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JUR0045_v1.

REGISTRO DE TÍTULOS E
DOCUMENTOS E CIVIL DAS
PESSOAS JURÍDICAS - RTDPJ
Adriano Cesar da Silva Alvares

Registro de Títulos e Documentos e Civil das


Pessoas Jurídicas

1ª edição

Londrina
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
2019

2
© 2019 por Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser
reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio,
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Beatriz Meloni Montefusco
Daniella Fernandes Haruze Manta
Hâmila Samai Franco dos Santos
Mariana de Campos Barroso
Paola Andressa Machado Leal

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


__________________________________________________________________________________________
Alvares, Adriano Cesar da Silva
A473r Registro de títulos e documentos e civil das pessoas
jurídicas / Adriano Cesar da Silva Alvares, – Londrina: Editora
e Distribuidora Educacional S.A. 2019.
63 p.

ISBN 978-85-522-1610-0

1. Direito Notarial. 2. Registro Civil. I.


Alvares, Adriano Cesar da Silva.
Título.

CDD 340
____________________________________________________________________________________________
Thamiris Mantovani CRB: 8/9491

2019
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: editora.educacional@kroton.com.br
Homepage: http://www.kroton.com.br/

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REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS E CIVIL DAS
PESSOAS JURÍDICAS - RTDPJ

SUMÁRIO
Apresentação da disciplina 5

Registro Civil das Pessoas Jurídicas I 6

Registro Civil das Pessoas Jurídicas II 22

Registro de Títulos e Documentos I 43

Registro de Títulos e Documentos II 61

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Apresentação da disciplina

A nossa última disciplina das serventias extrajudiciais tem como


escopo a análise do Registro Civil das Pessoas Jurídicas e do Registro
de Títulos e Documentos.

Iniciaremos analisando o Registro Civil das Pessoas Jurídicas com um


viés de estabelecer os principais registros dessa atividade, especialmente
pelas associações, fundações e entidades religiosas e políticas.

Adentrando, posteriormente, ao principal desafio de distinguir o que é


registrado nas juntas comerciais e o que ficará a cargo do registro civil
das pessoas jurídicas.

Em continuidade, verificaremos as demais atribuições e livros do


registro civil das pessoas jurídicas com uma análise dos atos e
procedimentos atinentes a esse registro.

Por fim, estudaremos o Registro de Títulos e Documentos, que tem por


atribuição a esfera residual dos demais registros.

Essa serventia será analisada sob o enfoque de sua finalidade, bem


como da natureza do título e seus efeitos.

Terminaremos o curso com uma visão genérica do procedimento do


registro do título e documento, bem como a notificação extrajudicial.

Esse é o último tema, esperamos ter alicerçado conhecimento e


alcançado o objetivo de fazer com que a pós-graduação seja uma porta
para a discussão dos temas e melhorias na vida e cotidiano das pessoas
através das serventias extrajudiciais, cada vez mais forte e independente,
com novas atribuições para a segurança das relações sociais.

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Registro Civil das Pessoas
Jurídicas I
Autor: Adriano César da Silva Álvares

Objetivos

• Trazer à baila um pequeno histórico do registro


civil das pessoas jurídicas;

• Pontuar a relevância da atividade como motora


de riqueza e circulação da atividade;

• Enaltecer as atividades sociais e morais consistentes


nos registros de associações, entidades religiosas,
políticas, fundacionais, entre outras;

• Distinguir o registro civil das pessoas jurídicas


das juntas comerciais;

• Estabelecer as atribuições e livros do registro


civil das pessoas jurídicas.

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1. Introdução

O Registro Civil das Pessoas Jurídicas (RCPJ) é uma das especialidades de


Registros Públicos, juntamente com o Registro de Títulos e Documentos,
do Registro de Imóveis e do Registro Civil das Pessoas Naturais, todos estes
previstos na Lei nº 6.015/73, bem como do Registro Público de Empresas
Mercantis (Junta Comercial), este último com previsão na Lei 8934/94.

Os registros públicos têm como principal fim garantir a publicidade,


autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos, nos termos do
art. 1º da Lei nº 6.015/73 – Lei dos Registros Públicos, e art. 1º da Lei
nº 8.935/94 – Lei dos Notários e Registradores.

O art. 236 da Constituição Federal regulamenta a atividade notarial e


registral, e em seu parágrafo 2º dispõe sobre emolumentos a serem
pagos como contraprestação, devendo cada Estado elaborar leis
especiais que deliberem sobre os emolumentos. Ainda, o citado artigo
determina que são funções públicas os serviços notariais e registrais,
mas prestados em caráter privado por um particular, a quem é atribuída
a função por meio de delegação. Esse indivíduo deve ser um profissional
do direito, a quem o Estado atribui esse ônus, conferindo-lhe fé pública.

O exercício da atividade corre por conta e risco do particular, que pode


contratar prepostos para auxiliá-lo no exercício de sua atividade. Como
dispõe o parágrafo 5º do artigo 20 da Lei nº 8.935/94, o oficial deve
nomear dentre seus substitutos um que o substituirá em todas as suas
impossibilidades ou impedimentos perante a serventia.

2. O registro civil das pessoas jurídicas

O direito civil brasileiro teve forte influência do direito português, que


assim como todo o sistema nacional de direitos teve origem no Direito
Romano, Direito Germânico e Direito Canônico, que se juntaram aos

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usos e costumes que permearam a colônia portuguesa. E foi justamente
do sistema legislativo português da época do Império que se encontra
a fonte do sistema notarial e de registral brasileiros. Esse direito
português foi fruto do desenvolvimento do direito notarial e registral no
ocidente do continente europeu por séculos, que moldou as formas hoje
consagradas na maioria dos sistemas do ocidente. Mas especificamente
foram nas Ordenações Filipinas que se verificam as primeiras normas
trazidas para o Brasil que dispunham sobre sociedades civis.

Nesse momento do desenvolvimento jurídico nacional não era atribuída


personalidade jurídica às sociedades, que eram consideradas apenas
fruto de relação contratual entre sócios. Desse modo, um dos principais
elementos do direito societário atual não era verificado naquela época:
não existia separação entre o patrimônio dos sócios e das sociedades,
confundindo-se os direitos e deveres de ambos.

Hoje é fato que a atribuição de personalidade jurídica à entidade criada


via contratual ou estatutária gera diversos efeitos para a vida civil da
mesma, por tornar-se a partir daí sujeito de direitos e deveres perante a
sociedade, ou seja: suas obrigações e deveres são diversos e distinguem-
se daquelas que compõem o patrimônio de seus sócios ou de seus
diretores, respondendo assim pelas suas obrigações e deveres.

Conforme afirma Pontes de Miranda (1974, p. 280):

[...] as pessoas jurídicas, como as pessoas físicas, são criações do direito; é o


sistema jurídico que atribui direitos, deveres, pretensões, obrigações, ações
e exceções a entes humanos ou a entidades criadas por esses, bilateral,
plurilateral (sociedade, associações), ou unilateralmente (fundações). Em
todas há o suporte fático; e não há qualquer ficção em se ver pessoa nas
sociedades e associações (personificadas) e nas fundações: não se diz que
são entes humanos; caracteriza-se mesmo, em definição e em regras jurídicas
diferentes, a distinção entre pessoas físicas e pessoas jurídicas. Nem sempre
todos os homens foram sujeitos de direito, nem só eles o foram e são.

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Desse modo, adquirindo personalidade jurídica, a pessoa jurídica
privada, as sociedades, associações e as fundações, criadas pelo homem,
passam a figurar juntamente com o ser humano, a União, o Distrito
Federal, os Estados e Municípios como sujeitos de direitos e deveres
dentro do sistema jurídico nacional.

O primeiro regramento nacional que dispunha sobre associações


e sociedades foi editado após a proclamação da República, mais
especificamente na data de 7 de janeiro de 1890, quando da publicação
do Decreto nº 119-A, que extinguiu o padroado e declarou a plena
liberdade de culto, que se estendia a igrejas, associações e agremiações,
de modo que ficava permitida a sua constituição e convivência,
independentemente de intervenção ou autorização do poder público,
bem como com a atribuição de personalidade jurídica a tais entidades,
por meio do registro de seus atos constitutivos perante o Registro Geral.

Assim, no momento da edição da primeira Constituição Nacional, no ano


de 1891, houve a introdução de três grandes inovações no ordenamento
jurídico nacional. A primeira foi a introdução do princípio da autonomia
da vontade no sistema jurídico, por meio do art. 72, parágrafo 1º. Na
sequência, a liberdade de culto e associação para tais fins, como já dito
anteriormente, possibilitando inclusive a aquisição de patrimônio por
parte dessas novas entidades, pelo art. 72, parágrafo 3º. E por último, a
liberdade de associação, que poderia se dar por meio de associações e
agremiações constituídas perante o Registro Geral – art. 72, parágrafo 8º.

Especificamente, o parágrafo 3º do artigo 72 foi regulamentado pela Lei


nº 173, de 10 de setembro de 1893, que preleciona sobre “a organização
das associações que se fundarem para fins religiosos, morais, científicos,
políticos ou de simples recreio”, sendo que essas entidades deveriam
ser registradas perante o Registro de Hipotecas, até então o sistema de
registros mais difundido no país, em razão das operações imobiliárias
que ocorriam em todo o território nacional. Nesta linha, o registro
dessas entidades se utilizou de um sistema de registros que já era,
então, difundido pelo país, de modo que haveria uma maior abrangência

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da determinação e maior eficácia da lei na sua aplicação no cotidiano;
assim, os indivíduos que quisessem constituir entidades como essa
teriam tal possibilidade mesmo nos mais afastados rincões do país.

Foi nesse contexto que surgiu, no que hoje é o Rio de Janeiro, mas que
então se denominava Distrito Federal, o primeiro Ofício de Registro
facultativo de títulos, documentos e outros papéis, instituído pela Lei
nº 973, de 2 de janeiro de 1903.

Tal registro possuía regulamento que determinava este Ofício de


Registro Especial como sendo privativo, único e indivisível, que seria
exercido no Distrito Federal por um serventuário, em caráter vitalício, e
que esse teria a denominação de Oficial do Registro Especial, sendo sua
nomeação livre por parte do Presidente da República em sua primeira
investidura, mas que nas investiduras subsequentes seu provimento
seria por concurso, conforme disposição do art. 3º, do Decreto
nº 9.420/1885. Também determinava que nos Estados da federação,
enquanto não implementados pelos seus respectivos governos por meio
de legislação específica, tal a função era atribuída aos serventuários dos
Registros de Títulos e Documentos, conforme artigo 5º. Essa função que
era exercida na época pelos Oficiais do Registro Geral de Hipotecas.

No início da República brasileira, vigorou no âmbito jurídico o quanto


determinado nas Ordenações Filipinas e na legislação que vigorava no
Império, não tendo a legislação sofrido grandes alterações, isso até o
ano de 1916. Posteriormente, veio a Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de
1916, que trazia em seu texto o Código Civil, que passou a vigorar no
país a partir de primeiro de janeiro de 1917, introduzindo então no
Brasil legislação civilista que vigorou até o ano de 2002.

Da mesma forma como se deu recentemente, quando do início da


vigência do Código Civil de 1916 no país, promoveu-se também a
adequação do sistema de registros públicos até então existente no
país à nova realidade jurídica, o que se ocorre através do Decreto nº
12.343, de 3 de janeiro de 1917, que trouxe diretrizes para a instalação
provisória de registros públicos, conforme determinação do Código Civil,
que operaria então atos para conferência de autenticidade e validade.

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10
Mas o que se deve dar notoriedade é justamente que com a efetiva
vigência do Código Civil de 1916 é que houve a eficaz atribuição de
personalidade jurídica às entidades no país.

Ainda no mesmo ano de entrada de vigência do Código Civil no país


– 1917, o Distrito Federal promoveu a separação de seu Cartório de
Registro de Títulos, por força do artigo 40, parágrafo 4º, da Lei nº 3.232,
de 5 de janeiro de 1917, combinado com o artigo 13 da Lei nº 3.454,
de 6 de janeiro 1918, pela qual foi estabelecida distribuição obrigatória
de títulos entre os dois cartórios, que exigiu então a criação de um
distribuidor para operar tal atribuição de títulos e documentos.

Já no ano de 1923, por força da Lei de Imprensa então promulgada, Lei


nº 4.743, de 31 de outubro de 1923, também foi atribuída a função de
registro das matrículas de jornais aos Registros Civis de Pessoas Jurídicas.
Ainda houve a edição do Decreto Legislativo nº 4.827, de 7 de fevereiro de
1924, que reorganizou o sistema de registros públicos no país, o qual foi
seguido pelo Decreto nº 18.542, de 24 de dezembro de 1928.

Com a implementação do que se convencionou chamar de “Segunda


República”, pela Constituição Federal de 1934, quando então Getúlio
Vargas estava no poder, foi atribuída à União, por força da Constituição
Federal, a atribuição para legislar a respeito de registros públicos, com
competência supletiva dos Estados, pelo artigo 5º, inciso XIX, alínea “a”
e parágrafo 3º do referido diploma legal. Ainda se seguiram o Decreto
nº 4.857, de 09 de novembro de 1939; o Decreto nº 5.318, de 29 de
fevereiro de 1940; e Decreto nº 5.553, de 6 de maio de 1940.

A atual Lei dos Registros Públicos que regula tais serventias no país foi
sancionada em 31 de dezembro de 1973, entrou em vigor na data de
1º de janeiro de 1976 e, desde então, segue vigente, mesmo já tendo
passado por diversas alterações ao longo de sua história, as quais
mantiveram, contudo, a sua integridade no que toca à estrutura dos
registros públicos no país.

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Mesmo com a promulgação posterior, já no ano de 1988 da
Constituição Federal atual, a qual atribuiu o exercício das funções
de registros públicos e notas aos indivíduos, em regime privado, por
meio de seu art. 236, a sua integridade foi mantida; houve ainda, na
Constituição promulgada, expressa referência a direitos garantidos por
meio de atos que devem ser registrados em registro civil de pessoa
jurídica, no que se refere a associações e entidades similares, conforme
disposto no artigo 5º, incisos XVII, XVIII, XIX, XX e XXI.

O referido dispositivo constitucional foi regulamentando apenas no ano


de 1994, pela Lei nº 8935, de 18 de novembro de 1994, lei que trouxe
em seu texto disposições gerais sobre os serviços extrajudiciais. Já no
ano seguinte, com a edição da Lei nº 9.096/1995, o art. 114 da Lei de
Registros Públicos recebeu novo inciso, o número III, que discorre sobre
competências do Registro Civil de Pessoas Jurídicas, relacionadas agora
aos atos constitutivos de partidos políticos.

Posteriormente, no ano de 2002, como já dito anteriormente, o


Código Civil então editado trouxe novas alterações relacionadas aos
registros civis de pessoas jurídicas, em especial no que toca à estrutura,
organização e registro do que até então era conhecido como sociedade
civil, que hoje se dividem em associações e sociedades simples, sendo
que permaneceram inalteradas as fundações.

