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PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL

MÓDULO TABELIONATOS E REGISTROS

1. Material pré-aula

a. Tema

A Lei 8.935/1994 e a Atividade Notarial e Registral

b. Noções Gerais

A Lei nº 8.935/94 inaugurou, sem dúvida, uma nova fase para o


notariado brasileiro e trouxe profundas e importantíssimas inovações
para a classe notarial.
A referida lei regulamenta o art. 236 da Constituição Federal,
dispondo sobre serviços notariais e de registro, sendo que os
parágrafos 1o e 2o do citado dispositivo Constitucional, já previam a
necessidade de ser elaborada uma lei para regulamentar as
atividades, disciplinar a responsabilidade civil e criminal dos notários,
dos oficiais de registro e de seus prepostos, definir a fiscalização de
seus atos pelo Poder Judiciário e estabelecer normas gerais para a
fixação de emolumentos relativos aos atos praticados pelos serviços
notariais e de registro.
Conforme leciona Leonardo Brandelli:
“A Lei 8.935/94 foi objeto de muita discussão e surgiu de esforços
de lideranças de notários e registradores com o efeito arrebatador
de tirar a instituição notarial do obscurantismo que a envolvia,
tornando-a mais conhecida, inclusive pelos juristas, e dando notícia
do seu relevo social e jurídico” 1.
Um ponto atacado pela Lei no 8.935/94 e que consistia em antiga
reivindicação, foi a questão da capacitação jurídica adequada para
exercer a função de notário, passando a exigir o bacharelado em
Direito, além do que, por óbvio, a aprovação em concurso público,
este último item, já previsto no texto constitucional, no parágrafo 3o,
do artigo 236.
Uma vez tendo a Carta Maior de 1988 determinado a obrigatoriedade
de concurso público para o ingresso na atividade notarial e de


1
BRANDELLI, Leonardo. Teoria Geral do Direito Notarial. 4. Ed. São Paulo: Saraiva. 2011. P.79.

registro, as serventias que vagassem a partir da sua promulgação,
não mais incidiriam no privilégio previsto no artigo 208 da
constituição de 1969, eis que instituída uma nova ordem.
De acordo com o artigo 236, caput, da Constituição Federal e pela Lei
no 8.935/94, os notários passaram a ser agentes delegados do
Poder Público. Poder Público, que é formado pelos três poderes do
Estado: Executivo, Legislativo e Judiciário. Todavia, é ao Poder
Executivo que cabe a incumbência de delegar os serviços notariais e
registrais.
A Lei dos Notários constitui assim um verdadeiro marco na história do
notariado brasileiro e, se por si só não servir para acabar com os
problemas que permeiam a instituição notarial, como de fato não
servirá, será o instrumento que, aliado aos próprios notários, levará o
notariado brasileiro, tão enfraquecido pelos erros até então
cometidos, ao lugar de reconhecimento social e jurídico.

Estrutura da Lei 8.935/94

A Lei 8.935/95 é dividida da seguinte forma:


TÍTULO I
Dos Serviços Notariais e de Registros
Capítulo I – Natureza e fins
Capítulo II - Dos Notários e Registradores

TÍTULO II
Das Normas Comuns

Capítulo I - Do Ingresso na Atividade Notarial e de Registro


Capítulo II - Dos Prepostos
Capítulo III - Da Responsabilidade Civil e Criminal
Capítulo IV - Das Incompatibilidades e dos Impedimentos
Capítulo V - Dos Direitos e Deveres
Capítulo VI - Das Infrações Disciplinares e das Penalidades
Capítulo VII - Da Fiscalização pelo Poder Judiciário
Capítulo VIII- Da Extinção da Delegação
Capítulo IX- Da Seguridade Social

