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Direitos Reais
UNIDADE IV
AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE IMÓVEL
Titulus adquirendi
Fato jurídico originado pela natureza ou manifestação da vontade que constitui o elemento material da aquisição.
Modus adquirendi
A aquisição imobiliária se dá pela transcrição do título em cartório do registro público. É o elemento formal da
aquisição (não exigido nos casos de acessão).
“Art. 1.227. Os direitos reais sobre imóveis constituídos, ou transmitidos por atos entre vivos, só se adquirem
com o registro no Cartório de Registro de Imóveis dos referidos títulos (arts. 1.245 a 1.247), salvo os casos
expressos neste Código (CC/2002)”
Aquisição da propriedade imobiliária
Acessão natural x
Acessão artificial x
Usucapião x x
Negócios x
Aquisição da propriedade imobiliária
MODALIDADES
Conceito:
A usucapião é um modo de aquisição de propriedade e de outros direitos reais pela posse
prolongada da coisa com a observância dos requisitos legais. Visa garantir a estabilidade
e a segurança da propriedade.
Requisitos:
Posse pacífica e ininterrupta com animus domini;
Prazo de quinze anos.
Redução para dez anos se o imóvel for moradia habitual ou se o possuidor tiver realizado
obras e serviços de caráter produtivo.
Acessio possessionis: Marco Aurélio S. Viana posiciona-se contra no caso de fundamentação em moradia
habitual.
Aquisição da propriedade imóvel pela usucapião
Requisitos:
Posse pacífica e ininterrupta com animus domini;
Justo título e boa fé;
Prazo de dez anos
Redução cinco anos se o imóvel houver sido adquirido a título oneroso, com base em registro
posteriormente cancelado, desde que os possuidores tenham estabelecido sua morada ou realizado
investimentos de interesse social e econômico.
Aquisição da propriedade imóvel pela usucapião
Requisitos:
Posse pacífica e ininterrupta com animus domini;
Prazo de cinco anos;
Área urbana de até 250m²;
Utilização para residência própria ou familiar;
Status negativo de domínio (não ter outro imóvel urbano ou rural).
Se o imóvel possuir mais de 250m² e for ocupado por coletividade de baixa renda sem divisão
dos terrenos ocorre a usucapião coletiva (Lei nº 10.257/01).
Aquisição da propriedade imóvel pela usucapião
Requisitos:
Posse pacífica, direta, exclusiva e ininterrupta de propriedade em condomínio com ex-cônjuge ou
companheiro que abandonou o lar;
Prazo de dois anos;
Área urbana de até 250m²;
Utilização para residência própria ou familiar;
Status negativo de domínio (não ter outro imóvel urbano ou rural).
Aquisição da propriedade imóvel pela usucapião
§ 2º Se a planta não contiver a assinatura de qualquer um dos titulares de direitos registrados ou averbados na
matrícula do imóvel usucapiendo ou na matrícula dos imóveis confinantes, o titular será notificado pelo registrador
competente, pessoalmente ou pelo correio com aviso de recebimento, para manifestar consentimento expresso em
quinze dias, interpretado o silêncio como concordância. (Redação dada pela Lei nº 13.465, de 2017)
§ 3º O oficial de registro de imóveis dará ciência à União, ao Estado, ao Distrito Federal e ao Município,
pessoalmente, por intermédio do oficial de registro de títulos e documentos, ou pelo correio com aviso de
recebimento, para que se manifestem, em 15 (quinze) dias, sobre o pedido.
§ 4º O oficial de registro de imóveis promoverá a publicação de edital em jornal de grande circulação, onde houver,
para a ciência de terceiros eventualmente interessados, que poderão se manifestar em 15 (quinze) dias.
§ 5º Para a elucidação de qualquer ponto de dúvida, poderão ser solicitadas ou realizadas diligências pelo oficial de
registro de imóveis.
§ 6º Transcorrido o prazo de que trata o § 4o deste artigo, sem pendência de diligências na forma do § 5o deste artigo e
achando-se em ordem a documentação, o oficial de registro de imóveis registrará a aquisição do imóvel com as
descrições apresentadas, sendo permitida a abertura de matrícula, se for o caso. (Redação dada pela Lei nº 13.465, de
2017)
§ 7º Em qualquer caso, é lícito ao interessado suscitar o procedimento de dúvida, nos termos desta Lei.
§ 8º Ao final das diligências, se a documentação não estiver em ordem, o oficial de registro de imóveis rejeitará o
pedido.
