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Casos Práticos Direito Comercial I – Turma B

Ano letivo 2020/2021


Atos de Comércio e Comerciantes

Notas de definições: Segundo o Menezes Cordeiro, o direito subjetivo é uma permissão


normativa específica de aproveitamento de um bem.

A capacidade jurídica é uma medida concreta de direitos e deveres que se possa ser
respetivamente titular e destinatário, temos uma qualidade de ser destinatário. É uma
medida concreta de direitos e obrigações que alguém possa ser titular. É uma dimensão
quantitativa.
Na capacidade jurídica temos a capacidade jurídica de gozo e de exercício: Capacidade
de gozo: é a medida concreta, medida de que pode ser titular, isto é, traduz a medida de
posições jurídicas que se possam encabeçar. Capacidade de exercício: exprime a medida
de posições jurídica a exercer pessoal e livremente.
Caso 1

António, bancário em pré-reforma, dedica-se há vários anos a adquirir peças de


mobiliário para as recuperar e depois vender numa pequena loja na zona das
Amoreiras. Como ainda tem compromissos laborais com o banco, teve de
contratar Barnabé para assegurar o funcionamento da loja entre as 10h e as 17h
todos os dias da semana, ficando António responsável pelo encerramento da loja
entre as 17h e as 18h às segundas e quintas-feiras, dias em que aproveita para
fazer as encomendas de material e para despachar os trabalhos de restauro
encomendados online.

1. António é comerciante?

R: Antes de mais, nos termos do artigo 13º CCom, admite como comerciante “pessoas,
tendo capacidade para praticar atos de comércio, fazem deste profissão” e “sociedades
comerciais”.

É relevante salientar que a doutrina encontra-se dividida se é capacidade de exercício ou


de gozo. Assim, a maioria dos autores admite que está em causa uma capacidade de
exercício, como Coutinho de Abreu, Lobo Xavier, entre outros. Já uma posição
minoritária, iniciado por Mário de Figueiredo, defende ser somente de gozo. Após a
análise de cada uma da posição, compreende-se que, segundo Menezes Cordeiro, o
preceito do artigo 7º equivale a uma remissão para a lei civil, quer quanto à capacidade
de gozo, quer quanto à capacidade de exercício.

Ora, o artigo 14º CCom, dispõe que é proibida a profissão do comércio a “associações
ou corporações que não tenham por objeto interesses materiais” e “aos que por lei ou
disposições especiais não possam comerciar”. Assim, a profissão de comerciante está
aberta a todas as pessoas (singulares), salvo exceções devido a proibições gerais,
incompatibilidades, inibições e impedimentos.
Cumpre distinguir que as proibições gerais – são normas que vedem a toda e qualquer
pessoa singular certo tipo de comércio, por exemplo, comércio bancário – , as
incompatibilidades – impedem determinadas pessoas singulares, colocadas em certas
posições ou envolvidas em determinas situações jurídicas, de exercer comércio (Lei n.º
52/2019, de 31 de Julho) – , as inibições – atingem seletivamente determinadas pessoas,
por facto que elas hajam perpetrado ou por situações nas quais se achem incursas, por
exemplo, inibição do falido – e os impedimentos – adstringem pessoas neles incursas a
não praticar determinado tipo de comércio, salvo autorização, ocorre com o gerente de
comércio (artigo 253º CSC).

Analisando todas as exceções, António não preenche nenhuma, logo, é comerciante


(classificando-o com recurso a quatro vetores: prática reiterada ou habitual, prática
lucrativa, prática juridicamente autónoma, prática tendencialmente exclusiva), tendo
relevo para a determinação dos atos de comércio subjetivos, para além de ter
obrigações, por força do artigo 18º CCom, tal como, privilégios (certos aspetos que
tutelam a sua atividade).

Nota: a questão é se António é ou não artesão? Ele recupera as peças de mobiliário e


depois vende-as, não o inserimos na situação de artesão, não é o António que fabrica as
peças de imobiliário, 464º/3 CCom (usamos este para afirmar que não é comerciante), e
no artigo 230º-

Tópicos resolução: 13º CCom, 7º CCom, 14º CCom, 4 pressupostos do MC, teremos de
praticar um ato de comércio para ser revelante na definição de “comerciante”

2. A sua resposta seria a mesma se a loja de móveis pertencesse à Fundação


António Benemérito, destinada ao auxílio aos pobres e desfavorecidos?