TÍTULO III – Das Disposições Gerais

TÍTULO IV - Das Disposições Transitórias



Serviços Notariais e de Registro

Tal como estabelece o Art. 1º da Lei nº 8. 935/94, “serviços notariais


e de registro são os de organização técnica e administrativa
destinados a garantir a publicidade, autenticidade, segurança e
eficácia dos atos jurídicos”. O dispositivo em apreço, no contexto
legal, conceituou o que são serviços notariais e de registro.
Assim, consideram-se serviços notariais e de registros os “de
organização técnica e administrativa destinados a garantir a
publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos".
Essa definição apresenta as finalidades das serventias notariais e
registrais, que são: publicidade, autenticidade, segurança e eficácia.
O notário, ou tabelião, e oficial de registro, ou registrador são,
mediante atribuição da própria legislação acima mencionada, dotados
de fé pública, a quem é delegado o exercício da atividade notarial e
de registro.
Segundo Walter Ceneviva: “Notários e registradores são
profissionais cujos atos, atribuídos por Lei, são remunerados por
pessoas naturais ou jurídicas e não pelo Estado, pois se trata de
atividade não estatizada, muito embora substitua o Estado em
serviços gratuitos ou pagos, para o público em geral, mesmo que
mantido o caráter privado de sua atuação” 2.
Entende-se por fé pública determinada confiança atribuída pela lei ao
titular da serventia notarial e de registro que declare, no exercício da
sua função, determinados fatos ou atos com presunção de verdade.
O artigo 5˚ da referida Lei apresenta quais são os tipos de serviços
notariais e de registros existentes no ordenamento jurídico brasileiro:
tabelionatos de notas; tabelionatos/registros de contratos marítimos;
tabelionatos de protestos de títulos; registros de imóveis; registros
de títulos e documentos e civis das pessoas jurídicas; registros civis
das pessoas naturais e de interdições e tutelas e registros de
distribuição.
Os serviços notariais e de registro são remunerados por meio de
custas e emolumentos, conforme regimento editado pelo Poder
Público. Percentuais das custas e dos emolumentos ou valores
certos, fixados em lei ou regulamento, são repassados para os
cofres do Estado.


2
CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada: lei n. 8.935/94. 9. ed. São Paulo:
Saraiva, 2017.

Os serviços são prestados pessoalmente pelo notário ou Tabelião,
ou por seus prepostos (Escreventes e auxiliares notariais), sob a
responsabilidade do Tabelião, em um lugar de fácil acesso, com
atendimento voltado para o público em geral, que ofereça um lugar
seguro para arquivamento de livros e documentos.
Com relação às Serventias onde atuam esses Delegatários, são
centro de atribuições das atividades previstas em lei a serem
exercidas pelos titulares, desprovidas de personalidade jurídica.
O exercício da atividade e a prestação do serviço público deve ser
atribuída ao Notário ou Oficial Registrador que os praticam.
Os tabelionatos deveram ser organizados e possuir um arquivo
vasto para arquivamento dos documentos e certidões, dentre outros
documentos, conforme previsão nas Normas de Serviço Cartórios
Extrajudiciais.

Os serviços nos tabelionatos serão prestados nos dias e horários


estabelecidos pelo juiz competente, no mínimo de 06 (seis) horas
diárias, sendo que no serviço de registro civil das pessoas naturais
deverá ocorrer sistema de plantão aos sábados, domingos e
feriados.
Leonardo Brandelli afirma que:
“O caráter de imparcialidade do agente notarial tem sido posto a
coberto pelo legislador mediante um regime de incompatibilidade e
inibições, bem como a obrigação de segredo profissional e um
sistema de responsabilidades civil, administrativa e criminal, tudo a
fim de mantê-lo intacto e sempre presente” 3.

Já os serviços de registros tem, como regra, o assentamento de


títulos de interesse privado ou público, para sua oponibilidade a
todos os terceiros, com a publicidade que lhes é inerente,
garantindo, por definição legal, a segurança, a autenticidade e
eficácia dos atos da vida civil a que se refiram.

Os notários e os registradores executam serviço público de


características especiais, sob o amálgama de função pública. A
serventia é regulada por lei, com atividade sujeita à hierarquia
administrativa e fiscalização do Poder Judiciário por meio das


3
BRANDELLI, Leonardo. Teoria Geral do Direito Notarial. 4. Ed. São Paulo: Saraiva. 2011. P.85.

Corregedorias Permanentes e o acesso aos cargos depende de
concurso público (§ 1º. e § 3º, art. 236, CF).

Tabelião e Oficial de Registro

Por força do artigo 3º da Lei 8.935/94, notário, ou tabelião, e oficial


de registro, ou registrador, são profissionais do direito, dotados de
fé pública, a quem é delegado o exercício da atividade notarial e de
registro.

