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Turma: B1 e C1

Sumário: O moderno conceito de contrato.

São várias as definições compilads de contrato, mas em todas elas o dado sobrevalente

reside no “acordo vinvulante de declarações de vontade contrapostas, mas ajustáveis

entre si, visando a produção de determinados efeitos prático-jurídicos, sob a sanção da

oredem jurídica.”

Segundo Pedro Nunes de Carvalho, contrato é o acordo de manifestação de vontade de

conteúdo ou sentidos diferentes, mas convergentes, que visa a produção de efeitos

jurídicos.

O contrato é o acordo vinculativo, assente sobre duas ou mais declarações de vontade

(oferta ou proposta, de um lado; aceitação, do outro), contrapostas, mas perfeitamente

harmonizavéis entre si, que visam estabelecer uma composição unitária de interesses.

Em termos de enquadramento legal e para além da disciplina contemplada nos artigos

217.º e ss, aos contratos aplicam-se também os dispositivos genéricos contidos nos artigos

405.º a 456.º e os artigos 874.º a 1250.º do Código Civil.

2 Forma que devem revestir os contratos

O contrato pode revestir a forma verbal ou escrita. A regra geral é a admissibilidade de

contratos verbais. Dado, porém, o valor probatório dos contratos escritos, aconselha-se a

redução de todos os contratos a escrito (de modo especial, quando eles revistam um certo

relevo económico), artigos 371.º e 373.º do C.C. A inobservância da forma legalmente

prescrita conduz à nulidade do negócio.

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O contrato escrito pode ser celebrado por instrumento particular ou por instrumento

público. Por instrumento particular entende-se os documentos elaborados pelas partes no

âmbito da liberdade de regulamentação dos contratos e confirmados pelas partes perante

o notário, artigo 363.º nº 3 do C.C.

Por instrumento público entende-se os documentos exarados pelo notário ou uma

autoridade pública no exercício das suas funções, nº 2 do artigo 363.º e 369.º do C.C

1) Aspectos a considerar quando se pretende celebrar um contrato

O que devemos ter em conta ao celebrarmos um contrato?

1º Verificar, se o contrato obedece às condições de validade imposta pela Lei (requisitos

de validade).

E aqui devemos separar (ter em atenção) os requisitos formais do contrato, a forma como

ele se manifesta, a forma externa do contrato, dos requisitos subjectivos do contrato.

Em regra, vigora o Princípio da liberdade de forma, artigo 219.º do CC, mas por vezes, é a

própria lei que exige, que o contrato de se exteriorizar de determinada forma, sob pena de

nulidade, artigo 220.º (inobeservância da forma legal).

Ex: a compra e venda de um bem imóvel, só será válida se for celebrada por escritura

pública (a forma legal será o documento: a escritura pública).

É necessário também ter em atenção o objecto do contrato, se é viável, determinável, nos

termos do artigo 280.º do CC (requisitos objectivos do contrato).

E ainda, saber, se as partes têm capacidade e legitimidade para contratar (requisitos

subjectivos de validade do contrato).

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Quanto a capacidade para contratar, estão excluídos desde já os menores, artigo 123.º do

CC (excepção, artigo 13.º da LGT), os interditos, artigo 138.º do CC, os inabilitatos, artigo

152.º do CC.

Quanto a legitimidade, que é a susceptibilidade de celebrar em concreto determinado

contrato, diferente da capacidade de exercício que é a susceptibilidade para celebrar

contratos.

Ex: Venda de bens alheios, artigo 892.º do CC; Venda de direito litigioso, artigo 876.º do

CC (procura garantir os interesses do vendedor, evitando que a pessoa que age por sua

conta, ou o funcionário público por intermédio do qual os bens são vendidos (artigo 579.º e

580.º) sejam tentados a sobrepor ao interesse do vendedor um interesse pessoal).

Na questão dos requisitos subjectivos, podemos falar ainda da existência da vontade, e

ausência de vícios, a reserva mental, as declarações não sérias, coacção física e

moral.Cumpridas estas condições há que saber como redigí-lo1.

Elementos típicos do contrato

1) Denominação: o contrato deve ter um nome, um assunto, e este deverá estar no

centro da folha em letras maísculas, na parte superior.

2) Nome e identificação das partes: o nome completo das partes, estado civil, se for

casado, o nome do cônjuge e o regime de bens do casamento, residência, número do

BI e data de emissão do mesmo. Se o outorgante for uma pessoa colectiva, deverá

conter a denominação da social, sede social, nº do registo comercial e de

1
Dizemos redigir, porque estamos apenas a considerar os contratos escritos, que são objecto do
presente capítulo, descurando os contratos verbais.

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contribuinte, os dados pessoais do representante da mesma, e a qualidade em que

outorga.

3) Cláusulas descritivas do negócio (cláusulas do contrato): o objecto do contrato,

duração, os direitos e deveres decorrentes da celebração do contrato, prazos, preço,

condições de pagamento, cláusulas de resolução do contrato, lugar do

cumprimento, resolução de lítigio, etc.

4) Local e data: a localidade e a data da assinatura do contrato.

5) Número de cópias: o contrato terá tantas cópias quanto o número de outorgantes

que cada um tenha uma delas ou uma via em sua posse. Há situações em que se

torna necessária para validação do mesmo, a entrega de uma das vias junto de

determinado organismo.

6) Assinaturas: o contrato deverá conter as assinaturas de todos outorgantes. A

aposição da assinatura dos intervenientes com poderes para o acto, é essencial,

artigo 371.º e 373.º do CC.

Tarefa

Redija um contrato.

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Sumário: Princípios informadores da figura do contrato.

Princípio: orientação que informa o conteúdo de um conjunto de normas jurídicas, que

tem de ser tomada em consideração pelo intérprete, mas que pode, em alguns casos, ter

aplicação directa. Os princípios extraem-se das fontes e dos preceitos, através da

construção científica e servem, por sua vez, de orientação ao legislador na definição de

novos regimes.

Os princípios correspondem a proposições que resultam de valorações operadas por


diversas normas. Distinguem-se destas por não assentarem numa previsão e numa
estatuição. Os princípios têm ainda diversos papéis, a saber: o papel ordenador;
programático e regulador.

Os princíos gerais de direito dos contratos, como pensamentos directores de um conjunto

de normas jurídicas, desempenham duas funções: a função prática de apresentar

argumentos favoráveis ou desfavoráveis a uma interpretação e a função teórica de

representar o conjunto das normas como um sistema.

1) Princípio da Autonomia Privada: designa a competência de cada pessoa para

conformar livremente as suas relações jurídicas, através dos tipos de acto e, em

especial, dos tipos de negócio jurídico admitidos e reconhecidos pelo direito

privado.

2) Princípio da liberdade de forma ou da consensualidade: os negócios jurídicos

podem, em princípio, ser validamente celebrados por qualquer forma, artigo 219.º

do CC; No entanto, a lei excepciona numerosos negócios deste princípio,

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prescrevendo para a sua celebração uma determinada forma (forma legal), por

outro lado, as próprias partes podem convencionar que o, ou os futuros contratos

que vierem a celebrar terão de revestir um dada forma (forma convencional),

artigos 220.º, 221.º, 222.º e 235.º do C.C.

3) Princípio da liberdade contratual: de acordo com o artigo 405.º do CC, são os

sujeitos privados que determinam o conteúdo e os efeitos dos negócios jurídicos

que celebram. Tem dois subprincípios que são: o princípio da liberdade de

conclusão do contrato e liberdade de conformação do contrato.

O princípio da liberdade de conclusão do contrato, tem uma dimensão negativa e

uma positiva. Na sua dimensão positiva, significa que cada pessoa pode concluir

os contratos que quiser; na sua dimensão negativa, significa que nenhuma pessoa

deve concluir os contratos que não quiser, senão nos casos e nos termos previstos

na lei, artigo 876.º e 877.º do C.C.

