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NOÇÕES GERAIS DE

DIREITO NOTARIAL
E REGISTRAL AULA 01
PROF. ME. GUSTAVO CASAGRANDE CANHEU
1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA
1.1 Cartório, Notário e Tabelião

▪ IDADE MÉDIA: a palavra “CARTÓRIO” tem origem nos


chamados cartulários, coleções de documentos notariais que
eram depositados em igrejas, mitras, mosteiros, arquivos reais
e etc., que tinham objetivo conservar os documentos lavrados
pelos notários medievais.

▪ Os cartulários eram voltados sobretudo à conservação e


prova de propriedade dos bens de grandes corporações
monásticas ou às mitras, que possuíam grandes patrimônios,
constituídos por centenas de prédios (tanto em propriedade
plena quanto em senhorio direto – prédios foreiros).

▪ Observa-se, ainda nesta época histórica, estrutura


semelhante à do atual Direito Notarial e Registral brasileiro em
Portugal, onde destacam-se, dentre outros, o Cartório do
Mosteiro de São João de Tarouca, o Cartório da Sé de
Viseu, o Cartório da Câmara da Torre de Moncorvo, o
Cartório do Convento de Tomar e até o da Universidade de
Coimbra.
▪ Se observa, já neste primeiro momento histórico, que a finalidade
dos registros cartorários era a mesma dos dias atuais, ou seja,
territorialidade, concentração, segurança, perpetuidade,
autenticidade, eficácia probatória e etc.
▪ Já a expressão “TABELIÃO” tem origem nos tabelliones
romanos, que eram os escribas profissionais dedicados à
escrituração dos negócios jurídicos dos particulares; após a
queda do Império Romano, estes profissionais começaram a
utilizar na prática o título de notarius, expressão hoje traduzida
como “NOTÁRIO”.
▪ No século XII, nos países de influência do direito romano, os
termos Notário e Tabelião eram considerados sinônimos,
designando o antigo tabelião do Império Romano.
▪ O primeiro documento público de que se tem notícia com o título
notarius dado ao seu redator, é um instrumento de 1034,
celebrado entre particulares, em que VITEMIRO DONIZI e sua
mulher entregaram a SUARIO PELAGIZI e sua mulher bens
imóveis para pagamento de certo compromisso com garantia
fidejussória, lavrado e registrado no Cartório de São Simão da
Junqueira (Tombo, livro IV), Portugal.
1.2 Do Registro de Imóveis
▪ O primeiro sistema registral imobiliário conhecido é o Sistema
Alemão, que organizava as propriedades em feudos (terras
concedidas como pagamento pelos serviços prestados nas
guerras). O senhor feudal era o verdadeiro proprietário das terras
e os vassalos eram apenas os titulares do domínio útil. O senhor
feudal transferia o domínio útil através de registro nos livros
públicos
▪ Com a extinção do sistema de feudos na Europa, após a
Revolução Francesa, criou-se a base do atual sistema registral
brasileiro, que subordina a aquisição da propriedade aos critérios
de livre iniciativa e à lei de oferta e da procura, permitindo a
transferência da propriedade plena
▪ No Brasil, o primeiro sistema registral denominou-se Sistema
Sesmarial, que se baseava na doação da domínio útil pela Coroa
Portuguesa das propriedades privadas denominadas Capitanias.
Os capitães e suas famílias, escolhidos pela Coroa, recebiam
uma área de 10 léguas chamada Sesmaria, isenta de tributos. As
50 léguas restantes eram do Reino. Os capitães poderiam doar
estas terras a terceiros, para cultivo, sob pena de, se não
doassem ou cultivasse, perdê-las novamente para a Coroa
(terras devolutas). Era a própria Coroa Portuguesa quem
registrava os títulos respectivos. Este sistema vigorou até
17/07/1822.
Quadro Fundiário 1:

TERRAS DA COROA:

a) próprias;
b) sesmariais (cessão de uso);
c) devolutas.
▪ Após a independência do Brasil, foram estabelecidos os
seguintes sistemas registrais;
a) Lei Orçamentária 317/1843: criou o primeiro registro geral
de hipotecas;
b) Lei 6601/1850: primeira lei de terras, discriminou os bens
de domínio público dos particulares; criou o registro
paroquial das terras possuídas no Império (obrigando os
proprietários, inclusive rurais, a registrarem suas terras);
c) Lei 1.237/1864: criou o registro geral, considerando a
transcrição como modo de transferência do domínio e
ordenando a escrituração, em seus livros, de todos os
direitos imobiliários (criou a prenotação);
d) Decreto 169-A/1890: consagrou o princípio da
especialização (art. 3º);
e) Decreto 451/1890: estabeleceu o sistema de registro
torrens e criou a expressão matrícula
▪ Código Civil de 1916: tornou o registro imobiliário uma
instituição pública com a função de operar a transmissão do
domínio, por ser considerado um dos meios de aquisição da
propriedade imóvel (arts. 530 a 533).
▪ Lei 6.105/73 (Lei dos Registros Públicos): segue
parcialmente o sistema alemão, por considerar que só assento
presume a propriedade (só o registro transfere o domínio da
propriedade imobiliária); no entanto, aqui a presunção de
propriedade é apenas juris tantum (princípio da fé pública), e
não absoluta como no sistema alemão; instituiu a
obrigatoriedade e a unicidade da matrícula; determinou a
necessidade de perfeita identificação das partes e dos bens
sujeitos a registro (princípio da especialidade subjetiva e
objetiva); aprimorou o processo de retificação (atualizado
recentemente pela Lei 10.931/2004).
QUADRO FUNDIÁRIO 2 – REPÚBLICA

- Terras Públicas (REGISTRO GERAL DE TERRAS


PÚBLICAS):
a) Terras Próprias do Império
b) Terras Devolutas

- Terras Particulares (REGISTRO DO VIGÁRIO ATÉ 1864


e REGISTRO GERAL):
a) Propriedade adquirida por meio de compra e venda
b) Propriedade adquirida por revalidação dos títulos de
sesmarias
c) Propriedade por legitimação posse de moradia e
cultivo
QUADRO FUNDIÁRIO 3 – ATUAL

