Você está na página 1de 15

MATERIAL DE APOIO: DIREITO CIVIL V (DIREITO DAS COISAS/DIREITOS REAIS)

Roteiro 2 – Posse, Propriedade e Usucapião (2023.2)


Professor Esp. Itamar José Fernandes - itamarjf@unipam.edu.br

I - A POSSE

Teorias explicativas da posse


• Subjetiva (de Friedrich Von SAVIGNY - Tratado da Posse1): conjugação de dois elementos: corpus (elemento objetivo
que consiste na detenção/apreensão física da coisa) + animus domini ou animus rem sibi habendi (elemento
subjetivo que consiste na intenção de exercer sobre a coisa um poder no interesse próprio, isto é, a vontade de ser
dono, a vontade de possuir para si).
• Objetiva (de Rudolf Von IHERING – Teoria Simplificada da Posse): um único elemento: o corpus (considera o animus
já incluído no corpus (affectio tenendi), que significa proceder com conduta de dono = exteriorização /visibilidade do
domínio).
• Sociológicas (de Silvio PEROZZI, na Itália; Raymond SALEILLES, na França e Antônio HERNANDEZ GIL, na
Espanha): novas teorias que dão ênfase ao caráter econômico e à função social da posse, aliadas à nova concepção
do direito de propriedade.

Teoria adotada pelo Código Civil e visão contemporânea da posse (autonomia)


O CC de 2002, assim como o CC de 1916, adota, em regra, a teoria objetiva da posse (art. 1.1962). Faz, entretanto,
concessões à teoria subjetiva, como por exemplo, na usucapião ao exigir posse com animus domini e até mesmo às
teorias sociológicas, ao exigir aproveitamento e cumprimento de função social3. Posse, na visão contemporânea, não é,
necessariamente, apreensão física, mas possibilidade de exercício de poder sobre a coisa, isto é, de exercer
ingerência sócio econômica. Constitui direito autônomo em relação à propriedade e deve expressar o
aproveitamento dos bens para o alcance de interesses existenciais, econômicos e sociais merecedores de tutela
(Enunciado 492 da Jornada de Direito Civil).
Protege-se a posse para evitar a violência e assegurar a paz social.

Aquisição, transmissão e perda da posse


Aquisição: desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes
à propriedade (art. 1.204 e 1.205, CC).
Transmissão: aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres. Pode ocorrer soma de posses (art.
1.207, CC).
Perda: quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196. Só
se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar
a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente repelido (arts. 1.223 e 1.224, CC). Ver também art. 1.275, CC.

1
A obra foi publicada em 1893, quando contava o autor apenas 24 anos de idade.
2
Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade.
3
Exemplos de aplicação prática da função social da posse: Parágrafos únicos dos arts. 1.238 e 1.242 do CC (redução do prazo para
usucapir), art. 1.210, § 2º, CC (proibição de discussão de propriedade na demanda possessória) e §§4º e 5º do art. 1.228, CC
(desapropriação judicial indireta), súmula 84 STJ (possibilidade de oposição de embargos de terceiro fundados em alegação de
posse advinda de compromisso de compra e venta de imóvel, ainda que desprovido do registro ) e súmula 239 também do STJ (direito
à adjudicação compulsória não se condiciona ao registro do compromisso de compra e venda no cartório de imóveis).
1
MATERIAL DE APOIO: DIREITO CIVIL V (DIREITO DAS COISAS/DIREITOS REAIS)
Roteiro 2 – Posse, Propriedade e Usucapião (2023.2)
Professor Esp. Itamar José Fernandes - itamarjf@unipam.edu.br

Distinção entre posse e detenção


Posse: é um poder de fato que tem proteção jurídica e produz efeitos (art. 1.196 4).
Detenção: é um nada, isto é, uma situação que não tem proteção jurídica, em virtude da lei (posse degradada, isto é,
uma posse que, em virtude da lei, se avilta em detenção.).
→ detentor da posse (fâmulo, gestor, servo, servidor) - CC, art. 1.1985.
→ atos de mera permissão ou tolerância (CC, art. 1.208 6, 1ª parte).
→ atos violentos ou clandestinos, antes do convalescimento (CC, art. 1.208, 2ª parte e art. 1.224 7).
→ ocupação irregular de bens públicos (arts. 183 e 191 da CF e art. 102 do CC e REsp. 55671/DF).

Classificação da posse
a) Posse direta e indireta (CC art. 1.197 – desdobramento da posse: força de negócio jurídico)
Possuidor direto: Locatário, comodatário, usufrutuário, sublocatário, etc.
Possuidor indireto: Locador, comodante, nú-proprietário, sublocador, etc.
Enunciado 76 da Jornada: O possuidor direto tem direito de defender a sua posse contra o indireto, e este, contra aquele
(art. 1.197, in fine, do novo Código Civil).

b) Posse justa e injusta (CC art. 1.200)


Posse violenta = força.
Posse clandestina = oculta.
Posse precária = abuso da confiança.

c) Posse de boa-fé e de má-fé (CC art. 1.201)


Trata-se da boa-fé subjetiva (de conhecimento). O portador de justo título presume-se de boa-fé.

d) Posse natural, posse civil ou jurídica


Exceção: aquisição da posse por força da lei, isto é, sem a necessidade de atos físicos ou apreensão material
da coisa, por exemplo, pelo registro ou por escritura pública (constituto possessório, clausula constituti).

e) Posse nova e posse velha: Critério temporal: menos de ano e dia / ano e dia ou mais.

f) Jus possidendi (posse causal, titulada) e jus possessionis (posse formal, autônoma, sem título).

4
Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade.
5
Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome
deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas.
Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa,
presume-se detentor, até que prove o contrário.
6
Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos violen tos,
ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a clandesti nidade.
7
Art. 1.224. Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém de reto rnar
a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente repelido.
2
MATERIAL DE APOIO: DIREITO CIVIL V (DIREITO DAS COISAS/DIREITOS REAIS)
Roteiro 2 – Posse, Propriedade e Usucapião (2023.2)
Professor Esp. Itamar José Fernandes - itamarjf@unipam.edu.br

g) Posse ad interdicta (permite interditos/ações possessórias) e posse ad usucapionem (é qualificada: além dos
interditos/ações possessórias, pode dar ensejo a usucapião).

h) Posse exclusiva x composse: composse pro indiviso (indivisão fática e jurídica) e composse pro diviso (divisão
fática e indivisão jurídica).

Principais efeitos da posse


- Indenização de frutos e benfeitorias;
- Defesa/proteção jurídica da posse: penal e civil;
- Possibilidade de usucapião: o possuidor com animus domini pode ajuizar ação de usucapião de bens imóveis, bens
móveis e de outros direitos reais suscetíveis de posse, quando consumada a prescrição aquisitiva e os demais
requisitos legais.

