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06/02/24, 20:19 UNINTER

ORGANIZAÇÃO DE SERVIÇOS
EXTRAJUDICIAIS
AULA 3

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Prof. Ronny Carvalho da Silva

CONVERSA INICIAL

A organização dos serviços extrajudiciais passa pela divisão territorial dos serviços, com vistas à

fixação de uma competência territorial.

Nesta aula, trataremos de conhecer os principais textos normativos que devem ser de

conhecimento obrigatório de todos os que atuam nas serventias extrajudiciais e nos diversos tipos de
serviços notariais e de registros públicos. Assim, vamos estudar sobre a legislação aplicável aos

serviços extrajudiciais.

Também abordaremos a competência territorial dos serviços extrajudiciais, buscando trabalhar

conceitos básicos para compreensão da divisão territorial da atividade notarial e registral.

Especificamente, trataremos da regra da competência territorial aplicada aos serviços notariais.

TEMA 1 – A LEI N. 8.935/1994 – LEI DOS CARTÓRIOS

Conforme verificamos em aulas anteriores, a partir do estudo da Constituição Federal de 1988 é

que temos a organização dos serviços notariais e registrais no Brasil. A esse respeito, é importante
transcrevermos aqui o art. 236 e seu parágrafo 1º:

Art. 236. Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do
Poder Público.

§ 1º Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil e criminal dos notários, dos

oficiais de registro e de seus prepostos, e definirá a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciário.
(Brasil, 1988)

Podemos verificar que o texto constitucional determina que “lei regulará” as atividades notariais e
registrais. Assim, objetivando dar cumprimento à Constituição é que foi promulgada a Lei n. 8.935, de

18 de novembro de 1994, conhecida como Lei dos Cartórios. Trata-se de dispositivo de extrema

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relevância para o trabalho do notário e do registrador, pois nele estão fixados os pontos mais

importantes para a organização e a execução das atividades notariais e registrais nas serventias. Nesta
lei, também estão definidos os direitos e os principais deveres desses profissionais, mas que não

trataremos nesta disciplina.

Estabelece a referida lei que o notário e o registrador são dotados de fé pública. O que isso

significa? Vejamos: “Fé pública: Credibilidade ou legalidade conferida pela expressão dou fé, aposta
aos documentos públicos redigidos ou reconhecidos por serventuários públicos dos cartórios judiciais

e extrajudiciais” (Luz; Souza, 2015, p. 414, grifo nosso). Portanto, a chamada fé pública é uma

presunção de legalidade, credibilidade e veracidade aos fatos e atos, bem como aos documentos e às

manifestações dos notários e registradores. Podemos dizer que é o mais importante atributo
conferido pela lei aos oficiais de registro e tabeliães, visto que, por meio da fé pública, esses

profissionais podem desempenhar suas funções de atestar todos os fatos que lhes são colocados sob

análise. Por tal razão, a atividade do tabelião e do oficial de registro reveste-se de uma relevância

social e jurídica tão grande, pois são muito poucas as atividades jurídicas que possuem esse “poder”

de atestar, quase que incontestavelmente, a existência de fatos e acontecimentos da vida, bem como

a veracidade dos documentos que lhes são apresentados para análise (nesse sentido, por exemplo,

ocorre em uma autenticação de fotocópia ou em um reconhecimento de firma).

Conforme salienta Loureiro:

A fé pública pode ser definida como a autoridade legítima atribuída aos notários […] para que os

documentos que autorizam em devida forma sejam considerados como autênticos e verdadeiros,
até prova em contrário. Em outras palavras, a fé pública é verdade, confiança ou autoridade que a lei

atribui aos notários (e outros agentes públicos) no que concerne à verificação ou atestação de fatos,
atos e contratos ocorridos ou produzidos em sua presença ou com sua participação. […]

Por força deste princípio, os instrumentos públicos notariais somente podem ser tachados de nulos
ou falsos após um procedimento judicial que assim o declare. (Loureiro, 2011, p. 488)

A Lei n. 8.935/1994 fixa em seis horas o horário mínimo de atendimento diário dos serviços
registrais e notariais; nada impede, obviamente, que este seja estendido, desde que em conformidade
com o que estabelece a legislação local do estado a que esteja vinculado o serviço extrajudicial.

