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Apostila Direitos Reais

Profª Samira Daud - samiradaud@hotmail.com

DIREITOS REAIS
I. Noções Introdutórias

1- Direitos Reais / Direitos das Coisas / Conceito

Há grande discussão doutrinária acerca do significado jurídico de “coisa”, ora


igualando a bem, ora diferenciando. A concepção mais aceita tem sido a de Orlando
Gomes e Clóvis Beviláqua, que compreende o BEM como um gênero que significa algo
que tenha valor econômico. Já COISA seria uma espécie de bem caracterizada pela
materialidade, por ser corpórea, e, ainda, passível de apropriação. A posição de
Venosa é no sentido de que BEM é espécie de COISA;
O Direito das Coisas envolvem o estudo da POSSE e dos DIREITOS REAIS
(elenco do art. 1225, do CC);
Os Direitos Reais tem sido conceituados a relação jurídica de poder exercida
pelo sujeito sobre a coisa, diretamente e com finalidade econômica;
Essa é a chamada escola clássica ou realista, que se opõe à escola personalista,
segundo a qual direito real não reflete relação entre uma pessoa e uma coisa, mas,
sim, relação entre uma pessoa e todas as demais (obrigação passiva universal de
abstenção). A maioria da doutrina brasileira segue a teoria clássica, embora Caio
Mário da Silva compreenda que, embora a realista seja mais didática, tecnicamente a
personalista é a mais perfeita.

2- Natureza Jurídica

É um direito subjetivo, pois tutela o interesse do indivíduo. Dentre os direitos


subjetivos ainda se encontram os direitos pessoais, isto é, os direitos obrigacionais (de
crédito) e os direitos da personalidade.

3- Características dos Dir. Reais / Distinção Dir. Obrigacionais

DIREITOS REAIS DIREITOS OBRIGACIONAIS


O objeto da relação jurídica é a coisa O objeto da relação jurídica é a
prestação
Eficácia Absoluta (erga omnes) - dever Eficácia relativa (inter partes) - entre
geral de abstenção os sujeitos da relação jurídica
Atributivo (exercido diretamente) Cooperativo (exercido pelo intermédio
do sujeito passivo da obrigação)
Exclusivo - Titularidade individual Titularidade individual ou coletiva
(condomínio não é exceção)
Tendência à perpetuação Transitoriedade
Direito de Seqüela O patrimônio do devedor é a garantia
Rol Taxativo (numerus clausus) Rol exemplificativo (numerus apertus)
Adquiríveis por usucapião Não podem ser adquiridos por
usucapião
Objeto determinado Objeto pode ser determinável

Os direitos reais
a) Absolutismo: os direitos reais são absolutos porque concedem ao seu titular uma
verdadeira situação de dominação sobre um objeto. O poder de agir sobre a coisa é
oponível erga omnes, pois acarreta uma sujeição universal ao dever de abstenção
sobre a prática de qualquer ato capaz de interferir na atuação do titular sobre o
objeto.

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b) Sequela: os direitos reais aderem à coisa, sujeitando-a imediatamente ao poder de


seu titular, com oponibilidade erga omnes, podendo o titular persegui-lo em poder de
terceiros onde quer que se encontre.
A seqüela decorre do absolutismo dos direitos reais, pois se posso exigir de todos um
dever de abstenção, nada me impede de retirar o bem daquele que viola tal comando.

c) Preferência: consiste no privilégio do titular do direito real em obter o pagamento


de um débito com o valor do bem aplicado exclusivamente à sua satisfação.
Ex. o credor real prefere aos demais credores; execução concursal (falência – art. 83
da lei 11101/2005).

d) Taxatividade: os direitos reais são numerus clausus. O rol do art. 1225 do NCC é
taxativo.
Há tb a lei nº 9514/97 – alienação fiduciária de imóveis.
O NCC inovou no rol; excluiu as rendas constituídas em imóvel; excluiu a constituição
de novas enfiteuses a partir de 11/01/2003, sendo substituídas pelo direito de
superfície ( art. 1369 NCC).
Preserva a enfiteuse nos terrenos de marinha (DEc-lei nº 9760/46 e Lei nº 9636/98)
Trouxe para o NCC a promessa de compra e venda (art. 1361) e a propriedade
fiduciária (art. 1417).