- PROPRIEDADES PÚBLICAS:
a) Bens de uso comum do povo (NÃO POSSUEM
REGISTRO/INDIVIDUALIZAÇÃO)
b) Bens de uso especial (REGISTRO DE IMÓVEIS)
c) Bens dominicais (REGISTRO DE IMÓVEIS)

- PROPRIEDADES PRIVADAS
(REGISTRO DE IMÓVEIS)
1.3 Registro Civil de Pessoas Naturais
▪ Os primeiros registros existentes no Brasil, durante o período
colonial e no início do período imperial, eram de atribuição da
Igreja Católica, à época a religião oficial do estado. Os livros
de registro de batismos, casamentos e óbitos ocorridos no
território brasileiro durante este período encontram-se
atualmente nos arquivos da Cúrias Metropolitanas.
▪ O art. 16 da Lei 8.159/91 estabelece que os registros civis de
arquivos de entidades religiosas produzidos antes da vigência
do Código Civil de 1916 são de interesse público e social.
▪ O sistema de Registro Paroquial, no entanto, tornou-se
inócuo após o início da imigração e o processo de abolição da
escravatura no Brasil. Muitos imigrantes professavam outras
religiões, assim como boa parte dos escravos libertos, que
não seguiam a religião católica.
▪ Lei 1.144/1861: criou o registro civil de nascimentos,
casamentos e óbitos das pessoas não católicos, que eram
feitos em livros próprios dos escrivães dos Juízos de Paz
▪ Decreto 5.604/1874: criou os cartórios de Registro Civil das
Pessoas Naturais, então a cargo do Escrivão do Juizado de
Paz em cada freguesia do Império (os livros desse período
continham todo tipo de pessoa, imigrantes, indigentes,
libertos, alienados e até condenados)
▪ Lei 6.015/73 (Lei dos Registros Públicos): estabelece que
os serviços de registros públicos ficarão a cargo de
serventuários privativos nomeados de acordo com o
estabelecido nas Leis de Organização Administrativa e
Judiciária do Distrito Federal e nas Resoluções sobre a divisão
e Organização Judiciária dos Estados (art. 2º), devendo o
registro de nascimentos, casamentos e óbitos ficarem a cargo
de um ofício privativo
▪ Constituição Federal 1988: dispõe que os serviços de
Registro Civil das Pessoas Naturais serão exercidos por
delegação do Poder Público, em caráter privado (art. 236).
▪ Lei 8.935/1994: estabelece que em cada sede municipal
deverá haver um Oficial de Registro Civil das Pessoas
Naturais, e nos municípios de significativa extensão territorial,
haverá um Oficial em cada sede distrital (art. 44, §§ 2º e 3º).
2. A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E A
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
NOTARIAL E REGISTRAL
(LEI 8.935/94 E LEI 10.169/2000)
▪ O art. 236 da Constituição Federal de 1988 estabelece que os
serviços notariais e de registro serão exercidos em caráter
privado, por delegação do Poder Público
▪ Dispõe, ainda, que o ingresso na atividade notarial e de
registro depende de concurso público de provas e títulos,
não se permitindo que qualquer serventia fique vaga, sem
abertura de concurso de provimento ou de remoção por mais
de seis meses
▪ A delegação da atividade se dá por ato administrativo
complexo, através do qual a Administração Pública atribui a
ente privado serviços que lhe seriam próprios:

Aprovação em
Concurso Público Investidura Outorga Exercício
▪ O Tabelião e o Registrador não são servidores públicos, mas
sim agentes públicos, não se submetendo, portanto, a
estágio probatório e aposentadoria compulsória. Segundo
CARVALHO FILHO, são eles “colaboradores do Poder
Público, muito embora não sejam ocupantes de cargo público,
mas sim agentes que exercem, em caráter de definitividade,
função pública sujeita a regime especial” (Manual de Direito
Administrativo, 20 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008).
▪ A delegação dos serviços notariais e registrais tem, como se
nota, caráter personalíssimo (não é possível a subdelegação
e nem a permuta de delegações)
▪ Os Tabeliães e Registradores são, portanto, particulares que
recebem, após aprovação em concurso público, a
incumbência de execução de um serviço público e o realizam
“em nome próprio, por sua conta e risco, segundo as normas
do Estado e sob a permanente fiscalização do delegante”
(HELY LOPES MEIRELLES, Direito Administrativo Brasileiro,
26. ed., São Paulo: Malheiros, 2001)
▪ Pelas razões acima, o gerenciamento administrativo e
financeiro dos serviços notariais de registro é da
responsabilidade exclusiva do respectivo titular, inclusive no
que diz respeito às despesas de custeio, investimento e
pessoal
2.1 Regulamentação da Atividade:
a) A Lei 8.935/94 (Lei dos Notários e Registradores)
regulamentou o art. 236 da CF, dispondo sobre a natureza e
os fins dos serviços notariais e de registro, dos titulares dos
serviços e seus prepostos (escreventes e auxiliares), das
atribuições, do ingresso na atividade, da responsabilidade
civil e criminal, das incompatibilidades e dos impedimentos,
dos direitos e deveres, das infrações disciplinares e
penalidades, da fiscalização pelo Poder Judiciário, da
extinção da delegação e da seguridade social;
b) Já a Lei 10.169/2000 regulamentou o §2º do art. 236 da CF,
estabelecendo normas gerais para a fixação de
emolumentos; tendo em vista a estrutura federativa do país,
a imensa extensão territorial do país e as peculiaridades
locais, cada unidade da Federação (Estados e Distrito
Federal) define por lei estadual (ou distrital) os emolumentos
a serem aplicados.
Obs: Provimento nº 29/16 (Emolumentos) e Provimento nº
38/2014 (Consolidação dos Atos Normativos) - CGJEGO
3. NATUREZA E FINS DOS
SERVIÇOS NOTARIAIS E DE
REGISTRO
3.1 Natureza Jurídica
▪ Como dito anteriormente, a atividade notarial e registral tem
natureza jurídica de serviço público, ainda que prestada em
caráter privado
▪ Os serviços em questão são delegados a profissionais do
direito dotados de fé pública (art. 3º, Lei 8.935/94). Em razão
disso, os atos emanados dos serviços notariais e registrais
(assim como dos demais serviços públicos), gozam de
presunção relativa de veracidade
▪ Em resumo, os serviços notariais e de registro são serviços
públicos exercidos em caráter privado por um profissional do
direito em razão de delegação, organizados técnica e
administrativamente
3.2 Fins dos Serviços
▪ O art. 1º da Lei 6.015/73 dispõe que os serviços concernentes
aos registros públicos tem como finalidade garantir
“autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos”
▪ O art. 1º da Lei 8.935/94 define como fins dos serviços
notariais e registrais “garantir publicidade, autenticidade,
segurança e eficácia dos atos jurídicos”

