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FACULDADE ANHANGUERA

DIREITO CIVIL – COISAS


MATERIAL DE APOIO - AULA 9
REFERÊNCIAS:

TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. 10ª Edição. 2020.

OLIVEIRA FILHO, Vicente Gomes de. Código civil anotado: com ementas de acórdãos e indicação de
doutrina. 1 ed. São Paulo LTr 2007. 391 p. ISBN 9788536106786.

MONTEIRO, Washington de Barros; PINTO, Ana Cristina de Barros Monteiro França. Curso de direito civil.
42. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. nv. ISBN 9788502022980 (obra completa). FARIAS, Cristiano Chaves
de.;

ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: parte geral e LINDB, v.1. 15.ed. Salvador: JusPodium, 2017.
878 p. ISBN 9788544211021 (v.1).

CÓDIGO CIVIL DE 2002 – ATUALIZADO.

MODALIDADES DE USUCAPIÃO IMOBILIÁRIA


1) USUCAPIÃO ORDINÁRIA
CC, art. 1.242: “Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e
incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos.
Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o imóvel houver
sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório,
cancelada posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua
moradia, ou realizado investimentos de interesse social e econômico.”
Requisitos:
 Posse ad usucapionem por 10 anos (*);
 Justo título – Exemplo: compromisso de compra e venda (registrado ou
não).
 Boa-fé subjetiva (art. 1.201, CC).
 (*) O prazo é reduzido de 10 para 5 anos, desde que haja um documento de
aquisição registrado e cancelado na matrícula do imóvel (requisito formal que cria
a chamada “usucapião tabular”) e posse-trabalho (estabelecimento de
moradia, obras ou serviços de caráter produtivo).
Requisitos: posse-trabalho + requisito formal.
Ex: usucapião tabular – alguém adquire um imóvel daquele que não é o
verdadeiro proprietário, tendo, porém, efetivado o registro da propriedade.
2) USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA
CC, art. 1.238: “Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição,
possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente
de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença,
a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis.
Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se
o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele
realizado obras ou serviços de caráter produtivo.”
Requisitos:
Posse ad usucapionem de 15 anos (*);
Obs.: há presunção absoluta (iure et de iure) do justo título e da boa-fé (prazo maior).
 (*) O prazo é reduzido de 15 para 10 anos se estiver presente a posse-trabalho.
• Não há o requisito formal da modalidade ordinária.
Requisito: posse-trabalho.
3) USUCAPIÃO CONSTITUCIONAL AGRÁRIA (OU ESPECIAL RURAL OU “PRO
LABORE” – VALORIZAÇÃO DO TRABALHO AGRÁRIO)
Previsões legais:
 Art. 191, CF/88: “Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou
urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição,
área de terra, em zona rural, não superior a cinquenta hectares,
tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua
moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.
Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.”
 Art. 1.239, CC: “Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou
urbano, possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição,
área de terra em zona rural não superior a cinquenta hectares, tornando-
a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia,
adquirir-lhe-á a propriedade.”
 OBSERVAÇÕS:
Art. 3º da Lei 6.969/81 veda a usucapião agrária em determinadas áreas:
 Áreas indispensáveis à segurança nacional;
 Áreas habitadas por indígenas (silvícolas); e
 Áreas de interesse ambiental.
 CF, art. 191, § único: “Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.”
 Súmula 340, STF: “Desde a vigência do Código Civil, os bens dominicais, como
os demais bens públicos, não podem ser adquiridos por usucapião.”
4) USUCAPIÃO CONSTITUCIONAL URBANA (OU ESPECIAL URBANA
INDIVIDUAL OU “PRO MISERO”) (ART. 183 DA CF, ART. 1.240 DO CC E ART.
9º DA LEI 10.257/2001).
 Esta modalidade inclui também a usucapião especial urbana por abandono do lar
ou “usucapião familiar” (art. 1.240-A do Código Civil).
CF/88, art. 183: “Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinqüenta
metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para
sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja
proprietário de outro imóvel urbano ou rural. § 1º O título de domínio e a concessão de
uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do
estado civil. § 2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma
vez. § 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.”
 CC, art. 1.240: “Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e
cinqüenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição,
utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde
que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. § 1º O título de
domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a
ambos, independentemente do estado civil. § 2º O direito previsto no parágrafo
antecedente não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.”
Requisitos da usucapião constitucional urbana individual:
 Área urbana não superior a 250 metros quadrados. (Obs.: pode ser
apartamento – STF, RE 305.416)
“Apelação. Usucapião Urbano. Apartamento. Usucapião constitucional. Apartamento,
mesmo com metragens inferiores a 250m2, não é suscetível de usucapião
constitucional, nos termos do artigo 183. Instituído para regularizar áreas, mormente
loteamentos clandestinos e irregulares e resolver problemas sociais, não estendendo-
se à área construída, mesmo que inferior a 250m2. Processo extinto. Carência da ação.
Recurso improvido”.
 Posse ad usucapionem por pelo menos 5 anos;
 O imóvel deve ser destinado à moradia do possuidor ou de sua família;
 Aquele que pretende usucapir não pode ser proprietário de outro
imóvel urbano ou rural;
 Somente pode ser reconhecida essa modalidade uma única vez
(unicidade) - Essa regra não aparece na usucapião agrária ou especial
rural, aqui pode adquirir e vender.
 Atenção: O art. 9º, § 3º, da Lei 10.257/2001 (Estatuto da Cidade), estabelece
regra específica sobre a accessio possessionis, pois o herdeiro legítimo poderá
somar a sua posse à do seu antecessor, desde que já resida no imóvel por ocasião
da abertura da sucessão.
Exemplo: O filho soma a sua posse com a posse de seu pai, desde que já resida no
imóvel por ocasião da morte do pai.
4.1) SUBMODALIDADE: USUCAPIÃO FAMILIAR OU USUCAPIÃO ESPECIAL
URBANA POR ABANDONO DO LAR CONJUGAL (ART. 1.240-A DO CC, INCLUÍDO
PELA LEI 12.424 DE 16/06/2011)
CC, art. 1.240-A: “Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem
oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m²
(duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou
ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família,
adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel
urbano ou rural. (Incluído pela Lei nº 12.424, de 2011).
§ 1º O direito previsto no caput não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de
uma vez.”
 Requisitos (maior número de requisitos e menor prazo):
 Área urbana não superior a 250 metros quadrados
 Posse ad usucapionem direta e exclusiva, por pelo menos 2 anos;
 Propriedade deve ser dividida com ex-cônjuge ou ex-companheiro
(registro ou regime de bens);
 Abandono do lar pelo ex-cônjuge ou ex-companheiro;
 O possuidor não pode ser proprietário de outro imóvel urbano ou
rural;
 Somente pode ser reconhecido uma única vez.
 A competência para julgar esta nova modalidade de usucapião é da Vara Cível
(ou da Vara de Registros Públicos), e não da Vara de Família.
Enunciados doutrinários relevantes sobre o tema:
 Enunciado 500 da V JDC: “A modalidade de usucapião prevista no art. 1.240-
A do Código Civil pressupõe a propriedade comum do casal e compreende todas
as formas de família ou entidades familiares, inclusive homoafetivas.”
 Enunciado 501 da V JDC: “As expressões ‘ex-cônjuge’ e ‘ex-companheiro’,
contidas no art. 1.240-A do Código Civil,correspondem à situação fática da
separação, independentemente de divórcio.”
 Basta a separação de fato para se aplicar o instituto.
 Enunciado 502 da V JDC: “O conceito de posse direta referido no art. 1.240-A
do Código Civil não coincide com a acepção empregada no art. 1.197 do mesmo
Código.“
O conceito de posse direta não coincide necessariamente com a acepção empregada
no art. 1.197 do CC.
Desconsidera-se a expressão “posse direta”, pois a posse pode ser exercida por pessoa
da família.
 Enunciado 595 da VII JDC: “O requisito ‘abandono do lar’ deve ser interpretado
na ótica do instituto da usucapião familiar como abandono voluntário da posse
do imóvel somado à ausência da tutela da família, não importando em
averiguação da culpa pelo fim do casamento ou união estável. Revogado
o Enunciado 499.”
A culpa é irrelevante para os fins da usucapião familiar.
5) USUCAPIÃO ESPECIAL URBANA COLETIVA
 Prevista no art. 10 da Lei 10.257/2001, que foi alterado pela Lei
13.465/2017 (Lei da REURB):
 Lei 10.257/2001, art. 10: “Os núcleos urbanos informais existentes sem oposição
há mais de cinco anos e cuja área total dividida pelo número de possuidores