3. Da personalidade jurídica

A personalidade jurídica é regulada pelo Código Civil, em seu artigo 45,


relatando que começa com a “existência legal das pessoas jurídicas de
direito privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro,
precedida, quando necessário, de autorização ou aprovação do Poder
Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar
o ato constitutivo”.

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ASSIMILE
Não poderão ser registrados os atos constitutivos de
pessoas jurídicas, quando o seu objeto ou circunstâncias
relevantes indiquem destino ou atividades ilícitos ou
contrários, nocivos ou perigosos ao bem público, à
segurança do Estado e da coletividade, à ordem pública
ou social, à moral e aos bons costumes (artigo 115 da Lei
6015/73). O oficial do registro, de ofício ou por provocação
de qualquer autoridade, sobrestará no processo de registro
e suscitará dúvida para o Juiz, que a decidirá.

A partir desse momento, a pessoa jurídica efetivamente passa a ser


detentora de direitos e deveres perante a sociedade. Como existem
pessoas jurídicas que têm obrigatoriamente o seu registro feito
perante o registro civil de pessoas jurídicas, o exercício da função de
oficial nesses registros deve considerar também como paradigma os
princípios que regem a atividade registral, acima elencados, como o
da legalidade, continuidade, especialidade e outros já estudados no
módulo de Registro de Imóveis. Abaixo iremos deduzir alguns como
lembrança dessa agradável menção.

O princípio da segurança jurídica é primordial para qualquer serventia


extrajudicial.

A legalidade está inserida dentro da primazia do artigo 37 da CF, sendo


competência da autoridade verificar, antes de efetivar o registro esse
norte (artigo 1153, do Código Civil); tanto é dessa forma que há registros
de atos constitutivos e que suas alterações dependem da comprovação
do pedido de inscrição no respectivo órgão profissional, respeitando-
se o determinado pela Lei 6838/80. Assim, a fiscalização do exercício
profissional é de competência para os ADMINISTRADORES – pelo

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Conselho Regional de Administração de São Paulo; ARQUITETOS E
URBANISTAS = pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo;
BIBLIOTECÁRIOS = pelo Conselho Regional de Biblioteconomia; BIÓLOGOS
= pelo Conselho Regional de Biologia; CONTABILISTAS = pelo Conselho
Regional de Contabilidade; CORRETORES DE IMÓVEIS = pelo Conselho
Regional de Corretores de Imóveis; ECONOMISTAS = pelo Conselho
Regional de Economia; ENGENHEIROS e AGRÔNOMOS = pelo Conselho
Regional de Engenharia e Agronomia; MÉDICOS = pelo Conselho Regional
de Medicina; ODONTÓLOGOS = pelo Conselho Regional de Odontologia,
entre outros. Em relação aos corretores de seguros e à sociedade
corretora de seguros, cabe à Superintendência de Seguros Privados –
SUSEP conceder a autorização para o exercício da profissão, na forma do
registro, e expedir a competente carteira ou título de habilitação para o
corretor ou corretora de seguros, respectivamente atendidos os requisitos
formais e legais (CIRCULAR SUSEP N° 127, de 13 de abril de 2000).

O princípio da fé pública atribui certeza e veracidade ao ato registral.


Enquanto o princípio da publicidade obriga o registrador a lavrar
certidões que lhes for requerido e a fornecer informações solicitadas.
Pelo princípio da instância ou rogação, os atos de registros serão
praticados por ordem judicial a requerimento dos interessados ou
pelo Ministério Público, quando a lei autorizar. Já no princípio da
continuidade e da concentração, averba-se no registro todas as
alterações que influenciem o ato constitutivo.

Pelo princípio da personificação, a existência legal das pessoas jurídicas


começa com o registro/inscrição de seu ato constitutivo. O registro é
eficaz se efetivado em até trinta dias da assinatura, a partir da data do
instrumento; será eficaz a partir do registro, se realizado após trinta dias
da assinatura do instrumento (artigo 1151, CC).

O registro da pessoa jurídica, quando não empresária (que desloca


a competência para as Juntas Comerciais no que se refere ao seu
registro), será feito perante as serventias de registro de títulos e
documentos, conforme determina o artigo 2º, inciso II, da Lei de
Registros Públicos e artigo 1150 do CC.

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PARA SABER MAIS
Sociedade Simples: Exercício de profissão intelectual,
de natureza científica, literária ou artística, ainda com
o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o
exercício da profissão constituir elemento de empresa
(art. 966, p. único, CC).
Sociedade Empresária: Exercício profissional de atividade
econômica profissional organizada para a produção e
circulação de bens e serviços (art. 966, CC). Perfis subjetivo,
objetivo, funcional e corporativo.
art. 1.150, CC: O empresário e a sociedade empresária
vinculam-se ao Registro Público de Empresas Mercantis a
cargo das Juntas Comerciais, e a sociedade simples ao
Registro Civil das Pessoas Jurídicas, o qual deverá obedecer
às normas fixadas para aquele registro, se a sociedade
simples adotar um dos tipos de sociedade empresária.

Toda sociedade por ações é considerada empresária e seu registro é


na Junta Comercial (artigo 982, parágrafo único do CC). Apesar de ser
considerada uma sociedade simples, as cooperativas também têm
seu registro efetuado na Junta Comercial (artigo 18 da Lei 5764/1971).
A sociedade de advogados, bem como a atividade esporádica
ou complementar de advocacia, tem seus registros e alterações
efetuados no Conselho Seccional da OAB, nos termos dos artigos 15,
§1º e 16, §3º da Lei 8906/1994.

Com relação à distribuição dos títulos, para sedes sociais com mais de
uma serventia na comarca, há posicionamento estadual para a livre
escolha, ou através de compensação através de distribuição, assim
como ocorre com os documentos levados à protesto.

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Assim que realizado o registro do ato submetido à serventia, surge
a pessoa jurídica dotada de personalidade perante o ordenamento
nacional, de modo que já é possível atribuição de direitos e obrigações
no âmbito jurídico.

Essas entidades podem ser tanto constituídas pela reunião de pessoas


quanto pela reunião de bens (patrimônio), com o fim específico de
realização de uma determinada ação ou atividade. As primeiras
correspondem a sociedades, associações, organizações religiosas e
partidos políticos; já as segundas podem ser definidas como fundações.

As sociedades são constituídas no registro civil de pessoas jurídicas


por meio de contrato social; as associações e entidades que seguem a
sua forma jurídica, como as organizações religiosas, partidos políticos e
sindicatos, são constituídas por uma ata de assembleia de constituição
da associação, somada ao estatuto social aprovado em assembleia.
Já as fundações são constituídas por testamento ou escritura pública.
As entidades públicas, como as fundações públicas são criadas por lei,
sem necessidade de registro.

Repisa-se que o Código Civil determina que o ato constitutivo de pessoa


jurídica deva ser levado a registro nos trinta dias seguintes à sua
constituição (assinatura/data do ato constitutivo) (art. 998). A competência
para o registro é determinada pelo domicílio da sede da entidade,
sendo que, no caso de abertura de filiais ou sucursais, também deverá
ser feito o registro no município de sua localização (art. 998 e 1.000),
comprovando-se a existência da sede e de seu ato constitutivo, além da
autorização para a criação da filial ou sucursal naquela localidade.

A ausência de registro implica em consequências, dentre elas,


a aplicação do regime jurídico da sociedade em comum, com
responsabilidade solidária e ilimitada dos sócios pelas obrigações
sociais; eficácia do ato somente entre as partes, não se submetendo
a terceiros (artigo 1154, CC); restrição ao início da atividade para a
sociedade estrangeira autorizada (artigo 1136, CC).

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Os atos constitutivos de pessoas jurídicas, em princípio, não necessitam
de solenidades, sendo, na maioria das vezes, constituídos por instrumento
particular. Entretanto, também podem ser constituídos por escrituras
públicas ou testamentos, ou ainda por títulos judiciais, como sentenças,
que ainda assim se submetem à qualificação registral, devendo atender
aos requisitos elencados em lei para que sejam registrados.

Entre as pessoas jurídicas elencadas nos artigos 40 a 44 do Código


Civil, algumas delas são passíveis de registro perante o registro civil de
pessoas jurídicas. É interessante notar que a Igreja Católica, em especial,
é pessoa jurídica de direito público externo, pois se encontra vinculada à
Santa Sé, e é regida pelas regras de direito canônico.

As pessoas jurídicas de direito privado, definidas no art. 44, do CC, são


as sociedades, as associações, as fundações, as organizações religiosas,
os partidos políticos e as empresas individuais de responsabilidade
limitada. Os partidos políticos são regidos pela Lei nº 9.096/95,
sendo registrados perante o RCPJ da Capital Federal, e as empresas
individuais de responsabilidade limitada, também conhecidas como
EIRELI, foram criadas pela Lei nº 12.441/2011, as quais possuem
características específicas na Instrução Normativa da Diretoria do
Departamento de Registro Empresarial e Integração – DREI (no
endereço eletrônico http://drei.smpe.gov.br).

As organizações religiosas e os partidos políticos também foram inseridos


no rol deste artigo em momento posterior, por meio da Lei nº 10.825/03.

Ainda vale ressaltar que a legislação não explica de forma clara a


diferença entre organização religiosa e associação religiosa, sendo
pacífico apenas que a primeira não se submete às normas que
regulam as associações, art. 53 a 61, mas sim às regras do art. 46; as
associações, por sua vez, devem seguir as regras que expressamente
regulam sua existência. Assim, cumpre-nos seguir no estudo e indicar
que a organização religiosa visa ao culto e à liturgia; enquanto que a
associação religiosa, além do culto e liturgia, preocupa-se com obras
sociais, educação, comércio de produtos religiosos, entre outros.

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4. Atribuições e livros do RCPJ

As atribuições do RCPJ estão previstas no artigo 114 da Lei de


Registros Públicos.

A primeira consiste no registro de atos constitutivos de sociedades


simples, associações, organizações religiosas, partidos políticos e
empresas individuais de responsabilidade limitada, com aptidão de
elemento social simples; como já afirmado, os partidos políticos devem,
primeiramente, ser registrados perante o RCPJ de Brasília. A segunda
diz respeito à matrícula de jornais, revistas e outros periódicos, de
oficinas impressoras, empresas jornalísticas e de radiodifusão. Por
consequência, as averbações das alterações dos atos constitutivos
e das matrículas nele registrados; registro e autenticação de livros
(contábeis ou não); emissão de certidões dos atos nele arquivados.

O RCPJ possui os seguintes livros: a. Livro de Protocolo, onde são


feitas as prenotações dos documentos apresentados para registro ou
averbação; b. Livro A, em que são registrados os atos constitutivos das
pessoas jurídicas, bem como as averbações de suas alterações, com
300 folhas; c. Livro B, em que são matriculados os jornais, as revistas
e outros periódicos, as oficinas impressoras (pertencentes a pessoas
naturais ou jurídicas), as empresas jornalísticas e de radiodifusão, bem
assim as averbações de suas modificações, com 150 folhas.

Como acontece no registro de imóveis, a prenotação dos títulos


garante a prioridade, o que é importante principalmente com relação
a títulos que possuem direitos contraditórios, valendo pelo prazo,
em regra, de 30 dias, prorrogáveis, no RCPJ apenas no caso do
procedimento administrativo de dúvida. A prenotação somente não
se fará quando o título for recebido apenas para exame e cálculo
(art. 12, parágrafo único, LRP).

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5. Conclusão

Com a análise do texto, o aluno enalteceu seu conhecimento pelo


Registro Civil das Pessoas Jurídicas, revendo a análise da história desta
serventia, bem como relembrou princípios básicos da atividade registral.
Ademais, alicerçou a personalidade jurídica e o que a serventia realiza de
atos em seu curso natural.

TEORIA EM PRÁTICA
Reflita sobre a seguinte situação: uma atividade registrada
na serventia de Registro Civil das Pessoas Jurídicas é
considerada pela lei como ilícita. De acordo com os
estudos e com a legislação, como ficariam seus contratos
firmados? E a continuidade de sua atividade? E o registro
efetuado? Há algum procedimento que o Registrador pode
adotar sobre esse aspecto?

VERIFICAÇÃO DE LEITURA

1. Analise as frases abaixo e assinale a alternativa correta:

I. A cooperativa é considerada como sociedade simples.

II. As sociedades anônimas são consideradas sempre


sociedades empresárias.

III. Na comarca que não possua Junta Comercial, os


registros das sociedades empresárias podem ser
efetuados no Registro de Títulos e Documentos.

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a. Todas são falsas.

b. Somente II é verdadeira.

c. Somente I é falsa.

d. Somente III é falsa.

e. Todas são verdadeiras.

2. As Juntas Comerciais registram as seguintes


empresas, exceto:

a. Sociedade Anônima.

b. Sociedade cooperativa.

c. Sociedade Limitada.

d. Comandita por ações.

e. Sociedade Simples.

3. São encontradas em Registro Civil das Pessoas


Jurídicas, exceto:

a. Associação de moradores.

b. Igrejas Evangélicas.

c. Sociedades de advogados.

d. Sociedades de engenheiros.

e. Fundações.

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Referências bibliográficas
BULGARELLI, Waldírio. Questões de Direito Societário. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 1983.
CALÇAS, Manoel de Queiroz Pereira. Sociedade Limitada no Novo Código Civil.
São Paulo: Atlas S/A, 2003.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. São Paulo: Saraiva, Vol. 2, 2018.
. A Sociedade Limitada no Novo Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2003.
. Manual de Direito Comercial. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
FERREIRA, Waldemar Martins. Tratado de Sociedades Mercantis. Vol. 1. São Paulo:
Livraria Freitas Bastos S/A, 1952.
FRANCO, Vera Helena de Mello. O triste fim das sociedades limitadas no novo
Código Civil. Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro,
São Paulo, v. 40, n. 123, p. 81-85, jul./set., 2001.
KÜMPEL, Vitor Frederico et. al. Tratado Notarial e Registral. Vol. IV. São Paulo: YK
Editora, 2017.
MIRANDA, F. C. Pontes. z. 4. ed. São Paulo: RT, 1974.
NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa. Vol.1. São Paulo:
Saraiva, 2016.

Gabarito

Questão 1 – Resposta: D
As sociedades empresárias estão vinculadas ao Registro Público de
Empresas Mercantis a cargo das Juntas Comerciais (artigo 1150, CC).

Questão 2 – Resposta: E
As sociedades simples são registradas em RCPJ.

Questão 3 – Resposta: C
As sociedades de advogados estão afetas ao registro junto ao
órgão seccional da OAB.