R: A resposta seria diferente caso fosse uma fundação – pessoa coletiva – tendo em
conta que tem interesse social (não afirmar interesse social nesta cadeira!) , artigo 157º
do Código Civil, não podendo ser reconhecidas se isso não ocorrer, 188º do Código
Civil, e a profissão de comercio implica necessariamente um fim lucrativo.

Logo, não pode por isso a resposta idêntica, portanto, por força do artigo 14º/2 CCom e
17º/parágrafo único CCom.

É de destacar que não impede que disponham de rendimentos, simplesmente não


inferimos daí que se trate do exercício profissional do comércio, caso esse comércio
atingisse uma dimensão considerável, deveria constituir-se uma sociedade autónoma
para o efeito e ser comerciante.

Nota: o essencial é escrever os pontos principais, o resto é plus.

3. Com o aproximar do tempo frio, António que é cauteloso resolve adquirir um


novo equipamento de ar-condicionado para a sua casa, na loja de Carlota
que fica na mesma rua que a sua loja de móveis. Sucede que António não
pagou o preço devido e Carlota pretende agora demandar apenas Dionísia,
esposa de António, peticionado o valor em dívida. Quid iuris?

R: Ora, como António é comerciante, não constitui uma pessoa jurídica,


consequentemente, não há separação entre o património pessoal do titular e o
património da empresa, ou entre as dívidas pessoais e as dívidas da empresa.

Sendo assim, o artigo 15º do CCom que coloca os dois cônjuges em pé de igualdade no
tocante às dívidas comerciais dos comerciantes, remetendo para o disposto 1691º/1/d)
do Código Civil (discute-se na doutrina e jurisprudência se este preceito não revogou o
artigo 15º).

É relevante ser “para a sua casa” e o artigo 15º do CCom aborda “no exercício do seu
comércio”. Em primeiro lugar, a comunhão geral de bens ou adquiridos? Sub-hipótese,
porque o 15º somente se aplica na comunhão geral de bens ou adquiridos.
Posteriormente, artigo 15º, o regime estabelecido é o seguinte quando se refere a dívidas
comerciais, presunção ilidível, (no exercício do seu comércio, divida comercial, cônjuge
em comunhão de bens adquiridos ou geral), se não tiver demonstrado o proveito
comum, não se poderá ser pedido nada à Dionísia.

Respondem pelas dividas os bens em comum, 1695º/1. A preocupação neste caso é a


tutela de comércio, protege o credor (tornando mais fácil o exercício de atividades
mercantis).

Ora, não foi exercida a compra do AC para a casa, em si, presume-se que foi, e terá de
demonstrar tal no tribunal que não foi.

4. Felipe que também é aficionado no restauro de mobiliário, decide juntar-se a


António na atividade de compra para restauro e revenda de mobiliário.
Como o negócio aumentou e o espaço da loja se começa a revelar insuficiente,
António e Felipe contratam com Ernesto um espaço no armazém deste último
para irem lá colocando o “excesso” de peças de mobiliário.

Ernesto para se salvaguardar exige (i) que António dê em garantia uma


valiosa escultura de Júlio Pomar e (ii) que Diogo, irmão de Felipe, garanta
pessoalmente a dívida.

4.1. Qualifique as diversas situações jurídicas constantes do enunciado.

R: Nos termos do artigo 2º/1ª parte do CCom, são considerados atos de comércio todos
aqueles que se acharem especialmente regulados no CCom (e legislação avulsa, de
acordo com a doutrina), aliás, a 1ª Parte deste artigo reconduz aos atos de comércios
objetivos, que se distinguem dos atos de comércio subjetivos, nos termos do artigo
2º/2ªParte do CCom.
Assim, a comercialidade destes atos pode resultar de, independentemente do sujeito que
os encabece, e lhes ser aplicável um regime especial historicamente dito mercantil (atos
objetivamente comerciais), ou de tal regime lhes competir por terem sido levados a cabo
por comerciantes, no exercício do comércio (atos subjetivamente comerciais).

