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Direito Civil I

A-) BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS:

- Noção: bens examinados objetivamente,


independentemente de sua relação com os respectivos titulares ou
de sua relação de interdependência com outros bens.

- Fundamentalmente são móveis ou imóveis, tendo em vista


o fator mobilidade.

- Historicamente, os imóveis ganharam importância a partir


da Idade Média (o feudo gerava poder político), razão pela qual a
legislação até hoje de certa forma os privilegia.

Exs.: a alienação é mais formal, os prazos de prescrição são


maiores, faz-se necessária a legitimação visando à alienação, sua
localização é critério de determinação de competência.

- Atualmente, a importância socioeconômica dos móveis é


enorme, às vezes até maior do que a dos imóveis: automóveis,
ações negociáveis na BV, máquinas, utensílios.

- Imóveis: são os que não podem ser levados de um lugar a


outro sem se alterar a sua natureza.

São de quatro categorias:


1-) Por sua natureza: os definidos no art. 79, 1ª parte,
abrangendo também o espaço aéreo e o subsolo correspondentes
(art. 1.229), mas, nesse caso, limitados à utilidade do uso.

“Art. 79. São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe


incorporar natural ou artificialmente”
“Art. 1.229. A propriedade do solo abrange a do espaço
aéreo e subsolo correspondentes, em altura e profundidade úteis
ao seu exercício, não podendo o proprietário opor-se a
atividades que sejam realizadas, por terceiros, a uma altura ou
profundidade tais, que não tenha ele interesse legítimo em
impedi-las”
Riquezas minerais, potencial hidráulico e sítios
arqueológicos são de propriedade exclusiva da União (art. 1.230,
caput: “a propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e
demais recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica, os
monumentos arqueológicos e outros bens referidos por leis
especiais”), e sua exploração econômica depende de concessão da
mesma.

2-) Por acessão natural (ou força horizontal): os previstos


no art. 79, 2ª parte (“são bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe
incorporar natural ou artificialmente”), ou seja, circunstância
pela qual uma coisa adere a outra naturalmente, sem a presença de
elemento intencional; exs.: vegetação nativa e os fatores do art.
1.248, I a IV.

“Art. 1.248. A acessão pode dar-se:


I - por formação de ilhas;

II - por aluvião;

III - por avulsão;

IV - por abandono de álveo”

3-) Por acessão artificial (ou força vertical): previstos


também no art. 79, 2ª parte, i.e., circunstância pela qual uma coisa
adere a outra com a presença de elemento intencional; exs.:
maquinários e equipamentos instalados em uma fazenda ou
indústria, construções e plantações (arts. 1.248, V, e 1.253 a
1.259).

“Art. 1.248. A acessão pode dar-se:

V - por plantações ou construções”

“Art. 1.253. Toda construção ou plantação existente em um


terreno presume-se feita pelo proprietário e à sua custa, até que
se prove o contrário”

Todos os bens dessa classe podem ser mobilizados a


qualquer momento, desde que a remoção não importe em sua
destruição (art. 84, a ser examinado adiante).

Demais disso, as circunstâncias do art. 81 não retira a


qualidade de imóveis: “não perdem o caráter de imóveis: I - as
edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua
unidade, forem removidas para outro local; II - os materiais
provisoriamente separados de um prédio, para nele se
reempregarem”).

4-) Ex vi legis: os estabelecidos no art. 80, vale dizer, os


direitos reais relativos a imóveis e a sucessão aberta.

“Art. 80. Consideram-se imóveis para os efeitos legais:

I - os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram;

II - o direito à sucessão aberta”

Sobre o inciso I, significa, por exemplo, a propriedade de


bem imóvel, a hipoteca e a ação de reintegração de posse de
imóvel.

Acerca do inciso II, quer dizer o direito sucessório


permeado entre a morte do autor da herança e a partilha realizada
pelos sucessores.

- Móveis: são os que podem ser levados de um lugar a outro


sem se alterar a sua natureza.

São de duas categorias:

1-) Por sua natureza: os previstos no art. 82, quer dizer, os


semoventes (animais) e os removíveis por força alheia (demais
coisas móveis em geral): “são móveis os bens suscetíveis de
movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem
alteração da substância ou da destinação econômico-social”.
2-) Ex vi legis: os estabelecidos no art. 83 (“consideram-se
móveis para os efeitos legais: I - as energias que tenham valor
econômico; II - os direitos reais sobre objetos móveis e as ações
correspondentes; III - os direitos pessoais de caráter patrimonial
e respectivas ações”), vale dizer, as energias dotadas de potencial
econômico (água, luz, gás), os direitos reais relativos a móveis
(propriedade de bem móvel, penhor), e os direitos pessoais
(contratos e obrigações em geral, direitos autorais, propriedade
industrial, fundo de comércio, etc).

