1. TERRAS DEVOLUTAS • “Devoluto” – origem etimológica: vazio, desocupado, sem dono; • São devolutas as terras que não verteram para o domínio privado, deste excluído o que estiver aplicado a qualquer uso público; • Conceito por Altir de Souza Maia: “terra devolutas são aquelas que não estão aplicadas a qualquer uso público federal, estadual, municipal ou que não estejam incorporadas ao domínio privado;” • Império: as ermas, sem aproveitamento, desocupadas, ou, aquelas devolvidas à Coroa Portuguesa, pela ocorrência do comisso (objetos de sesmaria cujas obrigações assumidas pelo sesmeiro não eram, no todo ou em parte, cumpridas); • República: ideia de terreno abandonado, sem ocupação, cedeu lugar à concepção de que mesmo ocupada a terra poderia ser considerada devoluta; • Instituto consagrado na literatura jurídica agrária brasileira desde a “Lei de Terras”(Lei n. 601/1850), a qual abrangia todas as situações até então concebidas: • Art. 3º São terras devolutas: – § 1º As que não se acharem aplicadas a algum uso publico nacional, provincial, ou municipal. – § 2º As que não se acharem no domínio particular por qualquer titulo legítimo, nem forem havidas por sesmarias e outras concessões do Governo Geral ou Provincial, não incursas em comisso por falta do cumprimento das condições de medição, confirmação e cultura. – § 3º As que não se acharem dadas por sesmarias, ou outras concessões do Governo, que, apesar de incursas em comisso, forem revalidadas por esta Lei. – § 4º As que não se acharem ocupadas por posses, que, apesar de não se fundarem em titulo legal, forem legitimadas por esta Lei. • Objetivo da Lei de Terras (601/1850): conferir titulação a todos aqueles que não a tinham, mas ocupavam áreas de terras, para evitar a perpetração do regime de “posses” ilegítimas com meio originário de aquisição das propriedades imobiliárias, instalado desde a suspensão das sesmarias em 1822; • Sesmaria em comissivo e posseiro – situação só protegida em 1850, deixando de ser anômala e passando ao mundo jurídico; • Constituição Federal de 1891: transferência do domínio das terras devolutas para cada Estado, conforme os limites territoriais, cabendo à União apenas a porção do território indispensável à defesa das fronteiras, fortificações, construções militares e estradas de ferro federais. 2. O INSTITUTO DA DISCRIMINAÇÃO • DISCRIMINAÇÃO, Nasce do desconhecimento do que eram terras públicas e do que eram as particulares, devido ao vasto território nacional; • Lei n° 601/1850: aspecto conciliatório, apenas no âmbito administrativo; – Autorizava o governo a vender as terras devolutas por mera conveniência, em hasta pública, entretanto, desconhecia inteiramente os seus limites e confrontações; • Disciplina atual – Lei n° 6.383/1976: dois procedimentos discriminatórios: – Administrativo; – Judicial. • 2.1. Legitimação da posse • Origem na primeira lª. Lei de Terras (Lei n° 601/1850); – Reconhece o problema social gerado com ocupações de pequenas áreas de terras por pequenos lavradores após a extinção das sesmarias; • Conceitos de posse: – Teoria de Ihering: caracterizada pela detenção física da coisa, presente o elemento subjetivo do animus domini, sendo fundamental para os civilistas que o detentor mantenha a aparência de dono; – C.C./1916, possuidor – aquele que tem de fato o exercício, pleno, ou não, de alguns dos poderes inerente ao domínio , ou propriedade (art. 485, C.C.); – Serpa Lopes: “posse de fato, pois que o seu aspecto exterior se manifesta com um puro estado de fato, em que o seu titular exercita plenamente, ou não, os seus poderes inerentes ao domínio”; – Limongi França: “um conjunto de atos, não defesos em lei (posse justa), exercidos sobre uma coisa, pelo sujeito, ou por terceiro em seu nome, tal como se dela fosse, o proprietário ou titular de algum respectivo direito real.”; • Posse Agrária: detenção física, palpável do imóvel, manifestada esta pela cultura efetiva e pela morada habitual; – Funda-se no binômio cultura efetiva e pela moradia habitual de seu possuidor + sustentáculo no pedestal absolutamente indispensável da exploração direta e pessoal, por si e seus familiares; – Caso não fundada no binômio cultura efetiva e pela moradia habitual trata-se de mera detenção, somente fazendo jus à mera regularização da ocupação, não à legitimação da posse que consiste no fato concreto do reconhecimento da posse legítima; • Para Antônio José de Matos Neto: “posse agrária é o exercício direto, contínuo, racional e pacífico de atividades agrárias (propriamente ditas, vinculadas ou complementares, e conexas) desempenhadas em gleba de terra rural capaz de dar condições suficientes e necessárias ao seu uso econômico, gerando ao possuidor um poder jurídico de natureza real, definitiva, com amplas repercussões no direito, tendo em vista o seu progresso e bem-estar econômico e social”. • A legalização da situação de fato da posse transferiu terras de domínio dos Governos para particulares, para que nela trabalhem e produzam. • Para a expedição de título de domínio – documento provisório “Licença de Ocupação” (representa um título de posse, permite acesso ao crédito rural e assegura o direito de preferência ao seu titular para a aquisição definitiva do imóvel) – requisitos prévios: • Serem as terras legitimáveis públicas devolutas; • A área não pode ultrapassar a 100 hectares; • Prazo de 4 anos + comprovar morada permanente e cultura efetiva, pelo lapso de tempo não inferior a um ano = 5 anos; • O posseiro não pode ser proprietário de imóvel rural; • Deve ele explorar atividade agrária com seu trabalho direto e o de sua família. 