3.2.1 PUBLICIDADE
A publicidade é a divulgação oficial do ato para conhecimento
público e início de seus efeitos externos. A publicidade, nas
palavras de EDUARDO PACHECO RIBEIRO DE SOUZA visa
atribuir segurança às relações jurídicas, permitindo a qualquer
interessado que conheça o teor do acervo das serventias
notariais e registrais (Noções fundamentais de Direito
Registral e Notarial. Série Direito Registral e Notarial. São
Paulo: Saraiva, 2011, p. 22)
A publicidade, no entanto, não é absoluta, e sofre algumas
restrições nos serviços registrais e notariais, vejamos:
a) Registro Civil das Pessoas Naturais:
- a certidão de nascimento de filhos havidos fora do
casamento não será fornecida com o teor da declaração ou da
averbação a esse respeito (art. 45, Lei 6.015/73);
- a averbação da alteração de nome em razão de sentença
judicial que reconheça fundada coação ou ameaça decorrente de
colaboração na apuração de crime, não constará das certidões
emitidas em relação ao mesmo registro (art. 57, §7º, Lei
6.105/73);
- alteração de prenome e gênero de transexuais (art. 5º,
Provimento 73/2018, CNJ);
- as certidões de nascimento lavradas em virtude de
sentenças concessivas de adoção (de menor de idade) ou em
que haja averbação nesse sentido (adoção de maior de idade)
serão fornecidas sem qualquer menção ao mandado judicial ou à
sua origem (parágrafo único, art. 95, Lei 6.105/73).
Obs: em todos esses casos, somente será fornecida certidão de breve relatório; a
expedição de certidões de inteiro teor (constando as alterações em questão),
somente podem ser concedidas com autorização judicial (§3º, art. 19, Lei 6.015/73)
b) Tabelionato de Protestos
- Certidões de protestos cancelados só podem ser
fornecidas ao próprio devedor ou por ordem judicial (art.
27, §2º, Lei 9.492/97)

c) Tabelionato de Notas
- As certidões de escrituras públicas de testamentos,
enquanto não comprovado o falecimento do testador,
deverão ser expedidas apenas a seu pedido ou de seu
representante legal, ou ainda, mediante ordem judicial
Obs: entendimento preconizado nas Normas de Serviço
das Corregedorias Gerais de Justiça dos Estados de São
Paulo, Paraná, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul;
entende-se que o testamento é público em razão da forma
de sua lavratura, mas não em relação ao conhecimento do
seu conteúdo
3.2.2 AUTENTICIDADE
A autenticidade é a qualidade do que é confirmado por um ato de
autoridade, criando presunção juris tantum de veracidade,
legalidade e legitimidade, isto é, os atos praticados por
tabeliães e oficiais de registro são considerados regulares e
legais enquanto não forem desconstituídos por decisão judicial
amparada em prova conclusiva que venha a atestar a sua
falsidade, irregularidade ou desvio de finalidade.
Vale ressaltar que a autenticidade não se refere ao negócio
causal ou ao fato que dão origem ao ato praticado, mas
exclusivamente sobre o ato notarial ou registral.

