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ORGANIZAÇÃO DE SERVIÇOS
EXTRAJUDICIAIS
AULA 2

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Prof. Ronny Carvalho da Silva

CONVERSA INICIAL

Estudaremos a diferença que há entre os tipos de serviços extrajudiciais, falaremos sobre como

são desenvolvidas as atividades notariais e de registros públicos no direito comparado e trataremos

dos aspectos históricos desses serviços.

É necessário, ainda, que compreendamos em essência a diferença entre os serviços notarial e


registral, para que, assim, mais adiante, possamos nos aprofundar nas atribuições de cada um dos

serviços extrajudiciais, seja no campo do notariado, seja no campo registral.

Também faremos uma incursão na história da atividade notarial e registral, visando conhecer suas

origens, bem como analisaremos o direito comparado para conhecer como os serviços notariais e

registrais são desenvolvidos.

TEMA 1 – DEFININDO O QUE SÃO OS SERVIÇOS NOTARIAIS

O serviço notarial, ou serviço de notas, é o serviço extrajudicial pelo qual é realizada a

formalização jurídica da manifestação da vontade humana para fins de constituição, modificação ou


extinção de obrigações, direitos e deveres jurídicos. Como vimos, certos atos da vida em sociedade

são considerados relevantes para o direito, assim devem ser controlados por meio do sistema de
registros públicos e da atuação do registrador. Também, para a eficácia de certos atos, fatos ou

negócios jurídicos, devem se submeter previamente ao crivo do Poder Público, pela atuação do
serviço notarial por meio do trabalho do tabelião de notas.

Exemplo disso é a transferência da propriedade imóvel, visto que, uma vez estabelecido o acordo
de vontades entre os contratantes, para que o negócio seja plenamente eficaz e possa produzir os

efeitos jurídicos que se esperam, qual seja, a efetiva transferência da propriedade imóvel, é preciso
que tal manifestação seja feita perante o notário. Este avaliará as condições e os requisitos da

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negociação, conferindo se estão presentes todos os elementos necessários e exigidos na lei, como a

capacidade das partes e a ausência de direitos de terceiros que estejam sendo violados, se o negócio
é lícito e se não há vícios do consentimento. A partir do momento em que verifica que as condições e

os requisitos do negócio estão presentes, o notário formaliza a vontade das partes por meio da

confecção de um documento chamado escritura pública.

O serviço notarial também tem a atribuição de “autenticar fatos”, cabendo ao notário atestar a
veracidade de uma assinatura colocada em um documento ou, ainda, atestar que a cópia de um

documento está em conformidade com o original. É importante salientar que o notário não está

adstrito a atestar a veracidade apenas de uma assinatura ou autenticação de uma cópia, mas pode

atestar a veracidade de qualquer fato que se coloque à sua apreciação. Tal atestado de veracidade é
formalizado por meio de um documento chamado ata notarial.

Insere-se, ainda, como serviço notarial o protesto de títulos de crédito (cheques, notas

promissórias e duplicadas, dentre outros), cujas atribuições e as demais características serão

apresentadas adiante.

O serviço notarial é regido no Brasil precipuamente pela Lei n. 8.935, de 18 de novembro de

1994. Ao titular de um serviço notarial é atribuído o título de tabelião de notas ou, simplesmente,

notário, ao passo que ao titular de um serviço de protestos de títulos é atribuído o designativo de

tabelião de protestos de títulos.

TEMA 2 – DEFININDO O QUE SÃO OS SERVIÇOS REGISTRAIS

Com relação ao serviço registral, é formado por uma série de ofícios ou serventias, cabendo a
cada uma delas o registro de determinados atos e fatos da vida em sociedade. Os registros públicos

detêm uma legislação específica, qual seja, a Lei n. 6.015, de 31 de dezembro de 1973, e são os
seguintes os serviços concernentes aos registros previstos na referida norma: a. registro civil das

pessoas naturais; b. registro civil das pessoas jurídicas; c. registro de títulos e documentos; e d.
registro de imóveis. Há, também, o serviço de registro de distribuição previsto na Lei n. 8.935/1994.