OBS: 1-) navios e aeronaves, por definição, são bens


móveis, mas são objeto de hipoteca (naturalmente destinada aos
imóveis) tendo em vista seu alto valor (art. 1.473, VI e VII);

2-) materiais de construção: art. 84, ou seja, são


móveis que se tornam imobilizados quando empregados na
edificação, mas podem readquirir a qualidade de móveis quando
da demolição (“os materiais destinados a alguma construção,
enquanto não forem empregados, conservam sua qualidade de
móveis; readquirem essa qualidade os provenientes da demolição
de algum prédio”).

B-) AINDA BENS CONSIDERADOS EM SI MESMOS:


- Outras categorias a serem examinadas: fungíveis e infungíveis,
consumíveis e não consumíveis, divisíveis e indivisíveis,
singulares e coletivas.

- Fungíveis e infungíveis: possibilidade ou não de uma


coisa ser substituída por outra indistintamente (art. 85: “são
fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma
espécie, qualidade e quantidade”).

Critério da fungibilidade: bens idênticos em gênero,


qualidade e quantidade; exs.: dinheiro, arroz, soja, etc.

OBS: 1-) classificação feita exclusivamente no que tange


aos móveis;

2-) reflexos da parte especial do CC: obrigações de


dar coisa certa e incerta (arts. 233 e 243); contratos de comodato e
mútuo (arts. 579 e 586).

“Art. 233. A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios


dela embora não mencionados, salvo se o contrário resultar do
título ou das circunstâncias do caso.

Art. 243. A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e


pela quantidade”

“Art. 579. O comodato é o empréstimo gratuito de coisas não


fungíveis. Perfaz-se com a tradição do objeto.

Art. 586. O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis. O


mutuário é obrigado a restituir ao mutuante o que dele recebeu
em coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade”
- Consumíveis e não consumíveis: verificar se a utilização
do bem compromete ou não a sua substância (art. 86, 1ª parte:
“são consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição
imediata da própria substância, sendo também considerados tais
os destinados à alienação”); exs.: maçã e faca.

Além disso, são também considerados consumíveis os bens


destinados à alienação (art. 86, 2ª parte); ex.: um livro é não
consumível para o usuário, mas é consumível para a livraria.

OBS:

1-) classificação feita exclusivamente no que tange aos móveis;

2-) não confundir com os bens de consumo (todo produto ou


serviço disponibilizado no mercado mediante remuneração: CDC,
Lei nº 8.078/90, art. 3º).

“Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou


privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.

§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou


imaterial.

§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de


consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza
bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as
decorrentes das relações de caráter trabalhista”
- Divisíveis e indivisíveis: concepção jurídica de
divisibilidade dos bens, pela qual se dirá o que é e o que não é
passível de ser fracionado, consoante os critérios dos arts. 87 e 88,
que são: natureza, valor econômico ou utilização, indivisibilidade
convencional e indivisibilidade legal.

“Art. 87. Bens divisíveis são os que se podem fracionar sem


alteração na sua substância, diminuição considerável de valor,
ou prejuízo do uso a que se destinam.

Art. 88. Os bens naturalmente divisíveis podem tornar-se


indivisíveis por determinação da lei ou por vontade das partes”

Natureza: a própria natureza do bem indicará se o resultado


da divisão resultará em cada parte formando um todo perfeito,
sem alteração da substância da coisa, de sorte que as coisas
resultantes da divisão conservam as propriedades da coisa
original. Noutros termos, a divisão não destrói a coisa; exs.:
animais, utensílios (indivisíveis) x barra de ouro (divisível).

Valor econômico ou utilização: a natureza do bem permite


sua divisão, mas, se ela se ultimar, os bens resultantes da divisão
perderão valor econômico ou terão sua utilização comprometida;
exs.: lote de 250 m2 (10 x 25 m) a ser dividido em 5 lotes de 50
m2 (2 x 25 m) = indivisível x gleba de 10.000 m2 a ser dividida
em 4 lotes de 2.500 m2 cada = divisível.
OBS: no primeiro caso, se houver mais de um dono, a
solução é a venda da fração ideal de um para os outros (art. 504,
caput: “não pode um condômino em coisa indivisível vender a
sua parte a estranhos, se outro consorte a quiser, tanto por tanto.
O condômino, a quem não se der conhecimento da venda,
poderá, depositando o preço, haver para si a parte vendida a
estranhos, se o requerer no prazo de cento e oitenta dias, sob
pena de decadência”), ou a venda integral da coisa a terceiros
(art. 1.322, parágrafo único: “se nenhum dos condôminos tem
benfeitorias na coisa comum e participam todos do condomínio
em partes iguais, realizar-se-á licitação entre estranhos e, antes
de adjudicada a coisa àquele que ofereceu maior lanço,
proceder-se-á à licitação entre os condôminos, a fim de que a
coisa seja adjudicada a quem afinal oferecer melhor lanço,
preferindo, em condições iguais, o condômino ao estranho”).