Conforme leciona Luís Paulo Aliende Ribeiro, “Os notários e


registradores, embora exercentes de função pública, não são
funcionários públicos, nem ocupem cargos públicos efetivos,
tampouco se confundem com os servidores e funcionários
4
integrantes da estrutura administrativa estatal” .

Assim como define Walter Ceneviva:


“O Tabelião e o Oficial, notário ou registrador, independente de
como são denominados, agem como representantes da autoridade
pública, eles mesmos providos de autoridade, posto que substituem,
por delegação, o Estado, em serviços deste. São aprovados em
concurso público de provas e títulos assim como define o parágrafo
3º do artigo 236 da Constituição Federal” 5.

Atribuições e Competências

Conforme o artigo 6º da Lei 8.934/94, aos notários compete:


formalizar juridicamente a vontade das partes; intervir nos atos e
negócios jurídicos a que as partes devam ou queiram dar forma
legal ou autenticidade, autorizando a redação ou redigindo os
instrumentos adequados, conservando os originais e expedindo
cópias fidedignas de seu conteúdo; e, autenticar fatos.
Portanto, os notários viabilizam a vontade das partes, verificando a
melhor forma para o negocio jurídico, deixando o negócio perfeito
para que após o ato ou após o registro do ato surta a eficácia
desejada.


4
RIBEIRO, Luis Paulo Aliende. Regulação da Função pública notarial e de registro. Saraiva, 2009.
5
CENEVIVA, Walter. Lei dos notários e dos registradores comentada: lei n. 8.935/94. 9. ed. São Paulo:
Saraiva, 2017.

O notário e o registrador estão vinculados ao princípio do bloqueio
da legitimação, também chamado de princípio da legalidade ou
reserva legal.
Conforme ensina o Prof. Vitor Frederico Kümpel:
“Porém, aqui há uma ambiguidade, na medida em que a própria lei
liberta o notário deste princípio, ao estabelecer no art. 6º que o
notário instrumentaliza a vontade das partes. Ele passa a estar livre
das amarras de só poder fazer aquilo que a lei determina para poder
fazer tudo o que a lei não o proíbe” 6.
Além disso, o notário possui a obrigação de adentrar no mérito do
negócio a ser celebrado, não devendo, via de regra praticar atos
nulos nem anuláveis.
Continua ainda o Prof. Vitor Frederico Kümpel:
“Os usuários possuem liberdade de escolher o notário para a prática
dos atos, não havendo competência territorial, conforme o art. 8º
da Lei 8.935/94. Assim, o particular pode lavrar o ato em qualquer
serventia do território nacional, porém o tabelião não pode lavrar
atos fora do município” 7.
Já o artigo 7º da Lei 8.935/94 determina que aos tabeliães de notas
compete com exclusividade a lavratura de: escrituras e procurações,
públicas; de testamentos públicos e aprovação dos cerrados; das
atas notariais; e o reconhecimento de firmas e a autenticação de
cópias. Prossegue o parágrafo único estabelecendo que é facultado
aos tabeliães de notas realizarem todas as gestões e diligências
necessárias ou convenientes ao preparo dos atos notariais,
requerendo o que couber, sem ônus maiores que os emolumentos
devidos pelo ato.

Das Incompatibilidades e dos Impedimentos

Incompatibilidade é a impossibilidade de viabilizar ou exercer


simultaneamente duas ou mais funções.
O art 26 da Lei 8.935/94 vedas, especialmente, a acumulação de
serviços prestados.
A lei configura hipótese de incompatibilidade e de impedimentos
para o desenvolvimento da atividade notarial e de registro impondo,


6
KÜMPEL, Vitor Frederico et.al. Tratado Notarial e Registral, Volume 3. 1º ed. YK Editora, 2017.p.173.
7
Ibidem. p.193.

o seguinte uma vez iniciado o exercício, existem restrições
profissionais ao titular.
Já o impedimento indica a proibição da prática do ato jurídico
determinado. Neste caso o exercício da atividade de registrador e
notário é obstáculo para o exercício de outras, relacionadas em lei.
A incompatibilidade das funções indicadas no art. 25 da Lei
nº 8.935/94, proíbe ao titular da serventia a nomeação, o exercício
ainda que suspenso por licença ou afastamento sem vencimento ou
comissão para qualquer cargo, emprego ou função pública, e tem
caráter absoluto.

