Você está na página 1de 14

Aula 2: Passo a passo do

contrato empresarial

@prof.andresantacruz
INTERPRETAÇÃO DOS NEGÓCIOS

Código Civil:
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do
lugar de sua celebração.
§ 1º A interpretação do negócio jurídico deve lhe atribuir o sentido que:
I.– for confirmado pelo comportamento das partes posterior à celebração do
negócio;
II.– corresponder aos usos, costumes e práticas do mercado relativas ao tipo de negócio;
III.– corresponder à boa-fé;
IV.– for mais benéfico à parte que não redigiu o dispositivo, se identificável; e
V.– corresponder a qual seria a razoável negociação das partes sobre a questão discutida,
inferida das demais disposições do negócio e da racionalidade econômica das partes,
consideradas as informações disponíveis no momento de sua celebração.

@prof.andresantacruz
SOBRE O ART. 113 DO CÓDIGO CIVIL

“Até a entrada em vigor da Lei 13.874/19, o Código Civil era por


demais econômico na disciplina do assunto (interpretação dos
negócios jurídicos), limitando-se à clássica formulação da prevalência
da intenção consubstanciada na declaração sobre a literalidade da
cláusula. A alteração introduzida no art. 113 pela Lei da Liberdade
Econômica pretendeu ampliar o rol de critérios legais de interpretação
dos negócios jurídicos; tendo sido redundante, no caso dos incisos II
e III, ao contemplar critérios que já se encontravam e permaneceram
no caput do dispositivo. De qualquer modo, antes disso, somente no
Código Comercial de 1850, o legislador havia se detido sobre o tema
(arts. 130 e 131)”.

(COELHO, Fábio Ulhoa. A interpretação dos negócios jurídicos após a Lei


das Liberdades Econômicas)
@prof.andresantacruz
CÓDIGO COMERIAL DE 1850

Art. 130 - As palavras dos contratos e convenções mercantis devem inteiramente entender- se
segundo o costume e uso recebido no comércio, e pelo mesmo modo e sentido por que os negociantes
se costumam explicar, posto que entendidas de outra sorte possam significar coisa diversa.

Art. 131 - Sendo necessário interpretar as cláusulas do contrato, a interpretação, além das regras
sobreditas, será regulada sobre as seguintes bases:
1 - a inteligência simples e adequada, que for mais conforme à boa fé, e ao verdadeiro espírito e
natureza do contrato, deverá sempre prevalecer à rigorosa e restrita significação das palavras; 2 - as
cláusulas duvidosas serão entendidas pelas que o não forem, e que as partes tiverem admitido; e as
antecedentes e subseqüentes, que estiverem em harmonia, explicarão as ambíguas;
3 - o fato dos contraentes posterior ao contrato, que tiver relação com o objeto principal, será a melhor
explicação da vontade que as partes tiverem no ato da celebração do mesmo contrato; 4 - o uso e
prática geralmente observada no comércio nos casos da mesma natureza, e especialmente o costume do
lugar onde o contrato deva ter execução, prevalecerá a qualquer inteligência em contrário que se
pretenda dar às palavras;
5 - nos casos duvidosos, que não possam resolver-se segundo as bases estabelecidas, decidir- se-á em
favor do devedor.

@prof.andresantacruz
Art. 113, § 1º, inciso do CC

“O critério de hermenêutica especial aqui examinado guarda


proximidade com a ‘supressio’. Se uma parte se conduz de modo
a despertar na outra a legítima expectativa de ter se conformado
com o inadimplemento de uma obrigação ou o descumprimento de
um dever, ela perde o direito de posteriormente demandar a sua
observância. Consequência do dever de boa-fé, a supressio está
ligada à noção de ‘comportamento comum’. Se uma parte aceitou
ou tolerou que a outra se comportasse como se o contrato
devesse ser interpretado conforme a esse comportamento, não
poderá depois alegar que interpretava diferentemente o ajuste”.

(COELHO, Fábio Ulhoa. A interpretação dos negócios jurídicos após a


Lei das Liberdades Econômicas)

@prof.andresantacruz
Art. 113, § 1º, inciso IV do CC

“If contract terms supplied by one party are unclear, an


interpretation against that party is preferred” (Artigo 4.6 dos
princípios do Unidroit).

Essa regra (contra proferentem rule) já existe há tempos no Brasil,


mas para os contratos de adesão. A Lei de Liberdade Econômica
estendeu sua aplicação a todos os contratos, mas apenas quando for
possível identificar quem redigiu a cláusula
controvetida.Oojetivoécriarincentivosàmelhoriadoscontratos, o
que pode acarretar redução da taxa de litigiosidade.