Indenização dos frutos - arts. 1.214 e 1.216, CC


Só interessa quando a coisa possuída for frutífera (frugífera) – coisa que produz frutos.
O possuidor de boa-fé, ordinariamente, tem direito a todos os frutos (art. 1.214, CC), ao passo que o possuidor de má-
fé, ao contrário, ordinariamente, não faz jus aos frutos (art. 1.216, CC).

A responsabilidade civil do possuidor


- Regra da responsabilidade subjetiva para o possuidor de boa-fé (art. 1.217,CC).
- Regra da responsabilidade objetiva com risco integral para o possuidor de má-fé (art. 1.218,CC).

Regime jurídico das benfeitorias (critério finalístico) - artigos 1.219 e 1.220, CC.
Os acréscimos ou melhoramentos na coisa podem ser:
- Acessões humanas (ex. as construções e plantações): são melhoramentos sem finalidade à coisa.
- Benfeitorias (necessárias, úteis e voluptuárias): são melhoramentos que cumpre finalidade à coisa.

Tipos de Benfeitorias Possuidor de boa-fé Possuidor de má-fé

Necessárias Indenização + direito de retenção. Indenização, sem retenção, visando evitar


enriquecimento sem causa (arts. 884, 885, CC).

Úteis Indenização + direito de retenção8. Sem indenização e sem retenção.

Voluptuárias Direito de levantamento (retirada / jus Sem qualquer direito.

8
A jurisprudência vem entendendo que o direito de retenção por benfeitorias úteis, incide somente sobre as benfeitorias realizadas
até a data da notificação para restituição da coisa.
3
MATERIAL DE APOIO: DIREITO CIVIL V (DIREITO DAS COISAS/DIREITOS REAIS)
Roteiro 2 – Posse, Propriedade e Usucapião (2023.2)
Professor Esp. Itamar José Fernandes - itamarjf@unipam.edu.br

tollendi).

A defesa/proteção jurídica da posse:


a) Proteção penal da posse: A legítima defesa da posse e o deforço imediato/incontinenti - Art. 1.210, §1º, CC
Enunciado 495 da Jornada: No desforço possessório, a expressão "contanto que o faça logo" deve ser entendida
restritivamente, apenas como a reação imediata ao fato do esbulho ou da turbação, cabendo ao possuidor recorrer
à via jurisdicional nas demais hipóteses.
Enunciado 493 da Jornada: O detentor (art. 1.198 do Código Civil) pode, no interesse do possuidor, exercer a
autodefesa do bem sob seu poder.
Obs.: Autotutela da posse é uma exceção ao monopólio da Jurisdição.

b) A proteção civil da posse. Heterotutela da posse (os interditos possessórios, modernamente denominados
ações possessórias). São tipicamente possessórias:

- Ação de Interdito proibitório: ameaça à posse / Proteção preventiva;

- Ação de manutenção da posse: turbação/embaraço à posse / Proteção reparatória;

- Ação de reintegração de posse: esbulho/perda da posse / Proteção reparatória.

A defesa da posse e o procedimento especial de jurisdição contenciosa (arts. 554 a 568 do CPC/15).
- A fungibilidade (art. 554, CPC) – aproveitamento da ação errônea e/ou mutação da causa.
- A cumulabilidade de pedidos (art. 555, CPC) – além da proteção possessória, pode pleitear perdas e danos,
indenizações de prejuízos, imposição de medidas para evitar novas agressões à posse e cumprimento da tutela deferida.
Obs.: Outras cumulações que não as previstas no art. 555 do CPC deve observar o procedimento comum.
- Natureza dúplice e a questão da reconvenção (art. 556, CPC)
- A proibição da exceptio domini ou exceptio proprietatis (CC 1.210, § 2º; parágrafo único do art. 557 do CPC;
Enunciados 78 e 79; STF 487);
- Liminar, nas ações possessórias de força nova: art. 558 do CPC.
- Possibilidade de concessão de tutela antecipatória nas ações possessórias de força velha (Jornada 238 / STJ,
REsp. 555.027/MG).
- Liminar contra a Fazenda Pública e a necessidade de sua prévia audição (CPC, parágrafo único do art. 562).
Inaplicabilidade da regra às empresas públicas e sociedades de economia mista.
- Intervenção do Ministério Público (CPC, Art. 178, III) e da defensoria pública (§ 1º, art. 554 e § 2º do art. 565, ambos
do CPC).

Ações afins, isto é, não são ações possessórias típicas, apesar de poder ser utilizadas pelo possuidor
Ações Finalidades/objetivos

Imissão na posse Conferir a posse a quem não a tem faticamente.

4
MATERIAL DE APOIO: DIREITO CIVIL V (DIREITO DAS COISAS/DIREITOS REAIS)
Roteiro 2 – Posse, Propriedade e Usucapião (2023.2)
Professor Esp. Itamar José Fernandes - itamarjf@unipam.edu.br

Ação de dano infecto (arts. 1.277 e 1.280) Proteção de um imóvel contra obra ou reforma em prédio
vizinho que pode lhe causar dano.

Ação de nunciação de obra nova Proteção de um prédio para garantir seus direitos de
vizinhança, direitos condominiais e as posturas públicas
(direito de construir).

Ação de embargos de terceiros (CPC, art. 674) Proteção do titular contra uma indevida constrição judicial
(decisão).

II DA PROPRIEDADE EM GERAL

Conceito, estrutura, função e extensão do direito de propriedade - arts. 1.228 a 1.231, CC


É o mais amplo e complexo dos direitos reais - um feixe de poderes sobre uma coisa.

Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de
quem quer que injustamente a possua ou detenha.

→ direito de usar (jus utendi); encontra limites na CF/88, CC/02, nas regras de vizinhança e no Estatuto das
Cidades.
→ direito de gozar ou usufruir (jus fruendi); retirar os frutos (naturais, industriais ou civis) da coisa.
Ex.: locar imóvel; colher frutas
→ direito de dispor da coisa (jus abutendi); por atos inter vivos ou mortis causa.
Ex.: compra e venda, doação, testamento.
Tem o direito de Reivindicar (ius vindicandi): por meio de ação petitória.
→ direito de reaver a coisa (rei vindicatio).

