Você está na página 1de 56

Olá, pessoal! Tudo bem?

Aqui é Ricardo Torques, coordenador do Estratégia Carreira Jurídica e do


Estratégia OAB. Além disso, sou professor de Direito Processual Civil, Direito
Eleitoral e Direitos Humanos.

Instagram: www.instagram.com/proftorques

E-mail da coordenação: ecj@estrategiaconcursos.com.br

Em nome dos nossos professores, gostaria de lhes apresentar o e-book "Resumo Completo de Fazenda
Pública em Juízo e Caderno de Entendimentos para a AGU". Elaborado com muito carinho e cuidado por
nós, você terá em suas mãos um conteúdo relevante para o concurso.

⚠ Aproveito, ainda, para dar um aviso importante: o ano de 2023 está para começar e nós temos mais de
3 mil vagas de concursos jurídicos esperando por você. Pensando nisso, o Estratégia está preparando uma
surpresa (🎁) para o dia 02/01, às 10h. Além de mais de 200 horas de conteúdo jurídico gratuito, estamos
com várias novidades para apresentar.

Anote na agenda: 02/01/2023, às 10h.

Para ficar por dentro de tudo, garanta acesso antecipado às nossas Listas VIP no WhatsApp e Telegram. É só
clicar nos botões abaixo:

Vamos mantê-los informados em primeira mão!

Grande abraço,

Ricardo Torques
Sumário
Resumo Completo de Aspectos de Direito Processual Civil aplicados à Fazenda Pública ................................ 4

Fazenda Pública em Juízo – Parte I ................................................................................................................ 4

Fazenda Pública em Juízo – Parte II ............................................................................................................... 6

Responsabilidade Civil do Estado ................................................................................................................... 8

Tutela Provisória contra fazenda pública e Reclamação Constitucional ..................................................... 12

Execução Fiscal ............................................................................................................................................. 15

Execução Contra a Fazenda Pública e Precatórios....................................................................................... 18

Ação Popular ................................................................................................................................................ 21

Mandado de Segurança ............................................................................................................................... 23

Desapropriação ............................................................................................................................................ 28

Juizados Especiais da Fazenda Pública......................................................................................................... 30

Juizados Especiais Federais .......................................................................................................................... 31

Ação Civil Pública ......................................................................................................................................... 34

Caderno dos Entendimentos Administrativos da AGU .................................................................................... 38

Súmulas da Advocacia-geral da união ......................................................................................................... 38

SÚMULA Nº 86, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2020 - Direito Administrativo ..................................................................... 39

SÚMULA Nº 85, DE 23 DE JANEIRO DE 2020 - Direito Administrativo ........................................................................... 42

SÚMULA Nº 84, DE 23 DE JANEIRO DE 2020 - Direito Administrativo ........................................................................... 45

Entendimentos jurídicos da Advocacia-geral da união ................................................................................ 47

Tema: Arbitragem ........................................................................................................................................................... 47

A possibilidade de controle judicial da convenção de arbitragem ................................................................................. 47

2
55
3
55
AGU: RESUMO COMPLETO DE FAZENDA PÚBLICA EM
JUÍZO E CADERNO DOS ENTENDIMENTOS
ADMINISTRATIVOS DA AGU
RESUMO COMPLETO DE ASPECTOS DE DIREITO
PROCESSUAL CIVIL APLICADOS À FAZENDA PÚBLICA

FAZENDA PÚBLICA EM JUÍZO – PARTE I


1. A expressão fazenda pública é utilizada para designar as pessoas jurídicas de direito público que
figurem em ações judiciais, mesmo que a demanda não verse sobre matéria estritamente fiscal ou financeira.

2. O antigo CPC disciplinava em seu artigo 188 que a Fazenda Pública teria prazo em quádruplo para
contestar e em dobro para recorrer. Tal dispositivo fora substituído pelo artigo 183 do CPC de 2015 que
estabelece prazo em dobro para todas as manifestações da Fazenda Pública.

3. As empresas públicas e sociedades de economia mista, bem como as fundações públicas de direito
privado não gozam dos privilégios processuais aplicáveis à Fazenda Pública.

