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Preâmbulo
A presente sebenta foi elaborada pelos estudantes André Mota e Mafalda Peixoto, sob a
coordenação de Filipa Teixeira, tendo por base as aulas lecionadas pela docente Ana Rita Babo, com
o complemento de bibliografia considerada obrigatória para esta unidade curricular.
A equipa de Direito Administrativo deu o seu melhor para garantir a qualidade dos
apontamentos semanais e, agora, desta sebenta.
Bom Estudo!
1
Índice
Introdução...................................................................................................................................... 3
Caso prático nº1.............................................................................................................................. 3
Caso prático nº 2............................................................................................................................. 7
Caso prático nº 3............................................................................................................................. 8
Caso prático nº 4........................................................................................................................... 10
Análise de acórdãos do Tribunal de Conflitos (TC)..........................................................................12
Competências dos Tribunais Administrativos e Fiscais (TAF)......................................... 12
Acórdão TC nº 045/18......................................................................................................12
Acórdão TC nº 064/17.................................................................................................................... 12
Acórdão TC nº 026/2022............................................................................................................... 14
Acórdão TRG (Tribunal da Relação de Guimarães) nº 4475/15.5................................................... 15
Acórdão TC nº 046/17.................................................................................................................... 16
Acórdão TC nº 012/22................................................................................................................... 17
Acórdão TC nº 038/21.................................................................................................................... 18
Fontes do Direito Administrativo................................................................................................... 18
Análise de acórdãos do Tribunal de Justiça da União Europeia (TJUE)............................................ 18
Caso prático nº 5........................................................................................................................... 23
Caso prático nº 6........................................................................................................................... 28
Caso prático nº 7........................................................................................................................... 31
Caso prático nº 8........................................................................................................................... 32
Caso prático nº 9*......................................................................................................................... 35
Caso prático nº 10......................................................................................................................... 39
Caso prático nº 11......................................................................................................................... 42
Caso prático nº 12......................................................................................................................... 43
Caso prático nº 13......................................................................................................................... 44
Caso prático nº 14......................................................................................................................... 48
Caso prático nº 15......................................................................................................................... 49
Caso prático nº 16......................................................................................................................... 50
Caso prático nº 17......................................................................................................................... 53
2
Introdução
De facto, o Direito Administrativo tem um campo muito vasto de aplicação prática, intervindo
em vários eventos que ocorrem ao longo do decurso da nossa vida. Abaixo encontram-se listados
alguns exemplos da sua presença ao longo da vida e do quotidiano:
b) relações jurídicas que se criam entre as várias entidades públicas no exercício das suas
funções;
3
Explicação:
Acerca da alínea b) - entre as várias entidades públicas, ou seja, numa relação intra-orgânica,
também se aplica o Direito Administrativo1.
Acerca da alínea c) - retrata situações onde, apesar de estarmos perante pessoas coletivas
privadas, a essas são aplicadas normas de Direito Administrativo, ou seja, situações em que
particulares estão munidos de poderes de autoridade ou em que estão a atuar por conta do Estado2.
a) pode celebrar contratos de compra e venda, arrendamento e outros negócios, regulados pelo
Código Civil e Código Comercial;
c) pode praticar quaisquer atos e celebrar qualquer tipo de contrato, regulados pelo direito
privado e direito público, com vista à prossecução do interesse público;
Explicação:
A Administração Pública pode aplicar atos de gestão pública e atos de gestão privada.
Contudo, mesmo quando a Administração está a atuar como se de um privado se tratasse, não pode
deixar de ter em conta que é uma pessoa coletiva pública, respeitando os princípios gerais do direito
administrativo - art.2º, nº3 CPA.
1
Ex. Art.6º do CPA - relações entre pessoas coletivas públicas regidas pelo Direito Administrativo.
2
Ex. Contratos de Concessões: nestes, o Estado assume que não tem capacidade para poder desenvolver
determinado tipo de atividade e, portanto, celebra um contrato com uma pessoa coletiva privada com o
objetivo de prosseguir o interesse público. Um outro exemplo é o das Federações Desportivas, já que estas
ainda que tenham natureza privada, foi-lhes entregue a tarefa de prosseguir o interesse público.
4
Acerca da alínea b) - São todas situações reguladas por normas jurídicas do Direito
Administrativo, onde a administração aqui já atua em nome do interesse público com os seus
poderes de autoridade.
c) conforme as situações, poderá tanto aparecer munida dos seus poderes de autoridade, como
poderá surgir desprovida do seu imperium;
Explicação:
a) da atividade desempenhada;
Explicação:
O Direito Administrativo já foi anteriormente definido com base na natureza dos sujeitos,
porque tinha uma definição orgânica. Dizia-se que o Código de Procedimento Administrativo (CPA) e
as normas de Direito Administrativo só se aplicavam à Administração Pública. Contudo, atualmente,
não é só às pessoas coletivas públicas que o Direito Administrativo se aplica, visto que o Direito
5
Administrativo se pode aplicar a todas as entidades. Daí que o Código Civil tenha alterado este
âmbito de aplicação.
Aquilo que se faz atualmente é definir com base na atividade desempenhada3 deixando de
haver um critério orgânico, e passamos a ter um sistema misto, onde o Direito Administrativo tanto
atua em entidades públicas como entidades privadas. A função materialmente administrativa que é
exercida é que tem relevância.
Tudo o que tem a ver com o modo como funciona a Administração5 (por exemplo, as normas
que ditam quem pode reunir, quantos votos são precisos, etc.) aplica-se apenas à Administração
Pública.
As normas compreendidas entre o art. 20º e o art. 52º do CPA aplicam-se exclusivamente à
Administração Pública, sendo que esta se encontra definida no art. 2º, nº 4 CPA.
Explicação:
A alínea a) está correta, mas a alínea b) é a mais completa, pois acrescenta à anterior a
regulamentação das relações com outras pessoas públicas ou privadas, reconhecendo poderes de
autoridade e a previsão de garantias de defesa dos particulares. A alínea c) não poderia ser porque
se restringe às entidades públicas.
3
Como releva a expressão “qualquer entidade” no artigo 2 nº1 do CPA.
4
Todos estes regulados pelo CPA
5
Artigo 2 nº2 do CPA
6
6. Os “traços característicos” do Direito Administrativo são, essencialmente, os seguintes:
b) pertence ao ramo de direito público e é composto por um conjunto de normas jurídicas sobre
a organização, o funcionamento da Administração e as relações estabelecidas com outros entes,
regulando toda a atividade administrativa;
c) pertence ao ramo de direito público e é composto por um conjunto de normas jurídicas sobre
a organização, o funcionamento da Administração e as relações estabelecidas com outros
sujeitos de direito, estando excluída parte da atividade administrativa (gestão privada);
Explicação:
Não poderia ser a alínea a) porque o Direito Administrativo pertence ao Direito Público, e a
alínea b) também não poderia ser porque há atos de gestão privada que, ainda que tenham de
respeitar os princípios gerais do Direito Administrativo, não são regulados por este.
Caso prático nº 2
Imagine que, em 1990, foi celebrado um tratado internacional (entre Portugal e outros
países de língua oficial portuguesa) que consistia na adoção de um Acordo Ortográfico, aprovado
pela Resolução da Assembleia da República nº 26/91 e, por sua vez, ratificado pelo Decreto do
Presidente da República nº 43/91, o qual entrou em vigor em Portugal em 13 de maio de 2009.
6
Artigo 9º CRP - Tarefas Fundamentais do Estado.
7
Sucede, porém, que o Governo, através de uma Resolução do Conselho de Ministros, veio exigir a
aplicação deste Acordo Ortográfico a toda a Administração Pública.
Resposta: A função administrativa visa prosseguir fins de interesse público, estes estão
definidos na CRP (artigo 9º) , e em consequência, nas leis ordinárias.
O tratado internacional foi exercido no âmbito da função política, que tem a seu cargo a
definição dos fins gerais da comunidade, com a preocupação de satisfazer as necessidades coletivas
de uma determinada sociedade. Assim, ao assinar um tratado internacional, que tem como objetivo
aproximar os países de língua portuguesa, estamos claramente perante uma alteração política, tendo
em vista a harmonização da língua portuguesa, em conjunto com uma série de outros países.
Caso Anacleta se dirigisse a um tribunal administrativo, este diria que não seria competente
para analisar tal situação, pois trata-se de um ato político, sobre o qual o tribunal administrativo não
tem competência para julgar. Dúvida diferente é se Anacleta poderia impugnar no Tribunal
Administrativo a ilegalidade da Resolução do Conselho de Ministros (que, em termos formais, pode
corresponder a um ato ou regulamento administrativo) que antecipou a aplicação total do acordo
ortográfico à administração pública.
Contudo, o Tribunal entendeu que esta resolução não tinha conteúdo administrativo,
constituindo um ato da função política do Governo. O Tribunal não entendeu que com a resolução o
Governo estivesse a executar o Tratado Internacional, mas sim que estivesse a tomar a opção de se
aplicar mais cedo o Acordo Ortográfico entre a Administração Pública.
Como o Tribunal considerou todos estes atos de natureza política, declarou-se incompetente
para se pronunciar sobre a ilegalidade do tratado, e também da resolução.
Caso prático nº 3
8
Nessa mesma lei foi criada a Unidade Técnica para a Reorganização Administrativa do
Território, que funcionava junto da Assembleia da República (Artº 13º, nº 1). Competia à Unidade
Técnica acompanhar e apoiar a Assembleia da República no processo de reorganização
administrativa territorial autárquica; apresentar à Assembleia da República propostas concretas
de reorganização administrativa do território das freguesias, em caso de ausência de pronúncia
das assembleias municipais; elaborar pareceres sobre a conformidade ou desconformidade das
pronúncias das assembleias municipais na matéria, apresentando-os à Assembleia da República;
propor às assembleias municipais, no caso de desconformidade da respetiva pronúncia, projetos
de reorganização administrativa do território das freguesias (Artº 14º).
Esta proposta, para a junta de freguesia, tratava-se de um ato administrativo, daí ter
impugnado esta proposta contra o tribunal administrativo. Contudo, esta proposta tratava-se de um
procedimento legislativo que era da competência da Assembleia da República, até porque diz
respeito a matéria de reserva absoluta da Assembleia da República, segundo o artº 164º/ n).
Assim, a proposta da unidade técnica não passa de uma proposta, e está encaixada dentro de
um processo legislativo, que pode ou não seguir em frente. Como tal, o tribunal declarou-se
incompetente, por não poder julgar atos de teor legislativo, que nem sequer estavam formalmente
concluídos7.
Em acrescento, importa ter em conta que a função legislativa tem a função de inovação
jurídica (cria regimes jurídicos), que depois faz com que os regimes jurídicos sejam executados,
através da função administrativa.
Também há situações em que as leis mais parecem regulamentos, como quando as leis
perdem a característica da generalidade ou abstração - como exemplo disto temos as leis-medidas.
A Função Política define fins -> A Função Legislativa legisla sobre os regimes jurídicos -> A
Função Administrativa concretiza os regimes jurídicos.
7
ETAF - lei 13/2002, art. 4 nº3 alínea a).
9
● Imediação constitucional: a função política define os fins gerais da coletividade, sendo esses
fins posteriormente legislados. Depois de as leis serem criadas, vão ser executadas;
● Princípio da primazia da lei: a lei é sempre hierarquicamente superior a todos os atos
praticados no exercício de funções administrativas;
● Princípio da reserva de lei: a competência legislativa de determinadas matérias está
constitucionalmente reservada à lei, quer isto dizer que certas matérias só podem ser
abordadas através de uma lei.