 21
Registro Civil das Pessoas
Jurídicas II
Autor: Adriano César da Silva Álvares

Objetivos

• Direcionar o estudo para a diferenciação para o


registro das empresas;

• Pontuar o procedimento no registro civil de


pessoas jurídicas;

• Relatar a relevância das associações, fundações e


demais atividades registrais.

22
22
1. Direito Empresarial e o registro das sociedades

O contexto primordial para uma compreensão do destaque de


uma rotina do que é direito empresarial e sua operabilidade são
de fundamental importância para a disciplina do Registro Civil das
Pessoas Jurídicas (RCPJ).

O direito empresarial tem como gênese a própria atividade comercial, de


modo que a atividade acabou criando regras próprias condizentes com
a realidade e a praticidade do comércio. Dinamismo e agilidade aptos a
suprir necessidades com a criação de novas regras e institutos diversos.
Todo o início deu-se na Idade Média, no momento em que o comércio
mundial se intensifica em razão do declínio do sistema feudal.

Dessa engenharia legal, dos então comerciantes, surgiram as bases do


direito comercial atual, como as estruturas das sociedades, os títulos
representativos de crédito, os seguros e as companhias seguradoras,
conceitos básicos de direito bancário, entre outros.

Em momento posterior, já com o Estado estruturado, teve início a


positivação desse novo sistema de direitos pelos governos, então,
existentes. Assim, ao lado da legislação civil foi estruturada codificação
de âmbito comercial para a regulação das atividades do comércio
da época. Ressalte-se que, além do comerciante típico da época – o
mercador –, a legislação também se aplicava a outras classes que não
tinham suas necessidades satisfeitas pela legislação civil, como a classe
industrial, os bancos, transportes, seguradores, etc.

Assim, nota-se que as diferenças entre o direito civil e o comercial


surgiram por questões práticas, e não como fruto da criatividade do
ser humano. Em momento posterior da história, contudo, houve a
comercialização do Direito Civil, aproximando-se os dois ramos do
direito privado novamente. Nesse sentido, seguindo a linha do Código
Civil italiano, o Código Civil brasileiro de 2002 adotou tal tendência e
revogou o Código Comercial anterior, com exceção ao direito marítimo.

 23
2. O conceito de empresa e o registro de sociedades

Nesse diapasão, o próprio conceito de comerciante, com base na teoria


dos atos de comércio, deixou oficialmente de existir, sendo substituída
pelo conceito de empresário, com base na atividade empresarial.
Também no Código Civil houve a implementação de distinções entre
o empresário e o não empresário, e a regulamentação de sociedades
simples e sociedades empresárias, mas ainda em muitos aspectos,
o arcabouço normativo que se aplica a ambos é o mesmo, ou muito
similar, como no caso das obrigações, contratos e prazos de prescrição.

Primordialmente, cumpre-nos efetivar as duas principais diferenças


entre os institutos que seriam as seguintes: a) empresários e sociedades
empresárias são registrados no Registro Público de Empresas
Mercantis, as Juntas Comerciais, enquanto que as sociedades simples
são registradas no Registro Civil das Pessoas Jurídicas; b) em processos
de execução coletiva, os empresários e sociedades empresárias
estão sujeitos à lei de falência e recuperação judicial, enquanto os
não empresários e sociedades simples se submetem ao processo de
insolvência civil. Tanto o processo de falência quanto a insolvência civil
são processos com o mesmo fim, ou seja, o de promover execução
coletiva contra devedor insolvente.

No Código Civil foi determinada uma nova classificação para as


sociedades, sendo elas empresárias ou simples, possuindo ou não
como objeto o exercício de uma atividade própria de empresário
sujeito a registro (artigo 982). Sendo empresário aquele que exerce
profissionalmente uma atividade econômica organizada para a
produção ou circulação de bens ou de serviços. Já o não empresário
é aquele que, por exclusão, não se encaixa nesse conceito. Portanto,
aquele que possui atividade econômica organizada será empresário; não
presente tal critério, é profissional autônomo ou sociedade simples.

24
24
Um dos fatores que caracteriza a sociedade como simples é o fato de
que esta desenvolve a sua atividade principal de forma predominante
a partir da mão de obra dos próprios sócios que compõem o quadro
societário. Tanto está diretamente ligado à natureza estrutural e
funcional das sociedades, e relacionado com a atividade por ela
desenvolvida, tenha ela ou não o elemento da organização. A partir
dessa classificação, atribui-se um regime jurídico para a entidade, o que
impacta diretamente no seu registro, eventual processo de execução
coletiva e escrituração contábil.

A atividade empresarial se caracteriza quando a coordenação do


trabalho e de bens materiais supera o trabalho pessoal dos sócios;
estes têm atuação prevalecente na coordenação e supervisão
da atividade, porém sem os próprios sócios, ou ainda que,
predominantemente, realizam as atividades relacionadas ao objeto
social da empresa, esta será uma sociedade simples. Nesta linha,
relata o artigo 966, parágrafo único:
Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de
natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de
auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir
elemento de empresa.

3. Os tipos de sociedades

Conforme classificação das formas ou tipos de sociedade, estas podem


ser simples, em nome coletivo, em comandita simples, limitadas,
anônimas e em comandita por ações, conforme determina o Código
Civil. Assim, além da classificação de natureza da sociedade, temos
também a agora apresentada, de forma ou tipo.

A sociedade simples lato sensu, no que se refere à sua natureza, pode


ter forma de sociedade simples (tipo da sociedade) ou ainda uma das
outras formas societárias acima citadas, com exceção às formas de

 25
sociedades de capital (sociedades anônimas e sociedades em comandita
por ações), por estas serem sempre empresárias (art. 982, par. único).
Já as empresárias (registradas perante a Junta Comercial) podem adotar
qualquer tipo societário previsto no Código Civil, com exceção da
sociedade simples (art. 983), ou ainda da sociedade cooperativa, que é
sempre simples por força da lei (art. 982, par. único).

PARA SABER MAIS


Lembramos que a Empresa Individual de Responsabilidade
Limitada (EIRELI) não é considerada sociedade, uma vez
que é constituída por uma única pessoa, podendo ser de
natureza simples ou empresária, podendo ser registrada,
dependendo da sua natureza, tanto no Registro Civil das
Pessoas Jurídicas, quanto nas Juntas Comerciais.
E que por força da Instrução Normativa nº 47/2018 do
Departamento de Registro Empresarial e Integração
(DREI), foi permitido que: “A Empresa Individual de
Responsabilidade Limitada - EIRELI poderá ser constituída
tanto por pessoa natural quanto por pessoa jurídica,
nacional ou estrangeira”. Quando o titular da EIRELI for
pessoa natural deverá constar do corpo do ato constitutivo
cláusula com a declaração de que o seu constituinte não
figura em nenhuma outra empresa dessa modalidade. A
pessoa jurídica pode figurar em mais de uma EIRELI.

4. Atividade intelectual

Conforme relatado, há significativa importância na descrição da


atividade, uma vez que preleciona o parágrafo único do artigo 966 do
Código Civil, que não se considera empresário quem tem profissão

26
26
intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o
auxílio de outras pessoas ou colaboradores, exceção feita se o exercício
da profissão constituir elemento de empresa, como ocorre em
hospitais, geridos por médicos.

Reforça assim a tradição de ser o trabalho intelectual de natureza


diversa da atividade de empresa. O trabalho intelectual está diretamente
ligado ao espírito, à competência intelectual e à produtiva do indivíduo, e
por isso sempre será considerado objeto de sociedade simples.

O trabalho intelectual tem, conforme a definição legal, relação com sua


natureza, qual seja científica, literária ou artística. Então, as sociedades
que realizam atividade intelectual são sociedades simples, possuindo ou
não estrutura organizada.

Contudo, é de se considerar que a atividade empresarial também


envolve trabalho intelectual, mas esse como componente de empresa, e
não elemento principal; ou seja, constitui-se como parte do trabalho ou
produto disponibilizado pela empresa ao mercado.

5. O sistema de registro

Os sistemas de registros de empresas já existiam anteriormente à


promulgação do Código Civil. Assim, com base nesse sistema foram
estabelecidas as normas contidas no Código Civil que passaram então
a viger a partir de 2003 de acordo com o novo código. Desta forma,
o Registro Público de Empresas Mercantis – as Juntas Comerciais, e o
Registro Civil das Pessoas Jurídicas (serventias extrajudiciais) passaram a
registrar, os empresários individuais e sociedades empresárias (Juntas), e
as sociedades simples (serventias extrajudiciais, vide artigo 1.150 do CC).

Com base nos conceitos já expostos, a sociedade, para ser empresária,


necessita possuir dois elementos (art. 982): a) Exercício de atividade
própria de empresário (atividade econômica organizada para
circulação de bens ou serviços); b) Não estar incluída nas exceções
contidas na lei (como trabalho intelectual).

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Verifica-se, então, que o enquadramento como sociedade simples é
subsidiário e se dá por exclusão: se a sociedade não é empresária,
é sociedade simples. As exceções prevalecem: as sociedades por
ações são sempre empresárias, pois se presume que a utilização de
uma estrutura complexa, como são as das S/As, tem como finalidade
negócios complexos.

As sociedades simples stricto sensu são sempre sociedades simples e


não podem desenvolver atividades típicas de empresa, a não ser quando
forem verificadas as situações das exceções legais, quando da atividade
resultar elemento de empresa (artigo 966, parágrafo único).

Ainda também cabe lembrar que as sociedades em nome coletivo,


em comandita simples e limitadas, podem ser tanto simples quanto
empresárias, uma vez que determinam a forma da sociedade, sendo
que o que determinará ser o seu registro em junta comercial ou em
serventia será a sua natureza.

Quando a sociedade não é registrada nem perante a junta comercial


tampouco perante o cartório extrajudicial, essa sociedade é considerada
irregular (art. 986), sendo essa caracterizada pela sua falta de registro.
Contudo, quando há registro impróprio com o objetivo de fraude
à legislação, e sua inadequação é manifesta, esse registro pode ser
desconstituído ou ter os seus efeitos afastados por decisão judicial.

Há situações em que não é claro o objeto da sociedade, podendo


eventualmente esse ser classificado como empresário ou não. Assim,
uma vez que se verifique a sua inadequação, deve ser levada a registro
a sociedade no órgão apropriado, sendo, portanto, efetuado o registro
na entidade correta e consequente baixa perante a outra entidade, com
eventual ajuste do tipo societário.

Nesta linha, a sociedade que tem como atividade principal a intelectual


é simples por exclusão legal, com exceção dos casos em que o trabalho
intelectual for apenas um elemento do objeto da empresa, como um
hospital maternidade.

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6. A qualificação no RCPJ

A qualificação do título submetido a registro perante o RCPJ deve


obedecer aos ditames contidos no Código Civil. Primeiramente, a
qualificação deverá considerar o exposto no que se refere à natureza da
atividade exercida pela sociedade, que a qualificará como empresária ou
não empresária. Se a atividade da sociedade for empresária, não poderá
ser registrada a sociedade perante o registro civil de pessoas jurídicas,
devendo o título ser devolvido após a sua qualificação, com a devida
nota explicativa de sua devolução. Contudo, não pode o oficial se negar
a receber o título, uma vez que a qualificação em si faz parte do serviço
registral a que tem direito o usuário, bem como a devida qualificação
do título é que dará subsídios para que a atividade da sociedade seja
definitivamente classificada como sendo empresarial ou não.

Uma vez verificada tal situação, passa-se ao momento posterior da


qualificação, que diz respeito aos elementos que seguirão a forma da
sociedade, e que deverão seguir o disposto na legislação civil.

No caso de sociedades simples, o contrato social submetido a registro


deverá conter (art. 997 e seguintes do CC):
I. Nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos
sócios, se pessoas naturais, e a firma ou a denominação,
nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas;
II. Denominação, objeto, sede e prazo da sociedade;
III. Capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo
compreender qualquer espécie de bens, suscetíveis de
avaliação pecuniária;
IV. A quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;
V. As prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista
em serviços;
VI. As pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade,
e seus poderes e atribuições;

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VII. A participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;
VIII. Se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas
obrigações sociais.

Todos esses elementos indicados deverão estar contidos, de forma


clara e objetiva, nas cláusulas que compõem o contrato social da
sociedade. A verificação da adequação do conteúdo das cláusulas
contidas no contrato social submetido a registro será verificado pelo
oficial ou seu escrevente, que, na falta de algum elemento, deverá
fazer nota devolutiva em que explicita o elemento faltante no contrato,
de modo que torne possível ao usuário a sua correção para posterior
protocolo e nova qualificação registrária.

ASSIMILE
Os atos constitutivos, contratos sociais e estatutos, das
sociedades simples, associações, organizações religiosas,
fundações de direito privado, empresas individuais
de responsabilidade limitada, só serão admitidos a
registro e arquivamento quando visados por advogado,
devidamente identificado com nome e número de
inscrição na OAB. PENA: Nulidade (art. 1°, §2°, EOAB).
EXCEÇÃO: Sociedade simples enquadrada como ME ou EPP
(art. 9°, §2°, LC 123/2006).

Ainda se sujeita o registro da sociedade simples às seguintes regras


contidas no Código Civil, que nos trinta dias subsequentes à sua
constituição, a sociedade deverá requerer a inscrição do contrato social
no Registro Civil das Pessoas Jurídicas do local de sua sede. Nesse caso
específico, passado o período de trinta dias contados da constituição
da sociedade (a data que consta ao final do contrato social assinado)

30
30
para submissão do contrato ao registro civil de pessoas jurídicas, será
considerado como data do registro do referido contrato, e data de
constituição da sociedade, para todos os efeitos, não a data constante no
contrato social, mas a data de seu efetivo registro. Ou seja: se submetido
a registro em até trinta dias, será considerada a data de constituição
como a data constante no contrato social; passados mais de 30 dias, será
considerada a data de seu efetivo registro como data de constituição.

Nesta linha, as modificações do contrato social que tenham por objeto


matéria indicada no art. 997, dependem do consentimento de todos os
sócios; as demais podem ser decididas por maioria absoluta de votos, se
o contrato não determinar a necessidade de deliberação unânime. Assim,
qualquer modificação do contrato social será averbada no ato instituidor.

A instituição de sucursal, filial ou agência na circunscrição de


outro Registro Civil das Pessoas Jurídicas, neste deverá também
inscrevê-la, com a prova da inscrição originária. Em qualquer caso,
a constituição da sucursal, filial ou agência deverá ser averbada no
Registro Civil da respectiva sede, como forma de se verificar a cadeia e
publicidade de atos.

PARA SABER MAIS


Houve a determinação pelo CNJ da criação de Centrais
Compartilhadas de Registro de Títulos e Documentos e
Civil de Pessoa Jurídica.
Há dois provimentos nesse sentido, o Provimento
nº 48/2016 e 59/2017. Nesses provimentos se
estabeleceram diretrizes para o funcionamento da
Central de Serviços Compartilhados do Registro e Títulos
e Documentos e Civil das Pessoas Jurídicas, face à
necessidade de facilitar o intercâmbio de informações entre
as serventias, o Poder Público e os usuários em geral.

