pelas suas maiores
disponibilidades financeiras. Contudo, até agora, José não pagou a dívida, alegando que só está
obrigado a pagar metade do valor da factura. (i) José tem razão? (ii) A dívida está vencida? (iii) Em
caso de mora, qual a taxa de juro aplicável, sabendo que nada foi convencionado?

A primeira questão aqui em causa está relacionada com a definição do que sejam atos de
comércio.
O Código Comercial, ao destacar atos de comércio, pretende regular factos jurídicos em
sentido lato.
No caso sub judice estamos perante um contrato de empreitada, cabendo averiguar se se
trata de um contrato objetiva e subjetivamente comercial.
Os atos subjetivamente comerciais são atos cuja comercialidade depende do sujeito
que os pratica (artigo 2º/2ª parte do Código Comercial – “e, além deles, todos os contratos e
obrigações dos comerciantes, que não forem de natureza exclusivamente civil, se o contrário do
próprio ato não resultar.”), preenchendo o artigo 13º Código Comercial – “São comerciantes: 1.° As
pessoas que, tendo capacidade para praticar atos de comércio, fazem deste profissão;”.
Nos termos do art.º 13º são comerciantes; (a) as pessoas que tendo capacidade (de exercício)
(art.º7º+127º do CC); (b) pratica atos de comercio (230º/6); (c) fazendo deste profissão: índices de
profissionalidade segundo o professor Menezes Cordeiro – pratica habitual e reiterada (não tem de
ser continua); prática lucrativa; prática juridicamente autónoma em nome próprio (a autonomia não
pode falhar para o Prof. MC); ou prática tendencialmente exclusiva (o prof. Oliveira Ascensão nem
considera este requisito) - índices de profissionalidade segundo o professor Coutinho Abreu –
prática tendencialmente habitual e reiterada3; prática juridicamente autónoma; O professor considera
também que para ser comercial basta que tenha conexão com o comercio. Não é por ser um ato
secundário que deixa de ser comerciante.

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Exemplo: alguém que explore um parque de campismo só no verão considera a pessoa comerciante.

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Indícios móveis: basta que haja indício que demonstrem com clareza para se poder que se faz
deles profissão - Prática reiterada habitual. Não é pela falha de um destes requisitos que se vai deixar
de se considerar que a prática é comercial.
Relativamente a José e Luís, estes são profissionais liberais, o que os leva a não serem
comerciantes pelo que se aplica o disposto no art.º 99º e no art.º 100º.

Nos termos do art.º 2.º Código Comercial “Serão considerados atos de comércio todos
aqueles que se acharem especialmente regulados neste Código” (não apenas pelo Direito Comercial,
mas outras normas que tenham natureza especial;). Ora o contrato de empreitada, regulados nos
artigos 1207º e ss. do Código Civil, constitui um contrato cuja natureza e regime é compatível com o
exercício da atividade mercantil, podendo até integrar esse exercício, não sendo ato por sua natureza
insuscetível de comercialização, vindo, implicitamente, regulado no código comercial (230
º/6). No entanto, é preciso analisar este artigo, de modo a concluir de deve ser feita uma
interpretação objetivista ou subjetivista deste enunciado. Por outras palavras, este artigo define atos
de comercio ou comerciantes?
• Para a maioria da doutrina o cariz é objetivo - Argumentos: (a) em 1888, a noção de pessoa
coletiva não era utilizada e tão pouco conhecida da doutrina, logo, por empresa, deve entender
empreendimento/atividade; (b) solução mais consonante com a sistemática do Código
Comercial, que, nos termos do artigo 1º, tem como função a regulação de atos de comércio; (c)
admitir que se tratavam de sujeitos seria esvaziar o artigo 13º (comerciantes).

• José Tavares: estamos perante atos subjetivamente comerciais, pela interpretação da letra da
norma.

Perante o que foi dito, tendo a concordar com a posição maioritária, pelo que, tendo em conta o
preceito do art.º 2º do Código Comercial (+230º/6), este ato (contrato de empreitada) é objetivamente
comercial, pelo que, no que há solidariedade diz respeito, devemos atender aos artigos 99º e 100º do
Código Comercial. Atendendo ao preceito do artigo 2º segunda parte, o ato não é de natureza
exclusivamente civil - apesar do contrato de empreitada estar previsto no CC, esta igualmente
previsto no Código Comercial.
Do lado dos arquitetos o ato é civil, do lado do Matias o ato é comercial. Se fizermos um
exercício de decisão analítica temos um ato Misto. Nestes casos aplica-se o art.º 99 para considerar o
ato como comercial.
14
Assim, até aqui, concluímos que se trata de um ato unilateralmente comercial, devendo-se aplicar o
regime do art.º 99º Código Comercial, que reitera que “Embora o ato seja mercantil só com relação a
uma das partes será regulado pelas disposições da lei comercial quanto a todos os contratantes,
salvas as que só forem aplicáveis àquele ou àqueles por cujo respeito o ato é mercantil” – fica de fora
a disposição do art.º 100º - (porque o ato não é comercial, mas civil) a solidariedade como regime
regra – a solidariedade dos devedores, neste aspeto, só se verifica relativamente àquele por cujo
respeito o ato é mercantil. O artigo 99º cede sempre pelo art.º 100º. Aplica-se, portanto, o artigo 513º,
que segue a regra da parciariedade, regime regra do direito civil. Contrariamente, no direito
comercial a regra é a da solidariedade, pelo artigo 100º do Código Comercial.

(ii) A dívida está vencida?

D.L.62/2013 de 10 de Maio.
J e L não são consumidores, para efeitos deste caso. De acordo com o art.º 4/3 a) a obrigação já
se encontra vencida, pois de acordo com este artigo conta-se 30 dias após o devedor ter recebido a
fatura que neste caso seria no dia 15 de Setembro, 30 dias corridos com base no art.º 279 do Código
Civil.
Para o efeito deste diploma o J e o L são considerados uma empresa, porque desenvolvem de
forma autónoma uma determinada atividade económica, art.º 3 d).

ii) O art.º 4 nº3 a) Dl 62/2013 “diz nos que sempre que o contrato não tenha prazo de vencimento,
são devidos juros de mora após o termo de 30 dias a contar da data em que o devedor tiver recebido a
fatura, posto isto a obrigação venceu-se a 15 de setembro a contagem dos 30 dias corridos é feita com
base no art.º 279 do CCivil deste diploma aplica-se a José e Luís como se pode ler na epígrafe do
artigo. são considerados pelo presente diploma uma “empresa” uma vez que desenvolvem de forma
autónoma uma determinada atividade económica cf. o art.º 3º al d). J e L não são considerados
comerciantes uma vez que são profissionais liberais, pagamento efetuado como uma transação
comercial. Há uma amplitude da empresa.

15
Abrir a sub hipótese de que só quando Luís receber a fatura é que se começa a contar o prazo de 30
dias. Há uma transação comercial.

➔ 3 momentos temporais autónomos e distintos: momento do consumo, da fatura e do


vencimento

(iii) Em caso de mora, qual a taxa de juro aplicável, sabendo que nada foi convencionado?
Sabendo que nada foi convencionado, devemos ter em conta o disposto no DL 62/2013 art.º 11
que remete para o art.º 102º do Código Comercial, aplicando-se o numero 5º e ainda a portaria
277/2013 de 26 de agosto que indica que a taxa de juro é de 8% (preambulo). Poderiam ter
convencionado que não havia taxa de juro ou até que era de apenas 1%. Aviso emitido: 854/2017 que
vem manter a taxa no mínimo de 8% no segundo semestre.
Comercial: juros 80 euros civil: 40 euros

CASO N.º 6
Francisco, estudante, decidiu montar uma pequena livraria: tomou de arrendamento uma loja
na Baixa, comprou as estantes e todo o mobiliário necessário, encomendou os computadores e
celebrou um contrato de fornecimento de livros com uma editora. No entanto, mesmo antes de a loja
abrir, Francisco apercebeu-se que o curso de Direito lhe deixava pouco tempo para gerir o negócio,
acabando por vender a loja a Gustavo e Octávio, estudantes de gestão. Estes nunca pagaram o preço.
A responsabilidade de Gustavo e Octávio é solidária ou é conjunta?

• Trespasse: venda definitiva de um estabelecimento comercial


• Há leis que se autoqualificam como comerciais. Parte da doutrina considera que o
arrendamento e o trespasse são atos objetivamente comerciais, porque os traços materiais são
iguais após a reforma legislativa.
16
• Pode uma pessoa ser considerada comerciante mesmo antes de exercer a atividade?
 OA considera que só pode uma pessoa ser considerada comerciante quando a atividade
é exercida.
▪ Apoio argumentativo: 95º.
 CA - tem de haver atos reguladores da possibilidade de um sujeito vir a tornar-se
comerciante. Se alguém pratica atos de comercio ou organização de uma empresa e que
constituem atos de que essa pessoa vai explorar a atividade torna-se comerciante. Basta
a mera prática de atos preparatórios, desde que demonstrem a vontade e possibilidade
de praticar aquela atividade. Defende que também a celebração de um contrato que seja
demonstrativo da possibilidade e vontade em proceder aquela atividade, deve
determinar a aquisição de comerciante.
• Aplica-se assim o regime da solidariedade previsto no art.º 100 do Código Comercial em que
ambos estão obrigados a pagar a totalidade do preço.
• Contrato de fornecimento de livros – 463º/1 – ato objetivamente comercial – 2º
• Compra e venda da loja a Gustavo e Octávio – trespasse - O trespasse é a transmissão a título
definitivo do estabelecimento comercial. Objetivamente comercial - Este é um ato comercial,
não obstante estar numa norma que não consta do Código Comercial, uma norma comercial, é
uma norma que regula o estabelecimento. O estabelecimento é uma unidade funcional ligada à
prática do comércio com direitos e deveres.