Estabelece ainda que o Registro Civil das Pessoas Naturais é prestado também aos sábados,
domingos e feriados, em regime de plantão.

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A norma legal ainda determina que o notário não pode exercer as atribuições fora do local para o

qual recebeu a delegação, ou seja, cada serviço notarial possui uma circunscrição territorial a qual

deve observar para sua atuação, portanto não pode o notário atuar fora do espaço territorial que lhe

foi permitido pelo Poder Público, contudo é interessante salientar que a escolha do notário pelas
partes é livre. Sobre este assunto, retomaremos logo mais adiante.

TEMA 2 – A LEI N. 6.015/1973 – LRP

Especificamente voltada aos serviços registrais e ao oficial de registro, a Lei n. 6.015, de 31 de

dezembro de 1973, conhecida como Lei dos Registros Públicos, estabelece as principais regras a serem

observadas no desenvolvimento da atividade registral no país. Portanto, seu conhecimento é

obrigatório para todos os que trabalham em uma serventia registral.

Como visto, o sistema registral no país se desenvolve por meio dos seguintes serviços: registro

civil das pessoas naturais; registro civil das pessoas jurídicas; registro de títulos e documentos; e

registro de imóveis. São chamados registros públicos no Brasil.

Nessa lei, há a regulamentação dos serviços registrais desenvolvidos pelas serventias

extrajudiciais; contudo, importa salientar que há outros serviços de registros públicos no Brasil
concernentes a outros tipos de registros, visando ao controle, à autenticidade e à segurança de atos

relacionados a diferentes ramos do direito e a outros fatos da vida. A exemplo disso, podemos citar o

registro mercantil, a cargo das juntas comerciais, a quem compete o registro dos atos constitutivos de

empresas ou sociedades empresariais; e o registro de veículos automotores, incumbência do

Departamento de Trânsito dos estados (Detran). Esses registros possuem as próprias leis para
regulamentar tais serviços.

Como já tivemos oportunidade de estudar, o sistema de registros públicos visa conferir, dentre
outros aspectos, a publicidade necessária dos atos e fatos que devam ser submetidos a registro.

Pudemos mencionar que a forma de efetivação da publicidade se dá mediante a expedição de


certidões – documentos por meio dos quais o registrador externaliza a informação que consta

registrada nos registros sob sua guarda e confiança. Assim, todas as vezes que obtemos uma certidão
de nascimento, por exemplo, o documento certidão refere-se ao registro de um nascimento contido

em um dos livros arquivados naquela serventia. Por meio dessa certidão, tornam-se públicas as
informações presentes ali.

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É importante sabermos que o art. 17 da Lei de Registros Públicos garante que a publicidade seja

ampla: “ Art. 17. Qualquer pessoa pode requerer certidão do registro sem informar ao oficial ou ao

funcionário o motivo ou interesse do pedido” (Brasil, 1973).

Podemos notar, portanto, que, pela lei, qualquer pessoa tem o direito de obter qualquer
informação desejada que está contida nos livros da serventia, sem a necessidade de justificar a razão

ou os motivos que a levam a esse gesto. Tal regra visa garantir a publicidade dos atos registrais e,
com isso, a proteção da segurança jurídica. Imaginemos que uma pessoa faleça, deixando patrimônio

para ser dividido entre os herdeiros, e que uma pessoa até então desconhecida a pareça e afirme ser

também herdeira. Nesse caso, a fim de verificar a veracidade das informações, qualquer dos herdeiros

terá o direito de acessar os registros de nascimento, obtendo a certidão respectiva a fim de


comprovar se o que se diz é verdade.

A Lei de Registros Públicos estabeleceu que não podem ser cobrados o registro de nascimento e

o de óbito, devendo ser entregue ao requerente uma certidão desse registro também de modo

gratuito. A regra é aplicável a todas as pessoas, independentemente da condição financeira; caso haja

necessidade de uma segunda via do documento, esta terá o respectivo custo. Já com relação aos

hipossuficientes economicamente, ou seja, aqueles que não têm condições financeiras de pagar,

todas as certidões a serem emitidas pela serventia registral são gratuitas.

