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DIREITO NOTARIAL
E REGISTRAL AULA 01
PROF. ME. GUSTAVO CASAGRANDE CANHEU
1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA
1.1 Cartório, Notário e Tabelião
TERRAS DA COROA:
a) próprias;
b) sesmariais (cessão de uso);
c) devolutas.
▪ Após a independência do Brasil, foram estabelecidos os
seguintes sistemas registrais;
a) Lei Orçamentária 317/1843: criou o primeiro registro geral
de hipotecas;
b) Lei 6601/1850: primeira lei de terras, discriminou os bens
de domínio público dos particulares; criou o registro
paroquial das terras possuídas no Império (obrigando os
proprietários, inclusive rurais, a registrarem suas terras);
c) Lei 1.237/1864: criou o registro geral, considerando a
transcrição como modo de transferência do domínio e
ordenando a escrituração, em seus livros, de todos os
direitos imobiliários (criou a prenotação);
d) Decreto 169-A/1890: consagrou o princípio da
especialização (art. 3º);
e) Decreto 451/1890: estabeleceu o sistema de registro
torrens e criou a expressão matrícula
▪ Código Civil de 1916: tornou o registro imobiliário uma
instituição pública com a função de operar a transmissão do
domínio, por ser considerado um dos meios de aquisição da
propriedade imóvel (arts. 530 a 533).
▪ Lei 6.105/73 (Lei dos Registros Públicos): segue
parcialmente o sistema alemão, por considerar que só assento
presume a propriedade (só o registro transfere o domínio da
propriedade imobiliária); no entanto, aqui a presunção de
propriedade é apenas juris tantum (princípio da fé pública), e
não absoluta como no sistema alemão; instituiu a
obrigatoriedade e a unicidade da matrícula; determinou a
necessidade de perfeita identificação das partes e dos bens
sujeitos a registro (princípio da especialidade subjetiva e
objetiva); aprimorou o processo de retificação (atualizado
recentemente pela Lei 10.931/2004).
QUADRO FUNDIÁRIO 2 – REPÚBLICA
- PROPRIEDADES PÚBLICAS:
a) Bens de uso comum do povo (NÃO POSSUEM
REGISTRO/INDIVIDUALIZAÇÃO)
b) Bens de uso especial (REGISTRO DE IMÓVEIS)
c) Bens dominicais (REGISTRO DE IMÓVEIS)
- PROPRIEDADES PRIVADAS
(REGISTRO DE IMÓVEIS)
1.3 Registro Civil de Pessoas Naturais
▪ Os primeiros registros existentes no Brasil, durante o período
colonial e no início do período imperial, eram de atribuição da
Igreja Católica, à época a religião oficial do estado. Os livros
de registro de batismos, casamentos e óbitos ocorridos no
território brasileiro durante este período encontram-se
atualmente nos arquivos da Cúrias Metropolitanas.
▪ O art. 16 da Lei 8.159/91 estabelece que os registros civis de
arquivos de entidades religiosas produzidos antes da vigência
do Código Civil de 1916 são de interesse público e social.
▪ O sistema de Registro Paroquial, no entanto, tornou-se
inócuo após o início da imigração e o processo de abolição da
escravatura no Brasil. Muitos imigrantes professavam outras
religiões, assim como boa parte dos escravos libertos, que
não seguiam a religião católica.
▪ Lei 1.144/1861: criou o registro civil de nascimentos,
casamentos e óbitos das pessoas não católicos, que eram
feitos em livros próprios dos escrivães dos Juízos de Paz
▪ Decreto 5.604/1874: criou os cartórios de Registro Civil das
Pessoas Naturais, então a cargo do Escrivão do Juizado de
Paz em cada freguesia do Império (os livros desse período
continham todo tipo de pessoa, imigrantes, indigentes,
libertos, alienados e até condenados)
▪ Lei 6.015/73 (Lei dos Registros Públicos): estabelece que
os serviços de registros públicos ficarão a cargo de
serventuários privativos nomeados de acordo com o
estabelecido nas Leis de Organização Administrativa e
Judiciária do Distrito Federal e nas Resoluções sobre a divisão
e Organização Judiciária dos Estados (art. 2º), devendo o
registro de nascimentos, casamentos e óbitos ficarem a cargo
de um ofício privativo
▪ Constituição Federal 1988: dispõe que os serviços de
Registro Civil das Pessoas Naturais serão exercidos por
delegação do Poder Público, em caráter privado (art. 236).