O segundo subprincípio, liberdade de conformação do contrato, também chamado

de liberdade de estipulação, significa que as partes podem dar às normas jurídico-

negociais o conteúdo que quiserem dar-lhes: por um lado, as partes têm a liberdade

de concluir contratos correspondentes a qualquer um dos tipos previstos e

regulados na lei (contratos típicos ou nominados), por outro lado, as partes têm a

liberdade de concluir contratos diferentes de qualquer um dos tipos previstos e

regulados na lei (contratos atípicos ou inominados), por último, as partes têm a

liberdade de concluir contratos em que se reúnem as regras aplicáveis a dois ou

mais contratos típicos, engendrando contratos mistos, artigo 405.º do CC;

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4) Princípio da consensualidade: usa-se em duas acepções. Significa que os contratos

com eficácia real produzem os seus efeitos reais pelo mero consenso das partes, isto

é, no momento da sua celebração válida e independentemente de qualquer outra

formalidade, nº1 do artigo 406.º, do CC (regime geral); por outro lado, designa-se

também assim o princípio segundo o qual a validade da declaração negocial não

depende da observância de forma especial, excepto quando a lei prescrever,

podendo, portanto, a vontade das partes manifestar-se validamente de qualquer

modo. Nesta última acepção, o termo é, pois, sinónimo de liberdade de forma,

artigo 219.º do C.C.

5) Princípio da Boa-fé: embora, em alguns casos, a lei diga expressamente o que deve

entender-se por boa-fé (ou má fé), não existe uma noção legal aplicável à

generalidade dos casos em que a lei se refere a estas figuras.

O termo boa-fé tem dois significados distintos: a boa-fé em sentido subjectivo

designa um facto e a boa-fé em sentido objectivo designa uma norma. O facto da

boa-fé em sentido subjectivo relaciona-se com o conhecimento ou desconhecimento

de uma circunstância de facto ou de direito (vide os artigos 119.º, nº 3, 243.º, nº 2,

291.º, nº 3, 612.º, 892.º e 898.º todos do C.C). A norma da boa-fé em sentido objectivo

relaciona-se com uma de duas coisas: ou com a conduta dos contraentes ou com o

conteúdo do contrato. O princípio da boa-fé designa sempre e só a boa-fé como

norma (artigos 227.º, 334.º e 762.º, nº 2 todos do C.C), a boa-fé em sentido objectivo.

Fundamentalmente, o termo usa-se em duas acepções. A boa-fé é, em primeiro

lugar, a consideração razoável e equilibrada dos interesses dos outros, a

honestidade e a lealdade nos comportamentos e, designadamente, na celebração e

execução dos negócios jurídicos (boa fé objectiva ou em sentido ético). Neste

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sentido, a boa-fé é um conceito indeterminado (ou cláusula geral de direito

privado), cabendo ao julgador o seu preenchimento casuístico, de acordo com as

circunstâncias do caso e as convicções historicamente dominantes em cada

momento na sociedade. É neste sentido que o princípio da boa-fé está consagrado,

por exemplo, nos artigos 227.º e 762.º, nº 2 do CC;

Mas a boa-fé pode também ser a convicção errónea e não culposa da existência de

um facto ou de um direito ou da validade de um negócio, a ignorância desculpável

dos fundamentos de invalidade ou de um vício de um negócio, é nesta acepção que


expressão é usada nos artigos 243.º e 612.º do C.C, (boa fé subjectiva).

6) Princípio da relactividade: funda-se tal princípio na idéia de que os efeitos do

contrato só se produzem em relação às partes, àqueles que manifestaram a sua

vontade, vinculando-os ao seu conteúdo, não afetando terceiros nem seu

patrimônio. Em outras palavras, o contrato vincula apenas as partes contratantes, só

as partes ficam obrigadas a cumprir o objecto do contrato. nº 2 do artigo 406.º, do

C.C (é também resultado do princípio da boa fé).

7) Princípio Pacta Sunt Servanda: princípio segundo o qual os contratos devem ser

cumpridos nos exactos termos em que foram celebrados, nº1 do artigo 406.º, do CC.

Significa que o contrato deve ser cumprido ponto por ponto, ou seja, em todas as

suas cláusulas e não apenas no prazo estipulado.

8) Princípio da estabilidade: significa que as cláusulas contratuais são intangíveis e

irretratáveis, não podendo as partes desobrigarem-se das estipulações a que se

vincularam, excepto por: acordo, providência legislativa ou intervenção judicial.

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Turma:B1 e C1

Tema: O contrato de Compra e Venda

Sumário: Conceito, classificação e forma.

Conceito

A compra e venda é um contrato, ou seja, um acto jurídico que consiste no acordo de

manifestações de vontades das partes. Implica sempre a existência de duas partes: o

vendedor e o comprador. O que não impede que nele intervenham mais de dois sujeitos

(por exemplo, A, B, E C, comproprietários vendem a coisa a D.)

É o contrato pelo qual se transmite a propriedade de uma coisa, ou outro direito,

mediante um preço, artigo 874.º do C.C.

Elementos

O contrato de compra e venda é constituído pelos seguintes elementos:

a) A compra e venda é um contrato (acordo): traduz o encontro de vontades das partes

(vendedor e comprador) e transfere, só por si, a propriedade ou outro direito para o

comprador. Cria também, como efeitos essenciais: a obrigação de o vendedor entregar

a coisa e a obrigação de o comprador pagar o preço. Ou seja, produz, efeitos reais

(porque transfere, só por si, a propriedade ou outro direito real) e obrigacionais

(porque cria obrigações entre as partes, a obrigação de o vendedor entregar a coisa e a

obrigação de o comprador pagar o preço).

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b) Objecto: é constituído por coisa ou outro direito. A coisa pode ser corpórea e não

corpórea. Quanto ao direito, pode ser real (usufruto, artigo 1440.º do C.C, uma

servidão predial, artigo 1547.º do C.C, o direito de superfície, artigo 1528.º do C.C,

etc.), e de crédito. Pode envolver a posição contratual, uma universalidade de facto

(gado, rebanhos, enxames, uma galeria de estátuas, um armazém de mercadorias,

uma biblioteca, etc,) uma universalidade de direito. E pode também ser coisa

presente, futura e até o objecto de um lítigio.

c) Preço: deve consistir em dinheiro contado, não o sendo, estamos perante uma
permuta ou outro contrato inomindo.

Classificação ou característica

A doutrina classifica a compra e venda como um contrato:

a) Quanto a sua regulamentação e denominação: é um contrato típico e nominado, isto

é, contrato previsto e regulado pela lei, o que não impede a inserção de cláusula

tendentes a modificar ou enriquecer os efeitos legais previstos, artigo 405.º do C.C

(liberdade contratual quanto ao conteúdo).

b) Quanto a forma (validade): Real (quoad effectum), obrigacional e consensual: real,

porque transfere, só por si, a propriedade ou outro direito, sem necessidade da

entrega da coisa ou de acto registal; obrigacional, porque cria obrigações entre as

partes: a obrigação de o vendedor entregar a coisa e a de o comprador pagar o preço,

que se consideram efeitos essenciais; é consensual, porque, basta o acordo das partes

para perfeição do contrato. Todavia, a consensualidade não é absoluta, pode exigir-se

o cumprimento de alguma formalidade, artigo 875.º do C.C.

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c) Quanto aos seus efeitos: é bilateral (ou sinalagmático), cria obrigações recíprocas a

cargo do vendedor e do comprador: aquele, de entregar a coisa a coisa vendida, este,

de pagar o preço, artigo 879.º do C.C: a independência recíproca destas obrigações

configura o sinalagma característico dos contratos bilaterais perfeitos.

d) Quanto as vantagens patrimoniais: é oneroso, entre as atribuições patrimoniais das

partes (vendedor e comprador) há um nexo ou relação de equivalência: cada uma

retira uma vantagem, mas paga-a.

e) Comutativo: as atribuições patrimoniais das partes são certas: cada uma conhece a

prestação e a contraprestação. Contrapõe-se-lhe o contrato aleatório em que, pelo

menos, uma das atribuições patrimoniais é incerta, havendo, para qualquer das

partes, a chance de ganho ou perda.

f) Instantâneo: a sua execução é imediata. Todavia, nada impede que as partes

renunciem à execução única e dividam a prestação no tempo, situação em que o

contrato se torna de duração ou de execução continuada.