Conforme vimos, o serviço notarial tem por finalidade principal a formalização e materialização
da vontade das partes envolvidas em um negócio, bem como tem, ainda, a função de atestar fatos,

dando-lhes presunção de verdade e conferindo-lhes autenticidade (como no reconhecimento de uma

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firma ou na autenticação de uma cópia de documento). Por sua vez, o serviço de registro tem como

tarefa primordial controlar atos e fatos considerados relevantes em uma sociedade e, portanto,

juridicamente relevantes, assegurando-lhes a perpetuidade e a continuidade das informações.

Com vistas à garantia dessa perpetuidade e continuidade das informações, cabe ao serviço
registral a manutenção de arquivos completos e fidedignos de todos os atos e fatos registrados ou

averbados, por meio do lançamento das informações, de modo definitivo, em livros especialmente
preparados para esse fim. Por óbvio, em virtude das novas tecnologias decorrentes da informatização,

houve uma modernização na forma e nos métodos registrais, visto que na atualidade há os registros

eletrônicos, os quais estão substituindo os registros manuais em livros, embora não se tenham ainda

excluído por completo os registros em papel.

Dessa forma, para que haja esse controle eficaz dos atos e fatos relevantes da vida social, a lei

estabelece que determinados acontecimentos da vida sejam levados a registro perante o serviço

registral. Assim ocorre em relação ao nascimento de uma pessoa, à sua morte, ao casamento ou à

aquisição de um imóvel, por exemplo. Nesse sentido, vejamos Loureiro (2016, p. 48):

[…] o registrador é o agente de um órgão ou instituição pensada e criada para tornar cognoscível de

todos os membros da comunidade determinados fatos e situações jurídicas de especial relevância.


Seja por repercutirem nas esferas jurídicas de todos, seja por serem essenciais para a segurança e o

progresso do tráfico jurídico e econômico, tais situações subjetivas devem ser acessíveis ao
conhecimento de todos os cidadãos.

Assim, o serviço registral objetiva propiciar a publicidade e o controle estatal de fatos jurídicos

relevantes, fatos esses que são reconhecidamente importantes para a vida social, dos quais decorrem

consequências jurídicas relevantes. Com efeito, há fatos que, embora digam respeito precipuamente
aos particulares envolvidos, necessitam ser publicizados, pois deles decorrem posições ou situações

jurídicas pessoais que precisam ser de conhecimento público, objetivando com isso a proteção a
possíveis violações a bens jurídicos tutelados pelo direito, como os direitos de personalidade (nome,

parentesco), a propriedade privada, a boa-fé, a família e o instituto do casamento, o crédito, entre


tantos outros bens jurídicos que são protegidos.

O registro público, embora encontre na Lei n. 6.015/1973 importante diploma normativo de


regulamentação da atividade, também é regulado no Brasil pela Lei n. 8.935/1994 e, ainda que

superficialmente, pelo Código Civil Brasileiro (Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002).

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Cumpre esclarecer que o titular de um serviço registral, que é o registrador, tem designação na

lei de oficial registrador, sendo esta, portanto, a terminologia adequada para designar o detentor da

titularidade de um serviço de registros públicos.

TEMA 3 – HISTÓRIA DOS SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS NO


BRASIL

Logo que a esquadra de Pedro Álvares Cabral aportou, ocorreu o primeiro registro público no

Brasil, visto que daqui o então escrivão da Coroa portuguesa redigiu o relato acerca das novas terras

descobertas, que, a partir de então, passaram à propriedade da Coroa de Portugal.

Conforme relata Aquino, Santos e Oliveira (2014), “Com a descoberta das novas terras e segundo

o Tratado de Tordesilhas, o rei de Portugal, adquiriu o título originário da posse sobre todo o

Território”.

A partir daí, considerando o interesse de outros reinos no território descoberto, como os

franceses, holandeses e espanhóis, a Coroa portuguesa decidiu assegurar sua posse por meio da

concessão do território a particulares, que haveriam de cuidar e defender suas faixas de terra da

ameaça da invasão.