● Princípio da precedência de lei: a cada regulamento tem de corresponder uma lei anterior
que lhe corresponda, caso contrário, o regulamento é ilegal. Discute-se muito se este
princípio faz sentido, dada a admissão e a existência de regulamentos autónomos e
independentes.
Caso prático nº 4
A) apresentou uma proposta num concurso público onde, entre outros, era avaliada a
Qualidade Técnica da mesma, e, nesse caso, a pontuação total era obtida pela soma ponderada
das pontuações parcelares de 1 ou 2 pontos, consoante a empresa “Cumprisse” com os requisitos
ou os “Excedesse”, respetivamente. Após o júri ter disponibilizado o Relatório com a avaliação da
sua proposta, a empresa reparou que, em muitos dos requisitos, o júri só lhe tinha atribuído a
pontuação de 1 valor; contudo, face ao disposto na sua proposta, a empresa entendia que a sua
proposta superava as exigências e, por isso, lhe deviam ter sido atribuídos 2 valores. Poderá a
empresa reagir, pedindo ao Tribunal que avalie corretamente a sua proposta?
Estamos perante um júri que está a avaliar uma ponderação técnica, que surge no âmbito da
discricionariedade da Administração Pública, nas quais os tribunais não podem entrar visto que a
especificidade técnica diz respeito à esfera da administração. Neste caso, a discricionariedade estava
na margem de atribuir um ponto ou dois, consoante as formalidades exigidas.
No entanto, podemos estar perante um erro grosseiro ou manifesto, em que o erro é de tal
forma evidente que o tribunal consegue aperceber-se dele, e julgá-lo. Podem, igualmente, ser
invocados princípios de direito administrativo, que são normas legais que não podem ser
desrespeitadas pela administração pública, quer atuem numa zona de discricionariedade técnica
quer não.
Neste caso, poderia ser invocado o desrespeito pelo princípio da igualdade: a empresa em
causa não foi sujeita ao critério universalmente aplicado, uma vez que cumpriu com as formalidades
necessárias para exceder os requisitos, e não foi reconhecida por tal.
Subsídio Covid19
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“1. Todas as sociedades comerciais que se encontrem numa situação de fragilidade
económica podem obter um subsídio que oscila, consoante a gravidade, entre os 50.000€ e os
100.000€.
3. Em situações não abrangidas pelas anteriores, a decisão pode ser tomada dentro dos
limites dos valores mínimos e máximos do subsídio de acordo com a importância estratégica da
sociedade comercial”.
8
Poderes para-jurisdicionais
11
Por outro lado, os órgãos jurisdicionais podem adotar medidas administrativas, como por
exemplo, os Presidentes dos Tribunais, para gerir a própria instituição dos tribunais, adotam medidas
em termos de horários, de faltas de funcionários, de pagamentos etc.
Acórdão TC nº 045/18
O autor apresenta uma ação administrativa contra uma freguesia, querendo que fosse
reconhecido um contrato de trabalho entre o trabalhador e a junta de freguesia. O trabalhador da
junta de freguesia alegava que o despedimento tinha sido feito sem justa causa, pedindo para voltar
a exercer o seu posto de trabalho e ser compensado pelos danos. Quer os tribunais administrativos,
quer os tribunais judiciais, declararam-se incompetentes.
1 – Os tribunais administrativos têm competência para julgar que tipo de relações jurídicas?
O art. 212º, nº 3 da CRP define que os TAF têm competência para julgar relações
jurídico-administrativas. No entanto, há um espaço de reserva de jurisdição, onde tudo o que não for
entregue aos tribunais administrativos e fiscais, será analisado pelos tribunais judiciais.
Pode acontecer que, ainda que o litígio constitua uma relação jurídica administrativa, este
não esteja submetido à jurisdição dos TAF e, por alguma razão, esteja entregue à jurisdição dos
tribunais judiciais - Art. 4º, nº 4 ETAF.
3 – Os litígios emergentes de contratos de trabalho estão submetidos à jurisdição dos TAF? Com
base em que norma se funda a sua (in)competência?
É importante notar que podemos ter contratos de trabalho individuais privados e contratos
de trabalho em funções públicas. À partida, diríamos que os contratos de trabalho estariam
submetidos à jurisdição dos tribunais fiscais, no entanto, o legislador quis distinguir claramente entre
estes dois tipos de contratos.
Não obstante de ambos serem contratos de trabalho, se o contrato de trabalho for para o
exercício de funções públicas, então o tribunal competente é o TAF. Pelo contrário, se o contrato de
trabalho for celebrado de forma individual e for privado, são competentes os tribunais judiciais.
Acórdão TC nº 064/17
Neste caso, temos uma entidade que tinha lançado um concurso público, para ser feita uma
empreitada de obra pública, mais concretamente, para remodelar as instalações do centro hospitalar
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de Vila Nova de Gaia. Sendo uma entidade sujeita à contratação pública, para realizar essas obras,
teve de se realizar um concurso público, onde as empresas poderiam concorrer.
Fruto deste concurso, a empresa vencedora foi a Y, mas sendo que apenas uma empresa não
consegue realizar a totalidade da obra9, foi necessário subcontratar uma outra empresa, X. Daqui
surge um litígio entre as duas empresas, já que a empresa X alegava que prestou serviços, mas que
estes não foram pagos. Levanta-se a questão de saber qual é o tribunal competente para resolver
este litígio. Esta ação foi alegada no TAF e no Tribunal Judicial que se declararam incompetentes,
obrigando o Tribunal de Conflitos a intervir.
Já o Tribunal Administrativo e Fiscal do Porto avança que as partes que celebram o contrato
são pessoas coletivas (sociedades) de Direito Privado, não são pessoas coletivas públicas ou outras
entidades adjudicantes. Assim sendo, o contrato aqui em causa encaixa-se no domínio do Direito
Privado, não lhe sendo transmitida qualquer natureza administrativa. O litígio não emerge de uma
relação jurídica administrativa, mas sim de uma questão de natureza privada.
2 - Qual foi a posição do Tribunal de Conflitos, ou seja, em que situações é que considerou os
Tribunais Administrativos competentes para conhecer de litígios relativos ao incumprimento de
obrigações contratuais? Com base em que norma se funda essa sua competência?
O Tribunal de Conflitos diz que não se trata de um contrato administrativo, porque este não
estava sujeito a nenhuma lei de Direito Público, nem lhe era aplicado o Código dos Contratos
Públicos. Esta relação jurídico-contratual não tinha como parte um contraente público.
9
por motivos logísticos, por falta de materiais, mão de obra etc.
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a empresa Y, não tem nada a ver com o contrato celebrado entre a empresa Y e a empresa X10 pelo
que a natureza do primeiro, não influencia nem implica a natureza do outro.
Assim, no âmbito de normas de direito privado, cabe aos Tribunais Judiciais resolver este
litígio.
Imaginando que o litígio fosse entre o hospital e a empresa Y, então neste caso já seria da
competência do TAF.
Acórdão TC nº 026/2022
Aqui estava em causa a relação que existia entre o administrador de uma empresa local e
essa própria empresa, nomeadamente se seria uma relação que corresponderia a um contrato de
trabalho, eventualmente no exercício de funções públicas. É apresentada uma ação por danos
causados pelo administrador ter incumprido com as suas responsabilidades contratuais.
1 – Que pressupostos têm de estar preenchidos para estarmos perante uma relação jurídica
administrativa?
O Tribunal de Conflitos começa por definir uma relação jurídica administrativa e, perante
essa definição, chega à conclusão de que, para estarmos perante uma relação jurídica administrativa,
um dos sujeitos tem de atuar com poderes públicos de autoridade.
2 – A relação jurídica estabelecida entre a empresa local e o seu administrador é uma relação
jurídico-administrativa?
A relação jurídica estabelecida não é uma relação jurídica administrativa. É, sim, um contrato
derivado.
Os pressupostos não se verificaram, pois não havia nenhuma relação de ius imperium entre o
administrador e a empresa local, pelo que esta relação deveria ser regulada pelo direito privado,
tendo o tribunal encarado esta relação como um mandato, ou seja, um contrato privado, para
prestação de serviços, que devia estar sujeito às regras de direito privado, e em consequência, ser
redimido pelos tribunais judiciais.
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Trata-se de um contrato de subcontratação realizado entre duas pessoas coletivas de direito privado
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Acórdão TRG (Tribunal da Relação de Guimarães) nº 4475/15.5
Ou seja, a questão que se coloca é se esta situação está sujeita a normas de direito privado,
nomeadamente ao regime da responsabilidade civil11 ou, por ser uma concessionária, está sujeita ao
regime da responsabilidade civil extracontratual do Estado e das demais pessoas coletivas públicas.
1 - Os TAF são competentes para apreciar todos os litígios de responsabilidade civil extracontratual
emergentes da conduta de pessoas coletivas públicas? Com base em que norma?
Quando temos uma pessoa coletiva pública, tudo o que tenha a ver com a aplicação deste
regime, é dirimido por este artigo - estando as situações sujeitas à Lei 67/2007. A exceção está
presente na alínea a) do art.4º nº1 do ETAF, que dita que os TAF só apreciam a responsabilidade civil
extracontratual por erro no exercício da função jurisdicional em erros cometidos pelos TAF. O
problema é quando estamos perante uma pessoa coletiva privada que celebrou um contrato com o
Estado.
Neste caso trata-se de uma pessoa coletiva privada que está no exercício de prerrogativas de
direito público, por ser uma concessionária com poderes de expropriação da autoestrada. Estamos,
então, perante um contrato de concessão, que por sua vez é regulado por normas de direito
administrativo, e assim sendo, aplica-se o art.4 nº1/ h) do ETAF, em conjugação com o art.1º nº5 do
PRECP.
Pode-se concluir que, quando estamos perante ações de responsabilidade civil contra
pessoas coletivas privadas, essas ações serão da competência dos TAF se essas pessoas coletivas
privadas tiverem prerrogativas de autoridade. E, neste caso, a concessionária, quando expropriou o
terreno à autora da ação, estava a exercer prerrogativas de poder público.
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Presente no Código Civil
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gestão pública, e nesse caso os TAF seriam competente, ou de gestão privada12, e nesse caso os
tribunais judiciais seriam competentes.
Acórdão TC nº 046/17
1º Fase- administrativa- onde a entidade pública toma a decisão de expropriar. Emite uma
declaração de utilidade pública, dizendo que há um interesse público no terreno ou imóvel,
justificando, e depois de emitir essa declaração conseguirá a posse administrativa daquele terreno.
A dúvida, neste caso, era se a indemnização teria de ser fixada pelos Tribunais Judiciais ou
pelos TAF. Perante esta dúvida, o Tribunal de Conflitos volta a refletir sobre o critério de gestão
privada ou de gestão pública.
1- Os litígios decorrentes de processos de expropriação são dirimidos pelos TAF ou pelos tribunais
judiciais?
Dependendo da fase em que estivermos, vão ser competentes tribunais diferentes, porque
entende-se que no próprio processo de expropriação há uma fase (1ª fase) onde todos os litígios de
expropriação fazem parte dos TAF. Quando só resta discutir a indemnização (2ª fase), não havendo
acordo entre as partes, recorre-se aos tribunais judiciais.
2 e 3 - Que critério é fixado para determinar a competência dos TAF ou dos tribunais judiciais em
litígios deste tipo?
12
Neste caso, a pessoa coletiva privada não estaria a exercer prerrogativas de Direito Público.
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Acórdão TC nº 012/22
Está em causa uma contraordenação relativa à matéria do urbanismo, sendo que a pessoa
que tinha sofrido a contraordenação tinha vindo a impugná-la.
1- Atualmente, a apreciação das impugnações judiciais de atos que aplicam coimas por ofensa de
normas em matéria de urbanismo é da competência dos TAF ou dos tribunais judiciais?