Mnemônico:” GRUD” → Gozar | Reivindicar | Usar | Dispor

Distinção entre propriedade, domínio, posse e detenção:


→ Quem tem os quatro poderes (+ o título) = tem propriedade plena9;
→ Quem tem os quatro poderes (– o título) = tem domínio10;

9
Propriedade plena ou alodial. Por conta da oponibilidade erga omnes é exercido perante a coletividade. O domínio pode ser
esvaziado sem afetação do direito de propriedade. Na enfiteuse, por exemplo, retiram -se os quatro poderes do domínio que são
transferidos para o enfiteuta (domínio útil), permanecendo com o senhorio apenas o título de propriedade (art. 2.038 do CC/02 e arts.
678 a 694 do CC/16). Assim, o CC/2002 não extinguiu as enfiteuses existentes, mas impossibilitou a instituição de novas.
10
Não tem oponibilidade erga omnes e é exercido sobre a coisa , portanto, diferente do direito de propriedade. O domínio é uma
relação material de submissão direta da coisa . Exemplo: aquele que preenche todos os requisitos da usucapião, mas ainda não foi
reconhecido tal direito. Cabe ação publiciana para a defesa do domínio, que é uma ação meramente declaratória de domínio. Se se
pretender o título terá que ajuizar ação de usucapião que além do efeito declaratório do domínio dá ensejo ao registro, isto é, ao título
de propriedade (art. 1.260, CC).
5
MATERIAL DE APOIO: DIREITO CIVIL V (DIREITO DAS COISAS/DIREITOS REAIS)
Roteiro 2 – Posse, Propriedade e Usucapião (2023.2)
Professor Esp. Itamar José Fernandes - itamarjf@unipam.edu.br

→ Quem tem algum dos quatro poderes, em especial o uso ou o gozo (- o título) = pode ter posse11;
→ Quando a lei desqualifica a situação jurídica (arts. 1.198, 1.208 e 1.224, CC) = detenção.

Direito real em coisa própria (art. 1.225, I) x direitos reais em coisa alheia (art. 1.225, II a XIII 12).
- Deve cumprir função social 13 (art. 5º, caput; art. 5º, XXIII; art. 170, III; art. 182 e art. 183, da CF / art. 1.228, § 1º, do
CC; doutrina14 e jurisprudência15).
- Proibição de atos emulativos (abuso de direito).
- Possibilidade de o proprietário ser privado da coisa: desapropriação típica, requisição e desapropriação judicial por
posse-trabalho (alienação forçada) e enunciados das jornadas do CJF sobre o disposto nos §§ 4º e 5º do art. 1.228, do
CC 16;
- A propriedade do solo abrange o subsolo e o espaço aéreo (critério da utilidade), mas não abrange as riquezas do
subsolo, as quais pertencem a União (CC, arts. 1.229, 1.230 e 176, CF);
- Presume plena e exclusiva (no condomínio, recai sobre parte ideal), até prova em contrário (CC, art. 1.231);

11
Para defender a posse utiliza -se da autotutela da posse (legítima defesa e desforço incontinenti) ou das ações possessórias (interdito
proibitório, manutenção e reintegração de posse), conforme arts. 1.210, do CC e 554 a 568 do NCPC).
12
Direito real em coisa própria: a propriedade e a laje; Direitos reais de uso, gozo ou fruição: a superfície, as servidões, o usufruto,
o uso, a habitação, a concessão de uso especia l para fins de moradia e a concessão de direito real de uso; Direito real de aquisição:
promitente comprador do imóvel; Direitos reais de garantia: a hipoteca, a anticrese, o penhor e a propriedade fiduciária. O Código
Civil de 2002 não repetiu dois direitos reais: a enfiteuse e as rendas constituídas sobre imóveis.
13
Dentro da função social hospedam -se diferentes funções: função humana, função ambiental, econômica etc.
14
Para Miguel Reale representa a materialização do paradigma da socialidade (a ide ia de posse-trabalho, por exemplo); Para Noberto
Bobbio, na obra “Da Estrutura à Função” é o estudo do “para o que serve?”; No Enunciado 507 do CJF: Na aplicação do princípio
da função social da propriedade imobiliária rural, deve ser observada a cláusula aberta do § 1º do art. 1.228 do Código Civil, que,
em consonância com o disposto no art. 5º, inc. XXIII, da Constituição de 1988, permite melhor objetivar a funcionalização mediante
critérios de valoração centrados na primazia do trabalho.
15
Súmula 668 do STF: É inconstitucional a lei municipal que tenha estabelecido, antes da Emenda Constitucional 29/2000, alíquotas
progressivas para o IPTU, salvo se destinada a assegurar o cumprimento da função social da propriedade urbana.
16
Enunciado 83: É constitucional a modalidade aquisitiva de propriedade imóvel prevista nos §§ 4º e 5º do art. 1.228 do novo
Código Civil. Enunciado 83: Nas ações reivindicatórias propostas pelo Poder Público, não são aplicáveis as disposições constantes
dos §§ 4º e 5º do art. 1.228 do novo Código Civil. Enunciado 84: A defesa fundada no direito de aquisição com base no interesse
social (art. 1.228, §§ 4º e 5º, do novo Código Civil) deve ser argüida pelos réus da ação re ivindicatória, eles próprios responsáveis
pelo pagamento da indenização. Enunciado 304: São aplicáveis as disposições dos §§ 4º e 5º do art. 1.228 do Código Civil às ações
reivindicatórias relativas a bens públicos dominicais, mantido, parcialmente, o Enunciado 83 da I Jornada de Direito Civil, no que
concerne às demais classificações dos bens públicos. Enunciado 305: Tendo em vista as disposições dos §§ 3º e 4º do art. 1.228 do
Código Civil, o Ministério Público tem o poder-dever de atuar nas hipóteses de desapropriação, inclusive a indireta, que encerrem
relevante interesse público, determinado pela natureza dos bens jurídicos envolvidos. Enunciado 306: A situação descrita no § 4º do
art. 1.228 do Código Civil enseja a improcedência do pedido reivindicatório. Enunciado 307 : Na desapropriação judicial (art. 1.228,
§ 4º), poderá o juiz determinar a intervenção dos órgãos públicos competentes para o licenciamento ambiental e urbanístico.
Enunciado 308: A justa indenização devida ao proprietário em caso de desapropriação judicial (art. 1.228, § 5º) somente deverá ser
suportada pela Administração Pública no contexto das políticas públicas de reforma urbana ou agrária, em se tratando de
possuidores de baixa renda e desde que tenha havido intervenção daquela nos termos da lei processual . Não sendo os possuidores
de baixa renda, aplica-se a orientação do Enunciado 84 da I Jornada de Direito Civil. Enunciado 309: O conceito de posse de boa-
fé de que trata o art. 1.201 do Código Civil não se aplica ao instituto previsto no § 4º do art. 1.228. Enunciado 310: Interpreta-se
extensivamente a expressão "imóvel reivindicado" (art. 1.228, § 4º), abrangendo pretensões tanto no juízo petitório quanto no
possessório. Enunciado 311: Caso não seja pago o preço fixado para a desapropriação judicial, e ultrapassado o prazo prescricional
para se exigir o crédito correspondente, estará autorizada a expedição de mandado para registro da proprie dade em favor dos
possuidores. Enunciado 496: O conteúdo do art. 1.228, §§ 4º e 5º, pode ser objeto de ação autônoma, não se restringindo à defesa
em pretensões reivindicatórias.
6
MATERIAL DE APOIO: DIREITO CIVIL V (DIREITO DAS COISAS/DIREITOS REAIS)
Roteiro 2 – Posse, Propriedade e Usucapião (2023.2)
Professor Esp. Itamar José Fernandes - itamarjf@unipam.edu.br