4- Classificação (de acordo com o art. 12251)

Direito real sobre a própria coisa (in re propria): Propriedade (art. 1225, I, do
CC). É o direito real absoluto, que reúne todas as faculdades inerentes aos direitos
reais: usar, gozar, dispor e reivindicar;
Direitos reais sobre a coisa alheia (in re aliena): Os demais (art. 1225, II a XII).
Dividem-se em:
a) Direitos de gozo ou fruição: (art. 1225, II a VI e XI e XII – superfície, servidões,
usufruto, uso, habitação, concessão de uso especial para fins de moradia e concessão
de direito real de uso);
b) Direitos de garantia: (art. 1 225, VIII, IX e X – penhor, hipoteca e anticrese);
c) Direito de aquisição (art. 1225, VII – promessa de compra e venda).

5- Obrigações Propter Rem (ou Ob Rem ou Mistas)


Figura híbrida entre os direitos reais e os direitos obrigacionais, possuindo
características de ambos;São obrigações (dever de prestação) que acompanham a
coisa, independente do titular do direito real;

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Art. 1.225. São direitos reais:
I - a propriedade;
II - a superfície;
III - as servidões;
IV - o usufruto;
V - o uso;
VI - a habitação;
VII - o direito do promitente comprador do imóvel;
VIII - o penhor;
IX - a hipoteca;
X - a anticrese.
XI - a concessão de uso especial para fins de moradia; (Acrescentado pela L-011.481-2007)
XII - a concessão de direito real de uso.

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Exemplos: dever de conservação da divisória entre prédios vizinhos (art. 1297,


do CC); despesas de condomínio (art. 1315, do CC); o IPTU; etc.

II. DA POSSE

2.1 Teorias

Existem duas grandes teorias que procuram delimitar o conceito de posse:

a) Teoria Subjetiva de Savigny

Para Friedrich Karl Von Savigny, a posse apresenta dois elementos constitutivos:
a) Corpus: controle material da pessoa sobre a coisa, podendo dela imedaitamente se
apoderar, servir e dispor, bem como se opor em face de terceiros.
b) Animus: é o elemento volitivo, é a intenção do possuidor de exercer o direito como
se proprietário fosse.

Obs: para esta teoria, o locatário, o comodatário, o depositário não são possuidores.
Portanto, não gozam de proteção direta, não podendo ingressar com as ações
possessórias.

b) Teoria Objetiva de Ihering

Para Rudolf Von Ihering, a posse é mero exercício da propriedade. A posse é o poder
de fato e a propriedade o poder de direito.
Para constituir a posse, basta dispor fisicamente da coisa ou mera possibilidade de
exercer esse contato.Dispensa a intenção de ser dono.
Fórmula P=Corpus
Corpus – elemento material; único elemento visível e suscetível de comprovação;
atitude externa do possuidor em relação à coisa, agindo ele como dono.

TEORIA ADOTADA PELO CÓDIGO CIVIL

Nosso Código Civil adotou a teoria objetiva de Ihering, como se depreende do art. 1196
do CC.
Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de
fato o exercício, pleno ou não, de algum dos poderes
inerentes à propriedade.
O possuidor é aquele que, em seu nome próprio, exterioriza alguma das faculdades da
propriedade, seja ele proprietário ou não.

Atualmente as teorias de Savigny e Ihering encontram-se envelhecidas e dissonantes


da realidade social presente e à luz dos direitos fundamentais. Função social da
propriedade.

2.2 Natureza Jurídica da Posse

A posse é um fato ou um direito?


Para Ihering é um direito, um interesse legalmente protegido. Segundo Clóvis
Beviláqua, não é um direito, mas simples fato, que é protegido em atenção à
propriedade, da qual ela é a manifestação exterior.
Para Savigny, tem natureza dúplice: é fato e direito. Considerada em si mesmo, é um
fato. Mas pelas suas conseqüências legais, gerando efeitos, é um direito.

