Introdução • 1. FORMAÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO AGRÁRIO Raízes – início do aparecimento do homem sobre a face da terra; Código de Hammurabi (Mesopotâmia aprox. em 1.772 a.C), (A sociedade era dividida em três classes, que também pesavam na aplicação do código: Awilum: Homens livres, proprietários de terras, que não dependiam do palácio e do templo; Muskênum: Camada intermediária, funcionários públicos, que tinham certas regalias no uso de terras; Wardum: Escravos, que podiam ser comprados e vendidos até que conseguissem comprar sua liberdade; • A propriedade nasce com o homem – aquisição dos meios de subsistência e sobrevivência alimentar do homem; • Propriedade no Direito Romano, sob a ótica do direito – atribuída ao cidadão, representado pelo pater familia, que atraía para sua pessoa todas as prerrogativas do direito privado; Introdução • O homem era o senhor e possuidor pleno; • 454 a.C. – Nasce o con-dominium, por obra o Ilício, Tribuno da Plebe, a Lei Ilícia ordena que seja compartilhado o monte Aventino entre a plebe romana; • Proprietários detinham extensos poderes sobre a coisa; • Direito quiritário – o domínio, exteriorização da propriedade tal como conhecido pelo ius civilis, não encontrava limitações pela ordem jurídica; • Algumas restrições provinham das relações de vizinhança e do interesse público (República e alvorecer do período clássico); • Direito agrário – origens, na origem do próprio homem sobre a face da terra; A primeira Lei de Terras Brasileiras Nação brasileira – primórdios: obedeceu a legislação que os colonizadores utilizavam no seu ordenamento jurídico; Sofreu importação de todos os institutos jurídicos então utilizados em Portugal; Terras Devolutas – despertaram grande cobiça (fácil apreensão e rápido enriquecimento); Governo – necessidade urgente de organizar o quadro imobiliário da nação, com edição de normas rígidas disciplinadoras do uso de tais terras; Lei n.º 601, de 18 de setembro de 1850 – primeira Lei de Terras do Brasil, contribuiu em 1946, para elaboração da nova Lei de Terras, o Decreto-Lei n.º 9.760, cuja meta, in verbis: A primeira Lei de Terras Brasileiras “Dispões sobre as terras devolutas do Império, e acerca das que são possuídas por título de sesmarias sem preenchimento das condições legais, bem como simples título de posse mansa e pacífica; e determina que, medidas e demarcadas as primeiras sejam elas cedidas a título oneroso, assim para empresas particulares, como para o estabelecimento de colônias de nacionais e estrangeiros, autorizando o Governo a promover a colonização estrangeira na forma que se declara.” A primeira Lei de Terras Brasileiras • Preocupação – fazer respeitar a detenção daquele que, sem título dominial, estivesse com ocupação expressa por dois requisitos: cultura efetiva e morada habitual; • Desocupado, desabilitado, não cultivado, vago e não reservado legalmente ao uso público – “devoluto” mediante exclusão: Art. 3º da Lei nº 601: • Art. 3º São terras devolutas: • § 1º As que não se acharem aplicadas a algum uso publico nacional, provincial, ou municipal. • § 2º As que não se acharem no domínio particular por qualquer titulo legitimo, nem forem havidas por sesmarias e outras concessões do Governo Geral ou Provincial, não incursas em comisso por falta do cumprimento das condições de medição, confirmação e cultura. • § 3º As que não se acharem dadas por sesmarias, ou outras concessões do Governo, que, apesar de incursas em comisso, forem revalidadas por esta Lei. • § 4º As que não se acharem ocupadas por posses, que, apesar de não se fundarem em titulo legal, forem legitimadas por esta Lei. A primeira Lei de Terras Brasileiras • República – Decreto-lei n.º 9.760, de 5 de setembro de 1946, dispõe sobre bens imóveis da União: • Terras Devolutas (art. 5º e parágrafo único); • Deslinde da terra devolutiva pelo Governo – procedimento discriminatório, judicial ou administrativo; • C.F. 1891, art. 64, passam a pertencer aos Estados membros as terras devolutas situadas nos seus territórios; • Estados amazônicos – Decreto-lei n.º 1.164, de 1971, haviam perdido a dominialidade sobre as terras devolutas. C.F. 1988, Recuperação do domínio. • Faixa de Fronteira – 150 Km adentro do território pátrio, a partir da linha de fronteiras: domínio pleno sobre as terras devolutas pelos Estados membros, salvo, inciso II do art. 20 da C.F. 88, idem C.F. 1891; O Império da Posse • Posse agrária - respaldada na filosofia da “função social” da propriedade, mais sólida que a da doutrina civilista da posse; • De 1822 a 1850 => inexistência de diploma legal regulamentador da posse, erigindo-se o instituto da posse em contornos de título de domínio pleno sobre a área posseada e habitada, desde que o posseiro tivesse cultura efetiva e morada habitual; • Terras