CASO PRÁTICO N.º 7

Albano tomou de arrendamento a Belarmina e Carmelinda um espaço no qual instalou um


snack-bar, em 1999, a que chamou “Altanaria”. Segundo Albano, o espaço nunca tinha sido usado
para qualquer atividade, pelo que Albano teve de comprar e pagar todos os móveis e produtos
necessários ao funcionamento do seu snack-bar.

Em 2014, Albano, farto de servir tostas mistas, decidiu passar o negócio ao seu primo, Diogo.
Para o efeito, contactou Belarmina e Carmelinda para saber se nada tinham a opor e, para sua
grande surpresa, estas comunicaram-lhe que se opunham terminantemente a tal transmissão,
dizendo-lhe: «Não queremos cá esse seu primo que, toda a gente sabe, é um caloteiro!».
17
Perante esta recusa, Albano não teve outro remédio senão continuar a servir tostas mistas.
Recorrendo a todas as forças que lhe restavam, promoveu o nome da Albanaria, melhorou o
serviço e passou a anunciar “as melhores tostas do mundo!”.

Dois anos mais tarde (2016), porém, um seu cliente de longa data, Ernesto, disse-lhe entre
duas dentadas numa tosta: «Oh Albano, se estás assim tão farto disto, eu dou conta do recado! A
Belarmina e a Carmelinda são loucas por mim!». Dito isto, logo ali acordaram no preço, apertaram
as mãos e deram o negócio por concluído.

Quem não gostou da situação foi Filipa, filha única de Albano que queria ficar com a
Albanaria e tinha planos para expandir o negócio, abrindo outras “Albanarias” por toda a cidade.
Albano, desolado, disse-lhe: «Oh filha, se eu soubesse... Agora é tarde para isso, mas não te
preocupes: ajudo-te a abrir um snack-bar igualzinho a dois quarteirões daquele: vamos chamar-lhe
Nova Albanaria e vamos recuperar “as melhores tostas de Lisboa”!».

1. Imagine que, perante a tentativa de Albano de “passar o negócio” ao seu primo, Belarmina e
Carmelinda pretendiam reagir. Segundo estas, o contrato celebrado não era de arrendamento, mas
de “cessão de exploração”: contrariamente ao afirmado por Albano, com o gozo do espaço foi
igualmente cedido mobiliário e equipamento identificado num anexo ao contrato. Não existiam,
porém, empregados e clientela. Quid iuris?

Por cessão de exploração (424º CC) entende-se a transmissão temporária do gozo de um


estabelecimento comercial. Por sua vez, esta pode ser a título gratuito (comodato) ou oneroso
(locação – 1109º CC). Neste caso, alegado por Belarmina e Carmelinda, estaríamos perante uma
locação.

Contudo, para que seja considerada uma locação, e por sua vez cessão, exige-se, desde logo, um
estabelecimento.

Por estabelecimento, por sua vez, entende-se o conjunto de meios materiais, coisas corpóreas e
incorpóreas, devidamente organizado para a prática do comércio, visando, dotados destas coisas
materiais corpóreas e incorpóreas, a obtenção do lucro através de clientela. A clientela integra as
coias corpóreas respeitantes ao ativo do estabelecimento, pelo que, neste caso, não estaríamos
perante um estabelecimento, prima facie. MAS BASTA A CLIENTELA POTENCIAL, PELO QUE
NÃO É UM ELEMENTO NECESSÁRIO?

Não existindo um estabelecimento, a jurisprudência tem vindo a fixar estarmos perante um


arrendamento “puro”. Assim, o primeiro contrato é de arrendamento - tem por base pagamento de
uma renda.
18
Por trespasse entende-se a transmissão definitiva do estabelecimento comercial, sendo o regime
excecional, sendo o da cessão o regime geral.

Para se verificar uma situação de trespasse de estabelecimento o negócio deve ter como objeto um
estabelecimento comercial, composto por um elemento ativo e um elemento passivo.

No respeitante ao ativo, abrange coisas corpóreas, incorpóreas, aviamento e clientela. Estes


elementos encontram-se interligados para a prática do comércio.

Por outro lado, o elemento passivo abrange as dívidas.

A clientela equivale ao conjunto de pessoas dispostas a contratar com o estabelecimento, nele


adquirindo bens ou serviços.

Os contratos de trabalho inserem-se nas coisas incorpóreas.

O aviamento é a aptidão funcional e produtiva do estabelecimento.

Faltando estes 2 elementos não considero que esteja em causa um estabelecimento comercial, não
podendo haver trespasse.

Inexistindo trespasse, a cessão da posição de arrendatário seria ilícita sem a comunicação ao


senhorio, sendo fundamento para o direito de resolução do contrato de arrendamento, à luz do art.º
1083/2/e) e de pedido de indemnização nos termos da responsabilidade obrigacional (798º).

O primeiro arrendamento é de um estabelecimento comercial? Não.

O trespasse é um efeito jurídico – depende de um contrato, um negócio base – não é, sem si, um negócio.

No contrato de trespasse as partes são trespassante e trespassário.

• Não há clientela – à partida o estabelecimento nunca chegou a funcionar. A doutrina entende que basta é estar
preparado para tal.

19
• Quanto à falta de empregados: CA – podemos considerar nestas situações que há, desde que seja descortinada já
uma organização e um bem complexo potenciado para funcionar. Já há um mínimo comum para o funcionamento
do negócio.

• Neste caso temos elementos desagregados. Parece que, neste caso, foi Albano a criar o estabelecimento.

2. Ignorando a pergunta anterior:

Precisava Albano do consentimento das senhorias para transmitir a sua posição a Diogo?

Segundo o art.º 1112/1/a) no caso de trespasse de estabelecimento comercial, a transmissão não depende de autorização
do senhorio. Isto é uma norma expressiva da tutela ou defesa da circulação negocial dos estabelecimentos e da
manutenção deles/proteção do interesse e desenvolvimento comercial.

Porém, o senhorio deve ser comunicado. Se existisse verdadeiro trespasse: 1112/3 tem que haver comunicação, no
prazo de 15 dias - 1038/g). deve ser por escrito e acompanhada pelo contrato de trespasse (para ver quem é o
trespassário e se foi efetivmaente um trespasse, poruqe s enão ouve tnha de dar autorização)

No caso de trespasse por venda ou dação em cumprimento o senhorio tem direito de


preferência (112º/4).

Protege o interesse dos trespassantes em transmitirem, sem entraves dos senhorios, os estabelecimentos e o interesse das
trespassárias em adquirirem empresas o mais possível valiosas e funcionais.

Se não era um verdadeiro trespasse era exigido um consentimento – 1112/1. A violação do dever de comunicação é
fundamento para o direito de resolução do contrato (1083º/2-e)) e de indemnização por responsabilidade obrigacional
(798º).

E como é que as senhorias se poderiam proteger face à perspetiva de ter um caloteiro como arrendatário?

O 1112/3 consagra que a transmissão deve ser celebrada por escrito e comunicada ao senhorio.

Sem essa comunicação o trespasse é ineficaz em relação ao senhorio.

20
Esta necessidade de comunicação justifica-se pelo direito de preferência que o senhorio detém no
trespasse por venda (1112/4 CC). Tem de haver uma comunicação para o senhorio preferir. Mas esta não
substitui a do 1112º/3.

A cessão de gozo do prédio é ineficaz perante o senhorio é fundamento de resolução do contrato de arrendamento nos
termos do art 1083/2/e)

Podiam preferir. Mas tem de estar em condições de exercer essa função. Poderia a partir do momento em que existe mora,
resolução do contrato por incumprimento.

E se o Diogo adquirisse a posição de Albano na Albano e Lda.?

A personalidade coletiva vale sempre?

Não é um trespasse (07A/1274) – a pessoa coletiva é exatamente a mesma, independentemente de quem a integra.

O Supremo diz que não há nenhum abuso de direito que justifique o levantamento da personalidade coletiva.

3. O que transmitiu Albano a Ernesto?

O trespasse exige uma transmissão do estabelecimento no seu todo: é insuficiente aquele que incida apenas em algum dos
seus elementos, à luz do art.º 1112/2/a) - INT RESTRITIVA. O trespasse não deixará de o ser até ao limite de o conjunto
transmitido ficar de al modo descaracterizado que não se pode considerar um “estabelecimento” em condições de
funcionar. Tem de ser transmitido de maneira a que não perca a sua aptidão funcional. Se perder aplica-se o regime geral
– cessão de exploração.

Porém, ao abrigo da autonomia privada poderão as partes retirar alguns elementos. O trespasse não deixará de o ser até ao
limite de o conjunto transmitido ficar de al modo descaracterizado que não se pode considerar um “estabelecimento” em
condições de funcionar. Tem de ser transmitido de maneira a que não perca a sua aptidão funcional. Se perder aplica-se o
regime geral – cessão de exploração.

21
O artigo 1112º/3 estipula que a transmissão do estabelecimento deve ser celebrada por escrito. Não parece ter sido o
caso. Assim, estamos perante um vício de forma, cujo desvalor é a nulidade. O acordo entre Ernesto e Albano não
produziu qualquer efeito. Nada foi transmitido.