2– A sua resposta seria a mesma se estivéssemos a falar de uma coima urbanística aplicada em
2014?
Neste caso, se a coima foi aplicada em 2014, ainda vigorava no ordenamento jurídico
português a alínea l) do nº 1 do art. 4º ETAF inalterada, que atribuía a competência para apreciar as
impugnações judiciais dos atos que aplicam coimas por ofensa de normas em matéria de urbanismo
aos tribunais judiciais.
Acórdão TC nº 038/21
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1– A apreciação da impugnação de contraordenações ambientais é da competência de que
Tribunais?
Como o legislador na alínea l) (do art.4º nº1 do ETAF) só se refere a ilícitos em matéria
urbanística e fiscal, o Tribunal de Conflitos decidiu que cabe aos tribunais judiciais a competência de
decisão relativamente a esta contraordenação ambiental, já que o direito ambiental não se pode
encaixar no direito do urbanismo.
3– Para além do previsto no artigo 4.º/1/l) do ETAF, que outras impugnações judiciais de
contraordenações poderão ficar a cargo da jurisdição dos TAF?
Há cada vez mais uma maior influência do Direito da União Europeia nos ordenamentos
jurídicos dos Estados-membros, através das normas comunitárias, que se aplicam de igual forma
entre estes.
A. Indique quais os princípios de Direito da União Europeia que são desenvolvidos em cada um
dos acórdãos infra-citados.
A - Acórdão Van Gend & Loos - desenvolve-se sobretudo o princípio do efeito direto. Esta é
uma ação onde tínhamos uma sociedade com a qual tinha sido aplicada uma taxa aduaneira,
tendo-se recusado a pagar essa taxa invocando uma norma do Tratado da CEE. Invocou diretamente
uma norma de Direito da União Europeia (DUE) contra o Estado que a tinha obrigado a pagar uma
taxa aduaneira. O princípio do efeito direto pode definir-se precisamente pela possibilidade de
invocação de normas de DUE por particulares, nomeadamente contra o Estado. Claro que o princípio
do efeito direto tem por base o primado do DUE. Não está em causa discutir a posição hierárquica do
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DUE, pois tal já é assumido. Aqui no caso, o efeito direto vai para além da ideia do primado, no
sentido de se poder invocar diretamente uma norma de DUE contra um Estado, nomeadamente nos
próprios tribunais nacionais, algo que depois foi desenvolvido no acórdão. Aquele caso foi julgado
num tribunal nacional com a aplicação de normas de Direito Europeu.
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que a revogasse, contudo, o TJUE entendia que devia apenas ser desaplicada no caso em concreto.
Esta situação já aconteceu também em Portugal. Os tribunais portugueses decidiram desaplicar as
normas do CPA contrárias ao DUE, e durante determinado lapso temporal, essas normas
continuavam previstas, mas não eram aplicadas. Quando surgiu momento oportuno legislativo em
2015, o artigo foi alterado, mas houve um papel prévio importante de desaplicação da norma pelos
tribunais portugueses em virtude de ser contrária ao DUE.
F – Acórdão Van Duyn – desenvolve sobretudo sobre o princípio do efeito direto. Desenvolve
um bocado mais os pressupostos para se verificar o efeito direto (a saber, que as normas invocadas
têm de ter caráter prescritivo, incondicional e suficiente, não necessitando da verificação de
nenhuma condição nem de um outro ato de modo a serem executadas.
B. Após análise dos Acórdãos indique se as seguintes afirmações são verdadeiras ou falsas.
Falsa. O princípio que obriga o Estado-membro a adotar todas as medidas gerais ou especiais
capazes de assegurar o cumprimento das obrigações decorrentes do Tratado ou resultantes de atos
das instituições da União é o princípio da cooperação leal.
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apenas perante os tribunais nacionais, mas também junto das próprias administrações nacionais. Já é
possível invocar-se normas europeias e anular normas administrativas com base em normas de DUE.
Verdadeira. Pretende-se que uma diretiva seja transposta para um ordenamento jurídico
nacional. O TJUE afirma que a eficácia das diretivas comunitárias aumenta quando há uma
transposição do seu conteúdo para o ordenamento jurídico nacional. Argumentos a favor: as
diretivas dirigem-se aos Estados e não aos particulares (art. 298º TFUE) – há um caráter obrigatório
da diretiva na relação entre a UE e o Estado-membro; as diretivas não são publicadas de forma tão
acessível aos particulares (atualmente já não tem aplicação, porque as diretivas não eram aplicadas
até ao TUE como são hoje em dia).
Falsa. Decorre esta obrigação do princípio da cooperação leal. Ao abrigo deste princípio foi
desenvolvida pelo TJUE esta ideia de que durante o período de transposição da diretiva, ainda que
não tenham transposto têm os Estados de respeitar as obrigações desta diretiva.
VI – Segundo a jurisprudência atual da União, as diretivas podem ter efeito direto horizontal,
isto é, podem ser invocadas enquanto tais por um particular num litígio que o oponha a outro
particular.
Falsa. Não é verdade que as diretivas possam ter efeito direto horizontal, e o TJUE também já
discutiu esta questão no Acórdão Marshall. Considerou que não, nomeadamente pelos argumentos
anteriormente referidos. Deixaria de fazer sentido distinguir diretivas de regulamentos. No entanto,
cada vez há mais doutrina que defende o reconhecimento deste efeito direto horizontal das diretivas.
VII – A criação da nova ordem jurídica europeia também se ficou a dever à transferência de
competências por parte dos Estados-membros para as instituições da União, competências essas que
implicaram uma limitação de soberania.
VIII – A criação da nova ordem jurídica europeia também se ficou a dever à transferência de
competências por parte dos Estados-membros para as instituições da União, competências essas que
implicaram uma limitação de soberania.
Verdadeira. O TJUE já reconheceu a ideia de que os tratados criaram uma entidade jurídica
nova que implicou a transferência de algumas competências para os órgãos da UE, havendo a
limitação da soberania.
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Verdadeira. Não havendo este princípio, os estados não teriam a obrigação de o aplicar, e
poderiam optar, num conflito entre normas internas e normas de DUE, por aplicar normas nacionais,
ainda que fossem contrárias ao DUE.
Verdadeira. De facto, apenas os objetivos fixados nas diretivas têm de ser transpostos e
depois há liberdade na forma como os Estados promovem esses objetivos.
XII – Cabe aos órgãos jurisdicionais europeus julgar as ações de indemnização contra o
Estado por violação de uma norma europeia.
Falsa. São os próprios órgãos jurisdicionais nacionais que devem julgar as ações de
indemnização contra o Estado por violação de uma norma europeia. Segundo a Lei nº 67/2007, esta
competência pertence aos Estados-membros, tendo estes nas suas mãos o papel de aplicar o DUE.
XIII – As legislações nacionais podem ser mais exigentes quando se trata de uma ação de
reparação cuja origem está na violação do Direito da União do que quando o facto que está na sua
origem é de natureza interna.
Verdadeira. São estes os pressupostos de responsabilidade civil que o TJUE tem vindo a
desenvolver. Quando a norma que é violada (tem de haver violação de uma norma, neste caso de
due) confere direito aos particulares, deve existir um nexo de causalidade entre a violação da norma
em questão e o prejuízo sofrido pelos lesados. Não está mencionado, mas falta também mencionar
que estas regras de direito violadas remetem para a culpa do Estado quando viola estas regras.
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Caso prático nº 5
1 – Descentralização/desconcentração.
Um dos conceitos apresentados leva à constituição de novas pessoas coletivas e o outro não.
Na desconcentração, o Estado atribui poderes a outros órgãos, mas que pertencem à pessoa coletiva
Estado, ou seja, não há criação de novas pessoas coletivas públicas. Visa distribuir competências,
com a função de não concentrar tudo no mesmo órgão. Tudo isto se passa dentro da mesma pessoa
coletiva.
-Desconcentração derivada – a lei não prevê, mas dá-se por outro fenómeno,
nomeadamente a delegação de poderes. Não acontece quando se criam e distribuem as
competências, mas acontece em momento posterior, através de outro ato. Art. 44º e seguintes do
CPA- delegação de poderes.
Por sua vez, a descentralização obriga à distribuição de competências por novas pessoas
coletivas. Pode ser:
Subdivide-se em:
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Descentralização territorial vs. descentralização institucional- a descentralização territorial- tem a
ver com as autarquias locais, que têm por base um certo território; por sua vez, a descentralização
institucional relaciona-se com os fins prosseguidos pelas novas pessoas coletivas públicas, que por
norma correspondem a fins do Estado, mas que este entende que são melhor prosseguidos por uma
determinada pessoa coletiva.
NOTA- regiões autónomas têm órgãos de governo próprio e têm poder legislativo- ao
contrário das autarquias locais.
A ideia de distribuir competências é a de não estar tudo centralizado nas mesmas pessoas
coletivas.
No caso das administrações autónomas, foram criadas novas pessoas coletivas que têm por
base a ideia de base territorial (corresponde-se às necessidades de uma determinada população) e
têm interesses próprios que prosseguem, podendo também criar novas pessoas coletivas. Isto não
acontece com a administração indireta. As pessoas coletivas criadas não podem criar novas pessoas
coletivas.
No caso da administração indireta, são novas pessoas coletivas que, ainda que não integrem
a estrutura do Estado, são criadas com base na atribuição de certas finalidades especiais, acabando
por prosseguir estes fins na dependência do Estado. Apesar de serem novas pessoas coletivas
públicas e de não integrarem a estrutura do Estado, prosseguem os fins deste.
A definição de órgãos está prevista no CPA, no art. 20º. Existem milhares de classificações
em relação aos órgãos. O CPA prevê esta distinção entre órgãos singulares e órgãos colegiais.
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Órgãos singulares - possuem apenas 1 titular.
As pessoas coletivas podem criar órgãos e exercer as competências que lhes forem
atribuídas, que visam assegurar as atribuições das pessoas coletivas. Os órgãos são titulares de
competências, enquanto as pessoas coletivas prosseguem atribuições. A distinção entre atribuições e
competências é relevante porque pode dar origem a invalidades diferentes. Quando uma pessoa
coletiva prossegue uma atribuição conferida a outra pessoa coletiva, será um ato administrativo nulo
- art. 161º, nº1/ d) CPA. Quando os órgãos praticam atos para os quais não têm competências, a
sanção é a anulabilidade - art. 163º CPA. Neste caso, pode haver a sanação, através da figura da
ratificação.
O CPA preocupou-se bastante com os órgãos colegiais, aos quais se refere toda a Parte II
(organização e funcionamento dos órgãos) deste Código- art. 20º e seguintes. A Parte II do CPA é
apenas aplicável ao funcionamento dos órgãos da Administração Pública, segundo o art. 2º, nº 2 e o
art. 4º CPA. Os restantes podem ter as suas próprias regras, dependendo da sua vontade.
4- Superintendência/tutela.
-Superintendência - o Estado pode fixar diretivas, sobre o modo como as pessoas coletivas
devem exercer as suas atribuições. Ex: podem ser definidos objetivos, pode-se guiar a atuação das
próprias pessoas coletivas. Tem de vir expressamente prevista na lei e é uma modalidade de uma
relação administrativa típica entre o estado e a administração estadual indireta.
-Tutela - tem a ver com o exercício de poderes de controlo e de fiscalização e que pode ser
subdividida na tutela de legalidade (e o Estado vai verificar se uma entidade vai atuar em
conformidade com o que está previsto na lei) e na tutela de mérito (vai fiscalizar a conveniência das
decisões tomadas por determinada entidade para prossecução das atribuições- o Estado vai perceber
se os interesses estão a ser cumpridos da melhor forma). No caso da administração estadual indireta-
o estado exerce os 2 tipos de tutela. No caso da administração autónoma, apenas se vai exercer a
tutela de legalidade.