devolutas => “terras de ninguém” / res nullius por excelência; • Lei n. 601 de 1850 => Título da União, antes qualquer letra de lei, é a posse histórica das terras, decorrente do fato da conquista; • São hoje dominiais da União => terras devolutas discriminadas até antes de viger a atual CF, pois assim levadas a registro na condição de “devoluto discriminado e arrecadado”, a ela compete sua destinação, não podendo remanescer no patrimônio público como “terras públicas dominiais” simplesmente; • Estados-membros => procedimento meramente administrativo; Definição • Lição do Prof. Paulo Torminn Borges: “Direito Agrário é o conjunto sistemático de normas jurídicas que visam disciplinar as relações do homem com a terra, tendo em vista o progresso social e econômico do rurícola e o enriquecimento da comunidade”; • De mesmo modo, Fernando Pereira Sodero: “Direito Agrário é o conjunto de princípios e de normas, de Direito Público e de Direito Privado, que visa a disciplinar as relações emergentes da atividade rural, com base na função social da terra.”; Definição
Pontos de convergência – colocam a atividade
agrária como centro de suas preocupações, e também os conceitos na importância que atribuíram à função social da terra; Prof. Paulo Torminn Borges: deixa de inserir princípios, somente as normas; Octávio Mello Alvarenga: duas classes de normas – Imperativas (ou cogentes) e Supletivas; Definição • De Joaquim Luís Osório: “Direito Rural ou Agrário é o conjunto de normas reguladoras dos direitos e obrigações concernentes às pessoas e aos bens rurais”; • De Malta Cardozo: “Direito Agrário é o conjunto de normas que asseguram a vida e o desenvolvimento econômico da agricultura e das pessoas que a ela se dedicam profissionalmente.”; • De Oswaldo Opitz e Sylvia Opitz: “Direito Agrário é o conjunto de normas jurídicas concernentes à economia agrária.”; • De Raymundo Laranjeira: “Direito Agrário é o conjunto de princípios e normas que, visando a imprimir função social à terra, regulam relações afeitas à sua pertença e uso, e disciplina a prática das explorações agrárias e da conservação dos recursos naturais.”; Definição • Brasil – prevalência de conceitos civilistas – ausência de codificação; • C.F. de 1964, na Emenda Constitucional nº 10, deu abrigo ao Direito Agrário, levando as Cartas posteriores a preservar esse ramo; • C.F. 1988, art. 22, I: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;”; Natureza jurídica do Direito Agrário • Ramo do Direito Público ou Privado? • Dicotomia possível?! • Tendência atual – Considerar as normas como imperativas (cogentes), não podendo ser ilididas pela vontade das partes envolvidas na relação jurídica OU supletivas (dispositivas) que se amoldam aos interesses privados; • Augusto Zenun: “…não há como pretender-se que esses ramo de direito só exista em um ou em outro , isto é, só em direito público ou só em direito privado, uma vez que há um entrosamento perfeito entre os dois na caracterização do direito agrário.”; • Prof. Raymundo Laranjeira: “...o Direito Agrário é, de feito, composto de normas privadas e públicas, ao mesmo tempo...Dúvidas não persistem quanto ao caráter misto do Direito Agrário...” Autonomia do Direito Agrário • Emenda Constitucional n.º 10 – o direito agrário passou a ter existência constitucional, erigindo-se como ramo independente da ciência do direito, com três ordens: • Legislativa – com leis ordenadas e sistematizadas em doutrina própria e com princípios peculiares; • Didática – criação de disciplinas de Direito Agrário; • Científica – princípios próprios e peculiares, com institutos autônomos (ex. terras devolutas, módulo rural, colonização); • Raymundo Laranjeira: “...autonomia constitucional não passa de uma simples faceta conclusiva da autonomia legislativa, indo conferir-lhe remate seguro...”; Atividade Agrária • Trata-se de matéria por ele disciplinada – atividade agrária, reforma agrária, colonização, uso e posse da terra (particular ou pública), contratos agrários e toda atividade emergente da atividade agrária; • Atividade Agrária – dela decorrem todos os outros elementos formados do objeto jurídico do direito agrário; • Fundo Agrário: Fazendas, chácaras, sítios de recreio, estâncias, etc. +; • Estrutura Agrária • Não são abrangidas – atividades de comércio, transporte, indústria, atos e fatos relacionados à estrutura urbana, etc. – não vinculadas à atividade agrária propriamente dita; • Prática de atos de comércio pelo agricultor - comercialização da produção, transformação, assimilação à indústria, beneficiamento da produção, transporte - AGRO BUSINESS; • Atividade agrária - atividade humana que faz a natureza orgânica produzir vegetais e animais com o fim de aproveitar seus frutos e produtos; • Relações resultantes - homem X solo // homens X homens (trabalho); Estrutura