Forma

Regra geral, o contrato de compra e venda celebra-se mediante o simples acordo dos

contraentes, com base no princípio da liberdade de forma, isto é, através de qualquer

uma das formas admitidas por lei para a declaração negocial.

No entanto, há casos em que se impõe a observância de determinada forma: é o caso da

compra e venda de bens imóveis, que está sujeita a escritura pública ou documento

particular autenticado, artigo 875.º do C.C. Sem o cumprimento desta formalidade, a

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transmissão da propriedade não pode operar ou operando é nula, artigo 220.º e 289.º do

C.C.

A obrigatoriedade de escritura pública ou de documento particular autenticado, justifica-

se pela circunstância de estarmos perante a compra e venda de bens cujos valores

normalmente são elevados e, portanto, a presença da autoridade, a quem compete redigir

a escritura ou cuidar do documento particular autenticado, torna-se necessária para

apreciar a livre vontade das partes e esclarecê-las dos efeitos do acto que se propõem

realizar. E, nesta medida, é também um factor importante da segurança do comércio


jurídico, porque evita lítigios que afectam a compra e venda.

Por outro lado, estando em causa o interesse público, justifica-se que o Código sancione a

falta de escritura pública ou de documento particular autenticado com nulidade da

compra e venda de imóveis.

Quanto as coisas móveis, vigora, como regra, o princípio oposto, da liberdade de forma.

Deste modo, a declaração pode ser expressa ou tácita, artigo 217.º do C.C, e o silêncio

vale como declaração negocial, quando esse valor lhe seja atribuído por lei, uso ou

convenção, artigo 218.º do C.C.

Este princípio também se compreende facilmente: trata-se, via de regra, de bens de

reduzido valor que, muito frequentemente se compram e vendem, valor que não

compromete as partes que eventualmente venham a arrepender-se. Acresce que a

dispensa de formalismo agiliza estes actos e, facilitando-os, favorece a livre circulação de

bens, factor muito importante na dinamização económica.

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Tema: O contrato de Compra e Venda

Sumário: A compra e venda como paradígma dos contratos onerosos de alienação ou

oneração.

Despesas do contrato

Ilegitimidades contratuais

A compra e venda como paradígma dos contratos onerosos de alienação ou oneração.

A compra e venda é, porventura, o contrato mais relevante que o C.C disciplina.

Efectivamente, além de a função económica que desempenha, ser particularmente

importante, também constitui o paradigma de outros contratos onerosos de alienação ou

oneração de bens. Daí que o legislador tenha determinado a aplicação subsidiária das

normas da compra e venda a esses contratos, artigo 939.º do C.C. ex: permuta e dação em

pagamento.

Despesas do contrato

As despesas do contrato (as da escritura) e despesas acessórias (os encargos fiscais

relactivos a transmissão) ficam em princípio a cargo do contraente designado para o efeito,

na convenção. Caso as partes tenham sido omissas neste ponto, a lei coloca estas despesas

a cargo do comprador, artigo 878.º do C.C, o que constitui a prática mais corrente nesta

matéria.

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Correm também por conta do comprador, as despesas de registo predial e as despesas

preparatórias (honorários de terceiros que preparam o contrato e as despesas para

obtenção dos documentos necessários).

Ficam a cargo do vendedor as despesas relactivas à guarda, embalagem, transporte e

entrega da coisa vendida.

Ilegitimidades

Quanto a ilegitimidade trata-se de uma situação em que existe uma insusceptibilidade de

actuar por parte de um sujeito, determinada em concreto pela sua posição numa

determinada matéria. Essa insusceptibilidade de actuar, tanto pode resultar da posição do

sujeito face a bens, como face a pessoas.

Na primeira categoria cabe a situação paradigmática da venda de bens alheios, na segunda

cabem as hipóteses referidas nos artigos 876.º e 877.º do C.C.

Trata-se os casos de ilegitimidade, não de incapacidade, já que os indivíduos referidos

neste preceito estão inibidos de compar em determinadas situações, mas não inibidos de

comprar em geral.

Ex: Venda de bens alheios, artigo 892.º do CC; Venda de direito litigioso, artigo 876.º do

CC (procura garantir os interesses do vendedor, evitando que a pessoa que age por sua

conta, ou o funcionário público por intermédio do qual os bens são vendidos, artigo 579.º e
587.º, sejam tentados a sobrepor ao interesse do vendedor um interesse pessoal).

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Tema: O contrato de Compra e Venda

Sumário: Modalidades da Compra e venda previstas no Código Civil

A lei prevê diversas modalidades de venda, distinguindo-as seja em função de

particularidades do objecto (por exemplo, venda de bens futuros e venda de coisas

defeituosas) seja em função da existência de certas cláusulas acessórias típicas (venda a

contento, venda a prestação, etc.).

1.1 Venda de bens futuros, frutos pendentes e partes componentes ou integrantes

A venda de bens futuros ocorre quando:

a) O vendedor aliena bens que não existem ao tempo do contrato. Ex: venda de uma

fracção de um edifício por construir;

b) Vende uma coisa que existe, mas não se encontra em seu poder. Ex: vende os peixes

que, nesse dia, vier a pescar;

c) Vende coisa que existe, mas a que não tem direito. Ex: vende cereais que se propõe

a adquirir a outra pessoa.

A doutrina qualifica os bens que não existem de absolutamente futuros e os que

existem, de relactivamente futuros.

Quanto aos frutos pendentes, o comprador adquire-os quando forem colhidos. Até à

colheita, não têm autonomia jurídica. Relactivamente às partes componentes ou

integrantes, são adquiridas quando forem separadas, momento em que ganham

autonomia jurídica.

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E, tratando-se de bens futuros, o comprador adquire-os no momento da aquisição pelo

vendedor.

Regime jurídico

Artigo 880.º do c.c

Deste preceito retira-se algumas considerações:

a) Em qualquer dos casos (Venda de bens futuros, frutos pendentes e partes

componentes ou integrantes), o vendedor obriga-se a fazer as diligências

necessárias para que o comprador adquira os bens vendidos. Por isso, se vendeu

uma coisa alheia deve adquiri-la; se vendeu uma res nullius (coisa sem dono ou

coisa de ninguém), deve ocupá-la; e se vendeu uma parte integrante ou frutos

pendentes, deve separá-la ou colhê-los. No entanto, o modo de actuação do

vendedor pode ser acordado pelas partes e, neste caso, a sua responsabilidade

apurar-se-á em função do desvio a essa actuação.

b) Se o incumprimento dessa obrigação for imputável a culpa do vendedor, deve

indemnizar o comprador dos danos sofridos, artigo 798.º e 801.º, nº 1 do c.c, e o

comprador pode, independentemente do direito à indemnização, resolver o

contrato e, se já tiver realizado a sua prestação, exigir a restituição dela por inteiro,

artigo 801.º, nº 2 do c.c;

c) Se o vendedor agiu sem culpa, a obrigação extingue-se, artigo 798.º, a contrário

sensu e 790.º, nº 1 do c.c., o comprador fica desonerado e, se tiver realizado a sua

prestação, tem o direito de pedir a sua restituição, nos termos prescritos para o

enriquecimento sem causa, artigo 795.º, nº1 do c.c. Mas tem uma excepção: se foi

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atribuído carácter aleatório à compra e venda, o comprador não pode repetir o que

pagou e, se ainda não pagou, é obrigado a fazê-lo, porque se entende que a compra

e venda têm por objecto epes (esperança) que o comprador adquire.

1.2 Venda a contento (Venda sujeita a prova)

Na venda a contento o contrato é subordinado à aprovação, pelo comprador, da coisa

vendida. Esta reserva a faculdade de contratar ou resolver o contrato, consoante a

apreciação subjectiva que venha a fazer do bem vendido.

Existem duas modalidades de venda a contento que são:

a) Compra e venda sob reserva de a coisa agradar ao comprador: artigo 923.º do c.c.