3.2.3 SEGURANÇA JURÍDICA


A segurança decorre da certeza quanto ao ato e sua eficácia, e
de sua imutabilidade (garantia de preservação do conteúdo do
ato notarial ou de registro). O aperfeiçoamento do controle de
lançamentos e dos cadastros registrais (civis e imobiliários), a
descrição pormenorizada dos bens e a identificação completa
das pessoas e dos titulares de direitos reais, salvaguarda os
interesses das partes e de terceiros, e permite a aferição da boa-
fé de quem pratica qualquer ato com base nestes registros.
3.2.4 EFICÁCIA
É a garantia de que os atos notariais e de registro estão aptos
a produzir efeitos jurídicos inclusive perante terceiros (efeitos
erga omnes).
Os atos notariais e especialmente os registros tem eficácia
CONSTITUTIVA (provocam a aquisição, alteração ou a
extinção de direitos; tais como: registro de casamento;
emancipação; registro de ato constitutivo de empresa;
aquisição de propriedade imóvel); ASSECURATÓRIA ou
COMPROBATÓRIA (comprovam a veracidade e a
autenticidade de atos ou fatos aos quais se reporta; tais como:
registro de óbito por morte presumida; registro de contratos
particulares); e CONSERVATÓRIA (colocam a salvo os
documentos e títulos lavrados e registrados, perpetuando-os;
tais como: testamentos públicos; registro de contratos
particulares de aquisição de bens imóveis; registro de pacto
antenupcial)
3.3 COMPETÊNCIAS E TIPOS DE SERVIÇOS DELEGADOS
(art. 5º, Lei 8.935/94)
3.3.1 Tabelionatos (Tabeliães)
- Tabelionato de Protesto (Lei 9.492/97): lavrar e registrar
protesto de títulos de crédito e outros documentos de
dívidas e acatar a desistência do credor; protocolo e
intimação do devedor; acolhimento de devolução ou
aceite; recebimento do pagamento do título.
- Tabelionato de Notas (Lei 8.935/94): lavrar escrituras
públicas; lavrar procurações e testamentos públicos;
aprovar testamentos cerrados; lavrar atas notariais;
reconhecer firmas; autenticar cópias (art. 7º)
3.3.2 Registros Públicos (Oficiais de Registro)
- Registro Civil das Pessoas Naturais: registro de
nascimentos, casamentos, óbitos, natimorto,
emancipações, interdições, ausências, tutelas, adoção e
opção de nacionalidade (art. 29, Lei 6.015/73)
- Registro Civil de Pessoas Jurídicas: registro de contratos
e atos constitutivos de sociedades simples em geral; das
associações sem fins lucrativos; das fundações de direito
privado (entidades civis, religiosas, pias, morais,
científicas, literárias); registro de oficinas impressoras,
jornais, periódicos, empresas de radiodifusão e agências
de notícia (arts. 114 e 122 da Lei 6.015/73).
- Registro de Títulos e Documentos: registro,
microfilmagem ou digitalização de contratos ou títulos
para simples conservação do conteúdo – competência
residual (art. 127, Lei 6.105/73).
- Registro de Imóveis: abertura de matrículas; registro de
escrituras públicas ou sentenças de transmissão ou
oneração de direitos reais; registro de instituição de bem
de família; registro de hipotecas; registro de penhoras,
arrestos e sequestros de bens imóveis; registro de
usufruto sobre bens imóveis; registro de pactos
antenupciais; etc. (art. 167, Lei 6.105/73).
3.4 DO INGRESSO NA ATIVIDADE NOTARIAL E REGISTRAL
▪ Segundo o disposto no §3º, art. 236, CF, o ingresso na atividade
notarial e de registro se dá através de aprovação em concurso
público de provas e títulos
▪ Os concursos, de acordo com os artigos 14 a 19 da Lei 8.935/94,
são realizados pelo Poder Judiciário, com a participação
obrigatória, em todas as fases, da Ordem dos Advogados do
Brasil, do Ministério Público e de um notário e um registrador
▪ Resolução 81/2009, CNJ (regulamenta os concursos públicos
para outorga de delações de Notas e Registro):
- A Comissão Examinadora dos concursos será composta por
um Desembargador, que será seu Presidente, por três Juízes
de Direito, um Membro do Ministério Público, um Advogado,
um Registrador e um Tabelião cujos nomes constarão do
edital.
- Competem à Comissão Examinadora do Concurso a
confecção, aplicação e correção das provas, a apreciação
dos recursos, a classificação dos candidatos e demais tarefas
para execução do concurso, podendo delegar o auxílio
operacional a instituições especializadas.
- Os concursos deverão ser realizados semestralmente ou,
por conveniência da Administração, em prazo inferior, caso
estiverem vagas ao menos três delegações de qualquer
natureza;
- Os concursos serão concluídos impreterivelmente no prazo
de doze meses, com a outorga das delegações, contado da
primeira publicação do respectivo edital de abertura do
concurso;
- O preenchimento de 2/3 (dois terços) das delegações
vagas far-se-á por concurso público, de provas e títulos
de provimento, destinado à admissão dos candidatos que
preencherem os requisitos legais previstos no artigo 14 da Lei
Federal nº 8.935/94; e o preenchimento de 1/3 (um terço)
das delegações vagas far-se-á por concurso de provas e
títulos de remoção, com a participação exclusiva daqueles
que já estiverem exercendo a titularidade de outra delegação,
de notas ou de registro, em qualquer localidade da unidade da
federação que realizará o concurso, por mais de 02 (dois)
anos, na forma do artigo 17 da Lei Federal nº 8.935/94, na
data da publicação do primeiro edital de abertura do concurso.
- O art. 37, inciso VIII, da CF, estabelece que a lei reservará
percentual de vagas em concursos públicos para pessoas
com deficiência. Trata-se de ação afirmativa destinada à
integração social das referidas pessoas. O Decreto Federal
nº 3.298/99, que regulamentou a Lei Federal nº 7.853/89,
prevê a reserva de no mínio 5% das vagas oferecidas, e a
Lei Federal nº 8.112/90 prevê a reserva de no máximo
20% das vagas. Se este número, pelo cálculo do número
