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Direito Civil I

A-) NEGÓCIO JURÍDICO:

- Análise da parte codificada, relativa ao NJ, dividida em


duas partes, quais sejam, disposições gerais e representação.

B-) DISPOSIÇÕES GERAIS:

- Dispositivos relativos a uma série de assuntos diferentes


entre si, o que impede uma análise sistêmica, cabendo, pois,
unicamente, o exame de individualizado.

1-) Validade do NJ: requisitos gerais de validade de todo e


qualquer NJ (art. 104), o que, naturalmente, pressupõe a
ocorrência dos elementos gerais de existência.

“Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:

I – agente / capaz;

II - objeto / lícito, possível, determinado ou determinável;

III - forma / prescrita ou não defesa em lei”

2-) Incapacidade: se for relativa, não pode ser alegada


indiscriminadamente, em princípio (art. 105).
Por oposição, a incapacidade absoluta pode.

“Art. 105. A incapacidade relativa de uma das partes não pode


ser invocada pela outra em benefício próprio, nem aproveita aos
cointeressados capazes, salvo se, neste caso, for indivisível o
objeto do direito ou da obrigação comum”

3-) Impossibilidade inicial do objeto: a ideia é a de que o


objeto do NJ seja idôneo, ou seja, apto a produzir os efeitos
jurídicos que lhe são próprios, sob pena de se poder invalidá-lo
(art. 106: “a impossibilidade inicial do objeto não invalida o
negócio jurídico se for relativa, ou se cessar antes de realizada a
condição a que ele estiver subordinado”).

Ex.: contrato de venda de coisas futuras, isto é, de bens de o


vendedor ainda não é proprietário e que sequer existem; porém,
há mera impossibilidade inicial e relativa do objeto contratual,
pois o vendedor irá produzir ou adquirir o bem vendido para
cumprir sua obrigação, fazendo com que se torne possível o
objeto.

É o caso dos contratos aleatórios, dos art. 458 e 459:

“Art. 458. Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas


ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um dos
contratantes assuma, terá o outro direito de receber
integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua parte
não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado
venha a existir.
Art. 459. Se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras,
tomando o adquirente a si o risco de virem a existir em qualquer
quantidade, terá também direito o alienante a todo o preço,
desde que de sua parte não tiver concorrido culpa, ainda que a
coisa venha a existir em quantidade inferior à esperada.

Parágrafo único. Mas, se da coisa nada vier a existir, alienação


não haverá, e o alienante restituirá o preço recebido”

4-) Forma do NJ: assunto abordado do art. 107 ao 109, ou


seja, só se adota forma solene quando a lei ou o contrato a
exigirem.

Lembrar da classificação dos negócios jurídicos, a respeito


de forma.

“Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá


de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir.

Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é


essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à
constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos
reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior
salário mínimo vigente no País.

Art. 109. No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não


valer sem instrumento público, este é da substância do ato”

5-) Reserva mental: dá-se quando ocorre um descompasso


entre a vontade manifestada no negócio jurídico e a verdadeira
intenção, quer dizer, não se deseja o efeito jurídico típico do NJ
celebrado (art. 110).

Nas palavras do artigo publicado por André de Carvalho


Pagoncelli, “pode-se dizer que a reserva mental é um artifício do
qual se vale uma pessoa no momento de manifestar a sua vontade
no sentido de não pretender a eficácia do negócio jurídico que
está praticando, com o objetivo de se beneficiar, em momento
futuro, dessa restrição mental, significando, pois, uma reserva
íntima de não querer aquilo que se está afirmando querer”.

Ex.: promessas ilusórias ou de favor, realizadas por cortesia


ou mera amabilidade, no sentido de quem promete não tem a
menor intenção de cumprir, mesmo porque não há meio de se
obrigá-lo a tanto.

Tal, porém, faz com que que o NJ seja válido, em princípio,


porque a circunstância há de ser de conhecimento da outra parte.