Agrária • Conjunto das relações sociais, econômicas e jurídicas que surgem em razão da atividade agrária. Composta de três elementos fundamentais • O natural (recursos naturais renováveis); • O humano; e • O resultado das relações do homem com os recursos naturais renováveis. • Visão econômica e social - nexo funcional: Trabalho e Técnica => binômio capaz de fazer a natureza produzir bens de consumo; • FUNDO AGRÁRIO - sinônimo de empresa rural • Fundo (lat. Fundus = patrimônio) - problema fundiário, estrutura fundiária, reforma fundiária, Departamento de Recursos Fundiários (INCRA) • E.T. Art. 4.o, VI - modificado pelo Decreto n. 84.685/1980, que regulamentou a Lei n. 6.746/1979, que trata do ITR, conceitua a empresa rural (art. 4.o, VI) Estrutura Agrária • E.T. Art. 4.o, VI - modificado pelo Decreto n. 84.685/1980, que regulamentou a Lei n. 6.746/1979, que trata do ITR, conceitua a empresa rural (art. 4.o, VI) • “VI – Empresa Rural é o empreendimento de pessoa física ou jurídica, pública ou privada, que explore economicamente imóvel rural, dentro das condições de cumprimento da função social da terra e atendidos simultaneamente os requisitos seguintes: • a) Tenha o grau de utilização da terra igual ou superior a 80% (oitenta por cento), calculado na forma da alínea a do art. 8.o; • b) Tenha grau de eficiência na exploração, calculado na forma do artigo 10, igual ou superior a 100% (cem por cento); • c) Cumpra integralmente a legislação que rege as relações de trabalho e os contratos de uso temporário da terra.” Princípios • Paulo Torminnn Borges: • 1. Função Social da Propriedade; • 2. Progresso econômico do rurícola; • 3. Progresso social do rurícola; • 4. Fortalecimento da economia nacional, pelo aumento da produtividade; • 5. Fortalecimento do espírito comunitário, mormente de família; • 6. Desenvolvimento do sentimento de liberdade (pela propriedade) e de igualdade (pela oferta de oportunidades concretas); • 7. Implantação da Justiça distributiva; • 8. Eliminação das injustiças sociais no campo; • 9. Povoamento da zona rural, de maneira ordenada; • 10. Combate ao minifúndio; • 11. Combate ao latifúndio; • 12. Combate a qualquer tipo de propriedade rural ociosa, sendo aproveitável e cultivável; • 13. Combate à exploração predatória ou incorreta da terra. Correlação do Direito Agrário com outros ramos da ciência do Direito • Normas subsidiárias do Direito Agrário, sempre que seu campo não possua norma de aplicabilidade imediata, i. é, seja omisso no trato da matéria; • Eminentemente social, fundado na função social da propriedade, ligado a outros ramos do direito e também de outras ciências afins; • Relaciona-se: com a Técnica Agrária, a Política Agrária e a Reforma Agrária; • Direito Civil Calcado no direito de propriedade; • Nele buscou conceitos para modificá-los radicalmente; • Propriedade – bem de produção; • Terra – função social, sem a qual o direito de propriedade inexistente; • Permanece como fonte subsidiária do direito agrário, prevalecendo para solução e equacionamento dos casos omissos no Estatuto da Terra e sua legislação complementar; Correlação do Direito Agrário com outros ramos da ciência do Direito Direito Comercial • No que concerne ao conceito da empresa em geral e de pessoa jurídica; • Conceituação de empresa rural, inovando-o e melhorando-o, de modo a diferenciá-lo; • Direito Administrativo • Matéria que cuida da desapropriação por interesse social; • Procedimento discriminatório das terras devolutas; • Servidões administrativas (intervenção do Estado no domínio econômico na propriedade privada); Correlação do Direito Agrário com outros ramos da ciência do Direito • Direito Penal • Jusagrarismo - tipificação de delitos e estabelecimento de penas aos infratores de suas normas; • Proteção do homem que ocupa a terra; • Proteção direta da fauna, da flora, dos recursos naturais renováveis; • Assegurar o equilíbrio ecológico de modo geral • Direito Processual • Civil, Penal, Trabalhista, Administrativo; • Solução às pendências e litígios havidos no seu campo de incidência o meio rural; Fontes • Principal fonte – Direito Civil; • Classificação: • Imediatas ou diretas (leis e os costumes); e • Mediatas o indiretas (doutrina e jurisprudência). • Prof. Rafael Augusto de Mendonça Lima – sustenta que são fontes materiais (política agrária) e formais (leis e costumes); • “O que é importante é deixar calor que o poder legítimo para elaborar a lei (fonte formal) antes de a elaborar é compelido e condicionado, para elaborá-la, por fatos sociais, fatos econômicos ou fatos políticos: esses fatos é que são as fontes materiais do direito e esse é que geram os princípios para elaboração e para a interpretação e aplicação das leis e, ao serem utilizados, para essas finalidade, transformam-se em princípios do Direito.”