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JUR0267_v1.

TABELIONATO
DE PROTESTO DE
LETRAS E TÍTULOS
Autoria
Prof. Alison C. Francisco
Revisão
Prof. Jeferson Alexandre Gramasco
Como citar este documento
FRANCISCO, Alison C.
Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos. Valinhos: 2018.

© 2018 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.


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TABELIONATO DE PROTESTO DE LETRAS E TÍTULOS

SUMÁRIO
Apresentação da disciplina 04

Tema 01 – Títulos de Crédito e Protesto 05

Tema 02 – O protesto e sua finalidade 28

Tema 03 – Classificação do protesto 50

Tema 04 – Procedimento do protesto 75

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos3


Apresentação da disciplina

A disciplina de Protesto de títulos e outros documentos tem como prin-


cipal objetivo abordar a teoria geral do protesto, sua natureza, principais
características e elementos conexos ao dia a dia do Tabelião.
Na primeira aula são abordados aspectos gerais sobre os títulos de crédi-
to e outros documentos de dívida, relacionados ao protesto; na segunda,
é abordada uma noção básica sobre o instituto jurídico do protesto, sua
evolução e finalidades; na terceira, vocês estudarão as diversas espécies
de protesto; e, na última aula do módulo, serão abordados os procedi-
mentos gerais de protesto.

4 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


TEMA 01
TÍTULOS DE CRÉDITO E PROTESTO

Objetivos

• Para você compreender o instituto do protesto, em


primeiro lugar, faz-se necessário estudar alguns
aspectos da teoria geral dos títulos de crédito, a clas-
sificação e as características primordiais de alguns
títulos.

• Além deles, deverá conhecer as características dos


documentos de dívida, os quais constituem, atual-
mente, a maior quantidade de títulos que adentram
ao cartório de protesto.

• A utilização desses conceitos na qualificação dos


títulos já demonstra a importância desse estudo
inaugural.

5 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


Introdução

Na lição de VICENTE DE ABREU AMADEI1, o protesto surgiu em virtude dos


títulos de crédito, que são o objeto originário do protesto. Com o advento
da Lei 9.492/97, esse objeto restou ampliado e passou a abranger tam-
bém outros documentos de dívida2.

Daí a existência de uma estreita relação entre os títulos de crédito, os do-


cumentos de dívida e o protesto, e a necessidade de se conhecer concei-
tos fundamentais a respeito deles.

1. Noção geral

O Decreto nº 2.044 e o Decreto nº 57.663, que introduziu no ordenamen-


to jurídico brasileiro a Lei Uniforme de Genebra – LUG, regulamentam a
Letra de Câmbio e a Nota Promissória.

Na verdade, também disciplinam os atos cambiários, como o saque, en-


dosso, aval, aceite, pagamento e o próprio protesto.

Por essa razão, pode-se afirmar que esses decretos estabelecem normas
gerais aplicáveis a quaisquer títulos de crédito. Desde que as leis específi-
cas de cada título não disponham em sentido diverso, as normas contidas
nesses decretos podem ser aplicadas para suprir as lacunas daquelas,
tratando-se portanto de aplicação subsidiária.

1.1. Atos cambiários

A fim de começar os primeiros passos para o estudo, vale relembrar,


resumidamente, os principais atos cambiários que compõem o regime
dos títulos de crédito, e constantemente são utilizados no tabelionato de
protesto.
1
DIP, Ricardo et al (Org.). Introdução ao direito notarial e registral. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris Editor, 2004, p. 72-73.
2
Art. 1º da Lei 9.492/97.

6 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


a) Endosso

Conforme ensina André Luiz Santa Cruz Ramos3, ”endosso é ato cambiá-
rio mediante o qual o credor do título de crédito (endossante) transmite
seus direitos a outrem (endossatário)”, que põe o título em circulação.
Não admite condição (deve ser puro e simples).

Tem os seguintes efeitos: transfere a titularidade do crédito e transforma


o endossante em coobrigado pelo pagamento do título. Em contrário ao
regime cambial, o art. 914 do Código Civil determina que o endossante
não responde pelo pagamento do título, dispensando-o dessa responsa-
bilidade. Diante disso, é preciso lembrar que o Código Civil só tem apli-
cação aos títulos de crédito não regulados por lei especial (art. 903 do
Código Civil).

É prestado no verso do título, lançando o credor a sua assinatura. Pode


ser “em branco” (não identifica o novo credor, convertendo o título ao
portador) ou “em preto” (identifica o credor).

Pode ser próprio (transfere o título); ou impróprio (que não transfere o tí-
tulo), nas modalidades endosso-mandato (permite ao endossante cobrar
o título), ou endosso-caução (o endossante apenas dá o título como ga-
rantia de uma dívida contraída com o endossatário); póstumo (dado após
o vencimento do título).

b) Aval

Ainda conforme ensina André Luiz Santa Cruz Ramos4, aval é “ato cambi-
ário pelo qual um terceiro (o avalista) se responsabiliza pelo pagamento
da obrigação constante do título”. É prestado mediante a assinatura do
avalista no anverso do título.

3
RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial esquematizado. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método,
2016, p. 568-574.
4
RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial esquematizado. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método,
2016, p. 574-579.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos7


Pode ser “em branco’ (não identifica o avalizado) ou “em preto” (identifica
o avalizado); simultâneo (vários pessoas avalizam o mesmo devedor); su-
cessivo (uma pessoa avaliza um outro avalista).

Por fim, o art. 897, parágrafo único do Código Civil, proíbe o aval parcial
(parte do valor da dívida). Entretanto, o art. 30 da LUG o permite. Diante
disso, é preciso lembrar que o art. 897 do Código Civil só tem aplicação aos
títulos de crédito não regulados por lei especial (art. 903 do Código Civil).

2. Teoria geral dos títulos de crédito

O protesto pressupõe a existência de um título de crédito ou documento


de dívida: aqueles representam obrigações pecuniárias5; estes são docu-
mentos que portam uma dívida certa, líquida e exigível, considerados como
títulos executivos judiciais ou extrajudiciais pela legislação processual.

A doutrina adota o conceito de título de crédito elaborado por Vivante:


“documento necessário para o exercício do direito literal e autônomo,
nele mencionado”.6 Dele extrai-se os princípios e as características dos
títulos de crédito.

2.1. Principais características dos títulos de crédito

Sem pretensão de esgotar o assunto, você verá as principais característi-


cas dos títulos de crédito, pertinentes à análise utilizada nos tabelionatos
de protesto.

A fim de facilitar sua memorização, sugiro que guarde a frase “SOPRa o


CAFÉ”: SO (solidariedade); PRa (“pro solvendo”); C (circulação); A (apresen-
tação); F (formalismo); E (executividade).

5
COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. 25. ed. Saraiva, 2013, p. 271.
6
COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. 25. ed. Saraiva, 2013, p. 273.

8 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


2.1.1. Natureza “pro solvendo”

Em regra, a entrega de um título de crédito ao credor não extingue a dí-


vida. Esta somente será extinta com o efetivo pagamento. Até que este
ocorra subsistem simultaneamente ambas as obrigações: a originária e a
assumida no título de crédito. Quando o título for pago, ambas as obriga-
ções restarão extintas.

Excepcionalmente, por ajuste entre credor e devedor, a entrega do título


de crédito pode ter natureza “pro soluto”, ou seja, pode extinguir a dívida
originária, permanecendo tão somente a obrigação constituída pelo título
de crédito.

2.1.2. Circulação

A principal característica dos títulos de crédito é a circulação. Eles fazem


circular as riquezas, conferindo dinamismo às atividades mercantis. Por
meio deles, os recursos financeiros são transferidos de credor para cre-
dor de forma rápida, eis que o volume monetário e seus acessórios estão
representados na cártula. Imagine-se que o título de crédito seja uma ma-
leta contendo dinheiro. A circulação (transferência) do título é como se
um credor passasse a maleta de dinheiro para o outro credor, só que por
meio do título essa transferência torna-se segura.

Procure perceber que as características, os princípios, e todo o regime


jurídico pertinente aos títulos de crédito foram criados para garantir segu-
rança à circulação. Os títulos à ordem circulam por meio de endosso, seja
ao portador (endosso em branco) ou nominativo (endosso em preto), e
a eles são aplicadas as regras do regime jurídico cambial. Já os títulos não
à ordem circulam por meio de cessão civil, e a eles se aplicam as regras
do direito civil, e não as do direito cambial, com garantias muito menores
à segurança de sua circulação (por exemplo, não se aplica o princípio da
inoponibilidade de exceções pessoais contra terceiros). O endosso dado
após o protesto, tem o efeito de cessão civil.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos9


2.1.3. Apresentação

Para receber os recursos financeiros representados no título, o credor


deve apresentá-lo ao devedor, o que pressupõe a posse da cártula. A apre-
sentação do título no ato da cobrança é a forma de o devedor se certificar
que aquela pessoa é o legítimo credor, sem o qual não está obrigado a
pagar (pois, quem paga mal, paga duas vezes).

2.1.4. Executividade

Diferentemente dos documentos de dívida (que para ter executividade


devem cumprir alguns requisitos que serão vistos logo adiante), os títulos
de crédito são, por si sós, títulos executivos extrajudiciais.

Basta que a obrigação nele contida se encontre vencida para que o título
seja prontamente exigível.

Isso significa que o credor pode exigir a obrigação vencida constante do


título diretamente do devedor, e, acaso não satisfeita a obrigação, o cre-
dor poderá ingressar no judiciário diretamente com ação executiva, sem
a necessidade de prévia ação de conhecimento para discutir a existência
do crédito.

A execução fica condicionada apenas à comprovação do vencimento do


título.

2.1.5. Formalismo

Característica de muita utilidade nos tabelionatos de notas.

Um documento só se configura como título de crédito se preencher todos


os requisitos exigidos pela lei. Cada título de crédito é regido por uma lei
própria, que exige requisitos objetivos para que exista aquele título.

A qualificação levada a efeito pelos tabelionatos deve estar atenta a cada


um desses requisitos. A falta de qualquer deles, desfigura o título.

10 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


2.1.6. Solidariedade cambial

Em um mesmo título de crédito pode haver vários devedores. Cada um deles


assume a obrigação por meio do lançamento de sua assinatura no título.

Quanto à nomenclatura, existem 5 categorias de devedores: 1) o emiten-


te do título, nas notas promissórias e cheques; 2) o sacado, nas letras de
câmbio e duplicatas; 3) os avalistas; 4) os endossantes; e, 5) na letra de
câmbio e nas duplicatas existe ainda o sacador, ou seja, aquele que emite
(saca) a letra ou duplicata contra o sacado. (art. 21, § 4º da Lei 9.492/97;
art. 1º da LUG, e art. 15, § 1º da Lei 5.474/68).

Como todos são devedores solidários, o credor pode exigir o pagamente


de cada um deles, de alguns ou de todos. O devedor que pagar a dívida
terá direito de regresso contra seus devedores antecedentes, e assim su-
cessivamente, até alcançar o emitente ou o aceitante, principais devedo-
res do título, encerrando-se a cadeia.

Atente-se que a solidariedade cambial difere da solidariedade civil. Em


ambas, o credor pode exigir de um, alguns, ou todos os devedores.

No entanto, na solidariedade cambial, o direito de regresso entre os de-


vedores deve respeitar um sentido: aquele que paga só pode regressar
contra seus antecessores, e não há rateio entre os codevedores, eis que
cada um deve pagar a totalidade da dívida, até chegar ao emitente ou
aceitante. Na solidariedade civil, esse sentido “para trás” inexiste, haven-
do, ainda, rateio entre os codevedores.

2.2. Princípios dos títulos de crédito7

2.2.1. Cartularidade

O documento (suporte material) que forma o título de crédito é chamado


de cártula. Possui forma necessariamente escrita e deve conter todos os
7
LACTA. Expressão mnemônica cunhada pelo prof. Adriano César Alvarez, em sala de aula, a fim de facilitar aos alunos a
memorização dos princípios dos títulos de crédito. LACTA = Literalidade, Autonomia, Cartularidade.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos11


requisitos exigidos pela lei, para que seja válido como um título de cré-
dito. Ela, a cártula, é o documento necessário para o exercício do direito
nela inscrito8.
O princípio está nos dizendo que a cártula deve ser apresentada no seu
original, tanto ao tabelionato de protesto, como ao devedor ou na execu-
ção judicial, não sendo válida como título de crédito a cópia reprográfica,
ainda que autenticada por tabelião de notas.
Esse princípio comporta exceções que você estudará adiante: 1) a duplica-
ta admite a mera apresentação dos elementos formadores da sua emis-
são (duplicata por indicação); e, 2) títulos de crédito eletrônicos.

2.2.2. Literalidade

Só tem validade o que estiver escrito na cártula. Atos como o aval ou en-
dosso, e até mesmo a quitação de pagamento lançados fora da cártula,
não são reconhecidos.

2.2.3. Autonomia

Cada coobrigado no título de crédito representa uma obrigação indepen-


dente. O emitente, cada avalista e cada endossatário, perfaz uma obri-
gação distinta das demais. Assim, se alguma delas for nula (como, por
exemplo, um aval prestado por pessoa incapaz), as demais obrigações,
anteriores ou posteriores a ela, não serão atingidas.

2.2.4. Abstração

O título de crédito quando emitido permanece vinculado às partes contra-


tantes e ao negócio jurídico que lhe deu origem.

Contudo, no momento em que entra em circulação (o primeiro credor o


transfere para outro credor), o título se desvincula do negócio originário,
e passa a existir por sí só, ainda que a obrigação que lhe deu origem seja
8
Lembrar do conceito de Vivante: “documento necessário para o exercício do direito literal e autônomo, nele mencionado”.

12 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


anulada. O novo credor, independentemente da sorte do negócio entabu-
lado entre as partes originárias, terá direito ao recebimento do crédito (o
título se abstrai da causa que lhe deu origem).

2.2.5. Inoponibilidade de exceções pessoais aos terceiros credores de


boa-fé

O devedor só pode invocar como defesa para deixar de pagar as exceções


pessoais que tiver contra o seu credor direto. Não há saltos. Ao devedor é
vedado alegar exceções contra o credor do seu credor, nem contra qual-
quer outro credor que não seja o seu imediato.

Acompanhe o exemplo: A transmite o título para B, que o transmite para


C, que por sua vez o transmite para D. C só pode alegar exceções de defe-
sa (negando o pagamento) a B, seu credor imediato. Contra A e D, tercei-
ros de boa-fé, C não poderá opor suas exceções pessoais.

O enunciado do artigo 916, do Código Civil, corrobora este entendimento:

“As exceções, fundadas em relação do devedor com os portadores preceden-


tes, somente poderão ser por ele opostas ao portador, se este, ao adquirir o
título, tiver agido de má-fé” .

PARA SABER MAIS


Na hipótese em que o título de crédito ainda não circulou por
endosso, é possível que o avalista do emitente oponha ex-
ceções pessoais que este detinha contra o credor. Mitigação
dos princípios da abstração, autonomia e inoponibilidade de
exceções pessoais contra terceiro de boa-fé.

Disponível em: <http://www.mpsp.mp.br/portal/page/portal/


documentacao_e_divulgacao/doc_biblioteca/bibli_servicos_
produtos/bibli_boletim/bibli_bol_2006/RTrib_n.957.32.PDF>.
Acesso em: 22 set. 2018.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos13


2.3. Classificação dos títulos de crédito

Apresentaremos a classificação mais comum na doutrina. Referida classi-


ficação não exaure a matéria, sendo possíveis outras classificações con-
forme critérios e autores diversos.

2.3.1. Quanto ao modelo

a) modelo livre: a cártula não possui modelo padronizado, basta que o


documento contenha todos os requisitos exigidos pela lei referente
àquele título de crédito.
Ex.: Nota promissória e Letra de Câmbio.
b) modelo vinculado: a cártula deve obedecer ao molde definido na lei.
Qualquer documento diverso do molde, ainda que contenha todos os
requisitos legais, não valerá como título de crédito
Ex.: Cheque e Duplicata.

2.3.2. Quanto à estrutura

a) ordem de pagamento: o sacador na letra de câmbio, ou emitente no


cheque e duplicata, emite uma ordem ao sacado para que este pague
certa quantia ao tomador.
Ex.: Letra de câmbio, cheque e duplicata.
b) promessa de pagamento: o emitente promete pagar em determina-
da data, certa quantia em dinheiro ao beneficiário.
Ex.: Nota promissória.

2.3.3. Quanto à emissão

a) título causal: o título só pode ser emitido na hipótese tipificada na lei.


Ex.: Duplicata.
b) título abstrato: pode ser emitido em qualquer hipótese, a depender
da vontade das partes, uma vez que não possui causa de emissão tipi-
ficada na lei.
Ex.: Cheque e Nota promissória.

14 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


2.3.4. Quanto à circulação

a) título ao portador: o título não identifica o nome do credor, bastando


a posse da cártula para que a pessoa adquira essa qualidade. A transfe-
rência do título aperfeiçoa-se pela simples entrega ao novo credor (mera
tradição) sem qualquer endosso, ou por meio de “endosso em branco”.
O devedor deverá prestar a obrigação a quem apresentar a cártula.
Ex.: o único exemplo é o cheque de valor até R$ 100,00 (cem reais).

b) título nominativo: no título há a identificação do credor, sendo que o


pagamento é devido a essa pessoa indicada ou à sua ordem. A transfe-
rência do título opera-se com o lançamento da assinatura do atual cre-
dor no verso da cártula, indicando o nome do novo credor, e aperfei-
çoa-se com a tradição. Dividem-se em: 1) “à ordem”: sua transferên-
cia ocorre por endosso escrito; e, 2) “não à ordem”: sua transferência
ocorre por meio de cessão civil. Nesse caso, o endossante deve lançar
junto de sua assinatura a expressão “não à ordem”, convertendo o en-
dosso em cessão civil.

Os títulos nominativos podem ser convertidos em títulos ao portador, bas-


tando que no momento de sua transferência o endosso seja “em branco”
(ou seja, ao endossar, o endossante apõe sua assinatura, mas deixa de
identificar o novo credor). Em contrário, o endossatário de endosso em
branco pode convertê-lo para “endosso em preto” (o endossante apõe
sua assinatura e identifica o novo credor). O endossatário de “endosso
em preto” também poderá transferir o título mantendo a característica de
título nominativo, lançando novo “endosso em preto”.

Por fim, necessário mencionar que a aquisição de título “à ordem” por


meio diverso do endosso, tem efeito de cessão civil.

2.3.5. Quanto à tipicidade

a) títulos típicos: são aqueles já definidos em lei.


Ex.: Letra de câmbio, Nota promissória, Cheque, Duplicata, etc.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos15


b) títulos atípicos: são criados pelos particulares, seguindo as regras do
Código Civil, não havendo lei específica que os discipline. Fábio Ulhoa
Coelho discorda dessa classificação, entretanto, admite a existência e
validade da “vaca-papel” (título atípico utilizado para documentar obri-
gação de entrega de gados no Centro-Oeste brasileiro9).

2.4. Títulos de crédito eletrônicos

Os avanços tecnológicos também imprimiram reflexos no direito cambi-


ário. O desenvolvimento do comércio eletrônico forçou o surgimento de
uma nova forma de circulação e documentação de crédito: a eletrônica.

A doutrina é uníssona em afirmar que os títulos de crédito eletrônicos,


também denominados por RICARDO NEGRÃO10 de títulos desmaterializa-
dos ou virtuais, têm seu fundamento jurídico no art. 889, do Código Civil,
o qual permite a criação de títulos “a partir dos caracteres criados em
computador ou meio técnico equivalente”. Esse mesmo artigo estabelece
seus requisitos formais mínimos: data de emissão, indicação precisa dos
direitos conferidos, assinatura e domicílio do emitente.

EVÉRSIO DONIZETE DE OLIVEIRA, citado por EDILSON ENEDINO DAS


CHAGAS11, fornece-nos um conceito: “os títulos de crédito eletrônicos
podem ser entendidos como toda e qualquer manifestação de vontade
traduzida por determinado programa de computador, representativo de
um fato, necessário para o exercício do direito literal e autônomo nele
mencionado”.