▪ Lei 8.935/1994: estabelece que em cada sede municipal
deverá haver um Oficial de Registro Civil das Pessoas
Naturais, e nos municípios de significativa extensão territorial,
haverá um Oficial em cada sede distrital (art. 44, §§ 2º e 3º).
2. A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E A
REGULAMENTAÇÃO DA ATIVIDADE
NOTARIAL E REGISTRAL
(LEI 8.935/94 E LEI 10.169/2000)
▪ O art. 236 da Constituição Federal de 1988 estabelece que os
serviços notariais e de registro serão exercidos em caráter
privado, por delegação do Poder Público
▪ Dispõe, ainda, que o ingresso na atividade notarial e de
registro depende de concurso público de provas e títulos,
não se permitindo que qualquer serventia fique vaga, sem
abertura de concurso de provimento ou de remoção por mais
de seis meses
▪ A delegação da atividade se dá por ato administrativo
complexo, através do qual a Administração Pública atribui a
ente privado serviços que lhe seriam próprios:
Aprovação em
Concurso Público Investidura Outorga Exercício
▪ O Tabelião e o Registrador não são servidores públicos, mas
sim agentes públicos, não se submetendo, portanto, a
estágio probatório e aposentadoria compulsória. Segundo
CARVALHO FILHO, são eles “colaboradores do Poder
Público, muito embora não sejam ocupantes de cargo público,
mas sim agentes que exercem, em caráter de definitividade,
função pública sujeita a regime especial” (Manual de Direito
Administrativo, 20 ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008).
▪ A delegação dos serviços notariais e registrais tem, como se
nota, caráter personalíssimo (não é possível a subdelegação
e nem a permuta de delegações)
▪ Os Tabeliães e Registradores são, portanto, particulares que
recebem, após aprovação em concurso público, a
incumbência de execução de um serviço público e o realizam
“em nome próprio, por sua conta e risco, segundo as normas
do Estado e sob a permanente fiscalização do delegante”
(HELY LOPES MEIRELLES, Direito Administrativo Brasileiro,
26. ed., São Paulo: Malheiros, 2001)
▪ Pelas razões acima, o gerenciamento administrativo e
financeiro dos serviços notariais de registro é da
responsabilidade exclusiva do respectivo titular, inclusive no
que diz respeito às despesas de custeio, investimento e
pessoal
2.1 Regulamentação da Atividade:
a) A Lei 8.935/94 (Lei dos Notários e Registradores)
regulamentou o art. 236 da CF, dispondo sobre a natureza e
os fins dos serviços notariais e de registro, dos titulares dos
serviços e seus prepostos (escreventes e auxiliares), das
atribuições, do ingresso na atividade, da responsabilidade
civil e criminal, das incompatibilidades e dos impedimentos,
dos direitos e deveres, das infrações disciplinares e
penalidades, da fiscalização pelo Poder Judiciário, da
extinção da delegação e da seguridade social;
b) Já a Lei 10.169/2000 regulamentou o §2º do art. 236 da CF,
estabelecendo normas gerais para a fixação de
emolumentos; tendo em vista a estrutura federativa do país,
a imensa extensão territorial do país e as peculiaridades
locais, cada unidade da Federação (Estados e Distrito
Federal) define por lei estadual (ou distrital) os emolumentos
a serem aplicados.