de vagas for fracionado, deverá ser elevado até o primeiro
número interior subsequente, ou seja, arrendonda-se para
cima, desde que não ultrapasse o limite máximo (STF, MS
26.310, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 20/09/2007, DJ
31/10/2007).
- Via de regra os editais de concurso para delegação de
notas e registro utilizam o percentual mínimo, de 5%,
separando em grupo próprio, por sorteio, desde o início do
certamente, as unidades que estarão disponíveis às
pessoas com deficiência.
- Por meio da Resolução 382, de 16/03/2021, o CNJ alterou
a redação da Resolução 81/2009 para incluir a
necessidade de reserva de vagas aos negros, no art. 3º
desta última, in verbis:
§ 1º Serão reservadas aos(às) negros(as) o
percentual mínimo de vinte por cento das
serventias vagas oferecidas no certame de
provimento e de remoção, aplicando-se a
Resolução CNJ nº 203/2015.
§ 2º A reserva de vagas aos(às) negros(as) será
aplicada sempre que o número de serventias
oferecido no concurso público for igual ou superior a
três.
§ 3º Caso a aplicação do percentual estabelecido
nos parágrafos anteriores resulte em número
fracionado, este será elevado para o primeiro
número inteiro subsequente.
- Requisitos para inscrição:
▪ nacionalidade brasileira;
▪ capacidade civil;
▪ quitação com as obrigações eleitorais e
militares; ser bacharel em direito, com diploma
registrado, ou ter exercido, por dez anos,
completados antes da publicação do primeiro
edital, função em serviços notariais ou de
registro;
▪ comprovar conduta condigna para o exercício da
atividade delegada (certidões negativas e cartas
de referência).
- Provas:
1ª Fase (Prova objetiva de Seleção): constituída de questões
de múltipla escolha sobre as disciplinas de Registros Públicos,
Direito Constitucional, Direito Administrativo, Direito Tributário,
Direito Civil, Direito Processual Civil, Direito Penal, Direito,
Processual Penal, Direito Comercial, Conhecimentos Gerais e
Língua Portuguesa (tem caráter eliminatório; somente são
considerados habilitados e convocados para a Prova Escrita e
Prática os que alcançarem maior pontuação, incluídos os
empatados na última colocação, dentro da proporção de 08
candidatos por vaga, em cada opção de inscrição).
2ª Fase (Prova Escrita e Prática): consiste numa dissertação e
na elaboração de peça prática, além de questões discursivas
(tem caráter eliminatório e classificatório; somente serão
considerados habilitados para a Prova Oral os candidatos que
obtiverem na Prova Escrita e Prática nota igual ou superior a
5,0). A prova escrita e prática valerá 10,0 pontos e terá peso 4.
3º Fase (Prova Oral): consiste na arguição dos candidatos
pelos membros da Comissão Examinadora (tem caráter
eliminatório e classificatório; somente serão considerados
aprovados os candidatos que obtiverem nota igual ou superior a
5,0). A prova oral valerá 10,0 pontos e terá peso 4.
4ª Fase (Exame de Títulos): exame de títulos valerá, no máximo, 10 (dez)
pontos, com peso 2, observado o seguinte:
- exercício da advocacia ou de delegação, cargo, emprego ou função
pública privativa de bacharel em Direito, por um mínimo de três anos até
a data da primeira publicação do edital do concurso (2,0);
- exercício de serviço notarial ou de registro, por não bacharel em
direito, por um mínimo de dez anos até a data da publicação do primeiro
edital do concurso (art. 15, § 2º, da Lei n. 8.935/1994) (2,0);
- exercício do Magistério Superior na área jurídica pelo período
mínimo de 5 (cinco) anos, mediante admissão no corpo docente por
concurso ou processo seletivo público de provas e/ou títulos (1,5);
mediante admissão no corpo docente sem concurso ou processo
seletivo público de provas e/ou títulos (1,0);
- Doutorado reconhecido ou revalidado, em Direito ou em Ciências
Sociais ou Humanas (2,0); Mestrado reconhecido ou revalidado, em
Direito ou em Ciências Sociais ou Humanas (1,0); Especialização em
Direito, na forma da legislação educacional em vigor, com carga horária
mínima de trezentos e sessenta (360) horas aula, cuja avaliação haja
considerado monografia de final de curso (0,5);
- exercício, no mínimo durante 1 (um) ano, por ao menos 16 horas
mensais, das atribuições de conciliador voluntário em unidades
judiciárias, ou na prestação de assistência jurídica voluntária (0,5);
- período igual a 3 (três) eleições, contado uma só vez, de serviço
prestado, em qualquer condição, à Justiça Eleitoral (0,5).
▪ A nota final do candidato será a média ponderada das notas das
provas e dos pontos dos títulos, de acordo com a seguinte
fórmula: NF = [(P1X4) + (P2X4) + (TX2)] / 10
▪ A classificação final será feita segundo a ordem decrescente da
nota final, considerado aprovado o candidato que alcançar a
média igual ou superior a 5,0 (cinco).
▪ Em caso de igualdade da nota final, para fim de classificação,
terá preferência, sucessivamente, o candidato com: a) Maior nota
no conjunto das provas ou, sucessivamente, na Prova Escrita e
Prática, na Prova Oral e na Prova Objetiva; b) Exercício da
função de Jurado; c) Maior idade.
▪ Os candidatos aprovados serão convocados para sessão pública
de escolha e outorga (a escolha é feita por ordem de
classificação e por grupos/critérios); após a outorga, a
investidura na delegação deverá ocorrer perante o Corregedor
Geral da Justiça ou o magistrado por ele designado, no prazo de
30 dias, prorrogável por igual período, uma única vez (termo de
investidura); o exercício da atividade notarial ou de registro
deverá ter início dentro de 30 dias, contados da investidura,
perante o Juiz Corregedor local (termo de início de exercício).
3.5 FÉRIAS, LICENÇAS, APOSENTADORIA E AFASTAMENTOS
DO NOTÁRIO E DO REGISTRADOR