 31
Disponível em: http://cnj.jus.br/images/atos_normativos/
provimento/provimento_48_16032016_16032018112202.
pdf. Acesso em: 30 de jul. 2019.
http://www.cnj.jus.br/files/atos_administrativos/provimento-
n59-03-05-2017-corregedoria.pdf. Acesso em: 30 de jul. 2019.

Desse modo, verifica-se que a sociedade simples segue regime específico


para alterações de seu contrato social ou criação de filiais e sucursais.
É importante ter isso em conta, já que, como já exposto, ser possível
a criação e registro de sociedades perante o registro civil de pessoas
jurídicas que possuam outras formas societárias, e, como veremos a
seguir, essas outras formas de sociedade seguem regimes diversos, cada
um com sua peculiaridade, sendo que todas essas características são
reguladas pela legislação específica, o Código Civil nacional.

7. As associações no RCPJ

Associações são entidades que também são reguladas pelo Código


Civil e têm como principais características serem resultado da união de
duas ou mais pessoas, físicas ou jurídicas, que têm como objetivo fins
específicos contemplados em lei, sempre sem fins econômicos.

As associações, que são constituídas por meio de um estatuto social,


são registradas no registro civil de pessoas jurídicas.

São entidades de direito privado dotadas de personalidade jurídica


própria, adquirida através do devido registro perante o registro civil de
pessoas jurídicas.

Outra característica é a de seus associados não responderem, seja


solidariamente ou subsidiariamente, pelas obrigações da associação,
pouco importando sejam elas civis, criminais ou tributárias, tampouco
pelas obrigações da associação.

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32
Seguem o formato de associações (artigo 44, §2º do CC) as entidades
representativas de categorias, instituições religiosas e associações com
objetivos sociais e beneméritos.

A constituição de uma associação se dá por meio de seu registro perante


o RCPJ, como já dito, com a apresentação para registro de seu estatuto
social. Esse é elaborado por meio de uma assembleia geral de constituição
da associação, em que o estatuto é discutido e redigido. Ainda deve
obedecer ao estatuto a outros elementos elencados no Código Civil.

O estatuto das associações conterá, sob pena de nulidade (artigo 54


do Código Civil), o seguinte: I – a denominação, os fins e a sede da
associação; II – os requisitos para a admissão, demissão e exclusão
dos associados; IV – as fontes de recursos para sua manutenção; V – o
modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos;
VI – as condições para a alteração das disposições estatutárias e para
a dissolução; VII – a forma de gestão administrativa e de aprovação
das respectivas contas. Há a possibilidade de categorias especiais de
associados, com vantagens diferenciadas (artigo 55 do CC).

Por sua vez, a exclusão do associado só é admissível havendo justa


causa, assim reconhecida em procedimento que assegure direito de
defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto.

Por fim, dissolvida a associação, o remanescente do patrimônio


líquido, deduzido o que de direito1, será destinado à entidade de
fins não econômicos designada no estatuto ou, omisso este, por
deliberação dos associados à instituição municipal, estadual ou
federal, de fins idênticos ou semelhantes2.

1
Por cláusula do estatuto ou, no seu silêncio, por deliberação dos associados, podem estes, antes da destina-
ção do remanescente referida neste artigo, receber em restituição, atualizado o respectivo valor, as contribui-
ções que tiverem prestado ao patrimônio da associação.
2
Não existindo no Município, no Estado, no Distrito Federal ou no Território, em que a associação tiver sede,
instituição nas condições indicadas neste artigo, o que remanescer do seu patrimônio se devolverá à Fazenda
do Estado, do Distrito Federal ou da União.

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7.1. Entidades religiosas

As entidades religiosas são garantidas constitucionalmente quanto a sua


inviolabilidade de liberdade de crença; livre exercício de cultos religiosos;
proteção aos locais de culto e as suas liturgias.

Pergunta que se faz é: o que compreende a liberdade de crença? E a


resposta é singela, onde abrange a liberdade de escolha da religião,
de aderir a qualquer seita religiosa ou mesmo de mudar de religião,
como também de não aderir à religião alguma, de ser descrente ou
ainda de ser ateu.

Porém, não compreende a liberdade de embaraçar ao livre exercício de


qualquer religião.

Nesta via, como preceitua o artigo 44, §1° do Código Civil:


São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o
funcionamento das organizações religiosas, sendo vedado ao poder
público negar-lhes reconhecimento ou registro dos atos constitutivos e
necessários ao seu funcionamento.

Frise-se que não é possível um poder absoluto ao dirigente da


organização religiosa, nem deve ser impedida a alteração do estatuto,
tampouco impedida a destituição do líder espiritual de acordo com
o estatuto, bem como os membros não podem ser impedidos de
controlar os atos sociais. Essas diretivas foram firmadas no Processo
CGJ/SP nº 1026801-24.2017.8.26.0071, as quais são pactuadas por
muitas corregedorias estaduais e fazem todo sentido na manutenção
de um consenso da organização religiosa.

A organização religiosa se diferencia da associação religiosa,


especialmente em relação ao contexto de seus documentos e assertiva
registrária. Na organização religiosa teremos basicamente o culto e a
liturgia espelhadas para a atividade religiosa. Já na associação religiosa,
teremos além do culto e da liturgia, desígnios outros, como, por
exemplo, educação, obras sociais, comércio de produtos, entre outros.

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34
8. Fundação
Há possibilidade de instituição de fundações privadas e públicas. As
públicas são criadas por lei específica, cabendo a lei complementar
delimitar as áreas de sua atuação (artigo 37, XIX, da Constituição Federal).

Como característica da fundação civil, temos que sua criação resulta da


afetação de um patrimônio, por testamento ou escritura pública, que faz
o seu instituidor, especificando o fim para o qual se destina.

Desse modo, a fundação poderá constituir-se para fins de: a) assistência


social; b) cultura, defesa e conservação do patrimônio histórico e
artístico; c) educação; d) saúde; e) segurança alimentar e nutricional;
f) defesa, preservação e conservação do meio ambiente e promoção do
desenvolvimento sustentável; g) pesquisa científica, desenvolvimento
de tecnologias alternativas, modernização de sistemas de gestão,
produção e divulgação de informações e conhecimentos técnicos e
científicos; h) promoção da ética, da cidadania, da democracia e dos
direitos humanos; i) atividades religiosas.

É necessária a autorização do Ministério Público (artigo 65 do CC)


para registros e averbações das alterações do estatuto. Há exceção
às fundações de cunho previdenciária, nos termos do artigo 72 da
Lei Complementar nº 109/2001, cuja autorização depende do órgão
vinculado ao Ministério da Previdência Social.

Para as alterações dos estatutos, tem o Ministério Público (Estadual ou


do Distrito Federal e Territórios) o prazo de 45 dias para a análise. Caso
findo o prazo ou da sua negativa, tem o interessado recurso para o juiz
corregedor competente para suprir tal aprovação.

Por fim, dita o Código Civil que:


[...] tornando-se ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que visa a
fundação, ou vencido o prazo de sua existência, o órgão do Ministério
Público, ou qualquer interessado, lhe promoverá a extinção, incorporando-
se o seu patrimônio, salvo disposição em contrário no ato constitutivo, ou
no estatuto, em outra fundação, designada pelo juiz, que se proponha a
fim igual ou semelhante.

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9. Partidos políticos

Os partidos políticos são dotados de legislação específica, qual seja, a


Lei 9.096/1995, que determina em seu artigo 8º que os documentos
lá constantes sejam dirigidos ao Cartório de Registro Civil das Pessoas
Jurídicas da Capital Federal.

Ato contínuo à aquisição da personalidade jurídica, nos termos do


parágrafo 3ª do artigo 8º, será pleiteado o registro no Tribunal Superior
Eleitoral, com a documentação afeta ao artigo 9º.

As alterações programáticas ou estatutárias, após registradas no Ofício


Civil competente, devem ser encaminhadas, para o mesmo fim, ao
Tribunal Superior Eleitoral.

10. Atos no RCPJ

Todas as alterações supervenientes nos registros e matrículas são


dirimidas da seguinte forma: a) PRIMEIRO ATO: REGISTRO; b) ATOS
POSTERIORES: AVERBAÇÃO.

Os atos de averbação são efetuados no registro do ato constitutivo.

Como exemplos de algumas averbações possíveis, podemos citar:


a) Em associações: alteração de estatuto, nova diretoria, exclusão de
associado, entre outros; b) Em sociedades: cessão de quotas, alteração
de contrato social, aumento ou redução de capital social, entre outros.

A chamada “baixa” da sociedade dar-se-á em duas averbações, sendo a


primeira a autorização da dissolução3 e a segunda pelo cancelamento
do registro4.

3
CC, art. 51, § 1º: Far-se-á, no registro onde a pessoa jurídica estiver inscrita, a averbação de sua dissolução.
4
CC, art. 51, § 3º: Encerrada a liquidação, promover-se-á o cancelamento da inscrição da pessoa jurídica.

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36
11. Escrituração contábil

É cristalino que ao empresário e a sociedade empresária são


obrigatórios o sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com
base na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência
com a documentação respectiva, e a levantar anualmente o balanço
patrimonial e o de resultado econômico.

Há livros obrigatórios de serem escriturados. O comum é o diário ou


livro de balancetes diários e balanços (artigo 1.185, CC). E o especial de
registro de duplicatas, para as atividades que assim o determinem.

Há livros facultativos, para o melhor desenvolvimento da atividade,


como, por exemplo, o livro caixa, o de conta corrente, o de obrigações a
pagar e a receber, entre outros.

Os livros devem ser levados ao registro para autenticação. Esse ato


não precisa de requerimento, deve ser apresentado o livro “anterior”
para dar continuidade na escrituração. Há de se observar a sequência
numérica e o livro deve conter termo de encerramento.

12. Matrícula

Não se deve confundir o registro da “sociedade” com o pedido de


matrícula. Os dois atos são complementares.

O pedido de matrícula, dos jornais e demais publicações periódicas, das


oficinas impressoras de quaisquer naturezas, pertencentes a pessoas
naturais ou jurídicas, das empresas de radiodifusão que mantenham
serviços de notícias, reportagens, comentários, debates e entrevistas,
bem como das empresas que tenham por objeto o agenciamento de
notícias, prescindem de sua existência.

Os requisitos para o registro constam do artigo 123 da Lei 6015/73, in verbis:

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I. No caso de jornais ou outras publicações periódicas:
a. Título do jornal ou periódico, sede da redação, administração
e oficinas impressoras, esclarecendo, quanto a estas, se
são próprias ou de terceiros, e indicando, neste caso, os
respectivos proprietários;
b. Nome, idade, residência e prova da nacionalidade do diretor ou
redator-chefe;
c. Nome, idade, residência e prova da nacionalidade do proprietário;
d. Se propriedade de pessoa jurídica, exemplar do respectivo estatuto
ou contrato social e nome, idade, residência e prova de nacionalidade
dos diretores, gerentes e sócios da pessoa jurídica proprietária.

II. Nos casos de oficinas impressoras:


a. Nome, nacionalidade, idade e residência do gerente e do
proprietário, se pessoa natural;
b. Sede da administração, lugar, rua e número onde funcionam as
oficinas e denominação destas;
c. Exemplar do contrato ou estatuto social, se pertencentes a
pessoa jurídica.

III. No caso de empresas de radiodifusão:


a. Designação da emissora, sede de sua administração e local das
instalações do estúdio;
b. Nome, idade, residência e prova de nacionalidade do diretor ou
redator-chefe responsável pelos serviços de notícias, reportagens,
comentários, debates e entrevistas.

IV. No caso de empresas noticiosas:


a. Nome, nacionalidade, idade e residência do gerente e do
proprietário, se pessoa natural;
b. Sede da administração;
c. Exemplar do contrato ou estatuto social, se pessoa jurídica.

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38
A Carta Magna, em seu artigo 222, impõe ser privativo de brasileiro
nato ou naturalizado há mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas
constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no País, a
propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de
sons e imagens. Assim, há de se analisar tal requisito no pedido de
matrícula de uma dessas atividades.

Ainda a Lei de Registros Públicos colaciona, em seu artigo 125, que


se considera clandestino o jornal, ou outra publicação periódica, não
matriculado ou cuja matrícula não constem os nomes e as qualificações
do diretor ou redator e do proprietário de tal jornal ou publicação.

Verificando o oficial que os requerimentos de averbação se acham fora


de prazo, ou que os pedidos de matrícula se referem a publicações
já em circulação, representará ao Juiz Corregedor Permanente para
considerar sobre a aplicação da multa estatuída no artigo 124 da Lei
de Registros Públicos.

13. Conclusão

Nesta etapa, o estudante pode verificar detidamente os atos que são


registrados, averbados e matriculados no Registro Civil das Pessoas
Jurídicas, bem como uma visão das dificuldades desse ofício especial.

TEORIA EM PRÁTICA

Analise e reverbere a seguinte situação: Pode haver a


instituição de uma fundação pública de direito privado
por autorização legislativa? (vide Decreto-lei 200/1967). Há
peculiaridades para o estatuto e registro dessa fundação?
Se sim, descreva e indique em qual órgão será registrada?

 39
VERIFICAÇÃO DE LEITURA
1. Analise as frases abaixo e assinale a alternativa correta:
I. Os partidos políticos são dotados de legislação
específica, qual seja, a Lei 9.096/1995.
II. Empresários e sociedades empresárias são registrados
no Registro Público de Empresas Mercantis, as Juntas
Comerciais, enquanto que as sociedades simples são
registradas no Registro Civil das Pessoas Jurídicas.
III. Em processos de execução coletiva, os empresários,
as sociedades empresárias ou não empresárias, estão
sujeitos à lei de falência e recuperação judicial.

a. Todas são falsas.

b. Somente II é verdadeira.

c. Somente I é falsa.

d. Somente III é falsa.

e. Todas são verdadeiras.

2. Em Cartórios abrangidos pelo conceito de registros


públicos, admite-se o registro da:
a. Empresa simples e da ata condominial.

b. Propriedade artística e da ata condominial.

c. Patente e da sociedade por ações.

d. Propriedade artística e da patente.

e. Empresa simples e da sociedade por ações.

40
40
3. O registro e a autenticação dos livros das associações
civis são feitos:
a. Pelo Oficial de registro civil das pessoas naturais da
localidade da sede da entidade.

b. Por Tabelião de Notas de livre escolha da entidade.

c. Pela Junta Comercial do Estado.

d. Pelo Oficial do Registro Civil das Pessoas Jurídicas onde


os atos constitutivos da entidade estiverem registrados.

e. Por qualquer Oficial do Registro Civil das Pessoas


Jurídicas.

