Você está na página 1de 9

AVEC – REGES

DIREITO CIVIL VI
Professor: André Sousa Pereira
Turma: 6º Período de Direito
Alunas: 1) Cimei Cristina de Oliveira
2) Verônica de Souza Lima

ESTUDO REFLEXIVO SOBRE NANOTECNOLOGIA E OS PRINCÍPIOS DA


PRECAUÇÃO E DE PREVENÇÃO NO QUE TOCA A TUTELA DO MEIO
AMBIENTE

O objeto de pesquisa deste trabalho, aborda a presença e os avanços da


nanotecnologia, destacando-se uma análise reflexiva sobre nanotecnologia e os
princípios da precaução e de prevenção no que diz respeito aos impactos ao meio
ambiente. A Nanotecnologia atualmente vem sendo um dos principais objetos de
estudo, desenvolvimento e inovação que são obtidos em virtude das suas
importantes propriedades da matéria organizada a partir de estruturas de dimensões
nanométricas, tendo em vista, que não há norma jurídica que regulamenta a
utilização da nanotecnologia. Por isso, são diversos os desafios para a formulação
de políticas de desenvolvimento científico-tecnológico e de gestão de riscos no
âmbito da nanociência e nanotecnologia. Neste caso, busca-se aproximar a análise
do princípio da precaução como importante fundamento para a tomada de decisões
diante das incertezas e, também, refletir sobre as suas aplicações pelo sistema
jurídico no contexto da teoria da sociedade de risco de Ulrich Beck.

Richard Phillips Feynman, em 1959, durante uma palestra ("Há mais espaços
lá embaixo"), sugeriu então, que um dia seria possível manipular átomos
individualmente, ou seja, manipular a matéria em suas escalas atômicas e
molecular, uma ideia revolucionária na época. Em 1981, foi criado o microscópio de
tunelamento, que permitiu obter imagens de átomos em uma superfície. Já a
possibilidade de mover átomos individualmente foi demostrada em 1990, quando
pesquisadores americanos escreveram o logotipo IBM ao posicionarem átomos de
xenônio sobre uma superfície de níquel. Deste modo, o domínio científico e
tecnológico da escala nanométrica está passando por um surto de crescimento
tendo em vistas novos meios de pesquisas e desenvolvimentos experimentais e
teóricos.

Partindo desta visão, Feynman defendeu em seus trabalhos que não existia
nenhum obstáculo teórico à construção de dispositivos compostos por elementos
muito pequenos, estruturas entre 1 e 1.000 nanômetros e abriu as portas para uma
nova revolução. Os avanços previstos por ele, à época, concretizaram-se e hoje a
nanotecnologia é uma ciência que tem contribuído com diversas áreas relevantes,
tais como Medicina, Química, Biologia, Física, Engenharia dos Materiais, ciência da
Computação, entre outras. Portanto, nas últimas décadas, a nanotecnologia tornou-
se um dos principais focos das atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação
no mundo, e em ritmo acelerado de crescimento na maioria das áreas do
conhecimento científico.

Nanotecnologia é a ciência tecnológica que manipula a estrutura molecular


dos materiais para alterar suas propriedades intrínsecas a fim de obter outras, com
aplicações revolucionárias. Essa manipulação inclui o desenvolvimento de novos
produtos e materiais que podem ser utilizados em diversos setores, como da
medicina, eletrônica, ciências da computação, biologia, engenharia, química, etc.

Os átomos estão presentes em tudo, ou seja, o corpo humano é formado em


átomos, como também qualquer objeto, alimentos, roupas, casas, etc. Porém, a
nanociência e a nanotecnologia envolvem a capacidade de ver e controlar átomos e
moléculas individuais. Todavia, nanotecnologia desenvolverá matérias de última
geração, sendo eles mais resistentes, mais leves e mais duráveis. Poderá contribuir
para a solução da limpeza de solo e lençóis aquáticos contaminados, a qual portará
de ferramentas altamente sofisticadas para detecção e tratamento do câncer,
curativos que previnem infecções, tecnologia aprimorada de imagens médicas entre
outros benefícios. Deste ponto de vista, a nanotecnologia se faz presente em tudo,
trazendo um grande benefício e seu potencial de contribuição para a ciência,
medicina, engenharia e desenvolvimento de tecnologias mais sustentáveis são
imensos e de grande valia.