▪ O Tabelião e o Registrador podem se ausentar da serventia


apenas por motivo justificado (férias, licença médica, licença
maternidade, participação em congressos e outros eventos
jurídicos e etc.) previamente informado à Corregedoria Geral de
Justiça. Nessa hipótese, cabe ao titular informar o nome do seu
substituto que responderá pelo expediente
▪ Não há prazo mínimo ou máximo para cada licença ou período de
férias
▪ Os Tabeliães e Registradores estão, em regra, subordinados ao
regime geral de previdência (INSS), e estão sujeitos apenas à
aposentadoria voluntária (desde que decorrido o tempo
mínimo de 10 anos de exercício da atividade; e atingida a
idade mínima de 65 anos, para homens, e 60 anos para
mulheres; ou desde que tenha ao menos 35 anos de
contribuição e 60 de idade, se homem, e 30 de contribuição e
55 de idade, se mulher), não se lhes aplicando o disposto no art.
40, §1º, II, da CF a respeito da aposentadoria compulsória
▪ De acordo com o art. 43 do Código de Normas de GO 2021, o
notário ou registrador que se afastar da serventia pelo prazo
superior a 15 dias deverá comunicar previamente ao Corregedor
Permanente e à Corregedoria Geral de Justiça o motivo do seu
afastamento, a data ou a previsão de retorno e o substituto legal.
▪ O notário ou registrador que desejar concorrer a mandato
eletivo, afastar-se-á do exercício do serviço delegado 90
(noventa) dias antes do pleito eleitoral e, sendo eleito, desde
a sua diplomação; havendo compatibilidade de horários o
notário ou registrador poderá, de acordo com o §1º do art. 44 do
Código de Normas de GO 2021, poderá cumular o cargo de
vereador com o exercício da atividade delegada, devendo
afastar-se nos demais tipos de cargos eletivos.
▪ No entanto, o CNJ, em decisão proferida em 28/04/2020, ao
referendar o teor do seu Provimento 78/2018, suprimiu a
previsão que autorizava a cumulação da atividade delegada
com a de Vereador, firmando entendimento no sentido de
que, na hipótese de qualquer mandato eletivo, a diplomação
implica o afastamento da atividade cartorária (seguindo
interpretação dada pelo STF na ADI 1531).
▪ Além disso, fixou o CNJ a que no caso de o notário ou o
registrador se afastarem para o exercício do mandato eletivo,
a atividade será conduzida pelo escrevente substituto,
com a designação contemplada pelo artigo 20, parágrafo 5º da
Lei Federal nº 8.935/94, a quem caberá a percepção integral
dos emolumentos gerados em decorrência da atividade
notarial e/ou registral, o que está previsto nos §§ 2º e 3º do art.
44 do Código de Normas e Procedimentos do Foro
Extrajudicial do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás 2021.
4. DOS DIREITOS E DEVERES DOS
TABELIÃES E REGISTRADORES
4.1 Direitos
▪ O notário e o registrador gozam de independência no
exercício de suas atribuições, só perderá sua delegação nos
casos previstos em lei e têm direito a (artigos 28 e 29 da Lei
8.935/94 e artigo 38 e seguintes do Código de Normas GO):