Essa condição de pobreza (tecnicamente é correto falar em hipossuficiência econômica) que dá à

pessoa o direito de receber da serventia registral, de modo gratuito, todo o serviço pode ser provada

mediante simples declaração firmada pelo interessado. Portanto, o registrador não pode exigir
maiores comprovações do interessado que alega ser pessoa hipossuficiente economicamente,

devendo ser deferido o benefício da gratuidade sem maiores questionamentos.

A Lei n. 6.015/1973 estabelece como ocorre a escrituração, que nada mais é que a forma como
devem ser realizados os registros.

Escrituração é o ato realizado pelo oficial de registro, que, de maneira sistemática e metódica, com

base em regras dispostas em lei, lança nos livros da serventia, de forma definitiva, o registro e a
averbação de documentos para a garantia da publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos

atos e fatos jurídicos. (Roquetto, 2016, p. 166)

A Lei de Registros Públicos define as principais regras para esse trabalho sistemático e metódico

de escrituração. Conforme determina a norma, o serviço de escrituração deve ser feito por meio de

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“livros” – obviamente, admite-se hoje que isso ocorra de forma eletrônica, por meio de processos

informatizados, com base na utilização de softwares específicos, e que, após o registro eletrônico, são

impressos em folhas soltas e depois devidamente encadernadas para a formação dos livros.

Embora se avance cada dia mais no uso dos sistemas digitais de registro, o serviço extrajudicial
ainda não pode abandonar o sistema eletrônico, ou seja, aquele que prevê o uso de ferramentas

eletrônicas e informáticas, como programas para gerenciamento e elaboração de documentos e


armazenamento de dados, mas que necessariamente precisam ser impressos para armazenamento

físico perpétuo na serventia.

Ao tratar do registro das pessoas naturais, além de regular a escrituração e a ordem de serviço,

também o faz em relação ao registro de nascimento, da habilitação para o casamento e do

casamento propriamente dito, do registro do casamento religioso para fins de efeitos civis e do

casamento em iminente risco de vida. Trata também de regular o registro de óbito, a emancipação, a

interdição e a ausência, a legitimação da adoção, as anotações, as retificações, as restaurações e os

suprimentos.

Importante é a conceituação de naturalidade para fins do registro civil. Eis que o art. 54, em seu

parágrafo 4º, assim estabelece:

A naturalidade poderá ser do Município em que ocorreu o nascimento ou do Município de

residência da mãe do registrando na data do nascimento, desde que localizado em território


nacional, e a opção caberá ao declarante no ato de registro do nascimento. (Brasil, 1973)

Interessante que sempre houve a noção de que naturalidade seria apenas o local do nascimento,

mas, como se vê, a lei brasileira prevê que a naturalidade pode ser não só o local de nascimento,
como o local de residência da mãe. Conforme nos lembra Debs (2018, p. 288): “[…] a opção cabe à

pessoa que estiver declarando o nascimento”.

Também prevê a Lei de Registros Públicos ser dever do registrador que não registre nomes que

possam ocasionar situações vexatórias, devendo orientar os pais e, havendo irresignação destes,
encaminhar o caso para apreciação do juiz de direito, independentemente de pagamento de

emolumentos.

Com relação ao registro de óbito, este será feito pelo registrador do lugar do falecimento ou do

domicílio, sendo que nenhum sepultamento poderá ser feito sem prévio registro do óbito junto ao

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registro civil.

No que se refere ao registro civil das pessoas jurídicas, a Lei de Registros Públicos fixa quais

registros serão feitos por esse serviço:

Art. 114. No Registro Civil de Pessoas Jurídicas serão inscritos:

I - os contratos, os atos constitutivos, o estatuto ou compromissos das sociedades civis, religiosas,


pias, morais, científicas ou literárias, bem como o das fundações e das associações de utilidade

pública;
II - as sociedades civis que revestirem as formas estabelecidas nas leis comerciais, salvo as anônimas;

III - os atos constitutivos e os estatutos dos partidos políticos. (Brasil, 1973)

A respeito do registro civil das pessoas jurídicas, trataremos em aula específica.