• Trespasse pode ser verbal? Doutrina diverge. Uma segue o 219º. Outra parte diz que é necessária a forma escrita,
simples. Se é preciso aquando da comunicação ser acompanhada de contrato não parece exequível que a
transmissão não seja feita sob forma oral.

• E se for proprietário do imóvel, incluído? Quanto a bens imoveis é preciso escritura publica ou documento
particular autenticado – 875º. CA entende que mesmo aqui basta a forma simples. A lei em lugar algum distingue
o trespasse com ou sem imóvel. Mas depois essa escritura tem de ser levada a registo.

• O que o Albano transmite? Na omissão pelas partes transmite-se tudo o que compõe o estabelecimento, com as
limitações existentes – âmbito natural da entrega. E quanto aos prédios?

➔ Na falta de acordo das partes – âmbito natural (CA). Muitas vezes são determinantes para a atividade
desenvolvida (como hotéis, parque aquático…). Não há razão para diferenciar os imoveis dos outros elementos.
Via de regra transfere-se juntamente com o estabelecimento.

4. Ernesto está furioso com a traição de Albano ao ajudar a filha a abrir a Nova Albanaria ali tão perto. O que
pode fazer?

Albano e a sua filha estão obrigados a, num certo espaço e num determinado tempo, a não concorrerem com o trespassário
O Prof. NUNO AURELIANO diz, que o dever não-concorrência só existe se estiver expresso no contrato; caso contrário
violar-se-ia a liberdade de iniciativa económica – 61º/1 CRP. Argumento do dono que tem mais de um estabelecimento.

Também o professor PEDRO PAIS VASCONCLEOS adere a esta ideia. Quando não há previsão, há aplicação analógica do
contrato de agencia. Temos lacuna, aplicamos uma norma suscetível de aplicação analógica - será o contrato de agencia.
Art.º 9º/1 - não ser que seja expressa não estão vinculados.

Professor Jorge Miranda diz que isto seria inconstitucional.

Prof. MC afirma que este dever decorre do princípio da boa fé (e da lealdade), maxime da responsabilidade post
pactum finitum. Quando violado, gera responsabilidade pós-contratual nos termos dos princípios da culpa post pactum
finitum. Se as partes afastarem o dever de não concorrência, convencionam, geralmente, uma remuneração
proporcional.

➔ Boa Fé - importante princípio jurídico no qual se presume que as pessoas agem com boas intenções na
realização dos negócios jurídicos. Quando prejudicam terceiros presume-se, em caso de boa fé, que
desconheciam estra a lesar direitos de terceiros.
➔ Post Pactum Finitum – há uma violação de deveres que subsistem depois da cessação de um vínculo,
baseados no principio da boa-fé. Assim, depois de cessar um contrato pode subsistir uma obrigação pós-
contratual de sigilo, não podendo uma das partes divulgar, nomeadamente, factos de que teve conhecimento
22
em razão das funções desempenhadas (p.e. os trabalhadores responsáveis pelos ficheiros informatizados sobre
dados pessoais ficam obrigados a sigilo profissional, mesmo após o termo de funções).

Professor ML: O dever de não concorrência do trespassante perante o trespassário – este dever baseia-se na boa-fé:
seria de má-fé que o trespassante, após fazer lucro com a transmissão do estabelecimento, abrisse um outro, do
outro lado da rua. Seria de esperar que a clientela do estabelecimento trespassado o seguisse para esse novo, pelo
que ao trespassário restaria um estabelecimento um tanto ou quanto inútil. A violação deste dever de boa-fé pode
resultar em deveres de cessar a concorrência e ainda de indemnização, pretendendo-se a reconstrução da situação que
existiria se não tivesse ocorrido qualquer violação.

Já o Prof. COUTINHO DE ABREU fala neste âmbito de uma obrigação implícita. Enumerando fundamentos que têm sido
avançados para a obrigação Implícita de Não Concorrência

• Princípio da boa fé (na execução dos contratos) o MC: Dever de não concorrência do trespassante perante o
trespassário é exigência da boa fé – impõe-se, pela boa fé, como dever pós-eficaz, uma obrigação de não-concorrência.

• Princípio da equidade

• Usos do comércio

• Concorrência leal

• Garantia contra evicção – Cassiano dos Santos também fala desta garantia.

• Assegurar o gozo pacífico da coisa alienada, após ser entregue – PARECE-LHE O PREFERÍVEL – o alienante não pode
pôr em risco a subsistência da empresa alienada e as relações pessoais que ele desenvolveu com clientes, fornecedores
e etc. poderia ser perigosas para a concorrência, devido a uma concorrência “diferencial”. Aproveitamento normal.
Retirar o máximo proveito.

 Januário: advém da entrega do bem – aquele que trespassa o bem tem obrigação de não evicção – não pode
haver reapossamento de bem, com uma reorganização similar para ter as vantagens que faziam parte do objeto
de alienação.

Quanto ao dever de não-concorrência, existem três limites apontados pela doutrina:


(a) Limite material – tem de existir uma similitude entre a atividade praticada nos estabelecimentos.
(b) Limite temporal – não se observar um prazo de consolidação do novo estabelecimento (geralmente 2/3 anos –
professor diz que a jurisprudência vai oscilando entre os 2 a 5 anos).
(c) Limite espacial – tem de existir uma proximidade geográfica entre os dois estabelecimentos, que possa ser
suscetível de atrair clientela do estabelecimento trespassado.

Outras pessoas podem ficar vinculadas pela obrigação implícita de não concorrência: interpostas pessoas (relacionadas
com o trespassante). Têm conhecimentos do negócio e da clientela.

• Cônjuge do trespassante (pois o cônjuge beneficia, normalmente, dos conhecimentos deste relativos à organização,
clientes, fornecedores e etc. do estabelecimento trespassado);

• Filhos (quando colaboraram na exploração da empresa transmitida – possuem aptidão para uma concorrência
diferencial);

23
• Sócios (no caso de uma sociedade – que tenham conhecimentos relativos à empresa trespassada indispensáveis a uma
concorrência qualificada) o Exigem-se ativas funções de administração ou porque detinham participação social
dominante e exerciam efetivo controlo sobre a sociedade. o Não basta ser mero sócio e nunca intervir.

• Entre os sujeitos ativos (ou credores) da obrigação implícita de não concorrência conta-se não só o primeiro
trespassário como os sucessivos: cada um é credor do primeiro sujeito passivo da obrigação, bem como de outros
trespassários-trespassantes, enquanto for proprietário do estabelecimento transmitido.

Ficando o trespassado vinculado a não iniciar atividade similar à exercida pois:

• Conhece as características organizativas da empresa;

• O dever de não concorrência permite Aproveitamento normal. Retirar o máximo proveito. Conhece os
fornecedores, financiadores e clientes; não há uma concorrência leal - uma coisa é abrir um estabelecimento numa
terra diferente, outra é abrir na rua ao lado, por exemplo.

• Põe em risco a subsistência da empresa alienada;

• Impede uma efetiva entrega da mesma ao adquirente;

Em aula:

É difícil traçar os limites, principalmente o espacial. Os limites têm de ser analisados casuisticamente.

E uma loja online? Como é que justificamos o dever de não concorrência? Como se mede o limite espacial?

Primeiro há que perguntar se se pode ou não abrir o estabelecimento.

Professor: há partida a clientela vai movimentar-se para o estabelecimento novo – problema fático. Problema
jurídico – tem de haver uma adequação no respeitante à estipulação de cláusulas, nomeadamente quanto ao limite
espacial.

PPV e Aureliano: questão da concorrência da UE – quanto maior a competência maior a oferta, é o desejável.
Questão do trabalhador independente – que tem conhecimento e será muito mais “perigoso” e neste caso já pode
concorrer com o dono do estabelecimento. Há uma incoerência sistemática. Sede adequada para suscitar a questão
– no contrato de trespasse, e não depois. Já não se pode exigir uma compensação findo o contrato de trespasse. Se a
questão não é suscitada e não há cláusula não há um impedimento à concorrência.

24
PARA EFEITOS DE TESTE TEMOS QUE ABRIIR A HIPOTESE DE QUE HÁ DEVER DE CONCORRÊNCIA,
UMA VEZ QUE É A ÚNICA FORMA DDE ABORDAR OS LIMITES.

Posto isto, poderá Ernesto exercer os direitos previstos nas normas de não concorrência: nomeadamente intentar um
procedimento cautelar para a cessação do estabelecimento novo por ocorrência indevida e pedir uma indemnização.

Consequências (admitindo que há dever de concorrência):

• Pedir indemnização pelas perdas e por danos (art. 798º CC);

• Resolver o contrato de trespasse (art. 801º/2);

• Requerer sanção pecuniária compulsória (art. 829º-A);

• Exigir que o novo estabelecimento do obrigado seja encerrado (art. 829º/1). Esta é uma questão discutível.

o Januário: trespassário pode pedir em tribunal que o trespassante não explore um estabelecimento,
violando a obrigação = Cassiano dos Santos

Mas antes, para que possa intentar um procedimento cautelar, é necessário que estejam preenchidos dois pressupostos:

• Haja indícios de que direito de facto existe

• Haja perigo na mora – tem de haver um risco de perda de efetivação do direito se tiver de se aguardar pela
intervenção.

O AC da Relação de Lisboa de 15/12/2009 mostrou-se da opinião de que nos contratos de trespasse existe uma cláusula
implícita, na medida em que torna dispensável a sua expressa estipulação, que dá surgimento ao dever jurídico de não
concorrência.