Neste caso, podemos identificar o contrato de António e Felipe com Ernesto de um


espaço de armazém para colocar o “excesso” de peças de mobiliário, sendo assim,
corresponde a um depósito, para ser considerado mercantil é necessário que seja de
género ou de mercadoria destinada a qualquer ato de comércio, nos termos do artigo
403º do CCom. Consideramos que é mercantil, sendo num armazém geral aplica-se
também os dispostos do 408º e seguintes do CCom. Portanto, esta situação jurídica é um
ato de comércio objetivo, aplicando-lhe o regime historicamente dito mercantil.
(resposta mais correta)

OU Neste caso, podemos identificar o contrato de António e Felipe com Ernesto de um


espaço de armazém para colocar o “excesso” de peças de mobiliário, sendo assim,
corresponde a um contrato de locação (regulado nos termos do artigo 1022º e seguintes
Código Civil). E corresponde a um ato comercial, mais concretamente, um ato misto,
visto que é um comerciante com um não comerciante, nos termos do 99º do CCom.

A questão da salvaguarda do Ernesto, especificamente, a situação jurídica (i)


corresponde a uma garantia real, mais concretamente uma penhor, regulado pelos
artigos 397º e seguintes do CCom, assim, corresponde a um ato de comércio objetivo, e
2º/1 Parte CCom. E ainda a situação jurídica (ii) corresponde a uma fiança, regulada no
artigo 101º do CCom, logo é uma ato comercial objetivo, 2º/1ªParte CCom.

Nota: Podemos acrescentar na questão da fiança, ser um ato de comércio acessório


(estes tipos de atos devem a sua mercantilidade, por estarem ligados a atos comerciais –
principais) – teoria do acessório (a fiança está ali para assegurar a garantia, para depois
serem revendidos).

Quanto à questão de locação vs depósito, a professora admite que estaria mais correta a
interpretação do depósito, contudo interpretaria a questão da locação.

4.2. Se António não cumprir o contrato com Ernesto, Diogo poderá


argumentar que, apenas quando se esgotar o património de António, é
que Ernesto o pode demandar?

R: Tópicos de resolução: artigo 101º (distinguir o regime da solidariedade e conjunta,


diferença entre regime comercial e civil). existe benefício da excussão, 638º Código
Civil. no código CCom, não está expressamente previsto o benefício da excussão
prévia, logo não poderia esgotar o património. Como era obrigação solidária, não podia.
4.3. Pode Felipe argumentar que apenas é devedor de metade do valor em
dívida?

R: Ora, por força do disposto 100º do CCom, existe solidariedade entre o António e
Felipe. A obrigação é solidária quando cada um dos devedores responde pela prestação
integral e esta a todos libera, sendo que o credor tem o direito de exigir de qualquer dos
devedores toda a prestação ou parte dela, proporcional ou não à quota do interpelado.
Contrariamente, às obrigações conjuntas ou parcelares, cada um dos devedores apenas
se encontra obrigado á sua parte na prestação total, já que estas obrigações caraterizam-
se pela autonomia e independência do vínculo respeitante a cada um dos obrigados de
tal modo que os factos relativos a cada um daqueles não produzem qualquer efeito
quanto às obrigações dos restantes.

Tópicos: não pode argumentar, paradigmático das obrigações conjuntas, e não das
solidárias, o que pode ocorrer é o direito de regresso mas isso é na relação entre eles.

Caso 2

Antónia desde criança que sempre gostou de pintar. Com o avançar dos tempos foi
fazendo vários cursos e foi aperfeiçoando as diversas técnicas de pintura, passando
as suas obras a ser um imenso sucesso a nível nacional e internacional.
Atualmente, tem o seu atelier localizado em Belém mesmo ao lado da galeria onde
expõe os seus quadros, tendo mais de 20 funcionários especificamente adstritos à
exposição e à negociação dos seus quadros e à organização das exposições que
Antónia vai realizando pelo mundo fora, já para não falar da invejável frota de
veículos de transporte das suas preciosas obras de arte.

1. Antónia é comerciante?

R: Antónia, pessoa singular, pode ser comerciante, basta ter capacidade para praticar
atos de comércio, e façam, deste profissão, nos termos do artigo 13º do CCom.

É relevante salientar que a doutrina encontra-se dividida se é capacidade de exercício ou


de gozo. Assim, a maioria dos autores admite que está em causa uma capacidade de
exercício, como Coutinho de Abreu, Lobo Xavier, entre outros. Já uma posição
minoritária, iniciado por Mário de Figueiredo, defende ser somente de gozo. Após a
análise de cada uma da posição, compreende-se que, segundo Menezes Cordeiro, o
preceito do artigo 7º equivale a uma remissão para a lei civil, quer quanto à capacidade
de gozo, quer quanto à capacidade de exercício.