4. Exceção à regra, tem-se os Correios, que, segundo decidiu tanto o STJ quanto o STF, em que pese ser
constituída sob a forma de empresa pública, está abrangida dentro do conceito de Fazenda Pública.

5. Em juízo, a Fazenda Pública será representada por seus procuradores judiciais, titulares de cargos
públicos e regularmente inscritos na OAB. Tais procuradores não necessitam de procuração para atuarem,
eis que mantém um vínculo legal com a Administração Pública.

6. Segundo o Supremo Tribunal Federal, a Constituição não assegurou independência funcional ao


advogado público, tal qual o fez para os membros do Ministério Público.

7. Além disso, os Procuradores Estaduais não gozam da garantia de inamovibilidade sendo estes
subordinados hierárquicos do Chefe do Poder Executivo que poderá interferir na sua atuação. Exatamente
por isto, é inconstitucional a norma de Constituição Estadual que atribua autonomia funcional e
administrativa à Procuradoria Estadual.

8. Quanto à presentação judicial das Autarquias e Fundações Públicas. A lei que cria a Autarquia ou a
Fundação Pública deverá estabelecer a responsabilidade pela presentação judicial de cada uma delas.

9. Os órgãos do Poder Legislativo não possuem personalidade jurídica, mas apenas personalidade
judiciária, a qual lhe autorizam atuar em juízo para defender os seus interesses estritamente institucionais:
aqueles relacionados ao funcionamento, autonomia e independência do órgão.

4
55
10. Assim, decidiu o Supremo Tribunal Federal ser constitucional a criação de uma Procuradoria
Legislativa para a defesa dos interesses peculiares que assegurem sua autonomia ou independência frente
aos demais poderes. Possível, portanto, a contratação de advogado público pelo Poder Legislativo para a
defesa de seus interesses institucionais.

11. As prerrogativas processuais aplicáveis à Fazenda Pública justificam-se em razão da discrepância


processual existente entre esta e o particular, inexistindo inconstitucionalidade a respeito do tema. Trata-se
de uma forma de se dar efetividade ao princípio da igualdade, tratando-se de forma desigual os desiguais.

12. Quanto às prerrogativas em espécie, destaca-se os prazos diferenciados (prazo em dobro em todas
as manifestações, conforme disposto no artigo 183, do CPC) e a necessidade de intimação pessoal do
representante da Fazenda Pública (parte final do artigo 183, do CPC).

13. O Código faz, contudo, uma ressalva: Artigo 183, Parágrafo 2º. Não se aplica o benefício da contagem
em dobro quando a lei estabelecer, de forma expressa, prazo próprio para o ente público.

14. Quanto ao protocolo de qualquer petição via fax, ao prazo previsto para juntada dos originais não se
aplica qualquer benefício à Fazenda Pública. Além disso, tal prazo possui início com o fim do prazo processual
que se estava cumprindo, ainda que o protocolo seja realizado bem antes desta data.

15. À Fazenda Pública não se aplica dois benefícios de forma cumulada (prazo em dobro em razão da
posição processual e prazo em dobro em razão de existirem litisconsortes com diferentes procuradores nos
autos), eis que geraria uma injustificável aplicação de prazo em quádruplo, prejudicial à celeridade do
processo.

16. O Supremo Tribunal Federal pacificou o entendimento que não se aplica a contagem de prazos em
dobro no seio de Ações de Controle Concentrado de Constitucionalidade.

17. Sendo ré a Fazenda Pública, e não apresentando contestação, é ela revel. Nesse caso impõe-se
verificar se os efeitos da revelia são produzidos normalmente. (CUNHA, 2017, pg. 91)

18. O efeito processual da revelia aplica-se normalmente à Fazenda Pública, sendo certo que poderá
intervir nos autos a qualquer momento e em qualquer fase, recebendo o processo no estado em que se
encontrar (artigo 346 e parágrafo único, CPC). Não se aplica à Fazenda Pública o efeito material da revelia,
nem é admissível, quanto aos fatos que lhe dizem respeito, a confissão, pois os bens e direitos são
considerados indisponíveis.