§ 9º A rejeição do pedido extrajudicial não impede o ajuizamento de ação de usucapião. § 10. Em caso de impugnação
do pedido de reconhecimento extrajudicial de usucapião, apresentada por qualquer um dos titulares de direito reais e
de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis
confinantes, por algum dos entes públicos ou por algum terceiro interessado, o oficial de registro de imóveis remeterá
os autos ao juízo competente da comarca da situação do imóvel, cabendo ao requerente emendar a petição inicial para
adequá-la ao procedimento comum.
§ 11. No caso de o imóvel usucapiendo ser unidade autônoma de condomínio edilício, fica dispensado consentimento
dos titulares de direitos reais e outros direitos registrados ou averbados na matrícula dos imóveis confinantes e bastará
a notificação do síndico para se manifestar na forma do § 2o deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017).
§ 12. Se o imóvel confinante contiver um condomínio edilício, bastará a notificação do síndico para o efeito do § 2o
deste artigo, dispensada a notificação de todos os condôminos. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017).
§ 13. Para efeito do § 2o deste artigo, caso não seja encontrado o notificando ou caso ele esteja em lugar incerto ou
não sabido, tal fato será certificado pelo registrador, que deverá promover a sua notificação por edital mediante
publicação, por duas vezes, em jornal local de grande circulação, pelo prazo de quinze dias cada um, interpretado o
silêncio do notificando como concordância. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017).
§ 14. Regulamento do órgão jurisdicional competente para a correição das serventias poderá autorizar a publicação
do edital em meio eletrônico, caso em que ficará dispensada a publicação em jornais de grande circulação. (Incluído
pela Lei nº 13.465, de 2017)
§ 15. No caso de ausência ou insuficiência dos documentos de que trata o inciso IV do caput deste artigo, a posse e os
demais dados necessários poderão ser comprovados em procedimento de justificação administrativa perante a
serventia extrajudicial, que obedecerá, no que couber, ao disposto no § 5o do art. 381 e ao rito previsto nos arts. 382 e
383 da Lei no 13.105, de 16 março de 2015 (Código de Processo Civil).(Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)
Aquisição da propriedade
imobiliária pelo registro do título
No Brasil, os negócios jurídicos não são hábeis para transferir o domínio (CC
art. 1.227 a 1.247).
Com o título translativo, o comprador adquire um direito pessoal (obrigação
do alienante de lhe transferir a propriedade). O direito real de propriedade só nasce
com o registro regulado pelas Leis nº 6.015/73, 6.140/74 e 6.216/75.
Aquisição da propriedade imobiliária pelo
registro do título
Registro: é a descrição de todas as situações referentes ao imóvel que vem depois da matrícula. Traduz as
situações jurídicas relacionadas ao imóvel. Só se pode registrar o que for previsto em lei (Art. 167, I, Lei 6.015/75) Ex.:
Contratos em geral que alterem titularidade, tombamento, desapropriações ou direitos reais sobre coisas alheias, tais
como enfiteuse, hipoteca...
Averbação: menciona uma informação referente a apresentação de outro documento. É feita à margem do
registro. Pode-se realizar averbação de qualquer ato/fato não vedado por lei (Art. 167, II, Lei 6.015/75). Ex.:
Construções, plantações e demolições, alterações de nome de prédio ou sua numeração, cancelamento de ônus reais...
Aquisição da propriedade imobiliária pelo
registro do título
Livro 2 – Registro Geral: destinado à matrícula dos imóveis e ao registro ou averbação dos atos relacionados no
art. 167 e não atribuído ao Livro Auxiliar.
Livro 3 – Registro Auxiliar: servirá para registro de atos específicos, como de emissão de debêntures, cédulas de
crédito rural e industrial, de convenções de condomínio, de penhor de máquinas e aparelhos industriais,
convenções antenupciais, sem prejuízo do ato praticado no livro 2.
Livro 4 – Indicador Real: é o repositório de todos os imóveis que constarem também dos livros, de maneira a
facilitar as consultas.
Livro 5 – Indicador Pessoal: é o repositório de todos os nomes de pessoas que figurarem nos demais livros .
Aquisição da propriedade
imobiliária pelo registro do título
Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do título translativo no Registro de Imóveis.
§ 1 o Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser havido como dono do imóvel.
§ 2 o Enquanto não se promover, por meio de ação própria, a decretação de invalidade do registro, e o respectivo
cancelamento, o adquirente continua a ser havido como dono do imóvel.
Art. 1.246. O registro é eficaz desde o momento em que se apresentar o título ao oficial do registro, e este o prenotar
no protocolo.
Art. 1.247. Se o teor do registro não exprimir a verdade, poderá o interessado reclamar que se retifique ou anule.
Parágrafo único. Cancelado o registro, poderá o proprietário reivindicar o imóvel, independentemente da boa-fé ou
do título do terceiro adquirente.