Atualmente, o grande debate doutrinário a respeito dessa nova forma


de emissão é sua conseqüência sobre os princípios dos títulos de crédi-
to. FÁBIO ULHOA COELHO, citado por RICARDO NEGRÃO (p. 46), conclui
que os títulos eletrônicos não se amoldam aos princípios da cartularidade

9
COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial. 25. ed. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 279.
10
NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa, v. 2: títulos de crédito e contratos empresariais. 3. ed. São
Paulo: Saraiva, 2012, p. 46.
11
CHAGAS, Edilson Enedino das. Direito empresarial esquematizado. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2017 (coleção esquematizado),
p. 375.

16 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


(relativos a posse do título pelo credor) e da literalidade. ANDRÉ LUIZ
SANTA CRUZ RAMOS12 entende que a desmaterialização põe em xeque a
existência do princípio da cartularidade, uma vez que não há papel a ser
apresentado. MARLON TOMAZETTE13 e EDILSON ENEDINO (p. 375) enten-
dem que o princípio da cartularidade foi apenas mitigado: ele continua
válido também para os títulos eletrônicos, eis que o suporte em papel foi
apenas substituído pela “manifestação de vontade traduzida por um pro-
grama de computador” (TOMAZETTE, p. 29), mudando apenas a matéria
representativa do direito, que poderá ser o papel ou o meio eletrônico,
com efeitos sobre assinatura, mecânica no primeiro caso e criptográfica
no segundo (TOMAZETTE, p. 30). EDILSON ENEDINO (p. 376), em sua ar-
gumentação, reforça a idéia da indispensabilidade da cártula em face dos
artigos 88714 e 22315 do Código Civil. Até o momento, não se tem notícia
de um posicionamento consolidado.

Em que pese as discussões doutrinárias, relativamente ao tabelionato


não há dúvida acerca da possibilidade de protesto de títulos eletrônicos,
como autorizado pelo art. 8º, parágrafo único, da Lei 9.492/97, acerca das
duplicatas mercantis e de serviços eletrônicos. A duplicata virtual é tam-
bém chamada de duplicata escritural (conforme expressão de EDILSON
ENEDINO).

O STJ já se manifestou sobre as duplicatas mercantis virtuais, reconhe-


cendo a validade do protesto dessa espécie de título, baseado no boleto
bancário, acompanhado do aceite ou da prova da entrega da mercado-
ria (Agravo Regimental no Agravo em Recurso Especial nº 250.853-SP, de
18.02.2014, Ministro Paulo de Tarso Sanseverino).

12
RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial esquematizado. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método,
2016, p. 520.
13
TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: títulos de crédito, v. 2. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 29.
14
Art. 887. O título de crédito, documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente
produz efeito quando preencha os requisitos da lei.
15
Art. 223. A cópia fotográfica de documento, conferida por tabelião de notas, valerá como prova de declaração da vontade,
mas, impugnada sua autenticidade, deverá ser exibido o original.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos17


Acontece assim: o Banco interessado apresenta ao cartório uma indica-
ção da duplica, chamada de boleto. Essa indicação pode ser apresentada
via papel ou via eletrônica. Advirta-se que o cartório não protesta o bole-
to, eis que este na verdade são as indicações da duplicata.
Apesar disso, a normatização do protesto de duplicatas virtuais ficou a
cargo das normativas dos Estado.
No Estado de São Paulo, o protesto por indicação das duplicatas são
regulados nos itens 42 e 39 do Capítulo XV das Normas de Serviço da
Corregedoria Geral:
42. As indicações de duplicatas podem ser transmitidas e recepcionadas
por meio magnético ou de gravação eletrônica de dados, observado sem-
pre o disposto no item 39, relativo às declarações substitutivas, que podem
ser feitas e encaminhadas pelos mesmos meios.

39. Ao apresentante da duplicata mercantil ou de prestação de serviços,


faculta-se a substituição da apresentação dos documentos relacionados no
item anterior por simples declaração escrita do portador do título e apre-
sentante, feita sob as penas da lei, assegurando que os documentos origi-
nais ou suas cópias autenticadas, comprobatórios da causa do saque, da
entrega e do recebimento da mercadoria correspondente ou da efetiva
prestação do serviço, são mantidos em seu poder, e comprometendo-se
a exibi-los, sempre que exigidos, no lugar onde for determinado, especial-
mente se sobrevir sustação judicial do protesto.

39.1. Cuidando-se de endosso não translativo, lançado no título apenas para


permitir sua cobrança por representante do sacador, a declaração tratada
no item anterior pode ser feita pelo sacador-endossante e pelo apresentan-
te e portador.

39.2. Da declaração, na hipótese do subitem anterior, deve constar que o


apresentante é mero representante e age por conta e risco do representa-
do, com quem os documentos referidos no item 38 permanecem arquiva-
dos para oportuno uso, em sendo necessário.

39.3. A declaração substitutiva pode estar relacionada a uma ou mais dupli-


catas, desde que precisamente especificados os títulos.

18 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


Você estudará o protesto por indicação na aula 3 deste conteúdo.
Além da duplicata virtual, a Corregedoria do Estado de São Paulo admite o
protesto de outros títulos eletrônicos, conforme disposto no Capítulo XV,
das NSCGJ, Tomo II:
20.1. São admitidos a protesto os títulos de crédito que satisfaçam os requi-
sitos do artigo 889 do Código Civil.

20.2. Os títulos de crédito emitidos na forma do artigo 889, § 3º, do Código


Civil, também podem ser enviados a protesto, por meio eletrônico.

PARA SABER MAIS


Como ocorre o protesto de duplicata virtual. A Duplicata
Virtual é título de crédito eletrônico passível de sofrer pro-
testo, sempre que presentes os requisitos legais. (https://jus.
com.br/artigos/29047/da-i-legitimidade-do-protesto-do-titu
lo-de-credito-eletronico-duplicata-virtual)

3. Documentos de dívida

Nem todos os documentos que retratam obrigação de pagar são admiti-


dos a protesto, mas tão somente aqueles que apresentem os requisitos
cumulativos de certeza, liquidez e exigibilidade16, e contenham previ-
são expressa em lei autorizando o protesto. Link: <http://www.cartafo
rense.com.br/conteudo/artigos/protesto-notarial-de-contratos/13421>.
Acesso em: 22 set. 2018.
Perceba que esses requisitos transformam o documento de dívida em
título executivo. Isso significa que a dívida retratada por um documento
executivo judicial ou extrajudicial pode ser protestado.

16
GRAMASCO, Jeferson Alexandre. Protesto extrajudicial: a análise da prescrição na qualificação do título pelo tabelião.
2015. 25 f. TCC (especialização) - Curso de Pós-graduação em Direito Notarial e Registral, Anhanguera Uniderp - Lfg, Rio
Claro, 2016, cap. 1.2.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos19


O título é certo quando a obrigação nele contida está claramente descri-
ta; líquido, quando nele se encontra expresso o valor devido; e é exigível
quando a obrigação nele contida já se encontra vencida, pois antes do
vencimento não é possível o credor exigir o cumprimento da obrigação.

Veja alguns exemplos:


a) Contrato de honorários advocatícios, que ostenta a qualidade de tí-
tulo executivo extrajudicial, nos moldes do art. 24 da Lei 8.906/9417;
b) Contrato de câmbio (art. 75 da Lei 4.728/65);

LINK
<http://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/
revista03/revista03_102.pdf>. Acesso em: 22 set. 2018.

c) Sentença arbitral condenatória de obrigação de pagar (art. 515, VII,


NCPC).
d) CDAs.

A Lei Federal nº 12.767/2012 incluiu o parágrafo único no art. 1º da Lei nº


9.492/9718, autorizando o protesto das certidões de dívida ativa da União,
dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas autar-
quias e fundações públicas, e o NCPC incluiu as CDAs no rol dos títulos
executivos extrajudiciais (art. 784, IX)19. Assim, atualmente, aos Estados
membros se abriu a possibilidade de protestar os impostos como o IPVA,
o ITCMD, e outras dívidas tributárias atrasadas.

17
Art. 24. A decisão judicial que fixar ou arbitrar honorários e o contrato escrito que os estipular são títulos executivos e
constituem crédito privilegiado na falência, concordata, concurso de credores, insolvência civil e liquidação extrajudicial.
18
Art. 1º, parágrafo único: incluem-se entre os títulos sujeitos a protesto as certidões de dívida ativa da União, dos Estados,
do Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas autarquias e fundações públicas.
19
Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais:
[...]
IX - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, correspondente
aos créditos inscritos na forma da lei.

20 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


PARA SABER MAIS
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE Nº 5.135.
DISTRITO FEDERAL. Julgada em 09.11.2016. Ementa: di-
reito tributário. Ação direta de inconstitucionalidade. Lei
nº 9.492/1997, art. 1º, parágrafo único. Inclusão das cer-
tidões de dívida ativa no rol de títulos sujeitos a protesto.
Constitucionalidade.

Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.


jsp?docTP=TP&docID=14308771>. Acesso em: 22 set. 2018.

e) contrato de aluguel

Podem ser incluídos os valores do aluguel e acessórios, quando estes


forem convencionados no contrato como responsabilidade do locatário
(art. 23, inciso I, da Lei nº 8.245/91), podendo abranger: telefone, luz, gás,
água e esgoto, despesas ordinárias de condomínio e IPTU.20
f) contribuições condominiais (art. 784, inciso X, do NCPC).

QUESTÃO PARA REFLEXÃO

Nesta aula você aprendeu que podem ser protestados todos os do-
cumentos de dívida que possuam os atributos de certeza, liquidez e
executividade.

No tabelionato de sua titularidade, uma pessoa achega-se ao balcão


e apresenta uma escritura pública de confissão de dívida para você
protestar, alegando o descumprimento da obrigação de pagar conti-
da no documento.

20
BIANCONI, Thiago Lobo; CAMARGO NETO, Mário de Carvalho; SOUZA NETO, João Baptista de Mello et al (Org.). Manual
do Protesto de Letras e Títulos: teoria e prática. São Paulo: QuartierLatin, 2017, p. 258-261.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos21


Seria ela um documento protestável?

A escritura pública é um título executivo extrajudicial, nos termos do


art. 784, inciso II do NCPC, e aqui já se encontra a autorização legal
para ingresso no protesto. Entretanto, existem dois outros requisi-
tos. O primeiro é a certeza: em uma escritura de confissão de dívida,
o notário tomou a declaração feita pelo devedor em sua presença,
confessando dever certo valor, e a consignou num documento do-
tado de fé pública e autenticidade; existe aqui a certeza quanto à
obrigação declarada, e encontra-se expressa em documento escrito.
O segundo, diz respeito à liquidez: por certo que aquele que se decla-
rou obrigado com outrem consignou o valor de sua obrigação, e isto
também constou expresso da escritura.

Não devemos esquecer que o art. 1º da lei de protesto declara que


através do protesto se comprova o descumprimento de obrigação
originada em títulos e outros documentos de dívida.

Assim sendo, nessa reflexão, é forçoso concluir que a escritura de


confissão de dívida apresenta todos os requisitos exigidos para o in-
gresso no protesto.

A partir dessa conclusão, seria viável o recebimento para protesto de


uma escritura de venda e compra de imóvel, cujo valor fora dividido
em 3 parcelas a serem pagas através de depósito em conta corrente
do outorgante, sem cláusula resolutiva, e cujas parcelas já se encon-
tram vencidas?

4. Considerações finais

• Títulos de crédito são documentos necessários para o exercício do


direito literal e autônomo neles mencionado.

22 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


• Criados para circular riquezas, são documentos de apresentação
obrigatória, cuja validade depende de preencher o formalismo exigi-
do pela lei; estabelecem uma solidariedade entre seus coobrigados;
são dotados de executividade e somente extinguem a dívida com o
efetivo pagamento.
• Seu regime jurídico segue os princípios da cartularidade, literalida-
de, autonomia, abstração e inoponibilidade de exceções pessoais
contra terceiros de boa-fé.
• Possuem diversas classificações quanto a estrutura, emissão, circu-
lação e tipicidade.
• Atualmente, pode-se falar na existência de títulos de crédito eletrô-
nicos, inclusive sendo admissíveis a protesto.
• Documentos de dívida admitidos a protesto somente aqueles dota-
dos de certeza, liquidez e exigibilidade, e contenham previsão legal
expressa autorizando o protesto.

Glossário
• Título: expressão que se refere aos títulos cambiários e cambiari-
formes, incluindo o cheque, nota promissória e duplicata.21
• Documento de dívida: conceito que abrange qualquer documento
de origem judicial ou extrajudicial, previsto na lei como sendo título
executivo, diverso do título cambiário, e que retrate obrigação de pa-
gar. Abrange também outros documentos dotados de certeza, liqui-
dez e exigibilidade, desde que representativos de dívida em dinheiro.22
• Exceções pessoais: são meios de defesa de uma pessoa contra
outra, relativas ao negócio jurídico entabulado entre eles. Diz-se
pessoal, porque só pode ser oposta contra o outro participante da
relação jurídica. Terceiro que não participou, não pode ter alegada
contra si a defesa do devedor pertinente a negócio jurídico contra-
tado com outrem.23
21
PEREIRA, José Horácio Cintra Gonçalves; SOUZA NETO, João Baptista de Mello et al (Org.). Manual do Protesto de Letras e
Títulos: teoria e prática. São Paulo: QuartierLatin, 2017, p. 34-35.
22
PEREIRA, José Horácio Cintra Gonçalves; SOUZA NETO, João Baptista de Mello et al (Org.). Manual do Protesto de Letras e
Títulos: teoria e prática. São Paulo: QuartierLatin, 2017, p. 38.
23
CHAGAS, Edilson Enedino das. Direito empresarial esquematizado. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2017 (coleção esquematizado),
p. 345.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos23


VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 01
1. (Exame Oral do Concurso de Serventias de São Paulo - adap-
tada) Indique a alternativa correta: a sentença proferida
em Juízo Arbitral pode ser apresentada para protesto?
a) A sentença arbitral condenatória em obrigação de fa-
zer pode ser apresentada a protesto, eis que se trata
de título executivo extrajudicial previsto no Código de
Processo Civil.
b) Qualquer sentença arbitral é passível de ser protestada.
c) Sentença arbitral condenatória em obrigação de pagar
pode ser apresentada a protesto, eis que se trata de
título executivo judicial previsto no Código de Processo
Civil.
d) A sentença arbitral condenatória não é título executivo.
e) A sentença arbitral não é passível de protesto.
2. (6º Concurso de Serventias de São Paulo - alterada) Indique
a alternativa correta: na sua classificação quanto ao mo-
delo, os títulos de crédito dividem-se em:
a) Causais, limitados e abstratos.
b) Ao portador, nominativos à ordem e nominativos não
à ordem.
c) Vinculados e livres.
d) Ordem de pagamento à vista, promessa de pagamento
e ordem de pagamento a prazo.
e) Promessa de entrega.
3. (7º Concurso de Serventias de São Paulo - adaptada)
Indique a alternativa correta: nos títulos de crédito, é
correto afirmar que:

24 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


a) O credor pode exigir o pagamento da nota promissó-
ria, desde que apresente cópia reprográfica do título.
b) O cheque com cláusula “não à ordem” é transmissível
por endosso.
c) Em regra, todo título de crédito possui natureza pro
soluto.
d) O título é exigível quando a obrigação nele contida se
encontra vencida.
e) O título só é exigível antes do vencimento da obrigação.
4. (Exame Oral do Concurso de Serventias de São Paulo -
adaptada) Indique a alternativa correta: quando o títu-
lo de crédito é transferido pelo primeiro credor, ocorre a
desvinculação da causa original que lhe deu origem. A as-
sertiva refere-se a qual princípio dos títulos de crédito?
a) Inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de
boa-fé.
b) Abstração.
c) Cartularidade.
d) Circulação.
e) Desmaterialização.
5. Indique a alternativa correta: sobre os documentos de
dívida que têm acesso ao protesto, é correto afirmar:
a) Os documentos de dívida passíveis de protesto são
aqueles dotados de certeza, liquidez e exigibilidade, e
contenham previsão legal autorizando o protesto.
b) Todo e qualquer documento de dívida pode ser
protestado.
c) Segundo o STF, o protesto das CDAs é inconstitucional.
d) Documento de dívida que não enuncia o valor devido
pode ser protestado.
e) Somente documento dotado de liquidez e certeza pode
ser protestado.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos25


Referências Bibliográficas

AMADEI, Vicente de Abreu; DIP, Ricardo et al (Org.). Introdução ao Direito Notarial


e Registral. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris Editor, 2004. 279 p.

CHAGAS, Edilson Enedino das. Direito Empresarial Esquematizado. 4. ed. São Paulo:
Saraiva, 2017 (coleção esquematizado). 1190 p.

COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 25. ed. São Paulo: Saraiva,
2013. 554 p.

GRAMASCO, Jeferson Alexandre. Protesto Extrajudicial: a análise da prescrição na


qualificação do título pelo tabelião. 2016. 25 f. TCC (especialização) - Curso de Pós-
graduação em Direito Notarial e Registral, Anhanguera Uniderp - Lfg, Rio Claro, 2016.

NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa, v. 2: títulos de crédi-


to e contratos empresariais. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, 512 p.

RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. 6. ed. Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2016, 934 p.

SOUZA NETO, João Baptista de Mello et al (Org.). Manual do Protesto de Letras e


Títulos: teoria e prática. São Paulo: QuartierLatin, 2017. 480 p.

TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial: títulos de crédito, v. 2. 4 ed. São


Paulo: Atlas, 2013, 458 p.

Gabarito – Tema 01
Questão 1 – Resposta: C
A sentença arbitral condenatória em obrigação de pagar pode ser
apresentada a protesto, eis que se trata de título executivo judicial,
previsto no art. 515, VII, do NCPC (tópico 3 desta aula).

Questão 2 – Resposta: C
Quanto ao modelo, os títulos de crédito se dividem em títulos de
modelo vinculado e títulos de modelo livre (tópico 2.3.1 desta aula).

26 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


Questão 3 – Resposta: D
O título é exigível quando a obrigação nele contida se encontra ven-
cida (tópico 2.1.4 desta aula).

Questão 4 – Resposta: B
No momento em que o título entra em circulação (o primeiro credor
o transfere para outro credor), ele se desvincula do negócio originá-
rio, e passa a existir por sí só. O título se abstrai da causa que lhe deu
origem (tópico 2.2.4 desta aula).

Questão 5 – Resposta: A
Os documentos de dívida passíveis de protesto são aqueles dotados
de certeza, liquidez e exigibilidade, e contenham previsão legal auto-
rizando o protesto (tópico 3 desta aula).

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos27


TEMA 02
O PROTESTO E SUA FINALIDADE

Objetivos

• Nesta aula você irá estudar a finalidade do protesto


e sua evolução para os dias atuais. Compreenderá a
necessidade da existência desse instituto e seu papel
no desenvolvimento da economia do país.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos28


Introdução

“Desde a sua origem o protesto é ato praticado perante um notário,


profissional que formaliza juridicamente a vontade do interessado”1.
Originariamente, o protesto limitava-se a provar a falta de aceite na Letra
de Câmbio, mas com o passar do tempo, surgiram outros títulos de crédi-
to que reclamavam a prova da falta de seu pagamento.
Atualmente, podemos afirmar que o protesto configura um eficaz instru-
mento de cobrança, como você irá verificar no decorrer desta aula, sendo
esta, na atualidade, sua principal finalidade.

1. Conceito de protesto

É importante você saber que em nosso ordenamento jurídico são conhe-


cidos o protesto contra alienação de bens, o protesto judicial e o protesto
cambial. Os dois primeiros estão previstos no Código de Processo Civil, e
o último, na Lei nº 9.492/97, o único que nos interessa nesse estudo.
O art. 1º da Lei federal nº 9.492, de 10 de setembro de 1997, estabelece o
conceito legal do que seja o protesto cambial:
Art. 1° Protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência
e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros docu-
mentos de dívida.
Inicialmente é preciso compreender que o protesto é um ato público ex-
trajudicial, eis que emana de tabelião de protesto.
Também é ato formal, porque obedece a requisitos legais traçados
na lei e nas normativas extrajudiciais de cada Estado, a cargo de suas
Corregedorias Estaduais. Assim, convido você a conhecer a normativa de
seu Estado para complementar os requisitos e conhecer as cautelas ne-
cessárias à lavratura desse ato.