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Se é um direito, seria um direito real, pessoal ou especial?

a) Quando o proprietário é possuidor do seu próprio bem, a posse é vista como


direito real;
b) Quando emanada de um contrato de locação, promessa de compra e venda ou
comodato, pode ser relação obrigacional.
c) Quando a posse é emanada de uma situação fática e existencial, de
apossamento e ocupação da coisa, tem-se a função social da propriedade.

2.3 Conceito de Posse

Para Ihering, posse é conduta de dono.

Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno
ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.

Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de


dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de
ordens ou instruções suas.

Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como prescreve


este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se detentor, até que prove o
contrário.

Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim
como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois
de cessar a violência ou a clandestinidade.

2.4 Posse e Detenção – Fámulo de Posse


Para o direito civil, deter não é possuir.
Fámulo é o servidor, empregado. Não deve ser confundido com o possuidor, pela
inteligência do art. 1198.
O fâmulo de posse detém a coisa apenas em virtude de uma situação de dependência
econômica ou de um vinculo de subordinação. A lei ressalva não ser possuidor aquele
que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em
nome deste e em cumprimento de ordens e instruções suas.
Exerce sobre o bem não uma posse própria, mas uma posse de outrem, em nome de
outrem. Como ao tem posse, não lhe assiste o direito de invocar, em nome próprio, as
ações possessórias.

Ex. dono de estacionamento, bibliotecária, caseiro, empregados em geral.

Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim
como não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão
depois de cessar a violência ou a clandestinidade.

Estes representam um indulgencia pela prática do ato, mas não cedem direito algum.
Apenas retiram a ilicitude do ato de terceiro.
A permissão nasce de uma autorização expressa (verbal ou não) do verdadeiro
possuidor para que o 3º utilize a coisa.
A tolerância resulta de consentimento tácito ao seu uso.

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Ambas se caracterizam pela transitoriedade e pela faculdade de supressão de uso, a


qualquer instante, pelo real possuidor, sem erigir proteção possessória.
Ex. A permite que B utilize sua vaga de garagem.

2.5 Composse

È a situação pela qual duas ou mais pessoas exercem, simultaneamente, poderes


possessórios sobre a mesma coisa. Trata-se de posse em comum, por duas ou mais
pessoas, sobre a mesma coisa.

Pode ser decorrente de contrato ou de herança. Neste caso, podem usar livremente a
coisa, conforme seu destino, e sobre ela exercer seus direitos compatíveis com a
indivisão.

Qualquer dos compossuidores pode valer-se das ações possessórias ou mesmo da


legítima defesa para impedir que o outro compossuidor exerça uma posse exclusiva
sobre qualquer fração da comunhão.
Ex: entre cônjuges casados pelo regime da comunhão universal de bens ou entre
conviventes havendo união estável; entre herdeiros antes da partilha do acervo;

Requisitos:
a) Pluralidade de sujeitos
b) Coisa indivisa

Espécies
a) Composse pro indiviso: as pessoas tem parte ideal do bem. Ex 03 pessoas
donas de um apto.
b) Composse pro diviso: embora não haja uma divisão de direito, já existe uma
divisão de fato, onde cada um sabe onde começa e termna a sua parte da coisa.
Ex: 03 pessoas possuem uma fazenda. Cada um exerce sua posse na sua parte
delimitada.

Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma
exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não excluam os dos outros
compossuidores.

Extinção da Composse: A composse termina com o reconhecimento da partilha,


ou seja, a partilha que era somente de fato agora é de DIREITO.

A composse se extingue pelo término da causa que a originou.

2.6. CLASSIFICAÇÃO DA POSSE

A posse é um poder de fato que se manifesta por atos de uso e fruição sobre a coisa,
servindo-se o possuidor de suas utilidades econômicas, sem que isso implique
conexão com o direito de propriedade.
Os elementos objetivos e subjetivos que permeiam a posse exercem influência sobre
sua eficácia e proteção jurídica.

A) POSSE DIRETA E POSSE INDIRETA


- Posse Direta ou imediata: qdo é exercida por quem detém materialmente a coisa;
pode físico imediato.

