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Conceito
Estabelecimento é todo conjunto de bens organizado pelo
empresário para exercício da empresa.
É comum associar a expressão estabelecimento empresarial,
num primeiro momento, ao local onde é exercida a atividade
econômica, mas o conceito jurídico de estabelecimento empresarial é
mais complexo.
De acordo com o art. 1.142 do Código Civil, “considera-se
estabelecimento todo complexo de bens organizado, para exercício
da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária”.
Assim, o estabelecimento é, na verdade, um conjunto de
bens, materiais ou imateriais, que o empresário organiza e utiliza no
exercício da sua atividade.
Conforme já decidiu o STJ, o estabelecimento comercial é
composto por patrimônio material e imaterial, constituindo exemplos
do primeiro os bens corpóreos essenciais à exploração comercial,
como mobiliários, utensílios e automóveis, e, do segundo, os bens e
direitos industriais, como patente, nome empresarial, marca
registrada, desenho industrial e o ponto (REsp 633.179/MT, Rel. Min.
Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, j. 02.12.2010, DJe 01.02.2011).
O “ponto” é o local onde se exerce a atividade, qualificado
pelo fato de ali se exercer uma atividade econômica.
Bem imaterial importante, quando analisado sob a ótica da
Lei de Locações, por exemplo.
Quando se trata de locação empresarial, o empresário tem
direito à renovação do contrato de aluguel, quando presentes certos
requisitos previstos no art. 51 da Lei de Locações de Imóveis Urbanos
(Lei nº 8.245/91). São eles:
Art. 51. Nas locações de imóveis destinados ao comércio, o
locatário terá direito a renovação do contrato, por igual prazo,
desde que, cumulativamente:
I - o contrato a renovar tenha sido celebrado por escrito e
com prazo determinado;
II - o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos
prazos ininterruptos dos contratos escritos seja de cinco anos;
III - o locatário esteja explorando seu comércio, no mesmo
ramo, pelo prazo mínimo e ininterrupto de três anos.
Ainda que não consiga a renovação do contrato de aluguel,
em virtude de uma das exceções legais (art. 52), eventualmente o
locatário poderá ser indenizado pela perda do ponto (§ 3º do art. 52
da Lei nº 8.245/91).
2. Natureza Jurídica
Prevalecem, na doutrina, as teorias universalistas sobre a
natureza jurídica do estabelecimento empresarial.
Assim, considera-se o estabelecimento empresarial uma
universalidade de bens. As universalidades de bens são conjuntos de
bens aos quais se dá uma destinação específica, passando a serem
vistos como “uma coisa só”, como uma universalidade, deixando de
serem considerados de forma individual.
As universalidades podem ser de fato ou de direito.
De acordo com o art. 90 do Código Civil, “constitui
universalidade de fato a pluralidade de bens singulares que,
pertinentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária”.
O art. 91, por sua vez, prevê que “constitui universalidade
de direito o complexo de relações jurídicas, de uma pessoa, dotadas
de valor econômico”.
Majoritariamente, os juristas consideram o
estabelecimento empresarial como uma universalidade de fato,
seguindo o entendimento de Oscar Barreto Filho, autor de obra
clássica sobre o tema.
Com efeito, a definição de estabelecimento prevista no art.
1.142 do Código Civil deixa claro que ele é uma pluralidade de bens
singulares (conjunto organizado de bens materiais e/ou imateriais),
que pertence a uma mesma pessoa (o empresário, a EIRELI ou a
sociedade empresária) e que possui destinação específica (exercício
de uma atividade empresarial).
Há, também, uma classificação doutrinária que diz que o
que diferencia a universalidade de fato ou de direito é que, na
universalidade de fato, a reunião dos bens se dá por ato de vontade,
e na universalidade de direito, a reunião dos bens se dá por
determinação legal, por exemplo, o espólio e a massa falida.
4. Sucessão Empresarial
O art. 1.146 do Código Civil trata da sucessão empresarial,
estabelecendo que:
Art. 1.146. O adquirente do estabelecimento responde pelo
pagamento dos débitos anteriores à transferência, desde que
regularmente contabilizados, continuando o devedor primitivo
solidariamente obrigado pelo prazo de um ano, a partir, quanto aos
créditos vencidos, da publicação*, e, quanto aos outros, da data do
vencimento.
Atente-se: esse tema é muito cobrado em prova.