No segundo caso, o a designação técnica é


desmembramento do solo.

Indivisibilidade convencional: são as chamadas cláusulas de


indivisibilidade, e decorrem de contrato ou testamento (objeto da
prestação tornado indivisível, art. 314; doação ou testamento, art.
1.320, § 2º).

“Art. 314. Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação


divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o
devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou”
“Art. 1.320. A todo tempo será lícito ao condômino exigir a
divisão da coisa comum, respondendo o quinhão de cada um pela
sua parte nas despesas da divisão.

§ 2 o Não poderá exceder de cinco anos a indivisão


estabelecida pelo doador ou pelo testador”

Indivisibilidade legal: decorrem da vontade da lei


(servidões, art. 1.386; herança, art. 1.791, parágrafo único).

“Art. 1.386. As servidões prediais são indivisíveis, e subsistem,


no caso de divisão dos imóveis, em benefício de cada uma das
porções do prédio dominante, e continuam a gravar cada uma
das do prédio serviente, salvo se, por natureza, ou destino, só se
aplicarem a certa parte de um ou de outro.

Art. 1.791. A herança defere-se como um todo unitário,


ainda que vários sejam os herdeiros.

Parágrafo único. Até a partilha, o direito dos coerdeiros,


quanto à propriedade e posse da herança, será indivisível, e
regular-se-á pelas normas relativas ao condomínio”

OBS:

1-) classificação voltada tanto a móveis quanto para imóveis;

2-) reflexos nas obrigações divisíveis e indivisíveis (art. 257 e ss.:


“havendo mais de um devedor ou mais de um credor em
obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas
obrigações, iguais e distintas, ‘quantos os credores ou
devedores”);
3-) não confundir com a ideia de divisibilidade advinda da Física,
a qual é capaz de realizar até a fissão nuclear.

- Singulares e coletivas: antes, verificar as noções


preliminares de, por um lado, coisas simples e compostas, e, por
outro lado, de materiais e imateriais (ou corpóreas e incorpóreas).

Simples e compostas: coisas formadas por partes


interligadas natural ou artificialmente; exs.: cavalo (simples) e
fogão (composta).

Materiais e imateriais: são tangíveis ou concebidas apenas


abstratamente; exs.: porta (material) e crédito (imaterial).

Pressupostos conceituais das coisas singulares e coletivas:


considerar uma pluralidade de coisas (mais de um, qualquer que
seja, simples ou composta, material ou imaterial) + considerar
também que nessa pluralidade as coisas estão reunidas.

A maneira de se encarar esse agrupamento (pluralidade +


reunião) é que dirá se se tratam de coisas singulares ou coletivas.

Singulares: agrupamento no qual se considera cada coisa


em sua individualidade (art. 89: “são singulares os bens que,
embora reunidos, se consideram de per si, independentemente
dos demais”); ex.: estoque de geladeiras de uma loja.

Coletivas: agrupamento no qual se consideram todas as


coisas integrantes como um todo, ou seja, é como se fosse uma
coisa só; são as chamadas universalidades, que comportam duas
espécies, as de fato e as de direito.

Universalidades de fato: ou universitas rerum, ideia do art.


90, caput, agrupamento de coisas ao qual se confere certa
unidade; exs.: biblioteca, pinacoteca, galeria de arte (“constitui
universalidade de fato a pluralidade de bens singulares que,
pertinentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária”).

Universalidades de direito: ou universitas iuris, ideia do


art. 91, agrupamento de relações jurídicas ao qual se confere
unidade; exs.: patrimônio e herança (“constitui universalidade de
direito o complexo de relações jurídicas, de uma pessoa, dotadas
de valor econômico”).

OBS:

1-) as universalidades de fato são sempre formadas por


coisas materiais (ou corpóreas), simples ou compostas;

2-) as universalidades de fato só deixam de existir quando


sobrar apenas uma coisa, e, durante sua existência, cada bem
integrante pode ser tratado individualmente (art. 90, parágrafo
único: “os bens que formam essa universalidade podem ser
objeto de relações jurídicas próprias”);

3-) as universalidades de direito podem ser formadas por


coisas materiais ou imateriais, simples ou compostas, e subsistem
ainda que delas só tome parte uma relação jurídica; ex.: herança
com um único bem.

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