Assim, tem-se que foram divididas as faixas de terras, iniciando as sesmarias, por meio das

capitanias hereditárias. Nesse sentido:

A Coroa portuguesa optou, então, em 1534, por dividir a faixa portuguesa do território americano

demarcado pelo Tratado de Tordesilhas em 15 lotes – capitanias hereditárias –, que foram entregues
a 12 donatários escolhidos entre altos funcionários e membros da pequena nobreza com condição

de bancarem eles mesmos a ocupação da terra (Mesgravis, 2015, p. 19-21, grifo da autora)

A concessão das terras ocorria por meio das cartas de sesmarias, e a partir daí iniciou-se,
propriamente dita, a disseminação dos registros públicos no Brasil, conforme salienta Aquino, Santos

e Oliveira (2014):

Os documentos mais antigos das capitanias datam de 1534. Esses registros de terras apresentam

informações, sobre o local onde as pessoas viviam e, frequentemente, revelam dados pessoais e

familiares, se a propriedade foi herdada, doada ou ocupada, quais os seus limites, se havia
trabalhadores e como era constituída a mão de obra, em que região ficava tal propriedade, entre

outras informações.

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A partir de então, surge no país o sistema de registros públicos e notariais, o qual passa a ser

exercido pela igreja católica, considerando que, à época, era a religião oficial do Império, havendo

uma estreita e intensa cumplicidade na relação Estado-igreja, podendo esta ser até mesmo

considerada como um órgão do Estado.

Todas as posses e sesmarias formadas foram legitimadas em registros públicos realizados nas

paróquias locais. A Igreja nesse período da Colônia encontrava-se unida oficialmente ao Estado.
Dessa forma, eram os vigários ou párocos das Igrejas que faziam os registros das terras ou de

certidões de nascimento, casamento, entre outras.

Nessa esteira, as paróquias e freguesias, embora instituídas pela Igreja, tornaram-se locais para a

organização das instituições de poder ao longo da Colônia e do Império. Dessa maneira, a freguesia
como circunscrição eclesiástica que forma a paróquia, sede de uma igreja paroquial, auxiliou

também para a administração civil. Ser freguesia, era ganhar status, tornar-se importante no

contexto político, usufruindo, os fregueses e seu vigário, de prerrogativas e atribuições que lhes
certificavam prestígio e determinada margem de autonomia, atributos anteriormente pertencentes

àqueles de quem se era subordinado. (Diniz, 2005)

Note-se que esse sistema de registros públicos e atividade notarial manteve-se por muito tempo

no país, decorrente do sistema que já era empregado em Portugal desde idos da Idade Média. Com

efeito, desde o século XIII, é possível a identificação clara de uma atividade notarial em território

português baseada em múltiplas fontes de legitimação da atividade, seja de ordem real (régia) ou de

ordem episcopal (eclesiástica), conforme salienta Gomes (2000).

Para outros historiadores, o sistema notarial de Portugal foi um dos primeiros a surgirem na

Europa medieval, já com indicações de sua existência organizada desde o século XII. Nesse sentido,
“[...] o tabelionado público português, cuja data de origem permanece incerta – situando a

historiografia atual entre as últimas décadas do século XII e as primeiras do século seguinte, – foi o
mais precoce dos restantes reinos peninsulares e de muitos outros reinos europeus” (Gonçalves, 2011,

p. 143).

Observando os documentos históricos, Gomes salienta que a origem propriamente dita dos
serviços notariais esteve ligada sim à Igreja: “Os primeiros tabeliães parece terem exercido o seu

officium dentro de uma organização curial, a qual lembra, não como cópia exacta [sic] ou muito
perfeita, mas por imitação aproximada, os esquemas orgânicos do notariado italiano nos séculos
pleno-medievos” (Gomes, 2000, p. 256).

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Mas é no ano de 1305, mais precisamente no dia 15 de janeiro, que há o surgimento expresso de

uma regulamentação régia para a atividade notarial e de registros públicos, consistente no regimento
dos tabeliães de 1305. Nesse sentido, conforme Gonçalves (2011, p. 145): “O Regimento de 1305 é, de

fato, a compilação, como parece disso tratar-se, legislativa portuguesa mais antiga que se conhece
relativamente ao tabelionado”.