Porém, no que diz respeito à segurança e ao meio ambiente a


nanotecnologia, demonstra tamanha preocupação, pois ela poderá oferecer riscos a
saúde, tendo em vista, que ela está presente na cadeia alimentar. Estudos apontam
resultados preocupantes, pois segundo pesquisadores, os nanomateriais se ligam
fortemente aos microrganismos, que são uma fonte de alimento para outros
organismos e invadem a nossa cadeia alimentar e isso tende a se acumular
principalmente no cérebro.

A manipulação da matéria na escala nanométrica, tem produzido efeitos


positivos na área ambiental. As resinas magnéticas têm a capacidade de remover
metais da água, o que deverá ser utilizado no tratamento de afluentes. A
nanotecnologia desenvolveu partículas capazes de remover contaminantes onde
outros processos químicos não têm sucesso. Cientistas apostam na nanotecnologia
como a garantia de que o mundo conseguirá, enfim, o desenvolvimento sustentável.

Da mesma forma que as vantagens dessa tecnologia são nítidas para o meio
ambiente, alguns pesquisadores começam a alertar para o impacto dos
nanomateriais nas áreas da saúde e do meio ambiente. Um estudo apresentado
pela American Chemical Society mostra que buckyballs (C60), ou fulerenos, podem
ser prejudiciais a animais aquáticos, causando danos cerebrais. Muito ainda deve
ser feito para compreender os impactos nos mares, rios, florestas e animais,
considerando que ainda há pouco estudo nessa área. O fato das nanopartículas
serem da mesma dimensão de estruturas celulares, sugere que essas partículas
podem iludir as defesas naturais do organismo e prejudicar as células.

Assim como estudos já realizados sobre outras partículas tóxicas fornecem


informações importantes sobre minerais de quartzo, asbestos ou amiantos e
partículas associadas à poluição do ar, permite supor que a inalação de
nanopartículas, tais como nanotubos, podem gerar danos aos pulmões e sistema
respiratório. Portanto pesquisadores e técnicos devem trabalhar com todo cuidado
possível, até que estudos mais detalhados possam identificar os reais potenciais
dessas partículas.
Na agricultura, segundo a revista Societal Implications of Nanoscience and
Nanotechnology, citada por Richard Domingues Dulley (2006, p. 227) a
nanotecnologia contribuirá diretamente com diversas inovações tecnológicas, a partir
de:

a) químicos molecularmente engenheirados destinados a plantas nascentes


e como proteção contra insetos; b) melhoramentos genéticos em plantas e animais;
c) transferência de genes e drogas em animais; d) tecnologias baseadas em
nanodispositivos para testes de DNA, os quais, por exemplo, permitirão a um
cientista saber quais genes são expressos em uma planta quando ela é exposta ao
sal ou às condições estressantes da seca", e que "as aplicações das
nanotecnologias na agricultura apenas começaram a ser apreciadas."

Além da manipulação da vida e a aplicação agrícola da nanotecnologia, já é


possível a aplicação de insumos utilizando estruturas engenheiradas na nanoescala
que implica encapsulamento do ingrediente ativo em uma espécie de minúsculo
"envelope" ou "concha". Inclui-se nessa tecnologia a possibilidade de controle das
condições nas quais o princípio ativo deve ser liberado diretamente nas plantas.
Dulley (2006, p. 227).

As perspectivas abertas pela Convergência Tecnológica, são


incomensuráveis, mas não são menores os temores que ele inspira para os mais
pessimistas, ou mais prudentes.

A Organização não Governamental canadense Erosion, Technology and


Concentration, conhecida como Grupo ETC, em diversas publicações na Internet e
publicações impressas analisa os diversos impactos da nanotecnologia sobre a
sociedade, a economia e o meio ambiente. A partir de uma perspectiva ampla,
segundo os pesquisadores do ETC (2009), podemos agrupar quatro grandes
problemas para a coletividade decorrentes do uso da nanotecnologia:

 O controle tecnológico na nano escala como elemento fundamental para o


controle corporativo;
 Controle social a partir convergência entre informática, biotecnologia,
nanotecnologia e ciências cognitivas;
 Riscos Ambientais e Riscos para a Saúde Humana: a nanobiotecnologia pode
criar fusão entre a matéria viva e a não viva, resultando em organismos
híbridos e produtos que não são fáceis de controlar e se comportam de
maneiras não previsíveis. Alta reatividade e mobilidade e outras propriedades
advindas de seu pequeno tamanho também têm grande probabilidade de
acarretar novas toxicidades. Diversas são as indagações quanto aos riscos
do contato com nanopartículas para a segurança dos trabalhadores e dos
consumidores. O grande problema reside no fato de que ao se utilizar de
nano implementos, não se tem certeza dos fatores nocivos provenientes dos
produtos e subprodutos nanotecnológicos;
 4. A incerteza científica acerca das nanopartículas e o vácuo na
regulamentação: Dados toxicológicos sobre nano partículas manufaturadas
são escassos, mesmo existindo produtos comerciais no mercado (insumos
agrícolas, cosméticos, filtros solares). Os critérios utilizados para saber a
toxicidade das substâncias na escala macro não trazem certezas quando
confrontados com a nanotecnologia. Não existem metodologias confiáveis
para estabelecer diferença entre as propriedades encontradas na
"Macroescala" e na "Nanoescala". É importante evidenciar que no Brasil
inexistem leis e dispositivos capazes de prevenir ou até mesmo abordar as
peculiaridades dessa nova revolução tecnológica. As normas jurídicas que
podem ser utilizadas para, por exemplo, autorizar a comercialização de um
determinado produto nanotecnológico para a agricultura não diferem das
normas e critérios técnicos para os demais produtos, pois não existe uma
diferenciação pelo Direito entre o tratamento legal da nanotecnologia e de
outras tecnologias.

No que se refere ao princípio da prevenção e da precaução, estes estão


relacionados um ao outro de acordo com estudiosos. O princípio da precaução
refere-se apenas as situações onde não existe um conhecimento dos riscos
potenciais de danos de uma determinada atividade ou de um determinado produto
ou espécie viva a ser produzido e lançado no meio ambiente. Os riscos são incertos
ou não são totalmente claros quando abalizados pela ciência.
Segundo a declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de
1992, em seu Princípio 15:

De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser


amplamente observado pelos Estados, de acordo com as suas necessidades.
Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta
certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas
eficazes e economicamente viáveis par prevenir a degradação ambiental.

O princípio da precaução é justificado pela necessidade de tomada de


decisão antecipada, mesmo se opondo a forte pressão por crescimento econômico e
pelo desenvolvimento da ciência e tecnologia com vistas ao mercado. Como resumo
das principais repercussões da aplicação do princípio da precaução na
nanotecnologia podemos afirmar que a sua aplicação: a) como a própria expressão
sugere deve a ser antecipatória; b) deve ser imposta quando existir incerteza
científica de danos graves e irreversíveis; c) tal incerteza não inverte o ônus da
prova, não exonera de responsabilidade os responsáveis atividades potencialmente
danosas, pelo contrário transfere a estes a obrigações de comprovar o potencial de
risco de seus produtos; c) por fim, o princípio da precaução impõe transparência e
amplo acesso as informações com vistas a proporcionar a participação da sociedade
na tomada de decisão.

Vale ressaltar, que a observância do princípio da precaução pelo Poder


Público não tem por finalidade imobilizar o progresso da humanidade, da ciência, ou
da economia. Conforme Machado (2003, p.56) "não se trata da precaução que tudo
impede ou que em tudo vê catástrofe ou males. O princípio da precaução visa à
durabilidade da sadia qualidade de vida das gerações humanas e à continuidade da
natureza existente no planeta".

O princípio da precaução é essencialmente voltado para o futuro, seja


próximo ou longínquo, e amplia a aplicação de dois conceitos conhecido pelo
sistema jurídico: a prudência, que diante da incerteza pode ser invocada como
argumento para evitar possíveis danos irreversíveis projetados abstratamente,
mesmo sem uma possível comparação com eventos já ocorridos, ou mesmo diante
da ausência de parâmetros para demonstrar cientificamente a amplitude dos danos
possíveis e as relações de causa e efeito. Isso para o direito representa uma
mudança de paradigma, pois o principio da precaução pode ser aplicado quando
não existe prova do dano possível, mas ao mesmo não exista prova contrária.
Nesses casos, para Aragão (2002, p.19) podemos falar de uma espécie de "in dúbio
pro ambiente", ou como observa Machado "em dúbio pró sanitas et
natura" (Machado, 1994, p.37).

A responsabilidade que fundamenta a aplicação do princípio da precaução


está voltada para uma amplitude temporal até então desconsiderada pelo direito, os
direitos das gerações futuras vinculados aos deveres da geração presente. Essa
nova arquitetura dos valores do Direito pode ser observada no Princípio da equidade
intergeracional defendido por Edith Brow Weiss. Entende-se que o princípio da
precaução traz consigo profunda relação com o Princípio da Dignidade da Pessoa
Humana, de origem constitucional por força do artigo 1º, III da Constituição Federal
Brasileira de 1988.