Obs: Provimento nº 29/16 (Emolumentos) e Provimento nº
38/2014 (Consolidação dos Atos Normativos) - CGJEGO
3. NATUREZA E FINS DOS
SERVIÇOS NOTARIAIS E DE
REGISTRO
3.1 Natureza Jurídica
▪ Como dito anteriormente, a atividade notarial e registral tem
natureza jurídica de serviço público, ainda que prestada em
caráter privado
▪ Os serviços em questão são delegados a profissionais do
direito dotados de fé pública (art. 3º, Lei 8.935/94). Em razão
disso, os atos emanados dos serviços notariais e registrais
(assim como dos demais serviços públicos), gozam de
presunção relativa de veracidade
▪ Em resumo, os serviços notariais e de registro são serviços
públicos exercidos em caráter privado por um profissional do
direito em razão de delegação, organizados técnica e
administrativamente
3.2 Fins dos Serviços
▪ O art. 1º da Lei 6.015/73 dispõe que os serviços concernentes
aos registros públicos tem como finalidade garantir
“autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos”
▪ O art. 1º da Lei 8.935/94 define como fins dos serviços
notariais e registrais “garantir publicidade, autenticidade,
segurança e eficácia dos atos jurídicos”
3.2.1 PUBLICIDADE
A publicidade é a divulgação oficial do ato para conhecimento
público e início de seus efeitos externos. A publicidade, nas
palavras de EDUARDO PACHECO RIBEIRO DE SOUZA visa
atribuir segurança às relações jurídicas, permitindo a qualquer
interessado que conheça o teor do acervo das serventias
notariais e registrais (Noções fundamentais de Direito
Registral e Notarial. Série Direito Registral e Notarial. São
Paulo: Saraiva, 2011, p. 22)
A publicidade, no entanto, não é absoluta, e sofre algumas
restrições nos serviços registrais e notariais, vejamos:
a) Registro Civil das Pessoas Naturais:
- a certidão de nascimento de filhos havidos fora do
casamento não será fornecida com o teor da declaração ou da
averbação a esse respeito (art. 45, Lei 6.015/73);
- a averbação da alteração de nome em razão de sentença
judicial que reconheça fundada coação ou ameaça decorrente de
colaboração na apuração de crime, não constará das certidões
emitidas em relação ao mesmo registro (art. 57, §7º, Lei
6.105/73);
- alteração de prenome e gênero de transexuais (art. 5º,
Provimento 73/2018, CNJ);
- as certidões de nascimento lavradas em virtude de
sentenças concessivas de adoção (de menor de idade) ou em
que haja averbação nesse sentido (adoção de maior de idade)
serão fornecidas sem qualquer menção ao mandado judicial ou à
sua origem (parágrafo único, art. 95, Lei 6.105/73).
Obs: em todos esses casos, somente será fornecida certidão de breve relatório; a
expedição de certidões de inteiro teor (constando as alterações em questão),
somente podem ser concedidas com autorização judicial (§3º, art. 19, Lei 6.015/73)
b) Tabelionato de Protestos
- Certidões de protestos cancelados só podem ser
fornecidas ao próprio devedor ou por ordem judicial (art.
27, §2º, Lei 9.492/97)
c) Tabelionato de Notas
- As certidões de escrituras públicas de testamentos,
enquanto não comprovado o falecimento do testador,
deverão ser expedidas apenas a seu pedido ou de seu
representante legal, ou ainda, mediante ordem judicial
Obs: entendimento preconizado nas Normas de Serviço
das Corregedorias Gerais de Justiça dos Estados de São
Paulo, Paraná, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul;
entende-se que o testamento é público em razão da forma
de sua lavratura, mas não em relação ao conhecimento do
seu conteúdo
3.2.2 AUTENTICIDADE
A autenticidade é a qualidade do que é confirmado por um ato de
autoridade, criando presunção juris tantum de veracidade,
legalidade e legitimidade, isto é, os atos praticados por
tabeliães e oficiais de registro são considerados regulares e
legais enquanto não forem desconstituídos por decisão judicial
amparada em prova conclusiva que venha a atestar a sua
falsidade, irregularidade ou desvio de finalidade.
Vale ressaltar que a autenticidade não se refere ao negócio
causal ou ao fato que dão origem ao ato praticado, mas
exclusivamente sobre o ato notarial ou registral.