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Tema: Origem e desenvolvimento da figura do contrato

Sumário: Princípios informadores da figura do contrato.

Princípio: orientação que informa o conteúdo de um conjunto de normas jurídicas, que


tem de ser tomada em consideração pelo intérprete, mas que pode, em alguns casos,
ter aplicação directa. Os princípios extraem-se das fontes e dos preceitos, através da
construção científica e servem, por sua vez, de orientação ao legislador na definição de
novos regimes.

Os princípios correspondem a proposições que resultam de valorações operadas por


diversas normas. Distinguem-se destas por não assentarem numa previsão e numa
estatuição. Os princípios têm ainda diversos papéis, a saber: o papel ordenador;
programático e regulador.

Os princíos gerais de direito dos contratos, como pensamentos directores de um


conjunto de normas jurídicas, desempenham duas funções: a função prática de
apresentar argumentos favoráveis ou desfavoráveis a uma interpretação e a função
teórica de representar o conjunto das normas como um sistema.

1) Princípio da Autonomia Privada: designa a competência de cada pessoa para


conformar livremente as suas relações jurídicas, através dos tipos de acto e, em
especial, dos tipos de negócio jurídico admitidos e reconhecidos pelo direito
privado.

2) Princípio da liberdade de forma ou da consensualidade: os negócios jurídicos


podem, em princípio, ser validamente celebrados por qualquer forma, artigo
219.º do CC; No entanto, a lei excepciona numerosos negócios deste princípio,
prescrevendo para a sua celebração uma determinada forma (forma legal), por
outro lado, as próprias partes podem convencionar que o, ou os futuros contratos
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que vierem a celebrar terão de revestir um dada forma (forma convencional),
artigos 220.º, 221.º, 222.º e 235.º do C.C.

3) Princípio da liberdade contratual: de acordo com o artigo 405.º do CC, são os


sujeitos privados que determinam o conteúdo e os efeitos dos negócios jurídicos
que celebram. Tem dois subprincípios que são: o princípio da liberdade de
conclusão do contrato e liberdade de conformação do contrato.

O princípio da liberdade de conclusão do contrato, tem uma dimensão negativa e


uma positiva. Na sua dimensão positiva, significa que cada pessoa pode concluir
os contratos que quiser; na sua dimensão negativa, significa que nenhuma
pessoa deve concluir os contratos que não quiser, senão nos casos e nos termos
previstos na lei, artigo 876.º e 877.º do C.C.

O segundo subprincípio, liberdade de conformação do contrato, também


chamado de liberdade de estipulação, significa que as partes podem dar às
normas jurídico-negociais o conteúdo que quiserem dar-lhes: por um lado, as
partes têm a liberdade de concluir contratos correspondentes a qualquer um dos
tipos previstos e regulados na lei (contratos típicos ou nominados), por outro
lado, as partes têm a liberdade de concluir contratos diferentes de qualquer um
dos tipos previstos e regulados na lei (contratos atípicos ou inominados), por
último, as partes têm a liberdade de concluir contratos em que se reúnem as
regras aplicáveis a dois ou mais contratos típicos, engendrando contratos
mistos, artigo 405.º do CC;

4) Princípio da consensualidade: usa-se em duas acepções. Significa que os


contratos com eficácia real produzem os seus efeitos reais pelo mero consenso
das partes, isto é, no momento da sua celebração válida e independentemente de
qualquer outra formalidade, nº1 do artigo 406.º, do CC (regime geral); por outro
lado, designa-se também assim o princípio segundo o qual a validade da
declaração negocial não depende da observância de forma especial, excepto
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quando a lei prescrever, podendo, portanto, a vontade das partes manifestar-se
validamente de qualquer modo. Nesta última acepção, o termo é, pois, sinónimo
de liberdade de forma, artigo 219.º do C.C.

5) Princípio da Boa-fé: embora, em alguns casos, a lei diga expressamente o que


deve entender-se por boa-fé (ou má fé), não existe uma noção legal aplicável à
generalidade dos casos em que a lei se refere a estas figuras.

O termo boa-fé tem dois significados distintos: a boa-fé em sentido subjectivo


designa um facto e a boa-fé em sentido objectivo designa uma norma. O facto da
boa-fé em sentido subjectivo relaciona-se com o conhecimento ou
desconhecimento de uma circunstância de facto ou de direito (vide os artigos
119.º, nº 3, 243.º, nº 2, 291.º, nº 3, 612.º, 892.º e 898.º todos do C.C). A norma da
boa-fé em sentido objectivo relaciona-se com uma de duas coisas: ou com a
conduta dos contraentes ou com o conteúdo do contrato. O princípio da boa-fé
designa sempre e só a boa-fé como norma (artigos 227.º, 334.º e 762.º, nº 2 todos
do C.C), a boa-fé em sentido objectivo.

Fundamentalmente, o termo usa-se em duas acepções. A boa-fé é, em primeiro


lugar, a consideração razoável e equilibrada dos interesses dos outros, a
honestidade e a lealdade nos comportamentos e, designadamente, na celebração
e execução dos negócios jurídicos (boa fé objectiva ou em sentido ético). Neste
sentido, a boa-fé é um conceito indeterminado (ou cláusula geral de direito
privado), cabendo ao julgador o seu preenchimento casuístico, de acordo com as
circunstâncias do caso e as convicções historicamente dominantes em cada
momento na sociedade. É neste sentido que o princípio da boa-fé está
consagrado, por exemplo, nos artigos 227.º e 762.º, nº 2 do CC;

Mas a boa-fé pode também ser a convicção errónea e não culposa da existência
de um facto ou de um direito ou da validade de um negócio, a ignorância
desculpável dos fundamentos de invalidade ou de um vício de um negócio, é
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nesta acepção que expressão é usada nos artigos 243.º e 612.º do C.C, (boa fé
subjectiva).

6) Princípio da relactividade: funda-se tal princípio na idéia de que os efeitos do


contrato só se produzem em relação às partes, àqueles que manifestaram a sua
vontade, vinculando-os ao seu conteúdo, não afetando terceiros nem seu
patrimônio. Em outras palavras, o contrato vincula apenas as partes
contratantes, só as partes ficam obrigadas a cumprir o objecto do contrato. nº 2
do artigo 406.º, do C.C (é também resultado do princípio da boa fé).

7) Princípio Pacta Sunt Servanda: princípio segundo o qual os contratos devem ser
cumpridos nos exactos termos em que foram celebrados, nº1 do artigo 406.º, do
CC. Significa que o contrato deve ser cumprido ponto por ponto, ou seja, em
todas as suas cláusulas e não apenas no prazo estipulado.

8) Princípio da estabilidade: significa que as cláusulas contratuais são intangíveis


e irretratáveis, não podendo as partes desobrigarem-se das estipulações a que se
vincularam, excepto por: acordo, providência legislativa ou intervenção judicial.

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