1
SANTOS, Reinaldo Velloso dos. Apontamento sobre o protesto notarial. 2012. 244 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de
Mestre em Direito Comercial, Direito Comercial, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2012, p. 1.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos29


Finalmente é um ato solene, pois o registro do protesto resulta de um
procedimento traçado na lei, e complementado também pelas normati-
vas de cada Estado. Por esse procedimento, o título PE apresentado ao
devedor, e diante da recusa deste em efetuar o pagamento, lavra-se um
registro, formando prova do ocorrido.

Perceba que a definição legal evidencia, desde logo, a finalidade do pro-


testo: constituir prova de que o credor procurou o devedor, e este negou-
se a honrar a obrigação, quedando-se inadimplente.

2. Natureza jurídica do protesto

Como estipulado na própria lei, o protesto é um ato. Mais precisamente


definido, o protesto se trata de um ato jurídico em sentido estrito, pois
as consequências jurídicas dele decorrentes estão expressamente pre-
vistas em lei. Não há espaço para que as partes estipulem que efeitos o
protesto terá ou não.

Ao contrário do que se possa imaginar a “priori”, o protesto não é um ato


privado, mas sim um ato jurídico de caráter público, uma vez que, apesar
de o Tabelião exercer uma atividade em caráter privado, o serviço presta-
do por ele é de caráter público.

Além disso, o protesto é um ato unitário.

Protesta-se o título e não a pessoa obrigada ou coobrigada. Assim, mes-


mo que no ato figure como devedor certa pessoa, desnecessário um ou-
tro protesto para inclusão do nome de coobrigado, podendo ser tomada
contra ambos a medida judicial cabível, com base no único protesto lavra-
do em relação ao título pelo qual todos se obrigaram2.

2
BUENO, Sérgio Luiz José. O protesto de títulos e outros documentos de dívida: aspectos práticos. Porto Alegre: Sérgio Luiz
José Bueno, 2011, p. 21.

30 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


Por fim, adequada a observação lançada por Vicente Amadei ao classifi-
car o protesto como “ato misto”, ou seja, notarial e registral ao mesmo
tempo, pois, como diz a Lei, o Tabelião lavra o ato e o registra, dando
publicidade a ele3.

3. Objeto do protesto

O protesto tem por objeto:


a) os títulos de crédito cambiais (letras de câmbio e nota promissória);
b) títulos de crédito cambiariformes (duplicata, cheque, cédulas de crédi-
to); e,
c) documentos de dívida que representem títulos executivos judiciais ou
extrajudiciais, e desde que preencham os requisitos cumulativos de
certeza, liquidez e exigibilidade.

LINK
<https://www.protesto.net.br/home.php?ac=titulos_protes
taveis>. Acesso em: 22 set. 2018.

4. Princípios do protesto

Os princípios são o substrato para a compreensão de um instituto jurídi-


co, eis que permitem conhecer o modo pelo qual se deve operá-lo.
A partir das doutrinas de AMADEI4 e LOUREIRO5, verifica-se que o instituto
do protesto compreende os seguintes princípios, a saber:
3
BUENO, Sérgio Luiz José. O protesto de títulos e outros documentos de dívida: sspectos práticos. Porto Alegre: Sérgio Luiz
José Bueno, 2011, p. 21.
4
AMADEI, Vicente de Abreu; DIP, Ricardo et al (Org.). Introdução ao direito notarial e registral. Porto Alegre: Sérgio Antonio
Fabris Editor, 2004, p. 94-113.
5
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos: teoria e prática. 4. ed. São Paulo: Método, 2013, p. 778-780.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos31


4.1. Princípio da rogação ou instância

Aplica-se a todo o sistema notarial e registral, não sendo específico do


protesto. Significa que o tabelião ou oficial não agem de ofício, devendo
ser provocados. A iniciativa é do interessado, que deve apresentar sua
pretensão diante do tabelião, requerendo o ato desejado.
No tabelionato de protesto, o interessado provoca o tabelião apresentan-
do o título para ser protestado.
Segundo LOUREIRO (p. 779), esse princípio está presente “em todas as
fases do procedimento para a tirada do protesto, e ainda perdura após o
registro”, quando o interessado solicita alguma averbação ou o cancela-
mento do protesto.
Na verdade, tal princípio é uma segurança ao tabelião: o interessado deve
apresentar o título original para protesto juntamente com requerimento
no qual fornece todos os dados necessários para que o tabelião execute o
procedimento, tais como, indicação de quem será protestado, documen-
tos e endereço do devedor, valor a ser protestado, entre outros. O tabe-
lião fica limitado a respeitar essas informações, e acaso estejam incorre-
tas, não haverá responsabilidade do tabelião, o qual seguiu exatamente
o lhe fora informado.
Assim, o princípio da instância, além de vedar ao tabelião agir de ofício,
também determina que deve existir similitude entre o requerimento feito
pelo interessado e a lavratura do protesto.

4.2. Princípio da Oficialidade

O protesto é um ato oficial, que necessariamente deve emanar de um


tabelião de protesto, profissional dotado de fé-pública, cujos atos pratica-
dos gozam de presunção relativa6 de veracidade (o protesto lavrado pelo
6
AMADEI, Vicente de Abreu; DIP, Ricardo et al (Org.). Introdução ao direito notarial e registral. Porto Alegre: Sérgio Antonio
Fabris Editor, 2004, p. 106.

32 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


tabelião tem presunção “juris tantum”).

4.3. Princípio da insubstitutividade

O protesto cambial é prova de inadimplência que não pode ser suprida


por nenhuma outra prova, documental ou testemunhal. Nem mesmo o
juiz pode formá-la em lugar do tabelião.

4.4. Princípio da unitariedade

O protesto é ato único. Protesta-se o título, e não a pessoa do devedor.


Por esse motivo, o título somente pode ser protestado uma única vez.
Tal princípio, contudo, não é absoluto. A Corregedoria de alguns Estados
tem mitigado o rigor do princípio em hipóteses taxativamente previstas
em suas normativas.
No Estado de São Paulo, o item 79 do Capítulo XV das NSCGJ, determina
o seguinte:
79. Não se lavrará segundo protesto do mesmo título ou documento de
dívida, salvo:
a) se o primeiro protesto for cancelado, a requerimento do credor, em razão
de erro no preenchimento de dados fornecidos para o protesto lavrado;
b) se, lavrado protesto comum, o apresentante desejar o especial para fins
de falência, observada a alínea b do item 77 deste Capítulo; ou
c) se necessário para comprovar a inadimplência e o descumprimento de
prestações que não estavam vencidas quando do primeiro protesto (item
23.1. e 67 deste Capítulo).
d) na hipótese de desconsideração de personalidade jurídica.

No mesmo sentido são os Códigos de Normas do Estado do Paraná, art.


824-A, e do Estado da Bahia, art. 368-A.

Você deverá consultar as normativas de seu Estado para verificar a pre-


sença dessas exceções.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos33


4.5. Princípio da celeridade

Esse princípio se relaciona com os prazos do procedimento de protesto,


que são curtos. O protesto será tirado dentro de 3 dias úteis, contados da
data do protocolo do título ou documento de dívida7, excluindo-se o dia
do protocolo e incluindo-se o do vencimento.
Contudo, se a intimação for efetivada no último dia do prazo, ou além
desse dia por motivo de força maior, o protesto será tirado no primeiro
dia útil seguinte8, extrapolando o prazo de 3 dias úteis.
Esse princípio extrai seu fundamento do direito mercantil, acompanhan-
do uma das características dos títulos de crédito: a circulação do crédito,
que exige flexibilidade e rapidez.

4.6. Princípio da formalidade simplificada

Aplica-se às intimações9, de forma que as formalidades para concretiza-


ção da intimação são apenas aquelas suficientes para comprovação da
efetivação do ato intimatório.
Um exemplo pode clarear o conceito: a intimação pode ser feita através
do correio, mediante Aviso de Recebimento (A.R.), a fim de se comprovar o
efetivo recebimento pelo devedor, sendo facultativa a intimação por meio
de intimador do próprio tabelionato; ademais, basta que a intimação seja
entregue no endereço do devedor (aquele indicado pelo interessado no
requerimento), sendo dispensável a entrega em mão própria do devedor
(aqui houve a simplificação: pode ser entregue a qualquer pessoa do en-
dereço indicado, e o A.R. é o suficiente para comprovar a entrega).

4.7. Princípio da segurança jurídica formal

Princípio definido por AMADEI (p. 100), segundo o qual o protesto confere
7
Art. 12 da Lei nº 9.492/97.
8
Art. 13 da Lei nº 9.492/97.
9
AMADEI, Vicente de Abreu; DIP, Ricardo et al (Org.). Introdução ao direito notarial e registral. Porto Alegre: Sérgio Antonio
Fabris Editor, 2004, p. 112.

34 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


formalmente certeza jurídica do inadimplemento, protegendo o crédito,
uma vez que é meio de informação (o tabelionato expede certidão infor-
mando o protesto, a pedido de qualquer interessado) aos futuros credores.

4.8. Princípio da solenidade

Protesto é ato cuja forma está prevista na lei. A lavratura do termo de


protesto deve atender aos requisitos e ao procedimento traçados na lei
federal e nas normativas de cada Estado.

4.9. Princípio da territorialidade

Estabelece-se a competência dos tabeliães de protesto aos atos exercidos


na circunscrição territorial do município em que está instalado o respec-
tivo cartório.

Igualmente, prevalece o princípio da territorialidade para a competência


dos tabeliães de protesto, corolário da interpretação teleológica e siste-
mática dos artigos 9º, 11, parágrafo único, e 12 da Lei nº 8.935/1994, e
dos artigos 6º, 7º, parágrafo único, e 15 da Lei nº 9.492/1997. Quando se
trata de títulos de crédi­tos, a territorialidade decorre expressamente do
texto respectivo do Decreto nº 2.044/1908, art. 28, parágrafo único, e 20,
§ 1º (protesto cambiário em geral); Decreto nº 57.663/1996, art. 2º, 3ª alí-
nea, art. 27, 2ª alínea, e art. 76, 3ª alínea (letra de câmbio e nota promis-
sória); Lei nº 5.474/1968, art. 13, § 3º (duplicatas mercantis e de serviços),
PARA SABER
e Lei nº 7.357/1985, art. 48MAIS
(cheque). Este também é um imperativo da
Consolidação EmNormativas
regra, o tabelião de da
da CGJ/RJ, protesto está adstrito
jurisprudência ao princípio
que interpreta este
princípio edada territorialidade,
doutrina (MORAES,e somente
2010). pode protestar títulos de sua
praça de pagamento. Pode ocorrer de a praça de pagamento
ser em determinada comarca, e o endereço do devedor em
outra. O STJ admite a validade de intimação feita por edital
na Comarca da praça de pagamento, ainda que o devedor

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos35


resida em outra Comarca, e desde que esgotados todos os
meios de localização do devedor na localidade do cartório.
Disponível em: <http://www.portaldori.com.br/2016/04/26/
stj-direito-civil-protesto-por-tabelionato-de-comarca-diver
sa-do-domicilio-do-devedor-e-esgotamento-dos-meios-de-
-localizacao-para-a-intimacao-do-devedor-por-edital-recurso-
-repetitivo-art-543-c-do/>. Acesso em: 22 set. 2018.

5. Efeitos do protesto

O principal efeito jurídico do protesto é constituir prova segura do ina-


dimplemento da obrigação. Por ele se comprova que o credor procurou o
devedor, e este se recusou a adimplir a dívida.
E uma vez tirado o protesto, o tabelionato é obrigado a informá-lo às enti-
dades de proteção ao crédito, como o SERASA e SPC. Assim, AMADEI elenca
vários outros efeitos do protesto, sendo que os mais importantes: 1) emba-
raçar negócios futuros do devedor; e, 2) abalar o crédito, em razão da restri-
ção ao crédito e ofuscamento da imagem econômica-financeira do devedor.

Além dos efeitos econômicos, existem outros diversos efeitos jurídicos: a)


o protesto cambial interrompe a prescrição (art. 202, inciso III, do Código
Civil)10; b) permite ao portador da letra de câmbio exercitar direito de re-
gresso contra o sacador, endossantes e avalistas (art. 32, do Decreto nº
2.044/31.12.1908); c) o protesto por falta de aceite comprova a recusa do
aceite da letra de câmbio e garante ao portador, mesmo antes do venci-
mento do título, o exercício do direito de regresso contra coobrigados, ou
seja, o efeito desse protesto é acarretar o vencimento antecipado da dívi-
da (art. 27, c/c art. 19, inciso I, ambos do Decreto nº 2.044/31.12.1908); d)
o protesto por falta de pagamento fixa o termo legal da falência (art. 99,

10
Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á:
[...]
III - por protesto cambial;

36 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


inciso II, da Lei nº 11.101/2005), o qual fixa o prazo de ineficácia dos atos
de disposição praticados pelo falido, e permite o exercício de ação revo-
catória ou anulatória; e, e) constitui em mora o devedor a fim de viabilizar
ação de busca e apreensão de bens móveis alienados fiduciariamente11.

PARA SABER MAIS


Conheça as diferenças entre o protesto, SPC e SERASA, e al-
guns direitos do consumidor face ao procedimento de nega-
tivação nas entidades de proteção ao crédito. Disponível em:
<https://meggielecioli.jusbrasil.com.br/artigos/365808855/
direitos-e-diferencas-entre-protesto-spc-e-serasa>.
Acesso em: 22 set. 2018.

6. Atribuições do tabelião de protesto

O tabelião exerce atividade privativa, porém, de interesse público. No âm-


bito do protesto extrajudicial, não há qualquer outro agente público que
possa exercer a mesma função do Tabelião de Protesto, tratando-se de
atividade que só poderá ser exercida exclusivamente por ele.

O art. 11 da Lei nº 8.935/94 (lei dos notários e registradores), de forma


privativa, confere as atribuições do tabelião de protesto, a saber:

11
TJ-MT - Agravo de Instrumento AI 00197360720128110000 19736/2012 (TJ-MT). Data de publicação: 17/08/2012.
Ementa: RECURSO DE AGRAVO DE INSTRUMENTO - ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA - MORA - CONSTITUIÇÃO POR MEIO DO
PROTESTO - ADMISSIBILIDADE - ALEGAÇÃO DE COBRANÇA DE ENCARGOS ABUSIVOS- FALTA DE COMPROVAÇÃO RECURSO
IMPROVIDO. Em se tratando de alienação fiduciária regida pelo Decreto 911/69 a mora do devedor pode ser constituída
pelo protesto do título na forma do artigo 2º § 2º do mencionado dispositivo legal. A alegação de cobrança de encargos
contratuais abusivos deve estar devidamente demonstrada de forma que em contrário não se vislumbra a presença do
fumus boni juris a justificar a pretensão recursal embasadora do agravo de instrumento. (AI 19736/2012, DESA. MARIA
HELENA GARGAGLIONE PÓVOAS, SEGUNDA CÂMARA CÍVEL, Julgado em 08/08/2012, Publicado no DJE 17/08/2012).
TJ-SP - Agravo de Instrumento AI 20703875520138260000 SP 2070387-55.2013.8.26.0000 (TJ-SP). Data de publicação:
29/01/2014. Ementa: ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO. MEDIDA LIMINAR. COMPROVAÇÃO DA MORA.
PROTESTO. INTIMAÇÃO POR EDITAL. ADMISSIBILIDADE. PROVIDÊNCIAS SUFICIENTES PARA RECONHECER A CONSTITUIÇÃO
EM MORA. RECURSO PROVIDO. A comprovação da mora, que se reputa suficientemente demonstrada pelo protesto,
autoriza a propositura da ação de busca e apreensão. Não sendo encontrado o devedor na comarca, a sua intimação prévia
há de ser feita por edital (art. 883, par. único, inciso I, do CPC). Formalmente perfeito o protesto, não há motivo para recusar
a sua eficácia, não comportando perquirições a respeito da ocorrência de efetivo conhecimento por parte do devedor.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos37


I. protocolar;
II. intimar os devedores dos títulos para aceitá-los, devolvê-los ou pagá-los;
III. receber o pagamento, dando quitação;
IV. lavrar o protesto em livro próprio;
V. acatar o pedido de desistência do protesto formulado pelo apresentante;
VI. averbar cancelamentos e alterações; e
VII. expedir certidões dos atos que constam de seu livro.

Conforme ainda determina o art. 1º da Lei 8.935/94, todos esses atos pra-
ticados pelo tabelião de protesto revestem-se das garantias de:
a) Autenticidade: tem-se por autêntico, no contexto estudado, o ato cuja
autoria se atribui ao agente que detenha autorização legal para prati-
cá-lo. Assim, os atos de recepção de títulos, de intimação, de protesto,
de cancelamento de protesto, de emissão de certidões, bem como os
demais previstos na Lei 9.492/97, serão dotados de autenticidade ape-
nas se reduzidos pelo Tabelião de Protesto12.
b) Publicidade: o ato de protesto deve ser dotado de publicidade, ou
seja, lavrado e registrado em livro próprio, o conteúdo estará acessível
a qualquer interessado mediante a ex­pedição de certidão ou informa-
ção na forma regulada pela Lei13.
A publicidade se concretiza por meio da expedição de certidões e infor-
mações expedidas pelo tabelião. O art. 27 da Lei 9.492/97 estabelece limi-
tes à publicidade das informações constantes do cartório.
As certidões deverão ser fornecidas em até cinco dias úteis, e devem
abranger o período mínimo dos últimos 5 anos. No entanto, quando o
requerente solicita certidão de protesto de algum título específico, o car-
tório não poderá omitir as informações, ainda que o período do protesto
em questão extrapole o mínimo de 5 anos (certidão de protesto específi-
co), como, por exemplo, o protesto tenha ocorrido há 20 anos.
Certidões de protestos não cancelados podem ser requeridas e expedi-
das a qualquer interessado, mediante pedido escrito.

12
BUENO, Sérgio Luiz José. O protesto de títulos e outros documentos de dívida: aspectos práticos. Porto Alegre: Sérgio Luiz
José Bueno, 2011, p. 26.
13
BUENO, Sérgio Luiz José. O protesto de títulos e outros documentos de dívida: aspectos práticos. Porto Alegre: Sérgio Luiz
José Bueno, 2011, p. 27.

38 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


Certidões de protestos já cancelados sofrem restrição, somente podendo
ser requeridas por escrito pelo próprio devedor, ou pelo juiz mediante
ordem judicial.
“É possível certidão referente à prévia distribuição, e neste caso as infor-
mações constantes da certidão devem ser aquelas fornecidas pelo apre-
sentante” (LOUREIRO, p. 789). Essa certidão é expedida pelo Serviço de
distribuição (conhecido como cartório distribuidor), existente nas comar-
cas onde houver mais de um Tabelionato de Protesto.
As normativas do Estado de São Paulo permitem a extração de certidões
do Livro Protocolo: (item 106 do Capítulo XV, Tomo II): “Do Livro Protocolo
somente serão prestadas informações ou fornecidas certidões mediante
pedido do apresentante, do credor, do devedor ou por determinação ju-
dicial”. Você deverá verificar as normativas do seu Estado.
c) Segurança: com precisão, Vicente Amadei14 particulariza a incidência
bifronte do que denomi­na Princípio da Segurança Jurídica Formal no
Serviço de Protesto de Títulos: a) estaticamente, conferindo, concreta
e formalmente, certeza jurídica (por presun­ção relativa) às situações
cambiárias não satisfeitas de cada titulo protestado; b) dinamicamente,
na medida em que projeta confiança na vida comercial (espe­cialmente
na proteção ao crédito), quer infundindo esperança de que os títulos
inadimplidos venham a ser satisfeitos com rapidez, quer atuando como
veículo de informação de protesto tirados em favor dos adquirentes de
boa-fé, para os negócios jurídicos futuros.
d) Eficácia: “O protesto que contenha todos os demais atributos enume-
rados e que tenha sido lavrado conforme lei produz efeitos jurídicos;
tem aptidão para produzir todas as consequências às quais nos referi-
mos anteriormente”15.
As averbações de alteração para correção de erros materiais poderão
ser efetuadas de ofício pelo tabelião, ou a requerimento do interessado,
sendo vedado cobrar emolumentos destas averbações16.
14
AMADEI, Vicente de Abreu; DIP, Ricardo et al (Org.). Introdução ao direito notarial e registral. Porto Alegre: Sérgio Antonio
Fabris Editor, 2004, p. 100-101.
15
BUENO, Sérgio Luiz José. O protesto de títulos e outros documentos de dívida: aspectos práticos. Porto Alegre: Sérgio Luiz
José Bueno, 2011, p. 28.
16
Art. 25 da Lei 9.492/97.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos39


Erros materiais são erros de digitação cometidos pelo tabelionato no mo-
mento do registro do protesto, especificamente na tomada de dados do
título ou do requerimento apresentado pelo interessado, ou seja, aqueles
relacionados ao próprio procedimento do protesto, como a inversão de
números, os equívocos de grafia, falhas de soma, os decorrentes de atos
do serviço notarial aferíveis documentalmente.
Por exemplo: o nome do devedor é grafado no título como Thiago, e o
tabelião, ao lavrar o protesto, lançou como Tiago.
As averbações de erros materiais de ofício constituem uma exceção ao
princípio da instância ou rogação. A correção de ofício deve tomar como
base documentos arquivados no tabelionato, como no exemplo acima.
As averbações de correção de erros materiais solicitadas pelo interessado
deverão ser apresentadas por meio de requerimento, acompanhadas do ins-
trumento de protesto e dos documentos que comprovem o erro apontado.

