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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS – FACULDADE DE DIREITO

DIREITO CIVIL V – DIREITO DAS COISAS – ANO LETIVO 2022-1

ROTEIRO DE AULAS

AULA 13 – DIREITOS REAIS: PROPRIEDADE.

1. Inserção sistemática (livro III do Código Civil)

1 - posse (arts. 1196-1224 CC).


- posse → poder fático sobre as coisas, protegido pela ordem jurídica.
- posse → exteriorização de poderes dominiais (propriedade).
2 – direitos reais.
- primeira apresentação: contraposição aos direitos de crédito.
- retomada dos estudos:
- direito real na coisa própria (ius in re propria) (art. 1225, I CC)
- direitos reais na coisa alheia (iura in re aliena) (art. 1225, II-
XIII).

2. Propriedade.

2.1. Panorama de sua disciplina.`

- módulos ou eixos temáticos:


- propriedade (modelo clássico: exclusiva, perpétua e plena).
- conceito.
- terminologia.
- conteúdo.
- princípios.
- limites.
- modos de aquisição.
- propriedade imóvel.
- propriedade móvel.
- modos de perda.
- “propriedades” diversas do modelo clássico.
- propriedade não exclusiva.
- condomínios (ordinário e especial ou edilício).
- propriedade não perpétua.
- propriedade resolúvel (v.g., propriedade fiduciária, superficiária)
- propriedade não plena → onerada por direitos reais limitados.
- direitos reais de uso e fruição (v.g., usufruto, servidão).
- direitos reais de garantia (v.g., penhor, hipoteca).

2.2. Terminologia (propriedade, domínio).


- terminologia do antigo direito (“meum esse”; in bonis habere; dominium; proprietas).
- termos empregados na legislação e na doutrina:
- domínio; propriedade; “titularidades”.
- tendências:
- domínio:
- sinonímia com propriedade ou expressão do conteúdo jurídico-
econômico desse direito (feixe de poderes de uso, fruição,
disposição e reivindicação).
- emprego de ou substituição por “propriedade” em vez de
“domínio” no Código em vigor: v.g., art. 1196 (art. 485, CC 1916;
art. 1204 (sem correspondência); art. 1210, § 2º (art. 505, CC
1916); art. 1231 (art. 527, CC 1916).
- propriedade:
- relação jurídica formal entre o titular do direito e o sujeito passivo
universal, continente do domínio, expressão de seu conteúdo
jurídico-econômico.
- aplicações da distinção:
- situações condominiais:
- propriedade dividida em frações ideias.
- domínio de igual conteúdo correspondente a cada fração.
- propriedade onerada com direitos reais limitados.
- propriedade íntegra (v.g., o nu-proprietário não é menos
proprietário pela existência do usufruto).
- domínio sofre uma constrição em razão do gravame (ônus
real).

3. Conceito.

- direitos codificados → duas técnicas legislativas:


- formulação de definições (v.g., Code civil, art. 544: “direito de gozar e dispor de
uma coisa da maneira mais absoluta, contanto que não se faça dela uma uso
proibido pelas leis ou regulamentos”; ABGB, § 354: “considerada como direito, a
propriedade é o poder de dispor, ao seu modo, da substância e dos produtos da
coisa, e de excluir disso quem quer que seja”).
- descrição do conteúdo (v.g., BGB, § 903: “o proprietário de uma coisa pode,
contanto que a lei ou direito de terceiros não se oponham, proceder com a coisa
conforme sua vontade e excluir outros sujeitos de qualquer ingerência”).
- orientação dos Códigos brasileiros:
- art. 524 CC 1916: “A lei assegura ao proprietário o direito de usar, gozar e
dispor de seus bens, e de reavê-los do poder de quem quer que injustamente os
possua”.
- art. 1228 caput CC 2002: “o proprietário tem a faculdade de usar, gozar e
dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a
possua ou detenha”.
- formulação do CC brasileiro:
- descrição dos poderes enfeixados pela propriedade (domínio) e não uma
definição.
- crítica por faltar, no caput, a alusão ao elemento finalístico da função social.
- conclusões:
- propriedade → direito subjetivo, relação jurídica:
- direito subjetivo (poder).
- direito subjetivo patrimonial.
- direito subjetivo patrimonial real.
- direito subjetivo patrimonial real mais amplo sobre as coisas.
- domínio → feixe de faculdades implicado pela propriedade.
- uso.
- fruição.
- disposição.
- reivindicação.