No Brasil, a primeira legislação que pode ser considerada um marco para a atividade notarial e de
registros públicos foi a Lei n. 601, de 18 de setembro de 1850, e o seu regulamento por meio do

Decreto n. 1.318, de 30 de janeiro de 1854, em que D. Pedro I trata pela primeira vez de regular o

registro imobiliário no Brasil. Por meio dessa legislação, “a Igreja Católica passou a obrigar a

legitimação da aquisição pela posse, através do registro próprio, passando a diferenciar as terras

públicas das terras privadas” (Aquino, Santos e Oliveira, 2014).

No referido Decreto n. 1.318/1854, houve a expressa regulamentação da forma dos registros dos

imóveis. Vejamos:

Art. 91. Todos os possuidores de terras, qualquer que seja o titulo de sua propriedade, ou possessão,

são obrigados a fazer registrar as terras, que possuirem, dentro dos prazos marcados pelo presente
Regulamento, os quaes se começarão a contar, na Côrte, e Provincia do Rio de Janeiro, da data

fixada pelo Ministro e Secretario d'Estado dos Negocios do Imperio, e nas Provincias, da fixada pelo
respectivo Presidente.

[…]

Art. 97. Os Vigarios de cada huma das Freguezias do Imperio são os encarregados de receber as

declarações para o registro das terras, e os incumbidos de proceder á esse registro dentro de suas
Freguezias, fazendo-o por si, ou por escreventes, que poderão nomear, e ter sob sua

responsabilidade.

[…]

Art. 103. Os Vigarios terão livros de registro por elles abertos, numerados, rubricados e encerrados.
Nesses livros lançarão por si, ou por seus escreventes, textualmente, as declarações, que lhes forem

apresentadas, e por esse registro cobrarão do declarante o emolumento correspondente ao numero

de letras, que contiver hum exemplar, a razão de dois reaes por letra, e do que receberem farão
notar em ambos os exemplares (Brasil, 1854)

Por meio da Lei n. 3.071, de 1º de janeiro de 1916, instituiu-se o Código Civil dos Estados Unidos

do Brasil, o qual tratou, ainda que não detalhadamente, dos registros públicos, sendo que mais tarde
houve a reorganização dos registros públicos por meio do Decreto do Poder Legislativo n. 4.827, de 7

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de fevereiro de 1924, o qual foi substituído pela Lei n. 6.015, de 31 de dezembro de 1973, em vigor

até a atualidade, com as devidas alterações posteriores.

TEMA 4 – SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS NO DIREITO


COMPARADO

Em muitos países, o serviço notarial e de registros públicos não encontra uma regulação tão
rígida e detalhada como verificamos no Brasil, a qual busca uniformização em todo o vastíssimo

território nacional das práticas registrais e notariais.

Nos Estados Unidos, por exemplo, bem como em grande número dos países de tradição anglo-

saxônica, não se exige, por exemplo, que sejam prestados concursos públicos e que haja a titularidade

de serventias com exclusividade, sendo que, em muitos casos, sequer se exige que haja formação

jurídica do notário ou registrador, ficando a cargo de particulares com autorização do governo essas

tarefas, muitas vezes desempenhadas por meio de funcionários de hospitais, departamentos de

trânsito, advogados e prefeituras (Ferreira; Rodrigues, 2016).

Em muitas localidades nos Estados Unidos, os registros públicos são realizados pela

administração das divisões administrativas chamadas counties, que tratam de promover os registros e

emitir as certidões de nascimento e óbito (birth & death certificates) ou casamento (marriage
certificates), por exemplo.

No Estado da Flórida, há uma prova para ingressar no serviço notarial a ser elaborada pelo
Secretário de Estado, sem nenhuma limitação territorial para que o profissional atue. Ao que parece,

há uma aproximação maior do sistema adotado naquele estado norte-americano com o sistema
conhecido por nós no Brasil, tanto que para ser notário lá também se exige que o candidato conclua

um curso específico em notariado, tenha idade a partir de 18 anos e bons antecedentes, podendo a
função ser ocupada por residentes legais, independentemente da nacionalidade.