Referências bibliográficas
BULGARELLI, Waldírio. Questões de Direito Societário. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 1983.
CALÇAS, Manoel de Queiroz Pereira. Sociedade Limitada no Novo Código Civil.
São Paulo: Atlas S/A, 2003.
COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. Vol. 2. São Paulo: Saraiva, 2018.
. A Sociedade Limitada no Novo Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2003.
. Manual de Direito Comercial. 20. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
FERREIRA, Waldemar Martins. Tratado de Sociedades Mercantis. Vol. 1. São Paulo:
Livraria Freitas Bastos S/A, 1952.
FRANCO, Vera Helena de Mello. O triste fim das sociedades limitadas no novo
Código Civil. Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro,
São Paulo, v.40, n. 123, p. 81-85, jul./set., 2001.
KÜMPEL, Vitor Frederico et. al. Tratado Notarial e Registral. Vol. IV. São Paulo: YK
Editora, 2017.
MIRANDA, F. C. Pontes. z. 4. ed. São Paulo: RT, 1974.
NEGRÃO, Ricardo. Manual de Direito Comercial e de Empresa. Vol. 1. São Paulo:
Saraiva, 2016.

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Gabarito

Questão 1 – Resposta: D
De acordo com a Lei 11.101/2005, somente é aplicável a
legislação falimentar e de recuperação ao empresário e as
sociedades empresárias.
Questão 2 – Resposta: A
As sociedades simples são registradas em RCPJ e a ata condominial
é competência do Registro de Títulos e Documentos.
Questão 3 – Resposta: D
A competência é sempre do local dos atos constitutivos da
entidade no RCPJ.

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42
Registro de Títulos e
Documentos I
Autor: Adriano César da Silva Álvares

Objetivos

• Pontuar a natureza e a origem do registro de


títulos e documentos;

• Estudar a finalidade do Registro de Títulos e


Documentos;

• Analisar o escopo constitutivo, declaratório ou


meramente de publicidade, de acordo com a
natureza do título.

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1. Introdução

Entramos numa das especialidades mais pontuais do sistema registral,


já que ela aborda um regime residual de alta complexidade, que adiante
iremos analisar detidamente.

A ideia remonta as negociações antigas, que necessitavam ser, por


mecanismos mais eficazes, perpetrados ao longo do tempo. Nesta
esteira, passou-se a descrever as negociações em papel e, mais tarde, a
transferir a responsabilidade pelo registro e manutenção permanente
dos documentos para instituições que hoje são chamadas de “cartórios”.

A publicidade de certos atos que tenham efeitos jurídicos e que eram


relevantes frente a terceiros, para fins de atribuir-lhes resultados
perante a sociedade, é algo que vem desde as Ordenações Filipinas,
datadas de 1603. E que, juntamente com a legislação oriunda de
Portugal, prevaleceu como sistema jurídico no Brasil até o advento da
Proclamação da República.

A partir desse momento histórico, contando com os cursos de direito


já instalados no país – no Largo São Francisco e o Curso de Direito de
Olinda, o que já havia criado gerações de juristas – o Brasil passou a
elaborar suas próprias normas legais, de acordo com o que lhe convinha.

Logo no início da República, quando ainda a publicidade dos atos era


ínfima e gerava insegurança para a sociedade como um todo, houve
a edição da Lei Federal nº 79, de 23 de agosto de 1892, que dispunha
que o escrito particular, elaborado pelas partes de próprio punho e
por elas assinado, com a assinatura de duas testemunhas, teria poder
de vincular as partes. Porém, só poderia ser oposto contra terceiros a
partir do momento do reconhecimento de firma, de seu registro perante
o tabelionato, de sua apresentação perante a justiça ou entidades do
poder público, ou ainda, no caso de falecimento de uma das partes.

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Nesse processo, havia o risco de antedatar os documentos, em face
do sistema avulso de reconhecimento de firma e de registro. Por essa
razão, o Senador Martinho Garcez, buscando a solução do problema,
enviou para o Congresso o Projeto, mais tarde transformado na Lei
nº 973, de 3 de janeiro 1903, que criou o primeiro Ofício de Títulos e
Documentos no Brasil. Essa lei atribuiu a uma serventia específica,
instituído para essa função especificamente, na então capital federal,
o registro de títulos, documentos e outros papéis, com o objetivo de
assim garantir não só a autenticidade e conservação dos documentos
registrados, bem como dar fé às datas de instrumentos particulares
submetidos ao registro, frente à sociedade.

Sua regulamentação se deu por meio do Decreto nº 4.775, editado em


16 de fevereiro de 1903, e essa serventia então criada foi denominada
Ofício do Registro Especial, nomenclatura até hoje adotada em algumas
unidades da Federação.

No texto inicial do Decreto foi prevista a criação de somente um Ofício


de Títulos e Documentos em cada unidade da Federação, o que acabou
gerando discórdias com relação a esse formato implementado.

Pelo Decreto nº 4.775 foi estabelecido o procedimento de escrituração


de documentos submetidos a registros, averbações e cancelamentos,
indicador pessoal e livro protocolo, prevendo que a realização dos registros
seria realizada de forma contínua, e estabelecendo também que os
documentos não registrados não poderiam gerar efeitos perante terceiros,
conferindo prioridade aos títulos registrados conforme sua ordem.

Em momento posterior, o Código Civil de Bevilacqua, em seu artigo 135,


deu continuidade à evolução iniciada com a Lei nº 973, transformando
o Registro de Títulos e Documentos em meio singular de certificação de
datas em documentos para efeitos perante terceiros, o que perdura até
a atualidade, por meio do art. 221 do Código Civil vigente. Para adiantar,
reza o artigo 221 do Código Civil:

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O instrumento particular, feito e assinado, ou somente assinado por
quem esteja na livre disposição e administração de seus bens, prova
as obrigações convencionais de qualquer valor; mas os seus efeitos,
bem como os da cessão, não se operam, a respeito de terceiros, antes de
registrado no registro público.

Continuando o histórico introdutório, no ano de 1939, veio o Decreto


nº 4.857 dispor minuciosamente a respeito de títulos e documentos
sujeitos a registro. É interessante notar que seus princípios e preceitos
continuam vigentes por meio de sua incorporação quase inalterada à
Lei de Registros Públicos (Lei 6015/73).

2. O objeto do registro perante o RTD

Basicamente o que se registra, nos termos da Lei de Registros Públicos,


são “títulos e documentos”. Estes podem ser compreendidos como
qualquer suporte físico para informações, escritas, que sejam passíveis
de transferir mensagens ou dados. Podem certificar fatos e ocorridos,
por meio de seus registros.

As categorias desses títulos podem ser: i) título pessoal; ii) título negocial;
iii) título público; ou iv) título particular.

Os títulos pessoais dizem respeito a uma pessoa, ou coletivo de


pessoas, com dados sobre as mesmas, como diplomas, documentos
diversos, certificados e outros mais.

Os títulos negociais se referem obviamente a negócios, obrigações,


deveres, acordos celebrados entre indivíduos. Podem ser citados aqui
contratos particulares de compra e venda, aluguel, entre outros.

Os públicos são os documentos que foram elaborados por algum agente


público, dotado de algum poder a ele atribuído pelo Estado. Podem ser
certidões de órgãos públicos ou documentos oriundos de processos,

46
46
bem como documentos emanados de tabelionatos, entre outros. Já
os particulares, por sua vez, são os elaborados por entes privados ou
indivíduos que estejam agindo por sua conta (podendo inclusive ser um
agente público, mas que esteja celebrando um contrato como pessoa
física, como no caso de um contrato seu de aluguel, por exemplo).

Os contratos particulares possuem características diversas que geram


efeitos diferentes perante terceiros: no caso de serem assinados
também por duas testemunhas, estes podem gerar prova de obrigação
nele contida entre as partes, independentemente de manifestação do
juízo. Contudo, frente a terceiros, o instrumento particular só poderá
gerar efeitos no caso de ter sido registrado perante o Registro de Títulos
e Documentos, de acordo com as disposições do art. 221 do CC, in verbis:
O instrumento particular, feito e assinado, ou somente assinado por
quem esteja na livre disposição e administração de seus bens, prova
as obrigações convencionais de qualquer valor; mas os seus efeitos,
bem como os da cessão, não se operam, a respeito de terceiros, antes de
registrado no registro público.

Desse modo, atribui-se eficácia plena aos termos do contrato, gerando a


partir de então seus plenos efeitos legais.

3. Princípios e efeitos do registro no RTD

Iniciemos pela análise rápida dos necessários princípios que estruturam


a prática registral.

Princípio basilar do Registro de Títulos e Documentos é trazer a


segurança jurídica, garantindo organização ao sistema registral.

Dentro do princípio da legalidade, há necessidade de se garantir que


o registro do título ou documento esteja revestido das formalidades
legais exigíveis. Nesta linha, com base nesse princípio no Processo
CGJSP 156.028/2017, determinou-se não ser possível o registro de

 47
um banco de animais, que adotou-se chamar de “Identipet”; porém
em outras corregedorias, como as do Paraná e Santa Catarina, esse
registro é possível, sendo expedido inclusive uma certidão com
fotografia do “pet”. Lembrando que somente “pets” autorizados pela
legislação são passíveis de registro.

PARA SABER MAIS


Conforme a Lei nº 9.605/98, a Resolução CONAMA
nº 394/2007 e a Instrução Normativa IBAMA nº 7, de
30 de abril de 2015 define animais silvestres nativas como
espécies que tenham todo seu ciclo de vida ou parte
dele em territórios brasileiros. Já as espécies exóticas são
aquelas cuja distribuição não inclui o território brasileiro.
Constando também na IN 07/2015 do IBAMA art. 2º inciso IV
define a fauna doméstica em espécies cujas características
biológicas, comportamentais e fenotípicas se alteraram
tornando-as dependentes da espécie humana. Há uma lista
dos que fazem parte desse conjunto. Disponível em:
https://www.ibama.gov.br/phocadownload/fauna/
faunasilvestre/2015_ibama_in_07_2015_autorizacao_uso_
fauna_empreendimentos.pdf. Acesso em: 15 de jul. 2019.

Pelo princípio da territorialidade, em regra, há a determinação que


os registros de títulos e documentos, que tenham por finalidade
surtir efeitos em relação a terceiros, estejam sujeitos a este princípio,
devendo o ato ser praticado no domicílio das partes. Quando houver
multiplicidade de domicílios, em circunscrições territoriais diversas,
far-se-á o registro em cada uma delas. A exceção a esse princípio está
em relação ao registro de documento exclusivo para a guarda ou
conservação (registro facultativo) ou para notificação.

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48
Agora, passemos a analisar os efeitos do Registro de Títulos e
Documentos. Os efeitos do registro de um título ou documento no
RTD, em preliminar, são:

a. Autenticação da data: o registro indica a data em que foi


preservado o documento.

b. Publicidade do conteúdo do registro: qualquer terceiro


interessado poderá requisitar uma certidão do documento
registrado;

c. Perpetuação do documento registrado: o RTD deverá guardar


para sempre uma cópia do documento, em qualquer mídia:
papel, microfilme ou digital.

d. Eficácia contra terceiros: uma espécie de publicidade


qualificada para os contratos do artigo 129 da Lei 6.015/73 –
a Lei de Registros Públicos, que tratam principalmente de direito
real sobre bem móvel, que significa que se o registro foi feito nos
RTDs do domicílio do credor e devedor está estabelecida a má-fé
de eventual terceiro adquirente da coisa, que não poderá se opor
ao direito do credor original.

Todo e qualquer registro em RTD conta com os três primeiros efeitos


acima. Por isso, não bastasse artigo expresso da lei neste sentido,
a certidão do registro feito em RTD tem efeito de original. Afinal, o
documento original está preservado, de forma pública e com data
autenticada para sempre.

3.1 Autenticidade

O documento que é submetido a registro perante o RTD recebe a


característica de autenticidade, de ser autêntico, ou seja, seu conteúdo
não pode ser contestado como sendo falso em sua forma; torna-se
equivalente ao documento original.

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A autenticidade, na verdade, não é atribuída ao documento por ser
registrado pelo RTD, mas sim pela fé pública conferida ao oficial,
que, no momento de certificar uma certidão emitida pelo registro
de títulos e documentos, atribui a essa certidão, com base em sua fé
pública, a autenticidade ao documento, tornando assim inegável o
conteúdo nela contido.

A certidão, primeiramente, prova a existência do documento perante o


registro de títulos e documentos em que está registrado. Essa certidão
pode ser extraída a qualquer momento, com característica de ser
autêntico o documento.

A partir do momento em que a certidão é extraída, ela passa a gerar


efeitos no ordenamento jurídico, bastando a sua apresentação para que
a mesma comprove o seu conteúdo perante aqueles que a recebem,
ou seja, é passível de gerar efeitos jurídicos. Pode o seu conteúdo ser
oposto a terceiros, não sendo possível ao terceiro negar a existência de
seu conteúdo, mas apenas eventual vício de sua forma.

Ainda é possível atribuir autenticidade à data do documento e à data


de seu registro. A autenticidade atribuída à data do documento advém
do próprio documento registrado, pois a data consta em seu corpo e é
certificada pela certidão pelo registrador; já a data do registro é a que
garante que o documento foi registrado perante o RTD e esta deve
guardar coerência com a data de criação do documento, ou melhor, a
data do registro deve ser posterior à data de criação.

Assim como existem diferentes classes de documentos passíveis de


registros perante o RTD, conforme as determinações da Lei de Registros
Públicos, a data passa a ser de extrema importância em cada classe, de
acordo com a sua característica: seja para a criação de direito, seja para
a sua oposição perante terceiros, ou seja, para mera publicidade.

Nesse sentido, a recepção dos títulos impõe a eles uma ordem que
determina a sua prioridade na observação dos direitos que conferem,
inclusive com a possibilidade de serem opostos, tais direitos a terceiros.

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50
Por isso, serem a recepção e o protocolo dos títulos essenciais ao
cumprimento do objetivo do RTD e que nos remete à sua gênese: o RTD
foi criado justamente para solucionar as discussões relacionadas às
datas de documentos. Desta feita, a ordem deve ser sempre cumprida,
obedecendo à sequência de ingresso dos títulos na serventia, o que, se
não verificado, pode ser objeto de punição.

Para solucionar o problema de registro tardio de documento, a Lei


nº 6.015/73, em seu art. 130, determina que se o registro é solicitado
até 20 dias após a data da sua assinatura, são atribuídos efeitos aos
termos do documento a contar da data de sua assinatura; no caso
de efetuado o protocolo após essa data, será considerada a data
do registro. Tal medida se faz cogente para evitar que indivíduos
protelem o registro de documentos que geram efeitos jurídicos e
deveriam ser de conhecimento de terceiros, mantendo-os a par do
conhecimento do público em geral.

3.2 Publicidade

A publicidade no Registro de Títulos e Documentos é a garantia dos


contratantes.

Esse princípio firma a alegação de boa-fé de terceiros, impedindo


transmissões fraudulentas.