5- Hierarquia/independência.
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Existem relações de subordinação jurídica e hierárquica onde nascem um conjunto de
poderes e faculdades de quem é hierarquicamente superior. Tal é especialmente visível no caso da
administração estadual direta.
Nesta relação de hierarquia há um dever de obediência, embora este tenha limites impostos
pela própria Constituição, no art. 271º, nº3 CRP, face à prática de crime. Nos termos do art. 271º,
nº2 da CRP é possível reclamar a ordem ou exigir a transmissão ou confirmação da ordem por
escrito, permitindo assim a exclusão de responsabilidade do inferior hierárquico.
Dentro da hierarquia temos superiores hierárquicos aos quais são concedidos determinado
tipo de faculdades e poderes, nomeadamente de direção e de supervisão.
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-Poder de decisão sobre os recursos hierárquicos.
-Poder de resolver conflitos de competência- por vezes, temos dois ou mais subalternos
competentes para executar a ordem, sendo que no final o superior hierárquico decide quem irá
praticar o ato - art. 51º CPA.
A tutela revogatória tem a ver com a possibilidade de anular ou revogar os atos praticados
pela entidade tutelada.
Pode ainda existir: tutela integrativa – poder de aprovar ou autorizar os atos da entidade
tutelada; tutela sancionatória – pode a entidade tutelar aplicar sanções por irregularidades
detetadas no funcionamento da entidade tutelada; e tutela substitutiva – a entidade tutelar tem o
poder de suprir as omissões das entidades tuteladas.
NOTA- quando temos administração estadual direta, a relação é de hierarquia, logo, não há
tutela.
Administração autónoma:
Administração independente:
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Caso prático nº 6
1. Quais são os critérios que permitem qualificar uma pessoa coletiva como pública?
A caracterização das pessoa coletivas públicas e a sua distinção face às pessoas coletivas
privadas é feita com base em vários critérios: entidade e iniciativa, assim como natureza do ato
jurídico que a criou; regime jurídico que lhes é aplicável; se são, ou não, titulares de poderes de
autoridade; fins e interesses prosseguidos por essa pessoa coletiva, assim como os interesses que
prosseguem; o tipo de função que desempenham (se desempenham funções administrativas
materialmente); se estão sujeitas a algum tipo de regime de ingerência ou de controlo, por parte de
alguma autoridade pública.
Uma pessoa coletiva pública será uma pessoa criada por lei ou por ato fundamentado numa
lei, e que será criada para desempenhar tarefas materialmente correspondentes ao exercício da
função administrativa e, como tal, será dotada de poderes e deveres públicos de autoridade.
Estes critérios demonstram-se relevantes porque, à falta de uma disposição legal expressa
que o indique, permitem enquadrar uma pessoa coletiva na vertente pública ou privada, e em
consequência disso, é possível saber que tipo de direito se deve aplicar.
Dentro das pessoas coletivas públicas, ainda podemos ter outras classificações:
Também, dentro das pessoas coletivas públicas, importa fazer distinções entre si, uma vez
que disso vai depender a aplicação do CPA.
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-Serviços personalizados ou estabelecimentos públicos: são serviços públicos
administrativos, têm personalidade jurídica, têm autonomia administrativa e financeira, mas
possuem ainda uma grande dependência sobre a entidade que os criou, quando se tratam de
transferências financeiras. Quando desempenham funções de natureza social ou cultural, e a sua
atividade prestada é relativa aos cidadãos, estes são designados de estabelecimentos públicos.
Em ambos os casos estamos a falar de pessoas coletivas de natureza jurídica pública. Quando
são de direito público, são criadas por pessoas coletivas públicas. No caso das fundações de direito
privado, podem ter sido criadas por pessoas coletivas públicas, mas à partida também em conjunto
com pessoas coletivas de direito privado.
As universidades públicas podem ser de qualquer um dos tipos, pois podemos ter
universidades que são fundações públicas de Direito Público, mas também outras universidades que
sejam sempre fundações públicas de Direito Privado, ainda que o legislador tenha, atualmente,
proibido a criação de novas fundações públicas de direito privado (Art. 57º da Lei-Quadro das
Fundações - Lei nº 24/2012).
Também podem as próprias universidades corresponder a estabelecimentos públicos, que
prosseguem determinado fim social que se aplica à generalidade dos cidadãos.
As universidades têm um regime jurídico próprio, que é o regime jurídico das instituições de
ensino superior, previsto na Lei nº 62/2007, de 10 de setembro, que prevê no seu Art. 9º, que,
quando a lei especial não dá a resposta, deve subsidiariamente ser aplicada a lei-quadro dos
institutos públicos.
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As Universidades Públicas têm um regime jurídico próprio, consagrado na Lei nº 62/2007 de
10 de setembro- Regime jurídico das instituições de ensino superior. Este regime jurídico diz-nos
ainda, no art. 2º que as instituições de ensino superior públicas estão sujeitas ao regime aplicável às
demais pessoas coletivas públicas, designadamente à aplicação de um Direito subsidiário -
Lei-quadro dos institutos públicos, em tudo o que não contrariar o regime especial.
Não podem, tal como decorre da CRP, no disposto no Art. 236º, nº 1, que consagra o
princípio da tipicidade das autarquias locais, estabelecendo que só podemos ter freguesias,
municípios ou (eventualmente) regiões administrativas, não sendo as áreas metropolitanas
consideradas autarquias locais, sob pena de incorrer num vício de inconstitucionalidade.
São, portanto, associações públicas criadas por entidades públicas, que são da
responsabilidade da administração autónoma do Estado (Lei nº 75/2013, de 12 de setembro). Para
além das áreas metropolitanas, a Lei nº 75/2013, de 12 de setembro também prevê as entidades
intermunicipais, as comunidades intermunicipais e as associações de freguesias e municípios.
Podemos também ter associações públicas criadas por entidades privadas (Ex: ordens profissionais).
As pessoas coletivas públicas são criadas para prosseguir determinados fins ou interesses
públicos, pelo que possuem atribuições; os órgãos das pessoas coletivas executam competências,
tendo em vista atingir os fins de interesse público. Mas o caso dos ministérios é uma exceção a esta
distinção, pois são órgãos do Estado que têm atribuições (Artº 4 da Lei nº 4/2004), e isto resultou da
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complexidade e diversidade das competências estaduais, fazendo com que os ministérios tenham um
conjunto de competências e atribuições a prosseguir.
Esta distribuição tem consequências, ao nível do regime da invalidade dos atos
administrativos, pois um ato administrativo praticado em desrespeito das atribuições, é nulo nos
termos do art. 161º, nº 2/ b) CPA. Por sua vez, um ato que seja praticado por uma entidade que não
tem competência para tal é apenas anulável (art. 163º CPA), podendo inclusive, nos termos do art.
164º, nº 3 CPA, ser sanado ou retificado o vício.
Caso prático nº 7
1. Âmbito de aplicação do CPA - Art. 2º CPA - diz quando e a quem é que o CPA se aplica;
2. Princípios gerais da atividade administrativa - Art. 3º a Art. 19º CPA; Art. 6º e Art. 266º
CRP;
3. Princípios e deveres procedimentais - Art. 13º a Art. 19º CPA (construção doutrinal - dentro
dos princípios gerais da atividade administrativa subdivide-se entre os que têm a ver com a
Administração e aqueles que têm mais a ver com o procedimento administrativo);
4. Órgãos administrativos - Art. 20º CPA - definição de órgãos administrativos (no limite,
podemos considerar os artigos 20º e seguintes);
5. Reuniões ordinárias/extraordinárias - Art. 23º e Art. 24º CPA;
6. Quórum de votação - Art. 29º CPA;
7. Maioria de votação - Art. 32º CPA;
8. Atas das reuniões - Art. 34º CPA (também se pode considerar o art. 35º);
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9. Irrenunciabilidade e inalienabilidade da competência - Art. 36º CPA;
10. Delegação de poderes - Art. 44º a Art. 50º CPA;
11. Interessados do procedimento administrativo - Art. 65º, Art. 67º e Art. 68º CPA;
12. Garantias de imparcialidade - Art. 69º a Art. 76º CPA;
13. Direito à informação administrativa - Art. 82º a Art. 85º CPA; Art. 268º, nº 1 e nº 2 CRP
14. Prazos procedimentais - Art. 86º a Art. 88º e Art. 128 CPA;
15. Pareceres - Art. 91º e art. 92º CPA;
16. Conceito de ato administrativo - Art. 148º CPA;
17. Conceito de regulamento administrativo - Art. 135º CPA;
18. Contrato administrativo - Art. 200º CPA;
19. Causas de extinção do procedimento - Art. 93º a Art. 95º CPA e art. 131º a 133º;
20. Procedimento do regulamento administrativo- regime comum - Art. 53º a 96º; regime
especial- Art. 97º a Art. 101º CPA;
21. Procedimento do ato administrativo primário - Art. 102º a Art. 134º CPA + regime comum;
22. Invalidade do ato administrativo - Art. 161º a Art. 164º CPA;
23. Ilegalidade de normas regulamentares - Art. 143º e Art. 144º CPA;
24. Reclamação administrativa - Art. 191º e Art. 192º CPA + regime comum - Art. 184º a 190º;
25. Recurso hierárquico - Art. 193º a Art. 198º CPA + regime comum;
26. Recursos administrativos especiais - Art. 199º CPA + regime comum.
Caso prático nº 8
Delegação de poderes
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1. Como qualifica juridicamente o “ato” pelo qual Francelino transmite parte dos seus poderes a
Eduardo? Ficará Francelino vinculado, para os devidos efeitos, aos atos praticados por Eduardo?
Este é um ato de delegação de poderes. Nos termos do art. 44º, nº 1 CPA, “os órgãos
administrativos normalmente competentes para decidir em determinada matéria podem, sempre
que para tal estejam habilitados por lei, permitir, através de um ato de delegação de poderes, que
outro órgão ou agente da mesma pessoa coletiva ou outro órgão de diferente pessoa coletiva
pratique atos administrativos sobre a mesma matéria”.
Francelino ficará vinculado, uma vez que os atos praticados ao abrigo da delegação de
poderes, valem como se tivessem sido praticados pelo delegante, segundo o previsto no art. 44º, nº
5 CPA. É uma relação que implica especial confiança, porque os atos praticados pelo delegado valem
como se tivessem sido praticados pelo delegante. Tudo aquilo que o vereador do urbanismo praticar
vai ser assumido e da responsabilidade do Presidente da Câmara.
A transmissão de competências tem de ser publicada, nos termos do art. 47º, nº 2 CPA (“os
atos de delegação ou subdelegação de poderes estão sujeitos a publicação, nos termos do art.
159º”). Assim, este artigo estabelece uma remissão para o art. 159º CPA (“quando a lei impuser a
publicação do ato, mas não regular os respetivos termos, deve a mesma ser feita no Diário da
República ou na publicação oficial da entidade pública, e na Internet, no sítio institucional da
entidade em causa, no prazo de 30 dias, e conter todos os elementos referidos no art.151º nº1”), que
por sua vez também estabelece uma remissão para o art. 151º, nº 1 CPA (“salvo em estado de
necessidade, os órgãos da Administração Pública não podem praticar nenhum ato ou operação
material de que resulte limitação de direitos subjetivos ou interesses legalmente protegidos dos
particulares, sem terem praticado previamente o ato administrativo que legitime tal atuação”), pelo
que estamos perante um caso de dupla remissão.