- Possibilidade de perda da propriedade (art. 1.27517 e 1.27618, CC) e críticas à constitucionalidade do dispositivo por
suposta violação aos arts. 24319 e 150, IV, ambos da CF;
- Exceção à regra da perpetuidade20 da propriedade:
→ propriedade resolúvel com causa originária (art. 1.359, CC 21);
→ Propriedade resolúvel com causa superveniente/ad tempus (art. 1.360, CC 22);
Enunciado 509 Jornada: A resolução da propriedade, quando determinada por causa originária, prevista no título, opera
ex tunc e erga omnes; se decorrente de causa superveniente, atua ex nunc e inter partes.
→ Objetivo: proteção de terceiros de boa-fé.

Desapropriação judicial por posse- Usucapião especial urbano coletivo (arts. 10 a 12 do Estatuto da
trabalho (§§ 4º e 5º, 1.228, do CC) Cidade - Lei 10.527/2001)
- extensa área, urbana ou rural; Art. 10. Os núcleos urbanos informais existentes sem oposição há mais
- posse de boa-fé; de cinco anos e cuja área total dividida pelo número de possuidores
- prazo de 5 anos; seja inferior a duzentos e cinquenta metros quadrados por possuidor
são suscetíveis de serem usucapidos coletivamente, desde que os
- considerável número de pessoas;
possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural.
- realizando obras e serviços. relevantes
(Redação dada pela lei nº 13.465, de 2017)
(social ou econômico);
Elemento processual: exige propositura de ação, cuja legitimidade pode
Elemento processual: possibilidade de ser de:
alegação em ação ou em defesa.
a) cada um dos possuidores, individualmente;
Obs.: O MP tem legitimidade quando na
defesa de relevante interesse social; b) os possuidores em conjunto;
enquanto não for pago o preço não pode c) associação de moradores, em substituição processual.
registrar o título, salvo prescrição. Obs.: O MP não tem legitimidade para ajuizamento dessa ação, atuando
como fiscal da lei.

Meios de defesa da propriedade


Ação reivindicatória

17
- Exemplos: por alienação, pela renúncia, por abandono, por perecimento da coisa, p or desapropriação, por usucapião, pela
acessão, dissolução da sociedade conjugal instituída pelo regime da comunhão universal de bens, morte natural (abertura de
sucessão), etc.
18
Enunciado 242 CJF: A aplicação do art. 1.276 depende do devido processo legal, em que seja assegurado ao interessado
demonstrar a não-cessação da posse. Enunciado 243 CJF: A presunção de que trata o § 2º do art. 1.276 não pode ser interpretada
de modo a contrariar a norma-princípio do art. 150, inc. IV, da Constituição da República. Enunciado 316 CJF: Eventual ação
judicial de abandono de imóvel, caso procedente, impede o sucesso de demanda petitória; OBS.: Lei Municipal nº 7.163/2015 -
Regula o procedimento administrativo e as diretrizes a serem observadas na arrecadação de bens imóveis urbanos abandonados, no
âmbito do Município de Patos de Minas, e dá outras providências.
19
Art. 243. As glebas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas serão
imediatamente expropriadas e especificamente destinadas ao assentamento de colonos, para o cultivo de produtos alimentícios e
medicamentosos, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins será confiscado e reverterá em benefício de instituições e pessoal especializados no tratamento e recuperação de viciados e no
aparelhamento e custeio de atividades de fiscalização, controle, prevenção e repressão do crime de tráfico dessas substâncias.
20
Perpetuidade: aquilo que se transmite; Vitaliciedade: aquilo que extingue com a morte do titular.
21
Exemplos: retrovenda (art. 505), alienação fiduciária em garantia (art. 1.361) e propriedade fiduciária (art. 1.375), etc.
22
Exemplos: revogação da doação (arts. 555/564), exclusão da sucessão por indignidade (art. 1.814), etc.
7
MATERIAL DE APOIO: DIREITO CIVIL V (DIREITO DAS COISAS/DIREITOS REAIS)
Roteiro 2 – Posse, Propriedade e Usucapião (2023.2)
Professor Esp. Itamar José Fernandes - itamarjf@unipam.edu.br

- exige prova do título, tem natureza declaratória, é imprescritível e segue o procedimento comum ordinário.
- competência: foro da situação da coisa (art. 47, CPC).
- legitimidade ativa: titular da coisa (exibir o título).
- legitimidade passiva: quem está na posse ou detém a coisa, sem título ou suporte jurídico.
- pressupostos: titularidade, individualização e posse injusta do réu (desprovida de título).
Ação negatória
- em casos de restrição à propriedade em razão de alegação de direito de servidão.
Ação de dano infecto
- de preceito cominatório para evitar danos decorrentes de ruína de prédio, vício de construção ou uso anormal
da propriedade vizinha.

Descoberta (ato-fato jurídico) – arts. 1.233 a 1.237, CC


Descobridor: aquele que acha coisa alheia perdida.
Deveres: restituí-la ao dono ou legítimo possuidor (ou tentar encontrá-lo e, se não encontrar, entregar à autoridade).
Direitos: a recompensa (achádego, mínimo 5% do valor da coisa) e indenização de despesas.
Autoridade: dará conhecimento da descoberta por meio da imprensa e outros meios e, após 60 dias, vende em hasta
pública, deduz despesas e o valor da recompensa; o restante é entregue ao Município.
Procedimento: art. 746 do CPC (arrecadação das coisas vagas).
Não se confunde com a ocupação (art. 1.263, CC): encontrar coisa sem dono - res nullius, exemplo caça e pesca
(modo aquisitivo da propriedade).
Existe alguma hipótese que o descobridor pode ficar com a coisa achada?

Modos aquisitivos da propriedade:


Por causa originária23:
→ Usucapião (arts. 1.238 a 1.242 do CC e outros).
→ Acessões (art. 1.248, CC):
o naturais (arts. 1.249 a 1.252, CC): avulsão, aluvião, formação de ilhas e abandono de álveo;
o humanas (atrs. 1.253 a 1.259, CC): são construções e plantações decorrentes da intervenção humana.
Por causa derivada24:
→ Registro do título translativo no Registro de Imóveis (arts. 1.245 a 1.247 25, CC e Lei nº 6.015/7326);
→ Sucessão hereditária (princípio da saisine – art. 1.784, CC).