Como fundamento jurídico desta obrigação invoca-se o 879/6, conjugado com o artigo 762/2(principio da boa fé) que
refere ser efeito essencial da CV a obrigação de entregar a coisa.

25
5. Imagine por fim que Albano tinha também arrendado um armazém de apoio ao funcionamento da Albanaria.
Pode trespassá-lo a sua filha para apoio ao funcionamento da Nova Albanaria?

O trespasse exige uma transmissão no seu todo, como universalidade.

No entanto, as partes gozam de liberdade para excluírem da transmissão alguns elementos do estabelecimento.

Porém, tal exclusão não pode abranger os bens necessários e suficientes para a transmissão de um estabelecimento.

Sendo um armazém de apoio ao funcionamento do estabelecimento trespassado, este faria parte do âmbito natural de
entrega, devendo transmitir-se com o estabelecimento trespasso ex silencio, salvo convenção das partes em sentido
contrário.

O 1112/2/a) exige a transferência de todos os seus elementos - basta a falta de 1 deles para que não se possa falar em
trespasse.

Noção de estabelecimento abrange coisas corpóreas, ficando abarcados os direitos relativos a imóveis, particularmente os
direitos reais de gozo(propriedade) e pessoais de gozo (arrendamento).

No silencio das partes, que utilizaram a expressão global, devemos ter em conta o critério funcional – é o que
permite distinguir de entre o património do alienante, quais os elementos.

tos que funcionalmente dele fazem parte; critério interpretativo, ou seja, o que o alienante quis transpassar; posições
jurídicas que funcionalmente fazem parte do critério do objeto trespassado.

Não pode trespassar.

• Pode-se trespassar o armazém “órfão” sem autorização do senhorio? Em princípio não. Sem autonomia (CA) vs.
fator funcional (MC).

CASO PRÁTICO N.º 8


Continuação do caso n.º 7:
1. No contrato pelo qual Albano transmitiu a Albanaria a Diogo podia ler-se:

1) Pelo presente contrato, Albano transmite a Diogo o snack-bar “Albanaria”, incluindo a sua
posição contratual em todos os contratos de fornecimento, por 100.000 euros.

O trespasse exige uma transmissão no seu todo, como universalidade. Este não pode ficar de tal modo descaracterizado
que já não possa considerar-se um estabelecimento.
26
Os contratos de fornecimento fazem parte das coisas incorpóreas, que incluem os direitos a prestações provenientes de
posições contratuais, parte integrante e essencial de um estabelecimento. Âmbito natal? Transmite-se
automaticamente salvo declaração em contrário?

À partida, integrará o Âmbito máximo ou convencional (?): que é composto pelo conjunto de
elementos que necessita de convenção das partes para serem transmitidos.

Destes fazem parte Contratos ligados à exploração da empresa, (mas cujos objetos não
sejam elementos do estabelecimento) – destes fazem parte os débitos resultantes da
exploração do estabelecimento, não devendo ser considerados elementos ou meios empresariais.

Mas podem igualmente ser transmitidos juntamente com o estabelecimento trespassado; no


entanto, não fazem parte de qualquer dos âmbitos de entrega; nem sequer do âmbito
convencional – pois a respetiva transmissão exige a intervenção de terceiros; assim, devemos
aplicar:

 Artigos 424º e ss. do CC – é necessário não apenas o acordo entre trespassante e


trespassário, mas também o consentimento do contraente cedido.

Aqui temos cessão da posição contratual (424º). Também temos créditos e débitos.

➔ Há quem entenda que estas normas do CC não se aplicam ao trespasse desde que não seja
exploracionais – furtar-se-iam às regras do CC.

➔ CA e MC – estas normas do CC aplicam-se mesmo às questões exploracionais.

➔ 577º CC - cessão de créditos não exige consentimento do devedor.

Assunção de dívida – neste caso é preciso é preciso consentimento? 595º - credor não poe ficar
prejudicado. O novo devedor pode não ter capacidades financeiras. Se o credor não intervém ficam
solidariamente responsáveis e assim o credor não fica prejudicado.

2) Ficam ainda expressamente incluídas as dívidas já vencidas a todos os fornecedores, ficando


Albano exonerado do seu pagamento.

As dívidas caracterizam-se por serem uma situação jurídica comum, integrando o âmbito convencional da entrega, ou
seja, só se transmitem por acordo das partes. Num trespasse de âmbito máximo, que engloba o passivo, distingue-se
os efeitos internos e externos.

No plano Interno - o trespassário adquirente fica adstrito, perante o trespassante, a pagar aos terceiros o que lhes devia.

27
No plano Externo - o alienante só fica exonerado se os terceiros, nos termos da assunção e de dívida e cessão da posição
contratual, o exonerarem ou derem acordo. (595º CC).

Desta forma, na transmissão da universalidade de facto do estabelecimento, não decorre a obrigação de pagar o passivo
por querer adquirir o ativo.

Na assunção do passivo o adquirente do estabelecimento apenas responde pelas dívidas se tal for convencionado pelas
partes. No entanto, se as dívidas forem exploracionais, indissociáveis do estabelecimento, segundo o Professor Oliveira
Ascensão elas são transmitidas tacitamente.

Quanto à convenção, mesmo no caso de ser convencionado o alienante não fica automaticamente desobrigado;
necessita de consentimento(ratificação) dos credores - art.º 595º.

O passivo não integra a universalidade em que o estabelecimento se traduz.

A declaração emitida pelo alienante pela qual assume o pagamento das dívidas não tem qualquer efeito jurídico
externo, não constituindo uma assunção de dívida pois ele já é vendedor.

Considera-se que a transmissão do passivo faz parte do âmbito material do estabelecimento, mas não do seu núcleo
essencial, podendo haver trespasse sem transferência do passivo.

Mesmo que conste de escritura a transmissão de dívidas, a nível externo o trespassante continua obrigado a
satisfazer as dívidas aos credores se estes não o exonerarem.

3) Ficam expressamente excluídas:


a) O direito a usar o nome “Albanaria” para identificar o estabelecimento;

O nome pode ser visto de duas perspetivas:


Pode integrar o âmbito natural – caso em que se transmite automaticamente se as partes não
convencionarem o contrário.

Pode também trata-se de uma situação jurídica comum, de âmbito máximo ou convencional, pelo que só se
transmite por acordo das partes.

Transmitindo-se um estabelecimento, transmite-se naturalmente com ele o respetivo logotipo e marca – art.º
256º/2 CPI. Porém, Quando neles figure nome individual, firma ou denominação do titular do

28
estabelecimento – artigo 30º/3 do CPI (código da propriedade industrial) cai no âmbito
convencional de entrega.

A transmissão do logotipo deve ser provada por doc escrito

b) A máquina que permite fazer “as melhores tostas mistas do mundo”;

As partes gozam de liberdade para excluírem da transmissão alguns elementos dos estabelecimentos. Porém, tal
exclusão não pode abranger os bens necessários e suficientes para a transmissão de um estabelecimento.

Em regra, a maquinaria pertencerá ao âmbito natural – pelo que são transmitidas independentemente de estipulação,
desde que não excluídas por clausulas.

Contudo, esta trata-se da maquina que permite conceber as melhoras tostas mistas do mundo, pelo que poderá ser um
bem essencial ao trespasse – âmbito mínimo - , imprescindível para viabilizar o trespasse, pois o
estabelecimento é conhecido pelas suas tostas, pelo que retirando-lhe este bem essencial à sua reputação, retirar-lhe-á
aptidão, descaracterizando-o quanto aquilo por que é conhecido, o seu valor de posição e aquilo porque o torna
reconhecível.

Máquina – depende se é a única- características essenciais.

Professor não considera que não há uma descaracterização do estabelecimento se a maquina não for transmitida.
Ex. no caso da forno de ouro. O que carateriza o espaço é mais o forno do que as pizzas. Assim, uma cláusula que a
exclui iria descaracterizar o estabelecimento.

c) A marca “As melhores tostas mistas do mundo”;

As partes gozam de liberdade para excluírem da transmissão alguns elementos dos estabelecimentos. Porém, tal
exclusão não pode abranger os bens necessários e suficiente para a transmissão de um estabelecimento.

Nos termos do art.º 256º/2 a marca integra o âmbito natural de entrega, ou seja, transmitir-se-á automaticamente,
salvo convenção em contrário, o que aqui sucede.

Contudo, como se disse também a respeito da maquina das tostas, estamos a falar da marca que caracteriza e
emblematiza o conceituado café, que permite atrair clientela e posicioná-lo bem quanto a esse reconhecimento. .
Podemos estar perante um caso de âmbito mínimo, pois é indispensável à transmissão do estabelecimento,
imprescindível para viabilizar o trespasse.

29
d) A trabalhadora Maria Albertina.

Engrácia Antunes (e Coutinho abreu ) - Artigo 285º do CT – transmite-se automaticamente os contratos de


trabalho, no caso de transmissão do estabelecimento comercial. Integrará, portanto, o âmbito natural - pelo que são
transmitidas independentemente de estipulação, desde que não excluídas por clausulas.

Outra parte da doutrina entende que os ocntratos de trabalho, coisa incoprorea do ativo do estebclemtno, intera-se
no âmbito necessário/imperativo – vindo regulado no artigo 285º CT, pelo que é um elemento que
acompanham obrigatoriamente a transmissão do estabelecimento independentemente da
vontade das partes

Porem, a trabalhadora podia ser caracterizada como know how poderia, pelo que não estar incluída no trespasse
podia levar à descaracterização do estabelecimento – pelo que deveria integrar o âmbito mínimo - sendo um
imprescindível para viabilizar o trespasse .