Somente as dívidas contabilizadas – isto é, constantes da
escrituração regular do empresário alienante – são assumidas pelo
empresário adquirente, mas aquele não se livra de tais dívidas de
imediato, já que permanece solidariamente responsável por elas
durante o prazo de um ano.
Tal prazo será contado de maneiras distintas, a depender do
vencimento da dívida em questão: tratando-se de dívida já vencida,
conta-se um ano a partir da publicação do contrato de trespasse na
imprensa oficial; tratando-se, em contrapartida, de dívida vincenda,
conta-se um ano a partir do dia de seu vencimento.
Em outras palavras, se a alienação ocorreu em janeiro, mas
a dívida (contraída pelo alienante antes da alienação) apenas venceu
em abril, o alienante ficará responsável até abril do ano subsequente.
O adquirente não vai responder pelas obrigações do
alienante no caso de compra do estabelecimento empresarial em
sede de recuperação judicial ou falência. Isso porque a lei de falência
exime o adquirente, como modo de se tornar atraente a aquisição da
empresa e, com isso, prestigiar-se o princípio da preservação da
empresa.
IMPORTANTE: essa sistemática de sucessão obrigacional
prevista no art. 1.146 do Código Civil somente se aplica às dívidas
negociais do empresário (por exemplo, dívidas com fornecedores ou
financiamentos bancários). Em se tratando, todavia, de dívidas
tributárias ou dívidas trabalhistas, aplicam-se os regimes próprios de
sucessão previstos na legislação específica (arts. 133 do CTN e art.
448 da CLT, respectivamente).
Em relação ao credor tributário, ficará sujeito a algumas
proteções específicas. Isso porque o adquirente terá, nesse caso,
uma responsabilidade subsidiária ou responsabilidade integral frente
ao credor tributário:
• Responsabilidade subsidiária: ocorrerá quando o alienante
continuar exercendo atividade;
• Responsabilidade integral: ocorrerá quando o alienante
deixar de exercer a atividade.
Ainda sobre o trespasse e seus efeitos obrigacionais, o art.
1.148 do Código Civil determina que, salvo disposição em contrário, a
transferência [do estabelecimento empresarial] importa a sub-
rogação do adquirente nos contratos estipulados para exploração do
estabelecimento, se não tiverem caráter pessoal, podendo os
terceiros rescindir o contrato em noventa dias a contar da publicação
da transferência, se ocorrer justa causa, ressalvada, neste caso, a
responsabilidade do alienante.
Assim, todos os contratos relacionados à exploração da
atividade empresarial que o empresário alienante mantinha serão
continuados pelo empresário adquirente, salvo aqueles que possuem
caráter pessoal (intuitu personae).
IMPORTANTE: existe uma discussão a respeito da aplicação
dessa regra ao contrato de locação, em virtude de haver divergência
sobre a natureza pessoal dessa espécie contratual.
O entendimento que tem prevalecido na doutrina, porém, é
pela interpretação extensiva do art. 1.148 do Código Civil, afirmando-
se que em eventual contrato de locação firmado pelo empresário
alienante haverá, sim, a sub-rogação do empresário adquirente.
Nesse sentido, confira-se o teor do enunciado 8 das
Jornadas de Direito Comercial do CJF: “a sub-rogação do adquirente
nos contratos de exploração atinentes ao estabelecimento adquirido,
desde que não possuam caráter pessoal, é a regra geral, incluindo o
contrato de locação”.
Ainda sobre o trespasse e seus efeitos obrigacionais, o art.
1.149 do Código Civil prevê que “a cessão dos créditos referentes ao
estabelecimento transferido produzirá efeito em relação aos
respectivos devedores, desde o momento da publicação da
transferência, mas o devedor ficará exonerado se de boa-fé pagar ao
cedente”.
Assim, da mesma forma que o empresário adquirente
assume as dívidas contabilizadas do empresário alienante, ele
assume também todo o ativo contabilizado.
Sendo assim, efetuada a transferência, a partir do registro
na Junta Comercial, cabe aos devedores pagarem ao empresário
adquirente do estabelecimento. Caso, entretanto, esses devedores
paguem, de boa-fé, ao antigo titular do estabelecimento – ou seja,
ao empresário alienante – ficarão livres de responsabilidade pela
dívida, cabendo ao adquirente, nesse caso, cobrar do alienante, que
recebeu os valores de forma indevida, uma vez que já havia
transferido seus créditos quando da efetivação do trespasse.