Não existe aqui contrato de compra e venda, mas proposta de venda que o

comprador tem a faculdade discricionária de aceitar ou não (ad gustum): se aceitar,

o contrato forma-se; se recusar, não chega a haver contrato. Pelo contrário, o

vendedor está vinculado à sua proposta de venda. Por isso, é obrigado a facultar a

coisa ao comprador para exame, nº 1 do artigo 228.º, do C.C. Se o comprador

decidir aceitar a proposta, deve obedecer aos prazos fixados no nº 1 do artigo 228.º,

do C.C.

Excepcionalmente, porém, considera-se aceita a proposta se, tendo a coisa sido

entregue ao comprador, este não se pronunciar dentro desses prazos: trata-se duma

situação em que o silêncio vale como declaração negocial, artigo 218.º do c.c. A

rejeição pode ser feita por qualquer dos meios de declaração previstos na lei, artigo

217.º do C.C.

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b) Compra e venda sob reserva de a coisa não agradar ao comprador: artigo 924.º do

C.C. O contrato está completo, embora com a faculdade de o comprador o resolver

unilateralmente se a coisa não lhe agradar, com as consequências assinaladas nos

artigos 432.º e seguintes: a coisa deve ser restituída ao vendedor e o preço, ao

comprador, artigo 289.º do C.C, ex vi 433.º do C.C. Não estamos perante uma

condição resolutiva, porque as partes não subordinam a sua resolução a um

acontecimento futuro e incerto, apenas atribuem ao comprador o direito de o

resolver unilateralmente se a coisa não lhe agradar. Quanto ao risco de perda ou

deterioração da coisa, porque a propriedade se transmitiu ao comprador (embora

com o direito de o resolver unilateralmente), parece que o onera durante o prazo, nº

3 do artigo 796.º, do C.C. No caso de dúvida das modalidades, aplica-se o disposto

no artigo 926.º do c.c.

A prova depende da natureza da coisa vendida, podendo ser, um exame, uma

inspencção, uma análise, a experiência de funcionamento, etc. No caso de se

tornar impossível por facto impotável ao comprador (alienou, consumiu ou

transformou a coisa), a compra e venda torna-se pura e simples a partir do

momento em que a impossibilidade se verificou.

1.3 Venda a retro

Definição: Art. 927.º.

A resolução implica a aplicação dos artigos 432.º e seguintes, em tudo o que não se

encontrar especialmente previsto nesta secção, por isso, os efeitos são os da anulação ou

declaração de nulidade do acto, artigo 433.º do C.C, devendo o comprador restituir a coisa

comprada e o vendedor, o preço recebido, artigo 289.º, nº 1 ex vi artigo 433.º do C.C. Deste

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modo se o vendedor não estiver em condições de restituir o preço não pode resolver o

contrato, artigo 432.º, nº 2 e 931.º do C.C.

Esta modalidade de venda pretende tutelar os interesses dequele que, precisando de

dinheiro, não queira recorrer ao crédito para não sentir o peso dos encargos ou que não

tenha acesso a ele, e não pretenda despojar-se definitivamente dos bens que vende.

Cláusula retro é oponível a terceiros se artigo 932.º do c.c; durante a pendência do

négocio, o comprador é havido como possuidor de boa-fé e, em consequência disso,

quanto a: perda ou deterioração da coisa, artigo 1269.º, ex vi art. 289.º, nº 3; os frutos 1270.º,

ex vi art. 289.º, nº 3 e as benfeitorias, artigos 1273.º e 1275.º. ex vi 289.º, nº3.

Finalmente, efectuada a resolução, a propriedade regressa à esfera jurídica do vendedor,

mas sem eficácia rectroativa, ou seja, ex tunc. Por isso, os frutos que a coisa tenha

produzido entre o momento da venda e da resolução pertencem ao comprador. Do mesmo

modo, sendo a cláusula a retro oponível a terceiros, os bens regressarão livres de ónus ou

encargos constituídos pelo comprador; e a locação caduca se, entretanto, a coisa tiver sido

locada a terceiro, artigo 1251.º, al c).; art. 1091.º, nº 1, al b) e nº 2.

Cláusulas nulas art. 928.º, nº 2 do c.c. A nulidade destas cláusulas não afecta a validade da

venda a remir, assim como das cláusulas do contrato; por isso, no caso de ter sido

estipulada a restituição dum preço superior, a nulidade diz respeito somente ao excesso.

Juntamente com a restituição do preço, o devedor é também responsável pelo pagamento

das despesas com o contrato e outras acessórias.

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Prazos para resolução, o direito de o vendedor pedir a resolução da venda a retro não

pode prolongar-se por demasiado tempo, sob pena de causar dificuldades à livre

circulação dos bens, art. 929.º, nº 1 e 2 do c.c.

Ao ser indicado os dois ou cinco anos mostra que se lhes deve aplicar o regime de

caducidade e não de prescrição, artigo 298.º, nº 2, do c.c, por isso, estão sujeitos ao regime

dos artigos 328.º e seguintes do c.c.

Forma de resolução, artigo 930.º do c.c. Deste artigo resulta que:

1) Não basta a simples declaração do vendedor ao comprador, artigo 436.º do c.c;

2) Tratando-se de coisa imóvel, é necessário que o vendedor (porque se trata dum acto

unilateral, dispensa-se a intervenção do comprador), faça uma escritura pública ou

redija um documento particular autenticado no prazo de quinze dias a contar da

notificação, sob pena de o seu direito caducar;

3) A notificação é feita ao comprador (herdeiros) e não ao subadquirente, se o

comprador já tiver alienado a coisa.

Reembolso do preço e de despesas, art. 931.º e 883.º, nº 1 do c.c. Esta obrigação não é

imperativa. Por isso, as partes podem acordar num prazo de caducidade superior ou

inferior.

Venda de coisa ou direito comum, artigo 933.º do CC: diferente é a situação de algum dos

consortes alienar a sua quota com cláusula a retro; neste caso, pode resolver o contrato

sem a intervenção dos outros, porque não vende a coisa ou direito comum, mas apenas a

quota que exclusivamente lhe pertence.

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Se for pedida a divisão da coisa comum quer pelo proprietário quer pelo outro ou outros

comproprietários, o alienante deve ser chamado a intervir na acção para que possa

defender os seus interesses ligados ao regresso à titularidade da coisa ou direito resultante

da eventual resolução do contrato.

Tarefa: a venda retro foi alvo de severas critícas. Quais são os fundamentos?

1.4 Venda a prestações

Artigo 934.º do CC; A legislação que se ocupa das vendas a prestações realizadas por

comerciantes no exercício do seu comércio, teve a preocupação de proteger os

consumidores da sedução eventualmente perigosa do pagamento a prestações por parte

da máquina publicitária de alguns vendedores, artigo 289.º, nº 3. Ex vi art. 433.º do c.c.

Observa-se que a expressão “venda a prestações” retirada da linguagem vulgar não é

juridicamente correcta, porque a prestação é única, sendo as prestações, parcelas daquela

prestação.

Falta de pagamento, Artigo 934.º do CC. Estamos perante disposição legal que derroga o

regime consagrado nos artigos 781.º e 801.º, nº 2 do c.c, nos termos dos quais a falta de

cumprimento de uma das prestações implica a perda do benefício do prazo quanto às

restantes; e o vendedor (credor) pode, independentemente de indemnização, resolver o

contrato.

Menezes Leitão, entende que, “a lei entende que tal constitui uma solução demasiado

drástica nas vendas a prestações, caso o comprador falte ao pagamento de uma prestação,

que não exceda a oitava parte do preço”. E continua: “para que tal aconteça, é necessário

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estarem em falta duas prestações, independentemente do seu valor, ou que a prestação que
se deixou de realizar excedesse um oitavo do preço”.

No entanto, para este regime especial: não resolução e não perda do benefício do prazo

em relação às prestações seguintes, se aplique são necessários os seguintes requisitos:

 Venda com reserva de propriedade, que, assim, se mantém no vendedor, (pois,

sem reserva de propriedade, ou seja, se propriedade fosse transferida e a coisa

tivesse sido entregue ao comprador, a resolução estaria afastada, artigo 886.º do CC.