19. As custas processuais e emolumentos devidos por qualquer ente da Fazenda Pública apenas serão
pagos ao final do processo pela parte vencida. A Fazenda Pública, quando parte no processo, fica sujeita à
exigência do depósito prévio dos honorários do perito.

20. São dispensados de preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, os recursos interpostos pelo
Ministério Público, pela União, pelo Distrito Federal, pelos Estados, pelos Municípios, e respectivas
autarquias, e pelos que gozam de isenção legal.

21. A Fazenda Pública, em qualquer de suas esferas, está dispensada do depósito prévio para propositura
de Ação Rescisória.

5
55
FAZENDA PÚBLICA EM JUÍZO – PARTE II
1. As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem assim todo e qualquer direito ou ação
contra a Fazenda federal, estadual ou municipal, seja qual for a sua natureza, prescrevem em cinco anos
contados da data do ato ou fato do qual se originarem (Decreto 20.910/32).

2. Segundo entendimento consolidado do STJ:

a) o Decreto 20.910/32 encerra normal especial que deverá prevalecer sobre a norma de caráter geral
(Código Civil) e;

b) o artigo 10 do Decreto 20.910/32 apenas refere-se aos prazos anteriores à sua edição, não contemplando
os prazos posteriores;

3. Assim, o prazo prescricional de cinco anos previsto no Decreto 20.910/32 deve prevalecer mesmo nas
demandas de responsabilidade civil propostas em face da Fazenda Pública.

4. Ademais, o STJ tem entendimento jurisprudencial no sentido de que o prazo prescricional de demandas
propostas PELA Fazenda Pública deve ser o mesmo prazo previsto no Decreto 20.910/32 (demandas
propostas CONTRA a Fazenda Pública), em razão do princípio da isonomia.

5. É prescritível a ação de reparação de danos à Fazenda Pública decorrente de ilícito civil, sendo
imprescritíveis as de ressarcimento ao erário por atos de improbidade administrativa decorrentes de atos
dolosos, nos termos do parágrafo 6º, do artigo 37, da CF. Como agora não mais se admite ato de
improbidade administrativa culposo, é possível dizer que “são imprescritíveis todas as ações de
ressarcimento ao erário por atos de improbidade administrativa”.

6. Prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição da ação.

7. São imprescritíveis as ações indenizatórias por danos morais e materiais decorrentes de atos de
perseguição política com violação de direitos fundamentais ocorridos durante o regime militar.

8. Prescreve em cinco anos, contados do término do processo administrativo, a pretensão da Administração


Pública de promover a execução da multa por infração ambiental.

9. A prescrição em favor da Fazenda Pública recomeça a correr, por dois anos e meio, a partir do ato
interruptivo, mas não fica reduzida aquém de cinco anos, embora o titular do direito a interrompa durante
a primeira metade do prazo.

10. O prazo de prescrição pode ser interrompido, suspenso ou renunciado. Já o prazo decadencial não pode
ser objeto de interrupção, suspensão ou renúncia. Realmente, a decadência não tem seu prazo suspenso,
interrompido, nem impedido, contrariamente ao que ocorre com a prescrição.

11. Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, por motivos inerentes ao
mecanismo da justiça, não justifica o acolhimento da argüição de prescrição ou decadência.

6
55
12. Súmula 85-STJ: Nas relações jurídicas de trato sucessivo em que a fazenda pública figure como devedora,
quando não tiver sido negado o próprio direito reclamado, a prescrição atinge apenas as prestações vencidas
antes do qüinqüênio anterior a propositura da ação.

13. Efetivamente, é pacífica a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça a diferença entre REDUÇÃO e
SUPRESSÃO de vantagens conferidas a particulares:

a) Redução: Prestação de trato sucessivo; Prazo Prescricional renova-se mês a mês; Aplica-se a Súmula 85,
do STJ;

b) Supressão: Ato único que atinge o próprio fundo do direito; Prazo Prescricional conta-se a partir do ato;
NÃO se aplica a Súmula 85, do STJ;

14. Sendo objetiva a responsabilidade da Fazenda Pública, não caberia a denunciação da lide do Agente
Público causador do dano, pois o direito de regresso estaria fundado em responsabilidade subjetiva,
havendo, em tal hipótese, agregação de elemento novo à causa de pedir, causando a necessidade de uma
instrução não exigida inicialmente.