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Ex.: posse exercida pelo proprietário, posse exercida pelo locatário por concessão do
locador
- Posse Indireta ou mediata: quando é exercida através de outra pessoa.
Ex.: proprietário que tem a posse através de inquilino; neste caso há duas posses
paralelas e reais; a do possuidor direto(locatário) e a do possuidor indireto
(proprietário)

Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente,
em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida,
podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto.

A posse direta se verifica quando o possuidor detém materialmente a coisa.


Ex:
Locador Posse indireta
Locatário Posse direta

A posse indireta é aquela em que o proprietário concede à outra pessoa o


direito de possuir. Ex:

Comodante Posse indireta


Comodatário Posse direta

B) POSSE JUSTA E POSSE INJUSTA


- Posse Justa: é a que não é violenta, clandestina ou precária, adquirida de forma
ilegítima, sem vínculo jurídico externo. (art.1200cc)

Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária.

- Posse Injusta: é a posse adquirida viciosamente, por meio de violência,


clandestinidade ou precariedade. A injusta pode ser:
a) Posse Violenta: é obtida através de esbulho, por força física (vis absoluta) ou
ameaça ou violência moral(vis compulsiva). Assemelha-se ao crime de roubo.
b) Posse clandestina: é a obtida sub-repticiamente, às escondidas, às ocultas,
assemelhada ao furto.
c) Posse precária: é a obtida com abuso de confiança, não restituindo a coisa ao final
do contrato. Assemelha-se ao estelionato ou apropriação indébita.

Obs. Destes três vícios que maculam a posse, somente um pode ser convalidado, que é
a posse violenta (o lapso temporal conta a favor da posse violenta), os demais não se
convalidam.

Posse Violenta = Posse Injusta

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Pergunta: mas o que é posse violenta?

Resposta: é aquela que você pode se valer, por exemplo, do desforço imediato para
conter o esbulho.

Posse Clandestina = Posse Injusta

É a posse conseguida às escondidas, de maneira que ninguém percebe, ou


seja, é a posse estabelecida às ocultas. A doutrina informa que o que se contrapõe a
forma clandestina é a publicidade. Não é o caso da usucapião, por exemplo, que tem a
publicidade como característica, que olha pensa que o possuidor é o dono.

Posse Precária = Posse Injusta

É a posse que surge do abuso de confiança, vez que a pessoa que recebe a coisa
tem o dever de restituí-la, mas se recusa a fazê-lo.

Por exemplo: eu empresto o celular da Aline e depois me recuso a devolvê-lo. No


início eu adquiro a posse licitamente.

§ A posse precária não se convalida. Jamais será concedida a usucapião por


esse vício.

§ Aquisição do direito só se dá na posse violenta, na clandestina e na


precária não.

Pergunta: O pai tinha a posse precária, ele morre e a filha continua com a posse. É
justa ou Injusta?

Resposta: A posse do pai já era injusta, ora, se ele morreu, no caso da filha, a posse
continua sendo injusta.

C) POSSE DE BOA-FÉ E POSSE DE MÁ-FÉ

-POSSE DE BOA-FÉ: qdo o possuidor ignora os vícios ou os obstáculos que lhe


impedem a aquisição da coisa ou do direito possuído. Os vícios são a violência, a
clandestinidade e a precariedade. Neste caso o possuidor tem a convicção de que a
coisa lhe pertence; é um critério subjetivo. Ocorre em geral com quem tem justo titulo,
isto é, um documento referente ao objeto possuído.

Ex. contrato de compra e venda, de locação, de comodato, doação).

Nosso direito estabelece presunção de boa-fé a quem tenha justo título.

Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que


impede a aquisição da coisa.Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a
presunção de boa-fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não
admite esta presunção.

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A boa-fé se verifica na convicção inabalável que o possuidor tem no sentido de que a


coisa de fato lhe pertence. Acredita-o que sua situação é legítima, desconhecendo
qualquer causa que impeça a aquisição do exercício sobre a coisa.

- POSSE DE MÁ-FÉ: é a posse viciada por obtenção através da violência,


clandestinidade e a precariedade. O possuidor tem ciência do vicio. Neste caso, nunca
possui o justo titulo. Ainda que de má-fé, o possuidor não perde o direito de ajuizar
ação possessória para proteger-se de um ataque a sua posse.