7. Finalidade ou função do protesto

Nos termos do art. 1º da Lei nº 9.492/97, protesto “é o ato formal e solene


pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação ori-
ginada em títulos e outros documentos de dívida”.
Conforme você estudou anteriormente, essa definição já diz qual é a fun-
ção do protesto: constituir prova. Essa é a sua função principal.
Há, ainda, funções secundárias desempenhadas pelo protesto17: função
conservatória do direito do credor (quando efetivado o protesto para fins
de regresso contra coobrigados cambiais), e função informativa (informar
os demais coobrigados e toda a sociedade acerca da inadimplência).
Originalmente, essas foram as funções atribuídas ao protesto.

Ocorre que nos últimos tempos houve uma profunda mudança na forma
com a qual se enxerga a função do protesto. Por mais que muitos autores
ainda o entendam apenas como um instrumento atrelado meramente a

17
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos: teoria e prática. 4. ed. São Paulo: Método, 2013, p. 772.

40 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


funções probatórias, essa visão não consegue abarcar as mudanças ocor-
ridas que ampliaram a função do protesto. Assim, ele passou a ser, não
apenas instrumento de cobrança, mas também instrumento para se atin-
gir o equilíbrio nas relações econômicas. A Lei de Protestos, o Código Civil
de 2002, e o Novo Código de Processo Civil foram os responsáveis pelo
aumento do feixe das finalidades do protesto.
É notório o prejuízo que o inadimplemento pode trazer para a economia.
Não há como negar que a falta de cumprimento com obrigações pode ge-
rar danos a toda uma cadeia produtiva, lesando desde o empresário até
os trabalhadores.
Por esse motivo, atualmente, não se desconhece a evolução do instituto,
desfigurando a definição legal. Como ensina BUENO18, hoje o protesto se
afigura mais como forma de cobrança, e não só como meio de prova.
Uma consequência do protesto é a publicidade, seguida da inclusão do nome
do devedor nos cadastros de inadimplentes, o que leva à restrição de seu cré-
dito no mercado. Assim coagido, o devedor acaba por adimplir a obrigação.
Fácil perceber que na atualidade a motivação do credor ao procurar o ta-
belionato de protesto é o recebimento de seu crédito, e secundariamente a
formação de instrumento comprobatório da inadimplência. Ainda conforme
BUENO19: “O apresentante busca o serviço de protesto, salvo raras exceções,
para obter a satisfação de seu crédito, o que pode obter em pouco tempo”.
Graças à eficácia desse sistema, há mais pagamentos que protestos, e,
por tal constatação, “mais do que um ato de conservação de direitos, o
protesto é hoje instrumento extrajudicial de cobrança”20.
A constatação ora exposta se confirmou com o advento do Novo Código
de Processo Civil, o qual positivou a possibilidade de se promover o cum-
primento de sentença através do protesto (art. 517 do NCPC), e isso por-
que ele produz um efeito que não ocorre na execução: o abalo do crédito
pela inclusão do nome do devedor no cadastro de inadimplentes21 .
18
BUENO, Sérgio Luiz José. Tabelionato de protesto. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 28-35. (Coleção cartórios). Coordenação:
Christiano Cassettari.
19
BUENO, Sérgio Luiz José. Tabelionato de protesto. São Paulo: Saraiva, 2013, p. 30. (Coleção cartórios). Coordenação:
Christiano Cassettari.
20
BUENO, Sérgio Luiz José. Tabelionato de protesto. São Paulo: Saraiva, 2013. 238 p. (Coleção cartórios). Coordenação:
Christiano Cassettari, p. 34.
21
SÁ, Renato Montans de. Manual de direito processual civil: atualizado de acordo com o Novo Código de Processo Civil –
Lei nº 13.105/2015. São Paulo: Saraiva, 2015, p. 745.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos41


Nota-se, dessa forma, que o NCPC reforçou a ideia do protesto como ins-
trumento de cobrança. Eis, atualmente, a finalidade do protesto.

PARA SABER MAIS


A função econômica do protesto e sua efetividade na recu-
peração de crédito, face a restrição creditícia a que estão
sujeitos os devedores protestados. Disponível em: <http://
www.notariado.org.br/index.php?pG=X19leGliZV9ub3RpY
2lhcw==&in=NjkwMQ.> Acesso em: 22 set. 2018.

8. Vantagens do protesto e sua efetividade

Quando se é intimado no protesto, o devedor possui mais uma oportuni-


dade de pagar a sua dívida.
As vantagens que o protesto gera ao devedor são generosas quando
comparadas a um processo judicial de cobrança, uma vez que não exis-
tem honorários advocatícios ou custas processuais para serem pagas. E o
credor tem a vantagem do recebimento rápido de seu crédito, eis que o
procedimento do protesto é célere e dispensa a contratação de advogado.
Por esses motivos, pesquisas revelam que o protesto possui muito mais
efetividade do que o processo judicial para a realização de uma cobrança.
Isso mostra que as chances de adimplemento da obrigação são maiores
através da utilização do protesto.

LINK
<http://www.notariado.org.br/index.php?pG=X19leGliZV9u
b3RpY2lhcw==&in=MzQyOQ==&filtro=9&Data>.
Acesso em: 22 set. 2018.

42 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


9. Protesto e prevenção

O protesto ainda evita o ajuizamento de milhares de ações executivas jun-


to do Poder Judiciário. Assim, os protestos significam segurança de efeti-
vação de direito com uma menor intervenção judicial.

LINK
<http://www.protestarelegal.com.br/index.php/portfolio-
items/21-logo/46-o-protesto-extrajudicial-e-a-efetividade-
-do-poder-judiciario>. Acesso em: 22 set. 2018.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


Você aprendeu no item 3, letra “c” desta aula, que um dos objetos do
protesto são os documentos de dívida.

Atualmente fala-se na possibilidade de protestar os honorários advo-


catícios, tema que no passado gerou discussões.

Outrora, o Conselho de Ética da OAB de São Paulo, seguido pelos


conselhos dos demais Estados, entendia pela impossibilidade de pro-
testo desse contato. O argumento utilizado era o seguinte: “o contra-
to escrito de honorários, por diferenciar-se dos contratos mercantis,
na medida em que está expressamente sujeito às normas estabe-
lecidas no Estatuto da Advocacia (Lei nº 8.906/1994) e no Código de
Ética, não pode ser levado a protesto” (Proc. E-3.851/2010, v.u., em
25.03.2010)1. O entendimento visava proteger a advocacia da mer-
cantilização e violação do sigilo profissional, autorizando tão somen-
te a cobrança por via judicial.

1
Revista da Ordem dos Advogados do Brasil – Ano XLI, nº 93, Julho/Dezembro 2011, p. 190.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos43


No entanto, em recente alteração do art. 52, parágrafo único, da
Resolução nº 02/205 do Conselho Federal da OAB, passou a ser per-
mitido o protesto. O referido artigo diz o seguinte:

Art. 52. O crédito por honorários advocatícios, seja do advogado au-


tônomo, seja de sociedade de advogados, não autoriza o saque de
duplicatas ou qualquer outro título de crédito de natureza mercantil,
podendo, apenas, ser emitida fatura, quando o cliente assim preten-
der, com fundamento no contrato de prestação de serviços, a qual,
porém, não poderá ser levada a protesto.

Parágrafo único. Pode, todavia, ser levado a protesto o cheque ou a


nota promissória emitido pelo cliente em favor do advogado, depois
de frustrada a tentativa de recebimento amigável.

Pelo texto apresentado, o que se tornou possível foi o protesto do cheque


ou da nota promissória emitidos pelo cliente e vinculados ao contrato.

Mais recentemente, o Órgão Especial do Conselho Pleno do CFOAB.


Proc. E-4.752/2016, por v.u., em 23/02/2017, entendeu pela possibili-
dade do protesto do contrato escrito de honorários, conforme a se-
guinte ementa: “CONTRATO ESCRITO DE HONORÁRIOS - PROTESTO –
CABIMENTO – TÍTULO DE NATUREZA CIVIL, ORIGINADO DE RELAÇÃO
SINALAGMÁTICA – INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 52 DO CED – AUSÊNCIA
DE VIOLAÇÃO AO SIGILO PROFISSIONAL – PRECEDENTES”, enten-
dimento que se consolidou, e hoje permite o protesto do próprio
contrato, desde que preenchida uma condição: o contrato esteja
acompanhado de declaração firmada pelo advogado, sob respon-
sabilidade civil e criminal, de que tentou receber amigavelmente a
quantia de que se diz credor.

A partir desse precedente estabelecido pelo Conselho Federal de éti-


ca e disciplina da OAB, em comparação, é viável defender a possibili-
dade de protesto de contratos de honorários de outros profissionais,
como engenheiros e peritos?

44 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


10. Considerações finais

• O protesto cambial é ato jurídico formal e solene, exclusivo do tabe-


lião de protesto.
• Na atualidade, o protesto assume uma dupla finalidade: constituir
prova da inadimplência e servir como meio eficaz de cobrança.
• Seu procedimento rege-se pelos princípios da rogação, oficialidade,
insubstitutividade, unitariedade, celeridade, formalidade simplifica-
da, segurança jurídica formal, solenidade e territorialidade.
• Os principais efeitos desse ato são a prova do inadimplemento e a
restrição do crédito do devedor.
• Por ser rápido e bem menos oneroso, constitui vantagem sobre a
cobrança judicial.
• É pacífica a possibilidade de protesto de honorários advocatícios.

Glossário

• Certidão: afirmação feita por escrito, a fim de comprovar ato ou


assento constante de processo, livro ou documento. Destina-se a
fazer prova do ato ou assento a que se refere.
• Títulos cambiariformes: são os títulos de créditos impróprios, de-
nominados por Pontes de Miranda como cambiariformes. “Razões
de método levaram-nos a chamar títulos cambiariformes àqueles
a que a lei atribui certa circulabilidade ao jeito das cambiais, tor-
nando comuns alguns dos princípios comuns”22. Assim, quanto à
cambiariedade, os títulos de créditos se classificam em: cambiais
(são os títulos perfeitos, abstratos) - como a LC, NP; e cambiarifor-
mes (são os títulos causais – como a Duplicata e o cheque).
• Coobrigados cambiais: em um título de crédito, várias pessoas
podem assumir  a responsabilidade pelo pagamento, lançando
sua assinatura na cártula, como o sacador (na letra de câmbio), o
22
NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa, volume 2: títulos de crédito e contratos empresariais /
Ricardo Negrão – 3. ed. – São Paulo: Saraiva, 2012, p. 156.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos45


emitente, os endossantes e os avalistas. Cada um deles responde
pela integralidade do valor inscrito no título, ao lado do emitente e
do sacado aceitante, que são os devedores principais. Por estarem
a par dos devedores principais, são chamados de coobrigados. Por
exclusão, sempre que se ouvir dizer em coobrigados, você deve
entender que está a se tratar de todos os demais devedores diver-
sos do emitente e do aceitante.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 02
1. (Cespe – Promotor de Justiça – 2012 - adaptada) Com rela-
ção ao protesto de títulos e outros documentos de dívida,
assinale a opção correta:
a) O protesto por falta de aceite somente poderá ser efe-
tuado depois do vencimento da obrigação e após o de-
curso do prazo legal para o aceite ou a devolução.
b) Revogada a ordem de sustação de protesto, será ne-
cessário proceder a nova intimação do devedor, sen-
do a lavratura e o registro do protesto efetivados até
o primeiro dia útil subsequente ao do recebimento da
revogação.
c) A averbação de alteração de erros materiais pelo servi-
ço de protesto não poderá ser efetuada de ofício, sen-
do devidos emolumentos para a averbação.
d) A averbação de retificação de erros materiais pelo ser-
viço de protesto poderá ser efetuada de ofício ou a re-
querimento do interessado, não sendo devidos emolu-
mentos para a averbação.
e) O título protestado por falta de pagamento também
pode ser protestado por falta de aceite.

46 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


2. (8º Concurso Serventias São Paulo) Assinale a alternati-
va correta. O prazo para tirada do protesto é, em princí-
pio, de:
a) 3 (três) dias úteis, contados da data em que a intimação
for efetivada.
b) 3 (três) dias úteis, contados da protocolização do título
ou do documento de dívida.
c) 5 (cinco) dias úteis, contados da protocolização do títu-
lo ou do documento de dívida.
d) 5 (cinco) dias úteis, contados da data em que a intima-
ção for efetivada.
e) 3 (três) dias, contados da protocolização do título ou do
documento de dívida, e incluindo o dia do protocolo.
3. (10º Concurso Serventias São Paulo) Assinale a alterna-
tiva correta. No que diz respeito ao protesto por falta de
aceite, é correto afirmar que:
a) Garante ao portador do título, mesmo antes do ven-
cimento, o exercício do direito de regresso contra os
coobrigados.
b) Vincula o sacado não aceitante.
c) Pode ser efetuado mesmo após o vencimento da
obrigação.
d) É modalidade de protesto especial.
e) Garante ao portador do título, depois do vencimento, o
exercício do direito de regresso.
4. (Banca: IESES, Órgão: TJ-RO; Prova: Titular de Serviços de
Notas e de Registros – Remoção – 2017) Assinale a alternati-
va correta. Considera-se como ato formal e solene pelo qual
se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação
originada em títulos e outros documentos de dívida:

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos47


a) Execução.
b) Escritura.
c) Consignação.
d) Protesto.
e) Cumprimento de sentença.
5. (Banca: IESES, Órgão: TJ-RO; Prova: Titular de Serviços de
Notas e de Registros – Remoção – 2017 - alterada) Assinale
a alternativa correta. Aos tabeliães de protesto de título
compete privativamente:
I. Autenticar cópias.
II. Intimar os devedores dos títulos para aceitá-los, devol-
vê-los ou pagá-los, sob pena de protesto.
III. Receber o pagamento dos títulos protocolizados, dan-
do quitação.
IV. Acatar o pedido de desistência do protesto formulado
pelo apresentante.
A sequência correta é:

a) Apenas as assertivas I e III estão corretas.


b) As assertivas II, III e IV estão corretas.
c) Apenas a assertiva I está correta.
d) As assertivas I e II estão corretas.
e) Apenas a assertiva II está correta.

Referências Bibliográficas

AMADEI, Vicente de Abreu; DIP, Ricardo et al (Org.). Introdução ao Direito Notarial


e Registral. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris Editor, 2004. 279 p.

BUENO, Sérgio Luiz José. O Protesto de Títulos e Outros Documentos de Dívida:


aspectos práticos. Porto Alegre: Sérgio Luiz José Bueno, 2011. 286 p.

48 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


BUENO, Sérgio Luiz José. Tabelionato de Protesto. São Paulo: Saraiva, 2013. 238 p.
(Coleção cartórios). Coordenação: Christiano Cassettari.
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos: teoria e prática. 4. ed. São Paulo:
Método, 2013. 825 p.
NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa, vol 2: títulos de cré-
dito e contratos empresariais. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2012, 512 p.
SÁ, Renato Montans de. Manual de Direito Processual Civil: atualizado de acordo
com o Novo Código de Processo Civil – Lei nº 13.105/2015. São Paulo: Saraiva, 2015.
1084 p.

Gabarito – Tema 02

Questão 1 – Resposta: D
A averbação de retificação de erros materiais pelo serviço de protes-
to poderá ser efetuada de ofício ou a requerimento do interessado,
não sendo devidos emolumentos para a averbação - art. 25 da Lei nº
9.492/97 (tópico 6 desta aula).
Questão 2 – Resposta: B
3 (três) dias úteis, contados da protocolização do título ou do docu-
mento de dívida - princípio da celeridade, conforme o art. 12 da Lei
nº 9.492/97 (tópico 4.5 desta aula).
Questão 3 – Resposta: A
Garante ao portador do título, mesmo antes do vencimento, o exercí-
cio do direito de regresso contra os coobrigados (tópico 5 desta aula).
Questão 4 – Resposta: D
Protesto (tópico 1 desta aula).
Questão 5 – Resposta: B
II. Intimar os devedores dos títulos para aceitá-los, devolvê-los ou
pagá-los, sob pena de protesto; III. Receber o pagamento dos títulos
protocolizados, dando quitação; IV. Acatar o pedido de desistência
do protesto formulado pelo apresentante (tópico 6 desta aula).

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos49


TEMA 03
CLASSIFICAÇÃO DO PROTESTO

Objetivos

• A partir da classificação você compreenderá quais


são os tipos de protesto existentes e como deverá o
tabelião proceder frente a cada um deles.

• Você estudará regras de competência de acordo com


o tipo de protesto e o tipo de título indicado para
protesto, além de outros aspectos relacionados às
formalidades do ato.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos50


Introdução

Como você verificou nas aulas anteriores, existem diversos títulos de cré-
ditos e documentos de dívida que podem ser protestados.

Apesar de haver um procedimento padrão para que se realize o ato ju-


rídico de protesto, os mais diferentes títulos podem oferecer diferentes
requisitos e, consequentemente, outros caminhos que devem ser respei-
tados para que sejam protestados de forma válida.

Assim, é necessário que sejam entendidas as espécies de protesto exis-


tentes, os requisitos territoriais e, posteriormente, os requisitos específi-
cos de cada tipo de protesto.

1. Espécies de protesto

Conforme a doutrina (LOUREIRO, p. 776), existem diferentes espécies de


protesto, e cada um dotado de uma individual característica. Essa classi-
ficação tem grande importância prática, uma vez que o tabelião dela se
utiliza diariamente. Sem o conhecimento dessa classificação, fica difícil a
atuação cartorária.

1.1. Conforme a finalidade do credor, o protesto pode ser:

a) Protesto comum
A finalidade é comprovar o descumprimento da obrigação. Não existe ne-
nhuma outra finalidade a não ser a formação de prova e a expectativa de
seu recebimento. Aqui se encaixa a esmagadora maioria dos protestos.
Subdividi-se em:
Protesto por falta de aceite (Letra de Câmbio e Duplicata): deve ocor-
rer antes do vencimento do título e após o prazo legal para aceite (art. 21
da Lei nº 9.492/97).

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos51


Esta espécie é cabível na seguinte hipótese: a Letra de Câmbio e a Duplicata
são enviadas pelo credor ao devedor para que, em certo prazo, este lance
o seu aceite, ou seja, concorde com a dívida; o comprador terá 10 dias para
aceitar a duplicata (art. 7º da Lei nº 5.474/68); na letra de câmbio, o saca-
dor poderá ou não estipular um prazo para o aceite (art. 22 do Decreto nº
57.663/66); o devedor devolve a cártula ao portador, recusando aceite. A
falta do aceite implica o não reconhecimento da dívida, e o devedor não
fica vinculado a ela. Assim, recusado o aceite, torna-se evidente que o tí-
tulo não será pago no vencimento.

Caso o título tenha circulado por endosso, ou esteja avalizado, o portador


terá interesse em protestá-lo por falta de aceite, uma vez que o efeito des-
se protesto é provocar o vencimento antecipado da dívida, a fim de poder
regressar contra esses coobrigados do devedor (endossantes e avalistas).