No nosso caso, a publicação era obrigatória, mas não aconteceu. Quando não há publicação,
sendo esta legalmente exigida, aplica-se como solução o regime estabelecido no Art. 158º, nº 2 CPA
(“a falta de publicação do ato, quando legalmente exigida, implica a sua ineficácia”). Assim, os atos
que o Eduardo praticou eram válidos, mas não eram eficazes, e enquanto a delegação de poderes
não for publicada, esta não produz efeitos jurídicos, não sendo os seus efeitos oponíveis na esfera de
terceiros.
3. Francelino decide ir inspecionar o exercício das competências delegadas por parte de Eduardo e
“descobre” que este expropriou indevidamente o terreno da Filipa e ainda que a autoestrada, que
deveria ficar na zona Y, está a ser construída na zona Z. Como deverá Francelino reagir e em que
termos? Ou que poderes deverá exercer?
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praticado pelo delegado ou subdelegado ao abrigo da delegação ou subdelegação”), deve anular
este ato.
Da mesma forma que o delegante fica vinculado ao exercício das competências e aos atos do
delegado, faz sentido que possua a competência, por sua vez, de corrigir possíveis vícios desses atos.
Em relação ao próprio ato de delegação de poderes, pode sempre o delegante anular ou
revogar o ato de delegação ou subdelegação de poderes, segundo o previsto no Art. 50º/ a) do CPA.
4. Eduardo subdelegou em Carlos a prática dos atos em questão, mesmo sabendo que tal iria
contrariar a vontade “expressamente declarada” de Francelino. Como poderá este atuar?
Podemos ter um ato de delegação de poderes (Art. 44º e seguintes), seguido de um ato de
subdelegação de poderes, que foi o que aconteceu neste caso, segundo o qual Eduardo subdelegou
poderes a Carlos.
No entanto, segundo o Art. 46º, nº 1 CPA, estabelece-se a possibilidade de o delegante
autorizar a subdelegação de poderes, mas neste caso este não autorizou, pelo que, segundo a
reserva específica prevista no Artº 46 nº 2, não há lugar à subdelegação.
A prática de atos sem competência resulta numa situação de incompetência, pelo que se
aplica o vício da anulabilidade, segundo o Art. 163º do CPA. O vício da anulabilidade pode ser
sanável, através da ratificação, podendo o vício ser sanado nos termos do Art. 164º do CPA.
Nos termos do Art. 45º/a) do CPA, assim como segundo o previsto no Art. 36º do CPA,
Francelino estaria a renunciar todas as suas competências e a transmiti-las globalmente ao delegado,
o que, nos termos destes artigos não é legalmente aceitável. Tal implica a nulidade deste ato de
delegação de poderes, uma vez que todos os atos que impliquem a renúncia e a alienabilidade são
nulos, segundo o Art. 36º, nº 2.
Para além do mais, os atos de delegação de poderes nunca podem ser praticados por tempo
indeterminado, nos termos do Art. 50º/ b) do CPA pois, quer por força do facto de os fins para os
quais foram criados se esgotarem, ou até mesmo pelo facto de os titulares dos órgãos do poder
serem alterados, pelo que, em algum momento, estes atos acabam sempre por caducar (relação de
estrita confiança - intuito personae).
Caso prático nº 9*
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Por deliberação da Câmara Municipal foi decidida a atribuição de duas licenças de
construção que permitem aos seus requerentes construir, respetivamente, um imóvel com quinze
andares e outro com dez. A deliberação foi aprovada pela maioria exigida e da mesma foi lavrada
ata, aprovada e publicitada nos termos legais.
O Ministro da Saúde, no âmbito de uma inspeção à atividade daquele município, veio
revogar tal deliberação “por ser altamente inconveniente para os interesses do município”.
Indignados, os membros da câmara municipal alegam que as licenças não podem ser
revogadas porque são conformes com os planos urbanísticos em vigor**, sendo irrelevante a sua
conveniência para os interesses do município.
- Artigo 67º: “A validade das licenças ou das autorizações de utilização depende da sua
conformidade com as normas legais e regulamentares aplicáveis em vigor à data da sua prática,
sem prejuízo do disposto no artigo 60.o”.
- Artigo 68º: “Sem prejuízo da possibilidade de atribuição de efeitos jurídicos a situações de facto
decorrentes de atos nulos nos termos gerais de direito, bem como do disposto no artigo 70º, são
nulas as licenças, as autorizações de utilização e as decisões relativas a pedidos de informação
prévia previstos no presente diploma que:
b) [Revogada];
c) Não tenham sido precedidas de consulta das entidades cujos pareceres, autorizações ou
aprovações sejam legalmente exigíveis, bem como quando não estejam em conformidade com
esses pareceres, autorizações ou aprovações”.
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O Ministro da Saúde é um órgão do Estado (pessoa coletiva). Emerge do Governo, e pertence
à administração estadual direta. Os ministérios são os únicos órgãos com atribuições (normalmente,
os órgãos apenas têm competências, as pessoas coletivas têm atribuições). Foi criado no âmbito da
desconcentração originária de poderes: prevê o legislador que o estado seja composto por vários
órgãos, entre os quais o Ministério da Saúde.
A parte do CPA que trata a organização e funcionamento dos órgãos colegiais é a parte II
(Art. 2º, nº 2 e nº 4 CPA), e quanto à deliberação, para a mesma existir, é necessário que se verifique
o quórum de funcionamento (Art. 29º CPA - número legal de membros que têm de estar no início da
reunião para ela poder acontecer) e o quórum deliberativo ou de maioria de aprovação (Art. 32º CPA
- deliberações só serão aprovadas mediante a maioria dos membros presentes na reunião). Nos
termos do Art. 34º do CPA e art. 57º da Lei 75/2013, cada reunião deve ser lavrada em ata, que
contenha um resumo do que tenha ocorrido, que seja relevante para o conhecimento e apreciação
legal. As atas só são eficazes depois de aprovadas e assinadas- art.57 nº4 da Lei 75/2013 e art.34 nº6
do CPA. Art.56º Lei 75/2013- é necessário que haja uma publicação em Diário da República, se a lei o
previr, e também a sua publicação na Internet. No caso de não atingirmos o número de membros
necessários para iniciar a reunião, deve ser convocada uma nova reunião com um intervalo mínimo
de 24 horas. A deliberação, neste caso, ocorreu de acordo com o previsto na lei.
Podemos também ter situações onde teremos de verificar se há regras especiais- Lei
75/2013 de 12 de setembro- regime jurídico das autarquias locais- arts.54º e 55º. Quanto ao
quórum de funcionamento- aplica-se o mesmo que está previsto no CPA (os órgãos só podem reunir
quando estiver presente a maioria do número legal de membros- art.29º CPA). Quanto à maioria de
aprovação- a maioria exigida é uma maioria relativa (menos exigente do que no CPA), bastando a
pluralidade de votos (ter mais um voto a favor do que contra)- art.54 nº2 da Lei 75/2013 de 12 de
setembro.
Enquanto a autarquia local faz parte da administração autónoma, a relação que existe entre
o Estado e a Autarquia local é uma relação de tutela, mas uma mera tutela de legalidade, que se
resume apenas ao controlo da legalidade, pelo que estes atos só poderiam ser revogados se fossem
ilegais. Não poderiam ser revogados por questões de mérito ou pertinência, pois trata-se apenas de
uma relação de tutela de mera legalidade, pelo que a revogação não é legal neste caso.
Por outro lado, não parece que seja adequado, numa questão relacionada com o urbanismo,
ser o ministério da saúde a pronunciar-se sobre esta questão, e sempre que sejam praticados atos
estranhos às atribuições dos ministérios, segundo o Art. 161º, nº 2/ b) CPA, estes anos são nulos. Os
ministérios são a única exceção que, apesar de serem órgãos, também têm atribuições, tendo em
conta a complexidade das funções que exercem.
Acerca dos argumentos apresentados pela Câmara Municipal, as licenças podiam então ser
revogadas, mas os membros da Câmara Municipal acrescentam que é irrelevante a conveniência das
licenças de construção para os interesses do município. Isto é falso, pois não podem as autarquias
locais deixar de atender aos interesses do município quando tomam uma dada decisão. Poderia estar
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em causa uma violação do princípio do interesse público, presente no art.4º CPA. Quando se toma
uma decisão em que se não se ponderem todos os interesses, poderá pôr-se em causa o princípio da
imparcialidade consagrado no art. 9º CPA.
4. - Imagine que a Câmara Municipal tinha delegado a competência para decidir licenças de
construção no seu presidente e que este, por sua vez, optara por delegar esta mesma competência
no Vereador responsável pelo pelouro do urbanismo. Identifique as normas de habilitação e os
requisitos de que depende a validade e a eficácia destes atos.
Temos normas do CPA que correspondem a normas habilitantes. Basta existirem estas
normas para que depois possam ser praticados atos de delegação de poderes.
Para os atos de delegação de poderes poderem ser efetuados, tem, em primeiro lugar, de
existir uma norma habilitante (primeiro pressuposto de validade e eficácia dos atos)- art. 44º, nº 1
CPA. Quando não há norma habilitante, a consequência é a nulidade, porque consiste numa renúncia
às competências (art. 36º). Segundo o art.34 nº1 da Lei 75/2013 de 12 de setembro, a Câmara pode
delegar as suas competências ao Presidente. Há também normas habilitantes presentes no CPA, no
art.34º nº 3 e 4. A norma habilitante do Presidente para o Vereador está presente no art.36 nº2 da
Lei 75/2013 (norma habilitante especial) e também no art.44 nº3 do CPA (norma habilitante
genérica). Quando um ato é praticado sem a existência de uma norma habilitante, a consequência é
a nulidade, porque consiste numa renúncia às competências (art. 36º CPA).
EM SUMA:
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1 - Existir norma habilitante (Art. 41º, nº 1) -> quando não há norma habilitante, a
consequência é a nulidade, pois, no fundo, o que se verifica é uma recusa das competências (Art.
36º)
2 - Existir dois sujeitos (delegante e delegado - Art. 44º, nº 1) -> quando isto não existe, a
consequência é a anulabilidade
3 - existir um ato de delegação de poderes com menção expressa das competências que são
delegadas (Artº 47º, nº 1) -> nulidade (verificar se há um esvaziamento total das competências) ou
anulabilidade
4 - publicação do ato de delegação de poderes (Art. 47 nº 2, Art. 159º e Art. 151º) ->
ineficácia (Art. 158º, nº 2)
1º- Existência da norma habilitante- art. 44 nº1 Nulidade- art. 36º CPA.
CPA.
Caso prático nº 10
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1 – É garantido o direito de asilo aos estrangeiros e aos apátridas perseguidos ou gravemente
ameaçados de perseguição, em consequência de atividade exerci da no Estado da sua
nacionalidade ou da sua residência habitual em favor da democracia, da libertação social e
nacional, da paz entre os povos, da liberdade e dos direitos da pessoa humana.
2 – Têm ainda direito à concessão de asilo os estrangeiros e os apátridas que, receando com
fundamento ser perseguidos em virtude da sua raça, religião, nacionalidade, opiniões políticas ou
integração em certo grupo social, não possam ou, por esse receio, não queiram voltar ao Estado da
sua nacionalidade ou da sua residência habitual.
Fundado nesta lei, Antoine requereu a concessão de direito de asilo ao órgão competente,
alegando e provando que é militante de um partido de oposição à maioria governamental do
Estado X e que tinha participado numa grande manifestação contra o Governo, na sequência da
qual viria a ser preso. Sucede que, aquando da transferência para outra prisão, conseguiu fugir.
O Diretor Nacional do SEF recusou a concessão do asilo por entender não estar verificado um
pressuposto da lei: o receio, com fundamento, de ser perseguido em virtude de opiniões políticas.