ü A posse de má-fé caracteriza-se pelo conhecimento de ilegitimidade que tem o


possuidor, em face de vícios ou obstáculos, que sejam inerentes ao exercício de sua
posse.

Boa-fé também entra em Direito Real.

Justo título pode ser qualquer documento ou instrumento que o possuidor


detenha. Englobam-se neste conceito os estados aparentes. Ex. do pai que tem uma
casa no litoral e vem a falecer, seu filho vai até a casa e encontra um suposto irmão,
que o será até que se prove em contrário.

Outro exemplo: é o do companheiro que morreu e se tratava de união estável. Posse de


boa-fé que passa a ser de má-fé

Art. 1.202. A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o momento em que
as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui
indevidamente.

Exemplo do oficial de justiça que fez a citação, então no momento da ciência passa ser
posse de má-fé.

Continuidade da posse

Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter com
que foi adquirida.

O art. 1203 informa que a característica da posse permanece durante o lapso


temporal.

D) POSSE NOVA E POSSE VELHA

- Posse nova: é a que conta com menos de um ano e um dia. Cabe liminar.
- Posse velha: é a que conta com pelo menos um ano e um dia. Não Cabe liminar.

Art. 924. Regem o procedimento de manutenção e de reintegração de posse as normas


da seção seguinte, quando intentado dentro de ano e dia da turbação ou do esbulho;
passado esse prazo, será ordinário, não perdendo, contudo, o caráter possessório.

E) POSSE AD INTERDICTA E POSSE AD USUCAPIONEM

- Posse ad interdicta: é a que pode ser defendida pelas ações possessórias, mas não
conduz usucapião. Ex: locatário pode defender a posse de uma turbação ou esbulho,
mas não tem direito a usucapião.

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- Posse ad usucapionem: é a que se prolonga por determinado lapso de tempo


prevista em lei, admitindo-se a aquisição do domínio pelo usucapião, desde que
obedecidos os requisitos legais. Art. 1242 e 1238 cc.

Obs: 1. A posse, mesmo que injusta, ainda é posse e pode ser defendida por ações,
não contra aquele que se tirou, mas contra terceiros.
Obs 2: Aquele que detém posse injusta, regra geral, não tem posse ad usucapionem ou
com vistas a usucapião.
Obs 3: Na posse injusta, presume-se continuar os mesmo vícios nas mãos do sucessor
do adquirente. (presunção juris tantum – relativa).

2.7 AQUISIÇÃO DA POSSE

Pelo artigo 1204 cc adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o
exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à propriedade. A posse
pode ser adquirida de forma:
a) Originária: Não há relação de causalidade entre a posse atual e a anterior. Ex:
acontece um esbulho e o vício se convalesce. Apresenta-se sem os vícios que a
maculavam em mãos do antecessor; não tem dono anterior.
b) Derivada: Há anuência do anterior possuidor e essa posse recebe os mesmos
vícios anteriores. é possível saber quem foi o dono anterior

2.7.1 AQUISIÇÃO ORIGINÁRIA


A) APREENSÃO DA COISA: apreensão significa apossamento, pela deslocação da
coisa para o domínio do possuidor, ou pelo uso da coisa se esta for imóvel. Consiste
na apropriação unilateral da coisa. Aplica-se:
- nas coisas de ninguém (res nullius) e abandonadas (res derelictae);
- nos bens retirados de outrem sem a sua permissão. Mesmo havendo violência ou
clandestinidade é posse (embora injusta). Isso porque se o primitivo possuidor omitir-
se, não reagindo em defesa da posse ou não a defendendo por meio das ações, os
vícios que a comprometiam desaparecem.

B) EXERCÍCIO DE DIREITO: significa estar se utilizando do direito, usufruindo dele


Ex: linha telefônica, servidão de aqueduto passada por terreno alheio.

2.7.2 AQUISIÇÃO DERIVADA


A) TRADIÇÃO: entende-se por tradição a entrega da coisa, pressupondo um acordo de
vontades. Basta que haja a intenção do tradens (o que opera a tradição) e do accipiens
(o que recebe a coisa).
A tradição pode ser real (entrega efetiva e material da coisa), simbólica
(representada por ato que traduz a alienação, Ex. entrega das chaves do carro, do
apto) e ficta (constituto possessório).