Pelo princípio da unitariedade, uma vez protestado por falta de aceite,


fica dispensado o protesto por falta de pagamento. Perceba que o protes-
to por falta de aceite supre a comprovação da falta de pagamento.

Protesto por falta de devolução (Letra de Câmbio e Duplicata): deve


ocorrer antes do vencimento do título e após o prazo legal para devolução
(art. 21 da Lei nº 9.492/97).

Da mesma forma que na espécie de protesto anterior, a Letra de Câmbio


e a Duplicata são enviadas ao devedor para que este lance o seu aceite
durante aqueles prazos.

Ocorre que nesta hipótese, o devedor retém o título consigo, desapos-


sando o portador. Este poderá protestar por falta de devolução, apresen-
tando ao cartório uma segunda via da letra de câmbio, ou as indicações
da duplicata1. O efeito desse protesto também é provocar o vencimento
antecipado da dívida, a fim de poder regressar contra os coobrigados do
devedor (endossantes e avalistas).

1
TOBIAS, Rogério; SOUZA NETO, João Baptista de Mello et al (Org.). Manual do Protesto de Letras e Títulos: teoria e prática.
São Paulo: QuartierLatin, 2017, p. 103.

52 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


Pelo princípio da unitariedade, uma vez protestado por falta de devolução,
fica dispensado o protesto por falta de pagamento. Perceba que o protes-
to por falta de devolução supre a comprovação da falta de pagamento.

Protesto por falta pagamento: após o vencimento do título, o único pro-


testo possível será por falta de pagamento.
b) Protesto especial2
A sua finalidade principal está prevista numa lei que o exige para atender
a um fim especial, e apenas secundariamente essa espécie de protesto é
usada para comprovar o inadimplemento. Tal protesto na verdade é um
requisito que deve ser cumprido para se atender a uma outra finalidade.
Duas são as modalidades conhecidas, e ficará fácil de você compreender:

Protesto especial para fins falimentares: o art. 94, § 3º, “in fine”, da Lei
nº 11.101/2005 (Lei de Falências), exige essa espécie de protesto para que
o credor possa pedir a falência do devedor com base na impontualidade
(art. 94, inciso I, da Lei de Falências), comprovando que este deixou de
honrar, no vencimento, obrigação contida em título executivo (seja ele
título de crédito ou outros documento de dívida, desde que provido de
executivividade).

A finalidade principal prevista na lei é permitir o pedido de falência base-


ada na impontualidade do devedor. O protesto é um pressuposto para o
pedido de falência.

Sem o protesto, essa espécie de pedido de falência será inviável.

LINK
<https://ww2.stj.jus.br/docs_internet/revista/eletronica/
stj-revista-sumulas-2012_32_capSumula361.pdf>.
Acesso em: 22 set. 2018.

2
AMADEI, Vicente de Abreu; DIP, Ricardo (coordenador). Introdução ao Direito Notarial e Registral. Porto Alegre: Fabris
Editor IRIB, 2004, p. 80.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos53


Protesto especial de contrato de câmbio: o art. 75 da Lei nº 4.728/65
(Lei do Mercado de Capitais) exige essa espécie de protesto a fim de atri-
buir executividade ao contrato de câmbio, permitindo assim que o credor
promova diretamente a ação executiva.

A finalidade principal prevista na lei é prover o contrato de câmbio de


força executiva. O protesto é um pressuposto para a ação executiva do
contrato.

Sem o protesto, será impossível o credor manejar ação executiva dire-


ta (nesse caso, o credor teria de propor, necessariamente, ação de co-
nhecimento, para, somente após a sentença, mover uma possível ação
executiva).

Perceba, assim, que o protesto especial, na verdade, também é uma es-


pécie de protesto necessário, sem o qual a finalidade indicada na lei não
seria alcançada. Pode-se dizer que o protesto especial é uma condição de
procedibilidade.

LINK
<http://reinaldovelloso.blog.br/?p=696>.
Acesso em: 22 set. 2018.

1.2. Conforme os efeitos, o protesto pode ser:

Protesto necessário: é o protesto que deve ser feito por imposição legal,
como condição para que o portador possa exercer algum direito seu. Por
exemplo, para o credor se voltar contra os coobrigados de uma letra de
câmbio não aceita, a lei impõe que se faça o protesto por falta de aceite.
Sem ele, não nasce o direito de regresso do portador. Outros exemplos:
protesto para fins falimentares e protesto de contrato de câmbio.

54 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


Protesto facultativo: não existe nenhuma imposição legal que obrigue a
esse protesto. É uma opção do credor: 1) protestar o título e se beneficiar
das conseqüências da restrição ao crédito a fim de pressionar o devedor a
pagar; ou, 2) não protestar o título e ingressar diretamente com uma ação
de cobrança, mais demorada e custosa.
É nessa espécie de protesto que mais se revela a intenção do credor de
utilizar o protesto como meio de cobrança .
Ex.: protestar contrato de venda com reserva de domínio, cheque e nota
promissória.

2. O protesto por indicação

Em razão do princípio da cartularidade, para efetuar o protesto o porta-


dor deve apresentar ao cartório o título no seu original, ou seja, a cártula.
Relativamente à duplicata, entretanto, a apresentação de seu original
pode ser inviável. Isso ocorre quando a duplicata é enviada para aceite
do devedor, e este a retém, deixando o credor desapossado da cártula. A
mesma hipótese serve para a letra de câmbio enviada para aceite.
Nessa situação, surge a possibilidade do protesto por indicação, que é fei-
to mediante as indicações apresentadas pelo credor, indicando os dados
constantes da duplicata, dispensando-se a apresentação da cártula.
Essas indicações são corporificadas em um boleto (que não é título de cré-
dito), o qual pode ser encaminhado ao cartório por via papel ou em meio
magnético (art. 8º, parágrafo único, da Lei 9.492/97).
Esse protesto constitui uma exceção ao princípio da cartularidade.
Interessante notar que a utilização do protesto por indicação tornou-se
uma prática frequente, até mesmo quando não se trata de falta de devo-
lução da duplicata pelo devedor.3 O STJ chegou a conclusão de que são
plenamente válidas as indicações a protesto de duplicatas mercantis

TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: título de crédito. V. 2. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 301-302.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos55


emitidas na forma virtual, não somente na hipótese de retenção do título
pelo devedor, mas também na de duplicata virtual amparada em docu-
mento suficiente.4

O art. 41 da Lei nº 10.931/2004 também autoriza o protesto por indicação


da Cédula de Crédito Bancário - CCB: “A Cédula de Crédito Bancário pode-
rá ser protestada por indicação, desde que o credor apresente declaração
de posse da sua única via negociável, inclusive no caso de protesto parcial”.

3. Territorialidade ou competência

A questão da competência (territorialidade) é de grande relevância para o


ato do protesto. Devem-se obedecer às normas que especificam o lugar
onde o protesto deve ser realizado, para que ele seja válido.

Quanto à competência, a fim de complementar o assunto, você deverá


consultar as normativas do seu Estado.
a) a territorialidade no protesto comum:
No que tange à territorialidade, os títulos de crédito são regulados pelo
artigo 28 do Decreto n. 2.044/1908. Assim, podemos falar da existência
de uma regra geral, eis que as normas contidas no Decreto nº 2.044/1908
e no Decreto nº 57.663/66 são de direito cambiário, aplicáveis subsidia-
riamente aos demais títulos de crédito naquilo que as leis específicas de
cada título não alterarem expressamente.

Art. 28 A letra que houver de ser protestada por falta de aceite ou de pa-
gamento deve ser entregue ao oficial competente, no primeiro dia útil
que se seguir ao da recusa do aceite ou ao do vencimento, e o respectivo
protesto, tirado dentro de três dias úteis.

4
TOMAZETTE, Marlon. Curso de direito empresarial: título de crédito. V. 2. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2013, p. 303.

56 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


Parágrafo único. O protesto deve ser tirado do lugar indicado na letra para
o aceite ou para o pagamento. Sacada ou aceita a letra para ser paga
em outro domicílio que não o do sacado, naquele domicílio deve ser
tirado o protesto.

Como se pode observar, o protesto deverá ser tirado onde estiver indi-
cado a praça de pagamento ou aceite. Se a letra já tiver sido sacada ou
aceita para ser paga em outro domicílio, então é neste novo domicílio que
deverá ser feito o protesto.

Quando não estiver expresso na letra o local do pagamento, então deverá


ser utilizado o lugar designado ao lado do nome do sacado, como deter-
mina o artigo 2º do Decreto n. 57.663/1966, a Lei Uniforme de Genebra:

Art. 2o O escrito em que faltar algum dos requisitos indicados no artigo


anterior não produzirá efeito como letra, salvo nos casos determinados
nas alíneas seguintes: a letra em que se não indique a época do pagamen-
to entende-se pagável à vista. Na falta de indicação especial, a lugar
designado ao lado do nome do sacado considera-se como sendo o
lugar do pagamento e, ao mesmo tempo, o lugar do domicílio do sa-
cado. A letra sem indicação do lugar onde foi passada considera-se como
tendo-o sido no lugar designado, ao lado do nome do sacador. Em geral,
na hipótese de não haver nenhuma indicação de lugar, a letra não poderá
produzir efeitos. Contudo, o portador de boa-fé poderá consigná-la, pre-
enchendo-a a posteriori. Este postulado está positivado no artigo 891 do
Código Civil.

O código Civil, no art. 891, previu a hipótese de um título encontrar-se


incompleto no momento da emissão, autorizando o preenchimento dos
elementos omissos pelo portador, antes do protesto, desde que de boa-
fé e de acordo com a avença entre ele e o devedor:

Art. 891 O título de crédito, incompleto ao tempo da emissão, deve ser


preenchi­do de conformidade com os ajustes realizados.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos57


A regra é completada pelo art. 3º da Lei n. 2.044/1908:

Art. 3º Esses requisitos são considerados lançados ao tempo da emissão


da le­tra. A prova em contrário será admitida no caso de má-fé do portador.

Este também é o entendimento do Supremo Tribunal Federal, como pode


ser visto na Súmula n. 387:

Súmula n. 387 A cambial emitida ou aceita com omissão, ou em bran-


co, pode ser completada pelo credor de boa-fé antes da cobrança ou do
protesto.

Em resumo, no protesto comum, a regra geral estabelece que o ato do


protesto deve se realizar no lugar indicado para o pagamento ou aceite,
que consta declarado no título ou documento (princípio da literalidade),
ou seja, o lugar indicado como praça de pagamento/aceite. Regra geral =
cartório do lugar da praça pagamento/aceite.

As duplicatas, nos termos do art. 13, § 3º da Lei 5.474/68, somente po-


dem ser protestadas no lugar da praça de pagamento. Essa afirmativa é
confirmada pelo art. 2º, § 1º, inciso VI, da mesma lei, que estabelece como
requisito da duplicata a indicação da praça de pagamento. Assim, omisso
tal requisito, o tabelião de protesto deverá recusar o título, pois restará
desfigurado o documento, não se podendo falar na existência de uma
duplicata, em atendimento ao princípio do formalismo.

Na falta de indicação expressa, a legislação específica de cada título deve-


rá ser consultada a fim de se estabelecer o lugar competente para se tirar
o protesto.

Observe o seguinte:

Cheque: o art. 6º da Lei de Protesto estabelece regras complementares:


o protesto poderá ser lavrado no lugar da praça de pagamento (lugar do
banco sacado) ou no lugar do domicílio do devedor (emitente), à escolha
do portador.

58 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


Perceba que em relação ao cheque, a lei estabelece uma competência
alternativa, e não supletiva, deixando a critério do portador a escolha do
lugar onde deseja protestar.

Letra de câmbio: o art. 28, parágrafo único, do Decreto nº 2.044/1908,


determina que o protesto seja tirado no lugar indicado para pagamento
ou aceite, seguindo a regra geral. Entretanto, omissa tal indicação, o pro-
testo poderá ser feito no cartório do domicílio do sacado; ausente tam-
bém este, competente será o lugar do domicílio do sacador (art. 2º, do
Anexo I, do Decreto nº 57.663/66).

Nota Promissória: o art. 77, do Anexo I, do Decreto nº 57.663/66, deter-


mina que o protesto seja tirado no lugar indicado para pagamento, se-
guindo a regra geral. Omissa tal indicação, o protesto poderá ser feito no
lugar de emissão da nota promissória; ausente também este, competente
será o lugar do domicílio do emitente (art. 76, do Anexo I, do Decreto nº
57.663/66).

Cédula de Crédito Bancário (CCB): a CCB é um instrumento muito utili-


zado no dia a dia bancário, e por isso também desperta interesse por par-
te dos tabelionatos de protesto. Regulada pela Lei nº 10.931/2004, per-
cebe-se na prática que as Cédulas de Crédito em geral (rural, comercial,
industrial) cederam espaço à facilidade da CCB.

O art. 28 da referida lei estabelece que a Cédula de Crédito Bancário é tí-


tulo executivo extrajudicial e representa dívida em dinheiro, certa, líquida
e exigível.

O art. 41 permite que a Cédula de Crédito Bancário seja protestada por in-
dicação, desde que o credor apresente declaração de posse da sua única
via negociável, inclusive no caso de protesto parcial.

Como a Lei 10.931/2004 não estabeleceu a competência territorial para


a lavratura do protesto, as Corregedorias dos Estados completaram
essa lacuna.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos59


No Estado de São Paulo, o item 27.4 do Capítulo XV, das Normas de Serviço
da Corregedoria Geral da Justiça, autorizou ao credor optar, a seu critério,
entre duas possibilidades: o protesto poderá ser tirado no lugar do paga-
mento (regra geral), ou no lugar do domicílio do devedor.5
Finalmente, quanto à CCB, é importante notar uma peculiaridade: no di-
reito cambiário, a exemplo da Letra de Câmbio, o protesto se faz neces-
sário para que o portador exercite seu direito de regresso contra coobri-
gados. No entanto, a CCB constitui uma exceção a essa regra: o art. 44 da
Lei 10.931/2004 dispensa o protesto para garantir o direito de cobrança
contra endossantes, seus avalistas e terceiros garantidores.
Títulos executivos judiciais: o art. 517 do NCPC autoriza que as decisões
judiciais condenatórias em obrigação de pagar transitadas em julgado se-
jam levadas a protesto, depois de escoado o prazo para de 15 dias para o
pagamento voluntário (art. 523, NCPC).
No entanto, o NCPC não estabeleceu o lugar competente para a tirada do
protesto, ficando tal normatização a cargo da Corregedoria Geral de cada
Estado membro.
As normas de São Paulo permitem sejam protestados na localidade de tra-
mitação do processo, ou no lugar do domicílio do devedor (item 27.3, Cap.
XV). Assim também as normativas do Estado da Bahia, conforme art. 320,
§ 3º, e também art. 202 do Código de Normas do Estado do Amazonas.
Já no Estado do Rio de Janeiro, o art. 976, § 4º, do Código de Normas,
estabelece como competente o Cartório da Comarca onde tramitou o
processo.
Você aluno deverá consultar as normativas de seu Estado.
Outros títulos e documentos de dívida: competência para protestar os
contratos em geral: estabelecida pela praça de pagamento expressamen-
te indicada no próprio contrato. Entende-se como praça de pagamento o
local indicado no contrato para o cumprimento da obrigação6.

5
27.4. O protesto de cédula de crédito bancário garantida por alienação fiduciária, mesmo por indicação, pode ser lavrado
no lugar do pagamento ou do domicílio do devedor, a critério do credor.
6
PANTUZI, Renata do Amaral Fonseca; SOUZA NETO, João Baptista de Mello et al (Org.). Manual do Protesto de Letras e
Títulos: teoria e prática. São Paulo: QuartierLatin, 2017, p. 57.

60 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


Inexistente essa indicação, competente será o lugar definido como foro
de eleição.

Caso não existe nenhuma das anteriores, o protesto deverá ser tirado no
domicílio do devedor.

Competência para protestar contratos de locação: o contrato deverá ser


apresentado ao cartório do lugar onde o aluguel será pago, expresso no
contrato.

Se inexistir essa indicação, competente será o cartório do local do imóvel


locado (art. 23, I, da Lei nº 8.245/91).7

As normas de São Paulo previram o caso de não ser requisito do título ou


documento de dívida a indicação da praça de pagamento.

A normativa estadual estabeleceu uma gradação territorial a ser seguida,


permitindo que sejam protestados nas seguintes localidades: a) em pri-
meiro lugar, no território da praça de pagamento; b) havendo omissão da
praça de pagamento, o protesto poderá ser tirado no domicílio do deve-
dor; e, c) inexistindo os dois primeiros, o protesto poderá ser lavrado no
domicílio do credor (item 27.1, Cap. XV). Você deverá consultar as norma-
tivas de seu Estado.

Havendo no título ou documentos de dívida a indicação de mais de uma


praça de pagamento, o portador pode optar por protestar em qualquer
deles, igualmente competentes (art. 20, § 1º, do Decreto 2.044/66).
b) a territorialidade no protesto especial

Para fins falimentares: o protesto deverá ser tirado obrigatoriamente


no lugar onde se situa o principal estabelecimento da pessoa jurídica de-
vedora, ainda que o título declare expressamente o lugar da praça de pa-
gamento, ou o contrato estabeleça cláusula de foro de eleição.

7
PANTUZI, Renata do Amaral Fonseca; SOUZA NETO, João Baptista de Mello et al (Org.). Manual do Protesto de Letras e
Títulos: teoria e prática. São Paulo: QuartierLatin, 2017, p. 57.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos61


PARA SABER MAIS
Enunciado da Súmula nº 361 do STJ exige que a intimação re-
alizada ao devedor em pedido de protesto especial para fins
falimentares, deve conter a identificação da pessoa que a re-
cebeu, ou seja, a intimação da pessoa jurídica devedora no
protesto especial para pedir falência, requer identificação do
preposto que recebeu a intimação, sob pena de invalidade
do protesto. O Tribunal fundamentou sua decisão no fato de
que tal ato é indispensável ao futuro pedido judicial de que-
bra. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/docs_internet/
revista/eletronica/stj-revista-sumulas-2012_32_capSumula
361.pdf>. Acesso em: 22 set. 2018.

Contrato de câmbio: o art. 75 da Lei 4.728/65 estabelece o seguinte: “o


contrato de câmbio, desde que protestado por oficial competente para o
protesto de títulos, constitui instrumento bastante para requerer a ação
executiva”.

Referido artigo determina que o protesto por oficial competente atribui


executividade ao contrato de câmbio. É sabido que o oficial competente é
tabelião de protesto (nos termos da Lei nº 8.935/94), entretanto, a lei não
indicou a competência territorial onde deve ser tirado o protesto.

Por essa razão, aplica-se a regra geral: o protesto deverá ser tirado no lu-
gar da praça de pagamento indicado no contrato.

Mas, e se o contrato for omisso neste elemento?

No Estado de São Paulo, a 1ª Vara dos Registros Públicos solucionou a


questão, decidindo que, na ausência de previsão no contrato do local do
pagamento, deve ser aplicado o caput do art. 327 do Código Civil8, que
8
Art. 327. Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o
contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias.

62 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


trata das obrigações quesíveis, sendo que o pagamento deverá ser efetu-
ado no domicílio do devedor; assim, o lugar do pagamento, por ausência
de previsão no contrato, passou a ser o domicílio do devedor, devendo,
neste mesmo lugar, ser efetivado o protesto do contrato9.

O tabelião de protesto do domicílio do devedor, portanto, só será compe-


tente no caso de o contato omitir o lugar do pagamento.

Você aluno, deverá conhecer as normas do seu Estado acerca dessa mes-
ma possibilidade.
c) ausência de endereço
Como você já estudou, o estabelecimento do cartório competente para a ti-
rada do protesto depende da existência de alguma localidade indicada no
título (praça de pagamento ou domicílio do devedor ou domicílio do credor).

Na hipótese de inexistência de qualquer localidade que permita estabe-


lecer a competência, o título ou documentos de dívida devem ser recusa-
dos, e o tabelião de protesto estará obrigado a emitir uma nota devolutiva
contendo a explicação do motivo da recusa.