“Art. 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu


autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou,
salvo se dela o destinatário tinha conhecimento”

6-) Silêncio: pode ser entendido como manifestação tácita


da vontade, em NJ’s gratuitos ou quando o costume autorizar tal
conclusão, nos termos do art. 111; ex.: aceitação de doação
simples (art. 539).
“Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias
ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de
vontade "
“Art. 539. O doador pode fixar prazo ao donatário, para declarar
se aceita ou não a liberalidade. Desde que o donatário, ciente do
prazo, não faça, dentro dele, a declaração, entender-se-á que
aceitou, se a doação não for sujeita a encargo”

7-) Interpretação dos NJ’s: regras do art. 112 a 114,


podendo-se destacar os pontos relativos ao sentido da linguagem,
à boa-fé e aos NJ’s gratuitos.

“Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à


intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da
linguagem.

Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme


a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.

§ 1º  A interpretação do negócio jurídico deve lhe atribuir o


sentido que:

I - for confirmado pelo comportamento das partes posterior à


celebração do negócio;

II - corresponder aos usos, costumes e práticas do mercado


relativas ao tipo de negócio;

III - corresponder à boa-fé;

IV - for mais benéfico à parte que não redigiu o dispositivo, se


identificável; e
V - corresponder a qual seria a razoável negociação das partes
sobre a questão discutida, inferida das demais disposições do
negócio e da racionalidade econômica das partes, consideradas
as informações disponíveis no momento de sua celebração.

§ 2º  As partes poderão livremente pactuar regras de


interpretação, de preenchimento de lacunas e de integração dos
negócios jurídicos diversas daquelas previstas em lei.

Art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia


interpretam-se estritamente”

7.1-) Sentido da linguagem: lembrar que o Direito pode ser


encarado sob os prismas da forma e da função, ou seja, forma
porque se contenta com o comando e sua interpretação, e função
porquanto visa à resolução de problemas, sendo que o modo de se
concretizar forma e função chama-se linguagem; cabe ao
operador do Direito fazer casar a intenção com a linguagem,
facilitando a interpretação.

7.2-) Boa-fé: sua ideia é complementar à da probidade;


tanto uma coisa como outra formam o conceito de ética de
conduta (eticidade) que permeia todo o DC, como se pode ver
desde os arts. 113 e 187 (regra de interpretação e abuso de direito,
respectivamente).

O tema é enfatizado novamente no art. 422 (“os


contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do
contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e
boa-fé”), e repetido nas relações de consumo (CDC, Lei nº
8.078/90, art. 51, IV).

Reflexo disso também se encontra no art. 426 (vedação ao


pacta corvina: “não pode ser objeto de contrato a herança de
pessoa viva”).

Resumidamente, boa-fé denota honestidade, lealdade, o


que às vezes, por exceção, o DC até dispensa, como no caso da
usucapião extraordinária de imóveis (arts. 1.238, caput, 1ª parte).

“Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção,


nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a
propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo
requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá
de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis”

- Pode-se ainda subdividir a boa-fé em objetiva e


subjetiva.

A objetiva é um standard comportamental segundo o qual


as partes devem pactuar NJ’s visando à sua concretização, e, por
extensão, à produção dos efeitos jurídicos que lhe são próprios;
assunto complementado com a boa-fé subjetiva, vale dizer, com a
conduta individualizada e especificamente considerada da parte,
como o que acontece, por exemplo, no contrato de seguro (art.
765: “o segurado e o segurador são obrigados a guardar na
conclusão e na execução do contrato, a mais estrita boa-fé e
veracidade, tanto a respeito do objeto como das circunstâncias e
declarações a ele concernentes”), tendo em vista o fato de o
mesmo ser celebrado com base nas declarações prestadas pelo
segurado diz respeito a um padrão de conduta esperado pela
sociedade.

Já a subjetiva relaciona-se ao modo de proceder


individualizado dentro de uma relação jurídica.