Conforme salienta Stancati (2016, p. 102):

O Sistema de Notariado Americano, baseado no Sistema Anglo-saxão, é composto por dois atores

sociais chamadas de Civil Law Notaries ou Latin Notaries e o Notary Public . São figuras com
atribuições diversas que não se confundem nem interferem uma na outra, podendo o trabalho de

uma complementar a da outra trazendo melhor segurança ao ato.

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Sobre os civil law notaries, explica Stancati (2016, p. 102):

Esta função, que lembra o tabelliones romano, típico dos países de Civil Law é exercida por

advogados, estabelecidos em associação de advogados ou unitariamente (private pratice), atuando


na área do direito privado, não contencioso, ou seja, não levam essas questões ao Tribunal (Court),

exercendo na sua função de rascunhar, redigir e arquivar a versão final de instrumentos jurídicos
para as entidades privadas ou pessoas físicas, prestando-lhe, também, o aconselhamento jurídico.

Já em relação aos chamados notary public, esclarece:

É um funcionário nomeado pelo governo estadual, com investidura por tempo determinado

(geralmente de quatro a sete anos) cuja função é servir ao público em geral como uma testemunha
imparcial dos documentos importantes que são assinados em sua presença. Seus poderes e

qualificações são diversos do Civil Law Notary e mais limitados. Eles não necessitam ter formação
jurídica, não podem preparar os documentos e instrumentos nem auxiliar com conselhos legais as

partes. A fé pública de seus atos se restringe a autenticação da assinatura e da data. (Stancati, 2016,

p. 104)

É interessante notar que nos Estados Unidos há um esforço para a busca da unidade e da

uniformidade dos serviços notariais. Lá, existe a American Society of Notaries, uma associação privada

que promove cursos e treinamentos para a classe notarial em todo o território nacional. Acesse a

página da referida entidade na aba How to become a notary[1], na qual há uma explicação detalhada

acerca da seleção e do trabalho dos notários nos Estados Unidos.

Em Portugal, o sistema se aproxima do nosso: há uma classe de notários e outra de registradores.

Os notários correspondem a uma categoria de profissionais liberais que atuam sob a delegação do
Poder Público. No ano de 2004, houve a privatização da atividade notarial, a qual passou a ser

desenvolvida em caráter privado. Os notários possuem um órgão de classe, a Ordem dos Notários,
cuja criação veio com a privatização da atividade. Assim, na atualidade, o referido órgão de classe

atua como agente de fiscalização do exercício profissional e representa os notários portugueses. Para
ser notário em Portugal, é preciso ser formado em direito; frequentar um estágio notarial com

duração de 18 meses, no qual o candidato atua junto a um notário; e ser aprovado em concurso
público. Interessante para conhecimento o acesso à página da Ordem dos Notários em Portugal,

disponível em: <http://www.notarios.pt/OrdemNotarios/pt>.

Já com relação aos registros públicos, a atividade é desenvolvida nos chamados Conservatórios, e

há uma entidade da Administração Indireta que é responsável pelos registros públicos em Portugal, o

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Instituto dos Registos [sic] e do Notariado, cuja sigla é IRN,IP, que significa Instituto dos Registos e do

Notariado, Instituto Público. Sua por atribuição, nos termos da lei portuguesa, é:

[…] executar e acompanhar as políticas relativas aos serviços de registo, tendo em vista assegurar a

prestação de serviços aos cidadãos e às empresas no âmbito da identificação civil e do registo civil,
de nacionalidade, predial, comercial, de bens móveis e de pessoas coletivas, bem como assegurar a

regulação, controlo e fiscalização da atividade notarial. (Portugal, 2012)

Assim, o IRN, IP tem a função de execução das atividades de registros públicos, por meio das

conservatórias com funcionários públicos, além de regular e fiscalizar a atividade notarial, que, como

visto, foi privatizada naquele país no ano de 2004. Sobre o referido instituto, indicamos a consulta de
sua página na internet, disponível em: <https://www.irn.mj.pt/sections/inicio/>.