Nesta linha, a finalidade da publicidade dos atos jurídicos externa


qualquer ocultação de negócio, fornecendo a terceiros, a quem seus
efeitos pudessem atingir, um meio seguro de pesquisa, presumindo de
forma geral a ciência das relações jurídicas registradas.

Quando da realização do registro, o documento permanece na


serventia, com a possibilidade de qualquer interessado solicitar
certidão do mesmo, o que se dá em razão da obrigatoriedade do
oficial de registro dar publicidade aos atos registrados na serventia
à sociedade e, individualmente, a qualquer pessoa que a solicite, de
acordo com as disposições dos artigos 16 e 17 da Lei 6015/73.

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Nesta mesma esteira, quando uma pesquisa por ato perante o registro
de títulos e documentos é feita, é dever do registrador informar todos os
atos que estão sob sua guarda e que atendam aos critérios submetidos
na pesquisa, sendo ele obrigado a informar todos os atos ao usuário,
inclusive eventuais averbações que constem à margem dos atos (Lei
6015/73, art. 21).

A partir de seu registro, o documento passa a gerar efeitos erga omnes,


o que está diretamente ligado à publicidade conferida ao registro.
A amplitude do conhecimento do documento e de seus termos atribuída
pela publicidade vai além dos efeitos que o contrato gera entre as partes,
ampliando os seus efeitos a terceiros, com a possibilidade de obrigar
também pessoas que a ele, em princípio, não estavam diretamente ligadas.

A publicidade tem o condão de garantir direitos. Quando houver


a alienação de um determinado bem, principalmente no caso de
bens móveis, e este contrato referente à alienação estiver registrado
perante o registro de títulos e documentos, tornam-se as obrigações
nele contidas oponíveis a terceiros. Assim, a oposição de eventuais
embargos de terceiro, no caso de uma alienação, e o documento ao
qual se refere à alienação estiver registrado, perante o juízo, esse
documento terá preferência na garantia de seus direitos, ou ainda,
no caso de os dois terem sido registrados, terá seu direito garantido
aquele que tiver registrado seu contrato primeiro.

ASSIMILE
O Supremo Tribunal Federal decidiu na ADI 4333/DF
(julgamento em 21/10/2015) que para os contratos de
alienação fiduciária de veículo automotor, a exigência de
registro em serventia extrajudicial acarretaria ônus
e custos desnecessários ao consumidor, além de não
conferir ao ato publicidade mais adequada do que
aquela resultante do registro da alienação fiduciária no
próprio documento do veículo.

52
52
3.3 Perpetuação e guarda

A perpetuação do documento também é efeito advindo do registro do


mesmo perante o RTD. A conservação e guarda dos documentos são
obrigação legal do registrado, abrangendo esta tanto os documentos
que ao registrador foram submetidos quanto àqueles que dizem
respeito à atividade de seus antecessores.

É importante ressaltar sempre que os arquivos são públicos, não


apenas no sentido de se ter acesso ao seu conteúdo (publicidade no
sentido acima referido, no tópico anterior), mas também no sentido de
ser patrimônio público, ou seja, não pertencem ao titular da função,
oficial da serventia, naquele dado momento histórico, mas sim ao
Estado, que é naquele momento representado pelo oficial.

O dever de zelar pelos arquivos é previsto na Lei de Registros Públicos,


em seus artigos 24 a 26, sendo que a falta de seu cumprimento deve
gerar obrigação de punição ao oficial, conforme artigo 31 e seguintes
da Lei 8935/94.

A perpetuidade referente ao documento também implica na


possibilidade de sua reconstituição por meio de certidão por parte do
oficial. A certidão, em princípio, deve reproduzir o documento original,
de modo que não haja perda de qualquer dado ou informação, ou
tampouco da forma que o documento original possuía. A reprodução
deve ser integral e fiel ao original arquivado no RTD.

Essa informação é importante na atualidade, uma vez que hoje


em dia foram criadas obrigações relacionadas à digitalização e
manutenção de arquivos eletrônicos que reproduzam os documentos
e títulos que se encontram sob a guarda de oficiais de registro e
tabeliães de notas e de protestos.

A transformação de arquivos físicos em arquivos eletrônicos faz com que


o oficial providencie uma forma de realizá-la de modo que haja a menor
perda de fidelidade com relação ao documento original. Essa perda
sempre ocorrerá, mas deve ser de modo que seja minimizada.

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Nesse aspecto, é realizada hoje, normalmente, a reprodução e guarda
por meio de máquinas que digitalizam as imagens (scanners), sendo
então possível o seu arquivamento em dispositivos eletrônicos
de armazenamento de dados. Existe a discussão a respeito dessa
reprodução e armazenamento que leva à discussão da resolução que
deve ser adotada quando da digitalização dos documentos, pois alguns
entendem que uma resolução baixa, apesar de preservar as informações
que estão contidas no documento, no momento da reprodução do
documento, este não é reproduzido de forma idêntica, ocorrendo
assim uma perda de dados que implica na falta de fidelidade com o
documento original. Como as reproduções eletrônicas normalmente
são medidas em pontos por polegadas (dots per inch = dpi), quanto
mais pontos disponíveis em uma polegada, maior será a fidelidade
da reprodução, uma vez que haverá uma maior união de pontos para
reproduzir todos os elementos contidos no documento original.

A obrigação de perpetuidade encontra-se prevista na Lei 6015/1973,


bem como o documento reproduzido por meio de certidão tem o
mesmo valor do original, conforme determina o artigo 217 do Código
Civil, in verbis: “Terão a mesma força probante os traslados e as
certidões, extraídos por tabelião ou oficial de registro, de instrumentos
ou documentos lançados em suas notas”.

4. Competência do RTD

Os artigos 127 e 129 da Lei de Registros Públicos estabelecem


documentos que devem ser registrados perante o RTD, sendo alguns
obrigatórios para a constituição de direitos, outros para gerarem efeitos
perante terceiros e outros ainda apenas para conservação.

Contudo, deve-se considerar que a referida lei foi elaborada na década


de 1970 e, desde então, em razão da dinâmica da vida moderna e
das alterações das instituições e dos novos documentos e obrigações

54
54
que surgiram no decorrer das últimas décadas, hoje tal lista deve ser
compreendida como meramente exemplificativa, não devendo ser
considerada numerus clausus, sob pena de se negar ao cidadão direito a
ele conferido por lei, mas que em razão das alterações da vida, não se
encontra expressamente previsto na legislação.

Como o RTD possui atribuição residual com relação a todas as outras


especialidades, é obvio se concluir o que acima foi exposto, sendo a
conclusão mais lógica que há um número incalculável de documentos
que podem ser submetidos ao RTD para registro. Tal atribuição,
encontra-se prevista na Lei de Registros Públicos, em seu art. 127,
parágrafo único, e item VII, do mesmo artigo.

Na análise do artigo 127 da Lei 6015/73, haverá o registro: a)


dos documentos particulares, para a prova das obrigações
convencionais de qualquer valor (vide1 artigo 221 do CC) ; b)
do penhor sobre bens móveis; c) da caução de títulos da dívida
pública federal, estadual ou municipal, ou em bolsa; d) de parceria
agrícola ou pecuária; e) do mandado judicial de renovação do
contrato de arrendamento; f) de quaisquer títulos e documentos cuja
competência para registro não esteja expressamente atribuída a
outra serventia em razão da especialidade ou territorialidade, a fim
de assegurar autenticidade, publicidade ou eficácia contra terceiros,
além de sua conservação; g) facultativo, de quaisquer documentos,
exclusivamente para fins de mera conservação.

Em relação ao item “f” apontado acima, deve-se ter especial atenção,


pois havendo registro específico, não se poderá efetuar o registro,
como, por exemplo, escrituras de venda de imóveis (registradas em
RI), letras de música (Fundação Biblioteca Nacional), marcas e patentes
(INPI), documentos de sociedades anônimas (Junta Comercial). Porém,

1
CC, art. 221: O instrumento particular, feito e assinado, ou somente assinado por quem esteja na livre dis-
posição e administração de seus bens, prova as obrigações convencionais de qualquer valor; mas os seus
efeitos, bem como os da cessão, não se operam, a respeito de terceiros, antes de registrado no regis-
tro público.

 55
para efeitos de conservação, poderão alguns documentos que têm
registro próprio serem registrados em RTD, uma vez que podem
necessitar de um tempo maior para a o efetivo registro no órgão
competente, salientando que o registro facultativo é meramente para
efeitos de conservação.

Desse modo, assegura-se a segurança jurídica devida ao usuário,


que poderá levar a registro o seu título, e do mesmo modo continua
o RTD exercendo a sua função precípua de registro e guarda de
documentos diversos.

Como lembrança, temos de ser muito comum hoje o registro de letras


musicais, receitas culinárias, entre outros.

A legislação sobre Registro de Títulos e Documentos apenas exige


registros em determinadas serventias (ou cartórios) quando se pretende
a chamada “eficácia contra terceiros”, que é uma publicidade qualificada,
para os casos do art. 129 da Lei de Registros Públicos. Para surtir
efeitos em relação a terceiros, deverão ser registrados no Registro
de Títulos e Documentos, dentre outros documentos: a) os contratos
de locação de prédios, sem prejuízo de serem também levados ao
registro imobiliário, quando consignada cláusula de vigência no caso de
alienação da coisa locada; b) os documentos decorrentes de depósitos
ou de cauções feitos em garantia de cumprimento de obrigações
contratuais, ainda que em separado dos respectivos instrumentos; c)
as cartas de fiança em geral feitas por instrumento particular, seja
qual for a natureza do compromisso por elas abonado; d) os contratos
de locação de serviços não atribuídos a outras especialidades de
registro; e) os contratos de compra e venda em prestações, com
reserva de domínio ou não, qualquer que seja a forma de que se
revistam; f) os contratos de alienação fiduciária ou de promessas
de venda referentes a bens móveis; g) todos os documentos de
procedência estrangeira, acompanhados das respectivas traduções,
para produzirem efeitos em repartições da União, dos Estados, do
Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, ou em qualquer juízo

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56
ou tribunal (Requisitos para o registro: documento + tradução); h) as
quitações, recibos e contratos de compra e venda de automóveis,
bem como o penhor destes, qualquer que seja a forma que revistam;
i) os atos administrativos expedidos para cumprimento de decisões
judiciais, sem trânsito em julgado, pelas quais for determinada a
entrega, pelas alfândegas e mesas de renda, de bens e mercadorias
procedentes do exterior; j) os instrumentos de cessão de direito e de
crédito, de sub-rogação e de dação em pagamento; k) os certificados
digitais emitidos para guarda em servidor seguro criptografado,
averbando-se cada utilização da respectiva assinatura digital, com
indicação de nome do arquivo assinado, IP da máquina, data e hora.

Para os efeitos normais do registro em RTD, basta que o documento seja


registrado por algum Oficial ou seus prepostos. Ou seja, é possível que
se registrem documentos oriundos de outro Estado, ou comarca, para
os fins de guarda e conservação; o que não é possível é que o Oficial vá
para outro Estado ou a outra comarca registrar estes documentos. O
documento deve ser registrado pelo Oficial de RTD ou seus prepostos
no espaço físico onde exerce sua delegação. Respeitadas estas
circunstâncias legais, o usuário poderá levar os documentos a registro
no RTD de sua preferência ou comodidade logística.

De forma exemplificativa, títulos e documentos que podem ser objeto de


registro perante o RTD: “Alienação Fiduciária – Locação de Imóvel – Atas
– Borderô – Contrato de Honorários – Contrato de Assistência Técnica
– Requerimento – Atestado – Acordo – Quitação – Carta – Confissão de
Dívida – Caução – Carteira Profissional – Convênio – Contrato de Trabalho
– Fiança – Contrato de Edição – Declaração – Diploma – Bula – Autorização
– Cessão de Direitos – Patrocínio – Publicidade – Comissão Mercantil –
Contrato de Estágio – Carnê – Laudo – Boletim de Ocorrência – Memorial
Descritivo – Prestação de Contas – Tabela – Telegrama – Nota Promissória
– Tradução – Orçamento – Opção de Vendas – Reserva de Domínio –
Recibo – Permuta – Utilização de “know-how” – Regulamento – Parecer –
Pedido – Receita de bolo – Carta de Amor – Contrato de Namoro”.

 57
5. Conclusão

Neste contexto, o aluno guiou sob as estreitas vias do contexto histórico, a


origem e finalidade dos Registros de Títulos e Documentos. Desbravando
a sua natureza e seus efeitos, finalizando com a competência, na
preparação para o procedimento e peculiaridades do próximo texto.

TEORIA EM PRÁTICA
Seria possível o Registro de uma obra literária em Registro
de Títulos e Documentos, enquanto não defendida na
banca de monografia, com a finalidade de preservação de
seu conteúdo? E de uma letra de música? Seria possível
o registro de uma letra de música, conhecida como
“proibidão”, de acordo com o artigo 17 da LINDB?

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
1. Consoante a Lei de Registros Públicos, para que surtam
efeitos perante terceiros, devem-se submeter a registro
no registro de títulos e documentos:
a. Os contratos de parceria agrícola ou pecuária.

b. Os contratos de penhor rural.

c. As cauções de títulos de crédito.

d. As cartas de fiança em geral, feitas por instrumento


particular, seja qual for a natureza do compromisso
por elas abonado.

e. Os contratos de locação com cláusula de vigência para


hipótese de alienação.

58
58
2. A transcrição de penhor comum sobre coisas móveis e
contrato de parceria agrícola ou pecuária será feita no:
a. Registro de Títulos e Documentos ou Registro
Imobiliário, a depender do objeto do interessado.

b. Registro Imobiliário.

c. Registro Civil de Pessoas Jurídicas.

d. Registro de Títulos e Documentos.

e. Registro de Empresas Mercantis da sede do devedor


(Junta Comercial).

3. O registro de títulos e documentos será facultativo para


efeitos de conservação em relação ao:
a. Contrato de namoro.

b. Contrato de depósito.

c. Carta particular de fiança.

d. Caução de dívida pública da União.

e. Parceria pecuária.

Referências bibliográficas

AZEVEDO, Philadelpho. Registros Públicos: Lei 4.827 de 7 de fevereiro de 1924 –


Comentário e desenvolvimento. Rio de Janeiro: Almeida Marques, 1929.
DINIZ, Maria Helena. Código Civil anotado. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 3: contratos e atos
unilaterais. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
GURGEL, Amaral. Registros Públicos. São Paulo: Saraiva, 1929.

 59
KÜMPEL, Vitor Frederico et. al. Tratado Notarial e Registral. Vol. IV. São Paulo: YK
Editora, 2017.
SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito Civil: contratos. 5. ed., v. 2. São
Paulo: Atlas, 2004.
SIVIERO, José Maria. Registro de títulos e documentos 1903-2003 – Segurança que
faz história. In: DIP, Ricardo. Direito Notarial e Registral. Porto Alegre: Sergio
Antonio Fabris Edito, 2004, p. 115-134.
STOLZE, Pablo; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, v. IV, T1,
contratos: teoria geral. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil, v. 3, Teoria geral dos contratos e contratos em
espécie. 8. ed. São Paulo: Método, 2013.