B) CONSTITUTO POSSESSÓRIO ou cláusula constituti (art. 1267, parágrafo único


CC)- é o ato pelo qual aquele que possuía em nome próprio passa a possuir em nome
de outrem. Ex: A, proprietário, aliena seu imóvel e continua residindo nele como
inquilino;
Pelo constituto possessório a posse se desdobra em duas faces: o possuidor antigo,
que tinha a posse plena como proprietário, se converte em possuidor direto, enquanto
o novo proprietário se investe na posse indireta, em virtude do contrato. A cláusula
constituti não se presume. Aplica-se tanto aos bens móveis como imóveis.

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Ex., quando o vendedor, transferindo a outrem o domínio da coisa, conserva-a em seu


poder, mas agora na condição ou qualidade de locatário. A cláusula constituti não se
presume. Deve constar inequivocamente do ato ou resultar da estipulação que a
pressuponha.

Já a traditio brevi manu é exatamente o inverso do constituto possessório, pois se


configura quando o possuidor de uma coisa alheia passa a possuí-la como própria.
Seria o exemplo do locatário que adquire o bem.

Em ambas as hipóteses (constituto e traditio) não ocorre exteriorização da tradição.


Existe pura e simplesmente inversão no animus do sujeito. Há uma modificação
subjetiva na compreensão da posse pelos sujeitos envolvidos. Aplicam-se tanto aos
móveis quanto aos imóveis.

C) SUCESSÃO NA POSSE: a posse pode ser continuada pela soma do tempo do atual
possuidor com o de seus antecessores. O adquirente da posse de uma coisa pode
somar a posse anterior visando usucapião.
ART. 1206 E ART 1207 CC.

2.10 PESSOAS QUE PODEM ADQUIRIR A POSSE


Art. 1205 cc:
- pela própria pessoa que a pretende, desde que capaz; se não tiver capacidade deverá
ser representada ou assistida.
- por seu representante ou procurador, com poderes especiais.
- por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação (gestor de negócios).2

3. EFEITOS DA POSSE

A) FACULDADE DE INVOCAR OS INTERDITOS


São as ações possessórias, objetivando mantê-lo ou ser-lhe restituída a posse.
Permite-se que o possuidor possa demandar proteção possessória e, cumulativamente,
pleitear a condenação do réu em perdas e danos.
Pode-se requerer a cominação de pena para o caso de nova turbação ou esbulho
(astreintes).
Se ocorreu o perecimento do bem, somente resta ao possuidor o caminho da
indenização – conversão da obrigação de fazer e não fazer na obrigação de dar (pagar).
Mas se o réu se sentir ofendido em sua posse, pode formular, na própria contestação,
os pedidos que tiver contra o autor, por isso não se admite reconvenção em ação
possessória.
São ações possessórias: art 920 a 933 cpc .
Rito especial com liminar (posse nova) e rito ordinário (posse velha)
- Interdito Proibitório:– ameação de turbação ou esbulho – art. 932 e 933 do CPC. Rito
Especial.
- Manutenção da Posse: turbação art. 926 a 931 CPC
-Reintegração de Posse: esbulho. art. 926 a 931 CPC

2
Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de
qualquer dos poderes inerentes à propriedade.
Art. 1.205. A posse pode ser adquirida:
I - pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante;
II - por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação.

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- Nunciação de obra nova: impedir obras. Rito especial (art. 934 a 940 CPC)
- Ação de Dano infecto: preventiva contra eventuais futuros danos. Rito ordinário
- Ação de Imissão de Posse: ação do proprietário que não tem posse contra o ocupante.
Rito ordinário.

3.1. Juízo possessório e petitório

Jus possessionis x jus possidendi: No juízo possessório (jus possessionis) a posse é


discutida como um fato (ou, para os que assim entendem, como um direito pessoal),
independente de sua causa. No juízo petitório, todavia, a posse é discutida como o
conteúdo do direito de propriedade. As ações possessórias não podem ser utilizadas no
âmbito do juízo petitório, pois nelas veda-se a discussão a respeito do domínio. Do
mesmo modo, as ações utilizadas no juízo petitório (ação reivindicatória por
excelência) não são adequadas ao juízo possessório, pois demandam prova quanto à
propriedade enquanto causa da posse.