I – receber os emolumentos integrais pelos atos


praticados no exercício da delegação;
II – exercer opção, nos casos de desmembramento
ou desdobramento de sua serventia; e
III – organizar associações ou sindicatos de classe e
deles participar.
a) INDEPENDÊNCIA NO EXERCÍCIO DAS ATRIBUIÇÕES
▪ O notário e o registrador dispõem de independência e
autonomia na prática dos atos que lhe são próprios, que, em
regra, independem de autorização judicial.
▪ Todos os atos necessários à organização da serventia e dos
serviços, bem como os relativos à execução dos serviços
independem de autorização judicial tais como: contratação
ou a dispensa de auxiliares e escreventes; troca ou
aquisição de mobiliário ou de equipamentos de
informática; organização interna dos serviços e a sua
distribuição entre os prepostos; contratação de serviços
terceirizados de limpeza, segurança e manutenção.
▪ No entanto, trata-se, à evidência, de independência
RELATIVA, posto que todos a atividade dos notários e
registradores será fiscalizada pelo Poder Judiciário (Juiz
Corregedor Permanente e Corregedoria G.eral de Justiça)
b) DIREITO À PERCEPÇÃO DE EMOLUMENTOS
▪ Emolumentos, nas palavras de WALTER CENEVIVA,
“correspondem, na atividade privada, ao preço do serviço”.
▪ Na atividade notarial e registral, no entanto, não há que se
falar em preço, razão pela qual nos parece mais adequada a
definição de LUIZ GUILHERME LOUREIRO, para quem os
emolumentos correspondem à remuneração fixada por lei a
que os notários e registradores fazem jus pela prática dos atos
que lhes são próprios. Remuneração sui generis, é bem
verdade, posto que paga diretamente pelos usuários do
serviço, não pelo ente delegante dos mesmos (o Estado).
▪ Os emolumentos possuem natureza tributária, classificando-
se como taxas remuneratórias de serviços públicos, como já
decidiu o STF (ADI 1.378-MC, Rel. Min. Celso de Mello, j.
30.11.1995, plenário, DJ 30.05.1997). Por esta razão sujeitam-
se aos princípios constitucionais da legalidade, da isonomia e
da anterioridade.
▪ É a Lei Federal 10.169/2000 que estabelece as normas gerais
para a definição dos emolumentos dos serviços notariais e
registrais; as normas específicas, entretanto, como a fixação dos
próprios valores de cada serviço, devem ser disciplinadas em leis
estaduais.
▪ Por serem os emolumentos espécie de remuneração, a eles NÃO
SE APLICAM AS REGRAS DE IMUNIDADE TRIBUTÁRIA
previstas no art. 150, VI da CF/88. Se os serviços não são
prestados pelo Estado, que não é quem percebe os
emolumentos, a Fazenda Pública (federal, estadual e municipal),
como regra, está obrigada ao pagamento das custas e
emolumentos pelos serviços cartorários (assim já decidiu o STJ,
no REsp nº 413980/SC, rel. Min. João Otávio de Noronha, j.
04.05.2006).
▪ Nada impede, no entanto, que a legislação estadual crie
hipóteses de isenção, beneficiando as pessoas jurídicas de
direito público e os órgãos da administração pública, direta ou
indireta.
▪ No estado de Goiás, a Lei 14.376/2002, que regulamenta a cobrança de
emolumentos notariais e de registro, estabelece, em seu artigo 38, que
são isentos dos emolumentos os atos notariais e de registro público
em que a Fazenda Pública Estadual e as autarquias e fundações
estaduais figurarem como adquirentes.
▪ Estabelece também o artigo 36 que são isentos: a) os processos de
dúvida, exceto quanto aos recursos, e os de reclamação por cobrança de
custas; b) as certidões de registro de casamento, para fins militares ou
eleitorais; c) o registro civil de nascimento e a sua primeira certidão; o
registro de óbito e a primeira certidão; o registro e a certidão de adoção
de menor, inclusive as emissões de segunda via, para pessoas
reconhecidamente pobres que, por declaração própria, sob
responsabilidade, se declararem sem condições de pagá-las; d) os atos
de aquisição imobiliária, destinada a casa própria, por parte de pessoas
reconhecidamente pobres em empreendimentos imobiliários destinados a
população de baixa renda, de iniciativa do poder público, financiados ou
não pelo Sistema Financeiro de Habitação; e) nos atos de aquisição
imobiliária, destinados à casa própria, de valor igual ou menor que R$
5.000,00 (cinco mil reais), por pessoas com rendimento inferior a dois
(02) salários mínimos, comprovado mediante a apresentação de Carteira
de Trabalho ou outro documento hábil, os emolumentos serão reduzidos
em oitenta por cento (80%) na comarca da Capital e em vinte e cinco por
cento (25%) nas demais cidades.
▪ Vale ressaltar que o atual CPC, no art. 98, IX, estabelece que a
gratuidade da justiça compreende apenas os emolumentos
devidos a notários ou registradores em decorrência da prática
de registro, averbação ou qualquer outro ato notarial
necessário à efetivação de decisão judicial ou à continuidade
de processo judicial no qual o benefício tenha sido concedido.
▪ A concessão de qualquer gratuidade nos serviços prestados
pelos Notários e Registradores, depende, a nosso ver, da
manutenção do equilíbrio econômico-financeiro de tais
serviços durante a sua prestação. A garantia da manutenção do
equilíbrio econômico-financeiro para os particulares que prestam
serviços públicos, sempre que modificadas unilateralmente pelo
Estado as regras de tal prestação, está prevista no art. 104 da
Nova Lei de Licitações (Lei 14.133/2021), estabelece que a
Administração Pública tem a prerrogativa de modificar
unilateralmente os contratos, para melhor adequação às
finalidades de interesse público, devendo nesse caso rever
as “cláusulas econômico-financeiras do contrato (...) para
que se mantenha o equilíbrio contratual”
▪ Ainda que tal lei se refira a serviços cuja delegação (em
sentido amplo) tenha ocorrido por meio de licitação e
contratação administrativa, o que se costuma classificar como
delegação contratual, e os serviços notariais e registrais
sejam transferidos a particulares por determinação
constitucional após aprovação em concurso público, o que se
classifica como delegação constitucional, não nos resta
dúvida de que ambas são equivalentes quanto à sua essência
e suas regras de manutenção.
▪ O Supremo Tribunal Federal já se posicionou no sentido da
necessidade de manutenção do equilíbrio econômico-
financeiro mesmo nas delegações constitucionais, para que
não se tornem as mesmas desinteressantes do ponto de vista
de quem as recebe. Na ADI 1800-DF (Plenário, j. 06.04.1998,
rel. Min. Nelson Jobim), o Ministro Marco Aurélio Mello assim
afirmou:
“Ora, podemos interpretar esse preceito pinçado e
potencializando o vocábulo “delegação”, olvidando
normas contidas na própria Constituição? Olvidando os
princípios da razoabilidade e da proporcionalidade que
são ínsitos à Constituição Federal, à Lei Maior do País?
Penso que não (...). A referência à delegação não me
sensibiliza, porque o serviço deve ser exercido e
sabemos que existem despesas; sabemos que, no
caso, os Cartórios devem contratar empregados,
devem funcionar em um certo local, e, portanto, têm
despesas a serem executadas. Indispensável é que
haja uma fonte de receita. O Estado, pela simples
circunstância de lançar mão da delegação, não
pode, sob pena de desrespeitar-se o texto da
própria Carta da República, chegar ao ponto de
inviabilizar o serviço que esta delegação visa a
alcançar ”. (grifos nossos)
▪ Mais recentemente, o CNJ, em decisão proferida nos autos do Pedido de
Providências nº 0006123-58.2011.2.00.0000, que teve como relator o
Conselheiro Fabiano Silveira, expressamente afirmou a necessidade de
observação de tal equilíbrio para a concessão de gratuidades:
“a percepção de emolumentos pelo notário, como
contraprestação do serviço público que o Estado presta ao
particular, por seu intermédio, é condição imprescindível para o
titular fazer frente a despesas de custeio da Serventia, de
remuneração de pessoal e de investimentos, além da retirada
dos próprios dividendos a que faz jus pela delegação que lhe foi
outorgada. Nesse sentido, a adequada prestação de serviços,
que depende da manutenção do equilíbrio econômico-
financeiro das serventias extrajudiciais, passa a demandar,
de fato, a contrapartida do Poder Público pelos custos dos
atos oferecidos gratuitamente aos cidadãos" (grifo nosso).
▪ Na decisão proferida nos autos acima mencionados, datada de