Gabarito

Questão 1 – Resposta: D
De acordo com o artigo 129, 3º da LRP, que dá eficácia perante
terceiros é somente essa letra.
Questão 2 – Resposta: D
O registro de títulos e documentos é o competente para tal ato,
nos termos do artigo 127 da LRP.
Questão 3 – Resposta: A
De acordo com o que foi estudado e o constante dos artigos 127
e 129 da LRP, o contrato de namoro é o único registrado para
efeito conservação.

60
60
Registro de Títulos e
Documentos II
Autor: Adriano César da Silva Álvares

Objetivos

• Analisar a recepção e procedimento para o


registro dos títulos;

• Estudar procedimentos específicos relacionados


ao Registro de Títulos e Documentos;

• Conhecer a atribuição de notificações e de certidões,


de suma importância para diversas áreas do direito.

 61
1. Introdução

O atendimento direto do usuário remete ao principal sistema de


interação da serventia. O preâmbulo do atendimento é o balcão,
sendo efetuada a primeira análise das requisições de atendimento,
questionamentos e solução dos problemas apresentados para o oficial.

O conhecimento dos documentos que são registrados no Registro


de Títulos e Documentos (RTD) é essencial para a devida prestação
do serviço delegado, pois no registro de títulos e documentos, como
já ressaltado, há a competência residual e, por isso, deve haver o
conhecimento de qual a competência de cada um dos demais registros.

A recepção dos documentos deve atender ao princípio da eficácia do


serviço público, uma vez que deve ser o usuário orientado com relação à
competência do RTD e quais os efeitos dos registros nele realizados.

Assim, uma vez que uma parte solicita o registro de uma escritura
para ser realizado na matrícula do imóvel, por exemplo, deve a
mesma ser orientada a comparecer ao registro de imóveis para a sua
realização; contudo, se for para mera conservação, é possível que
seja este documento registrado perante o RTD, sendo necessário o
esclarecimento da parte, bem como a sua anuência expressa acerca
disso. Da mesma forma, no caso de ser solicitada a averbação de
uma alteração contratual à margem do registro de uma determinada
sociedade, o que não é possível no RTD, mas apenas no RCPJ.

Após a realização da recepção, é feita a qualificação e registro do título


ou então a sua devolução à parte com a devida nota devolutiva. Nesta
linha, faremos o estudo desses procedimentos relacionados ao RTD.

62
62
2. Recepção e registro de documentos

2.1 O ingresso no registro de títulos e documentos

O oficial de RTD tem o dever de analisar os documentos a ele


apresentados com o fim de verificação da viabilidade de seu registro.

Assim, primeiramente deve ser questionada a parte apresentante


sobre qual a sua real intenção com o documento. Depois de tal
questionamento, o oficial deve analisar os papéis a ele submetidos,
com vistas a verificar o que está contido em seu texto, a que se
refere e qual o seu objeto, já que tais dados dão a real dimensão de
quais possibilidades de registro têm o documento, inclusive dando
informações a respeito de qual o serviço de registro no qual pode ou
deve ser registrado.

Cada documento tem características e elementos que lhe são inerentes,


e em muitos casos tais documentos necessitarão de registros para que
tenham sua eficácia jurídica completa.

2.2 A validade dos atos e o RTD

Os atos bilaterais celebrados entre partes representam a expressão


da intenção destas partes contratantes; tais atos contêm obrigações
de cunho jurídico, que vinculam as partes. Contudo, como é sabido
por todos, os contratos devem conter prazo para o seu cumprimento,
mesmo que sejam celebrados por prazo indeterminado, e com relação
a essa cláusula e outras do contrato deve haver a concordância das
partes em relação a seus termos.

Tais características citadas devem ser observadas pelo registrador,


pois este não pode registrar um documento que seja maculado por um
vício, ou lhe retire ou afete a validade. Ainda deve ele observar outros
elementos dos contratos submetidos à sua análise, como se o objeto do

 63
acordo é lícito e atende a outros requisitos legais para a sua validade,
como não contrariar a lei, a moral ou os bons costumes, bem como a
forma do contrato que deve observar as prescrições legais.

Também deve o registrador verificar se as partes preenchem os requisitos


elencados em lei para que o contrato seja válido, como se são capazes, se
possuem liberdade para dispor sobre seu patrimônio e, ainda, que sejam
bem definidas as identidades daqueles que participam do negócio através
da qualificação das partes conforme a lei prega, com a possibilidade
de verificação de sua idade, ou pelo menos se for maior ou menor, seu
estado civil, profissão, número do documento de identidade e cadastro
perante a Receita Federal, bem como a sua residência. Em caso de a parte
ser representada por um procurador, referência expressa ao instrumento
de procuração, com dados que possam identificá-lo quando for este
instrumento público (como número de livro e folhas) e, no caso de ser
instrumento particular, que a assinatura esteja com a firma reconhecida.

No caso de documentos em que constem estrangeiros como partes,


deve o registrador observar ainda outros elementos, como o fato
de estrangeiro que mantém residência no território brasileiro ter a
obrigatoriedade de comprovar que sua permanência no território
nacional é legal e autorizada (apresentação de RNE – Registro Nacional
de Estrangeiro – Registro do Migrante ou visto de permanência definitiva
no Brasil). Já no caso de estrangeiro que não tenha residência no Brasil
deverá ser representado por procurador que seja domiciliado no Brasil,
por meio de procuração pública elaborada em tabelionato de notas.

3. Notificações extrajudiciais

A notificação extrajudicial é um instituto muito utilizado na atualidade


em diversas situações.

O ato de notificar diz respeito a informar certo indivíduo a respeito de


fato ou ato que se tem intenção de que a pessoa tenha ciência. Assim, é
relatado o fato a essa pessoa.

64
64
A ação de notificar possui diferentes espécies, podendo realizar-se no
âmbito judicial ou no extrajudicial.

Como se depreende de pronto, notificação judicial é aquela realizada


perante a justiça, por meio de rito próprio e específico, previsto no Código
de Processo Civil, seção II, artigos 726 a 729. Essas são realizadas por
ordem judicial e feitas pelo Oficial de Justiça através de recolhimento de
guia para tanto, que então dá ciência ao indivíduo que recebe a intimação
sobre o fato ou ato que lhe deve ser informado; também é possível a
notificação por edital judicial, nos limites do artigo 726, §1º do CPC.

Já a notificação extrajudicial pode ser compreendida como aquela


realizada pelo serviço de Registro de Títulos e Documentos, conforme
previsão da Lei de Registros Públicos, artigo 160.

Ainda existe uma forma de dar ciência de certo fato que muitos
denominam como notificação, que corresponde a elaborar uma carta
em que se informa algo com intenção de dar ciência a terceiro, e este
documento é enviado a essa pessoa por meio de carta registrada. Essa
prática até pode ser eficaz no sentido de dar ciência a certo indivíduo,
contudo não pode ser oposta a terceiro em razão de que o conteúdo
do documento não ser de conhecimento amplo de terceiros, já que
não há quem, dotado de fé pública, possa comprovar o conteúdo do
documento que foi enviado a essa pessoa.

Em razão de tanto, não é possível denominar tal procedimento como


espécie de notificação, permanecendo como espécies do gênero apenas
a notificação judicial (realizada pelo juízo) e a notificação extrajudicial
(realizada pelo Ofício de RTD).

Desta feita, repisa-se que a notificação extrajudicial é um procedimento


por meio do qual é possível comprovar o recebimento, por parte de
certo indivíduo, da informação que lhe deveria ser dado conhecimento,
com fé pública e de forma certa e indubitável. Assim, é certo que a parte

 65
que é informada do conteúdo do documento por parte do RTD recebeu
a mensagem, conferindo certeza a esse fato e de que tem plena ciência
do conteúdo daquilo que lhe foi transmitido. Desse modo, faz-se prova
da parte que deveria ter conhecimento do fato ou ato efetivamente o
tem, sendo tanto reforçado pela fé pública de que é dotado o oficial de
registro de títulos e documentos.

ASSIMILE
A notificação é personalíssima, isto é, ela só poderá
ser entregue a quem estiver destinada ou a seus
representantes legais, em caso de pessoa jurídica. Por
essa razão, o notificado não pode alegar desconhecimento
do documento, muito menos do seu conteúdo. Assim,
como não pode furtar-se ao cumprimento de obrigações
sob a alegação de ignorância.

Portanto, é inquestionável o conhecimento do teor daquilo que se


queria dar notícia ao notificado, sendo que após a notificação tal
fato é registrado perante o registro de títulos e documentos, fazendo
então parte de livro da serventia, de caráter público, do qual pode
ter certidão de seu conteúdo, fazendo tal certidão prova plena dos
fatos constatados e contidos no livro, inclusive do fato da notificação
realizada, em quais condições, quem a recebeu, de que tomou ciência
de seu conteúdo, entre outros termos.

As formalidades que cercam o ato da notificação extrapolam o


âmbito apenas do RTD, tendo ainda respaldo tanto no art. 277 do
CPC que afirma que “quando a lei prescrever determinada forma,
o Juiz considerará válido o ato se, realizado de outro modo, lhe
alcançar a finalidade”.

66
66
Pela notificação extrajudicial, assim que realizada a notificação
do indivíduo, não tem qualquer efeito legal positivo a negação de
notificação por parte do notificado, podendo eventualmente gerar
apenas efeitos negativos para o mesmo. A negação de recebimento
se torna ineficaz, uma vez que o oficial, dotado de fé pública, realizou
e certificou a realização da notificação em seu livro, bastando a
extração de uma certidão do ato para que se obtenha o documento
hábil para provar a realização da notificação, sendo que essa certidão
faz referência justamente ao documento arquivado perante o registro
de títulos e documentos, sendo este passível de informar qual
conteúdo foi informado ao notificado.

Por essa razão, tal expediente é comumente utilizado e tem alta


receptividade dentro dos meios dos negócios, sejam eles civis ou
comerciais. Os profissionais que atuam em negócios ou no campo
legal utilizam a notificação para fazer prova do conhecimento do fato
e da data de seu comprovado conhecimento, sendo assim possível
a constituição de prova em juízo para, por exemplo, atribuição de
responsabilidade a uma parte, constituição de prova de conhecimento
de certo fato, de vinculação ao cumprimento de obrigação, afirmação
de conhecimento de fatos, entre outros.

Em certos casos, torna-se muito útil a notificação extrajudicial,


como nos casos de: notificação de término de contratos de locação;
informação do conhecimento de entrega de uma mercadoria;
comunicado de interesse de troca de certa mercadoria por fato do
produto; informação de prazo para o cumprimento de determinada
obrigação; constituição em mora; entre outros.

Notificações mais comuns são as ora listadas: a) denunciar contratos


de locação; b) dar prazo de preferência para o inquilino adquirir
o imóvel que aluga; c) constituir em mora devedor insolvente em
compromissos de compra e venda de imóveis a prestação; d)
marcar dia, lugar e hora para lavratura de escrituras; e) comunicar

 67
cancelamentos ou revogações de procurações; f) constituir em mora
devedores de prestações em financiamentos do sistema financeiro da
habitação; g) denunciar o uso indevido de nomes e marcas registradas
ou patentes de invenção; h) enviar pagamentos através de cheques
nominais visados que, se não aceitos, ensejam consignação judicial;
i) estipular condições e alterar prazos; j) quitar obrigações e liberar
ônus; l) exonerar fiadores e avalistas; m) constituir em mora devedor
em contratos de financiamento com garantia de alienação fiduciária;
n) cobrar duplicatas e obrigações convencionais; e, o) prazo de
preferência para aquisição de cotas entre sócios.

Podemos assim verificar de pronto que o uso das notificações


extrajudiciais não só é útil em diversas situações, como vai além, pois
define aquisição, atribuição, transformação ou extinção de direitos e
deveres perante o ordenamento jurídico.

A notificação extrajudicial tem o condão de economizar tempo e


dinheiro das partes na comprovação de fatos e atos que dizem respeito
a esses direitos e deveres, dos quais podem as notificações tratar.
Assim, uma vez que antes seria necessário que fosse comprovado
perante o juízo o conhecimento ou desconhecimento de um
determinado fato relacionado a um direito ou dever, o que demanda
muito esforço e dedicação de partes e advogados, por vezes, leva a um
resultado inconclusivo ou mesmo um resultado negativo, que pode
gerar a perda de um determinado direito por alguma parte.

A notificação extrajudicial pode poupar todos os envolvidos destes


inconvenientes, sendo um meio mais eficiente com relação aos outros,
de se fazer prova ou provar um determinado fato relacionado ao seu
conhecimento por certa pessoa.

José Maria Siviero (2004, p. 115-134) ainda ressalta outras situações que
dizem respeito diretamente ao uso de notificações extrajudiciais:

68
68
1. São raros os casos em que a lei exige que as notificações sejam
feitas judicialmente;
2. O trâmite é incontestavelmente mais rápido e menos oneroso;
3. As notificações servem de prova em juízo para a propositura
de ações, quando estas estiverem condicionadas à prévia
notificação ou aviso;
4. Fazem prova, perante terceiros, das intenções do promovente,
pela força que a publicidade imprime ao registro na relação
erga omnes;
5. O Registrador pode requisitar, dos colegas de outras localidades,
as notificações necessárias facilitando sobremaneira o
andamento dos fatos;
6. A certeza de que o texto integral do documento permanecerá
registrado para a eternidade e a sua entrega constará da mesma
forma, perenemente, dos registros do cartório, mesmo que o
destinatário tenha se recusado a assinar o recebimento.

Em análise especial, os casos relacionados a cobranças há mais


razão para a utilização da notificação extrajudicial, por empresas
e profissionais do direito, especialmente para promover uma
cobrança menos constrangedora, preservando as relações com o
credor. Nesta via, a notificação amistosa é uma forma de recuperar
o crédito, sem perder o cliente.

Ademais, o Código de Defesa do Consumidor remete o credor a


uma série de cuidados para o procedimento de cobrança. Com uma
boa notificação extrajudicial, o risco de notificar indevidamente
um cliente, sofrendo medidas judiciais, fica atenuado, sem gerar
um desconforto indenizatório. A notificação permite que o credor,
por meio de um simples aviso do estilo “em tendo sido pago, favor
desconsiderar este documento”, resguarda a imagem do “devedor” e
se proteja de “problemas futuros”.

 69
O procedimento de notificação tem início com o pedido pela parte
interessada de que o oficial realize a notificação de um determinado
indivíduo. O oficial, então, se responsabiliza e se obriga a realizar,
mediante tal solicitação, a notificação nos termos da lei, da pessoa que
deve ser notificada. Então, é feita busca para a localização da pessoa a
ser notificada em local indicado pelo solicitante e, assim que localizada,
é dado conhecimento à parte do teor do documento que está registrado
perante o RTD (objeto da notificação).