Requisitos da ação de usucapião:

23
Não há relação jurídica de translatividade (sem transferência) entre o anterior e o novo propriet ário, que recebe a coisa livre e
desembaraçada.
24
Existe relação jurídica de translatividade (transferência) entre o anterior e o novo proprietário. Portanto, o novo proprietá rio recebe
a coisa com todos os vícios e gravames que eventualmente pesam sobre ela.
25
Princípios que regem o registro de imóveis: publicidade, fé pública (presunção e possibilidade de retificação), legalidade,
territorialidade, continuidade, prioridade (prenotação), especialidade (minuciosa individualização do bem) e instância (neces sita de
requerimento do interessado).
26
Diferença entre matrícula (primeiro registro), registro (sucede à matrícula e é o ato que efetivamente transfere a propriedade) e
averbação (qualquer anotação feita à margem de um registro - alteração nas características do imóvel ou do sujeito); desmembramento
e fusão de matrículas.
8
MATERIAL DE APOIO: DIREITO CIVIL V (DIREITO DAS COISAS/DIREITOS REAIS)
Roteiro 2 – Posse, Propriedade e Usucapião (2023.2)
Professor Esp. Itamar José Fernandes - itamarjf@unipam.edu.br

Requisitos obrigatórios:
→ Coisa idônea, suscetível de usucapião;
→ Lapso temporal27 (ou posse prolongada);
→ Posse qualificada (é uma posse mansa, pacífica, ininterrupta, contínua e com animus domini28).
Requisitos Facultativos29:
🡪 Justo título: instrumento público ou privado que seria idôneo para transferir a propriedade, se não fosse um vício
que pesa sobre ele. Exemplos: registro público nulo; venda feita por quem não era dono.
🡪 Boa-fé (subjetiva – ignora o vício ou obstáculo que pesa sobre a posse).

Espécies de usucapião:

1 - Usucapião Extraordinária (art. 1.238, CC): Prazo de 15 anos (se o usucapiente provar que cumpriu a função social o
juiz poderá reduzir para 10 anos) + requisitos obrigatórios.

2 - Usucapião Ordinária (art. 1.242, CC): prazo de 10 anos (o juiz pode reduzir para 5 anos, se o usucapiente provar que
adquiriu onerosamente, cumpriu a função social e o justo título tiver sido constituído por instrumento público) + requisitos
obrigatórios + requisitos facultativos.

3 - Usucapião Especial rural ou pró-labore (art. 191, CF e 1.239, CC): prazo de 5 anos + imóvel não superior a 50 ha +
finalidade de moradia ou produtividade da terra + impossibilidade do usucapiente ser proprietário de outro imóvel rural ou
urbano + possibilidade de mais de uma aquisição. Enunciado 317 CJF: A accessio possessionis de que trata o art. 1.243,
primeira parte, do Código Civil não encontra aplicabilidade relativamente aos arts . 1.239 e 1.240 do mesmo diploma legal,
em face da normatividade do usucapião constitucional urbano e rural, arts. 183 e 191, respectivamente.

4 - Usucapião Especial urbano ou pró-moradia (art. 183, CF e 1.240, CC): prazo de 5 anos + imóvel urbano não superior
a 250m² + finalidade de moradia + impossibilidade do usucapiente ser proprietário de outro imóvel rural ou urbano +
impossibilidade de mais de uma aquisição. Enunciado 85 CJF: Para efeitos do art. 1.240, caput, do novo Código Civil,
entende-se por "área urbana" o imóvel edificado ou não, inclusive unidades autônomas vinculadas a condomínios edilícios.
Enunciado 314 CJF: Para os efeitos do art. 1.240, não se deve computar, para fins de limite de metragem máxima, a
extensão compreendida pela fração ideal correspondente à área comum.

5 - Usucapião Especial Urbano Coletivo (arts. 10 a 12 do Estatuto da Cidade - redação dada pela Lei nº 13.465, de
2017): núcleos urbanos informais + prazo de 5 anos + área total divida pelo número de possuidores seja inferior a 250m²
por possuidor (finalidade de moradia e posse coletiva de população de baixa renda) + impossibilidade de ser proprietário
de outro imóvel rural ou urbano.

27
Lembrar que o Código Civil, em alguns casos (art. 1.243), admite a soma de posses: Art. 1.243. O possuidor pode, para o fim de
contar o tempo exigido pelos artigos antecedentes, acrescentar à sua posse a dos seus antecessores (art. 1.207), contanto que todas
sejam contínuas, pacíficas e, nos casos do art. 1.242, com justo título e de boa-fé. Enunciado 317 do CJF: A accessio possessionis de
que trata o art. 1.243, primeira parte, do Código Civil não encontra aplicabilidade relativamente aos arts. 1.239 e 1.240 do mesmo
diploma legal, em face da normatividade do usucapião constitucional urbano e rural, arts. 183 e 191, respectivamente.
28
Neste ponto o Código se perfilha a teoria subjetiva da posse, de Savigny. Basta que o usucapiente prove que teve a pos se – Súmula
263 do STF. A existência de relação contratual desqualifica a usucapião.
29
A presença dos dois requisitos facultativos diminuirá o prazo para a usucapião.
9
MATERIAL DE APOIO: DIREITO CIVIL V (DIREITO DAS COISAS/DIREITOS REAIS)
Roteiro 2 – Posse, Propriedade e Usucapião (2023.2)
Professor Esp. Itamar José Fernandes - itamarjf@unipam.edu.br

6 - Usucapião conjugal, familiar, por abandono de lar ou da meação (art. 1.240-A 30, CC): Requisitos genéricos: imóvel
não superior a 250m² + finalidade de moradia + impossibilidade de o usucapiente ser proprietário de outro imóvel rural ou
urbano + impossibilidade de mais de uma aquisição. Requisitos específicos: Prazo de 2 anos; abandono de lar por um
dos cônjuges, companheiros ou parceiros homoafetivos; imóvel comum único, pertencente ao casal com finalidade de
moradia.
Enunciado 498 CJF: A fluência do prazo de 2 (dois) anos previsto pelo art. 1.240-A para a nova modalidade de usucapião
nele contemplada tem início com a entrada em vigor da Lei n. 12.424/2011.
Enunciado 499 CJF: A aquisição da propriedade na modalidade de usucapião prevista no art. 1.240-A do Código Civil só
pode ocorrer em virtude de implemento de seus pressupostos anteriormente ao divórcio. O requisito "abandono do lar"
deve ser interpretado de maneira cautelosa, mediante a verificação de que o afastamento do lar conjugal representa
descumprimento simultâneo de outros deveres conjugais, tais como assistência material e sustento do lar, onerando
desigualmente aquele que se manteve na residência familiar e que se responsabiliza unilateralmente pelas despesas
oriundas da manutenção da família e do próprio imóvel, o que justifica a perda da propriedade e a alteração do regime de
bens quanto ao imóvel objeto de usucapião.
Enunciado 500 CJF: A modalidade de usucapião prevista no art. 1.240-A do Código Civil pressupõe a propriedade comum
do casal e compreende todas as formas de família ou entidades familiares, inclusive homoafetivas.
Enunciado 501 CJF: As expressões "ex-cônjuge" e "ex-companheiro", contidas no art. 1.240-A do Código Civil,
correspondem à situação fática da separação, independentemente de divórcio.
Enunciado 502 CJF: O conceito de posse direta referido no art. 1.240-A do Código Civil não coincide com a acepção
empregada no art. 1.197 do mesmo Código.