 Entrega da coisa ao comprador;

 Não pagamento de uma prestação inferior à oitava parte do preço. Aqui é

indiferente que o comprador tenha incorrido em semelhante falta já várias vezes.

Pelo contrário, se faltar mais do que uma prestação, haverá lugar à resolução do

contrato por força dos artigos 801.º, nº 2 e 808.º. Quanto ao risco de perecimento da

coisa, corre por conta do comprador artigo 796.º, nº 3.

Cláusula penal no caso de o comprador não cumprir

O recurso à cláusula penal é frequente nos contratos de compra e venda a prestações,

porque oferece ao comprador o necessário conforto: fica antecipadamente a indemnização

para o dano causado e estimula o comprador a cumprir. Todavia, porque têm sido

cometidos abusos que favorecem o vendedor, normalmente a parte mais forte, o código

determina o regime desta modalidade no artigo 935.º, nº 1 e 2 do c.c.

A, vendeu a B, em prestações, um automóvel à 20.000.000,00, estipulando-se que se a

totalidade do preço não for paga, o comprador perderá as prestações pagas. O comprador

pagou prestações no valor de 15.000.000,00. Neste caso, o vendedor deve restituir

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5.000.000,00 ao comprador, ou seja, a diferença entre a metade do preço e o total das

prestações pagas. Mas se o prejuízo exceder o valor das prestações pagas, o comprador

perde o que pagou, porque o montante da cláusula penal coincide com o total das

prestações pagas.

Qunto ao risco de perecimento da coisa, corre por conta do comprador, n.º 3 do artigo

796.º do CC.

A excepção prevista no artigo 934.º in fine, tem carácter imperativo; por isso, este regime

não pode ser afastado pelo beneficiário (comprador) para que não seja vitima da sua

própria fraqueza.

1.5. Venda sobre documentos. Venda de coisa em viagem

Noção artigo 937.º do CC.

Este contrato tem particularidade de a obrigação de entregar a coisa, um dos efeitos

essenciais da compra e venda, artigo 879.º, al.c), ser substituída pela entrega do seu título

representativo.

A sua prática tem sido muito importante no âmbito das transacções comerciais, nas quais é

frequente a entrega ao comprador do título representativo de mercadorias armazenadas,

que lhe permite o seu acesso.

Situação análoga ocorre na compra e venda de coisas que estão em viagem. Nestes casos,

porque não se encontram na disponibilidade material do vendedor, são igualmente

substituídas pela entrega dos respectivos documentos.

Entrega de documentos artigo 937.º do CC: tais documentos (títulos de crédito, um

documento de transporte, uma cautela de penhor, uma ordem de entrega, etc.), titulam a

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mercadoria vendida. Por isso, basta que o documento seja entregue ao comprado para que

a venda se considere realizada.

É preciso ter em conta que, o objecto da venda não são os documentos, mas sim, as coisas

aí referidas, constituindo o direito incorporado no título um crédito à entrega dessas

coisas, (doutrina dominante).

1.5.1. Venda de coisa em viagem

Noção, artigo 938.º do CC

Para que estas normas sejam aplicadas é necessário que se verifiquem dois requisitos:

 A coisa vendida deve encontrar-se em viagem e o contrato referir esta circunstância.

Por isso, se a coisa ainda não tiver sido entregue ao transportadr ou expedidor ou à

pessoa indicada para execução do acto, é aplicável o disposto no n.º 2 do artigo

797.º do CC;

 Entre os documentos entregues deve estar a apólice do seguro contra os riscos do

transporte.

Cumpridos estes dois requisitos, o contrato fica sujeito às seguintes regras:

 Se a coisa se tiver perdido casualmente, depois de entregue ao transportador, o

comprador deve o preço. Esta obrigação persiste mesmo que as mercadorias já não

existam no momento do contrato por ter havido um acidente casual;

 Após a entrega da coisa ao transportador, o comprador não pode anular o contrato

com fundamento em defeitos produzidos casualmente depois desse momento.

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A ratio destas regras é a suposição de que se vende aquilo que foi entregue ao

transportador ou a respectiva indemnização de seguro se a coisa se perdeu ou deteriorou;

por isso, o risco fica a cargo do comprador desde a data da compra.

Estas regras não se aplicam se, ao tempo do contrato, o vendedor já conhecia a perda ou os

defeitos da coisa e dolosamente não os revelou ao comprador de boa fé. Neste caso, não

´devido o preço e o comprador pode anular o acto com fundamento nos defeitos, nos

termos dos artigos 913.º e seguintes do CC.

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Turma: B1 e C1

Tema: O contrato de doação

Sumário: Conceito.

Forma.

Capacidade das partes

Ilegitimidades

A doação pode definir-se como um contrato em que uma das partes (doador) transfere
para outra (donatário) a propriedade de uma coisa, a titularidade de um direito, a
assunção de uma obrigação ou prática de um acto material (construção ou plantação em
solo alheio sem contraprestação; o trabalho a favor de outra pessoa sem salário, etc.).

Def. Legal artigo 940.º do C.C

Elementos da doação

1) Acordo: em que o doador, por espírito de liberalidade, diminui o seu património

para que o donatário aumente o que lhe pertence;

2) Objecto: pode recair sobre bens de qualquer natureza, imóveis e móveis, simples

ou compostas, etc., mas, há uma restrição: a doação não pode abranger bens

futuros, nº1 do artigo 942.º, do C.C

Ex: prodigalidade.

Característica:

1) Atribuição patrimonial: pode consistir na transferência para o donatário de um

direito real (de propriedade, de usufruto, etc), de um direito de crédito, nº 1 do

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artigo 578.º do CC, na diminuição do passivo daquele (perdão, remissão, nº 2 do

artigo 863.º do CC, ou pagamento de uma dívida e na contração de nova obrigação).

Por isso, fala-se de doação real, de doação obrigacional e de doação liberatória.

2) Diminuição do património do doador: estão excluídas a prestação gratuita de

serviços, o comodato, o mútuo sem juros e o não exercício de um direito de

preferência na intenção de beneficiar alguém, porque o enriquecimento da pessoa

beneficiada não faz à custa do património da outra.

3) Espírito de liberalidade: é expresso pela locução animus donandi e traduz a ideia

de generosidade ou espontaneidade que se opõe à necessidade ou cumprimento de

um dever, artigo 941.º do C.C. Assim, quem cumpre uma obrigação natural não faz

doação, porque actua com animus solvendi.

Forma

Artigo 947.º do c.c. =

A ratio da exigência destas formalidades consiste na necessidade de assegurar a seriedade

da intenção do doador, evitando que um contrato que lhe impõe um sacrifício patrimonial

possa resultar de declarações precipitadas.

Capacidade e legitimidade

Quanto a capacidade do doador, artigo 948.º do c.c. Equipara-se a capacidade activa nas

doações à capacidade contratual geral, artigo 67.º do c.c, não podem fazer doações os

menores, os interditos, artigo 138.º e segts do c.c e os inabilitados, artigo 152.º do c.c.

Também não podem doar os seus representantes legais, artigo 949.º, nº 2 do c.c. Esta

impossibilidade compreende-se porque, sendo a doação um negócio jurídico determinado

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por espírito de liberalidade, é essencialmente pessoal, e contrariaria a natureza da doação

porque seria o representante a actuar com espírito de liberalidade enquanto a diminuição

patrimonial produzir-se-ia na esfera patrimonial do representado.

Mas há uma excepção, isto no caso previsto no artigo 2182.º, nº 2 do c.c, sendo uma

norma referente a sucessão testamentária aplica-se mutatis mutandis para as doações.

Esta norma quer tão somente dizer que, as doações são de carácter pessoal, não podendo

ser feita por meio de representante, mas quando a doação é feita para uma generalidade

de pessoas a lei permite que o doador nomeie dentre os beneficiários da doação ou

terceiro que faça a repartição dos bens doados.

Ex: A faz uma doação a família de João, que são imensos, filhos, tios avó, sobrinho, neto,

e nomeie o patriarca da família para proceder a repartição dos bens por ele doados.