15. O instituto da remessa necessária não se trata de recurso, mas de condição de eficácia da sentença, sem
a qual esta não transita em julgado.

16. Súmula 423-STF: Não transita em julgado a sentença por haver omitido o recurso ex officio, que se
considera interposto ex lege.

17. A remessa necessária é o instituto através do qual não produzirá efeitos, senão após confirmada pelo
respectivo tribunal, a sentença: proferida contra a Fazenda Pública ou que julgar procedentes, no todo ou
em parte, os embargos à execução fiscal.

18. Súmula 325-STJ: A remessa oficial devolve ao Tribunal o reexame de todas as parcelas da condenação
suportadas pela Fazenda Pública, inclusive dos honorários de advogado.

19. Se uma decisão interlocutória com conteúdo meritório for proferida contra a Fazenda Pública, mesmo
não sendo sentença, estará sujeita à remessa necessária.

20. Segundo o STJ, em sentenças que não se resolve o mérito da demanda não há uma decisão contra a
Fazenda Pública, não se justificando o reexame da matéria pelo tribunal, eis que só há remessa necessária
se a sentença for de mérito e contrária ao Poder Público.

21. Independente do valor da condenação, das partes envolvidas e da matéria discutida, no Mandado de
Segurança sempre haverá remessa necessária na sentença que conceder a segurança, dado o disposto no
parágrafo 1º, do artigo 14, da Lei 12.016/2009.

22. O Superior Tribunal de Justiça, consoante diversos precedentes da Corte Especial, firmou entendimento
no sentido de que o reexame necessário em processo de execução limita-se à hipótese de procedência dos
embargos opostos em execução de dívida ativa, sendo incabível nos demais casos de embargos do devedor.

23. A remessa necessária seguirá no tribunal o mesmo procedimento aplicável ao Recurso de Apelação.

7
55
24. A dispensa de remessa necessária quando o valor da condenação ou do direito controvertido for inferior
ao limite previsto no CPC não se aplica a sentenças ilíquidas.

25. A Lei Federal nº 14.230/2021 promoveu a expressa extinção da remessa necessária no âmbito das ações
de improbidade administrativa, com a inclusão do artigo 17-C, § 3º, na Lei 8.429/92. Agora, para que as
sentenças de improcedência cheguem à segunda instância, é necessário que o órgão acusador recorra,
interpondo apelação.

26. Com o advento da Lei Federal nº 14.230/2021, todos os reexames necessários provenientes de ações de
improbidade administrativa, que ainda não tenham transitado em julgado, devem ser imediatamente
extintos, independentemente da manifestação do Superior Tribunal de Justiça.

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO


 CONCEITO: é a obrigação de reparar danos causados a terceiros em decorrência de comportamentos
comissivos ou omissivos, materiais ou jurídicos, lícitos ou ilícitos, imputáveis aos agentes públicos.

É responsabilidade do Estado, resultante de comportamentos de qualquer dos três Poderes do Estado.

É extracontratual, uma vez que exclui a responsabilidade contratual, regida por princípios próprios.

 EVOLUÇÃO: O tema da Responsabilidade civil do Estado muito evoluiu dentro do estudo do direito
público, evolução essa marcada pela busca crescente da proteção do indivíduo e da limitação da atuação
estatal. Vejamos:

a) Teoria da Irresponsabilidade do Estado: era a teoria adotada nos regimes absolutistas, em que não era
possível ao Estado imprimir dano aos seus súditos, pois o Estado era o próprio rei e ele não errava. Os agentes
públicos, como representantes do rei, não tinham qualquer responsabilidade por seus atos.
b) Teoria da Responsabilidade Civil com Culpa Comum do Estado: o Estado tinha o dever de indenizar da
mesma forma que os particulares quando causavam algum dano, ou seja, apenas se tivesse atuado com dolo
ou culpa.
c) Teoria da Culpa Administrativa ou Culpa Anônima: o dever do Estado de indenizar o dano sofrido pelo
particular somente existe se comprovado que houve uma falha na prestação do serviço (faute de service na
doutrina francesa). Essa falha se dá quando há: inexistência, mau funcionamento, ou retardamento do
serviço; e caberia ao particular demonstrar sua ocorrência e o nexo de causalidade entre o dano e a falha do
Estado. É classificada como uma responsabilidade subjetiva, e adotada como regra, para parcela da
doutrina, nas hipóteses de danos causados por omissão da administração pública.
c) Teoria do Risco Administrativo: a atuação estatal que causa prejuízos ao indivíduo gera para a
administração pública a obrigação de indenizar, independentemente da existência de fato do serviço ou de
culpa. Há, porém, a possibilidade do Estado alegar na sua defesa a presença de excludentes (caso fortuito,
força maior, culpa exclusiva da vítima), mas é dele o ônus de comprová-las. É a regra no ordenamento jurídico
brasileiro, consagrando a responsabilidade objetiva do Estado, no art. 37, § 6º, CF/88.
d) Teoria do Risco Integral: adota a responsabilidade objetiva, sem possibilitar nenhuma hipótese de
exclusão de responsabilidade do Estado. Segundo ela, para que surja obrigação de indenizar do Estado, basta
a existência do evento danoso e do nexo causal, sem a possibilidade de que este alegue excludentes de sua

8
55
reponsabilidade. Para a doutrina, ela se aplica às hipóteses de danos causados por acidentes nucleares (art.
21, XXIII, d, CF/88). E o STJ adota nos casos de danos ambientais.

 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO: ART. 37, §6º, CF/88: O art. 37, §6º, CF-88 consagra a
responsabilidade civil objetiva do Estado, baseada na Teoria do Risco Administrativo, mesma regra,
estendida às pessoas de direito privado prestadoras de serviço público.

Prevê ação regressiva contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.

Pressupostos da responsabilidade objetiva:

a) ato lesivo praticado por agente de pessoa jurídica de direito público (as do art. 41 do CC) e de pessoa
jurídica de direito privado prestadora de serviço público;

b) dano causado a terceiros (nexo de causalidade);

c) dano causado por agente público de qualquer categoria;

d) dano causado por agente, agindo nesta qualidade.

 ELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE:

a) Conduta

b) Dano

c) Nexo causal

 EXCLUDENTES DA RESPONSABILIDADE: excluem o nexo causal:

a) fato exclusivo da vítima: o dano é causado por fato exclusivo da própria vítima, há uma autolesão. Em
regra, é o que ocorre no caso de suicídio de detento no interior de uma penitenciária.

b) fato de terceiro: o dano é causado por fato de terceiro que não possui vínculo jurídico com o Estado. Em
razão dessa excludente as concessionárias de serviços públicos de transporte não são, em regra,
responsáveis por danos ocasionados por roubo no interior de seus veículos.

c) caso fortuito ou força maior: são os eventos naturais ou humanos imprevisíveis que, por si sós, causam
danos às pessoas. Portanto, a Administração Pública, regra geral, não pode ser responsabilizado por
inundação causada por chuva torrencial imprevisível.

 RESPONSABILIDADE POR AÇÃO E POR OMISSÃO: a teoria adotada pelo ordenamento brasileiro, como
regra, para definir a responsabilidade civil do Estado é a Teoria do Risco Administrativo, que aplica a
responsabilidade do tipo objetiva na hipótese de dano causado direta e imediatamente por uma atuação,
uma conduta comissiva, de seus agentes.

9
55
Todavia, segundo as lições de Celso Antônio Bandeira de Mello, esse dispositivo constitucional, não pode ser
aplicado para os casos de danos ocasionados por omissão da administração pública, cuja indenização, se
cabível, será regulada pela Teoria da Culpa Administrativa ou Culpa Anônima.

O entendimento do STF é no sentido de que quando a administração pública tem o dever jurídico de garantir
a integridade das pessoas ou coisas que estejam sob sua proteção direta, ela responderá objetivamente,
com base no art. 37, § 6.º, da CF/88, mesmo que tais danos não decorram de um ato concreto seu. Nesse
caso, o Estado responderá por uma omissão específica, pois deixou de cumprir seu dever específico, visto
que se encontrava em uma posição de garante.