O impedimento dura enquanto persistir seu motivo gerador,


podendo atingir todos os atos inerentes à função, ou obstar alguns
atos e permitindo outros. Primeira espécie é a diplomação em cargo
eletivo.

A outra é a proibição de prática de atos do seu interesse, de seu


cônjuge e de parente até o terceiro grau. A Constituição no
art. 226 reconhece, no parágrafo terceiro, a união estável “para
efeito da proteção do estado”, sendo que o impedimento se estende
também ao companheiro ou à companheira do titular.

Nos termos do art. 26 da Lei 8.935/94 a acumulação é a


possibilidade de exercer mais de uma atividade notarial e registral,
com o recebimento integral ou parcial dos respectivos provimentos.

A Constituição proíbe os servidores e agentes púbicos de


acumularem cargos.

Assim, os notários e registradores, na qualidade de agentes


públicos, não podem acumular cargos ou funções.

Das Infrações Disciplinares e das Penalidades

O tabelião ou registrador comete infração disciplinar quando não


atentar para norma hierárquica ou de comportamento, prevista em
lei ou em regras técnicas instituídas nos Atos Normativos das
autoridades judiciárias competentes, que visam preservar a
regularidade da atividade notarial e registral.

Infrações administrativas ou disciplinares, previstas na Lei dos
Notários e Registradores, portanto, são condutas típicas e se referem
a comportamentos dos titulares da delegação, os quais são
responsáveis pela ordem e cumprimento dos atos de ofício da
serventia extrajudicial. Existe, por sua vez, infração específica
voltada aos registradores de pessoas naturais, a exemplo de
descumprimento da gratuidade do registro de nascimento e de óbito
e primeira certidão respectiva, conforme previsão legal, e que pode
culminar com a penalidade de extinção da delegação.
Conforme o Prof. Vitor Frederico Kümpel:
“Aliás, o dever de imparcialidade está estatuído no art. 3º da Lei
8.935/1994, na medida que é impossível agir com plena eficiência
sendo parcial. É a segurança do usuário de que mesmo havendo
indicação por alguém ou que uma das partes tenha grande
8
habitualidade, a outra será tratada da mesma forma” .
Não observar as prescrições legais e normativas, estas últimas
expedidas pelo Poder Judiciário, constitui a primeira infração
disciplinar tratada no inciso I do artigo 31 da citada lei de regência.
O atendimento às regras legais e às normas técnicas para a prática
dos atos notariais e registrais representa pressuposto para a validade
desses atos, os quais devem assim adequar-se ao princípio da
legalidade e às orientações normatizadas pelos órgãos judiciais
fiscalizadores das atividades, fazendo observar, desta feita, os
provimentos da Corregedoria, resoluções do CNJ, do Tribunal de
Justiça e atos do juízo competente, além do disposto na legislação.
De outra parte , tem-se que atentar contra a as instituições notariais
e de registro é conduta igualmente qualificada como infração
disciplinar.
Já no inciso III do artigo acima referido, o legislador quis deixar claro
que não se há de permitir cobrar emolumentos indevidamente ou de
forma excessiva, sob qualquer pretexto, ainda que sob o argumento
de eventual urgência.
Neste ponto, entende-se que o comportamento tipificado é de mera
conduta, independendo do dolo ou da culpa do agente, sendo
suficiente, para a caracterização da infração, a comprovação do
excesso pago ou do pago indevidamente; nesta segunda hipótese, a
ação se constitui na cobrança daquilo que não é previsto em lei.