Deve-se ter em conta, entretanto, que o conteúdo do documento não


pode ser contrário à lei, à moral e aos bons costumes, o que deve
ser observado pelo oficial ou seu preposto antes da realização da
notificação. Nesse sentido, não pode ser dada notícia de ameaça de
morte do notificado ou de requerimento de pagamento por sequestro
de um parente, por exemplo. Mas é possível a notificação de uma carta
de amor ou um pedido de casamento.

Com relação ao restante do conteúdo do documento objeto da


notificação, esse é de inteira responsabilidade do requerente, que
submete o documento a registro perante o oficial de RTD e pede sua
ciência ao notificado, estando já devidamente redigido. Por isso, desde
que atenda aos elementos anteriormente citados, não cabe contestação
por parte do registrador dos seus termos, uma vez que se presume que
a parte que requer a notificação tem como intuito dar conhecimento ao
notificado dos exatos termos que se encontram no documento redigido
e entregue ao oficial, razão pela qual não cabe contestação ou qualquer
questionamento pelo oficial do texto e de seu conteúdo.

A notificação é realizada por meio de diligência, pela qual é feita a


entrega da notificação ao notificado pelo Oficial Registrador ou seu
escrevente autorizado. Como já estudado em outras aulas, o escrevente
é auxiliar do oficial no cumprimento de sua função de oficial de serventia
extrajudicial, ao qual é atribuído o exercício de uma determinada função,
sempre dentro daquelas correspondentes ao ofício da delegação,
conforme determina o art. 20 da Lei nº 8.935/94. A atribuição da função

70
70
é feita pelo oficial, de acordo com a competência do escrevente, e este
deve ter pleno domínio e habilidades específicas para a realização de
diligências e a realização das notificações em si.

O escrevente que realiza a notificação deve saber se locomover pela


cidade, mesmo em área rural, bem como ter competência para abordar
indivíduos e lhes dar ciência sobre o conteúdo das notificações. Os
documentos devem ser bem guardados, de modo que seu conteúdo não
acabe se tornando de conhecimento de qualquer indivíduo que passe
pela rua e a ele tenha acesso, mas apenas a pessoa que dele realmente
deve ter conhecimento, isto é, o notificado.

Na realização da diligência, parcela da fé pública atribuída ao oficial é


transferida ao escrevente autorizado, que dará validade aos atos que
praticar. E terá a prerrogativa de informar, com a devida fé pública,
sobre seus atos quando da transcrição do ocorrido na diligência no livro
onde está registrado o documento. Tal relato é retrato da verdade até
que se prove o contrário.

Esse escrevente se desloca até o local indicado pelo solicitante para


a realização da notificação; contudo, uma vez que saiba quem é
exatamente a pessoa a ser notificada, e o encontre em algum outro
local, poderá realizar a notificação, já que esta não diz respeito a um
lugar, mas sim a uma pessoa.

Contudo, o fornecimento do local de realização da notificação deve


conter todos os elementos que possam indicar o local para a sua
efetivação, como nome da rua, número, sala, apartamento, entre outros.
Mas se não for localizado o notificando naquele local, pode ainda o
solicitante informar outro local para a realização da notificação.

Já no caso de não ser pessoa física a ser notificada, mas pessoa jurídica,
a notificação será realizada perante o representante da empresa,
que detenha algum poder de mando, de forma genérica, não sendo

 71
necessariamente o seu presidente, mas através de sócio seu, diretor ou
procurador. Pessoas que não representam a empresa (como porteiros,
secretárias, office-boys) não poderiam ser notificadas do conteúdo do
documento, a não ser que assim seja determinado pelo solicitante;
de outro modo, não deve ser adotado tal procedimento por parte do
oficial ou seu preposto.

Interessante ressaltar que a notificação sempre será feita a pedido da


parte que solicita o registro do documento perante o RTD, e nunca por
iniciativa do oficial ou de seu escrevente autorizado. Tal solicitação deve
ser feita juntamente com o pedido de registro do documento, e com a
devida apresentação de um número de vias suficientes para a entrega
de uma para cada notificando, devendo ser exato, sem sobras ou faltas.
Óbvio que deve ser entregue uma a mais, que será a via que ficará
arquivada perante o registro de títulos e documentos.

Assim feito, o oficial deverá proceder com a notificação. Não há prazo


expresso em lei para a realização da notificação, cabendo a cada Estado
da Federação determinar como a mesma será realizada no que se refere
aos seus prazos de cumprimento. Há normas, como a de São Paulo, que
menciona prazos e número de diligências necessárias para as tentativas
de localização das pessoas a serem notificadas. Existem tribunais que
autorizam ainda a possibilidade de convocação da pessoa a ser notificada
para comparecimento à serventia, no intuito de receber a notificação e ter
conhecimento de seu conteúdo, realizada por meio de telefonema, carta
registrada, fax, entre outros, com a possibilidade de serem realizadas as
diligências apenas após o não atendimento das primeiras convocações.

PARA SABER MAIS


Houve a determinação pelo CNJ da criação de Centrais
Compartilhadas de Registro de Títulos e Documentos e
Civil de Pessoa Jurídica.

72
72
Há dois provimentos nesse sentido, o Provimento nº
48/2016 e 59/2017. Nesses provimentos estabeleceram-
se diretrizes para o funcionamento da Central de Serviços
Compartilhados do Registro e Títulos e Documentos e
Civil das Pessoas Jurídicas, face à necessidade de facilitar
o intercâmbio de informações entre as serventias, o
Poder Público e os usuários em geral. Os principais atos
praticados na central serão a Integração por todos os
oficiais de registro; a Recepção e envio de títulos em
formato eletrônico; a Recepção de títulos em papel
e envio para outro cartório (por meio magnético com
assinatura eletrônica); a Expedição de certidão e a
Prestação de informações.
Disponível em:
http://cnj.jus.br/images/atos_normativos/provimento/
provimento_48_16032016_16032018112202.pdf. Acesso em:
30 de jul. 2019.
http://www.cnj.jus.br/files/atos_administrativos/provimento-
n59-03-05-2017-corregedoria.pdf. Acesso em: 30 de jul. 2019.

4. Livros

Os livros do RTD são assim distribuídos, todos em 300 folhas, nos


termos do artigo 132 da Lei de Registros Públicos.

Iniciemos pelo Livro A que conterá o protocolo para apontamentos


de todos os títulos, documentos e papéis apresentados, diariamente,
para serem registrados ou averbados; em continuidade, vem o Livro
B, que é utilizado para trasladação integral de títulos e documentos,
sua conservação e validade contra terceiros, ainda que registrados
por extratos em outros livros; já o Livro C serve para inscrição, por

 73
extração, de títulos e documentos, a fim de surtirem efeitos em
relação a terceiros e autenticação de data; por fim, o Livro D colaciona
o indicador pessoal, substituível pelo sistema de fichas, a critério e
sob a responsabilidade do oficial, o qual é obrigado a fornecer, com
presteza, as certidões pedidas pelos nomes das partes que figurarem,
por qualquer modo, nos livros de registros.

Livros na sequência podem ser autorizados a várias espécies de ato,


sendo numerados nas letras subsequentes e desdobrados (Livro E, F, G,
etc.), preservado o lançamento no livro protocolo.

Como exemplo, alguns Estados, como São Paulo, adotam o Livro E para
o lançamento do Indicador Real, que será formado pelos elementos
identificadores dos bens móveis, objeto dos contratos de garantia,
ficando a recomendação que este livro seja informatizado.

5. Certidões

As certidões que são emitidas pelas serventias extrajudiciais terão


a mesma força probante. Assim determina o artigo 217 do Código
Civil que: “Terão a mesma força probante os traslados e as certidões,
extraídos por Tabelião ou Oficial de Registro, de instrumentos ou
documentos lançados em suas notas”.

Nesta mesma linha, o artigo 425, inciso lI, do CPC vem afirmado
também que tem o mesmo valor probante que o original “os traslados
e as certidões extraídas por Oficial público, de instrumentos ou
documentos lançados em suas notas”.

Ambos artigos dizem respeito aos efeitos da certidão e de sua


característica maior, que é gerar os mesmos resultados que o
documento original, constituindo assim prova do que consta no
documento do qual derivou.

74
74
Mas tal característica da certidão só é possível em razão da fé pública
conferida ao oficial de registro de títulos e documentos, por força de
atribuição de parcela do poder público ao delegado, que, com base
nisso, e conforme previsto no artigo 1º da Lei nº 8.935/94, tem o poder
de atribuir autenticidade aos documentos, como podemos ver no
texto do referido texto legal: “Serviços notariais e de registro são os de
organização técnica e administrativa destinados a garantir a publicidade,
autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos”.

Os documentos autênticos são aqueles emitidos por órgãos ou


entidades públicas, ou que exerçam função pública, no exercício de
suas atribuições. Assim só pode conferir autenticidade a um documento
aquele que detém parcela de poder público para tanto. Nesse sentido,
as certidões emitidas por cartórios de fóruns são autênticas; autorização
emitida pela capitania dos portos é documento autêntico; da mesma
forma, as certidões que são emitidas pelos oficiais de registro com base
em seus arquivos mantidos no ofício são documentos autênticos.

Então, verifica-se a ligação intrínseca que existe entre a autenticidade


do documento emitido pelo oficial de registro de títulos e documentos
e a atribuição de exercício de função pública a ele conferida pelo Poder
Público. Só confere autenticidade quem tem poder para tanto.

Assim, a certidão emitida pelo oficial de RTD com base em seus


arquivos é documento autêntico, que possui o mesmo valor do original
que se encontra registrado perante a serventia, e afirma perante
terceiros, ainda, que tal documento original se encontra registrado
perante aquele ofício específico de RTD.

A certidão encontra-se diretamente ligada ao princípio da publicidade


que rege os registros públicos, tanto que a Lei de Registros Públicos
localiza a certidão em seu capítulo que diz respeito à publicidade. É
através da certidão que se assegura a publicidade que é conferida
aos registros públicos, sendo que o público em geral não tem acesso
aos arquivos originais, mas apenas ao seu conteúdo, ao qual é dada
publicidade por meio de certidões.

 75
Na Lei de Registros Públicos, pode-se encontrar os artigos 17 a 19, que
pregam que será fornecida certidão a qualquer indivíduo que a solicite,
de forma indiscriminada.

Ademais, o artigo 161 da LRP indica que “as certidões do registro integral
de títulos terão o mesmo valor probante dos originais”.

As certidões sempre corresponderão ao original arquivado, devendo


ainda citar quaisquer alterações que o arquivo original tenha sofrido
no decorrer do tempo em que esteve registrado perante a serventia,
independentemente de qualquer solicitação pela parte que a requerer.
As alterações feitas no documento fazem parte do todo e por isso
devem constar na certidão a partir dele elaborada.

6. Conclusão

Neste contexto, o aluno adentrou ao regime de registro dos


títulos e documentos, bem como analisou o procedimento de tal
especialidade, com suas peculiaridades e novidades com a Central de
Serviços Compartilhados.

TEORIA EM PRÁTICA
Ao apresentar um documento contendo uma “carta de
suicídio”, como deve proceder o Registrador de Títulos e
Documentos? Como formalizar o protocolo, bem como a
sua eventual nota devolutiva? Justificando a sua análise.

VERIFICAÇÃO DE LEITURA
1. Consoante a Lei de Registros Públicos, o livro protocolo
do Oficial de Títulos e documentos é o:

76
76
a. Livro A.

b. Livro B.

c. Livro C.

d. Livro D.

e. Livro E.

2. Aponte o item VERDADEIRO de acordo com a


Lei 6015/73:
a. Os títulos, documentos e papéis escritos em língua
estrangeira, uma vez adotados os caracteres orientais,
poderão ser registrados no original, para o efeito da
sua conservação ou perpetuidade.

b. Para produzirem efeitos de conservação, deverão


ser vertidos em vernáculo e registrada a tradução, o
que também se observará em relação às procurações
lavradas em língua estrangeira.

c. Os títulos, documentos e papéis escritos em língua


estrangeira, uma vez adotados os caracteres comuns,
poderão ser registrados no original, para o efeito da
sua conservação ou perpetuidade. Para produzirem
efeitos legais no País e para valerem contra terceiros,
deverão, entretanto, ser vertidos em vernáculo
e registrada a tradução, exceto em relação às
procurações lavradas em língua estrangeira.

d. Os títulos, documentos e papéis escritos em língua


estrangeira, uma vez adotados os caracteres
comuns, poderão ser registrados no original, para
o efeito da sua conservação ou perpetuidade. Para

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produzirem efeitos legais no País e para valerem
contra terceiros, deverão, entretanto, ser vertidos
em vernáculo e registrada a tradução, o que também
se observará em relação às procurações lavradas em
língua estrangeira.

e. Os títulos, documentos e papéis escritos em língua


estrangeira, uma vez adotados os caracteres comuns
arábicos, poderão ser registrados no original, para
efeitos legais no País e para valerem contra terceiros.

3. Os livros de registro de títulos e documentos conterá:


a. 300 folhas.

b. 100 folhas.

c. 150 páginas.

d. 200 folhas.

e. 400 páginas.

Referências bibliográficas

AZEVEDO, Philadelpho. Registros Públicos: Lei 4.827 de 7 de fevereiro de 1924 –


Comentário e desenvolvimento. Rio de Janeiro: Almeida Marques, 1929.
DINIZ, Maria Helena. Código Civil anotado. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 2014.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro, volume 3: contratos e atos
unilaterais. 9. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
GURGEL, Amaral. Registros Públicos. São Paulo: Saraiva, 1929.
KÜMPEL, Vitor Frederico et. al. Tratado Notarial e Registral. Vol. IV. São Paulo: YK
Editora, 2017.

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SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito Civil: contratos. 5. ed., v. 2.
São Paulo: Atlas, 2004.
SIVIERO, José Maria. Registro de títulos e documentos 1903-2003 – Segurança que
faz história. In: DIP, Ricardo. Direito Notarial e Registral. Porto Alegre: Sergio
Antonio Fabris Edito, 2004, p. 115-134.
STOLZE, Pablo; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, v. IV, T1,
contratos: teoria geral. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
TARTUCE, Flávio. Direito Civil, v. 3. Teoria geral dos contratos e contratos em
espécie. 8. ed. São Paulo: Método, 2013.

Gabarito

Questão 1 – Resposta: A
De acordo com o artigo 132, I da LRP, o livro protocolo é o A.

Questão 2 – Resposta: D
O registro de títulos e documentos em língua estrangeira,
obedece ao disposto no artigo 148 da LRP.

Questão 3 – Resposta: A
Os livros do RTD são constituídos de 300 folhas, nos termos do
artigo 132 da LRP.

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