 RESPONSABILIDADE CIVIL POR ATOS LEGISLATIVOS: em regra, a atuação legislativa não acarreta
responsabilidade civil do Estado, uma vez que a própria existência do Estado pressupõe o exercício da
função legislativa com a criação de direitos e obrigações para os indivíduos.

No entanto, doutrina e jurisprudência reconhecem que a responsabilidade do Estado legislador pode surgir
em três situações excepcionais:

a) leis de efeitos concretos;

b) leis inconstitucionais;

c) omissão legislativa.

 RESPONSABILIDADE CIVIL POR ATOS JURISDICIONAIS: a atividade jurisdicional não implica


responsabilidade civil do Estado, salvo as hipóteses expressamente previstas no ordenamento jurídico.

As justificativas para irresponsabilidade do Estado Juiz não podem ser consideradas absolutamente no atual
ordenamento jurídico, que tem ampliado as hipóteses de responsabilidade. Assim, é possível haver
responsabilidade do Estado por atos judiciais, em três situações:

a) erro judiciário;

b) prisão além do tempo fixado na sentença;

c) demora na prestação jurisdicional.

 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO, DOS NOTÁRIOS E REGISTRADORES: O Estado responde,


objetivamente, pelos atos dos tabeliães e registradores oficiais que, no exercício de suas funções, causem
dano a terceiros, assentado o dever de regresso contra o responsável, nos casos de dolo ou culpa, sob pena
de improbidade administrativa.

Os notários e registradores respondem subjetivamente perante o Estado, por seus atos que causem lesões
a particulares.

 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR DANOS CAUSADOS POR OBRAS PÚBLICAS: doutrina
majoritária entende que, caso o dano seja causado pelo simples fato da obra, o Estado responde diretamente
e de maneira objetiva, inexistindo responsabilidade da empreiteira. Já se houverem danos surgidos com a

10
55
má execução da obra, a empreiteira responde primariamente e de maneira subjetiva, havendo, no entanto,
responsabilidade subsidiária do Estado.

 RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO POR DANOS AMBIENTAIS: segundo entendimento consolidado


do STJ, a responsabilidade civil por danos ambientais é objetiva, fundamentada na Teoria do Risco Integral,
em que não se admite a exclusão de culpa por caso fortuito, força maior ou fato de terceiro.

 REPARAÇÃO DO DANO: O dano suportado pelo particular poderá ser reparado pelo Estado na esfera
administrativa, caso haja acordo entre as partes, ou através de ação judicial de indenização.

Segundo a jurisprudência do STF, a ação de reparação movida pelo terceiro que sofreu a lesão tem que ser
ajuizada somente contra a pessoa jurídica sujeita a regra constitucional de responsabilidade civil objetiva. Se
essa pessoa jurídica for condenada, terá, então, ação regressiva contra o seu agente que, atuando nessa
qualidade, causou o dano, sendo imprescindível a prova de que ele agiu com dolo ou culpa.

O STF fixou a seguinte tese sob a sistemática da repercussão geral: “A teor do disposto no art. 37, § 6º, da
Constituição Federal, a ação por danos causados por agente público deve ser ajuizada contra o Estado ou a
pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviço público, sendo parte ilegítima para a ação o autor
do ato, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.”

Vale ressaltar que é de cinco anos o prazo de prescrição da ação de reparação.

Por fim, a Súmula 647 do STJ determina: “São imprescritíveis as ações indenizatórias por danos morais e
materiais decorrentes de atos de perseguição política com violação de direitos fundamentais ocorridos
durante o regime militar.”

 AÇÃO REGRESSIVA: para que a pessoa jurídica intente ação contra seu agente, ela deverá comprovar que
foi condenada judicialmente a indenizar o particular que sofreu a lesão, uma vez que o direito de regresso
dela nasce com o trânsito em julgado da decisão condenatória da ação de indenização.

Além disso, a responsabilidade civil da administração perante o terceiro que sofreu o dano é objetiva, na
modalidade risco administrativo, ao passo que a responsabilidade do agente público que causou o dano
perante à administração é subjetiva, na modalidade culpa comum, ou seja, depende da demonstração de
dolo ou culpa.