8
Ibidem p.193.

Pode acontecer, todavia, alguma situação em que, diante da
dubiedade de interpretação da lei de emolumentos local, ou mesmo
omissão, por falta de clareza e objetividade sobre determinada
cobrança de ato, sem elucidação pelo juízo competente ou
Corregedoria, o registrador entender pela cobrança ou não daquele
registro ou averbação a ser praticada, decorrente de simples
interpretação pessoal da lei.
Violação do sigilo profissional também se configura infração
administrativa disciplinar.
Neste aspecto, pode parecer certa incongruência falar de sigilo
quando os atos contidos e praticados na serventia extrajudicial, de
regra, são públicos e qualquer interessado pode obter informações a
respeito do que lhe convier, sem justificar seu requerimento. Impõe
ressaltar, porém, que os delegatários no exercício de suas funções
tomam conhecimento de fatos e de situações pessoais que, embora
não sendo assunto sigiloso, não podem sair divulgando os negócios e
atos que transitam na serventia, estando obrigados a mantê-los sob
reserva, ainda que por questão de ética profissional.
Pontua Walter Ceneviva que: “O segredo profissional não se destina a
assegurar o predomínio da vontade individual sobre valores sociais,
mas preservar valores materiais e morais legítimos, públicos e
privados, através da não-revelação.” Frise-se, por derradeiro, que a
quebra do sigilo pode também acarretar a responsabilidade civil e
criminal do delegatário” 9.
No rol das infrações, o legislador concluiu o artigo 31 da Lei n.º
8.935/94, enfatizando, no último inciso, que constitui infração
disciplinar a inobservância de quaisquer dos deveres descritos no
artigo 30 da dita lei, ou seja, a violação dos deveres realçados
enquadra-se como causa materializadora de infração disciplinar,
havendo consequente punição na hipótese de transgressão de um ou
mais dos deveres previstos em lei, sendo certo que, por ocasião da
aplicação da pena, a autoridade competente levará em consideração
a quantidade de transgressões identificadas no inciso V, para definir a
graduação da falta funcional.
Quanto as penalidades a que estão sujeitos os tabeliães e os
registradores são definidas no artigo 32 da Lei n.º 8.935/94 sendo-
lhes assegurado o direito constitucional da ampla defesa, do
contraditório e do devido processo legal. O processo administrativo


9
Ibidem. p.195.

instaurar-se-á com esteio nas regras do processo disciplinar contra o
servidor público, no que couber, devendo cada Estado da Federação e
o Distrito Federal estabelecerem o rito procedimental a ser cumprido
de forma objetiva, atendendo aos princípios constitucionais acima
referidos, sempre em respeito à segurança jurídica.10
As penalidades são destinadas aos delegatários da serventia ou
àqueles que estão respondendo pelo serviço, ainda que
temporariamente, na condição de substituto em face da vacância da
titularidade. Os auxiliares e escreventes estão vinculados ao comando
do tabelião ou registrador, sendo certo que sua subordinação está
amparada nas leis trabalhistas e nas normas internas instituídas pelo
titular, não se destinando essas sanções a esses funcionários do
cartório, por se tratar de relação a ser resolvida na Justiça Obreira.
Temos a repreensão, que se constitui numa censura feita ao notário
ou registrador, em decorrência de transgressão de dever funcional de
caráter leve. Sobreleva frisar que, mesmo nas pequenas faltas
disciplinares há necessidade de processo administrativo para garantir
ao delegatário o direito de defesa na sua condição de agente público,
dotado de fé pública e de presunção de idoneidade advinda da
relevância de função, não se aplicando neste sistema jurídico
disciplinar os meios sumários para a aplicação de penalidades, a
exemplo da verdade sabida, inclusive desautorizada pela Carta
Magna segundo a jurisprudência pátria.
O inciso II do mencionado dispositivo legal prevê a pena de multa,
aplicável nas hipóteses de reincidência de falta leve ou de
transgressão funcional intermediária entre esta e a grave. Trata-se
de sanção imposta quando a infração não configure, portanto, ofensa
de dever funcional grave.
A suspensão foi inserida como terceira modalidade de apenamento.
Verifica-se que sua aplicação tem amparo nas hipóteses de reiteração
de descumprimento dos deveres funcionais, instituídos no artigo 30
da LNR, e ou de comprovada falta grave.


10
LISBOA, José Herbert Luna. Responsabilidade administrativa do tabelião e registrador.
https://jus.com.br/artigos/32015/responsabilidade-administrativa-do-tabeliao-e-registrador
Acesso em 22/10/2020.