Assim, a hipótese de o portador declarar desconhecer o endereço do de-


vedor, solicitando a intimação por via de edital, é improcedente, eis que
o tabelionato de protesto não terá como apurar sua competência, nem
poderá promover diligência ao devedor, intimando-o.

O edital somente terá cabimento em 3 hipóteses:


1. Quando a praça de pagamento é a da comarca onde apresentado o
título para protesto, mas o devedor resida fora dela;
2. Quando o tabelionato promover as diligências ao endereço do deve-
dor e não conseguir localizá-lo para intimação;
3. Quando o tabelionato localizar o devedor e este se recuse a assinar a
intimação.

9
Processo 1065162-28.2014.8.26.0100, DJE/SP de 24/09/2014, da 1ª Vara de Registros Públicos de São Paulo/SP.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos63


PARA SABER MAIS
Decisão do CNJ autoriza que a Serventia extrajudicial de pro-
testo de títulos possa realizar diretamente a intimação por
edital de devedor residente e domiciliado fora da competência
territorial do tabelionato. Disponível em: <http://www.cnj.jus.
br/InfojurisI2/Jurisprudencia.eam;jsessionid=70A24AAFD3F
DF11967BC37BBE660D187?jurisprudenciaIdJuris=43218&in
diceListaJurisprudencia=22&firstResult=1675&tipoPesqui
sa=BANCO>. Acesso em: 22 set. 2018.

d) protesto lavrado por cartório incompetente

O protesto lavrado em local diverso daquele em que deveria ter sido apre-
sentado gera a nulidade do ato, sendo de nenhum efeito o protesto.

Veja, a exemplo, a jurisprudência:


Tribunal de Justiça de Santa Catarina TJ-SC
Apelação Cível: AC 03040168820158240054
Rio do Sul - 0304016-88.2015.8.24.0054
Julgamento: 19 de Setembro de 2017
Ementa

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS C/C


CANCELAMENTO DE PROTESTO INDEVIDO DE DUPLICATA MERCANTIL.
SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. INSURGÊNCIA DO BANCO ENDOSSATÁRIO.
PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM QUE SE CONFUNDE
COM O MÉRITO. ANÁLISE CONJUNTA. ARGUIÇÃO DE RECEBIMENTO DOS
TÍTULOS POR ENDOSSO MANDATO. NECESSIDADE DE EXTRAPOLAÇÃO DE
PODERES DE MANDATÁRIO OU EXISTÊNCIA DE ATO CULPOSO PRÓPRIO
PARA LEGITIMAR O ENDOSSATÁRIO A SER PARTE NA LIDE. PRECEDENTES
DESTA CORTE. FALTA DE DILIGÊNCIA DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA
VERIFICADA. ATO NOTARIAL REALIZADO EM PRAÇA DIVERSA DA SEDE DA
EMPRESA AUTORA. AUSÊNCIA DE PROVA APONTANDO QUE O PAGAMENTO

64 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


DEVERIA SER REALIZADO NAQUELE LOCAL. VIOLAÇÃO DO DISPOSTO NO
ART. 13, § 3º, DA LEI N. 5.474/68. FORMALIDADE QUE DEVERIA TER SIDO
OBSERVADA. NULIDADE DO PROTESTO. NEGLIGÊNCIA EVIDENCIADA.
RESPONSABILIDADE SUBSISTENTE DA PARTE APELANTE. ALEGAÇÃO DE
AUSÊNCIA DE PROVA DO DANO MORAL SOFRIDO PELA DEMANDANTE.
DESNECESSIDADE. PREJUÍZO QUE SE PRESUME. SENTENÇA MANTIDA.
HONORÁRIOS RECURSAIS. RECURSO DO REQUERIDO NÃO ACOLHIDO.
VERIFICAÇÃO DE QUE HOUVE A APRESENTAÇÃO DE CONTRARRAZÕES NO
PRAZO LEGAL PELO PROCURADOR DA AUTORA. NECESSIDADE DE FIXAÇÃO
DA VERBA EM GRAU RECURSAL EM PROL DO CAUSÍDICO DA APELADA.
EXEGESE DO ART. 85, § 11º, DO CPC/2015. RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO.

4. Exame dos requisitos genéricos do protesto

4.1. Do tabelião

É papel do tabelião verificar a regularidade do título ou documento de


dívida a ser protestado.
É isso o que está estipulado no artigo 9º, parágrafo único da Lei n.
9.492/1997:
Art. 9º Todos os títulos e documentos de dívida protocolizados serão
examina­dos em seus caracteres formais e terão curso se não apresenta-
rem vícios, não cabendo ao Tabelião de Protesto investigar a ocorrência
de prescrição ou cadu­cidade.
Parágrafo único. Qualquer irregularidade formal observada pelo tabelião
obsta­rá o registro do protesto.

4.2. Validade das assinaturas

Não está autorizado o tabelião a examinar a validade de assinaturas.


Apenas em caso de existência de rasura, raspaduras ou um sinal físico e
perceptível de alteração ele poderia agir.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos65


4.3. Título fragmentado

Um título que esteja fragmentado, ainda que os pedaços tenham sido


colados e que não haja nenhuma parte faltando, será considerado nulo,
já que é o ato de o devedor destruir o título após tê-lo pago que cria a
presunção de quitação. Contudo, se os rasgos tiveram sua origem em do-
braduras, ou se houver apenas pequenos rasgados que não comprome-
tam o texto do título, não haveria justificativa para tal presunção, de for-
ma que, consequentemente, não será considerado nulo um título nestas
condições.

4.4. Título emitido em moeda estrangeira

Deve-se observar o Decreto-Lei n. 857/1969, que dispõe sobre o pagamento


em moeda estrangeira em território nacional. De acordo com esta norma,
seriam nulos quaisquer tipos de documentos que determinem pagamento
em ouro ou em moeda estrangeira de obrigação exequível no Brasil.

Há, contudo, exceções a essa regra: 1) obrigações que envolvam importação


ou exportação de mercadorias; 2) contratos de compra e venda de câmbio
em geral; e 3) contratos de financiamento ou de prestação de garantias re-
lativos a operações de exportação de bens de produção nacional, vendidos
a crédito para exteriores. Nestas hipóteses, no momento da apresentação
do título para protesto, deverá ser feita a conversão para a moeda nacional,
e o pagamento deverá ser feito também em moeda nacional.

4.5. Título sujeito à correção monetária

Conforme o art. 11 da Lei nº 9.492/97, para títulos deste tipo, o valor de-
verá ser corrigido até a data de apresentação do documento ao protesto.
O devedor será intimado a pagar o valor indicado pelo apresentante no
requerimento, corrigido até aquela data, e não o valor nominal do título
ou documento.

66 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


4.6. Peculiaridades do cheque

O cheque deve ser levado a protesto antes do fim do prazo de prescrição,


que é de 6 meses, contados do fim do prazo de apresentação (30 dias
cheque na praça, e 60 dias cheque fora da praça)10.
Em hipótese de o cheque ter sido emitido por correntista de conta con-
junta, o tabelião deve registrar o protesto apenas no nome do correntista
que o emitiu, ou seja, aquele que assinou o cheque, conforme artigo 48,
parágrafo 2º, alínea b da Lei n. 7.357/1985.
Outra regra: ao ser apresentado, o cheque deve conter prova de apresen-
tação ao banco sacado, e a causa da recusa de pagamento. Essa prova
é representada por meio de carimbo aposto pelo banco na cártula do
cheque, e representa um requisito para o protesto. Entretanto, a apre-
sentação ao banco pode ser dispensada na hipótese do protesto ter como
finalidade instruir medidas contra o próprio banco sacado.
Ainda, caso o cheque tenha sido devolvido pelo estabelecimento bancário
por causa de furto, roubo ou extravio de folhas, conforme alíneas 20, 25,
28, 29, 30 ou 35 da Circular nº 2.655/1996, do Banco Central, o tabelião não
poderá recebê-lo para protesto, devendo emitir nota devolutiva explicativa.
Essas alíneas estão estampadas no carimbo aposto pelo banco na cártula,
o qual representa a prova da apresentação do cheque ao estabelecimento
sacado. O número da alínea representa o motivo da devolução pelo banco.

4.7. Peculiaridades da Duplicata

Para duplicatas mercantis, é facultativa a apresentação de documentos


originais comprobatórios da entrega da mercadoria ou da prestação do
serviço, que podem ser substituídos por declaração escrita do credor, di-
zendo que possui esses comprovantes originais em seu poder e que se-
rão exibidos a qualquer momento em que forem exigidos, especialmente
em caso de sustação judicial de protesto.

10
Art. 33 c/c art. 59 da Lei nº 7.418/85.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos67


5. Lavratura do protesto

No ato da lavratura do protesto, o tabelião deve fazer constar a descri-


ção resumida dos documentos originais apresentados ou da declaração
substitutiva oferecida pelo apresentante. É importante destacar que er-
ros meramente gramaticais ou materiais que não afetem a interpreta-
ção nem desnaturem elementos essenciais do título não o invalidam, e
sendo passíveis de averbação corretiva, de ofício ou a requerimento do
apresentante.

QUESTÃO PARA REFLEXÃO


Imagine a seguinte hipótese: Sr. X, credor de um título de crédito,
solicita ao tabelionato competente o protesto comum, o qual é vali-
damente lavrado pelo cartório.
Depois, o Sr. X, verificando que o devedor do título é uma sociedade
empresária, decide por demandar pedido de falência com base na-
quele protesto.

As normativas de alguns Estados, entre eles o Estado de São Paulo,


não reconhecem a validade do protesto comum para essa finalidade.
Assim, para cumprir seu intento, o Sr. X deverá proceder da seguinte
forma: de acordo com o item 98 do Capítulo XV, das NSCGJ/SP, ele
deverá requerer diretamente ao tabelionato o cancelamento do re-
ferido protesto utilizando como justificativa a existência de erro ao
solicitar o protesto comum, e fundamentando seu pedido no item 79,
letra “b”, das mesmas normas, que estabelece uma exceção ao prin-
cípio da unitariedade, permitindo seja renovado o ato, agora como
protesto especial para fins falimentares; tudo isso deve ser alegado
pelo Sr. X no requerimento, em combinação com o item 77, letra “b”,
também das mesmas normas, que exige o prévio cancelamento do
protesto comum a fim de renovar o ato convertendo-o à espécie de

68 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


protesto especial. O tabelião averbará o cancelamento no registro do
protesto comum, e lavrará novo ato de registro, agora sob a espécie
de protesto especial.

O mesmo procedimento é previsto nas normativas dos Estados do


Paraná, art. 824-A, inciso II, e da Bahia, art. 368-A, “b”.

Refletindo sobre a finalidade do ato, é sabido que o protesto especial


para fins falimentares tem como principal função constituir prova
segura do descumprimento da obrigação. Entretanto, a mesma fun-
ção é exercida pelo protesto comum. Se ambas espécies de protesto
comprovam o descumprimento da obrigação, o pedido de falência
não poderia se embasar no protesto comum do título, desde que
atendido o requisito do protesto especial: a identificação do recebe-
dor da intimação?

PARA SABER MAIS


A jurisprudência admite pedido de falência sem o protes-
to especial, desde que tenha ocorrido o protesto cambial.
Assim, se um título de crédito sofreu o protesto comum,
tal protesto é considerado válido para o pedido de falência.
Disponível em: <http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,-
MI85563,91041-Viabilidade+do+pedido+de+falencia>.
Acesso em: 22 set. 2018.

6. Considerações finais

• As diversas espécies de protesto surgem a partir de dois critérios


de classificação: 1) de acordo com a finalidade do credor, o protesto
pode ser comum ou especial; e 2) conforme os efeitos visados pelo
credor, o protesto pode ser necessário ou facultativo.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos69


• O protesto comum é subdividido em três subespécies: 1) por falta
de aceite; 2) por falta de devolução; e, 3) por falta de pagamento.
• Já o protesto especial, verdadeira condição de procedibilidade para
o exercício de outros direitos, pode ocorrer para fins falimentares
ou para contratos de câmbio.
• A depender da espécie de título ou documento apontado para pro-
testo, a competência do tabelionato para o protesto pode variar
entre as seguintes possibilidades: praça de pagamento, domicílio
do devedor ou domicílio do credor.
• O tabelião deve qualificar o título a partir da análise de seus caracte-
res formais, somente podendo recusar o protesto com justificativa
de vício formal.
• Protesto por cartório incompetente é nulo.

Glossário

• Principal estabelecimento da pessoa jurídica: trata-se de con-


ceito econômico que se refere ao local onde ocorre o maior volu-
me de negócios da pessoa jurídica, não necessariamente a sede ou
a matriz.11
• Obrigação portável: aquela “cujo  pagamento deve ser efetua-
do no domicílio do credor”.12
• Obrigação quesível: “aquela cujo pagamento deve ocorrer no do-
micílio do devedor”.13
• Foro de eleição: refere-se à Comarca eleita pelas partes contra-
tantes para o ajuizamento de qualquer ação judicial sobre ques-
tões relativas ao contrato.

11
PANTUZI, Renata do Amaral Fonseca; SOUZA NETO, João Baptista de Mello et al (Org.). Manual do Protesto de Letras e
Títulos: teoria e prática. São Paulo: QuartierLatin, 2017, p. 58.
12
TARTUCE, Flávio. Manual de direito civil: volume único. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense;  São Paulo: MÉTODO, 2018, p. 676.
13
Idem. p. 676.

70 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


• Praça de Pagamento: lugar onde as partes estipularam que deve-
rá se efetuar o pagamento. Distingue-se do foro de eleição: este é
o lugar do ajuizamento de eventual ação; aquele, é o lugar do cum-
primento da obrigação.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 03
1. (TJ-SC – Notário-SC/2008) Assinale a alternativa correta.
Em que hipótese um título ou documento de dívida pode
ser protestado por falta de aceite?
a) Quando for apresentado para protesto através de bo-
leto bancário.
b) Quando a obrigação já estiver vencida.
c) Somente após decorrido o tríduo legal.
d) O protesto por falta de aceite somente poderá ser ex-
traído antes do vencimento da obrigação.
e) Quando autorizado pelo apresentante do título ou do-
cumento de dívida.
2. (EJEF – Tabelionato e Registro-MG/2007- alterada) Assinale
a alternativa correta. Quanto ao lugar para lavratura do
protesto por falta de pagamento, é correto afirmar que:
a) O protesto do cheque pode ser lavrado no domicílio
do sacado, desde que o lugar do seu pagamento seja o
mesmo.
b) O protesto da duplicata é sempre lavrado no domicílio
do devedor.
c) O protesto da duplicata é sempre lavrado no domicílio
do credor.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos71


d) Sacada ou aceita a letra de câmbio para ser paga em
outro domicílio que não o do sacado, naquele domicílio
deve ser tirado o protesto.
e) O protesto de título ou documento de dívida pode ser
lavrado em qualquer lugar a escolha do requerente.
3. (IESES – Cartório – TJ – RO/2012 - alterada) Assinale a al-
ternativa correta. A cédula de crédito bancário poderá:
a) Jamais poderá ser protestada por indicação.
b) Ser protestada por indicação, em qualquer hipótese.
c) Ser protestada por indicação desde que o credor apre-
sente declaração de posse da sua única via negociável,
inclusive no caso de protesto parcial.
d) Ser protestada por indicação desde que o credor apre-
sente declaração de posse da sua única via negociável,
exceto no caso de protesto parcial.
e) Somente pode ser protestada por falta de pagamento.
4. (CESPE – Cartório -ES/2013). Assinale a alternativa corre-
ta. Caso determinado credor apresente para protesto do-
cumento de dívida emitido no Brasil, em reais, com cláusu-
la de correção monetária, o devedor somente estará obri-
gado a pagar o valor:
a) Corrigido até a data de apresentação do título para
protesto.
b) Corrigido até a data de registro do protesto do título,
no caso de não ter ocorrido o pagamento no prazo.
c) Corrigido até a data da intimação para pagamento do
título.
d) Corrigido até a data em que efetuar o pagamento do
título.
e) Nominal original do título.

72 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


5. (CESP – Cartório – ES/2013) Assinale a alternativa corre-
ta. De acordo com a Lei nº 9.492/1997, enseja o protesto
de um título, além da falta de pagamento, a falta de:
a) Avalista ou de aceite.
b) Avalista ou de devolução.
c) Aceite ou de devolução.
d) De aceite ou de fiador.
e) Fiador ou de avalista.

Referências Bibliográficas

AMADEI, Vicente de Abreu; DIP, Ricardo (coordenador). Introdução ao Direito


Notarial e Registral. Porto Alegre: Fabris Editor IRIB, 2004. 279 p.

LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos: teoria e prática. 4. ed. São Paulo:
Método, 2013. 825 p.

SOUZA NETO, João Baptista de Mello et al (Org.). Manual do Protesto de Letras e


Títulos: teoria e prática. São Paulo: QuartierLatin, 2017. 480 p.

TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 8. ed. Rio de Janeiro: Forense;
São Paulo: MÉTODO, 2018. 1922 p.

TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial: títulos de crédito, v. 2. 4. ed. São


Paulo: Atlas, 2013. 458 p.

Gabarito – Tema 03

Questão 1 – Resposta: D
O protesto por falta de aceite somente poderá ser extraído antes do
vencimento da obrigação e após o prazo legal para aceite - art. 21 da
Lei nº 9.492/97 (tópico 1.1 desta aula).

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos73


Questão 2 – Resposta: D
Sacada ou aceita a letra de câmbio para ser paga em outro domicílio
que não o do sacado, naquele domicílio deve ser tirado o protesto -
art. 28, parágrafo único, do Decreto 2.044/1908 (tópico 3, “a”, desta
aula).

Questão 3 – Resposta: C
Ser protestada por indicação desde que o credor apresente declara-
ção de posse da sua única via negociável, inclusive no caso de pro-
testo parcial - art. 41 da Lei nº 10.931/2004 (tópico 3, “a”, desta aula).

Questão 4 – Resposta: A
Corrigido até a data de apresentação do título ao protesto (tópico 4.5
desta aula).

Questão 5 – Resposta: C
Aceite ou de devolução (tópico 1.1 desta aula).

74 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


TEMA 04
PROCEDIMENTO DO PROTESTO

Objetivos

• Nesta aula você aprenderá sobre o procedimento do


protesto de títulos e documentos. Estudará o regra-
mento estabelecido na Lei nº 9.492/97, e também as
pequenas interferências de outras leis especiais liga-
das aos títulos de crédito, as quais também permeiam
o procedimento do protesto.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos75


Introdução

Originariamente, o procedimento do protesto foi objeto de diversos diplo-


mas legais no Brasil, destacando-se o Decreto nº 2.044, de 31 de dezem-
bro de 1908, que define o procedimento de protesto nos casos das letras
de câmbio e das notas promissórias, e a Lei nº 6.690, de 25 de setembro
de 1979, que disciplina o cancelamento de protesto de títulos cambiais,
por preencher as lacunas deixadas pela Lei Uniforme de Genebra.
Somente com a entrada em vigor da Lei nº 9.492/1997 é que houve uma
sistematização definitiva sobre o assunto. O referido diploma legal regula
os serviços concernentes ao protesto de títulos, propiciando uniformida-
de e segurança jurídica ao estabelecer a possibilidade de controle pelo
próprio tabelião e pela fiscalização pelo Poder Judiciário.
Nesta aula, você deve ter em mente todos os princípios do protesto já
tratados na aula 02 deste curso. Você se recorda de todos eles? Princípio
da rogação, oficialidade, insubstitutividade, unitariedade, celeridade, for-
malidade simplificada e territorialidade.
Importante ressaltar que o procedimento é o mesmo, tanto para o pro-
testo de títulos de crédito quanto para o de documentos de dívida. Nada
há que justifique alguma diferença.