A análise dos impactos ambientais da nanotecnologia encontra-se em uma


"zona cinzenta" de indefinição, não se sabe e não existe conhecimento científico
suficiente para afirmar qual o risco, quais os impactos. Levando em conta o aspecto
da preocupação com os destinatários finais da pesquisa nanotecnológica fica
evidente que a liberação de produtos que ocasionem possa ocasionar problemas à
saúde humana deve ser analisada sob o prisma do princípio da precaução como
uma forma de proteção da dignidade da pessoa humana enquanto princípio
constitucional fundamental. A definição do conteúdo e critérios de aplicação do
princípio da precaução gera polêmica na sociedade porque interfere diretamente nos
modos de produção de bens e serviços que compõem o mercado global. O debate
divide opiniões. De um lado, diversos estudiosos do tema, entre eles operadores do
direito e integrantes de organizações da sociedade civil organizadas militam para a
realização desse princípio como um "mega princípio" do Direito Ambiental, que não
deve esperar mais para ser aplicado. De outro, representantes dos mais diversos
setores econômicos buscam afastar a aplicação estrita do princípio e diminuir ao
máximo sua efetividade. Por outro lado, não se justifica que a sociedade opte por
agir de forma negligente diante dos riscos, esperando além da comprovação
científica da real existência e extensão de um risco e de quais as suas possíveis
consequências.

Concluímos que, com base nos artigos acima descritos, podemos observar
que a nanotecnologia tem grande importância para o mundo, porém, ela deve ser
analisada seus os riscos e utilizada em casos que trazem benefícios para o meio
ambiente e para a saúde de todos os seres vivos. Sabemos que seu uso indevido
poderá acarretar em danos, tendo em vista o princípio da prevenção e da
precaução.

Sabemos também, que o crescimento do uso da nanotecnologia, apesar de


não ter nenhuma norma regulamentadora, vem sendo utilizada para a realização de
diversos tipos de materiais. As nanopartículas, por exemplo por ser uma área
superficial imensa, obtém um aumento significativo em seu uso, fator este, a qual
possui poucas informações no que diz respeito ao risco que gera, sendo este risco
intensificado conforme o aumento de suas aplicações, sem que ocorra isso com os
estudos de sua pesquisa, no que se refere aos danos ambientais, sociais e
econômicos. Com a ausência de informações aos verdadeiros prejuízos danosos em
virtude dessas novas tecnologias ao meio ambiente e à saúde humana, incidirá
atitudes na tomada de medidas de precaução. Esta omissão de informações, poderá
causar problemas seríssimos e irreversíveis futuramente, por isso, a importância da
norma regulamentadora, regulamentação estatal e estabelecer regulamentos quanto
ao uso da nanotecnologia. Visto que no ordenamento jurídico, há legislação
suficiente que se adequa as particularidades da nanotecnologia. Neste sentido, não
há norma ou regra obrigatória ou análises específicas, que apontam os verdadeiros
risco nanotecnológicos. Percebemos que existe uma dificuldade ou um empecilho,
para ordenar e tornar algo em que todos se mantém informados e entedidos, quanto
a este assunto, tanto a sociedade quanto ao meio jurídico.

Nesta perspectiva de ausência de informações, este pouco entendimento,


torna-se um risco maior à tomada de decisões para criação de uma possível norma
jurídica, que determinam restrições e responsabiliza juridicamente o uso indevido ou
excessivo da nanotecnologia. No que se refere ao tratamento de informações dado a
sociedade, tem que haver um cuidado especial, quando se cria algo novo, e no caso
da nanociência e da nanotecnologia, está atenção terá que ser mais cautelosa, pois
a importância que se dá aos valores fundamentais, tais como, o respeito aos direitos
fundamentais, proteção da dignidade da pessoa humana e direito e cuidados ao
meio ambiente com relação ao equilíbrio ecológico e à soberania, é de amplo valor.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

https://www.scielo.br/j/qn/a/5zZPsK4RdkjGGfFrhWsLbjd/?lang=pt https://jus.com.br/
artigos/14019/nanotecnologia-e-o-principio-da-precaucao-na-sociedade-de-risco
https://www.resumoescolar.com.br/fisica/resumo-da-nanotecnologia/
https://periodicosonline.uems.br/index.php/RJDSJ/article/view/2008

Você também pode gostar