06/05/2014, o CNJ recomendou a vários Tribunais de Justiça do
país que elaborassem propostas legislativas para garantir o
ressarcimento integral de todos os atos gratuitos praticados
pelos Serviços de Registros e de Notas em razão de inúmeras
previsões legais de gratuidade, como era o caso da previsão do
antigo CPC a respeito das escrituras públicas de separação, divórcio
e inventário e partilha.
c) DIREITO DE EXERCER OPÇÃO, NOS CASOS DE
DESMEMBRAMENTO OU DESDOBRAMENTO DE SUA
SERVENTIA
▪ Desmembramento é a divisão da área territorial de
competência do notário ou registrador (quando ocorre, por
exemplo, a divisão de uma comarca e com isso a criação de
uma nova serventia).
▪ Na área notarial tal fenômeno é raro, já que os Tabeliães
recebem sua delegação vinculada ao território de um
município, e mesmo que se crie um segundo serviço de notas
na mesma cidade, isso não diminui a competência originária
do anterior, daí não haver direito a opção nesses casos (no
entanto, se um Distrito for elevado a categoria e Município,
terá o Oficial ou Tabelião que recebeu a delegação original o
direito de optar por uma das delegações incidentes no novo
Município).
▪ Desdobramento é a separação dos serviços acumulados
em um determinado serviço; trata-se de espécie de
descentralização, em que os serviços até então acumulados
numa única serventia passam a ser divididos em duas após a
criação de uma nova serventia (quando há o desdobramento
de um cartório que acumule notas e protesto em duas
serventias, criando-se uma nova em razão do volume dos
serviços e da viabilidade econômica – nesse caso, o titular da
antiga serventia terá o direito de optar por um dos serviços,
notas ou protesto, sendo o outro encaminhado a delegação
por meio de concurso de provas e títulos).
d) DIREITO DE ORGANIZAR ASSOCIAÇÕES OU
SINDICATOS DE CLASSE E DELES PARTICIPAR
▪ Trata-se de norma complementar à regra constitucional de
liberdade associativa (art. 9º, CF), que permite aos Tabeliães e
Registradores o direito de livre associação, sem qualquer
interferência ou intervenção do Poder Público delegante e do
Poder fiscalizador.
4.2 Deveres
▪ Os notários e registradores estão adstritos, no cumprimento de
suas funções, à observância dos deveres previstos no art. 30
da Lei 8.935/94, que estabelece os deveres funcionais
implícitos na natureza do ofício exercido.
▪ Da mesma forma, no Estado de Goiás os delegatários devem
cumprir as obrigações estabelecidas no artigo 39 do Código
de Normas e Procedimentos do Foro Extrajudicial do Tribunal
de Justiça do Estado de Goiás 2021 (Provimento 46/2020),
que estabelecem normas de defesa e proteção ao usuário dos
serviços.
▪ Também deve ser observado o Estatuto da Pessoa com
Deficiência (Lei Federal 13.146/2015), que estabelece aos
notários e registradores a obrigação de assegurar o acesso
irrestrito aos seus serviços às pessoas com deficiência,
reconhecendo sua plena capacidade civil (art. 83 em c/c
art. 6º, EPD).
▪ São deveres dos Notários e Registradores:
I – manter em local adequado, devidamente
ordenados, livros, fichas, arquivos, documentos,
papéis, microfilmes, sistemas de computação da
serventia, além das cópias dos dados armazenados,
respondendo por sua segurança, ordem e
conservação;
II – atender as partes com eficiência, urbanidade e
presteza;
III – atender prioritariamente as requisições de
papéis, documentos, informações ou providências
que lhes forem solicitadas pelas autoridades
judiciárias ou administrativas para a defesa das
pessoas jurídicas de direito público em juízo;
IV - manter em arquivo, físico ou digital, leis,
regulamentos, resoluções, provimentos, regimentos,
ordens de serviço e quaisquer outros atos que digam
respeito à atividade;
V – proceder de forma a dignificar a função exercida,
tanto nas atividades profissionais como na vida privada;
VI – guardar sigilo sobre a documentação e os
assuntos de natureza reservada de que tenham
conhecimento em razão do ofício;
VII – afixar em local visível, de fácil leitura e acesso ao
público, as tabelas de emolumentos em vigor e suas
notas explicativas, bem como aviso de sugestões e
reclamações com os endereços e contato do Fórum
local, Corregedoria-Geral da Justiça e Ouvidoria do
Tribunal de Justiça do Estado de Goiás;
VIII – observar os emolumentos fixados para a prática
dos atos;
IX – fornecer recibo ou nota fiscal aos usuários, que
discrimine os valores pagos a título de Emolumentos, de
Taxa Judiciária, de Imposto sobre Serviços – ISS e de
cada Fundo Estadual, mantendo-se arquivada a
segunda via por meio físico ou eletrônico;
X – observar prazos legais fixados para a prática dos
atos do seu ofício;
XI – fiscalizar o recolhimento dos impostos
incidentes sobre os atos que devem praticar;
XII – facilitar, por todos os meios, o acesso à
documentação existente às pessoas legalmente
habilitadas;
XIII – encaminhar ao Juízo de Registros Públicos as
dúvidas suscitadas pelos interessados, obedecida a
sistemática processual fixada nos artigos 198 e
seguintes da Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973;
XIV – observar as normas técnicas estabelecidas pelo
Juízo competente;
XV – manter em arquivo os livros e atos eletrônicos,
mediante cópia de segurança feita em intervalos não
superiores a 24 (vinte e quatro) horas,
preferencialmente ao final do expediente, sem prejuízo
da formação dos livros obrigatórios;
XVI – garantir que seja dispensado atendimento
prioritário às pessoas com deficiência, aos idosos
com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, às
gestantes, às lactantes, às pessoas com crianças
de colo e aos obesos, mediante garantia de lugar
privilegiado em filas, distribuição de senhas com
numeração adequada ao atendimento preferencial ou
implantação de serviço de atendimento personalizado
e alocação de espaço com acessibilidade;
XVII – manter atualizados seus dados pessoais e
informações da serventia junto ao Sistema
Extrajudicial Eletrônico – SEE da Corregedoria-Geral
e do sistema Justiça Aberta do Conselho Nacional de
Justiça, devendo comunicar, em até 48 (quarenta e
oito) horas, as alterações porventura ocorridas;
XVIII – acessar diariamente o sistema Malote Digital,
promovendo o atendimento das mensagens
existentes de acordo com o nível de prioridade
assinalado;
XIX – implantar políticas, procedimentos e controles
internos de prevenção à lavagem de dinheiro e ao
financiamento do terrorismo no âmbito da
serventia;
XX – promover o cumprimento das obrigações
administrativas, trabalhistas, fiscais e previdenciárias;
XXI – manter uma cópia deste Código de Normas
acessível ao público;
XXII – dar cumprimento à ordem judicial de
registro, averbação ou anotação oriunda de comarca
diversa, independentemente da aquiescência ou de
despacho de “cumpra-se” do juízo do local de
cumprimento, ressalvados os casos de retificação,
restauração e suprimento no registro civil das
pessoas naturais, desde que satisfeitos os
emolumentos, se devidos.
▪ Vale ressaltar que os artigos 41 e 42 do Código de Normas e
Procedimentos do Foro Extrajudicial do Tribunal de Justiça do
Estado de Goiás 2021 estabelece algumas VEDAÇÕES ao
notário e registrador: a) praticar atos do seu ofício fora do
território da circunscrição para a qual recebeu a delegação; b)
cobrar valor adicional por consulta ou qualquer outra prestação
de serviço distinto dos valores de emolumentos, taxa judiciária e
fundos estaduais ou diversos dos legalmente previstos; c) lavrar
instrumentos particulares e realizar qualquer trabalho que
refuja à peculiaridade de suas atribuições e aos atos do ofício; d)
ou retardar, desmotivadamente, a prática de qualquer ato de
sua atribuição; e) expedir atos internos que limitem ou
dificultem o atendimento a pessoas que se utilizem dos
serviços da serventia; f) praticar publicidade com fins
comerciais, ressalvadas as propagandas de cunho meramente
informativo que objetivem a divulgação das atribuições do
serviço, qualificação do responsável pela serventia e prepostos,
endereço, horário de atendimento, tabela de emolumentos ou
notícias e informações voltadas a difundir as atividades notariais
e registrais; g) realizar teletrabalho.

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