O serviço de registro de títulos e documentos (RTD) possui uma competência residual, ou seja,

podem ser registrados perante este serviço todos os documentos que não sejam previstos como de

competência de outro serviço. Nesse sentido, dispõe o art.127, parágrafo único, da Lei de Registros

Públicos: “Caberá ao Registro de Títulos e Documentos a realização de quaisquer registros não

atribuídos expressamente a outro ofício” (Brasil, 1973).

Com efeito, explica Debs (2018, p. 521): “O Registro de Títulos e Documentos tem competência

para realizar quaisquer registros não atribuídos expressamente a outra Serventia. Dessa forma, sua

atribuição é subsidiária e sua competência residual, particularidade que distingue o RTD dos outros

Registros”. Estudaremos o registro de títulos e documentos em outra aula.

Uma boa parte desta lei é dedicada a regular a atividade de registros de imóveis. Nela, são

tratadas as atribuições do registro de imóveis, bem como da escrituração na serventia e do processo


de registro. Também se tratam as pessoas e os títulos, a matrícula imobiliária e o registro
propriamente dito, além da averbação e do cancelamento.

No que se refere ao registro de imóveis, ainda há a regulamentação do chamado bem de família,

sendo este o imóvel do casal ou de entidade familiar que de forma voluntária é constituído para fins
de proteção desse bem e com registro obrigatório no registro de imóveis.

Ainda sobre o registro de imóveis, a Lei de Registros Públicos trata da remição do imóvel
hipotecado, do registro torrens e do registro da regularização fundiária urbana.

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TEMA 3 – A LEI N. 9.492/1997 – LEI DE PROTESTOS

A Lei n. 9.492, de 10 de setembro de 1997, conhecida como Lei dos Protestos, é de suma

importância para os tabeliães do protesto de títulos, pois trata especificamente da atividade, define

competência e regulamenta todos os serviços que lhe correspondem, bem como outros documentos

de dívida.

Define-se protesto como “ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o

descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida” (Brasil, 1997).


Dessa forma, a atividade dos serviços notariais de protesto de títulos é de extrema importância no

contexto das relações empresariais, mercantis, comerciais e obrigacionais como um todo. A legislação

brasileira exige a comprovação da inadimplência em determinados casos, para que haja a chamada

constituição em mora, a partir do que surgem efeitos jurídicos decorrentes, ou seja, consequências do

inadimplemento das obrigações que resultam em aplicação de penalidades como juros, multa e

correções monetárias dos valores constantes dos títulos ou outros instrumentos de dívida. O protesto,

ademais, constitui-se por si só em consequência jurídica decorrente do inadimplemento da dívida.

São títulos de dívida, por exemplo, cheque, nota promissória, duplicata, e outros instrumentos

representativos de dívida, como um contrato ou a Certidão de Dívida Ativa emitida por União, estados

ou municípios, que se refere a débitos tributários e não tributários não adimplidos pelos

contribuintes.

Cabem ao serviço de protestos a protocolização do título, a intimação do devedor, o


recebimento da devolução ou do aceite, o recebimento do pagamento do título. Somam-se a isso as

tarefas de lavrar e registrar o protesto ou acatar a desistência do credor em relação a este, proceder
às averbações, prestar informações e fornecer as certidões relativas a todos os atos praticados (Brasil,

1997).

TEMA 4 – BASE TERRITORIAL DE ATUAÇÃO DOS SERVIÇOS


REGISTRAIS

A atividade extrajudicial é desenvolvida no âmbito de uma base territorial definida nos termos da
legislação do estado da federação. Basicamente, as serventias atuam circunscritas a uma região

delimitada de uma comarca, de um município ou de um distrito.

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Aos registradores civis e ao registrador de imóveis, aplica-se o chamado princípio da

territorialidade, segundo o qual, na execução de suas atividades, devem respeitar limites geográficos
estabelecidos pelas normas de organização do Estado.