1. Procedimento do protesto

PARA SABER MAIS


Recentemente, em data de 26 de setembro de 2018, foi dis-
tribuído no CNJ proposta de edição de provimento para o
estabelecimento de normas de procedimento a serem ob-
servadas pelos Tabelionatos de Protesto de todo o país.
Referido pedido, formulado pela Associação dos Notários e

76 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


Registradores do Brasil – ANOREG-BR, em conjunto com o
Instituto de Estudos de Protesto de Títulos do Brasil, transfor-
mou-se no processo de “Pedido de Providências nº 0008754-
28.2018.2.00.0000”, o qual ainda está em trâmite, pendente
de decisão. Seu conteúdo regulamenta a prestação de ser-
viços de protesto por via eletrônica, tais como desistência,
cancelamento de protesto, expedição de certidões e consulta
de títulos protestados, entre outros. Alguns Estados, a exem-
plo do Estado de São Paulo, já contavam com tais serviços, os
quais eram regulamentados pelas normativas administrati-
vas de sua Corregedoria estadual. Agora, por meio desse pe-
dido de providências, o CNJ terá a possibilidade de estender
a prestação desses serviços eletrônicos a todos os Estados
da Federação. Contudo, o provimento ainda não foi editado
(a norma ainda está por vir). É preciso aguardar a decisão da
Corregedoria Nacional e a finalização do mencionado pro-
cesso. Para conhecer o conteúdo aqui citado, acesse o link:
<https://1drv.ms/b/s!Ah8nsVLnys3GkQExkr6JJqW24sxV>.
Acesso em: 12 out. 2018.

1.1. Distribuição e protocolo

Dada a inércia dos tabeliães, deverá a parte interessada dirigir-se ao ser-


viço de protesto, dentro do horário regulamentar.
Nas comarcas onde houver mais de um tabelionato de protesto, obri-
gatoriamente os títulos serão apresentados ao cartório distribuidor, a fim
de que os títulos ou documentos de dívida sejam distribuídos entre os
tabelionatos de forma equânime, cujo critério é quantidade (a medida
do possível, nenhum tabelionato deve receber mais títulos que o outro)
e qualidade (valor do título, eis que influencia nos emolumentos a serem
recebidos pelos cartórios). Neste caso, serão recepcionados e distribuí-
dos pelo cartório distribuidor, e entregues na mesma data aos tabeliona-
tos de protesto correspondentes.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos77


O serviço distribuidor, embora independente, é instalado e mantido pelos
próprios tabeliães de protesto da Comarca (art. 7º, parágrafo único, da Lei
de Protesto). Contudo, não é apenso nem atrelado a nenhum tabelionato.

Nas comarcas em que houver somente um único tabelionato, o título


será entregue diretamente a este, sem distribuição.

A protocolização deve ser realizada no prazo de 24 horas, obedecida a


ordem cronológica, mediante entrega de recibo ao apresentante.

A lei nº 9.492/97, art. 10, permite o protesto de títulos e documentos


de dívida em moeda estrangeira, emitidos fora do Brasil, desde que
devidamente acompanhados de tradução juramentada e feita a conver-
são para a moeda nacional pelo câmbio do dia, na data da apresentação
(princípio do curso forçado da moeda). O tabelião deverá lavrar o pro-
testo lançando no registro a descrição do título e sua tradução (§ 1º), exi-
gindo que o pagamento seja feito em moeda nacional, de acordo com o
valor convertido na data da apresentação (§ 2º).

Títulos e documentos emitidos no Brasil em moeda estrangeira ou


ouro são nulos de pleno direito, sendo que o tabelião de protesto deverá
devolvê-los por esse motivo, entregando nota explicativa. Entretanto, exis-
tem exceções, e são válidos, quando emitidos no Brasil: títulos e contratos
de importação ou exportação; contratos de compra e venda de câmbio; e
contratos cujo credor ou devedor seja domiciliado no exterior, com exclu-
são de locação de imóveis situados no Brasil.1

Títulos e documentos sujeitos a qualquer tipo de correção no valor da


dívida também podem ser protestados.

Tanto a conversão para a moeda nacional como a correção do valor são


feitos pelo apresentante, no dia da apresentação. O pagamento será feito
pelo valor convertido ou corrigido, indicado pelo apresentante (art. 11 da
Lei de Protesto).

1
1 Art. 2º do Decreto-Lei nº 857/69.

78 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


1.2. Qualificação do título ou documento de dívida

Em seguida, será feito o exame dos caracteres (requisitos) formais dos


títulos e documentos. Aqueles que apresentarem algum vício serão devol-
vidos pelo tabelião ao portador, mediante nota explicativa do motivo da
recusa. Os demais terão curso no procedimento.

Requisitos formais são aqueles extrínsecos ao título. Deveras, o tabelião


não investiga a validade do negócio jurídico que deu origem ao título ou
documento de dívida. Ele tão somente verifica se a cártula contém todos
os requisitos exigidos pela lei. A falta de algum requisito legal desfigura
o título, exigindo que o tabelião o devolva ao apresentante, apontando o
vício em nota explicativa.

O art. 9º, parágrafo único, da Lei de Protesto, dispensa o tabelião de ve-


rificar a ocorrência de prescrição ou caducidade do título. Nesse sentido
também se manifesta a doutrina notarial majoritária.

No entanto, na jurisprudência, esse tema é controvertido. É necessário


registrar que, atualmente, não é esse o entendimento do STJ. No ano de
2014, o STJ reinterpretou o citado parágrafo único, e adotou entendimen-
to de que o tabelião de protesto deve sim analisar a prescrição do título,
negando o registro do protesto acaso verifique ter ocorrido a prescrição.2

A partir desse entendimento, alguns Tribunais de Justiça, entre eles o do


Estado de São Paulo e do Rio de Janeiro, exararam algumas decisões nes-
se sentido, inclusive condenando o tabelionato de protesto à indenização
de danos morais. Contudo, até o presente momento, a questão não foi
pacificada, havendo uma inclinação no sentido do art. 9º, parágrafo único
da Lei de Protesto.

Observamos que essa tendência vem se alterando, paulatinamente em di-


reção ao entendimento traçado pelo STJ, ao menos no Estado de São Paulo.

2
AgRg no AgRg no REsp 1.100.768-SE, Relator Ministro MARCO BUZZI. Quarta Turma, julgado em 11.11.2014, v.u., Dje de
17/11/2014.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos79


Apesar disso, a questão é tormentosa e ainda permanece indefinida nos
Estados. No STJ, a posição de que cabe ao tabelião analisar a prescrição já
se encontra consolidada, em inúmeros julgados e decisões monocráticas
exaradas desde 2014 até os dias atuais.

A letra de câmbio e a nota promissória, conforme o Decreto nº 57.663/66,


art. 70, prescrevem nos seguintes prazos:
Art. 70. Todas as ações contra o aceitante relativas a letras prescrevem em
3 (três) anos a contar do seu vencimento.

As ações do portador contra os endossantes e contra o sacador prescre-


vem num ano, a contar da data do protesto feito em tempo útil, ou da data
do vencimento, se trata de letra que contenha cláusula “sem despesas”.

As ações dos endossantes uns contra os outros e contra o sacador pres-


crevem em 6 (seis) meses a contar do dia em que o endossante pagou a
letra ou em que ele próprio foi acionado.

A duplicata, nos termos do art. 18 da Lei nº 5.474/68, prescreve nos se-


guintes prazos:
Art. 18 - A pretensão à execução da duplicata prescreve:
I. contra o sacado e respectivos avalistas, em 3 (três) anos, contados da data do
vencimento do título;
II. contra endossante e seus avalistas, em 1 (um) ano, contado da data do
protesto;
III. de qualquer dos coobrigados contra os demais, em 1 (um) ano, contado da
data em que haja sido efetuado o pagamento do título.

O cheque tem seu prazo de prescrição estabelecido no art. 59 da Lei nº


7.357/85:
Art. 59 - Prescrevem em 6 (seis) meses, contados da expiração do prazo de
apresentação, a ação que o art. 47 desta Lei assegura ao portador.
Parágrafo único - A ação de regresso de um obrigado ao pagamento do
cheque contra outro prescreve em 6 (seis) meses, contados do dia em que
o obrigado pagou o cheque ou do dia em que foi demandado.

80 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


1.3. Intimação do devedor

Estando formalmente apto o título ou documento, o tabelião segue com


o procedimento, expedindo intimação ao devedor, a qual deverá ser cum-
prida no endereço fornecido pelo apresentante.

Para sua validade é suficiente a comprovação, por escrito, de que a corres-


pondência foi enviada ao endereço do devedor (STJ, REsp 784.448/SP), e
lá fora recebida, ainda que não seja o devedor pessoalmente cientificado
(STJ, AgRg no Ag 636.261/MG). Se o apresentante agir de má-fé e fornecer
endereço incorreto, responderá por perdas e danos, sem prejuízo de ou-
tras sanções civis, administrativas ou penais (artigo 15, § 2º, Lei n. 9.492).

Da intimação constará o nome e endereço físico do devedor, os elemen-


tos de identificação do título ou do documento de dívida e o prazo limite
para o cumprimento da obrigação no tabelionato ou banco especifica-
do, como também o número do protocolo e o valor a ser pago (artigo 14,
Lei n. 9492).

A intimação será feita por intimador do próprio tabelionato, ou pelo cor-


reio, mediante aviso de recebimento A.R.

Somente será feita intimação por edital se o destinatário da intimação


for: a) desconhecido; ou b) sua localização for incerta ou ignorada; ou c)
se for residente ou domiciliado fora da competência territorial do tabe-
lionato; ou d) se ninguém se dispuser a receber a intimação no endereço
fornecido pelo representante; ou e) o destinatário apesar de cientificado,
se recusar a assinar o A.R. ou contra-recibo do intimador3. O edital será
obrigatoriamente afixado na sede do Tabelionato de Protesto e publicado
pela imprensa local onde houver jornal de circulação diária.

Um ponto muito importante: convém que sejam esgotados todos os meios


de localização do devedor antes da intimação por edital. A intimação via
edital deve ser a “ultima ratio” levada a efeito pelo tabelionato.

3
Porque o A.R. ou o contra-recibo passado ao intimador, são os documentos escritos que comprovam que o tabelionato
intimou regularmente o devedor, e que este tomou ciência da intimação.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos81


1.4. Prazo para efetivação do registro do protesto

São de 3 (três) dias úteis, a contar da data do protocolo na Serventia, e


não no distribuidor, o prazo para que o tabelião registre o protesto, nos
termos do artigo 12 da Lei n. 9.492/1997. Não é considerado dia útil o dia
em que não houver expediente bancário ou aquele que não obedeça ao
horário normal.

Na contagem do prazo, exclui-se o dia da protocolização e inclui-se o do


vencimento.

O tríduo poderá ser extrapolado na hipótese de o devedor ser intimado


no último dia do prazo, ou além dele, por motivo de força maior. Nesse
caso, o protesto será registrado no primeiro dia útil subsequente (artigo
13, Lei nº 9.492), devendo o tabelião consignar o motivo do atraso no re-
gistro do protesto.

1.5. Desistência do protesto

De acordo com o artigo 16 da Lei nº 9.294/1997, o apresentante poderá


desistir do protesto, formulando por escrito ao tabelião pedido de retira-
da do título ou documento de dívida, desde que o faça em momento ante-
rior ao da lavratura do protesto, e efetue o pagamento dos emolumentos
e demais despesas ocorridas com a intimação.

1.6. Pagamento do título ou documento de dívida

O devedor devidamente intimado poderá efetuar o pagamento do títu-


lo ou documento de dívida diretamente no tabelionato que o intimou,
ou na rede bancária credenciada por meio de boleto, no valor igual ao
declarado pelo apresentante, acrescido dos emolumentos e das demais
despesas efetuadas pela Serventia. Link: <https://quartoprotestosp.com.
br/Pagina/Exibir/0ccff134-a9be-4faa-8fc3-02d0eecd88ac>. Acesso em:
22 set. 2018.

82 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


Não pode o tabelião recusar-se a receber pagamento integral oferecido
dentro do prazo legal (antes do registro do protesto), tampouco no caso
de o devedor comparecer ao serviço de protesto no último dia do prazo
estabelecido, após o expediente bancário.
O pagamento poderá ser feito em dinheiro, cheque administrativo ou visa-
do. A microempresa detém prerrogativa estabelecida no art. 73, inciso II,
da Lei Complementar nº 123/2006, podendo efetuar o pagamento através
de cheque comum, cuja quitação fica condicionada à efetiva liquidação do
mesmo. O inciso V do mesmo artigo completa o preceito impondo uma
sanção: “quando o pagamento do título ocorrer com cheque sem a devida
provisão de fundos, serão automaticamente suspensos pelos cartórios de
protesto, pelo prazo de 1 (um) ano, todos os benefícios previstos para o
devedor neste artigo, independentemente da lavratura e registro do res-
pectivo protesto”. Link: <http://fenacon.org.br/noticias/siglas-me-ou-epp-
nao-serao-mais-acrescentados-ao-nome-da-empresa-2864/>. Acesso em:
22 set. 2018.
Recebido o pagamento, o tabelionato dará a respectiva quitação (salvo no
caso da microempresa que efetuou pagamento com cheque comum), e
o valor pago será colocado à disposição do apresentante no primeiro dia
útil subsequente ao do pagamento.
Nos casos de pagamento em parcelas, se subsistirem outras ainda vincen-
das, o tabelião dará a quitação da parcela paga em apartado, devolvendo
o título ou documento original ao apresentante. Com relação à correção
monetária, recebido o pagamento pelo serviço de protesto sem a parcela
referente, poderá o credor ajuizar a ação de cobrança pela respectiva per-
da do poder aquisitivo da moeda, sob o fundamento do enriquecimento
sem causa (STJ, REsp 204.253/ES).

1.7. Sustação judicial do protesto

Antes do registro do protesto, o devedor, logo que intimado, poderá ajui-


zar ação judicial cautelar de sustação do protesto, a fim de debater em
juízo as exceções pessoais que tiver contra o credor.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos83


Com essa medida o juiz de direito, por meio de mandado judicial de susta-
ção de protesto, endereçado ao tabelionato, dará ordem ao tabelião para
sobrestar no registro do protesto, até que se complete essa discussão
judicial. Quanto a esse título ou documento, o procedimento de protesto
ficará paralizado, até segunda ordem do juízo.
O tabelião lançará no Livro Protocolo uma anotação, indicando que o tí-
tulo protocolado sob aquele número encontra-se sustado judicialmente.
Sustado o protesto, os títulos e documentos permanecerão em poder do
tabelião, e somente com autorização judicial é que poderão ser pagos,
protestados ou retirados (art. 17, da Lei n. 9.294/97).
Caso o juízo determine a revogação da sustação, o tabelião retomará o
procedimento, sendo desnecessária nova intimação do devedor, devendo
o tabelião lavrar o registro do protesto até o primeiro dia útil subsequente
ao do recebimento da revogação.
Tornada definitiva a sustação, o juízo dará ordem expressa ao tabelião
para entregar o título a alguma das partes. Não havendo determinação
expressa ou, se decorridos 30 dias sem que a parte autorizada tenha com-
parecido ao tabelionato para retirar o título, o tabelião o encaminhará ao
juízo respectivo.
Por fim, ao receber a segunda ordem judicial, o tabelião fará nova ano-
tação no Livro Protocolo, indicando seu novo “status”: título protestado
(para o caso da revogação da sustação) ou título sustado definitivamente
por ordem judicial.

1.8. Registro do protesto

Dentro do tríduo legal, não tendo ocorrido desistência do protesto, nem


o pagamento do título pelo devedor intimado, nem sustação judicial, o
tabelião deverá lavrar o protesto e registrá-lo.
O registro é lançado no Livro de Protesto, do qual o tabelião extrairá o
Instrumento ou Termo de Protesto a ser entregue ao apresentante.

84 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


O registro do protesto e seu instrumento conterão, nos termos do artigo
22 da Lei n. 9.492/1997: data e número de série de protocolização; nome
do apresentante e endereço; reprodução ou transcrição do documento
ou das indicações feitas pelo apresentante e declarações nele inseridas;
certidão das intimações feitas e das respostas eventualmente oferecidas;
indicação dos intervenientes voluntários e das firmas por eles honradas;
a aquiescência do portador ao aceite por honra; nome, número do do-
cumento de identificação do devedor e endereço; e data e assinatura do
tabelião de protesto, de seus substitutos ou de escrevente autorizado.

Se não houver prazo previsto no título ou documento de dívida, a data


do registro do protesto será o termo inicial da incidência de juros, taxas e
atualizações monetárias (artigo 40, Lei n. 9.492).

Efetuado o registro do protesto, o tabelião entregará o instrumento ou


termo de protesto ao apresentante, o qual será utilizado pelo credor para
pleitear as medidas judiciais de seu interesse. Além disso, o tabelião ex-
pedirá certidão diária em forma de relação às entidades de proteção ao
crédito – normalmente SPC e SERASA, informando o nome dos devedores
que foram protestados naquela data, a fim de se negativarem o nome,
encerrando assim o procedimento do protesto.

O tabelião também lançará no Livro Protocolo a anotação de que o título


encontra-se protestado.

PARA SABER MAIS


Acompanhe o fluxograma do procedimento de protesto, a fim
de memorizar bem suas etapas, e conheça alguns pormeno-
res a respeito do cancelamento de protesto mediante carta de
anuência passada pelo credor. Disponível em: <https://www.
protestorondonia.com.br/proteste>. Acesso em: 22 set. 2018.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos85


2. Sustação judicial dos efeitos do protesto

Em virtude do prazo curto para a tirada do protesto (3 dias úteis), pode


ocorrer que o devedor não tenha conseguido pleitear a medida judicial de
sustação de protesto em tempo hábil, ou que, pleiteada em tempo, fora
deferida em momento posterior ao registro do protesto.

Em qualquer dessas situações, o juízo expedirá mandado endereçado


ao cartório, da mesma forma que ocorre com a sustação de protesto.
Contudo, em razão de o respectivo mandado ser apresentado ao tabelião
após a efetivação do protesto, não se fala em sustação do protesto, mas
em sustação dos efeitos do protesto. Não se susta o protesto porque ele
já ocorreu. Susta-se, assim, os efeitos produzidos pelo protesto, ou seja:
o tabelionato estará impedido de fornecer certidões positivas acerca da-
quele protesto lançado em seu livro; o tabelião deverá informar às enti-
dades de proteção ao crédito – SPC e SERASA - que aquele protesto teve
seus efeitos sustados, e estas entidades estarão obrigadas a retirar mo-
mentaneamente o nome do devedor de seus cadastros de inadimplentes.

Da mesma forma que na sustação, o cartório deverá aguardar segunda


ordem exarada pelo juízo, que poderá revigorar os efeitos do protesto, ou
sustá-los definitivamente.

Por fim, o tabelião fica obrigado a averbar a respectiva sustação dos efeitos
à margem do registro do protesto, comunicando o juízo mandante sobre
o cumprimento da ordem. Ao receber a segunda ordem judicial, o tabelião
deverá proceder da mesma forma, promovendo nova averbação à margem
do registro, noticiando a restauração dos efeitos ou a sustação definitiva.

Insta mencionar que o mandado respectivo, equivocadamente, poderá


conter ordem de sustação do protesto, e não de seus efeitos. O tabelião
deverá entender e cumprir a ordem como sendo de sustação dos efeitos
do protesto4.

4
A exemplo do Estado de São Paulo, veja o Item 64, do Capítulo XV das NSCGJ/SP.

86 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


3. Averbações

O tabelião efetuará, mediante requerimento escrito do interessado, ou


“ex officio”, e sob sua responsabilidade, a averbação de retificação de er-
ros materiais.

Nestas hipóteses, não serão devidos emolumentos pela averbação que


será efetivada.

4. Cancelamento do protesto

A qualquer interessado é facultado requerer diretamente ao tabelionato


o cancelamento do registro do protesto, mediante a apresentação do títu-
lo ou documento protestado, cuja cópia ficará arquivada.

Se for impossível a apresentação do original do título, o cancelamento


poderá ser feito com base em declaração de anuência do credor, com
identificação deste e firma reconhecida.

O cancelamento do registro de protesto, fundado em outro motivo que não


no pagamento do título ou documento de dívida, será realizado por deter-
minação judicial, desde que pagos os emolumentos devidos ao tabelião.

À vista dos documentos necessários mencionados acima, o tabelião pro-


moverá um ato de averbação à margem do registro do protesto, noticiando
o seu cancelamento. Esse ato pode ser efetuado pelo tabelião titular, seus
substitutos ou escreventes autorizados (art. 26, § 5º da Lei de Protesto).