Know-how é um termo em inglês que significa “saber como” ou “saber fazer”. Refere-se ao conjunto de
conhecimentos técnicos e práticos (fórmulas, tecnologias, técnicas, procedimentos, etc.) referentes à determinada
atividade. Esse é um termo muito utilizado no universo corporativo, podendo ser aplicado ao profissional ou à
empresa.

Ao determinar que um indivíduo ou uma organização possuem know-how, quer-se dizer que ambos têm domínio
especializado sobre um mercado, produto ou serviço. Isso os transforma em referência, visto que detêm o
conhecimento que outros, que atuam em sua mesma área, não têm. Assim, observa-se que a competência é
determinante para ganhar vantagem competitiva perante seus concorrentes.

Maria albertina tinha o direito de ficar vinculada.

4) Sem prejuízo do disposto na alínea a) do n.º anterior, Diogo poderá usar a referência à
“Albanaria” na sua firma pessoal.» Quid iuris?

2. Albano, entretanto cedeu o direito a usar o nome “Albanaria” em estabelecimentos comerciais à sua
filha Filipa, para que o pudesse usar no seu novo projeto empresarial.
Quid iuris?

A transmissão da firma só é possível em conjunto com o estabelecimento a que ela se achar ligada – 44º RNPC.

30
CASOS INSOLVÊNCIA

CASO PRÁTICO N.º 9


A Praia e Campo, S.A. (PCSA) anda pelas ruas da amargura. Durante o passado inverno, tendo em
conta a sua atividade sazonal, decidiu investir os proveitos obtidos no verão em ações do Banco
Possível e Provavelmente Nacionalizado (BPPN). Estas ações do BPPN, praticamente o único ativo da
PCSA, desvalorizaram fortemente nos últimos meses, e a probabilidade de uma recuperação está
completamente afastada.
As dívidas, essas sim, acumulam-se: a vários fornecedores, a instituições de crédito e ao Estado. Estes
credores começam a perder a paciência e equacionam requerer a declaração de insolvência da PCSA.
Caso decidam avançar, em 2016, (i) um dos sócios da PCSA invocaria um crédito por suprimentos
efetuados, (ii) o Banco Menos invocaria um crédito hipotecário, (iii) um fornecedor de tendas de
campismo invocaria um crédito relativo ao preço de bens alienados e (iv) a Administração Tributária
invocaria um crédito relativo ao Imposto Municipal sobre as Transmissões Onerosas de Imóveis
devido pela aquisição da sede da empresa, em 2012. (v) E o administrador da insolvência, a nomear
pelo tribunal, também quererá cobrar os respetivos honorários...

a) A PCSA pode ser considerada em situação de insolvência?

Está em situação de insolvência quele que é incapaz de cumprir as suas obrigações, normalmente por
ausência necessária de liquidez, ou seja, não tem ativo que cubra o passivo.

A finalidade da declaração do estado de insolvência é a satisfação do direito do credor sobre o


património do devedor.

Esta apresenta-se:
• Como um processo executivo – a sua finalidade é a obtenção da realização coativa de uma
obrigação
• Como uma ação coletiva – o seu fim é a satisfação de todos os credores de um devedor
• Um processo de execução universal – abrange todo o património do devedor;

➔ A insolvência é ainda uma forma de execução para pagamento de quantia


certa – o rateio do património do devedor não é realizado em espécie, envolvendo
antes um processo de liquidação (venda) que converte os bens do devedor em
dinheiro.

A incapacidade do devedor insolvente em cumprir as suas obrigações tem de ser certificada – através
da declaração de insolvência (art.º 36º CIRE).

31
• Critério do fluxo de caixa (cash flow) – o devedor é insolvente assim que se torna incapaz de
pagar as suas dívidas no momento em que estas se vencem, por falta de liquidez.

 O Direito Nacional estabelece este critério - (art.º 3º/1 CIRE)

 ML – este artigo 3º/1 CIRE deve ser interpretado no sentido de se ter a insolvência
como a impossibilidade de cumprir pontualmente as respetivas obrigações por carência
de meios próprios e por falta de crédito.

• Critério do balanco ou do ativo patrimonial – a insolvência resulta do facto de os bens do


devedor serem insuficientes para o cumprimento integral das suas obrigações.

✓ Apesar de não ser o critério admitido por lei, esta chega a adotá-lo – a insuficiência
patrimonial funciona como critério acessório da definição de insolvência, aplicável às
PC´S e aos patrimónios autónomos (art.º 3º/2 CIRE).

✓ Funciona em alternativa ao critério do fluxo da caixa, de modo a facilitar o pedido de


insolvência por parte dos credores destas entidades. Esta disposição é, contudo,
limitada pelo art.º 3º/3 CIRE (vide).

➔ A insolvência atual, para efeitos da lei, é equiparada à insolvência iminente,


caso o devedor se apresente à insolvência (art.º 3º/4 CIRE). Isto faz com
que o devedor possa declarar-se insolvente ainda antes do vencimento das
dívidas, através de um juízo de prognose do qual resulta a suposição de que,
nessa altura, se verificará uma impossibilidade de cumprimento.
✓ Só serve para o devedor declarar a sua insolvência. Os credores não podem
invocar esta.

Nos termos do art.º 2º/1 CIRE: Podem ser objeto de processo de insolvência:

1. Quaisquer pessoas singulares ou coletivas;


• As PS podem sempre ser declaradas insolventes;
• Se a PS for empresária não haverá distinção entre o seu património e o da
empresa – todo ele responderá por dívidas empresariais;
• As PC´S englobam: associações, fundações, sociedades comerciais,
sociedades civis sob forma comercial e as cooperativas. Regra geral, a
declaração de insolvência de uma PC acarreta a sua dissolução.

NESTES TERMOS, TRATANDO-SE DE UMA PC, ESTA PODIA SER OBJETO DE


INSOLVÊNCIA.

DESTE MODO, TENDO EM CONTA QUE AS DÍVIDAS SE ACUMULAVAM E O SEU ÚNICO


ATIVO ERAM AS AÇOES QUE SE DESVALORIZAVAM NOS ULTIMOS MESES, A EMPRESA
ESTARIA EM SITUAÇÃO DE INSOLVENCIA, OU NA IMINENCIA PARA TAL.

32
Relevante para a insolvência é a massa insolvente – 46º
Noção: património autónomo composto por todos os bens e direitos que integram o
património do devedor à data da declaração de insolvência, como pelos bens e
direitos que este adquira na pendência do processo de insolvência.

Finalidade: A massa insolvente destina-se a ser liquidada (vendida) para que o


respetivo produto possa ser afeto ao pagamento aos credores do processo de
insolvência (satisfação dos créditos dos credores da insolvência), depois de pagar as
suas próprias dívidas – da massa insolvente.

Dívidas da massa insolvente – art.º 51º CIRE:


• custas do processo de insolvência;
• remunerações do administrador da insolvência;
• despesas com a apreensão dos bens;
• (…)

 As dívidas da massa insolvente vão ser satisfeitos em primeiro lugar – art.º


46º/1 CIRE e 172º CIRE.

Importante também é a existência de Créditos Sobre a Insolvência – art.º 47º


CIRE
Corresponde àqueles que, cujo fundamento seja anterior à declaração de insolvência ou
surjam no decurso do processo, o devedor insolvente tem de satisfazer, tendo estes
natureza patrimonial. O que se verifica.

O pedido de declaração de insolvência

O processo de insolvência tem início com o pedido de declaração de insolvência – art.º


18º e ss. CIRE.

A legitimidade para apresentar este pedido é:


a. Em primeira linha, do próprio devedor – 18º/1 CIRE – o que implica o
reconhecimento por este da sua insolvência – art.º 28º CIRE. É um dever
b. Se este for incapaz, terá legitimidade o seu representante legal.
c. Se o devedor não for uma pessoa singular, a legitimidade recairá sobre o
órgão social incumbido da sua administração ou sobre a entidade incumbida da
administração ou liquidação do património – art.º 19º CIRE.
d. Para além do devedor, tem legitimidade para apresentar o pedido de declaração
de insolvência qualquer credor, independentemente da natureza do crédito e do
vencimento do mesmo, bem como o Ministério Público – art.º 20º CIRE. Mas
não é um dever.

33
É, ainda assim, necessário que se tenha interesse na respetiva declaração. Da
petição inicial terá de constar, no caso do credor, a natureza e o montante do crédito,
tendo este de fazer prova do mesmo através de qualquer meio – art.º 25º CIRE.

Excetuando-se as pessoas singulares que não sejam titulares de uma


empresa na data em que incorram em situação de insolvência (art.º 18º/2
CIRE), impende sobre o devedor o dever de requerer a declaração da sua
insolvência dentro dos 30 dias seguintes à data do conhecimento da
situação de insolvência (nº1).

Se houver incumprimento deste dever de requerer a declaração, a


insolvência será declarada culposa (art.º 186º/3 CIRE). Para além disso,
o devedor incorre em responsabilidade aquiliana, por violação de disposição
legal destinada a proteger interesses alheios.

Mas, como se disse, os credores também têm legitimidade para requerer a


insolvência do devedor.

A estes caberá produzir prova relativa à sua condição de interessados na declaração,


exigindo-se a verificação de uma das circunstâncias do art.º 20º CIRE.