seja inferior a duzentos e cinquenta metros quadrados por possuidor são
suscetíveis de serem usucapidos coletivamente, desde que os possuidores não
sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural.
§ 1º - O possuidor pode, para o fim de contar o prazo exigido por este artigo,
acrescentar sua posse à de seu antecessor, contanto que ambas sejam contínuas.”
Requisitos:
 Existência de um núcleo urbano informal ou núcleo urbano consolidado,
não regularizado. Não se fala mais em“famílias de baixa renda”.
 Área urbana (área total dividida pelo número de possuidores inferior a 250
metros quadrados por possuidor);
 Posse ad usucapionem por 5 anos;
 Aquele que pretende usucapir não pode ser proprietário de outro imóvel
urbano ou rural.
 Regra específica de Acessio possessionis prevista no § 1º do art. 10:
 Lei 10.257/2001, art. 10, § 1º: “O possuidor pode, para o fim de contar o prazo
exigido por este artigo, acrescentar sua posse à de seu antecessor, contanto que
ambas sejam contínuas.”
 Observação: cabe a soma das posses, desde que sejam contínuas.
 Não está expresso na lei o requisito da residência.
 A sentença fixará um condomínio indivisível e especial entre os possuidores. Ex.:
habitações coletivas.
6) USUCAPIÃO ESPECIAL INDÍGENA
 Art. 33 da Lei 6.001/1973 (Estatuto do Índio).
“Art. 33. O índio, integrado ou não, que ocupe como próprio, por dez anos
consecutivos, trecho de terra inferior a cinqüenta hectares, adquirir-lhe-á a
propriedade plena.
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica às terras do domínio da
União, ocupadas por grupos tribais, às áreas reservadas de que trata esta Lei,
nem às terras de propriedade coletiva de grupo tribal.”
Requisitos:
 Área rural de até 50 hectares;
 Posse ad usucapionem exercida por indígena pelo período mínimo de 10 anos.
7) USUCAPIÃO IMOBILIÁRIA ADMINISTRATIVA OU EXTRAJUDICIAL
DECORRENTE DA LEGITIMAÇÃO DA POSSE URBANA
 A modalidade estava prevista nos arts. 59 e 60 da Lei 11.977/2009 (Minha Casa
Minha Vida), mas tais artigos foram revogados pela Lei 13.465/2017 (REURB),
que hoje a regulamenta entre os arts. 25 a 27.
 Lei 13.465/2017, art. 25: “A legitimação de posse, instrumento de uso
exclusivo para fins de regularização fundiária, constitui ato do poder
público destinado a conferir título, por meio do qual fica reconhecida a
posse de imóvel objeto da REURB, com a identificação de seus
ocupantes, do tempo da ocupação e da natureza da posse, o qual é
conversível em direito real de propriedade, na forma desta Lei.
 § 1º A legitimação de posse poderá ser transferida por causa mortis ou
por ato inter vivos.
 § 2º A legitimação de posse não se aplica aos imóveis urbanos situados
em área de titularidade do poder público.”
 Em regra, a concessão do título que reconhece a posse do imóvel é feita
pelo município.
 Lei 13.465/2017, art. 26: “Sem prejuízo dos direitos decorrentes do
exercício da posse mansa e pacífica no tempo, aquele em cujo favor for
expedido título de legitimação de posse, decorrido o prazo de cinco anos
de seu registro, terá a conversão automática dele em título de
propriedade, desde que atendidos os termos e as condições do art. 183
da Constituição Federal, independentemente de prévia provocação ou
prática de ato registral.
§ 1o Nos casos não contemplados pelo art. 183 da Constituição Federal, o título
de legitimação de posse poderá ser convertido em título de propriedade, desde
que satisfeitos os requisitos de usucapião estabelecidos na legislação em
vigor, a requerimento do interessado, perante o registro de imóveis
competente.
§ 2o A legitimação de posse, após convertida em propriedade, constitui forma
originária de aquisição de direito real, de modo que a unidade imobiliária com
destinação urbana regularizada restará livre e desembaraçada de quaisquer
ônus, direitos reais, gravames ou inscrições, eventualmente existentes em sua
matrícula de origem, exceto quando disserem respeito ao próprio
beneficiário.”
Lei 13.465/2017, art. 27: “O título de legitimação de posse poderá ser
cancelado pelo poder público emitente quando constatado que as condições
estipuladas nesta Lei deixaram de ser satisfeitas, sem que seja devida
qualquer indenização àquele que irregularmente se beneficiou do
instrumento.”
 A conversão em usucapião é feita por meio da modalidade constitucional urbana
individual (art. 183 da CF), diretamente no Cartório de Registro de Imóveis.
 Em regra, a conversão em usucapião é feita por meio da modalidade
constitucional urbana individual (art. 183 da CF), diretamente no Cartório de
Registro de Imóveis. Não é necessária ação judicial.

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