Quanto ao momento da incapacidade do doador deve ser considerada, a lei identifica-o,

com o tempo da declaração negocial. Ora, tendo presente que a proposta de doação

somente caduca se não for aceita durante a vida do doador, ou seja, o donatário pode

aceitar enquanto o doador viver, artigo 945.º, nº1 do c.c., o momento em que a

incapacidade do doador deve ser apreciada reveste particular interesse: se no momento

em que se fez a declaração negocial o doador era capaz, a proposta mantém a sua validade

mesmo que se torne incapaz no momento da celebração do contrato; pelo contário, se o

doador era incapaz quando fez a proposta e entretanto se tornou capaz antes da referida

celebração, a doação não deixa de ser inválida.

Quanto a capacidade jurídica do donatário, artigo 950.º, nº 1 do c.c e o momento em que

deve ser considerada a lei determina artigo 950.º, nº 2 do c.c. Capacidade passiva, artigo

951.º, nº 1 do cc.

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Ilegitimidades

Um caso típico de ilegitimidade decorre:

1) Da posição do sujeito face ao bem: com a doação de bens alheios, artigo 956.º do

c.c. A doação de bens alheios é nula, artigo 956.º, nº 1 primeira parte, que se ajusta

ao artigo 940.º do c.c. No entanto o doador não pode opôr a nulidade ao donatário

de boa-fé, artigo 956.º, nº 1 parte final. Ler também o artigo 956.º, nº 3.

2) Da posição do sujeito relativa a outros sujeitos a que lhes chama de

indisponibilidades relativas, artigo 953.º do c.c, e podemos encontrar: 2192.º nº 1 e 2

por força do artigo 953.º a lei sanciona com nulidade, por estar em causa a

incapacidade de exercício. Doações feitas a sacerdotes, médicos e enfermeiros, se se

verificar os condicionalismos descrito no artigo 2194.º do c.c; doações feitas a favor

de notários referidas no artigo 2197.º do c.c, doações previstas no artigo 2196.º B. A

sanção que corresponde à violação daqueles preceitos e a nulidade são aplicáveis as

disposições dos artigos, artigos 286.º e 289.º e segts, a nulidade verifica-se mesmo

que a doação seja feita por meio de interposta pessoa, artigo 579.º, nº 2, 2198.º do c.c.

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Turma: B1 e C1

Tema: Contrato de Prestação de Serviços

Sumário: Noção

Caractrística

Modalidades: Mandato, Depósito e a Empreitada

Contrato de Prestação de Serviços: é aquele em que uma das partes se obriga a

proporcionar à outra certo resultado do seu trabalho intelectual ou manual, com ou sem

remuneração, artigo 1154.º do Código Civil.

Modalidades: Mandato, Depósito e a Empreitada

Contrato de Depósito

Noção artigo 1185.º do C.C

A pessoa que entrega a coisa chama-se depositante, a que recebe denomina-se


depositário.

Características

1) É um contrato nominado e típico, artigo 1185.º do C.C,

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2) Bilateral imperfeito: entre as obrigações das partes não existe nexo lógico de

reciprocidade ou de dependência, pois as obrigações que se sucedem não se

contrapõem.

3) Pode ser gratuito ou oneroso, 1158.º do C.C: presume-se gratuito, excepto se tiver

por objecto actos que o depositário pratique por profissão, ex vi artigo 1186.º do CC.

Presume-se oneroso o depósito de coisa controvertida, artigo 1203.º do CC.

4) Real quoad constitutionem: a entrega (traditio) da coisa é, elemento necessário à

sua perfeição.

5) De execução continuada: deriva da obrigação de custódia assumida pelo

depositário. Daqui resulta que a resolução por incumprimento não abrange as

prestações já efectuadas, nº 2, do artigo 434.º, do CC.

6) Temporalidade: o depositário deve devolver a coisa no momento em que lhe for

pedida. Mesmo havendo prazo, este funciona a favor do depositante. No entanto,

tratando-se de depósito oneroso, o depositante deve satisfazer por inteiro a

retribuição ao depositário, salvo se tiver justa causa, artigo 1194.º do CC.

É um contrato que assenta essencialmente na confiança, uma vez que não se entrega, à

guarda de outrem, as próprias coisas, desde que nele não se deposite uma confiança plena.

Elementos do Depósito

O contrato de depósito é constituído pelos seguintes elementos:

a) Acordo: entre depositante e depositário, em que este se obriga a guardar e restituir

àquele o bem que lhe foi entregue em depósito;

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b) Entrega da coisa: é elemento essencial, porque sem ela não existe contrato. Na

noção de depósito, refere-se que “uma das partes entrega à outra uma coisa imóvel

ou móvel” e não que se obriga a entregar. Sem a entrega da coisa, estaremos,

quando muito, perante um contrato-promessa de depósito, artigo 410.º do CC. A

entrega da coisa é normalmente, material, mas pode bastar uma tradição simbólica,

v.g., entrega das chaves de automóvel para guardar, ou mesmo, brevi manu, v.g., o

locatário torna-se depositário.

c) Objecto: pode ser imóvel ou móvel. Também não se afasta a possibilidade de se

depositar uma universitas rerum (v.g., um rebanho, uma colecção de quadros, etc.),

embora, nesta hipótese, o depósito incida sobre coisas consideradas

individualmente. Já não pode haver depósito de coisas incorpóreas, como créditos

ou outros bens imateriais. Tratando-se de depósito cerrado, v.g., coisas metidas em

cofre, caixa, mala, envelope ou outro invólucro, etc., o depositário deve restituí-lo

no estado em que recebeu, nº 1 e nº 2, do artigo 1191.º, do CC.

d) Finalidade: o depósito tem por finalidade a guarda da coisa. Embora haja

obrigações de a guardar e conservar noutros contratos, v.g., parceria pecuária,

artigo 1124.º, comodato, artigo 1135.º, al a), locação, artigo 1043.º, penhor, artigo

671.º, a), etc. A obrigação de guardar não é, no depósito, instrumental, secundária

ou acessória, mas principal.

Modalidade:

1) Regular: é o previsto no artigo 1185.º do C.C, ou seja, aquele que tem por objecto
uma coisa não fungível, obrigando-se o depositário a guardá-la e a restituí-la
quando o depositante exigir. Ex:

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2) Irregular, artigo 1205.º c.c: é o depósito de coisa fungível, no qual o depositário
assume a obrigação de restituir coisa do mesmo género, qualidade e quantidade
(tantundem eiusdem generis et qualitatis). Ex: guardar certas moedas ou notas ou
certas medidas de cereal, para serem restituídas elas mesmas, o depósito é regular;
mas quando é para restituir apenas em género e qualidade diz-se irregular.

3) Voluntário: é o depósito feito espontaneamente mediante contrato entre os


interessados. Ex:

4) Obrigatório: é o depósito que se realiza em consequência de circunstâncias que o


impõem. Pode ser legal e necessário ou miserável. Ex:

a) Legal: se efectuado em desempenho de obrigação prescrita na lei, como o das


bagagens nos hotéis;

b) Necessário ou miserável: se feito necessariamente por ocasião de alguma


calamidade, como o dos móveis retirados de casa que está incendiando.

5) Gratuito: é o depósito em que o depositário não tem nenhuma vantagem, ou seja,


origina obrigações apenas ao depositário.

6) Salariado: é o depósito que dá nascimento a obrigação interdependentes, a cargo do


depositante e o depositário.

7) Sequestro: é o depósito de coisa controvertida, artigo 1202.º do C.C.

Contrato de Empreitada

Noção, artigo 1207 do c.c

Desempenha uma função muito importante no comércio jurídico, não apenas na

construção e reparação de edifícios, desaterro e remoção de terras, perfuração de túneis e

poços, abertura de estradas, dragagem de portos e de estuários, drenagem de pântanos,

etc., mas também na construção e reparação de móveis, como automóveis, navios,

mobiliário e mesmo, embora não sejam actividades pacíficas, escrever um livro, lavar ou

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passar a ferro roupa, organizar espetáculos, elaborar projectos de engenharia e arquitetura,

fazer intervenções cirúrgicas, dar pareceres, elaborar programas de computadores, etc.