As serventias registrais estão atreladas nos seus limites geográficos de atuação às chamadas
circunscrições. A respeito, vejamos o art. 12 da Lei n. 8.935/1994:

Art. 12. Aos oficiais de registro de imóveis, de títulos e documentos e civis das pessoas jurídicas, civis

das pessoas naturais e de interdições e tutelas compete a prática dos atos relacionados na
legislação pertinente aos registros públicos, de que são incumbidos, independentemente de prévia

distribuição, mas sujeitos os oficiais de registro de imóveis e civis das pessoas naturais às normas
que definirem as circunscrições geográficas. (Brasil, 1994)

Portanto, circunscrição é a região geográfica atribuída a cada um dos serviços registrais civis e de

imóveis. É a área onde podem atuar na prática dos atos registrais.

Nesse sentido, acerca de circunscrição da atividade registral, esclarece Orlandi Neto (2014, p.

1062):

Circunscrição é, exatamente, o território da atribuição de cada serventia. Uma comarca pode ter uma

ou mais circunscrições, de acordo com o seu tamanho e o número de municípios que abrange. As
divisas das circunscrições são definidas na mesma lei que cria os serviços registrais. As circunscrições

podem não ser contínuas, como ocorre comumente nas grandes cidades. Por vezes, a circunscrição
de um serviço registral abrange distritos não confinantes entre si e até distantes um do outro.

Portanto a circunscrição do serviço registral pode coincidir, ou não, com o distrito judiciário, não

havendo equivalência obrigatória. Tem-se, pois, que a organização e a divisão territorial dos serviços

extrajudiciais competem à lei de regência em cada um dos estados. Em cada município, há ao menos
um serviço registral e notarial, o qual, em municípios menores, pode haver o acúmulo dessas funções

notariais e registrais em um único serviço. Assim acontece porque geralmente as comarcas, que são a
organização dos serviços judiciais, tendo por base a extensão de território correspondente à jurisdição

de um juiz de direito, território este em que ele pode dizer o direito, podem ser formadas por mais de
um município, e cada um dos municípios de uma comarca compõem um distrito judiciário, de modo
que ao menos um serviço registral há neste distrito.

Vale ressaltar que a divisão do território nacional em municípios não guarda relação com a

divisão das circunscrições dos serviços registrais, mas é uma divisão política e administrativa
decorrente do modelo de federação adotado pela Constituição de 1988, a qual estabeleceu uma

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federação em três níveis ou esferas, colocando os municípios ao lado dos estados e da União na

formação do sistema federativo.

As comarcas e os distritos, por sua vez, são divisões de ordem administrativa para fins judiciários,

visando então a divisão da competência territorial da jurisdição, ou seja, da base territorial onde um
juiz de direito tem atribuições de dizer o direito e de julgar os litígios. Conforme leciona Luz (2014,

p.115), comarca é a “circunscrição territorial que abrange um ou mais municípios, onde o Poder
Judiciário desenvolve suas funções. Território que delimita o âmbito de atuação dos magistrados”.

Com relação aos distritos, são, portanto, as subdivisões da comarca e onde pode haver a

instalação de serviços registrais. Conforme salientado, a depender do tamanho do distrito judiciário,

pode haver a acumulação dos serviços registrais e notariais em uma única serventia. Nesse sentido,

disciplina o art. 26 da Lei n. 8.935/1994, segundo o qual:

Não são acumuláveis os serviços enumerados no art. 5º. Parágrafo único. Poderão, contudo, ser

acumulados nos Municípios que não comportarem, em razão do volume dos serviços ou da receita,
a instalação de mais de um dos serviços. (Brasil, 1994)

Dessa forma, verifica-se que a regra é que os serviços registrais não são acumuláveis, contudo,

em virtude dos motivos autorizativos do parágrafo único do referido art. 26, pode haver essa

acumulação entre os serviços registrais e os notariais. Verifica-se, pois, que, na prática, os distritos,

quando situados em pequenos municípios que integram uma comarca, possuem serviço notarial e

registral reunidos em uma única serventia, ao passo que, na sede da comarca, geralmente, há uma
serventia para cada serviço.