TEMA 5 – OS DESAFIOS DA ERA DIGITAL PARA OS SERVIÇOS


REGISTRAIS E NOTARIAIS

Na atualidade, diante dos recursos da tecnologia e da informática, parece-nos que seja a

legislação de regência um tanto quanto anacrônica ao determinar que a escrituração seja toda feita

por meio de papéis e livros. A legislação atual já permite que seja adotada na serventia uma

escrituração por meio do chamado registro eletrônico, abolindo a utilização dos papéis e livros na sua

atividade registral. Contudo, o que se tem hoje é que esta opção ainda não pode ser exercida na sua

inteireza pelo notário ou registrador em virtude de certas determinações emanadas do Conselho


Nacional de Justiça e das respectivas Corregedorias do Foro Extrajudicial dos Tribunais de Justiça
estaduais, considerando que tais órgãos de fiscalização e controle da atividade extrajudicial ainda não

autorizam que se adote uma escrituração totalmente digital, pelo chamado registro eletrônico.
Contudo, a tendência é a transformação da atividade em 100% digital.

É importante tecermos aqui algumas considerações sobre conceitos básicos, mas necessários à
correta referência aos serviços prestados pelas serventias, no que se refere ao tipo de escrituração

adotada. Conforme lembra Debs (2018, p. 43), a escrituração adotada poderá ser o “registro
eletrônico”, a “escrituração eletrônica” e a “escrituração mecânica”.

O registro eletrônico é a escrituração 100% digital, ou seja, sem a impressão dos atos em fichas
ou em livros físicos. Por sua vez, a escrituração eletrônica utiliza-se de ferramentas da tecnologia,

contudo os atos são impressos em fichas que, posteriormente, são encadernadas em livros físicos. Já a

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escrituração mecânica é aquela em que não se utilizam ferramentas informatizadas. Conforme nos

lembra Debs (2018), a mera utilização de editor de texto não descaracteriza a modalidade de
escrituração como mecânica.

Assim, na escrituração sob a modalidade de registro eletrônico, há abolição completa do uso dos
recursos físicos do livro e do papel, sendo que os atos registrais e notariais passam a ser praticados

por meio totalmente digital.

Na legislação já há autorização para adoção dessa modalidade de escrituração 100% digital, na

medida em que, nos termos do art. 37 da Lei n. 11.977, de 7 de julho de 2009, foi determinada a

instituição de um sistema de registro eletrônico. A referida lei incluiu o parágrafo único ao art. 17 da

Lei de Registros Públicos para o fim específico de permitir o registro eletrônico quando da emissão e

envio de certidões que tramitarão por meio da internet, devendo o documento receber uma

assinatura digital por certificação digital.

Por sua vez, a Lei n. 13.105, de 16 de março de 2015, que instituiu o Novo Código de Processo

Civil, prevê expressamente em seu art. 193, parágrafo único, que os atos notariais e de registro

podem ser totalmente digitais, abrangendo, portanto, sua produção, comunicação, armazenamento e

validação.

Por fim, a Lei n. 13.465, de 11 de julho de 2017 (conversão da Medida Provisória n. 759/2016),
trouxe a instituição da figura do Operador Nacional do Sistema de Registro Eletrônico de Imóveis
(ONR). A respeito da regulamentação do registro eletrônico, o CNJ já emitiu diversos regulamentos de

sua utilização no âmbito de diferentes serviços registrais, dentre os quais destacamos:

Provimento n. 47, de 19 de junho de 2015 – estabelece diretrizes gerais para o sistema de


registro eletrônico de imóveis.

Provimento n. 48 de 16 de março de 2016 – estabelece diretrizes gerais para o sistema de


registro eletrônico de títulos e documentos e civil das pessoas jurídicas.

Resolução n. 228 de 22 de junho de 2016 (alterada pela Resolução n. 247/2018 e pela Resolução
n. 302/2019) e provimento n. 62, de 14 de novembro de 2017, que tratam dos procedimentos

de apostilamento, no qual se verifica a criação de um sistema eletrônico de informação e


apostilamento, com a emissão de apostila obrigatoriamente em meio eletrônico.