Entendeu o STF que é prescritível a ação de reparação de danos à Fazenda Pública decorrente de ilícito
civil. Assim, se o Poder Público sofreu um dano ao erário decorrente de um ilícito civil e deseja ser ressarcido,
ele deverá ajuizar a ação no prazo prescricional previsto em lei.

 RESPONSABILIDADE CIVIL, PENAL E ADMINISTRATIVA DO SERVIDOR: as responsabilidades


administrativa, civil e penal do agente, em geral, são cumulativas e independentes.

Todavia, se esse fato imputado ao agente também tiver repercussão na esfera penal, excepciona-se a regra
de independência das esferas de responsabilidade pela:

a) condenação criminal do servidor;

11
55
b) absolvição pela inexistência do fato ou pela negativa de autoria;

c) absolvição por ausência de tipicidade ou de culpabilidade penal, por insuficiência de provas, ou por outro
motivo.

É permitida a “prova emprestada” no processo administrativo disciplinar, desde que devidamente autorizada
pelo juízo competente e respeitados o contraditório e a ampla defesa.

TUTELA PROVISÓRIA CONTRA FAZENDA PÚBLICA E RECLAMAÇÃO


CONSTITUCIONAL
1. No intuito de abrandar os efeitos perniciosos do tempo do processo, o legislador instituiu uma importante
técnica processual: a antecipação provisória dos efeitos finais da tutela definitiva, que permite o gozo
antecipado e imediato dos efeitos próprios da tutela definitiva pretendida (seja satisfativa, seja cautelar).

2. A tutela provisória pode fundamentar-se em urgência ou evidência. A tutela provisória de urgência,


cautelar ou antecipada, pode ser concedida em caráter antecedente ou incidental.

3. O pedido de tutela de urgência poderá ser feito de forma antecedente ou incidental. As tutelas satisfativas
requeridas antecipadamente estão previstas nos artigos 303 e 304 do CPC, enquanto as tutelas cautelares
requeridas antecipadamente estão previstas nos artigos 305 a 310 do CPC.

4. Possível o deferimento de tutela provisória em face da Administração Pública. Havia, até recentemente,
diversas hipóteses legais que vedavam a concessão de tais medidas quando a parte demandada fosse a
Fazenda Pública.

5. Contudo, o STF, em 2021, na ADI 4296/DF, declarou inconstitucional o artigo 7º, § 2º da Lei 12.016/2009.
Para a Suprema Corte, é inconstitucional qualquer ato normativo que vede ou condicione a concessão de
medida liminar na via mandamental, pois isso seria obstaculizar a efetiva prestação jurisdicional e a defesa
do direito líquido e certo do impetrante.

6. Assim, agora será cabível, dentre outras, medida liminar ou antecipação de tutela que tenha por objeto a
compensação de créditos tributários, a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior, a
reclassificação ou equiparação de servidores públicos e a concessão de aumento ou a extensão de vantagens
ou pagamento de qualquer natureza (hipóteses descritas no artigo 7º, § 2º da Lei 12.016/2009). Ainda é
necessário aguardar maiores discussões jurisprudenciais acerca da validade de alguns dispositivos e
entendimentos.

7. Não se aplicam as vedações – caso ainda existam após a ADI 4296 – quando os efeitos financeiros são
consequência secundária da decisão judicial, conforme vários casos analisados.

8. Concedida a tutela provisória, seus efeitos conservam-se durante todo o processo, observando-se no que
couber, as regras relativas ao cumprimento provisório da sentença.

12
55
9. Revogada, modificada ou anulada a decisão provisória, fica sem efeito a medida, restituindo-se as partes
ao estado anterior.

10. Para evitar situações díspares e injustas, surgira na doutrina e jurisprudência a teoria do fato consumado,
em relação a decisões provisórias que vigoraram por longo período de tempo e foram revogadas
posteriormente. Aplica-se tal teoria em hipóteses onde a restauração da estrita legalidade ocasionaria mais
danos sociais do que a manutenção da situação consolidada pelo decurso do tempo.

11. Todavia, a regra é a inaplicabilidade da teoria do fato consumado, eis que expressamente previsto em lei
(artigo 520, II, CPC) o retorno ao estado original.