7 - Usucapião Tabular (art. 214, § 5º 31 da Lei de Registros Públicos – Lei 6.015/73): qualquer espécie de usucapião32
alegada como matéria de defesa por terceiro de boa-fé em uma ação de nulidade ou anulação de registro.

8 - Usucapião administrativa (arts. 59 e 60 da lei 11.977/2000 - Lei “Minha Casa, Minha Vida” - atualmente arts. 25
a 27 da Lei 13.465/2017).
Art. 25. A legitimação de posse, instrumento de uso exclusivo para fins de regularização fundiária, constitui ato
do poder público destinado a conferir título, por meio do qual fica reconhecida a posse de imóvel objeto da Reurb, com
a identificação de seus ocupantes, do tempo da ocupação e da natureza da posse, o qual é conversível em direito real
de propriedade, na forma desta Lei.
§ 1o A legitimação de posse poderá ser transferida por causa mortis ou por ato inter vivos.
§ 2o A legitimação de posse não se aplica aos imóveis urbanos situados em área de titularidade do poder público.
Art. 26. Sem prejuízo dos direitos decorrentes do exercício da posse mansa e pacífica no tempo, aquele em cujo
favor for expedido título de legitimação de posse, decorrido o prazo de cinco anos de seu registro, terá a conversão
automática dele em título de propriedade, desde que atendidos os termos e as condições do art. 183 da Constituição
Federal, independentemente de prévia provocação ou prática de ato registral.
§ 1o Nos casos não contemplados pelo art. 183 da Constituição Federal, o título de legitimação de posse poderá
ser convertido em título de propriedade, desde que satisfeitos os requisitos de usucapião estabelecidos na legislação

30
É uma subcategoria da usucapião especial urbana.
31
Art. 214 - As nulidades de pleno direito do registro, uma vez provadas, invalidam-no, independentemente de ação direta. (...)§ 5o
A nulidade não será decretada se atingir terceiro de boa -fé que já tiver preenchido as condições de usucapião do imóvel.
32
Comumente é a usucapião ordinária, porque pressupõe justo título.
10
MATERIAL DE APOIO: DIREITO CIVIL V (DIREITO DAS COISAS/DIREITOS REAIS)
Roteiro 2 – Posse, Propriedade e Usucapião (2023.2)
Professor Esp. Itamar José Fernandes - itamarjf@unipam.edu.br

em vigor, a requerimento do interessado, perante o registro de imóveis competente.


§ 2o A legitimação de posse, após convertida em propriedade, constitui forma originária de aquisição de direito
real, de modo que a unidade imobiliária com destinação urbana regularizada restará livre e desembaraçada de quaisquer
ônus, direitos reais, gravames ou inscrições, eventualmente existentes em sua matrícula de origem, exceto quando
disserem respeito ao próprio beneficiário.
Art. 27. O título de legitimação de posse poderá ser cancelado pelo poder público emitente quando constatado
que as condições estipuladas nesta Lei deixaram de ser satisfeitas, sem que seja devida qualquer indenização àquele
que irregularmente se beneficiou do instrumento.

9 - “Usucapião” indígena (art. 33 da Lei 6.001/83 - Estatuto do Índio).


Art. 33. O índio, integrado ou não, que ocupe como próprio, por dez anos consecutivos, trecho de terra inferior a
cinqüenta hectares, adquirir-lhe-á a propriedade plena.

10 - “Usucapião” especial do art. 68 do ADCT/CF


Art. 68. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam ocupando suas terras é reconhecida a
propriedade definitiva, devendo o Estado emitir-lhes os títulos respectivos.

11 - Usucapião extraordinária de coisas móveis (arts. 1.261 e 1.262, CC): Prazo de 5 anos + requisitos obrigatórios.

12 - Usucapião ordinária de coisas móveis (art. 1.260, CC): prazo de 3 anos + requisitos obrigatórios + requisitos
facultativos.

13 - Usucapião extrajudicial, desjudicialização ou extrajudicialização - art. 216-A da Lei 6.015/73 – introduzido pelo
art. 1.071, da Lei 13.105, de 16/3/2015 – CPC - Provimento nº 65/2017 (Estabelece diretrizes para o procedimento
da usucapião extrajudicial nos serviços notariais e de registro de imóveis)
Art. 216-A. Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de reconhecimento extrajudicial de usucapião, que
será processado diretamente perante o cartório do registro de imóveis da comarca em que estiver situado o imóvel
usucapiendo, a requerimento do interessado, representado por advogado, instruído com:
I - ata notarial lavrada pelo tabelião, atestando o tempo de posse do requerente e de seus antecessores, conforme o
caso e suas circunstâncias, aplicando-se o disposto no art. 384 da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de
Processo Civil); (Redação dada pela Lei nº 13.465, de 2017)
II - planta e memorial descritivo assinado por profissional legalmente habilitado, com prova de anotação de
responsabilidade técnica no respectivo conselho de fiscalização profissional, e pelos titulares de direitos registrados ou
averbados na matrícula do imóvel usucapiendo ou na matrícula dos imóveis confinantes (Redação dada pela Lei nº
13.465, de 2017)
III - certidões negativas dos distribuidores da comarca da situação do imóvel e do domicílio do requerente;
IV - justo título ou quaisquer outros documentos que demonstrem a origem, a continuidade, a natureza e o tempo
da posse, tais como o pagamento dos impostos e das taxas que incidirem sobre o imóvel.
§ 1o O pedido será autuado pelo registrador, prorrogando-se o prazo da prenotação até o acolhimento ou a rejeição
do pedido.
§ 2o Se a planta não contiver a assinatura de qualquer um dos titulares de direitos registrados ou averbados na matrícula
do imóvel usucapiendo ou na matrícula dos imóveis confinantes, o titular será notificado pelo registrador competente,
pessoalmente ou pelo correio com aviso de recebimento, para manifestar consentimento expresso em quinze dias,
interpretado o silêncio como concordância. (Redação dada pela Lei nº 13.465, de 2017)
11
MATERIAL DE APOIO: DIREITO CIVIL V (DIREITO DAS COISAS/DIREITOS REAIS)
Roteiro 2 – Posse, Propriedade e Usucapião (2023.2)
Professor Esp. Itamar José Fernandes - itamarjf@unipam.edu.br