Ora, o artigo 14º CCom, dispõe que é proibida a profissão do comércio a “associações
ou corporações que não tenham por objeto interesses materiais” e “aos que por lei ou
disposições especiais não possam comerciar”. Assim, a profissão de comerciante está
aberta a todas as pessoas (singulares), salvo exceções devido a proibições gerais,
incompatibilidades, inibições e impedimentos.
Cumpre distinguir que as proibições gerais – são normas que vedem a toda e qualquer
pessoa singular certo tipo de comércio, por exemplo, comércio bancário – , as
incompatibilidades – impedem determinadas pessoas singulares, colocadas em certas
posições ou envolvidas em determinas situações jurídicas, de exercer comércio (Lei n.º
52/2019, de 31 de Julho) – , as inibições – atingem seletivamente determinadas pessoas,
por facto que elas hajam perpetrado ou por situações nas quais se achem incursas, por
exemplo, inibição do falido – e os impedimentos – adstringem pessoas neles incursas a
não praticar determinado tipo de comércio, salvo autorização, ocorre com o gerente de
comércio (artigo 253º CCom).

Analisando todas as exceções, Antónia não preenche nenhuma, logo, é comerciante


(classificando-o com recurso a quatro vetores: prática reiterada ou habitual, prática
lucrativa, prática juridicamente autónoma, prática tendencialmente exclusiva), tendo
relevo para a determinação dos atos de comércio subjetivos, para além de ter
obrigações, por força do artigo 18º CCom, tal como, privilégios (certos aspetos que
tutelam a sua atividade).

Tópicos de resolução: não é comerciante, mas é semelhante a comerciante, 231º e 464º


CCom. Não pode ser comerciante porque não existe intuito lucrativo.2

2. Tintas do Sucesso, S.A. é a atual fornecedora de tintas de Antónia. O último


fornecimento realizado em 15 de julho, no valor de EUR 150.000,00 não foi
ainda pago. A Tintas do Sucesso, S.A. pretende saber se a dívida do
fornecimento se encontra vencida (ou ainda terá de interpelar Antónia para o
efeito…) e que outros direitos poderá exercer contra Antónia em caso de
mora ou incumprimento da obrigação de pagamento?

R: Na sub-hipótese está em causa um contrato de fornecimento, sendo uma


modalidade atípica de compra e venda comercial, nos termos do 230º/2º e 463º/1º do
Código Comercial.

O contrato de fornecimento é um ato de comércio absoluto (têm comercialidade


própria), por oposição aos atos de comércio acessórios (extraem a sua comercialidade
da relação da necessidade com um ato de comércio absoluto).

Sendo assim, se o preço não foi pago na data devida, estão em causa os juros moratórios
legais, nos termos do artigo 102º do CCom. Segundo o Decreto-Lei nº62/2013 de 10 de
Maio, os artigos 2º e 3º, aplicam-se a transações comerciais entre empresas, estando
verificado o âmbito de aplicação.

Posto isto, aplica-se o disposto 4º/2 do mesmo diploma, que admite que “Em caso de
atraso de pagamento, o credor tem direito a juros de mora, sem necessidade de
interpelação, a contar do dia subsequente à data de vencimento, ou do termo do prazo de
pagamento, estipulados no contrato. E ainda, o artigo 4º/3/c) (“Sempre que do contrato
não conste a data ou o prazo de vencimento, são devidos juros de mora após o termo de
cada um dos seguintes prazos, os quais se vencem automaticamente sem necessidade de
interpelação:
c) 30 dias após a data de receção efetiva dos bens ou da prestação dos serviços, quando
o devedor receba a fatura antes do fornecimento dos bens ou da prestação dos
serviços”).

Logo, a Tintas do Sucesso não necessita de interpelar Antónia para o efeito, tendo
assim, direito a juros moratórios legais.