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2. e 3. - Imagine que, em consequência da recusa de asilo, Antoine foi notificado de uma decisão de
expulsão do território nacional, adotada pelo diretor nacional-adjunto do SEF, ao abrigo de uma
delegação de competências do diretor nacional.
Sob o prisma das relações jurídicas no interior da Administração, poderia o diretor nacional-
adjunto ter adotado esta decisão? Tenha em atenção que a competência para proferir decisões de
expulsão administrativa se encontra conferida ao diretor nacional do SEF na alínea h) do nº 2 do
artigo 13º do Decreto-Lei nº 252/2000, de 16 de outubro (alterado, por último, pelo Decreto-Lei nº
240/2012, de 6 de novembro) e que os nº 3 e nº 4 deste artigo dispõem o seguinte:
Por sua vez, o nº 2 do artigo 14º dispõe que “o diretor nacional designará o diretor nacional
adjunto, que o substituirá nas suas faltas e impedimentos”.
Tendo o ato de delegação de poderes sido efetuado sem norma habilitante, e equiparando-o
a uma renúncia das competências, a consequência jurídica associada a este vício é a nulidade, nos
termos do art. 36 nº 2 CPA. Está em causa uma competência própria e reservada ao Diretor Nacional,
logo, só aquele Diretor Nacional em concreto é que pode convocar aquele tipo de atos. A norma do
nº 4 do art. 13º derroga então a norma do art. 13 nº 3.
Uma coisa é o ato de delegação de poderes (no qual se pode exercer determinada
competência e decidir delegá-la a outro membro), que tem um regime jurídico próprio. Outra coisa é
a suplência, que, neste caso, tem uma norma concreta, no art. 14 nº2, mas também existe no CPA no
art. 42º. A suplência prevê um substituto para o exercício destas competências - neste caso, o Diretor
Nacional Adjunto.
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4. Suponha agora que, ao abrigo de uma delegação de competências válida, o diretor nacional
adjunto proferiu uma decisão de inscrição de Antoine na lista nacional de pessoas não admissíveis.
Poderia Antoine impugnar esta decisão junto do diretor nacional do SEF? E do diretor
nacional-adjunto?
Sendo o ato praticado pelo Diretor Nacional-adjunto, Antoine poderia dirigir-se junto do
Diretor Nacional, segundo os arts. 191º e 192º do CPA, apresentando uma reclamação. Quando os
atos são aplicados ao abrigo de delegações de competências, a relação hierárquica não se aplica,
porque ficam os dois sujeitos jurídicos equiparados (ambos podem praticar esse ato). Logo, não é
possível o recurso hierárquico, mas existe a possibilidade de haver recursos administrativos especiais
(art. 199º CPA), tendo a lei de os prever expressamente. Em suma, no caso da prática de atos no
âmbito da delegação de competências, ou se recorre à reclamação ou aos recursos administrativos
especiais, que têm de estar expressamente previstos.
Uma vez que esta decisão é feita com base numa delegação de competências válida, a maior
parte da doutrina entende que é como se o delegado e o delegante estivessem equiparados em
relação ao exercício daquela competência específica, pelo que deixa de haver uma relação de
hierarquia quanto ao exercício daquela competência em específico, assim deixa de ser possível
utilizar a figura do recurso hierárquico, e devemos servir-nos, antes, dos recursos administrativos
especiais previstos no Art. 199º CPA.
Importa acrescentar que os recursos administrativos especiais devem vir expressamente
previstos na lei e, caso não venham, então não há possibilidade de recorrer.
Caso prático nº 11
Ato de delegação de poderes: exemplos
Elabore um ato de delegação de poderes que cumpra com todos os requisitos legalmente previstos.
* Devem ser referidos os nomes completos dos dois sujeitos, uma vez que se trata de uma relação
intuito personae, pois é para esta relação, com estas pessoas em específico;
* O documento deve ser datado e assinado.
41
A ministra da justiça quer delegar num secretário de estado adjunto a competência para nomear
os membros do júri que integrarão o curso de formação de magistrados.
Em conformidade com o art. 44º do CPA, em especial o art. 44º, nº 3 do CPA, a Ministra da
Justiça, (nome da Ministra) delega as suas competências ao Secretário de Estado adjunto (nome do
Secretário), no âmbito da nomeação dos membros do júri que integrarão o curso de formação de
magistrados. Esta competência pertence à Ministra da Justiça, segundo o art. 2º, nº 1 / h) do DL nº
123/2011 de 29 de dezembro (por norma, basta invocar a própria lei orgânica do Governo).
Este ato deverá ser publicado, no prazo de 30 dias, no Diário da República, nos termos do art.
159º e do art. 47º, nº2 do CPA, sob pena de ineficácia (art. 158º, nº2 CPA).
(Local, data e assinatura da Ministra de Justiça)
Caso prático nº 12
O Presidente do órgão colegial “ABC”, constituído por 7 membros com direito de voto, procedeu à
convocação de uma reunião, de periodicidade semanal, para o dia 7 de fevereiro de 2020, às 9h30,
na “sala de reuniões” e da ordem do dia constavam os seguintes pontos:
Que lhe apraz dizer sobre a validade e eficácia desta deliberação, sabendo que:
42
que os quóruns não foram cumpridos, a consequência legal é a nulidade, com regime expressamente
previsto na lei, no art. 161º nº2/ h), segunda parte, do CPA. A nulidade é invocada a todo o tempo
por qualquer interessado (art. 162º, nº 2 CPA), não produzindo o ato nulo os seus efeitos jurídicos
(art. 162º, nº 1 CPA).
b) A votação foi nominal. As votações são nominais, ou seja, feitas de forma pública, e o art.
27º, nº 1 do CPA consagra a regra de que as reuniões não são públicas, mas os membros que reúnem
expressam a sua vontade publicamente. Contudo, segundo o art. 31º, nº 2 do CPA, há uma exceção
em relação à deliberação de forma nominal, devendo as votações proceder de forma secreta. Na
dúvida, segundo o CPA, deve ser feita a votação secreta.
Assim, no caso concreto, as deliberações enunciadas nas alíneas a) e b) podiam estar sujeitas
a votação nominal, mas a deliberação constante da alínea c) já deveria ser votada por “escrutínio
secreto” (como refere o art. 31º, nº 2 do CPA), na medida em que se relacionava com
comportamentos adotados por um membro do órgão colegial “ABC” - Benilde.
c) Benilde participou e votou. Nos termos do art. 31º, nº 4 do CPA, Benilde poderia votar
relativamente às duas primeiras deliberações, mas não poderia votar na última deliberação, pois esta
era efetuada acerca de um comportamento seu. Benilde encontrava-se, então, impedido de votar na
última deliberação, à luz das garantias de imparcialidade do procedimento administrativo (estes
impedimentos constam dos artigos 69º e seguintes do CPA, e neste caso aplica-se o art. 69º, nº1/ a)
).
d) Da reunião não foi lavrada ata. Nos termos do art. 163º do CPA, resulta em
anulabilidade. Em cada reunião deve ser elaborada uma ata que deve conter o resumo de tudo o que
tiver ocorrido na reunião e que seja relevante- tal regra consta do art. 34º do CPA. As atas da reunião
são, então, um espelho de cada reunião. Enquanto não temos ata aprovada, nos termos do art. 34º,
nº6 do CPA, as deliberações aprovadas na reunião não são eficazes (só havendo atas é que as
deliberações podem produzir os seus efeitos jurídicos).
Caso prático nº 13
A Câmara Municipal de Lisboa reúne todas as semanas, com vista à discussão e deliberação sobre
medidas concretas a ser implementadas e relacionadas com o quotidiano do município. O
Presidente agendou uma reunião para o dia 30 de novembro de 2018, às 9h30, na C.M. (na sala
especificamente utilizada para este tipo de reuniões), cuja ordem do dia era composta pelos
seguintes pontos:
“Ponto 1 – obras de manutenção a fazer nas estradas municipais;
Ponto 2 – corte de despesas, designadamente nos apoios de deslocação dos vereadores;
Ponto 3 – reconsideração do n.º de alojamentos locais na Baixa da cidade;
Ponto 4 – ordenar a demolição de prédios em ruínas que coloquem em risco a segurança
das pessoas”.
Importa ainda ter em consideração o seguinte facto: Anacleto é o vogal mais antigo.
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Responda às seguintes questões:
3. O Presidente recusou-se a convocar uma reunião havida como urgente devido a motivos
imperiosos de interesse público (como a segurança pública na circulação dos munícipes numa
estrada em risco de colapso), como deverão proceder os membros do órgão colegial? Em que
termos e em que prazo?
É-nos dito, neste caso, que o Presidente se recusou a convocar uma reunião tida como
urgente, não estando essa reunião prevista. Tem de se aplicar aqui o regime das sessões
extraordinárias da Câmara Municipal, previsto no art. 41º da Lei nº 75/2013.
As reuniões extraordinárias podem ser invocadas pelo Presidente ou por requerimento de
pelo menos um terço dos respectivos membros (resulta isto do art. 41º, nº 1 da referida lei).
Portanto, os membros do órgão teriam de apresentar requerimento para marcar a tal reunião dada
como urgente.
Segundo o art. 41º, nº4 da Lei 75/2013 de 12 de setembro, quando o Presidente não efetuar
a convocação da reunião que lhe foi solicitada, podem os requerentes (os membros do órgão
colegial) convocar diretamente a reunião no prazo de 8 dias, sendo a convocação publicitada nos
locais habituais.
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Esta mesma ideia resulta do CPA, mais concretamente do seu artigo 24º, nº 4 e 5.
4. A ordem do dia da reunião foi entregue aos membros do órgão colegial no dia 29 de novembro.
Quid iuris?
Na Lei nº 75/2013 de 12 de setembro está previsto que a ordem do dia deve ser entregue a
todos os membros do órgão com antecedência mínima de dois dias, enviando-lhes, em simultâneo, a
respetiva documentação (art. 53º, nº 2 da respetiva lei).
Quando há situações deste tipo, relativas à convocação ilegal de sessões, gera-se a sua
ilegalidade (art. 51º Lei 75/2013). Por norma, o incumprimento destas normas leva à anulabilidade,
havendo apenas duas exceções: quando as deliberações são tomadas de modo tumultuoso ou
quando não são observados os quóruns (nestes casos, há nulidade).
Há forma de sanar estas situações: se todos os membros do órgão comparecerem na reunião
e se ninguém suscitar oposição à sua realização (art. 51º Lei 75/2013).
A mesma coisa existe no art. 25º do CPA - a ordem do dia deve ser entregue, com a mesma
antecedência de 48 horas (o mesmo que os dois dias referidos na Lei 75/2013). A sanação também
está prevista no art. 28º do CPA.
5. Se, em 27 de novembro, Gastão (vogal) tiver solicitado oralmente ao Presidente que incluísse
mais um ponto da ordem do dia, poderia este ser discutido e votado pelo órgão colegial?
A ordem do dia tem de incluir os assuntos indicados pelos membros do respetivo órgão,
desde que sejam da competência deste, e o pedido que tem de ser apresentado por escrito, até 5
dias úteis sobre a data da sessão ou reunião no caso das reuniões ordinárias e até oito dias úteis obre
a data da sessão ou reunião no caso de reuniões extraordinárias (art. 53º nº 1 da Lei 75/2013 de 12
de setembro).
No entanto, há uma exceção presente no art. 50º nº2 da Lei 75/2013 de 12 de setembro-
quando estivermos perante sessões ordinárias, e no caso de urgência reconhecida por dois terços do
órgão, então poderão ser votados assuntos não incluídos na ordem do dia.