TEMA 5 – A COMPETÊNCIA TERRITORIAL DO SERVIÇO NOTARIAL

O que vimos foi que aos serviços de registro civil das pessoas naturais e registro de imóveis,
aplica-se o princípio da territorialidade por força do art. 12 da Lei n. 8.935/1994. Contudo, a mesma

regra não se aplica ao serviço notarial.

Verificamos que o serviço notarial não está adstrito a uma limitação geográfica para sua atuação,

por força do que dispõe o art. 8º da Lei n. 8.935/1994, segundo o qual “é livre a escolha do tabelião
de notas, qualquer que seja o domicílio das partes ou o lugar de situação dos bens objeto do ato ou

negócio” (Brasil, 1994). Tal dispositivo precisa ser lido em conjunto com o art. 9º da mesma lei, pois,

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conforme referido dispositivo legal, “o tabelião de notas não poderá praticar atos de seu ofício fora

do Município para o qual recebeu delegação” (Brasil, 1994).

Diante do cotejamento desses dois artigos da Lei n. 8.835/1994, é possível concluir que o notário

pode atuar livremente para prática de diligências notariais no âmbito do município onde esteja
situada a sua serventia, sendo que em suas notas podem ser formalizados atos ou negócios jurídicos

de pessoas ou de bens de qualquer lugar, sem se observar a vinculação territorial da residência das
partes ou do local dos bens com a circunscrição da serventia.

Também é livre a escolha do tabelião de notas pelas partes que desejarem realizar divórcio,

inventário e partilha de bens por meio de escritura pública.

Nesse sentido:

O tabelião de notas, ao desenvolver atividade pública identificada pela confiança, tanto do Estado

como dos particulares que o procuram, é escolhido livremente pelas partes, independentemente
da residência e do domicílio delas e do lugar de situação dos bens objeto dos fatos, atos e negócios

jurídicos. Embora livre a escolha pelas partes, ele não pode desempenhar função notarial típica fora
da circunscrição territorial para a qual recebeu a delegação. Dessarte, uma escritura pública lavrada

por tabelião fora do município para o qual recebeu a delegação é nula de pleno direito.

Se dentro da sua circunscrição territorial, pode lavrar o ato notarial em qualquer lugar, desde que

consigne, no documento, o lugar no qual praticado. (Debs, 2018, p. 1737, grifo nosso)

Assim sendo, se, por um lado, o notário não está sujeito ao princípio da territorialidade, por outro

lado não pode atuar fora dos limites territoriais do município onde se encontra instalada a serventia
notarial.

NA PRÁTICA

Verificamos que os serviços registrais estão sujeitos ao princípio da territorialidade, o que

significa dizer que o registrador está adstrito a praticar atos registrais relacionados aos fatos ocorridos
no âmbito de sua circunscrição.

Assim, para fins de cumprimento desse princípio da territorialidade que estabelece o art. 12 da
Lei n. 8.935/1994, o registro civil das pessoas naturais somente pratica atos registrais em relação aos

domiciliados em sua circunscrição ou quando o fato a ser registrado ocorre nessa circunscrição.

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Portanto, imaginemos um nascimento: pode ser tanto registrado no local de domicílio dos pais

quanto no local de nascimento do filho.

Então, na prática, imaginemos que os pais residam em Campinas, mas o nascimento da criança

veio a correr na capital de São Paulo. Neste caso, são competentes para realizar o registro civil de
nascimento tanto a serventia de Campinas quanto a de São Paulo.

Com relação ao registro de títulos e documentos, conforme Loureiro (2011), por regra deve-se
observar o princípio da territorialidade no que tange a atos jurídicos que digam respeito e envolvam

interesse de terceiros. Nesses casos, em que se registra, por exemplo, penhor, fiança, aval, será

realizado o registro na serventia onde estejam domiciliadas as partes. No caso de atos jurídicos a

serem registrados e que guardem interesse apenas com as partes, por exemplo para fins únicos de

conservação do documento ou a notificação extrajudicial, o registro pode ser feito em qualquer

serventia.