@prof.andresantacruz
Art. 113, § 1º, inciso IV do CC

“Uma vez mais, o legislador foi infeliz na disciplina do contrato


empresarial. Ao dar importância, para fins de interpretação do
contrato, saber qual parte havia redigido a cláusula em primeiro
lugar, a lei força os empresários a manterem arquivadas todas
as versões de minutas trocadas entre elas no curso das
negociações. Isso aumenta os custos das empresas, no
sentido oposto ao pretendido pela Lei das Liberdades
Econômicas. É provável até mesmo que relutem os advogados
dos empresários em tomarem a iniciativa de elaboração da
minuta do contrato, numa estranha inversão das tradicionais
táticas de negociação, no Brasil”.

(COELHO, Fábio Ulhoa. A interpretação dos negócios jurídicos após


a Lei das Liberdades Econômicas)
@prof.andresantacruz
Art. 113, § 1º, inciso V

“Regra da vontade presumível (inciso V): na dúvida, deve-se


adotar a interpretação compatível com a vontade presumível
das partes, levando em conta a racionalidade econômica, a
coerência lógica com as demais cláusulas do negócio e o
contexto da época (“informações disponíveis no momento” da
celebração do contrato). Essa regra está conectada com o
inciso II do art. 421-A do CC, que prevê o respeito à alocação
de riscos definida pelas partes de um contrato”.

(OLIVEIRA, Carlos Eduardo Elias de. Lei da Liberdade Econômica:


diretrizes interpretativas da nova Lei e Análise detalhada das
mudanças no Direito Civil e no Registros Públicos).

@prof.andresantacruz
AFASTAMENTO DOS CRITÉRIOS
LEGAIS DE INTERPRETAÇÃO
Código Civil:

Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados


conforme a boa-fé e os usos do lugar de
sua celebração.
§ 2º As partes poderão livremente pactuar regras de
interpretação, de preenchimento de lacunas e de
integração dos negócios jurídicos diversas daquelas
previstas em lei.

@prof.andresantacruz
Art. 113, § 2º do
CC
“A liberdade de contratação acerca dos critérios de
interpretação e colmatação de lacunas será amplamente
utilizada pelos empresários. A começar pela cláusula
que afasta, por exemplo, a interpretação contra
proferentem. Também deve ter largo emprego uma
disposição de vontade reiterando o afastamento das
regras legais de exegese quando a intelecção da
cláusula for clara, isenta de dubiedades ou
contradições”.

(COELHO, Fábio Ulhoa. A interpretação dos negócios


jurídicos após a Lei das Liberdades Econômicas)
@prof.andresantacruz
CLÁUSULAS ESSENCIAIS

Comportamento posterior das partes:

• O critério legal de interpretação que leva em conta o comportamento posterior das


partes contratantes (art. 113, § 1º, inciso I do CC) só se aplica em caso de ausência
de pactuação expressa sobre a questão controvertida.

• Para que o comportamento posterior das partes possa ser interpretado como renúncia
a um direito contratualmente pactuado (supressio), é necessária uma repetição da
conduta; do contrário, configura mera tolerância. Pode-se atrelar também a um prazo
(a prescrição, por exemplo).

@prof.andresantacruz
CLÁUSULAS ESSENCIAIS

Interpretação contra o redator da cláusula:

•Destacar, em “considerandos” ou nas próprias


cláusulas mais sensíveis, que ambas as partes
contratantes redigiram, com assessoria de advogados,
o contrato, afastando expressamente a aplicação do
critério de interpretação previsto no art. 113, § 1º,
inciso IV do Código Civil.

@prof.andresantacruz
CLÁUSULAS ESSENCIAIS

Vontade presumível das partes:

•Explicar, em “considerandos” ou nas próprias


cláusulas mais sensíveis, a racionalidade econômica
que baseou a redação do contrato, destacando,
sempre que possível, as questões que interferiram
direta ou indiretamente no preço do negócio.

@prof.andresantacruz
CLÁUSULAS ESSENCIAIS

Afastamento do CDC e teoria da imprevisão:

Enunciados das Jornadas de Direito Comercial:

20. Não se aplica o Código de Defesa do Consumidor aos contratos celebrados entre
empresários em que um dos contratantes tenha por objetivo suprir-se de insumos para
sua atividade de produção, comércio ou prestação de serviços.

23. Em contratos empresariais, é lícito às partes contratantes estabelecer


parâmetros objetivos para a interpretação dos requisitos de revisão e/ou
resolução do pacto contratual.

* Não seja preguiçoso nem exagerado na hora de redigir tais cláusulas.

@prof.andresantacruz

Você também pode gostar