6. Miguel (vogal) participou na reunião mas por via telemática. Podia tê-lo feito dessa forma?
O legislador antecipou a possibilidade de se realizarem reuniões telematicamente, desde que
as condições técnicas o permitam e devendo também constar da ata que a reunião foi realizada
dessa forma (art. 24º-A CPA). Da mesma forma, também devem, segundo os artigos 23º, nº 1 e 24º,
nº 4, estar indicados os meios telemáticos disponibilizados para a participação dos membros na
reunião.
Esta possibilidade resultou da situação pandémica que se viveu no início desta década, na
sequência da qual se fez um aditamento ao CPA, através da Lei nº 72/2020.
7. Sabendo que são dez os membros deste órgão colegial, com direito a voto e, que a deliberação
relativa ao ponto 3 foi adotada apenas por três membros que tinham chegado a “horas” à reunião
e que estavam presentes, que lhe apraz dizer sobre a deliberação tomada?
Se a reunião tinha de acontecer às 9h30 da manhã, não estava preenchido o quórum de
funcionamento (art. 54º, nº 1 Lei nº 75/2013), de maioria do número de pessoas, tendo de estar
pelo menos 6 pessoas. Isto está também previsto no art. 29º do CPA. O que se devia ter feito ao
invés de realizar a reunião, o presidente designa outro dia para nova sessão (art. 54º, nº 3 Lei
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75/2013). Nesse caso, na segunda convocatória a maioria passaria a ⅓ dos membros (menos
exigente) - art. 29º, nº 3 CPA.
Seria ilegal convocar a reunião, tendo como consequência a nulidade, visto que consiste
numa das exceções, presente no art. 61º, nº 2/ h) da segunda parte do CPA.
8. Os membros do órgão colegial aproveitaram a presente reunião e decidiram aprovar mais dois
assuntos que não constavam da “ordem do dia”, sendo que um deles era relativo à reconstrução
urgente de um troço de estrada que havia colapsado junto de uma mina. Podem?
Se cumprirem os requisitos do art. 50º, nº 2 da Lei nº 75/2013, podem. De acordo com o
referido artigo, tratando-se de uma sessão ordinária de órgão deliberativo e no caso de urgência
reconhecida por dois terços dos seus membros, pode o mesmo deliberar sobre assuntos não
incluídos na ordem do dia.
9. Um dos vogais e outro membro do órgão colegial discutiram sobre o ponto 4 da ordem de
trabalhos e a dada altura envolveram-se em agressões físicas, às quais os outros membros se 14
juntaram, tendo sido chamada a PSP ao local. Pronuncie-se sobre a validade da deliberação
adotada nestes termos e ainda sobre a validade das deliberações que tinham sido entretanto
tomadas, relativas aos “pontos 1, 2 e 3” da ordem de trabalhos.
Uma das exceções implica a nulidade quando as decisões tiverem sido tomadas
tumultuosamente - art. 161º, nº 2/ h) do CPA. Se apenas se geraram os tumultos no momento em
que se começou a discutir o ponto 4, tudo o que aconteceu antes era válido, havendo apenas
problema quanto à deliberação do ponto 4. No entanto, se esses tumultos já existiam previamente,
isso também afetaria a validade das outras decisões.
10. A ata da reunião não chegou a ser aprovada pelos respetivos membros, quais as implicações
jurídicas desse facto nas respetivas deliberações?
Diz o art. 57º, nº 4 da Lei nº 75/2013 que as deliberações dos órgãos só adquirem eficácia
depois de aprovadas e assinadas as respetivas atas ou depois de assinadas as minutas, nos termos
dos números anteriores. Até lá, as deliberações são ineficazes, nos termos do art. 57º, nº 4 e do art.
34º, nº 6 do CPA.
11. Nenhum membro presente aprovou o “ponto 4.” da ordem do dia e um dos prédios em risco de
derrocada colapsou e caiu em cima de doze turistas (cinco dos quais morreram, outros sete em
risco de vida), destruiu o prédio adjacente que tinha uma loja instalada no r/c que era explorada
por uma família que obtinha dessa atividade o seu sustento, bem como, dois automóveis que ali
passavam. Que lhe apraz dizer sobre esta situação?
Temos uma situação de responsabilidade civil extracontratual por omissão, porque havia
prédios em risco de derrocada e, apesar de isto ter sido identificado, os membros dos órgãos não
aprovaram resolver esta situação. Os factos podem constituir uma ação ou uma omissão, e neste
caso há uma omissão ilícita do órgão da autarquia local da Câmara municipal.
Estão verificados os pressupostos: existir um ato voluntário (omissão), uma ilicitude, danos
(patrimoniais e danos não patrimoniais), nexo de causalidade (foi por causa do prédio ter colapsado
que se geraram estes danos), e culpa. Tinha de se olhar para a Lei nº 67/2007 de 31 de dezembro,
em especial o art. 7º e seguintes da mesma.
46
Dentro dos danos temos os danos patrimoniais e os danos não patrimoniais. Dentro dos
danos patrimoniais têm-se os danos emergentes (como a destruição da loja, a destruição das
viaturas, as despesas médias tidas no hospital) e os lucros cessantes (rendimentos que os
comerciantes deixaram de ter). Dentro dos danos não patrimoniais tem-se a indemnização pela
morte das vítimas e para as pessoas que, apesar de ainda não terem falecido, tiveram a sua
integridade física colocada em causa.
12. O membro do órgão colegial, Miguel, absteve-se na tomada de posição sobre o “ponto 4.”.
Quid iuris?
Tendo em conta o art. 30º do CPA, é proibida a abstenção aos membros dos órgãos
consultivos e aos dos órgãos deliberativos, quando no exercício de funções consultivas.
O Miguel, para ser excluído de responsabilidade, tinha de ter votado a favor da demolição
dos prédios em segurança e registado o seu voto vencido na ata - art. 58º da Lei 75/2013. A mesma
coisa também é dita do art. 35º do CPA.
13. Perante a existência de “empate” na votação sobre o “ponto 1.” da ordem do dia, como deverá
o órgão colegial proceder?
Segundo o art. 54º, nº 2 da Lei nº 75/2013, com remissão para o art. 55º, nº2, a regra é de
que as deliberações são tomadas à pluralidade de votos, tendo o presidente voto de qualidade em
caso de empate, para apuramento da maioria (sendo o último a votar).
NOTA: O CPA prevê o voto de qualidade e o voto de desempate, sendo estes diferentes. No
voto de qualidade temos uma votação inicial, onde todos os membros do órgão votam, incluindo o
presidente, sendo o presidente também chamado a votar em caso de empate. No voto de
desempate, na votação inicial o presidente não vota, e só é chamado a votar em caso de empate -
isto está presente no art. 33º, nº1 CPA.
14. Sabendo que o Presidente – que se encontrava doente – regressa e toma conhecimento de que
a reunião foi realizada no café em frente da Câmara Municipal, às 16h00, como deverá ele reagir e
em que termos?
O Presidente, tendo tomado conhecimento, pode reagir judicialmente contra deliberações
tomadas pelo órgão a que preside, impugnando as deliberações que o seu próprio órgão adotou, se
as considerar ilegais - art. 21º, nº4 CPA.
Caso prático nº 14
Considere o seguinte: a transportadora de cargas pesadas Lda. deseja propor uma ação contra o
Município de Penafiel, com vista a obter uma indemnização por danos causados a um veículo
automóvel pesado de mercadorias, de que é proprietária. Para tal, invoca que o dano que ocorreu
quando o veículo passava na ponte sobre a Ribeira da Camba (rede viária municipal) se ficou a
dever à falta de obras de manutenção e à ausência de sinalização proibitiva de circulação naquela
47
via. Em consequência do acidente, o veículo ficou parcialmente destruído, resultando a sua
imobilização por 10 dias. Quid iuris?
Caso prático nº 15
António e Maria, em representação da sua filha menor, Beatriz, pretendem instaurar uma ação
administrativa, pedindo a condenação do Ministério da Saúde, da Administração Regional de
Saúde do Norte (ARS Norte), do Centro Hospital do Tâmega e Sousa, E.P.E., do Centro de Saúde
Penafiel e do Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge ao pagamento da quantia de 100.00.00 euros, a
título de danos patrimoniais e não patrimoniais, acrescida de juros de mora. Para tal, invocam o
seguinte:
a. Beatriz nasceu no dia 10 de janeiro de 2020, no Centro Hospital do Tâmega e Sousa, E.P.E., tendo
realizado o “teste do pezinho” no Centro de Saúde Penafiel/Termas de São Vicente. No entanto,
como não receberam nenhuma comunicação nos 30 dias seguintes, pressupuseram não existir
qualquer problema genético com Beatriz.
b. A 20 de março de 2020, Beatriz foi hospitalizada no Hospital de São João, no Porto, aí sendo-lhe
diagnosticado hipotiroidismo congénito, que deveria ter sido detetado pelo Instituto Dr. Ricardo
Jorge através da análise do “teste do pezinho”, permitindo, assim, um tratamento antecipado
eficaz, evitando sofrimento e mazelas.
c. Toda a situação se deve a uma violação legal, por omissão, já que o “teste do pezinho” de
Beatriz ou não foi entregue ou nem sequer foi enviado para o Instituto Dr. Ricardo Jorge.
13
A Lei nº 67/2007, de 31 de dezembro, estabelece o Regime da Responsabilidade Civil Extracontratual do Estado e
Demais Entidades Públicas.
48
d. Consideram que tanto o Ministério da Saúde, como a ARS Norte e o Centro Hospitalar do
Tâmega e Sousa são os responsáveis pela emanação de diretivas e ordens para o Centro de Saúde,
sendo que este, por sua vez, tinha a obrigação funcional de enviar a recolhe de sangue para o
Instituto Dr. Ricardo Jorge. Se o Instituto recebeu a recolha de sangue de Beatriz, deveria ter
comunicado os seus resultados aos pais no prazo de 48h, o que não sucedeu.
Por seu turno, o Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge entende que, se não há registo da entrada do
“teste do pezinho” de Beatriz, é porque o ofício, mesmo que tenha sido enviado pelo Centro de
Saúde, nunca chegou ao Instituto, pelo que este não tem qualquer responsabilidade pela perda de
correspondência pelos CTT, nem sequer pelo facto de o Centro de Saúde não ter procedimentos
internos para aferir se os resultados dos testes são efetivamente recebidos pelo Instituto.
Analise a situação descrita à luz do atual Regime Jurídico da Responsabilidade Civil do Estado e
demais entidades públicas.
No âmbito dos hospitais públicos, tem-se entendido que não há contrato, mas sim uma
prestação de bens públicos. Logo, a situação deve ser vista à luz da responsabilidade civil
extracontratual pelo exercício da função administrativa (os hospitais públicos são pessoas coletivas
públicas).
Estamos perante um caso de responsabilidade por factos ilícitos, neste caso, devido a um
funcionamento anormal do serviço – art. 7º, nº 3 e 4 do Regime Jurídico da Responsabilidade Civil
do Estado (Lei nº 67/2007, de 31 de dezembro). Entendeu-se que se trata de uma violação por
omissão de atos regulamentares. O funcionamento anormal ficou a dever-se à fragilidade do
procedimento de envio do teste, pelo que podemos concluir que houve má administração. Temos, na
mesma, de verificar os pressupostos. Por força do art. 9º da Lei nº 67/2007, a ofensa de direitos ou
de interesses legalmente protegidos provocada pelo funcionamento anormal do serviço leva a que se
considere que a responsabilidade gerada advenha de factos ilícitos.
No âmbito deste caso, tendo em conta que há entidades que intervêm, dedicadas ao
exercício de atividades especialmente perigosas (a medicina mal praticada é capaz de provocar
grandes danos ao bem-estar físico e mental do indivíduo), também convém considerar a
responsabilidade pelo risco, prevista no art. 11º do regime referido acima. A única diferença entre
esta e a responsabilidade por factos ilícitos é que na responsabilidade pelo risco não existe aferição
da culpa. A indemnização pelo sacrifício ainda é mais específica. Nestes casos, a atuação em si pode
ser lícita, mas gerar demasiados danos aos lesados. Ou seja, não está aqui em causa a licitude ou
ilicitude da atuação.