Aquisição da propriedade imobiliária pelo
registro do título
ADJUDICAÇÃO COMPULSÓRIA DE IMÓVEIS
Contrato de Promessa de Compra e Venda: contrato atípico, anterior à escritura pública de compra e venda,
normalmente particular que pode conter cláusula de arrependimento (art. 417 e ss CC/02) ou não.
Art. 1.417. Mediante promessa de compra e venda, em que se não pactuou arrependimento, celebrada por
instrumento público ou particular, e registrada no Cartório de Registro de Imóveis, adquire o promitente comprador
direito real à aquisição do imóvel.
Art. 1.418. O promitente comprador, titular de direito real, pode exigir do promitente vendedor, ou de terceiros, a
quem os direitos deste forem cedidos, a outorga da escritura definitiva de compra e venda, conforme o disposto no
instrumento preliminar; e, se houver recusa, requerer ao juiz a adjudicação do imóvel.
Aquisição da propriedade imobiliária pelo
registro do título
A partir de 2022, com a inclusão do artigo 216 B na Lei 6.015/75 (Incluído pela Lei nº 14.382, de 2022), a
adjudicação passou a poder ser também solicitada extrajudicialmente:
Art. 216-B. Sem prejuízo da via jurisdicional, a adjudicação compulsória de imóvel objeto de promessa de venda
ou de cessão poderá ser efetivada extrajudicialmente no serviço de registro de imóveis da situação do imóvel, nos
termos deste artigo.
§ 1º São legitimados a requerer a adjudicação o promitente comprador ou qualquer dos seus cessionários ou
promitentes cessionários, ou seus sucessores, bem como o promitente vendedor, representados por advogado, e o
pedido deverá ser instruído com os seguintes documentos [...]
Aquisição da propriedade imobiliária pelo
registro do título
A Regularização Fundiária Urbana (Reurb) abrange medidas jurídicas, urbanísticas, ambientais e sociais destinadas à
incorporação dos núcleos urbanos informais ao ordenamento territorial urbano e à titulação de seus ocupantes,
comprovadamente existentes até 22 de dezembro de 2016.
Busca-se concretizar os princípios de sustentabilidade econômica, social e ambiental e ordenação territorial, buscando
a ocupação do solo de maneira eficiente, combinando seu uso de forma funcional.
Aquisição da propriedade imobiliária pelo
registro do título
Objetivos da Reurb (ART. 10 Lei nº 13.465/17)
I - identificar os núcleos urbanos informais que devam ser regularizados, organizá-los e assegurar a prestação de
serviços públicos aos seus ocupantes, de modo a melhorar as condições urbanísticas e ambientais em relação à
situação de ocupação informal anterior;
II - criar unidades imobiliárias compatíveis com o ordenamento territorial urbano e constituir sobre elas direitos reais
em favor dos seus ocupantes;
III - ampliar o acesso à terra urbanizada pela população de baixa renda, de modo a priorizar a permanência dos
ocupantes nos próprios núcleos urbanos informais regularizados;
IV - promover a integração social e a geração de emprego e renda;
Aquisição da propriedade imobiliária pelo
registro do título
Modalidades de REURB
Reurb de Interesse Social (Reurb-S) - regularização fundiária aplicável aos núcleos urbanos informais ocupados
predominantemente por população de baixa renda, assim declarados em ato do Poder Executivo municipal.
Reurb de Interesse Específico (Reurb-E) - regularização fundiária aplicável aos núcleos urbanos informais
ocupados por população não qualificada para Reurb-S.
Aquisição da propriedade imobiliária pela acessão
Conceito:
É o modo originário de se adquirir em virtude do qual fica pertencendo ao proprietário tudo quanto se une ou se
incorpora ao seu bem.
Tipos: acessões naturais (decorrente da ação da natureza, como abandono de álveo, aluvião, avulsão ou
formação de ilhas) e artificiais (decorrente da ação humana, como construções ou plantações).
Acessões naturais
Álveo abandonado
O álveo é o leito de rio. O abandono de álveo ocorre quando o rio muda de curso,
passando à propriedade dos ribeirinhos, sem que estes devam indenização aos
proprietários anteriores.
Aluvião e avulsão
O aluvião se configura pela formação de depósitos e aterros que, lentamente trazidos pelas águas dos
rios, acrescem o volume das propriedades ribeirinhas. Não há indenização.
A avulsão se verifica pelo processo inverso do aluvião, ou seja, é o deslocamento de porção de terra de
uma propriedade a outra. A avulsão somente se processa se a coisa deslocada possuir capacidade de aderência.
Pode haver indenização para o prejudicado no prazo prescricional de um ano.