- Com base no conceito de eticidade (que agrega a


probidade e a boa-fé), pode o juiz, no caso concreto, decidir qual
seria a conduta esperada pela sociedade, levando ainda em conta
os usos e costumes (cânone dos próprios arts. 113 e 187).

7.3-) NJ’s gratuitos: não admitem interpretação extensiva,


cabendo aqui lembrar-se da distinção com a interpretação
restritiva, ou seja, ambas dizem respeito ao resultado (discute o
resultado atingido com a interpretação).

Declarativa: a interpretação confirma o que o texto quis


dizer; extensiva: o texto disse menos do que deveria, e a
interpretação corrige isso; restritiva: o texto disse mais do que
deveria, e a interpretação corrige isso.

C-) REPRESENTAÇÃO:
- A titularidade das relações jurídicas é exercida, via de
regra, pessoalmente, ou seja, pela própria pessoa física, mas há
casos em que a representação se faz necessária.

Nas pessoas físicas, quando a hipótese é de incapacidade de


exercício (absolutamente incapazes e relativamente incapazes);
nas pessoas jurídicas, sempre, já que a mesma age por
intermédio das pessoas físicas indicadas nos estatutos sociais.

- Espécies: legal e convencional, para pessoas físicas (arts.


115 e 120).

“Art. 115. Os poderes de representação conferem-se por lei ou


pelo interessado”

“Art. 120. Os requisitos e os efeitos da representação legal são os


estabelecidos nas normas respectivas; os da representação
voluntária são os da Parte Especial deste Código”

Legal: decorre diretamente de lei e acontece no caso dos


pais, tutores e curadores (para absoluta e relativamente incapazes,
conforme o caso), síndicos de condomínio em edificações,
administradores de pessoas jurídicas, dos síndicos na massa falida
e o dos inventariantes no espólio.

Convencional: derivada do contrato de mandato (art. 653,


1ª parte, e ss.: ”opera-se o mandato quando alguém recebe de
outrem poderes para, em seu nome, praticar atos ou administrar
interesses”).
Não há uma terceira espécie de representação, a chamada
judicial, apenas porque o juiz nomeia alguns dos representantes
legais acima apontados; exs.: curador, tutor, síndico de massa
falida e inventariante.

- Regras concernentes à representação: insculpidas nos


arts. 116 usque 119, cuidando-se novamente de dispositivos
relativos a uma série de assuntos, o que impede uma análise
sistêmica, cabendo, pois, unicamente, o exame de individualizado
de cada um deles.

a-) Efeito do NJ praticado: dá-se em relação ao representado


(art. 116), já que o mesmo é parte no NJ considerado (titular da
respectiva relação jurídica, a qual apenas não pode ser exercida).

“Art. 116. A manifestação de vontade pelo representante, nos


limites de seus poderes, produz efeitos em relação ao
representado”

b-) Contrato consigo mesmo: vedado na representação


legal (art. 117, caput), mas permitido na convencional, sob certas
condições (irrevogabilidade do mandato, segundo as regras
constantes do art. 683 a 685).
Ex.: corretor de imóveis que adquire imóvel para revender,
via instrumento procuratório vazado em pública forma.

“Art. 117. Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável


o negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou por
conta de outrem, celebrar consigo mesmo”
c-) Prova da representação: tema do art. 118, consoante o
qual o representante deve demonstrar essa qualidade ao tratar com
terceiros.

“Art. 118. O representante é obrigado a provar às pessoas, com


quem tratar em nome do representado, a sua qualidade e a
extensão de seus poderes, sob pena de, não o fazendo, responder
pelos atos que a estes excederem”

d-) Conflito de interesses: entre o representante e o


representado, circunstância que torna anulável o ato (art. 119,
caput).

Ex.: relação jurídica na qual o representado é credor e o


representante é devedor.

“Art. 119. É anulável o negócio concluído pelo representante em


conflito de interesses com o representado, se tal fato era ou devia
ser do conhecimento de quem com aquele tratou”

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