§ 3o O oficial de registro de imóveis dará ciência à União, ao Estado, ao Distrito Federal e ao Município,
pessoalmente, por intermédio do oficial de registro de títulos e documentos, ou pelo correio com aviso de recebimento,
para que se manifestem, em 15 (quinze) dias, sobre o pedido.
§ 4o O oficial de registro de imóveis promoverá a publicação de edital em jornal de grande circulação, onde houver,
para a ciência de terceiros eventualmente interessados, que poderão se manifestar em 15 (quinze) dias.
§ 5o Para a elucidação de qualquer ponto de dúvida, poderão ser solicitadas ou realizadas diligências pelo oficial de
registro de imóveis.
§ 6o Transcorrido o prazo de que trata o § 4o deste artigo, sem pendência de diligências na forma do § 5o deste artigo e
achando-se em ordem a documentação, o oficial de registro de imóveis registrará a aquisição do imóvel com as
descrições apresentadas, sendo permitida a abertura de matrícula, se for o caso. (Redação dada pela Lei nº 13.465, de
2017)
§ 7o Em qualquer caso, é lícito ao interessado suscitar o procedimento de dúvida, nos termos desta Lei.
§ 8o Ao final das diligências, se a documentação não estiver em ordem, o oficial de registro de imóveis rejeitará o
pedido.
§ 9o A rejeição do pedido extrajudicial não impede o ajuizamento de ação de usucapião.
§ 10. Em caso de impugnação justificada do pedido de reconhecimento extrajudicial de usucapião, o oficial de registro
de imóveis remeterá os autos ao juízo competente da comarca da situação do imóvel, cabendo ao requerente emendar
a petição inicial para adequá-la ao procedimento comum, porém, em caso de impugnação injustificada, esta não será
admitida pelo registrador, cabendo ao interessado o manejo da suscitação de dúvida nos moldes do art. 198 desta Lei.
(Redação dada pela Lei nº 14.382, de 2022)
§ 11. No caso de o imóvel usucapiendo ser unidade autônoma de condomínio edilício, fica dispensado
consentimento dos titulares de direitos reais e outros direitos registrados ou averbados na matrícula dos imóveis
confinantes e bastará a notificação do síndico para se manifestar na forma do § 2o deste artigo.(Incluído pela Lei nº
13.465, de 2017)
§ 12. Se o imóvel confinante contiver um condomínio edilício, bastará a notificação do síndico para o efeito do §
2o deste artigo, dispensada a notificação de todos os condôminos. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
§ 13. Para efeito do § 2o deste artigo, caso não seja encontrado o notificando ou caso ele esteja em lugar incerto ou
não sabido, tal fato será certificado pelo registrador, que deverá promover a sua notificação por edital mediante
publicação, por duas vezes, em jornal local de grande circulação, pelo prazo de quinze dias cada um, interpretado o
silêncio do notificando como concordância. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
§ 14. Regulamento do órgão jurisdicional competente para a correição das serventias poderá autorizar a publicação do
edital em meio eletrônico, caso em que ficará dispensada a publicação em jornais de grande circulação. (Incluído pela
Lei nº 13.465, de 2017)
§ 15. No caso de ausência ou insuficiência dos documentos de que trata o inciso IV do caput deste artigo, a posse e os
demais dados necessários poderão ser comprovados em procedimento de justificação administrativa perante a
serventia extrajudicial, que obedecerá, no que couber, ao disposto no § 5 o do art. 381 e ao rito previsto nos arts. 382
e 383 da Lei no 13.105, de 16 março de 2015 (Código de Processo Civil).(Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)

Comentários importantes sobre a modalidade:


Desjudicialização ou extrajudicialização: alterações legislativas.
Facultatividade e consensualidade do procedimento administrativo: é facultado para qualquer espécie de usucapião,
desde que haja consenso dos interessados.
Identificação do serviço registral competente: perante a serventia imobiliária da situação da coisa.
Requerimento e princípio da instância. O registrador só age mediante provocação do interessado ou da autoridade
competente.

12
MATERIAL DE APOIO: DIREITO CIVIL V (DIREITO DAS COISAS/DIREITOS REAIS)
Roteiro 2 – Posse, Propriedade e Usucapião (2023.2)
Professor Esp. Itamar José Fernandes - itamarjf@unipam.edu.br

Necessidade de assistência de advogado: ante natureza de procedimento complexo.


Prova documental pré-constituída: posse própria prolongada e seu caráter contínuo e livre de oposição e os outros
requisitos, a depender da modalidade.
Autuação e prenotação: necessidade de preservar a prioridade até a decisão do registrador.
Notificação dos interessados que eventualmente não assinaram a planta voluntariamente: notificação pessoal ou via
correios, com aviso de recebimento, para manifestar no prazo de 15 dias, sendo que o silêncio é interpretado como
concordância.
Notificação da Fazenda Pública para ciência.
Publicação de edital: prazo de 30 dias em jornal de grande circulação para que terceiros interessados possam se
manifestar (decorre da eficácia erga omnes dos direitos reais).
Intimação/ciência do Ministério Público? Não há previsão de intimação obrigatória.
Diligências: o oficial poderá realizar diligências para esclarecimento de pontos obscuros.
Impugnação: não exige formalidades e nem mesmo a assistência por advogado.
Decisão administrativa: se positiva, leva a lavratura do registro; se negativa, deve ser motivada, mas não obsta o
ingresso do pedido na via jurisdicional.
Suscitação de dúvida: em duas oportunidades: de nota devolutiva ou da decisão negativa.
Unidade autônoma em condomínio edilício: notificação do síndico.

Obs.: Sobre adjudicação compulsória de imóvel objeto de promessa de venda ou de cessão na via extrajudicial – ver
art. 216-B da Lei 6.015/73, incluído pela Lei nº 14.382, de 2022.

Ação de usucapião
Natureza jurídica: declaratória (arts. 1.238 e 1.241, CC);
Procedimento: comum (art. 318, CPC);
Competência: foro da situação da coisa;
Legitimidade ativa: possuidor (atual ou antigo);
Documentos necessários: planta e memorial descritivo do imóvel e outros documentos provando a posse do
requerente e de seus antecessores, a existência de justo título, conforme o caso e as circunstâncias.
Citação: das pessoas que figuram no registro, dos confinantes pessoalmente (art. 246, § 3 o , CPC) e, por edital, dos
réus em lugar incerto e dos eventuais interessados (art. 259, CPC).
Intimação, por via postal, dos representantes da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios.
Intimação do MP para participar dos atos do processo (art. 178, CPC).
Sentença será transcrita, mediante mandado, no registro imobiliário, satisfeitas as obrigações fiscais.