Forma 219.º do c.c

Figuras afins

Contrato de prestação de serviços: é o contrato em que uma das partes se obriga a

proporcionar à outra certo resultado do seu trabalho intelectual ou manual, com ou sem

retribuição, artigo 1154.º do c.c. A empreitada é considerada uma modalidade deste

contrato, a par do mandato e do depósito, mas importa distinguir: no contrato de

prestação de serviço o risco onera o beneficiário, enquanto na empreitada corre por conta

do empreiteiro; tendencialmente, enquanto no contrato de prestação de serviços a

remuneração é determinada em função do tempo de actividade, na empreitada é fixada

tendo em conta o resultado.

Mandato: é também considerado uma modalidade da prestação de serviço, artigo 1155.º

do c.c, mas, enquanto naquele contrato o mandatário se obriga a praticar um ou mais actos

jurídicos por conta do mandante, na empreitada o empreiteiro obriga-se a realizar actos

materiais2. Por outro lado, o mandatário deve, em princípio, respeitar as instruções do

mandante, al a), do artigo 1161.º, e 1162.º do c.c, enquanto o empreiteiro deve respeitar o

que foi convencionado e obedecer às artis leges. Outra diferença consiste na presunção de

gratuidade do mandato, nº 1, do artigo 1158.º, do CC, enquanto a empreitada é um

contrato oneroso, artigo 1207.º do c.c. Enquanto o mandante deve indemnizar o

mandatário do prejuízo sofrido em consequência do mandato, artigo 1167.º al c) do c.c e

2
Todavia, embora se obrigue a praticar actos jurídicos, o mandatário pode também praticar actos materiais, como
entregar uma coisa, e o empreiteiro, obrigado a praticar actos materiais, pode também praticar actos jurídicos, como
obter uma licença de construção.

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responde, como comitente, por danos causados pelo mandatário a terceiros, artigo 500.º do

c.c, o dono da obra não pode ser responsabilizado objectivamente por actos lesivos de

terceiros praticados pelo empreiteiro.

Depósito: diferenças significativas: enquato o depósito é um contrato para custódia e

restituição da coisa depositada, artigo 1185.º, a empreitada visa a realização de uma obra,

seja construção, seja reparação, artigo 1207.º; o depósito é, por presunção, gratuito, artigo

1158.º ex vi artigo 1186.º, mas a empreitada é um contrato oneroso, artigo 1207.º; o

depósito tem natureza real, enquanto a empreitada é um negócio consensual.

Regime jurídico geral

Execução da obra: artigo 1208.º do c.c, 762.º, nº 2, 1221.º, 1222.º, nº 1, 1223.º e 1225.º do c.c.

a) O empreiteiro deve executar a obra segundo as condições convencionadas. É usual

nas grandes empreitadas, fixar estas condições num instrumento denominado

caderno de encargo3. Pode-se dizer que é a lei especial da empreitada. A

realização da obra é uma prestação de facto e a entrega, uma prestação de coisa,

instrumental e acessória da primeira. A entrega pode ser efectiva ou simbólica e,

regra geral, as despesas da entrega correm por conta do empreiteiro, na medida em

que constituem despesas do cumprimento.

b) Não basta ao empreiteiro executar fielmente o projecto da obra ou respeitar o

caderno de encargo. Como perito que é, o empreiteiro deve proceder de boa-fé,

neste caso, informar o dono da obra dos defeitos que observar no projecto ou nos

3
Caderno de Encargo, compreende o projecto, as condições jurídicas e técnicas a que a construção da obra deve
obedecer, a qualidade dos materiais, a responsabilidade do empreiteiro, as alterações e retificações do projecto, o
preço, a forma de pagamento, as penalidades, os prazos, etc.

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materiais fornecidos pelo dono da obra, do perigo de utilização, etc. Por outro lado,

do contrato podem também resultar outros deveres, como o de segredo.

c) O não cumprimento das obrigações previstas no presente artigo dá lugar a variadas

sanções: o empreiteiro pode ser compelido à eliminação dos defeitos, artigo 1221.º,

ou ficar sujeito à redução do preço, n.º 1, do artigo 1222.º, , à resolução do contrato,

n.º 1, do artigo 1222.º, ou à indemnização dos danos causados, artigo 1223.º e 1225.º

todos do CC.

Fiscalização. Artigo 1209.º do CC

Daqui resulta:

1) O dono da obra desde que suporte as despesas e não perturbe a execução, pode

fiscalizar por si a execução da obra;

2) Este direito, porque reconhecido por norma imperativa, não pode ser retirado, ou

seja, não pode ser afastado por cláusula, doutro modo, a cláusula que o retire é

nula, n.º 1, do artigo 280.º, do CC;

3) A fiscalização não traduz o exercício de autoridade de direcção. O dono da obra

limita-se a verificar se está a ser feita em conformidade com os requisitos a que a

execução deve obedecer; por isso, não deve perturbar o andamento ordinário da

empreitada, nem exercer esse direito com fim vexatório;

4) Em princípio, a fiscalização é feita no interesse do dono da obra e não do

empreiteiro. Por isso, findo o contrato, o dono da obra pode fazer valer os seus

direitos contra o empreiteiro, embora sejam aparentes os vícios da coisa ou notória

a má execução do contrato. Mas há uma excepção: se o dono da obra concordar

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expressamente com a obra executada, a sua concordância tem o valor de verificação

final. Simplesmente, esta concordância não significa adesão global, mas somente de

certo aspecto ou parte da obra;

5) Se no decurso da fiscalização o dono da obra se apercebeu de um defeito e não o

indicou ao empreiteiro, está actuando com os ditames da boa-fé; por isso, se mais

tarde, se fizer valer dessa situação, estará a agir contra facto próprio e, assim, torna-

se responsável pelos danos causados ao empreiteiro;

6) Se for impossível a execução da obra, ou seja, quando os defeitos registados são

impossíveis de eliminar e tornar a obra inadequada ao fim a que se destina, o dono

da obra pode resolver o contrato a todo momento, n.º 2, do artigo 801.º, do CC;

7) A fiscalização pode ser feita pelo dono da obra ou por terceiro, mas a nomeação não

obsta a que o dono da obra exerça pessoalmente o seu direito de fiscalização;

8) Se houver danos provenientes de factos ilícitos praticados pelo fiscal ou vigilante,

aplicar-se-á o disposto no artigo 500.º do CC.

Fornecimento de materiais e utensílios

Vem previsto no artigo 1210.º do CC.

a) A regra do n.º 1 é supletiva. Admite-se que por convenção ou uso, os materiais e

utensílios (instrumentos, máquinas, andaimes, tapumes, barracas ou barracões,

destinados à instalação do pessoal ou dos serviços, o chamado estaleiro da obra nas

grandes construções) sejam fornecidos pelo dono da obra ou por terceiro;

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b) A regra do n.º 2, também é supletiva. Se os materiais empregados forem de

qualidade inferior à média, a obra deve ser considerada defeituosa, aplicando-se as

disposições dos artigos 1218.º e seguintes;

c) Atenção: se o empreiteiro empregar materiais de qualidade superior à média e

nada se disser no contrato, não terá direito de aumento de preço, pois, ele só está

impedido de aplicar material de qualidade inferior à média;

d) Se os materiais forem fornecidos pelo dono da obra ou por terceiro, o empreiteiro

deve avisá-lo sempre que não corresponderem às características da obra, sejam de

qualidade inferior à média ou de qualidade que prejudique o resultado a obter; e,

mesmo que o dono da obra insista no seu emprego, o empreiteiro não deve utilizá-

lo se daí puder resultar lesão de direitos de terceiro ou violoção de disposições de

ordem pública.

Defeitos da obra (artigo 1218.º)

A existência de defeitos traduz uma situação de incumprimento defeituoso quando a obra

tenha sido feita com deformidades ou com vícios. Mas podem também corresponder a

uma situação de mora. No primeiro caso (incumprimento definitivo), os defeitos não

podem ser corrigidos depois da rejeição do dono da obra. No segundo podem.