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Por sua vez, as Corregedorias do Foro Extrajudicial dos respectivos Tribunais de Justiça

estabelecem, também no âmbito de suas respectivas competências, o registro eletrônico. Cite-se a

título de exemplo o Código de Normas da Corregedoria-Geral da Justiça do Tribunal de Justiça do

Estado do Paraná, o qual regulamenta no âmbito do Estado do Paraná a sua Central Eletrônica de

Registro Imobiliário, bem como o Sistema de Registro Eletrônico de Títulos e Documentos e Civil de

Pessoas Jurídicas. A respeito, destacamos a anotação da regra inserta no art. 24 do referido código de

normas, o qual estabelece que os arquivos das serventias “poderão ser mantidos digitalizados e
gravados eletronicamente” (Paraná, 2013).

Contudo, a regulamentação proposta pelos Tribunais de Justiça dos estados e pelo CNJ contraria
o espírito da lei, pois, como visto, a própria legislação autoriza a utilização do registro eletrônico, de

modo a se abandonar em definitivo a impressão de papéis e seu arquivo em livros físicos. No entanto,

conforme verificamos dos regulamentos expedidos pelo CNJ, ainda que a serventia adote o registro

eletrônico, devem ser impressos e arquivados em livros, conforme, por exemplo, vemos nos arts. 6º

do Provimento n. 47/2015 e do Provimento n. 48/2016, nos quais se estabelece que a escrituração em

livros, tal como exigido na LRP, deve ser mantida.

Conclui-se, assim, que, na verdade, as serventias trabalham sob a modalidade da escrituração

eletrônica, então não pode ser falado, ainda, que já há efetivado no país o sistema de registro

eletrônico.

A título de informação complementar, tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei n.


7920/2017, o qual, se aprovado e convertido em lei, reconhecerá idêntico valor legal ao documento
eletrônico digitalizado, dispensando-se a conservação dos originais físicos. Acesse o projeto em: <htt

p://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2142105>.

NA PRÁTICA

Conforme visto, a atualidade exige que a atividade notarial e registral seja desenvolvida cada vez
mais com uso das ferramentas da tecnologia da informação, com integração dos serviços por meio de

sistemas que operam na rede mundial de computadores.

Certo tempo atrás, para obtenção de certidões, que são os documentos essenciais emitidos pelos

notários e registradores acerca dos atos praticados e registrados em suas serventias, o interessado

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deveria se dirigir ao balcão da unidade onde se achasse o registro. Tal situação gerava um grave

problema, pois nem sempre era possível saber onde determinado fato ou ato da vida civil foi

praticado ou registrado. Imaginemos como saber o local de nascimento de uma pessoa apenas tendo

como informação seu nome, por exemplo.

Na atualidade, a realidade é outra. No caso dos registros civis, por exemplo, foi instituída a

Central de Informações de Registro Civil das Pessoas Naturais – CRC, um sistema que interligou todas
as serventias registrais no país, bem como os consulados, que, no estrangeiro, praticam atos de

registro civil. Hoje, portanto, para obtenção de uma certidão acerca de um nascimento ou casamento,

por exemplo, é possível que a solicitação ocorra perante qualquer serventia no território nacional ou

perante os consulados no exterior, e a certidão extraída o será por meio eletrônico com o mesmo

valor e força jurídica.

FINALIZANDO

Nesta aula, pudemos compreender a diferença entre os serviços notarial e registral. Fizemos uma

incursão na história do notariado brasileiro, reconhecendo suas origens na atividade eclesiástica

ligada à igreja católica. Também estudamos um pouco sobre o direito comparado norte-americano e

português e os principais aspectos das atividades notarial e registral naqueles países. Por fim, restou

demonstrado o grande desafio da nova era para os serviços extrajudiciais: a implantação de um

serviço 100% digital.

REFERÊNCIAS

AQUINO, A. D. B.; SANTOS, J. A. B. dos; OLIVEIRA, L. A. G. A lei de terras e os registros

eclesiásticos de imóveis na história e historiografia: legitimações de posses, economia, poder e


mercantilização da terra em Minas Gerais no século XIX. In: 8º Fórum FEPEG – Universidade: saberes

e práticas inovadoras, 2014, Montes Claros. Anais do Evento. Disponível em:


<http://www.fepeg2014.unimontes.br/sites/default/files/resumos/arquivo_pdf_anais/resumo_expandi

do_pesquisa_fepeg_2.pdf>. Acesso em: 17 abr. 2020.

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