A partir desse momento, fica vedado o fornecimento de certidão positiva


desse registro, salvo nas hipóteses taxativamente previstas no art. 27, §
2º, da Lei 9.492/97.5

5
Art. 27. O Tabelião de Protesto expedirá as certidões solicitadas dentro de cinco dias úteis, no máximo, que abrangerão
o período mínimo dos cinco anos anteriores, contados da data do pedido, salvo quando se referir a protesto específico.
[...]
§ 2º Das certidões não constarão os registros cujos cancelamentos tiverem sido averbados, salvo por requerimento escrito
do próprio devedor ou por ordem judicial.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos87


O tabelionato tem obrigação de fornecer certidão às entidades de prote-
ção ao crédito – SPC e SERASA – dos protestos que foram cancelados.

PARA SABER MAIS


Após formalizado o registro do protesto, o devedor procu-
ra o credor e efetua o pagamento da dívida, tendo direito à
quitação e ao cancelamento do referido protesto. O credor
estaria obrigado a promover o cancelamento junto ao car-
tório de protesto uma vez que fora ele quem o provocou?
Gentilmente o credor poderia fazê-lo. Entretanto, o STJ já de-
cidiu que o ônus de cancelar protesto junto ao cartório é do
devedor, e não obrigação do credor. (REsp 1339436 SP, Rel.
Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado
em 10/09/2014, DJe 24/09/2014).

5. Certidões e informações do protesto

As certidões e informações de protestos não cancelados, poderão ser for-


necidos a qualquer interessado, desde que requeridas por escrito (art. 31
da Lei nº 9.492/97). São devidos emolumentos pelos pedidos de certidão
(art. 37), não havendo previsão de gratuidade para aqueles que se decla-
rarem pobres sob as penas da lei.
Em regra, as certidões solicitadas serão expedidas pelo tabelião de pro-
testo no prazo máximo de 5 (cinco) dias úteis, a contar da data do pedido,
e abrangerão um período mínimo de 5 (cinco) anos, exceto quando se
referirem a protesto específico, cujo período pode ser ultrapassado.
O requerente da certidão deverá indicar, além do nome a ser pesquisado,
o RG ou CPF da pessoa, a fim de se evitar a homonímia. Caso o tabelião
verifique tratar-se de pessoa homônima pela confrontação dos documen-
tos de identidade, dará certidão negativa de protesto (art. 28 da Lei nº
9.492/97).

88 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


As certidões indicarão o nome do devedor; seu número de registro geral
de identidade ou seu número de CPF, se pessoa física, ou CNPJ, se pessoa
jurídica. Se positiva a certidão, deverá conter também a espécie de pro-
testo e a referência ao documento ou título que lhe deu origem.

Não constarão das certidões os registros cujos cancelamentos ou susta-


ções tiverem sido averbados, exceto se o próprio devedor assim o reque-
rer ou em caso de ordem judicial.

6. Livros e arquivos do tabelionato de protesto

Livro protocolo: o titular do serviço de protesto de títulos escriturará dia-


riamente o livro de protocolo mediante processo manual, mecânico, ele-
trônico ou informatizado, em folhas soltas e com colunas destinadas às
anotações de: a) número de ordem; b) natureza do título ou documento
de dívida; c) valor; d) apresentante; e) devedor; e f) ocorrências.

Livro de registro de protestos: os livros de registros de protestos se-


guem as formalidades padrão dos livros notariais: devem ser abertos e
encerrados pelo tabelião ou seu substituto, ou escrevente autorizado,
sendo obrigatória a aposição da respectiva rubrica em cada uma das fo-
lhas numeradas. Nele são lançados os protestos comuns e especiais.

Arquivos: de acordo com o art. 35 da Lei nº 9.492/97, é obrigação do tabe-


lião de protestos arquivar as intimações, os editais, os documentos apre-
sentados para averbação no registro de protestos e ordens de cancelamen-
tos, mandados e ofícios judiciais, solicitações de retirada de documentos
pelo apresentante, comprovantes de entrega de pagamentos aos credores,
e comprovantes de devolução de documentos de dívida irregulares.

A conservação dos arquivos deverá ser feita pelo prazo mínimo de 1 (um)
ano para as intimações e editais correspondentes a documentos pro-
testados e ordens de cancelamentos; de 6 meses, para as intimações e

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos89


editais correspondentes a documentos pagos ou retirados além do tríduo
legal; e de 30 dias, para os comprovantes de entrega de pagamentos aos
credores, para as solicitações de retirada dos apresentadores e para os
comprovantes de devolução, por irregularidade dos títulos e documentos
de dívidas.

Não há obrigação de conservação de livros e documentos microfilmados


ou gravados por processo eletrônico de imagens.

Os livros de registros dos protestos e respectivos títulos devem ser arquiva-


dos pelo prazo de 10 (dez) anos, e os livros de protocolo, por 3 (três) anos.

A lei de protesto exigiu os documentos mínimos a serem arquivados pelo ta-


belião. As normativas dos Estados podem estabelecer um rol mais extenso,
a exemplo do item 91, do Capítulo XV, das NSCGJ do Estado de São Paulo:
91. Serão arquivados nos Tabelionatos de Protesto de Títulos os seguintes
documentos:
a) intimações;
b) editais;
c) documentos apresentados para averbações e cancelamentos de protestos;
d) mandados de cancelamentos e de sustação de protestos;
e) ordens de retirada de títulos pelo apresentante;
f) comprovantes de entrega dos pagamentos aos credores;
g) comprovantes de devolução dos títulos ou documentos de dívida irregu-
lares, que não possam ser protestados;
h) documentos apresentados para expedição de certidões de homônimos;
i) cópias dos cheques comuns devolvidos sem compensação bancária, emi-
tidos por microempresas e empresas de pequeno porte em pagamento de
títulos e de outros documentos de dívida apresentados a protesto (subitem
66.2.4. deste Capítulo);
j) procurações, cópias de atos constitutivos das pessoas jurídicas, alte-
rações contratuais, consolidações societárias, certidões do Registro de
Títulos e Documentos e Civil de Pessoas Jurídicas, fichas cadastrais da Junta
Comercial e comprovantes de inscrição e situação cadastral emitidos pela
Receita Federal do Brasil;

90 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


k) documentos comprobatórios da causa das duplicatas, nota fiscal-fatura
ou respectivo contrato de prestação de serviço, além dos comprovantes da
entrega e recebimento das mercadorias ou da efetiva prestação do serviço;
l) declarações substitutivas referidas no item 39 deste Capítulo; e
m) comprovantes de endereço dos emitentes de cheques.

Você deverá consultar as normativas de seu Estado.

7. Emolumentos

A prestação de serviços notariais e de registro tem caráter privado, me-


diante delegação do Poder Público, segundo consta do artigo 236 da
Constituição Federal. Em razão disso, os tabeliães de protestos fazem jus
à percepção dos emolumentos pelos atos que praticarem, a serem pagos
diretamente pelas partes a título de remuneração, conforme as tabelas
fixadas pelos Estados.

A Lei federal nº 10.169/2000 estabelece normas gerais sobre a cobrança


dos serviços prestados pelos notários e registradores. Ela toma a expres-
são “emolumentos” abrangendo tanto a parcela do valor que constitui a
receita do cartório, como aquelas despesas devidas ao Estado, carteira de
previdência, fundos e associações de classe, definidos na lei de cada es-
tado. A título de exemplo, no Estado de São Paulo, é a Lei nº 11.331/2002
que regula a matéria.

Os emolumentos têm natureza tributária na modalidade de taxa.

Como regra, o tabelião exige o depósito prévio dos emolumentos e de-


mais despesas devidas, as quais serão devidamente reembolsadas ao
apresentante, caso o devedor efetue o pagamento.

O Estado de São Paulo prevê a gratuidade dos emolumentos para o cre-


dor. Sobre a gratuidade da justiça e sua extensão aos serviços extrajudi-
ciais, você pode conferir:

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos91


LINK
<https://www.anoregsp.org.br/noticias/9584/a-incidencia-
da-gratuidade-da-justica-para-os-emolumentos-possibilida
de-e-procedimento-pelo-novo-codigo-de-processo-civil->.
Acesso em: 22 set. 2018.

Caso haja ação judicial, os emolumentos devidos ao serviço de protesto


de títulos serão devidos no ato elisivo do protesto ou do cancelamen-
to, excluída a sustação judicial definitiva, caso em que serão cobrados da
parte vencida.

O art. 73, inciso I, da Lei Complementar nº 123/2006, prevê uma prerro-


gativa destinada às microempresas, dispensando-as do pagamento das
parcelas dos emolumentos destinadas ao Estado, carteira de previdên-
cia, fundos e associações de classe. Em resumo, elas estão sujeitas ape-
nas ao pagamento da parcela dos emolumentos que constitui receita do
cartório6.

PARA SABER MAIS


STF firma jurisprudência cujo entendimento é que os emolu-
mentos têm natureza jurídica tributária, na modalidade de taxa.
Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/pagina
dor.jsp?docTP=AC&docID=347013>. Acesso em: 22 set. 2018.
<https://arisp.wordpress.com/tag/emolumentos/>.
Acesso em: 22 set. 2018.

6
Art. 73. O protesto de título, quando o devedor for microempresário ou empresa de pequeno porte, é sujeito às seguintes
condições:
I - sobre os emolumentos do tabelião não incidirão quaisquer acréscimos a título de taxas, custas e contribuições para
o Estado ou Distrito Federal, carteira de previdência, fundo de custeio de atos gratuitos, fundos especiais do Tribunal de
Justiça, bem como de associação de classe, criados ou que venham a ser criados sob qualquer título ou denominação,
ressalvada a cobrança do devedor das despesas de correio, condução e publicação de edital para realização da intimação.

92 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


QUESTÃO PARA REFLEXÃO
Pelo art. 778 do Código de Processo Civil, é sabido que toda execução
tem como pressuposto lógico a existência de um título dotado de
executividade.

Ser dotado de executividade significa que ao credor é dispensável


mover processo de conhecimento, estando autorizado a ingressar
diretamente com procedimento executório, bastando apresentar o
documento que lhe confere o direito.

Entretanto, a executividade está atrelada ao tempo: o credor pode


exercer referido direito de cobrança direta (ou seja, a ação executi-
va), dentro de um lapso prescricional estipulado na lei especial que
rege cada título de crédito.

Tanto o art. 9º da Lei 9.492/97, quanto as normativas dos Estados,


dispensam o tabelião de verificar a ocorrência de prescrição ou
caducidade.

Você aprendeu que atualmente o principal objetivo do protesto é a


cobrança da dívida, eis que ele é dotado de uma força intimidatória
contra o devedor: a restrição do crédito.

Visto isso, pode-se refletir sobre uma questão: se o credor negligente


que deixou escoar em branco o prazo que detinha para cobrar a dí-
vida está impedido de fazê-lo nas vias judiciárias (dotadas de poder
coativo), como então poderia ele cobrá-la nas vias administrativas do
protesto?

Chegar-se-ia à conclusão de que o protesto seria um ato igual ou


mais gravoso que a própria cobrança feita por meio judicial. No en-
tanto, se a lei vedou o ato judicial coativo depois de atingido o prazo
prescricional, é forçoso concluir que também o vedou nas vias extra-
judiciais do protesto.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos93


Assim entendeu o STJ em decisão paradigma (AgRg no AgRg no REsp
1.100.768-SE, Relator Ministro MARCO BUZZI, Quarta Turma, julgado
em 11.11.2014, v.u., Dje de 17/11/2014), e partir de então, considerou
que ao tabelião de protesto cabe verificar a ocorrência de prescrição
dos títulos que lhe forem apresentados.

Ao verificá-la, o tabelião deverá recusar o título, entregando ao apre-


sentante nota explicativa.

A questão, no entanto, não se encontra resolvida nos Estados, que


continuam a dispensar os tabelionatos de tal análise.

8. Considerações finais

• O procedimento do protesto abrange as seguintes etapas: distri-


buição e protocolo; qualificação baseada nos requisitos formais do
título ou documento; intimação do devedor, possibilidade de desis-
tência ou de sustação judicial do protesto; pagamento e finalmente
o registro do protesto.
• O registro do protesto é o marco temporal que diferencia a sustação
judicial (ocorre antes do registro) e a sustação judicial dos efeitos do
protesto (ocorre após o registro).
• Lançado o protesto no Livro de Protestos, haverá possibilidade de
averbações a sua margem, para correção de erros materiais, susta-
ção dos efeitos do protesto e cancelamento.
• As certidões do protesto são fornecidas a qualquer interessado e às
entidades de proteção ao crédito, sendo vedado o fornecimento de
certidão relativa a protesto já cancelado, salvo nas hipóteses taxati-
vas previstas em lei.
• Os emolumentos são pagos pelo credor no momento da apresentação
do título, e depois devolvidos ao mesmo quando de eventual paga-
mento do título pelo devedor, que arca com as despesas do cartório.

94 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


Glossário
• Princípio do curso forçado da moeda: o art. 1º do Decreto-Lei nº
857, de 11 de setembro de 1969, determina que qualquer obriga-
ção exequível no Brasil deve ser paga em moeda corrente nacional,
sob pena de nulidade de pleno direito, vedando o pagamento em
ouro e moeda estrangeira. O princípio não é absoluto, comportan-
do as seguintes exceções: obrigações que envolvam importação
ou exportação de mercadorias; 2) contratos de compra e venda de
câmbio em geral; e 3) contratos de financiamento ou de prestação
de garantias relativos a operações de exportação de bens de pro-
dução nacional, vendidos a crédito para exteriores.
• Nulo de pleno direito: “A nulidade de pleno direito refere-se à nu-
lidade absoluta, pois consiste em vício tamanho que torna inválido
o ato. Tal medida visa ao resguardo da ordem pública. Esses atos,
portanto, não geram efeitos jurídicos”7.
• Homonímia: significa que duas ou mais pessoas diferentes possuem
nomes idênticos. Para evitar essa situação, o interessado em obter
uma certidão de protesto, no requerimento, deverá qualificar a pes-
soa objeto da pesquisa, informando junto do nome, o RG ou CPF, a
fim de permitir ao cartório verificar a existência da homonímia.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
TEMA 04
1. (FCC – Cartório – TJ – PE/2013) Assinale a alternativa cor-
reta. O protesto de título emitido na Alemanha, em moe-
da estrangeira:
a) Não pode ser realizado no Brasil.

7
FIGUEIREDO, Carlos Maurício et al. Comentários à lei de responsabilidade fiscal. 2. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2001, p. 157, citado no ACÓRDÃO nº 462/09 – Pleno, do Processo N°: 385753/07, do Tribunal de
Contas do Estado do Paraná, julgado em 30.04.2009.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos95


b) Pode ser livremente lavrado no Brasil, da forma como
foi emitido, devendo ser o pagamento feito na moeda
expressa no título.
c) Deve estar acompanhado de tradução por tradutor ju-
ramentado e o pagamento deve ser feito em moeda
corrente nacional convertida pelo câmbio da data da
apresentação.
d) Deve estar acompanhado de tradução por tradutor
juramentado, homologação pelo Superior Tribunal de
Justiça e pagamento em moeda corrente nacional con-
vertida pelo câmbio do dia do efetivo pagamento.
e) Deve ser autenticado pelo consulado brasileiro do lu-
gar da emissão do título, acompanhado de tradução
por tradutor juramentado e autorização judicial para
protesto de valores em moeda estrangeira.
2. (VUNESP – Cartório – TJ – SP/2014 - alterada) Assinale a al-
ternativa correta. Quanto ao prazo do protesto, é correto
afirmar:
a) Quando a intimação for efetivada no último dia do pra-
zo ou além dele, por motivo de força maior, o protesto
será tirado no primeiro dia útil subsequente.
b) O protesto não será lavrado antes do prazo de 36 (trin-
ta e seis) horas, contado da intimação do devedor.
c) No período de 20 de dezembro a 6 de janeiro, duran-
te o qual haverá suspensão do expediente forense em
razão do recesso de final de ano, o prazo do protesto
será suspenso, voltando a fluir normalmente a partir
do primeiro dia útil subsequente ao dia 6 de janeiro.
d) O prazo para tirada do protesto é de 3 (três) dias úteis,
contados da intimação do devedor.
e) O prazo para intimação é de 1 dia.

96 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


3. (EJEF – Tabelionato e Registro – MG/2007 - alterada)
Assinale a alternativa correta. Sobre a desistência e a
sustação do protesto, é CORRETO afirmar que:
a) O título do documento de dívida cujo protesto tiver sido
sustado judicialmente só poderá ser pago, protestado
ou retirado com autorização judicial.
b) Antes da lavratura do protesto, o apresentante não po-
derá retirar o título ou documento de dívida, mesmo
quando pagos emolumentos e demais despesas.
c) Tornada definitiva a ordem judicial de sustação do pro-
testo, os títulos ou documentos de dívida são, obriga-
toriamente e em qualquer hipótese, remetidos ao ju-
ízo competente que determinou tal medida para que
sejam juntados aos autos do processo ou arquivados
perante o citado juízo.
d) Revogada a ordem de sustação de protesto, há necessi-
dade de se promover nova intimação do devedor para
que possa o mesmo requerer expressamente a lavra-
tura do protesto e a sua efetivação.
e) A desistência do protesto pelo credor pode ser solicita-
da ao tabelionato após o protesto do título.
4. (VUNESP – Notários – MS/2009) Assinale a alternativa
correta. Contados da protocolização, o protesto será re-
gistrado dentro de:
a) 1 dia útil.
b) 2 dias úteis.
c) 3 dias úteis.
d) 4 dias úteis.
e) 5 dias úteis.

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos97


5. (VUNESP – Notário – MS/2009) Assinale a alternativa corre-
ta. Acerca das certidões do protesto, é correto afirmar que:
a) Abrangerão o período máximo dos 5 anos anteriores,
contados da data do pedido, salvo quando se referirem
a protesto específico.
b) Delas constarão os registros cujos cancelamentos tive-
rem sido averbados, salvo por requerimento escrito do
próprio devedor ou por ordem judicial.
c) Poderão ser fornecidas, quando se refiram a protestos
não cancelados, a quaisquer interessados, desde que
requeridas por escrito.
d) Ocorrendo homonímia, sempre que a mesma possa
ser verificada simplesmente pelo confronto do número
do documento de identificação, o Tabelião de Protesto
dará certidão positiva.
e) Os cartórios não poderão fornecer às entidades repre-
sentativas da indústria e do comércio, em qualquer hi-
pótese, certidão diária, em forma de relação, dos pro-
testos tirados e dos cancelamentos efetuados.

Referências Bibliográficas
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e Registral. Porto Alegre: Sérgio Antonio Fabris Editor, 2004. 279 p.
BUENO, Sérgio Luiz José. O Protesto de Títulos e Outros Documentos de Dívida:
aspectos práticos. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2011. 286 p.
LOUREIRO, Luiz Guilherme. Registros Públicos: teoria e prática. 4. ed. São Paulo:
GEN/editora Método, 2013. 825 p.
SANTOS, Reinaldo Velloso dos. Apontamento Sobre o Protesto Notarial. 2012. 244
f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Mestre em Direito Comercial, Direito Comercial,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.
SOUZA NETO, João Baptista de Mello et al (Org.). Manual do Protesto de Letras e
Títulos: teoria e prática. São Paulo: Quartier Latin, 2017. 480 p.

98 Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos


Gabarito – Tema 04

Questão 1 – Resposta: C
Deve estar acompanhado de tradução por tradutor juramentado e
o pagamento deve ser feito em moeda corrente nacional convertida
pelo câmbio da data da apresentação - art. 10 da Lei nº 9.492/97 (tó-
pico 1.1 desta aula).

Questão 2 – Resposta: A
Quando a intimação for efetivada no último dia do prazo ou além
dele, por motivo de força maior, o protesto será tirado no primeiro
dia útil subsequente (tópico 1.3 desta aula).

Questão 3 – Resposta: A
O título do documento de dívida cujo protesto tiver sido sustado ju-
dicialmente só poderá ser pago, protestado ou retirado com autori-
zação judicial (tópico 1.6 desta aula).

Questão 4 – Resposta: C
3 dias úteis (tópico 1.3 desta aula).

Questão 5 – Resposta: C
Poderão ser fornecidas, quando se refiram a protestos não cance-
lados, a quaisquer interessados, desde que requeridas por escrito
(tópico 5 desta aula).

Tabelionato de Protesto de Letras e Títulos99

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