As deformidades consistem em discordâncias relativamente ao plano acordado, exemplo:

mesa redonda com 3 metros feita com menos um metro. Os vícios são imperfeições que

excluem ou reduzem o valor da obra ou a sua aptidão para uso ordinário ou previsto no

contrato, artigo 1028.º, designadamente por violação de regras especiais de segurança.

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O conjunto das deformidades e vícios denomina-se defeitos que podem ser aparentes ou

ocultos: aparentes são os que o dono da obra conhece fazendo o uso da diligência normal

do bonus pater familias. Ocultos: os desconhecidos ao dono da obra e não detectáveis por

aquele homem médio, ou seja, se for o caso, pelo perito ou técnico médio contratado para

proceder a verificação da obra.

Uma das consequências desta orientação é também a possibilidade de o dono da obra

recorrer à exceptio nom rite adimpleti contractus, e assim, afastar o pagamento do preço

com base nas desconformidades da obra ao que foi acordado. O empreiteiro pode não

responder pelos defeitos e erros do projecto, artigo 573.º. isto quer dizer que há situações

que desreponsabilizam o empreiteiro, como: actos de força maior (actos de guerra,

terramotos, inundações, etc.), artigo 790.º e seguintes; o grau de perícia exigível ao

empreiteiro não permite evitar o defeito; se dono da obra conhecendo os defeitos durante

a execução, manifestou a sua concordância com a obra assim executada, artigo 1209º, nº 2

in fine; se dono da obra conheceu os defeitos e aceitou a obra sem reserva, artigos 1219.º;

Juntam-se o afastamento da responsabilidade do empreiteiro pelo atraso ou recusa de

entrega da obra se recorrer à exceptio non adimpleti contractus, artigo 428.º, ou ao direito

de retenção, artigo 754.º e seguintes, por virtude do não pagamento das prestações do

preço.

Determinação e pagamento do preço (artigo 1211.º; 883.º)

Desta remissão verifica-se que o preço pode ser determinado:

1) Por convenção se não estiver fixado por entidade pública (pouco frequente);

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2) Atender-se-á ao preço que o empreiteiro normalmente pratica à data da conclusão

do contrato; finalmente, o tribunal fixá-lo-á segundo juízos de equidade. Mas pode

também ser aplicado o artigo 400.º, n.º 1 do CC.

3) O preço pode incidir sobre a obra global e por unidade a executar, por exemplo:

constução de parede a tanto por metro; abertura de estrada a tanto por quilómetro,

etc.

4) Por outro, também se aplica o artigo 805.º, n.º 3. Se o preço for acordado em

prestações aplica-se o artigo 428.º e seguintes (excepção do não cumprimento),

justifica-se pelo facto do empreiteiro contar com os fundos provenientes desse

pagamento para ocorrer às despesas com a prossecução da obra.

5) O preço consiste sempre em dinheiro. Por isso, se o empreiteiro receber como

retribuição uma quota da obra a construir, termos uma empreitada e uma dação em

cumprimento;

6) O preço deve ser pago no local onde a obra é entregue, artigo 885.º, n.º 1 do CC,

aplicável por analogia. Se, por acordo das partes, dever ser pago antes ou depois da

aceitação, o lugar do cumprimento será o do domicílio do empreiteiro.

Mandato

Noção, artigo 1157.º do CC. (No direito romano era um contrato gratuito porque se

julgava um favor, baseado na amizade; a palavra mandato vem de dare porque, na Roma

antiga, o mandatário dava ao mandante um aperto de mão, em sinal da fidelidade

prometida)

A doutrina observa que:

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1) Os actos praticados pelo mandatário, na sequência do mandato, são normalmente,

negócios jurídicos, mas também podem ser simples actos jurídicos (encarrega-se

alguém de comprar ou vender um bem, arrendar um imóvel, celebrar um mútuo ou

uma prestação de serviços, confessar um facto ou direito de terceiro, interpelar o

devedor para pagar, publicar uma obra literária, efectuar um pagamento, etc.);

2) O mandato não se confunde com o negócio pelo qual alguém se obriga a levar uma

declaração negocial de uma pessoa ao conhecimento de terceiro. Neste caso,

estaremos perante a figura do núncio e o acto que praticar, considerando a sua

vontade irrelevante, é um puro acto material. Diz-se, a propósito, que o núncio é

um auxiliar do dominus e não um mandatário.

3) O mandatário deve praticar o acto jurídico por conta do mandante, porque, o

mandato é essencialmente um facere per conto altrui; por isso, não há mandato no

contrato pelo qual alguém se obriga a realizar com terceiro, por sua conta, um

negócio jurídico.

4) Porque o mandatário actua em seu nome, embora por conta do mandante, o acto

praticado produz os seus efeitos na esfera jurídica do mandatário, ainda que os

correspondentes direitos e obrigações devam ser transferidos depois para o

mandante, no interesse de quem a actividade foi realizada.

5) A actividade constante do mandato pode, no entanto, ser realizada não só por

conta, mas também em nome do mandante. Nesta hipótese, em que se exige

procuração 4 (que é um acto unilateral), os direitos e obrigações do acto jurídico do

4
João de Matos Antunes Varela, chame-se procuração ao título ou documento em que o mandante investe
certa pessoa na categoria de seu mandatário. Mas a representação não pressupõe necessariamente a procuração:
pode resultar de outros negócios jurídicos (a sociedade, a prestação de serviço, etc.) ou da lei (representante legal). O

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mandatário produzem-se imediatamente na esfera jurídica do mandante, artigo

1178.º do CC.

Elementos

Acordo: entre quem dá (mandante) e quem aceita (mandatário) o encargo de realizar

determinado acto jurídico por conta daquele;

Objecto: é a actividade que o mandatário se obriga a realizar. Pode ser um negócio

jurídico ou outro acto jurídico: comprar ou vender um bem, arrendar um imóvel, celebrar

um mútuo ou uma prestação de serviços, confessar um facto ou direito de terceiro,

interpelar o devedor para pagar, publicar uma obra literária, efectuar um pagamento e;

Finalidade: o mandatário deve actuar em nome do mandante, satisfazendo o interesse

deste, embora, em alguns casos, possa ser de terceiro, como sucede com o mandato de

crédito, artigo 629.º do CC. O mandatário não pode actuar no seu exclusivo interesse; de

contrário estaremos perante um simples conselho.

Característica: nominado e típico, consensual, gratuito ou oneroso, bilateral ou bilateral

imperfeito, intuitu personae (ressalvando-se também a consideração, pelo mandante, de

particulares qualidades técnicas ou capacidade pessoal do mandatário).

Capacidade

A capacidade de o mandante celebrar contratos de mandato, varia consoante o seu objecto,

impondo-se o princípio segundo o qual quem não tem capacidade para pessoalmente

praticar actos também não os pode realizar por intermédio de mandatário.

Mandato impõe a obrigação de celebrar actos jurídicos por conta doutrem, a Procuração confere o poder de os
celebrar em nome doutrem. Eles podem existir juntos ou um sem o outro.

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Quanto aos menores, interditos e inabilitados, os actos que puderem realizar, podem, por

mandato, ser praticados por mandatário, artigo 127.º, 139.º e 154.º e 156.º (inabilitados

cujos actos não tenham sido entregues a curador).

Forma

Como contrato consensual, o mandato não está sujeito a forma especial. A excepção ocorre

no mandato judicial.

Já a procuração deve revestir a forma do negócio que o procurador se encarrega de

realizar, artigo 262.º e segts. Por isso, se o mandato constar do mesmo documento, deve

revestir essa forma para que o negócio celebrado seja válido, mas tal acontecerá por

arrastamento e não por necessidade.

Quanto ao mandato sem representação, relativamente ao qual a lei não exige forma

especial, a doutrina tem entendido que, para estar sujeita a execução específica a obrigação

de o mandatário transferir para o mandante os bens adquiridos, n.º 1 do artigo 1181.º do

CC, o mandato deve obedecer à forma do contrato-promessa, n.º 2 do artigo 410.º do CC.

Para reter: esta exigência de forma não é requisito de validade do contrato, mas apenas uma

condição para que a obrigação de transferência possa ser executada especificamente.

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