Tópicos de resolução: independentemente de antónia não ser comerciante, aplicar-se-ia


na mesma este decreto-lei. Este regime é especialíssimo, admite que não haja
necessidade de interpelação, demonstrando o quão especial é o direito comercial. Ainda
existem outras possibilidades, artigo 7º do diploma do decreto-lei, e ainda artigos da
responsabilidade contratual em geral. Os juros comerciais são superiores aos juros do
código civil, e são fixados pela portaria, semestralmente. O que realizar para perceber
quais os juros do diário da república, ir lá, normalmente, é 8%.

3. Berto, sócio e administrador da Tintas do Sucesso, S.A. é comerciante?

R: Antes de mais, Tintas do sucesso, S.A é uma empresa, por força do artigo 230º no
número 2 do CCom.

Como tal, questiona-se se Berto é comerciante ou empresário? Ora, comerciante é o


sujeito que atua no direito comercial, com os atributos do artigo 13º do CCom, e
empresário é, aparentemente, o detentor de uma empresa.

O comerciante não pode deter qualquer empresa, consequentemente, Berto não é


comerciante, sendo sócio e administrador a expressão empresário é-lhe aplicável.

Tópicos de resolução: acrescentar inda que podemos ainda admitir que como Berto é
um órgão. A pessoa coletiva é que é comerciante, a sociedade comercial, não os órgãos,
logo nunca poderiam ser eles os comerciantes, visto que todas as suas ações, vão ter
efeitos na pessoa coletiva.

4. A sociedade Tintas do Sucesso, S.A. celebrou ainda com Carlos um contrato


de mandato para que este fizesse duas vendas de tintas na Rússia a dois
clientes específicos. Carlos precisou de contratar o transporte das tintas e de
arrendar um espaço num armazém para depositar as tintas durante dois
dias.

4.1. A sociedade Tintas do Sucesso, S.A. recusa pagar os custos com


transporte e depósito porque o mandato era específico para a venda
não abrangendo outras despesas. Tem razão?

R: A sociedade Tintas do Sucesso, S.A, celebrou um contrato de mandato comercial,


nos termos do disposto 231º do CCom com Carlos. O mandato comercial é um subtipo
do mandato civil (artigo 1157º do Código Civil), pois tem os mesmos elementos
essenciais que o civil, só que no comercial se acrescentam dois novos elementos típicos:
a natureza da atividade é especificada (atos de comércio), e tem-se em consideração a
onerosidade como elemento essencial

Ora, tendo em conta que o conteúdo do mandato era duas vendas de tintas na Rússia a
dois clientes específicos, por força do disposto 233º do CCom, compreende-se todos os
atos necessários e acessórios à sua execução, independentemente de estar especificados,
logo, terá de abranger as respetivas despesas que foram fundadamente consideradas
indispensáveis pelo Carlos.

Tópicos de resolução: a primeira questão é se este atos são mercantis? Sim são, logo,
não se aplica o parágrafo 1 do 231º, artigo 233º não diz especificamente mas parece que
está presumido.

4.2. Carlos é comerciante?

Ora, a qualificação do mandatário como comerciante suscita um enorme debate.


Segundo Menezes Cordeiro, defende que a representação comercial, só por si, não
confere ao representante a qualidade de comerciante, por os atos comerciais que este
pratica se projetarem, automática e imediatamente, na esfera do representado, no
entanto, se ele exercer a entidade a título profissional, já poderá por essa via converter-
se em comerciante.

Já José Tavares (posição isolada da doutrina), admite que o mandatário comercial


pratica dois tipos de atos: primeiro, os atos realizados em nome do mandante (que, neste
caso, é o verdadeiro comerciante), e os segundos, o mandato em si, pessoal e próprio do
mandatário, constituindo a sua profissão – de um ato comércio objetivo (2º/2ªParte
CCom), contudo existe o problema da inexistência de uma noção substancial de
comércio. Perfilhando esta posição, Januário C. Gomes sustenta que o mandatário é
comerciante no concernente ao exercício do mandato.

Por oposição a José Tavares, Coutinho Abreu, afirma que não são comerciantes os
sujeitos que, a título profissional, executem mandato comercial com representação.

Por fim, na minha opinião, tendo em conta, que o comerciante é uma prática habitual,
lucrativa, autónoma, tendencialmente exclusiva, por força, dos dois últimos vetores da
prática profissional comerciante, sustento que o mandatário não é comerciante, diria
somente a nível profissional, independentemente de não ser uma linha ténue.

Tópicos de resolução: no fundo é discutir na mesma onda que o gerente. Não é


comerciante.

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