Acessões naturais
Formação de ilhas
C
A A A
C C
B B B
Acessões artificiais
Construção em terreno próprio com material alheio
Art. 1.254. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno próprio com sementes, plantas ou materiais alheios,
adquire a propriedade destes; mas fica obrigado a pagar-lhes o valor, além de responder por perdas e danos, se agiu
de má-fé.
Parágrafo único. Se a construção ou a plantação exceder consideravelmente o valor do terreno, aquele que, de boa-
fé, plantou ou edificou, adquirirá a propriedade do solo, mediante pagamento da indenização fixada judicialmente, se
não houver acordo.
Art. 1.256. Se de ambas as partes houve má-fé, adquirirá o proprietário as sementes, plantas e construções, devendo
ressarcir o valor das acessões.
Se João estiver de boa fé e Pedro de má fé? Não há previsão expressa no CC, mas o lógico é que João continuaria
perdendo o material para Pedro que o indenizaria. Esta resposta é subentendida no caput do art. 1255, pois não há
indicação nele que o proprietário do terreno precisa estar de boa fé
2ª Situação: o valor do material é maior que o terreno
Nessa situação, João (de boa fé) adiquirirá a propriedade do terreno e indenizará Pedro (de boa ou de má fé)
Se ambos estiverem de má fé, Pedro deve ficar com as construções, mesmo de valor superior ao seu terreno, e
indenizar João.
Quando o dono do material de valor mais elevado que o terreno está de má fé? Não há previsão expressa no CC, no
entanto fica subentendido que o João também perderia as contruções para Pedro, sem ter direito à indenização.
Construção com material alheio em terreno alheio
Art. 1.257. O disposto no artigo antecedente aplica-se ao caso de não pertencerem as sementes, plantas ou materiais
a quem de boa-fé os empregou em solo alheio.
Parágrafo único. O proprietário das sementes, plantas ou materiais poderá cobrar do proprietário do solo a
indenização devida, quando não puder havê-la do plantador ou construtor.
Neste caso, a solução é a mesma do art.1256, mas a indenização será paga pelo construtor ou pelo proprietário do
solo na sua impossibilidade.
Construção em terreno próprio que invade 5% ou menos do terreno alheio
Art. 1.258. Se a construção, feita parcialmente em solo próprio, invade solo alheio em proporção não superior à
vigésima parte deste, adquire o construtor de boa-fé a propriedade da parte do solo invadido, se o valor da construção
exceder o dessa parte, e responde por indenização que represente, também, o valor da área perdida e a desvalorização
da área remanescente.
Parágrafo único. Pagando em décuplo as perdas e danos previstos neste artigo, o construtor de má-fé adquire a
propriedade da parte do solo que invadiu, se em proporção à vigésima parte deste e o valor da construção exceder
consideravelmente o dessa parte e não se puder demolir a porção invasora sem grave prejuízo para a construção.
Se João invadiu de boa fé E a construção/plantação tiver valor superior ao valor de Y – fica com a área que invadiu e
paga o valor da área Y mais o valor da desvalorização da área remanescente (X-Y)
Se João invadiu de má fé E a construção/plantação tiver valor superior ao valor de Y E não for possível desfazer a
construção na área invadida sem prejuído do todo – fica com a área que invadiu e paga o valor da área Y mais o valor
da desvalorização da área remanescente (X-Y) MULTIPLICADO POR 10!
ATENÇÃO: Se o valor da construção for inferior ao valor da área invadida, a situação se resolve pelo art. 1255, caput!
Construção em terreno próprio que invade mais de 5% do terreno alheio
Art. 1.259. Se o construtor estiver de boa-fé, e a invasão do solo alheio exceder a vigésima parte deste, adquire a
propriedade da parte do solo invadido, e responde por perdas e danos que abranjam o valor que a invasão acrescer à
construção, mais o da área perdida e o da desvalorização da área remanescente; se de má-fé, é obrigado a demolir o
que nele construiu, pagando as perdas e danos apurados, que serão devidos em dobro.
ÁREA INVADIDA(Y)
ÁREA INVADIDA (Y)
(Y
(YMENOR OUXIGUAL
MAIOR QUE A X POR
DIVIDIDO DIVIDIDO
20) POR 20)
Se João invadiu de boa fé– fica com a área que invadiu e paga o valor da área Y mais o valor da desvalorização da área
remanescente (X-Y) mais o valor que a área Y se valorizou em razão da construção que fez.
Se João invadiu de má fé – deve demolir o que fez e pagar a Pedro os danos em dobro.
Atenção: observe que neste caso não importa o valor da construção/plantação realizada, mas sim o tamanho da área
invadida.
Caso Prático