A petição inicial deverá obedecer ao disposto no art.º 23º CIRE, exigindo-se em


conjunto os documentos estabelecidos no art.º 24º do mesmo diploma.
• Escrita;
• Exposição dos factos.

b) Em caso afirmativo, como seriam graduados os créditos sobre a massa insolvente


e sobre a insolvência?

Temos que ter, primeiramente, ideia do que seja a massa insolvente:

Massa insolvente – art.º 46º CIRE

Noção: património autónomo composto por todos os bens e direitos que integram o
património do devedor à data da declaração de insolvência, como pelos bens e
direitos que este adquira na pendência do processo de insolvência.

Finalidade: A massa insolvente destina-se a ser liquidada (vendida) para que o


respetivo produto possa ser afeto ao pagamento aos credores do processo de
insolvência (satisfação dos créditos dos credores da insolvência), depois de pagar as
suas próprias dívidas – da massa insolvente.
34
Dívidas da massa insolvente – art.º 51º CIRE:
• custas do processo de insolvência;
• remunerações do administrador da insolvência;
• despesas com a apreensão dos bens;
• (…)

 As dívidas da massa insolvente vão ser satisfeitos em


primeiro lugar – art.º 46º/1 e 172º CIRE.

➔ Devem considerados integrados na massa insolvente os bens dos responsáveis


legais das dívidas do insolvente - pessoas que, nos termos da lei, respondam
pessoal e ilimitadamente pela generalidade das dívidas do insolvente, ainda que a
título subsidiário – art.º 6º/2 CIRE.
➔ Se o insolvente for casado em regime de comunhão geral de bens ou de
comunhão de adquiridos, a massa insolvente também engloba a meação dos bens
comuns. Se o outro cônjuge não for parte no processo de insolvência, este ganha
o direito de separar os seus bens da massa insolvente e a sua meação nos bens
comuns (art.º 141º/1-b)).

Classificação dos créditos

Quais as obrigações que integram o passivo – que o ativo pode ser chamado a
satisfazer?

• Passivo: conjunto de créditos que podem ser exercidos contra o insolvente;


Primeiro satisfazer-se-ão as dívidas da massa insolvente (art.º 51º CIRE), e só
depois os créditos sobre a insolvência – art.º 46º/1 CIRE

A) Créditos Sobre a Insolvência – art.º 47º e 173º e ss. CIRE

Corresponde àqueles que, cujo fundamento seja anterior à declaração de insolvência ou


surjam no decurso do processo, o devedor insolvente tem de satisfazer, tendo estes
natureza patrimonial.

Nos termos do art.º 47º CIRE, verifica-se uma graduação de créditos:


• Créditos garantidos:4 créditos que beneficiam de uma garantia real ou de
privilégios especiais – consignação de rendimentos, penhor, hipoteca ou direito de
retenção. O seu pagamento é feito depois de serem pagas as dívidas da
massa insolvente. 174º CIRE
4
A penhora, apesar de ser uma garantia real das obrigações, não faz parte dos crédito garantidos para efeitos do processo de
insolvência. O mesmo se passa com a hipoteca judicial.

35
• Créditos privilegiados: créditos que beneficiam de privilégios creditórios gerais.
Não constituem garantias reais por não incidirem sobre coisas determinadas. O
seu pagamento é feito depois de serem pagos os créditos garantidos.
 Exemplo: dívidas de doença. 175º CIRE
• Créditos comuns: créditos que não beneficiam da garantiam real, nem de
privilégio geral, e não são objeto de subordinação. O seu pagamento surge
depois da satisfação dos créditos privilegiados. art.º 176º CIRE
• Créditos subordinados: correspondem ao conjunto de créditos que são
satisfeitos depois dos restantes créditos sobre a insolvência. Serão pagos se ainda
restar saldo. São os últimos a serem satisfeitos, portanto. Art.º 48º CIRE.
177º CIRE.
 Não conferem direito de voto na assembleia de credores – art.º 73º/3
CIRE;
 Não conferem ao titular assento na comissão de credores.

Os créditos subordinados dividem-se em várias categorias: vide art.º 48º CIRE.


Entre os quais:
• “créditos detidos por pessoas especialmente relacionadas com o devedor” –
48º/1, remetendo para o 49º:
✓ Cônjuge;
✓ Ascendentes
✓ Sócios
✓ (…)

Os créditos sobre a insolvência são satisfeitos de acordo com o art.º 47º/4 CIRE:
1º - créditos garantidos
2º - créditos privilegiados
3º - créditos comuns – art.º 47º/b) e 448º CIRE
4º - créditos subordinados

Pode-se observar a extinção de privilégios creditórios e garantias reais –


art.º 97º CIRE. Passam a comuns.

Os créditos serão assegurados pelos bens da massa, e para que sejam


considerados terão de ser constituídos antes da declaração de
insolvência, ou surjam no decurso do processo.
36
Assim:

(i) um dos sócios da PCSA invocaria um crédito por suprimentos efectuados,

crédito subordinado art.º 47º/4 48º/1-a;g e 49º/2-a)

(ii) o Banco Menos invocaria um crédito hipotecário,

crédito garantido.

(iii) um fornecedor de tendas de campismo invocaria um crédito relativo ao preço de bens alienados

crédito comum - créditos que não beneficiam da garantiam real, nem de


privilégio geral, e não são objeto de subordinação. O seu pagamento surge
depois da satisfação dos créditos privilegiados. art.º 176º CIRE

(iv) a Administração Tributária invocaria um crédito relativo ao Imposto Municipal sobre as


Transmissões Onerosas de Imóveis devido pela aquisição da sede da empresa, em 2018.

À partida, seria um crédito privilegiado - créditos que beneficiam de privilégios


creditórios gerais. Não constituem garantias reais por não incidirem sobre coisas
determinadas. O seu pagamento é feito depois de serem pagos os créditos
garantidos.

(v) E o administrador da insolvência, a nomear pelo tribunal, também quererá cobrar os respetivos
honorários...

Os honorários do administrador integram as dívidas da massa insolvente – art.º


51º/1-b) CIRE – dividas essas satisfeitas em primeiro lugar - art.º 46º/1 e
172º CIRE.

37
CASO PRÁTICO N.º 10

Há mais de seis meses que Telma e Luísa, gerentes da Rainha dos Frangos, Lda.
(RF) não promovem o pagamento de salários aos trabalhadores da empresa.

Sempre que estes se queixam, as duas amigas respondem que o Estado está
bem pior, uma vez que não entregam o Imposto sobre o Valor Acrescentado
que têm liquidado há mais de um ano. A situação financeira, de facto, não é
famosa. Como ato desesperado, as duas gerentes negociaram em nome da RF
um contrato de abertura de crédito com o Banco Crédulo Português (BCP), para
a compra de frangos e venda dos mesmos, assados, a € 1/kg, no afamado
restaurante.

20º CIRE

Trabalhadores têm legitimidade para requerer a insolvência

Questão do iva – onde se integra? Priveligados? Cai no 97º?

Crédito com o banco – priveligiado?

a) A calma com que Telma e Luísa estão a lidar com a situação financeira da RF
será passível de censura, caso esta última venha a ser declarada insolvente?

Telma e Luísa têm o Dever de declaração de insolvência dentro dos 30 dias


seguintes à data do conhecimento da situação de insolvência (basta a
iminência) – 18º e 28º

Se houver incumprimento deste dever de requerer a declaração, a insolvência


será declarada culposa (art.º 186º/3 CIRE). Para além disso, o devedor incorre

38
em responsabilidade aquiliana, por violação de disposição legal destinada a
proteger interesses alheios.

Sabe-se já que a insolvência iminente é equiparada à insolvência atual, do que


resulta que o devedor pode declarar insolvência ainda antes do vencimento das
obrigações. Resta saber se a insolvência iminente determina, então, o início da
contagem do prazo para efeitos do art.º 18º/1 CIRE.

MENEZES LEITÃO defende que o prazo apenasse conta a partir do momento em


que ocorre a insolvência atual (“o art.º 18º/1 remete apenas para o art.º 3º/1
e não para o nº 4, aliado ao facto de ser extremamente insegura a
determinação do momento em que se verifica a insolvência iminente”).

CREDORES COM LEGITIMIDADE PARA REQUERMENTO.

Estes têm legitimidade, mas não é um dever. O dever apenas pende sobre o devedor
insolvente.

A estes caberá produzir prova relativa à sua condição de interessados na


declaração, exigindo-se a verificação de uma das circunstâncias do art.º 20º
CIRE.

Aqui teríamos a alínea g) Trata do incumprimento generalizado, nos seis


meses anteriores, de obrigações de natureza específica.

✓ O artigo 18º/3 diz-nos que “Quando o devedor seja titular de uma empresa,
presume-se de forma inilidível o conhecimento da situação de insolvência
decorridos pelo menos três meses sobre o incumprimento generalizado de
obrigações de algum dos tipos referidos na alínea g) do n.º 1 do artigo
20.º” – 18º/3 CIRE.
Exemplo: prestações de contrato de trabalho

Declarada a insolvenvencia, observer-se-ão uma panoplia de efeitos:

➔ Efeitos da sentença de declaração de insolvência sobre o insolvente –


art.º 81º CIRE

 transferência dos poderes de administração e disposição dos bens da massa


insolvente para o administrador da insolvência. A declaração de insolvência
implica a privação do devedor dos seus poderes de administração e
disposição do património - art.º 81º CIRE . Perde-se, assim, a posse
material e as faculdades de administração e disposição, quer dos bens que

39
possui aquando da declaração, mas também dos bens e rendimentos futuros
(realidade que deriva do próprio conceito de massa insolvente – art.º 46º
CIRE).
✓ Excluídos do âmbito desta privação estão:
▪ Os bens excluídos da massa insolvente (bens impenhoráveis) ou
abrangidos por uma separação de patrimónios.
▪ Os negócios obrigacionais – o devedor pode contrair dívidas,
mas estas não responsabilizarão a massa insolvente.
▪ Os administradores (representantes legais e mandatários no
caso das pessoas singulares; encarregados da administração e
liquidação do património ou titulares de órgãos sociais no caso
de pessoas coletivas).

 apreensão dos bens – art.º 36º/1-g) CIRE. A apreensão abrange todos os


bens suscetíveis de penhora, mesmo que já penhorados, arrestados ou por
qualquer forma apreendidos ou detidos noutro processo.