Extinção da Delegação

Segundo o Professor Vitor Kumpel: “É a quebra do vínculo entre a


pessoa e o estado”11.
O término da delegação acontece por extinção ou perda. A
delegação se extingue por fatos próprios da vontade do registrador
(renúncia e aposentadoria facultativa) e por fatos estranhos a ela
(morte, invalidez, perda por sentença judicial ou decisão
administrativa).
O substantivo extinção indica o fato de que a delegação, em si
mesma, deixou de existir no universo da realidade jurídica à qual
corresponde.
Extinta a delegação, por qualquer das formas mencionadas cessam
imediatamente a investidura e a produção de efeitos consequentes
do delegado. Daí por que são nulos todos os atos praticados no
serviço e em face deste, a partir da extinção, pelo antigo titular ou
em nome dele, pois os poderes transmitidos deixam de existir.
Ela tem caráter absoluto, definitivo, mas mesmo a consequente da
morte é confirmada por ato administrativo, praticado pela
autoridade competente, resolvendo a respeito da imediata
continuidade dos serviços, como dever fundamental do poder
público.
Entre as causas de extinção da delegação temos: morte,
aposentadoria facultativa; invalidez; renúncia e perda, nos termos
do art 35 da Lei. 8.935/94.

c. Legislação

Lei 8.935/95
CF art 236

d. Julgados/Informativos

TJSP - 1014974-26.2016.8.26.0564 - Ação declaratória de nulidade


de escrituras públicas de divórcio consensual e de venda e compra de
imóveis – Declaração da apelante de que os outorgantes não
possuíam filhos comuns menores ou incapazes – Infringência ao art.


11
KÜMPEL, Vitor Frederico et.al. Tratado Notarial e Registral, Volume 3. 1º ed. YK Editora, 2017.p.174.


1.124-A do Código de Processo Civil de 1.973, vigente à época da
celebração do instrumento não caracterizada – Declaração perante o
Tabelionato, sob responsabilidade civil e criminal, a respeito da
verdade dos fatos e das declarações efetuadas – Fé-pública da
escritura pública lavrada em notas de tabelião, fazendo prova plena,
art. 215 do Código Civil – Ausência de demonstração a respeito da
incapacidade civil das filhas das partes e de vício de consentimento –
Inobservância ao art. 373, I, do Código de Processo Civil – Presunção
de veracidade das declarações constantes dos documentos assinados
em relação aos signatários, art. 219 do Código Civil – Validade do
divórcio consensual – Inexistência de óbice à compra pelo apelado da
parte pertencente à apelante dos imóveis que ambos eram
proprietários – Falta de demonstração da lesão nos negócios jurídicos
celebrados – Não incidência do art. 157 do Código Civil – Preço de
venda de 50% dos bens que não se mostrou desproporcional em
relação ao valor venal apurado três anos depois – Impossibilidade de
apreciação do pedido de tutela de urgência formulado em sede
recursal referente à proteção de eventuais direitos possessórios –
Sentença mantida – Recurso não provido. (Relator: César Peixoto;
Órgão Julgador: 9ª Câmara de Direito Privado; Foro de São Bernardo
do Campo - 1ª Vara de Família e Sucessões; Data do Julgamento:
14/05/2020)

TJSP - 1004038-74.2019.8.26.0001 - Apelação cível. Compra e venda


de imóvel. Ação declaratória de nulidade de escritura pública
cumulada com indenização por danos materiais. Alegação de que não
foram recebidos os valores convencionados. Sentença de
improcedência. Na escritura de compra e venda, constou que os
vendedores receberam valor antecipado e, no ato, cheque
correspondente ao saldo devedor. Nessa oportunidade, dera ampla,
geral, rasa e irrevogável quitação. Cheque compensado. Ausência de
provas nos autos de que o preço ajustado não foi pago ou que houve
simulação do negócio jurídico (art. 167 do CC). Instrumentos públicos
que gozam de fé de ofício dos tabeliães que os lavraram. Presença da
força probatória do documento público que é dotado de fé pública e
goza de presunção de veracidade. Validade do negócio jurídico aqui
discutido que encontra apoio no disposto no artigo 104 e seus incisos
I a II, do Código Civil. Sentença mantida. Honorários recursais.
Aplicação do disposto no artigo 85, §11 do CPC. Majoração dos
honorários advocatícios para 20% do valor da causa. Resultado.