2.2. Usucapião agrária • Usucapião - definição; • Modalidades: • Usucapião ordinário – requisito: justo título, posse contínua e incontestada por 10 anos; • Usucapião extraordinário – dispensa justo título e boa-fé (presumidos), posse contínua por 15 anos; • Usucapião pro labore (constitucional), C.F. 1988, art. 191 – 50 ha, não possuir outro imóvel, ocupá-lo por 5 anos ininterruptos; • Usucapião especial – Lei. n.º 6.969/1981. • Constituição Federal: Art. 191. “Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.” • O usucapião especial divide-se em: • Requisitos do Usucapião Agrário : – Que o sujeito de direito seja produtor rural, pessoa física; – Não ser proprietário rural ou urbano; – Lapso temporal de 5 anos ininterruptos de posse; – Não ter sofrido oposição durante esse lapso temporal; – Possua o imóvel direta e pessoalmente como se fosse seu; – A terra não exceda ao módulo regional; – Haver tornado produtiva a terra que ocupa por seu trabalho, juntamente com a sua família; – Ter na área posseada sua morada permanente. • Usucapião Agrário (fator preponderante para a aquisição da propriedade é o trabalho); • Usucapião Indígena. • Usucapião Agrário funda-se na posse- trabalho, entendida como aquela caracterizada pela utilização econômica do bem possuído, através do trabalho. – Os imóveis públicos são insusceptíveis de usucapir. – Impossibilidade de usucapião agrário sobre terras devolutas; – Recai apenas sobre imóveis de particulares. 2.3. Aquisição de imóvel rural por estrangeiro • Ato complementar n° 45/1969: instituiu limitação rigorosa para o exercício do direito de propriedade pelos estrangeiros; • Constituição Federal de 1988: – “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes (...)”. – “Art. 190. A lei regulará e limitará a aquisição ou o arrendamento de propriedade rural por pessoa física ou jurídica estrangeira e estabelecerá os casos que dependerão de autorização do Congresso Nacional.” 2.3.1. Limitações à aquisição de imóvel por estrangeiros (Leis n° 5.709/71 e n° 8.629/1993): • Pessoa física estrangeira não poderá adquirir mais de 100 módulos de exploração indefinida, em área contínua ou descontínua. Esse limite poderá ser aumentado pelo Congresso Nacional. • Área superior a 3 módulos e inferior a 50: a autorização somente poderá ser dada quando o pretendente à sua aquisição apresentar projeto da exploração que irá desenvolver; • Área não superior a 3 módulos ou em caso se sucessão legítima: poderá ser livremente adquirida, salvo se for área considerada indispensável à segurança nacional, caso em que dependerá de assentimento do Conselho de Defesa Nacional. • Pessoas jurídicas estrangeiras somente poderão adquirir imóveis rurais destinados à implementação de projetos agrícolas, pecuários, industriais ou de colonização, vinculados aos seus objetivos estatutários. – Os projetos deverão ser aprovados pelo Ministério da Agricultura, ouvido o órgão competente de desenvolvimento regional na respectiva área, entretanto, se o projeto for industrial, será ouvido o competente Ministério da Indústria. • Atividade de colonização, no mínimo 30% da área total deverá ser ocupada por brasileiros. • A soma das áreas rurais pertencentes a pessoas estrangeiras, físicas ou jurídicas, não poderá ultrapassar a ¼ da superfície dos município onde se situem; • Se as pessoas estrangeiras forem na mesma nacionalidade, não poderão ser proprietárias, em cada município, de mais de 40% daquele limite se ¼ da superfície, salvo se o adquirente tiver filho brasileiro ou for casado com brasileiro sobre regime de comunhão de bens. • As aquisições se formalizam por escritura pública; • Os Cartórios de Registros de Imóveis são obrigados a manter livros próprios de cadastros especiais das terras adquiridas por estrangeiros, bem como, trimestralmente, informar à Corregedoria da Justiça do Estado e ao Ministério da Agricultura e, quando indispensável à segurança nacional, também ao Conselho de Defesa Nacional. • É proibida a doação, para estrangeiros, de terras pertencentes à União ou aos Estados, salvo nos casos previstos na legislação de colonização, onde os estrangeiros se estabeleçam como agricultores imigrantes. – As restrições tem por escopo a segurança nacional e a proteção dos brasileiros. • Os estrangeiros de nacionalidade portuguesa, com residência permanente no País, poderão adquirir, sem restrições, imóveis rurais no território nacional – convenção sobre igualdade de direitos e deveres entre brasileiros e portugueses, Dec-Lei n° 82/1971.
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