4. Estrutura.

- relação jurídica de Direito das Coisas:


- particularidade dos direitos reais (teoria personalista):
- poder imediato sobre coisas.
- composição do polo subjetivo da relação jurídica.

fatos jurídicos
S SPU
SPU

coisa

- elementos da relação jurídica:


- sujeitos (titulares): um ou vários titulares (condomínio ou copropriedade).
- pessoas físicas.
- pessoas jurídicas (direito privado; direito público).
- objeto.
- bens corpóreos → coisas.
- propriedade de que trata o Código Civil (“Direito das Coisas”)
- bens incorpóreos → “propriedade intelectual” (criação artística, literária,
científica; invenção).
- microssistemas:
- Lei n. 9279/1996 (Marcas e Patentes).
- Lei n. 9609/1998 (Lei do Programas de Computador).
- Lei n. 9610/1998 (Direitos do Autor).
- fatos jurídicos:
- geradores → modos de aquisição da propriedade.
- extintivos → modos de perda da propriedade.

5. Conteúdo.

- propriedade → direito subjetivo.


- domínio (conteúdo jurídico-econômico).
1 - direito de uso (ius utendi).
- direito de servir-se da coisa conforme sua destinação econômica.
- utilização própria.
- utilização por terceiros (v.g., detentores, comodatários,
usufrutuários).
2 - direito de fruição ou de gozo (ius fruendi):
- direito de exploração econômica da coisa, mediante a percepção de suas
utilidades (frutos e produtos).
- fruição pessoal direta.
- fruição pela cessão da posse direta a terceiros mediante
remuneração (v.g., locação, arrendamento, usufruto oneroso,
superfície, enfiteuse).
3 - direito de disposição (ius abutendi):
- direito de escolher a destinação a ser dada à coisa, a qual pode implicar
tanto na sua destruição como na sua alienação.
- disposição material → destruição, abandono (art. 1275 CC).
- jurídica:
- total → pela alienação a título oneroso ou gratuito (v.g.,
venda, doação, permuta seguidos de tradição ou registro).
- parcial → constituição de direitos reais parciais (v.g.,
usufruto, uso, habitação, servidão).
4 – direito de reivindicação (ius vindicandi):
- direito de buscar a coisa no poder de um possuidor ou detentor que
careça de efetivo título.
- proprietário (titular do poder jurídico) tem o direito de possuir
(direito de exercer o poder fático) (ius possidendi).
- manifestação processual do poder de sequela.

6. Princípios.

- absolutismo (oponibilidade erga omnes)


- plenitude (art. 1231 CC: “a propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova em
contrário”).
- plenitude → ausência de direitos reais parciais (= propriedade com domínio
pleno).
- propriedade plena corresponde à propriedade não onerada e constituída,
portanto, de todos os poderes dominiais (uso, fruição e disposição).
- exclusividade (art. 1231 CC: “a propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova
em contrário”).
- exclusividade → oposição à situação de copropriedade ou condomínio.
- situações condominiais são, em nosso direito, juridicamente excepcionais e, em
regra, transitórias, tendendo à extinção pela partilha, adjudicação ou venda e
divisão do preço.
- perpetuidade.
- característica não comum a outros direitos reais.
- observações:
- há propriedades resolúveis, ou seja, não perpétuas (v.g., propriedade
fiduciária – arts. 1361-1368, CC, propriedade superficiária – arts. 1369-
1377 CC).
- há direitos reais limitados perpétuos, como a enfiteuse (art. 679 CC
1916) e, hoje, aparentemente, o direito real de laje (art. 1510-A CC).

7. Limitações.

- direito subjetivo → sujeito a limitações de várias ordens.