✓ Apenas serão excluídos os bens insuscetíveis de penhora (art.º 822º e


ss. CPC). Vigora ainda um regime especial para o caso de apreensão
da casa de morada de família: se arrendada, o arrendamento não
pode ser apreendido. Se for habitação própria,
pode o insolvente requerer o diferimento da desocupação com
fundamento em razões sociais imperiosas.

✓ Se os bens já tiverem sido vendidos, a apreensão terá por objeto o


produto da venda (art.º 149º/2 CIRE). A entrega dos bens é feita de
acordo com o previsto no art.º 150º.

➔ Efeitos da sentença de declaração de insolvência sobre as ações judiciais


– art.º 85º CIRE

 o facto de serem restringidas as faculdades de administração e disposição do


insolvente faz com que este deixe de poder instaurar ou prosseguir ações
em que estejam em causa bens compreendidos na massa insolvente – art.º
85º/1 CIRE.
 leva à suspensão de quaisquer diligências executivas que atinjam os bens
integrantes da massa insolvente – o processo de insolvência gera assim a
proibição de instauração ou prosseguimento de ações executivas, qualquer
penhora ou arresto sobre os bens.

➔ Efeitos da sentença de declaração de insolvência sobre os créditos – Art.º


90º CIRE

 Durante a pendência do processo os credores apenas poderão exercer os


seus direitos no âmbito do mesmo (art.º 90º), pelo que não podem
40
instaurar ações independentes ou continuar a prosseguir outros processos à
margem deste.
 a declaração de insolvência gera o vencimento imediato de todas as
obrigações do insolvente (art.º 91º/1), com exceção dos créditos
tratados no art.º 50º. Esta antecipação do vencimento prende-se com a falta
de confiança dos credores na solvabilidade do devedor. Assim sendo, as
obrigações passarão a vencer juros legais a partir do momento da
declaração.
 gera a suspensão de todos os prazos de prescrição e caducidade oponíveis
pelo devedor, durante o processo – art.º 100º CIRE.
 Dá-se também a extinção de certas garantias – art.º 97º CIRE.
 Existem também consequências para o regime da compensação. A partir do
momento da sentença, os credores apenas podem compensar os seus
créditos com dívidas da massa se se verificar uma das situações previstas no
art.º 99º CIRE. A compensação não é admissível nos termos do nº 4.
Admitida a compensação, esta faz extinguir tanto o crédito do declarante
como o do insolvente. Assim, o declarante vê o seu crédito satisfeito por
inteiro, pelo que deixa de ser necessário que reclame o seu crédito. Terá de
o fazer, somente, se o valor do seu crédito ultrapassar o montante do
crédito do insolvente (caso em que reclamará o remanescente).

➔ Efeitos sobre os negócios em curso – art.º 102º e ss. CIRE

 A regra geral é a de garantir ao administrador da insolvência a possibilidade


de optar pela execução do negócio ou, antes, pela recusa do seu
cumprimento – art.º 102º. Assim sendo, procede-se à suspensão dos
contratos, até que o administrador da insolvência comunique a sua opção. A
outra parte reserva para si a possibilidade de fixar um prazo, findo o qual a
não comunicação se tem como recusa ao cumprimento – art. 102º/2. Este
regime é justificado pela necessidade de adotar medidas de proteção dos
credores, pois que forçar o devedor a cumprir com todos os seus negócios
faria com que este tivesse de optar por cumprir uns negócios em detrimento
de outros.
✓ a opção pela recusa por parte do administrador da insolvência não
prejudica o direito à indemnização pelos danos causados à outra parte
pelo incumprimento, ainda que essa seja fortemente restringida.
✓ a opção pelo cumprimento do contrato garante-lhe o direito a exigir as
prestações contratualmente acordadas, tendo a outra parte igualmente
o direito de exigir esse cumprimento, o qual constituirá uma dívida da
massa, nos termos do art.º 51º/1º f).

b) Caso a RF venha ser declarada insolvente em Janeiro de 2016, será que a


sociedade Frango Gorducho, S.A. (FG) pode compensar um crédito sobre a RF

41
de que é titular, emergente do fornecimento de frangos durante o primeiro
semestre de 2015, com uma dívida decorrente do fornecimento de almoços
pela RF aos trabalhadores da FG, durante Setembro e Outubro de 2014? Ambos
os créditos deveriam ser pagos nos 30 dias seguintes ao fim do prazo do
correspondente fornecimento.

créditos estavam vencidos e eram judicialmente exigíveis. Art. 847º cc e 91º


CIRE

Declarada a sentença, repercutem-se efeitos sobre os créditos – art.º 90º CIRE

 Existem também consequências para o regime da compensação.


 A declaração de insolvência não afeta o direito do credor da insolvência à
compensação, se esta for permitida pela lei aplicável ao contra-crédito do
devedor – art.º 286º CIRE.

 A partir do momento da sentença, os credores apenas podem compensar os


seus créditos com dívidas da massa se se verificar uma das situações
previstas no art.º 99º CIRE. A compensação não é admissível nos termos
do nº 4.

a) Ser o preenchimento dos pressupostos legais da compensação anterior à


data da declaração da insolvência.

b) Ter o crédito sobre a insolvência preenchido antes do contra-crédito da


massa os requisitos estabelecidos no artigo 847.º do Código Civil.

 Admitida a compensação, esta faz extinguir tanto o crédito do declarante


como o do insolvente. Assim, o declarante vê o seu crédito satisfeito por
inteiro, pelo que deixa de ser necessário que reclame o seu crédito. Terá de
o fazer, somente, se o valor do seu crédito ultrapassar o montante do
crédito do insolvente (caso em que reclamará o remanescente).

c) Em caso de insolvência, o que sucede ao contrato de compra e venda


celebrado entre a RF (vendedora) e a Frango Imperial, S.A. (FI) relativo a
uma carrinha de distribuição? O contrato foi celebrado com reserva de
propriedade, mas a carrinha ainda não tinha sido entregue à FI, que, no
entanto, já pagara metade das prestações.

42
➔ Efeitos sobre os negócios em curso – art.º 102º e ss. CIRE

 A regra geral é a de garantir ao administrador da insolvência a


possibilidade de optar pela execução do negócio ou, antes, pela recusa do
seu cumprimento – art.º 102º. Assim sendo, procede-se à suspensão dos
contratos, até que o administrador da insolvência comunique a sua opção. A
outra parte reserva para si a possibilidade de fixar um prazo, findo o qual a
não comunicação se tem como recusa ao cumprimento – art.º 102º/2. Este
regime é justificado pela necessidade de adotar medidas de proteção dos
credores, pois que forçar o devedor a cumprir com todos os seus negócios
faria com que este tivesse de optar por cumprir uns negócios em detrimento
de outros.
✓ a opção pela recusa por parte do administrador da insolvência (art.º
102º/3 CIRE) não prejudica o direito à indemnização pelos danos
causados à outra parte pelo incumprimento, ainda que essa seja
fortemente restringida (art.º102º/3-d)).
✓ a opção pelo cumprimento do contrato garante-lhe o direito a exigir as
prestações contratualmente acordadas, tendo a outra parte igualmente
o direito de exigir esse cumprimento, o qual constituirá uma dívida da
massa, nos termos do art.º 51º/1º f).

art.º 104 nº1: não se aplica porque não houve entrega da coisa;

nem o 105º porque não houve transmissão de propriedade;

aplica-se o art.º 102º. Ou ele recusava o cumprimento ou ele não recusava.

102º/3 – RECUSADO O CUMPRIMENTO

a) Nenhuma das partes tem direito à restituição do que prestou;

b) A massa insolvente tem o direito de exigir o valor da contraprestação correspondente à prestação já efectuada pelo
devedor, na medida em que não tenha sido ainda realizada pela outra parte;

c) A outra parte tem direito a exigir, como crédito sobre a insolvência, o valor da prestação do devedor, na parte
incumprida, deduzido do valor da contraprestação correspondente que ainda não tenha sido realizada;

d) O direito à indemnização dos prejuízos causados à outra parte pelo incumprimento

d) E o que sucede ao contrato de arrendamento, celebrado entre a RF e a


Fábrica de Miúdos e Miudezas, S.A. (FMM) por 10 anos, relativo a um armazém
de que é proprietária a RF, do qual consta uma cláusula resolutiva, em caso de
insolvência de uma das partes?

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Nos termos do Art.º 108º/1 - A declaração de insolvência não suspende o
contrato de locação em que o insolvente seja locatário, mas o administrador da
insolvência pode sempre denunciá-lo com um pré-aviso de 60 dias, se nos
termos da lei ou do contrato não for suficiente um pré-aviso inferior.