Recurso não provido. (Relator: Edson Luiz de Queiróz; Órgão
Julgador: 9ª Câmara de Direito Privado; Foro Regional I - Santana -
1ª Vara Cível; Data do Julgamento: 17/06/2020)

TJSP - 1004255-34.2015.8.26.0462 - ATA NOTARIAL - AÇÃO


ANULATÓRIA COM PEDIDO DE DANO MORAL - SENTENÇA DE
IMPROCEDÊNCIA. Apelação do autor - Desacolhimento - Prevista pelo
Código de Processo Civil, a ata notarial é meio de constituição de
prova. Não se reconhece lavratura ex officio pelo fato de a solicitante
ser a tabeliã responsável pela serventia do registro. Os fatos
assinalados no documento eram de interesse da solicitante, que
entendeu que houve deslealdade de concorrência no ato da
disponibilização das bexigas com propaganda de Tabelião da cidade
vizinha. Para não ferir os preceitos legais, fez com que a tabeliã
substituta lavrasse a ata, que no mais, foi confeccionada de acordo
com as Normas da Corregedoria de Justiça dos Cartórios
Extrajudiciais. Danos morais não configurados - Além de formalmente
legal, a ata transcreveu fatos que o próprio autor confessou em
procedimento administrativo. RECURSO NÃO PROVIDO. (Relator:
Benedito Antonio Okuno; Órgão Julgador: 8ª Câmara de Direito
Privado; Foro de Poá - 2ª Vara Cível; Data do Julgamento:
17/06/2020)

TJSP - 1012050-24.2018.8.26.0224 - Apelação – Bem móvel – Dano


moral. Está a autora, na condição de consumidora, favorecida pela
inversão do ônus da prova. Incumbia, pois, ao corréu apelante,
demonstrar fato impeditivo, extintivo ou modificativo do direito da
autora – Logo, incumbia ao banco réu derrubar a fé pública da ata
notarial na qual constou o negócio jurídico celebrado entre as partes
– Todo o transtorno causado, além da demora na solução do
problema, são situações passíveis de indenização por dano moral,
cuja quantificação deve pautar-se pela razoabilidade – Desprovido o
recurso, de majorar-se o valor dos honorários. Recurso desprovido,
com observação. (Relator: Lino Machado; Órgão Julgador: 30ª
Câmara de Direito Privado; Foro de Guarulhos - 10ª Vara Cível; Data
do Julgamento: 20/05/2020)

TJSP - 1000854-08.2019.8.26.0035 - ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. AÇÃO


DE BUSCA E APREENSÃO. IMPROCEDÊNCIA. MORA CARACTERIZADA.
PROTESTO REALIZADO PELO CREDOR FIDUCIÁRIO EM CARTÓRIO DE

PROTESTO DO DOMICÍLIO INDICADO NO TÍTULO. ESGOTAMENTO
DAS TENTATIVAS DE NOTIFICAÇÃO PREMONITÓRIA PELA VIA
POSTAL. SENTENÇA REFORMADA. 1. Nas ações de busca e apreensão
decorrentes de contrato de alienação fiduciária de veículo automotor,
considera-se válida a constituição do devedor em mora pelo protesto
realizado no cartório de protesto do domicílio do devedor ou no
cartório em que se situa a praça de pagamento indicada no título,
consoante entendimento fixado pelo c. STJ em sede de recurso
repetitivo. 2. Recurso provido. (Relator: Artur Marques; Órgão
Julgador: 35ª Câmara de Direito Privado; Foro de Águas de Lindoia -
Vara Única; Data do Julgamento: 18/06/2020)

TJSP - 1029226-66.2019.8.26.0002 - RESPONSABILIDADE CIVIL.


Aquisição de concreto. Conduta imprópria de empresa, fornecedora.
Cobrança indevida, com apontamentos em Cartório de Protesto.
Abordagens, declaratória (inexigibilidade do débito) e condenatória
(disciplina por dano moral). Juízo de parcial procedência. Recurso da
autora. Desprovimento. (Relator: Carlos Russo; Órgão Julgador: 30ª
Câmara de Direito Privado; Foro Regional II - Santo Amaro - 1ª Vara
Cível; Data do Julgamento: 16/04/2020)

TJSP - 9000001-85.2019.8.26.0058 - RECURSO ADMINISTRATIVO.


PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR CONTRA A OFICIAL DE
REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS E DE INTERDIÇÕES E
TUTELA DA COMARCA DE AGUDOS. DECISÃO ORIGINÁRIA DO
CORREGEDOR GERAL DA JUSTIÇA. PRÁTICA COMPROVADA DAS
INFRAÇÕES DISCIPLINARES DE INOBSERVÂNCIA DAS PRESCRIÇÕES
LEGAIS E NORMATIVAS, CONDUTA ATENTATÓRIA ÀS INSTITUIÇÕES
NOTARIAIS E DE REGISTRO E DESCUMPRIMENTO DE DEVERES
PRESCRITOS NO ART. 30, DA LEI Nº 8935/94 (ART. 31, I, II E V, DA
MESMA LEI). AUSÊNCIA DE ASSIDUIDADE, SUBDELEGAÇÃO E
TRANSFERÊNCIA DO GERENCIAMENTO ADMINISTRATIVO E
FINANCEIRO DA SERVENTIA. PENA DE PERDA DA DELEGAÇÃO
MANTIDA. GRAVIDADE DOS FATOS CONSIDERADA. RECURSO
DESPROVIDO. (Relator: Campos Mello (Pres. da Seção de Direito
Privado); Órgão Julgador: Câmara Especial; Tribunal de Justiça de
São Paulo - N/A; Data do Julgamento: 30/06/2020)

e. Leitura sugerida

CASSETARI, Christiano. Coordenador. PAIVA, João Pedro Lamana.


ALVARES, Pérsio Brasil. Registro Civil das Pessoas Naturais, 2º ed,
Saraiva, 2020.

CASSETARI, Christiano. Divórcio, Extinção de União Estável e


Inventário por escritura pública. Teoria e Prática.9º ed. Ed. Atlas,
2018.

CASSETARI, Christiano. Elementos de Direito Civil. 8º ed. Saraiva,


2020.

CENEVIVA, Walter. LEI DOS NOTÁRIOS E REGISTRADORES


COMENTADA. São Paulo. 9º ed. Saraiva, 2017.

DEL GUÉRCIO. Arthur. O DIREITO NOTARIAL E REGISTRAL EM


ARTIGOS. YK Editora: 2016.

FROTA, Pablo Malheiros da Cunha. Responsabilidade por danos,


imputação e nexo de causalidade. Curitiba: Juruá, 2014.

KÜMPEL, Vitor Frederico et al. Tratado Notarial e Registral, Vol. 2, YK


Editora: 2017.

LOUREIRO, Luiz Guilherme. REGISTROS PÚBLICOS. TEORIA E


PRÁTICA. Salvador. Jus Podium, 2019.

f. Leitura complementar

- BRANDÃO, Marcelo da Silva Borges. Da atividade notarial e registral


– Aspectos Gerais
https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/11488/Da-atividade-
notarial-e-registral-aspectos-gerais
Acesso em 22/10/2020.

- LIMA, Lucas Almeida de Lopes. A atividade notarial e registral e a


sua natureza jurídica.
http://egov.ufsc.br/portal/conteudo/atividade-notarial-e-registral-e-
sua-natureza-jur%C3%ADdica. Acesso em 22/10/2020.

- LISBOA, José Herbert Luna. Responsabilidade administrativa do
tabelião e registrador.
https://jus.com.br/artigos/32015/responsabilidade-administrativa-
do-tabeliao-e-registrador. Acesso em 22/10/2020.

- MOREIRA, Anthony Nunes. Responsabilidade Civil dos Notários e


Registradores-Reflexos da Alteração do art. 22 da Lei Federal
8935/04 e o embate das teorias tradicionais.
https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direito-civil/responsabilidade-
civil-dos-notarios-e-registradores-reflexos-da-alteracao-do-artigo-22-
da-lei-federal-8-935-1-994-e-o-embate-das-teorias-tradicionais/
Acesso em 22/10/2020.

- SANDER, Tatiane. A atividade notarial e sua regulamentação.


https://www.boletimjuridico.com.br/doutrina/artigo/683/a-atividade-
notarial-regulamentacao
Acesso em 22/10/2020.

- SILVA, Caroline Costa da. Comentários pontuais da Lei 8.935/94.


https://caroliinecs.jusbrasil.com.br/artigos/333673067/comentarios-
pontuais-a-lei-8935-94
Acesso em 22/10/2020.

- ROMANO, Rogério Tadeu. O art 25 da Lei 8.935/04.


https://jus.com.br/artigos/74233/o-artigo-25-da-lei-8-935-94
Acesso em 22/10/2020.

- SOUZA, Eduardo Pacheco Ribeiro de. Os serviços notariais e


registrais no Brasil
http://www.irib.org.br/obras/os-servicos-notariais-e-registrais-no-
brasil
Acesso em 22/10/2020.

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