Alguns questionamentos interessantes


É possível usucapião de bem público? O STJ no Resp. 214.680/SP estabeleceu que não cabe usucapião de bem
público por vedação legal (art. 183, § 3º e 191 da CF/88, art. 102 do CC e Súmula 340 do STF), mas cabe supressio. A
supressio indica a possibilidade de redução do conteúdo obrigacional pela inércia qualificada de uma das partes, ao
longo da execução do contrato, em exercer direito ou faculdade, criando para a outra a legítima expectativa de ter havido
a renúncia àquela prerrogativa. (REsp 1202514/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em

13
MATERIAL DE APOIO: DIREITO CIVIL V (DIREITO DAS COISAS/DIREITOS REAIS)
Roteiro 2 – Posse, Propriedade e Usucapião (2023.2)
Professor Esp. Itamar José Fernandes - itamarjf@unipam.edu.br

21/06/2011, DJe 30/06/2011).


OBs.: O TJMG admitiu usucapião de bem público dominical - imóveis do DER MG - na Apelação
Cível 1.0194.10.011238-3/001, Relator(a): Des.(a) Barros Levenhagen , 5ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
08/05/2014, publicação da súmula em 15/05/2014). Não foi conhecido o recurso especial no STJ (Agravo no REsp nº
644655 / MG, por decisão monocrática publicada em 18/10/2019 da Min. As susete Magalhães), assim como não foi
conhecido o ARE 1250172 pelo STF, em 04/02/2020 (Súmula 279 STF).
E as terras devolutas (terras públicas recebidas pela República da Coroa Portuguesa), podem ser objeto de
usucapião? A ideia de que bem público não pode ser usucapido, surgiu com o Decreto nº 19.924/1931. De modo que
naqueles bens que anteriormente já tivesse sido implementado o direito (prescrição aquisitiva), pode haver
reconhecimento, eis que a sentença é meramente declaratória e a lei não retroage. Adroaldo Fabrício Furtado sustenta
que o critério da inexistência de titulação configuraria terra devoluta, não deve prevalecer, conforme entendimento do
STF, eis que o ônus de demonstrar tratar de bem público é ônus do poder público. Entretanto, no REsp. 120.702/DF, o
STJ entendeu pela possibilidade de usucapião de bem pertencente à sociedade de economia mista. No mesmo sentido,
o REsp. 154.123/PE demonstra flexibilização sobre a possibilidade de usucapião de bem público, adotando-se o critério
da afetação a um interesse público. O CC no art. 98, no entanto, traz o critério do domínio para qualificar como bem
público e não o critério da afetação a uma necessidade pública, como foi acatado nos recursos especiais acima citados.
O bem condominial pode ser usucapido por um dos condôminos? Não. Em caso típico de composse não cabe
usucapião, porque todos os condôminos são proprietários. O STJ, entretanto, passou a admitir que, se em um bem
condominial, o usucapiente estabelecer posse com exclusividade, alijando os demais condôminos, cabe usucapião.
O bem de família pode ser usucapido? Sim, por ser modo originário de aquisição de propriedade e pelo fato de que
está vedado apenas a impenhorabilidade (Lei 8.009/90) – REsp. 174.108.
O possuidor precisa estar na posse no momento da propositura da ação? Não. Basta que prove que teve a posse
durante o período de tempo necessário. A Súmula 263 do STF dispõe que nesse caso o atual possuidor do bem também
deverá ser citado para a ação de usucapião, proposta pelo antigo possuidor.
É possível falar de usucapião de algo furtado (res furtiva)? Os professores Cristiano Chaves de Farias e Nelson
Rosenvald entende cabível quando transferido a terceiro de boa-fé. O professor Flávio Tartuce, discorda. Cita o Resp.
247.345/MG.

Outras formas de aquisição da propriedade móvel:


Ocupação (art. 1.263, CC): coisa sem dono.
Achado de tesouro (arts. 1.264 a 1.266, CC): depósito antigo de coisas preciosas, oculto e de cujo dono não haja
memória.
Tradição (arts. 1.267 e 1.268, CC): entrega de coisa móvel, com a intenção de transmissão.
Especificação (arts. 1.269 a 1.271, CC): pessoa, trabalhando em matéria-prima, obtém espécie nova.
Confusão, comistão e adjunção (arts. 1.272 a 1.274, CC): misturas de coisas líquidas (vinho 1 com vinho 2, álcool
com gasolina), sólidas ou secas (areia com cimento, café cerrado com café colômbia) e justaposição de uma coisa a
outra (tinta na parede, peça soldada em motor).

Referências:
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: Direitos Reais. Vol. 5. Juspodivm.
GAGLIANO, Pablo Stolze; Pamplona Filho, Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 5: direitos reais – Saraiva.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: Direito das coisas. Vol. 5. Saraiva.

14
MATERIAL DE APOIO: DIREITO CIVIL V (DIREITO DAS COISAS/DIREITOS REAIS)
Roteiro 2 – Posse, Propriedade e Usucapião (2023.2)
Professor Esp. Itamar José Fernandes - itamarjf@unipam.edu.br

LOUREIRO, Francisco Eduardo. Código Civil Comentado / Cezar Peluso (coord.), Manole.
PENTEADO, Luciano de Camargo. Direito das Coisas. Editora Revista dos Tribunais.
SCHREIBER, Anderson. Manual de Direito Civil Contemporâneo. 5ª ed. Revista e ampliada, SaraivaJur.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil: direito das coisas – v. 4 – Forense.
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: Direitos reais. Vol. 5 – Atlas (Minha Biblioteca).

Material complementar - Vídeos:


- Acompanhar as lives e material disponibilizado Professor Marcos Salomão no Instagram - @professor_salomao
- https://instagram.com/professor_salomao?igshid=MzRlODBiNWFlZA== e no Youtube @ProfessorMarcosSalomao.
- Tópicos de Direitos Reais - aulas ministradas pelo professor Leandro Gobbo - programa Saber Direito, exibido pela
TV Justiça - Vídeo Publicado em 11 de junho de 2018 - https://www.youtube.com/watch?v=0v80F96ZSlQ;
- Posse - aulas ministradas pelo professor Bruno Zampier - programa Saber Direito, exibido pela TV Justiça
Publicado em 6 de abril de 2010 - https://www.youtube.com/watch?v=X82v1ooA8wQ;
- Direito de Propriedade - aulas ministradas pela professora Daniela Rosário - programa Saber Direito, exibido pela TV
Justiça - Vídeo publicado em 31 de agosto de 2009 - https://www.youtube.com/watch?v=HPAC2nU0bGs;

15

Você também pode gostar