Exceptua-se do número anterior o caso de o locado se destinar à habitação do


insolvente …

Art.º 109º - locação em que o insolvente é o locador - A declaração de


insolvência não suspende a execução de contrato de locação em que o
insolvente seja locador, e a sua denúncia por qualquer das partes apenas é
possível para o fim do prazo em curso, sem prejuízo dos casos de renovação
obrigatória.

Art.º 119º - 2 - É em particular nula a cláusula que atribua à situação de


insolvência de uma das partes o valor de uma condição resolutiva do negócio
ou confira nesse caso à parte contrária um direito de indemnização, de
resolução ou de denúncia em termos diversos dos previstos neste capítulo.

O locatário tinha sempre a sua situação acautelada pelo 1057 do CC, não
suspende a locação e uma eventual alienação da coisa locada não o priva dessa
mesma coisa art. 119 nº3, o contrato mantem-se tal e qual, se há algo que da
frutos à massa insolvente não faz sentido que o contrato se considere cessado,
tem que haver uma coerência do sistema, a declaração de insolvência só por si
não faz com que um contrato de locação se resolva.

e) Por último, pronuncie-se sobre o seguinte acordo, celebrado entre a RF e a


Piripiri, Lda. (PP), em outubro de 2015: perante uma dívida de € 20.000,
decorrente do fornecimento de condimentos pela PP à RF, vencida em agosto
do mesmo ano, esta última comprometeu-se a pagar a quantia em apreço em
20 prestações mensais, a partir de novembro de 2015, acrescida de uns
simpáticos juros; para garantir o cumprimento, foi constituída hipoteca sobre a
sede da RF.

Resolução em beneficio da massa

A) Resolução em benefício da massa insolvente

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O processo de insolvência tem como objetivo a satisfação igualitária dos direitos dos
credores. Assim sendo, não é admissível a concessão de vantagens especiais a qualquer
um deles, a partir do momento em que a situação de insolvência do devedor é
conhecida. (tendo em conta o enunciado a mesma já seria, pelo menos, eminente –
art.º 3º CIRE).

A lei permite que o administrador da insolvência determine a resolução de atos


e omissões em benefício da massa insolvente, nos casos em que o devedor
tenha concedido alguma vantagem desse tipo no período suspeito anterior à
declaração – 2 anos. Tal decorre dos art.º 120º/1 e ss.

A resolução em benefício da massa insolvente obedece a vários requisitos.

Requisitos gerais – art.º 120º CIRE:


• Realização pelo devedor de determinado ato;
• Prejudicialidade do ato em relação à massa insolvente – exige-se que os atos do
devedor frustrem, diminuam, ponham em perigo ou retardem a satisfação dos
credores da insolvência. Do art.º 120º/3 decorre ainda uma presunção iuris et de
iure: certos atos, presumem-se prejudiciais à massa. Remissão art.º 121º.
• Presume-se a existência de má fé do terceiro, aquando do conhecimento (art.º
120º/5 CIRE)
✓ De que o devedor se encontrava em situação de insolvência;
✓ Do carácter prejudicial do ato e de que o devedor se encontrava à data em
situação de insolvência iminente;
✓ Do início do processo de insolvência.

Requisitos da resolução incondicional – art.º 121º CIRE


• São resolúveis em benefício da massa insolvente os actos seguidamente
indicados, sem dependência de quaisquer outros requisitos:
✓ c) Constituição pelo devedor de garantias reais relativas a
obrigações preexistentes ou de outras que as substituam, nos seis
meses anteriores à data de início do processo de insolvência;
hipoteca em princípio nao resistiria.

Art.º 120º/3 – tinha de provar a má fé e que tinha sido praticada nos últimos
dois anos.

Poderia continuar a ter o crédito, mas não garantido com uma hipoteca.

Há atos em relação aos quais a lei exclui a possibilidade de resolução em benefício da


massa. Desde logo, os que estão previstos nos art.º 120º/6 e 122º.

Legitimidade para o exercício deste direito:


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• Legitimidade ativa – art.º 123º: legitimidade exclusiva do administrador da
insolvência – nos 6 meses seguintes ao conhecimento do ato e nunca depois de
dois anos sobre a data de declaração de insolvência;
• Legitimidade passiva – a mesma deve ser dirigida contra ambas as partes no
ato que se pretende resolver.

Quanto à forma de exercício da resolução, a mesma pode ser feita por simples
declaração à outra parte (regime geral do art.º 436º/1 CC). Esta terá de conter os
respetivos fundamentos, sob pena de nulidade.
• Carta registada com aviso de receção – art.º 123º/1 CIRE.

ESTUDO DA INSOLVÊNCIA EM AULA:

Processo de insolvência

• De execução universal

• De execução concursal – todos os credores são chamdos ao processo

➔ Medida de igualdade: segundo uma medida de proporcionalidade. Credores são


satisfeitos na medida dos seus créditos

Liquidação – venda. Com o produto paga aos credores. Leva à extinção da pessoa
coletiva.

Plano de insolvência: plano de pagamento dos créditos. No caso de pc estas continuam a


funcionar.

Pressupostos da insolvência – 2º e 3º e 18º e ss. CIRE

• Legitimidade passiva – quem pode ser objeto – 2º CIRE.

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✓ Por ex, as instituições de crédito não podem. Têm um regime específico.
Temos vários processos de insolvência.

• Situação material da insolvência – 3º

✓ Critério do fluxo de caixa/critério da liquidez – não tem liquidez. Posso não


ter caixa, mas ter recurso ao crédito. Neste caso não estamos numa situação
de insolvência. Posso não ter liquidez, mas ter ativos superiores aos passivos
– ainda assim estou em insolvência face a este critério. Ex.: não tenho
dinheiro para pagar a um comediante. Mas tenho o imóvel que vale 10
milhões – ainda assim estou insolvente para este critério.

✓ Critério do balanco ou do ativo patrimonial – aplica-se às coletivas, mas não


às singulares. Insolvente quando o passivo excede o ativo. Mas o nº3 ajuda
o devedor. Fortalece o ativo. No passivo vamos tentar cortar – dívidas pagas
depois dos credores. Aborda-se a empresa e verfica-se se tem
postencialidade do ativo estar suerior ao passivo daqui a uns meses. So
depois desse tempo é que s everifica se o critéro esta preenhido.

3º/4 – insolvência atual equiparada à eminente - só serve para o devedor declarar


a sua insolvência. Os credores não podem invocar esta.

• Legitimidade ativa – 18º

✓ Pode o devedor. E tem o dever em determinados casos – 30 dias apos


conhecer ou dever conhecer a situação de insolvência. Art.º 18º/3 é
importante. Atualmente não se aplica este dever. Não pode ser
reposanbilizado. Está suspenso (leis pos covid).

✓ Qualquer credor e MP – 20º

Como os crofr conseguem arvorar se estamos erante o critério do balanco ou da liquiez


– artigo 3º - atraves do 20º/1 – dos factos ilícitos. Tem de ser demonstrados pelos
credores.

Há um premio para terceiros que rqeriam a declaração de insolvência do devedor – art.º


98º CIRE – passa a adquirir a posição de privilegiado.

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20/a – moratória generalizada; b – incump defini c)fuga; d – esbanjamento do
património; e-insuficencia; f- incumprimento do plano – g) incump. Generalizado -
remissão 18º/3

Efeitos da declaração – 81º e ss

Guiados por alguma desconfiança na capacidade de gerir o negocio; não beneficiar um


credor em detrimento de outrem

• Regra geral ano é permitida a compensação

• Regra geral 102º - contrato bilateral; incumprimento total lou parcial; por ambas
as partes – são os requisitos

✓ Suspensão

✓ 103º e ss. – regras especiififcas quanto a incidecia da declaração de


insolvência nos negócios em curso.

Resolução em benefício da massa insolvente – 120º

• Destrói-se um ato considerado prejudicial para a massa insolvente.

• Porque é que a resolução em benefício da massa é tao perigosa? Estamos a


destruir negócios que já foram praticados e já produziram efeitos. ex.:
financiamento bancário (121º/e) – banco empresta dinheiro à empresa. Ira exigir
hipoteca, por ex. Importante porque passa a ser um credor garantido. Não tem de
concorrer com os credores comuns. Passado um mês entra em insolvência (por
causa dos 2 anos). É resolvida em beneficio da passa. Perde a garantia e passa a
credor comum.

Temos dois tipo de

➔ 120 - pressupostos: período suspeito (a logica é fortalecer a massa insolvente);


ser um ato prejudicial (120º/2 e 3); má fé do terceiro. Verificados o ato é
destruído – pelo administrador da insolvência - 123.

➔ 121: opera de forma automática, no sentido de não depender de prova (do carater
prejudica, má fé do terceiro).

➔ (num caso pratico olha-se primeiro para o art.º 121º) se esta previsto no 121º,
mas fora do prazo, podemos ir ainda ao 120º.
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Como articular com a ação de impugnação pauliana? – podem os credores intentar uma
ação de impugnação? Não há compatibilização. 127º. A açao de impugançao pauliana
pode ser usada quando? Art.º 127º/2.

Qualificação créditos – 47º e 173º e ss CIRE

• 47º/4 – enumera os tipos de crédito

✓ Garantidos – reais, como a hipoteca e o penhor, que são os mais comuns -

✓ Privilegiados – ex. indemnizações resultantes do contrato de trabalho

✓ Comuns – são residuais.

✓ Subordinados – atenção para a primeira e ultima alínea do 48.

Pagamento dos créditos 172º e ss.

Procede-se à liquidação

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