3.2. Da questão da tutela antecipada nas ações possessórias


A tutela de urgência é permitida no âmbito das ações possessórias pelo art. 928, CPC.
Ela terá caráter satisfativo e estará pautada em cognição sumária.
O art. 928 c/c art. 924, CPC, exige requisitos especiais para a concessão da medida
liminar (que poderá ser deferida com ou sem audiência da parte contrária, lembrando
que quando o réu for ente de direito público, não é possível a concessão de liminar
inaudita altera parte):
- prova da posse;
- caracterização detalhada da agressão à posse, inclusive com indicação da data em
que houve o esbulho ou a turbação;
- que a agressão tenha ocorrido a menos de ano e dia (esbulho ou turbação novo).
É importante ressaltar que, quanto ao terceiro requisito, a concessão da tutela de
urgência não se limita ao esbulho ou à turbação nova. A interpretação sistemática do
CPC conduz à conclusão de que caso a agressão tenha ocorrido há menos de ano e
dia, a liminar concedendo antecipação de tutela seguirá o procedimento especial
previsto no art. 928, CPC. Caso, porém, a agressão tenha ocorrido há mais de ano e
dia, o direito fundamental de acesso à justiça e o princípio da inafastabilidade da
jurisdição implicam na necessidade de tutela jurisdicional adequada à solução das
crises de direito material, de modo que a tutela de urgência poderá ser concedida, mas
na forma do art. 273, CPC (aplicação do art. 924, CPC).

B) FACULDADE DA LEGÍTIMA DEFESA DA POSSE E DO DESFORÇO IMEDIATO –


art. 1210§ 1º CC
Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de
turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se
tiver justo receio de ser molestado.
§ 1o O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se
por sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de
desforço, não podem ir além do indispensável à manutenção, ou restituição
da posse.
Desforço incontinenti: defesa imediata da posse pelo possuidor agredido. Deve estar
assentado no binômio imediatismo-proporcionalidade. O art. 1.210, § 1° tem que ser
entendido em harmonia com o art. 188, também do Código Civil.
O desforço próprio, como ação exclusiva do possuidor, deve ser promovido logo e limita-
se a trazer a situação ao fato anterior à violência. Ou não permiti-lo que se perpetre.
Logo, é prazo contínuo e ininterrupto. É decadencial, de modo que não permite um

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intervalo, pois se este se der, caberá ao interessado buscar as vias ordinárias, ou seja,
procurar a Justiça, como órgão estatal, a disposição dos jurisdicionados (PUGLIESE,
Roberto J. Direito das coisas. São Paulo: LEUD, 2005. p. 195).
A doutrina costuma classificar a autotutela da posse em duas espécies:
- desforço imediato: ocorre nos casos de esbulho, em que o possuidor recupera o bem
perdido.
- legítima defesa da posse: ocorre nos casos de turbação, em que o possuidor
normaliza o exercício de sua posse.

C) PERCEPÇÃO DOS FRUTOS – art. 1214cc


Bens acessórios: frutos e produtos. Art 95 cc
Produtos são as utilidades que se retiram da coisa, diminuindo-lhes a quantidade, pq
não se reproduzem periodicamente.
Frutos são as utilidades que uma coisa periodicamente produz. Nascem e renascem
da coisa, sem acarretar-lhe a destruição. Ex frutos das arvores, leite, as crias dos
animais.
Dividem-se em naturais, industriais e civis.
Naturais: se desenvolvem e se renovam periodicamente em virtude da força orgânica
da natureza.
Industriais: são os que aparecem pelas mãos do homem, como a produção de uma
fábrica.
Civis: são as rendas produzidas pela coisa.