Ainda com relação ao registro de títulos e documentos, na prática, considerando que sua

competência é residual, qualquer documento pode ser registrado nesse serviço. No caso dos

documentos que têm de ser registrados em um serviço registral específico, nada impede que, após o

registro na competência originária, o seja igualmente feito no registro de títulos e documentos. É o

caso de uma escritura pública de compra e venda de um imóvel, que deve ser registrado no registro

de imóveis e, em seguida, esse registro originário pode ser levado para registro no registro de títulos

e documentos.

Com relação aos serviços prestados pelo tabelião de notas, escrituras públicas de compra e

venda de imóveis, atas notariais, procurações, escrituras de divórcios e inventários, a escolha do


notário é livre pelas partes interessadas, o que significa dizer que os usuários dos serviços notariais

podem optar livremente pelo tabelião para a prática dos atos de que necessitem, não importando a
residência ou, no caso de imóveis, o local onde este está situado. Nesse sentido, por exemplo, duas

pessoas resolvem celebrar um contrato de compra e venda de um imóvel localizado na cidade de São
Paulo (SP). O proprietário (vendedor) reside em Curitiba (PR), e o comprador, em Porto Alegre (RS), e
ambos decidem fazer a escritura de compra e venda em um serviço notarial em Florianópolis (SC).

Isso é plenamente possível, pois, como dito, a escolha do tabelião é livre pelas partes.

Mas, conforme salientado, nesse caso do exemplo, o tabelião não pode praticar seus atos fora do
Município de Florianópolis, ou seja, deve realizar todos os seus atos naquela localidade, então as

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partes precisam se deslocar até lá.

É importante destacar que, dentro do território do município em que esteja situada a serventia, o

notário pode praticar atos fora de sua serventia. Assim, o notário ou seus auxiliares podem, por

exemplo, realizar atividade domiciliar, oferecendo um atendimento diferenciado para os seus clientes.

FINALIZANDO

Conforme estudamos na aula de hoje, existe um conjunto de leis que regulam a atividade notarial

em todo o país e que formam o chamado ramo do direito notarial e registral, o que é de suma

importância o seu conhecimento.

O direito notarial e registral, portanto, inicia-se a partir da regulamentação constitucional da

matéria, com o seu art. 236. Depois, abaixo da Constituição, encontramos as principais leis que tratam

da atividade notarial e registral, as quais devem ser de conhecimento obrigatório do notário e do

registrador, sendo elas: Lei n. 6.015/1973 – Lei de Registros Públicos; Lei n. 8.935/1994 – a chamada

Lei dos Cartórios, a qual veio em específico regulamentar o art. 236 da Constituição Federal; Lei

9.492/1997 – Lei de Protestos, a qual define a competência e a regulamentação dos serviços de

protesto de títulos e outros documentos representativos de dívidas no Brasil.

Também tratamos da questão da competência territorial dos registros civis, bem como dos

tabelionatos de notas, quando pudemos compreender que os registros civis, o registro de imóveis e,
em alguns casos, o registro de títulos e documentos estão submetidos ao princípio da territorialidade,
pelo qual não pode o registrador atuar fora dos limites da sua circunscrição. Por outro lado, no que se

refere ao notário, este não está adstrito a esse princípio, pois que a escolha do tabelião de notas pode
ser feita livremente pelas partes interessadas no serviço notarial, contudo, em que pese essa liberdade

de escolha do notário pelos usuários dos serviços notariais, o notário está limitado a atuar e praticar
os atos notariais apenas dentro do limite do território do município para o qual recebeu a delegação.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988.

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______. Lei n. 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,

Brasília, DF, 31 dez. 1973.

_____. Lei n. 8.935, de 18 de novembro de 1994. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,

Brasília, DF, 19 nov. 1994.

_____. Lei n. 9.492, de 10 de setembro de 1997. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília,

DF, 11 set. 1997.

DEBS, M. el. Legislação notarial e de registros públicos comentadas. 3. ed. Salvador:

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