1 – limitações concretizadas em normas específicas.
1.1 – limitações legais:
- no interesse público (Direito Administrativo):
- limites quanto à extensão vertical (espaço aéreo e
subsolo) da propriedade de coisas imóveis.
- art. 1229, CC: “A propriedade do solo
abrange a do espaço aéreo e subsolo
correspondentes, em altura e profundidade
úteis ao seu exercício, não podendo o
proprietário opor-se a atividades que sejam
realizadas, por terceiros, a uma altura ou
profundidade tais, que não tenha ele
interesse legítimo em impedi-las”.
- art. 1230 CC: “A propriedade do solo não
abrange a das jazidas, minas e demais
recursos minerais, os potenciais de energia
hidráulica, os monumentos arqueológicos e
outros bens referidos por leis especiais”.
→ propriedade da União (art. 20,
VIII-X, CF; art. 176, CF).
- servidões administrativas (servidões legais) (v.g., -
restrições decorrentes da passagem de cabos e
tubulações de energia, esgoto, gás, limitações a
construir acima de determinada altura; tombamento).
- no interesse público-privado (Direito Administrativo
Municipal e Direito Civil).
- direitos de vizinhança (arts. 1277-1313).
1.2 – limitações voluntárias.
- constituição de direitos reais limitados (ônus ou gravames
reais).
- aposição de cláusulas de inalienabilidade em liberalidades
(doações e legados) (art. 1911 CC).

2 – limitações decorrentes de cláusulas gerais (abuso de direito; função


social).

- abuso de direito:
- formulações legais:
- art. 187 CC (Parte Geral): “Também comete ato
ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu
fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons
costumes”.
- art. 1228, § 2º CC (Parte Especial): “São defesos os
atos que não trazem ao proprietário qualquer
comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela
intenção de prejudicar outrem”.
- problema sistemático-interpretativo no Código Civil?
- aplicação da teoria do ato abusivo (para o cuja
configuração basta o critério objetivo)?
- aplicação da teoria do ato emulativo (para cuja
configuração devem existir os elementos da falta de
comodidade e propósito de causar dano – animus
nocendi)?
- conclusões:
- explicação histórica do impasse.
- tendências (interpretação sistemática) (En. 49
JDC).

- função social da propriedade (“Eigentum verplichtet”).


- formulações legais:
- art. 5º XXIII, CF: “A propriedade atenderá a sua
função social”.
- art. 1228, § 1º CC: “O direito de propriedade deve
ser exercido em consonância com as suas
finalidades econômicas e sociais e de modo que
sejam preservados, de conformidade com o
estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as
belezas naturais, o equilíbrio ecológico e o
patrimônio histórico e artístico, bem como evitada a
poluição do ar e das águas”.

- atuação:
- bilateralização da relação jurídica (propriedade):
- direito de propriedade (direito subjetivo,
contrabalançado por deveres).
- sujeito passivo universal (além do dever de
abstenção, tem o direito de exigir do
proprietário o exercício de seu direito de
modo compatível com os interesses sociais).
- “relação jurídica complexa” (F. E. LOUREIRO).

- concretização:
- critérios de aferição:
- propriedade imobiliária urbana (art. 182, §
2º, CF): atendimento às exigências
fundamentais de ordenação da cidade
expressas no plano diretor.
- propriedade imobiliária rural (art. 186, § 2º
CF; Lei n. 8629/1993).
- aproveitamento racional e adequado.
- utilização adequada dos recursos
naturais disponíveis e preservação do
meio ambiente.
- observância das disposições que
regulam as relações de trabalho.
- exploração que favoreça o bem-estar
dos proprietários e dos trabalhadores.
- sanções em caso de violação.
- propriedade imobiliária urbana (art. 182, §
4º, CF; arts. 5º 9º, Lei n. 10257/2001):
- parcelamento ou edificação
compulsórios.
- imposto sobre a propriedade predial
e territorial urbana progressivo.
- desapropriação.
- propriedade imobiliária rural (art. 184, § 4º
CF).

- função social da propriedade na jurisprudência brasileira.


- três principais empregos:
- função social simplesmente mencionada.
- função social como princípio legitimador de
algum instituto ou restrição a direito imposta
pela lei.
- função social como norma autoaplicável.

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