D) INDENIZAÇÃO DE BENFEITORIAS

Possuidor de boa-fé Possuidor de má-fé


- tem direito aos frutos percebidos, não - não tem direito aos frutos
fazendo jus aos pendentes; - dever de indenizar os frutos colhidos
- não responde por perda ou deterioração - tem direito as despesas de produção -
a que não der causa (dolo ou culpa) responde por perda ou deterioração ainda
- terá direito à indenização e retenção por que acidentais, salvo se provar a exceção
benfeitorias úteis e necessárias; - tem direito de indenização pelas
- tem direito ao levantamento das benfeitorias necessárias;
benfeitorias voluptuárias se não ocorrer a - não tem direito às benfeitorias úteis ou
destruição do bem principal voluptuárias;
- não há direito de retenção

4. PERDA DA POSSE
O art 520 do cc de 1916 descrevia os modos de perda da posse.
Já o art 1223 do cc de 2002 enfatiza que perde-se a posse quando cessa, embora
contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual s refere o art. 1196.
a) Abandono – é a renuncia da posse, intenção de largar voluntariamente o que está
em sua posse.
b) Tradição – entrega da coisa de forma definitiva
c) Perda – o possuidor se vê privado da coisa sem querer. Ex. anel que cai em alto-mar
d) Destruição- inutilização total decorrente de evento natural ou caso fortuito,
inundações, incêndios, etc
e) Colocação fora do comércio ( coisa inaproveitável ou inalienável)
f) tomada da posse por outrem
g) constituto possessório

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5. SUCESSÃO DA POSSE

A posse pode também ser adquirida em virtude de sucessão inter vivos ou mortis
causa, tanto a título singular quanto universal. É de se observar os seguintes artigos
do CC:

Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do possuidor com os


mesmos caracteres.

Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao


sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos legais.

A segunda parte do artigo 1.207 traz uma exceção à regra de que a posse mantém o
caráter com que foi adquirida, prevista no art. 1.203 do CC.

A transmissão da posse pela sucessão apresenta duplo aspecto. Na que opera mortis
causa pode haver sucessão universal e a título singular. Dá-se a primeira quando o
herdeiro é chamado a suceder na totalidade da herança, fração ou parte-alíquota
(porcentagem) dela. Pode ocorrer tanto na sucessão legítima como na testamentária.
Na sucessão mortis causa a título singular, o testador deixa ao beneficiário um bem
certo e determinado, denominado legado, como p.ex. um imóvel. A sucessão legítima é
sempre universal; a testamentária pode ser universal ou singular.

A transmissão da posse por ato causa mortis é regida pelo princípio da saisine,
segundo o qual os herdeiros entram na posse da herança no instante do falecimento
do de cujus. Essa transmissão se opera sem solução de continuidade e de forma
cogente, independentemente da manifestação de vontade do interessado.

O herdeiro a título universal recebe a posse com os vícios que a maculavam; contudo,
o legatário, por receber a coisa a título singular, tem a faculdade de abrir mão da
posse anterior, eventualmente eivada de vícios, iniciando posse sua, nos termos do
art. 1.207 do CC.

A sucessão inter vivos geralmente se dá a título singular, como p.ex. quando alguém
adquire um bem certo e determinado (um imóvel), mas também pode se dar a título
universal, como quando alguém adquire uma universalidade (um estabelecimento
comercial, por exemplo).

Nos termos do já referido art. 1.207, o sucessor a título singular pode unir sua posse à
do antecessor, quando a mesma permanecerá eivada dos eventuais vícios da posse
anterior. Caso resolva desligar sua posse da do antecessor, estarão expurgados os
vícios que a maculavam, iniciando com a posse nova prazo para eventual usucapião.

Em síntese:

A posse do sucessor pode somar-se à posse de seu antecessor para todos os efeitos
legais. No entanto, na hipótese de haver essa junção, o sucessor recebe a posse antiga
com todos os seus vícios (continuidade do caráter da posse).

Sucessor a título universal: há obrigatoriamente a soma das posses (acessio


possessionis).

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Sucessor a título singular: pode escolher se inicia uma posse nova ou se soma a sua
posse com a de seu antecessor.

6. DA EXTENSÃO DA POSSE

O art. 1209, CC fixa presunção de que a posse do imóvel induz à posse dos bens
móveis que nele estiverem. Essa presunção, obviamente, é relativa, cabendo prova em
contrário.

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