Caso prático nº 16
Princípios gerais da atividade administrativa - artigos 3º a 19º CPA + artigos 22º e 266º CRP:
definições
António Silva, particular, foi notificado por parte da Câmara Municipal Y da área da sua residência,
da decisão de expropriar 85% do seu imóvel rústico, do qual obtinha o seu sustento económico
49
(produção de culturas hortícolas e uma vacaria), ficando apenas com uma parcela de terreno onde
está instalada a sua moradia de habitação. A notificação tinha o seguinte conteúdo:
“António Silva fica, a partir desta data, para os devidos efeitos legais, informado que a Câmara
Municipal Y irá proceder no próximo dia 5 de fevereiro de 2019 à expropriação do seu terreno para
fins de utilidade pública, em 2 hectares, com vista à construção de uma autoestrada necessária ao
desenvolvimento do município. Queira colaborar com os funcionários neste sentido. Data.
Assinatura”.
Indique, de forma direta, nas hipóteses práticas, os princípios gerais estruturantes da atividade
administrativa, que são desrespeitados com a concreta atuação da Administração Pública:
1. Mais nenhum vizinho de António, cujos terrenos estavam inutilizados e “abandonados”, sem
qualquer cultura agrícola ou exploração animal, foram objeto de semelhante decisão.
Poderia estar em causa uma situação relacionada com o princípio da igualdade, art. 6º CPA,
artigo esse que acaba por reproduzir o que se encontra previsto no art. 13º CRP, segundo o qual a
administração não pode proceder a decisões arbitrárias que, no âmbito das suas relações com os
particulares, os beneficiem ou prejudiquem com base em fatores que não sejam objetivos. Torna-se,
assim, proibido que a administração adote medidas com base em fatores discriminatórios14, dos
quais resulte a privação de um particular de algum direito ou a sua isenção de qualquer dever.
Estamos perante um caso de expropriação – uma grande parte do terreno de António Silva é
expropriado pela Câmara Municipal Y da área de onde era residente, com vista à construção de uma
autoestrada tida como necessária ao desenvolvimento daquele município. Daqui advém prejuízo
para António, pois era desse terreno que obtinha o seu sustento económico: o terreno incluía uma
vacaria e era usado para a produção de culturas hortícolas, sendo que, com a expropriação, António
perde tudo isso e fica apenas com uma parcela do mesmo terreno, parcela essa onde se localiza a
sua moradia de habitação.
Ora, o facto de os vizinhos de António não serem alvo de uma decisão semelhante, apesar de
também serem titulares de terrenos de que nem sequer usufruem para qualquer tipo de fim, poderá
suscitar dúvidas quanto ao respeito pelo princípio da igualdade no âmbito da decisão de
expropriação do terreno de António.
2. A autoestrada não necessitava de passar pelo terreno de António e, ainda que passasse, era
suficiente expropriar 5% da propriedade deste particular.
14
Constituem fatores discriminatórios os enumerados no art. 6º CPA, a saber: ascendência, sexo, raça, língua, território de
origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.
50
O princípio da proporcionalidade tem, então, 3 vertentes: a adequação, a necessidade e a
proporcionalidade em sentido estrito. Na situação descrita, acontece que não há nem necessidade
nem adequação da atuação administrativa na sua decisão de expropriar aquela parcela do terreno de
António, dado que, por um lado, não era realmente essencial que aquela autoestrada atravessasse o
terreno de António e, por outro, apenas seria necessário, se a autoestrada atravessasse o terreno,
expropriar 5% do mesmo.
Por fim, estamos também perante uma violação do princípio da legalidade, pois os regimes
das expropriações estão previstos na lei em concreto – DL nº 555/99, de 16 de dezembro15 -, que
não permite que as expropriações possam ir para além daquilo que é considerado proporcional.
Neste caso, estará em causa o princípio da imparcialidade, consagrado no art. 9º CPA, bem
como no art. 262º, nº 2 CRP. Este princípio é concretizado através das garantias da imparcialidade,
previstas nos artigos 69º a 76º CPA.
Por outro lado, quando é o próprio titular a pedir dispensa de intervir no procedimento,
considera-se que há escusa; quando é terceiro, o terceiro deduziu suspeição contra aquele
funcionário/agente administrativo.
Neste caso tínhamos uma situação de suspeição. De facto, a alínea b) do art. 73º, nº 1 CPA
considera como fundamento da suspeição a existência de uma relação de credor e devedor entre o
titular do órgão da Administração Pública e qualquer pessoa singular com interesse direto no
procedimento (é o que se crê que acontece no caso, dado que o Presidente da Câmara e António
estavam ambos envolvidos num “processo judicial litigioso de cobrança de dívidas”). A isto acresce a
alínea d), que também prevê como possível fundamento da suspeição a existência de inimizade
grave entre o titular do órgão e a pessoa com interesse direto no procedimento, e a alínea e) do
mesmo artigo, segundo a qual constitui fundamento de suspeição a existência de ação em juízo
pendente que oponha as duas partes.
15
Estabelece o Regime Jurídico da Urbanização e da Edificação.
51
Por isso, no caso em apreço, havia razões para duvidar da imparcialidade do Presidente da
Câmara Municipal, quando atua no âmbito da expropriação do terreno de António.
4. Através da expropriação do seu terreno, realizada de forma abusiva, o particular António viu-se
privado da sua principal fonte de rendimentos, o que lhe causou prejuízos patrimoniais avultados.
António pretende ser ressarcido pela Administração Pública, mediante uma justa indemnização.
Aqui está em causa o princípio da responsabilidade, que se encontra consagrado nos artigos
16º CPA e 22º CRP), sendo também densificado na Lei nº 67/2007, de 31 de dezembro. Diz-nos este
princípio que o Estado e as demais entidades públicas são civilmente responsáveis por atos e
omissões praticados no exercício e por causa das suas funções, desde que daí resultem prejuízos e
também uma violação de direitos para os particulares. Sempre que um direito subjetivo ou um
interesse legalmente protegido seja desrespeitado e daí resulte um prejuízo patrimonial ou não
patrimonial, isso gera na esfera jurídica do interessado o direito a ser ressarcido, com o objetivo de o
mesmo ser colocado na posição em que se encontraria se aquela lesão não tivesse eventualmente
ocorrido.
É de notar que, nos últimos tempos, a doutrina tem dado enfoque, não tanto ao princípio da
legalidade, mas mais ao princípio da juridicidade, pois não só a administração tem de cumprir com as
normas constantes de atos legislativos, mas também de normas que não constem de atos
legislativos. O princípio da juridicidade vê o direito numa perspetiva mais global, não apenas
centrada nos atos legislativos previstos no art. 112º CRP.
Caso prático nº 17
52
1. Poderá o membro do júri, José Silva, ter intervenção neste concreto procedimento
administrativo? Fundamente a sua resposta, dando o esclarecimento explícito dos seguintes
aspetos pertinentes:
– Caso não cumpra as regras constantes do CPA, sobre esta matéria, que consequências
poderão advir para si e para a decisão final do procedimento?
Por força do princípio da imparcialidade, não poderia José Silva ter intervenção neste
concreto procedimento administrativo, conforme decorre do art. 9º CPA e dos artigos referentes às
garantias da imparcialidade. A situação referida encaixa no art. 69º, nº 1, b) CPA, pelo que estamos
perante um caso de impedimento. O impedimento é um dos casos mais graves previstos pelo
legislador, o que leva a que se proíba automaticamente por lei a intervenção do titular do órgão
administrativo no procedimento.
Neste caso, José, tendo consciência de que Alberto tinha concorrido àquela vaga, deveria
retirar-se do caso. Logo que tenha noção de que está perante uma situação deste tipo, o que tem de
fazer é comunicar o facto ao seu superior hierárquico ou ao presidente do órgão colegial. Neste caso,
sendo o órgão o júri, José deveria comunicar a situação ao presidente do júri.
Mal comunica, fica logo suspenso de intervir no procedimento, nos termos do art. 71º, nº 1
CPA (a não ser que haja necessidade de tomar medidas inadiáveis em caso de urgência ou perigo).
Caso José não cumprisse com estas regras, poderia estar sujeito a responsabilidade
disciplinar, nos termos do art. 76º, nº 2 CPA. Cumpre, finalmente, dizer que o art. 76º, nº 1 CPA
estabelece, como consequência para atos ou contratos em que tenham intervindo titulares
impedidos, a anulabilidade.
2. Tendo em consideração que: a) José Silva manteve-se como membro do júri do citado
“procedimento administrativo de recrutamento e de seleção”; b) Francisco é excluído e toma
conhecimento que o candidato escolhido é Alberto, enteado de José Silva. Como deverá o
interessado Francisco proceder e junto de que “entidade administrativa”, atendendo ao regime
previsto nos artigos 69.º 76.º do CPA?
Francisco poderia recorrer junto do Presidente do órgão. Neste caso, pode-se aplicar o art.
199º, nº 1, b) CPA. Francisco recorreria, invocando a situação, e poderia fazê-lo nesta fase
administrativa, anulando administrativamente o ato. No limite, se a apresentação do recurso não
funcionasse, Francisco poderia alegar esta situação em termos contenciosos junto dos tribunais.
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3. O candidato Eduardo ofereceu uma caneta de ouro ao presidente do júri e é facto conhecido por
toda a comunidade, que este é devedor daquele. Perante este circunstancialismo, como deverá o
júri proceder.
O caso enquadra-se no âmbito do art. 73º CPA (alínea c) – houve dádivas recebidas pelo
titular do órgão), sendo, por isso, um caso de suspeição. Aqui aplica-se também a alínea b), dado
estarmos perante uma relação entre credor e devedor. Estas circunstâncias poderiam levar a que
recaísse sobre o presidente do júri uma situação em que este estivesse obrigado a pedir dispensa de
intervir no procedimento (ou podiam também terceiros fazê-lo). Da mesma forma, estes pedidos de
escusa ou deduções de suspeição também têm de ser sempre formulados logo que haja
conhecimento destas circunstâncias, devendo ser comunicada a situação ao órgão competente.
Esta decisão sobre se recai ou não uma situação de escusa teria de ser proferida no prazo de
8 dias, aplicando-se na mesma o que está previsto no art. 71º e 72º CPA. Nos casos de suspeição, o
órgão colegial poderia concluir que não havia razão para duvidar da imparcialidade. Contudo, se
concluir que há razão para essa dúvida, o art. 72º CPA prevê a substituição imediata do titular do
órgão pelo seu suplente. Quando essa substituição não é possível, o órgão funciona sem o membro
afastado do procedimento – art. 72º, nº 2 do CPA.
De notar que, nos termos do art. 76º, nº 4 CPA, “a falta ou decisão negativa sobre a dedução
da suspeição não prejudica a invocação da anulabilidade dos atos praticados ou dos contratos
celebrados, quando do conjunto das circunstâncias do caso concreto resulte a razoabilidade de
dúvida séria sobre a imparcialidade da atuação do órgão, revelada na direção do procedimento, na
prática de atos preparatórios relevantes para o sentido da decisão ou na própria tomada da decisão”.
Quer isto dizer que o terceiro particular interessado até poderia deduzir uma suspeição contra o
presidente do júri, mas poderia o órgão colegial entender que não haveria qualquer situação que
colocasse em causa a imparcialidade. No entanto, não é pelo facto de haver uma decisão negativa ou
de não existir decisão que um interessado fica proibido de alegar outra vez esta situação.
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