12. Três são os meios de se impugnar uma tutela provisória em face da Fazenda Pública: o Agravo de
Instrumento, a Suspensão de Antecipação de Tutela e a Reclamação Constitucional. É possível, inclusive, a
utilização conjunta e concomitante destes três meios.

13. A suspensão de liminar é um ato postulatório que não tem o objetivo de reformar ou modificar a decisão,
mas tão somente de suspender sua eficácia.

14. A legitimidade para propor o pedido de suspensão é das pessoas jurídicas de direito público (União,
Estados, Distrito Federal, Municípios e suas respectivas Autarquias e Fundações de Direito Público), além do
próprio Ministério Público. Contudo, o Superior Tribunal de Justiça tem admitido também o pedido de
suspensão por concessionárias de serviço público, desde que para tutela o interesse público.

15. O pedido de suspensão deve ser dirigido ao presidente do Tribunal que teria competência para apreciar
o recurso contra a decisão concessiva do provimento liminar ou antecipatório.

16. Em se tratando de provimento provisório concedido originariamente no Tribunal, o pedido de suspensão


deverá ser intentado junto ao Presidente do Supremo Tribunal Federal ou ao Presidente do Superior Tribunal
de Justiça, a depender do fundamento da causa, se matéria constitucional (STF) ou infraconstitucional (STJ).

17. Da decisão proferida pelo presidente do tribunal em sede de pedido de suspensão, caberá agravo.
Contudo, da decisão proferida no bojo de pedidos de suspensão, não caberá Recurso Especial nem Recurso
Extraordinário.

18. Para o STF, o prazo deste agravo contra a decisão do presidente em pedido de suspensão não será
computado em dobro para a Fazenda Pública.

19. Para o STJ, o prazo deste agravo contra a decisão do presidente em pedido de suspensão deve ser
computado em dobro para a Fazenda Pública.

20. Concedido o pedido de suspensão, fica sobrestada a eficácia da tutela de urgência concedida em desfavor
do ente público. Os efeitos da decisão do pedido de suspensão vigoram até o trânsito em julgado da ação
principal.

21. As liminares cujo objeto seja idêntico poderão ser suspensas em uma única decisão, podendo o
Presidente do Tribunal estender os efeitos da suspensão a liminares supervenientes, mediante simples
aditamento do pedido original.

13
55
22. Não sendo cabível recurso especial em face das decisões proferidas em sede de juizados especiais, não
há que se falar em pedido de suspensão dirigido ao Presidente do Superior Tribunal de Justiça. Todavia,
sendo possível a interposição de recurso extraordinário das decisões proferidas em juizado especial, cabível
o pedido de suspensão dirigido ao Presidente do Supremo Tribunal Federal.

23. A interposição de agravo de instrumento contra as decisões proferidas contra o poder público não
prejudica nem condiciona o julgamento do pedido de suspensão contra a respectiva decisão.

24. Atualmente, o melhor entendimento é o de que a reclamação constitucional é uma manifestação do


direito de ação, eis que possui todas as características desta; não se trata de direito de petição
(posicionamento antigo do STF), tampouco tem natureza de recurso.

25. A reclamação pode ser proposta perante qualquer tribunal, e seu julgamento compete ao órgão
jurisdicional cuja competência se busca preservar ou cuja autoridade se pretenda garantir.

26. É inadmissível a reclamação proposta após o trânsito em julgado da decisão reclamada.

27. É inadmissível a reclamação proposta para garantir a observância de acórdão de recurso extraordinário
com repercussão geral reconhecida ou de acórdão proferido em julgamento de recursos extraordinário ou
especial repetitivos, quando não esgotadas as instâncias ordinárias.

28. Caberá reclamação da parte interessada ou do Ministério Público para:

I - preservar a competência do tribunal;

II - garantir a autoridade das decisões do tribunal;

III – garantir a observância de enunciado de súmula vinculante e de decisão do Supremo Tribunal Federal em
controle concentrado de constitucionalidade;

IV – garantir a observância de acórdão proferido em julgamento de incidente de resolução de demandas


repetitivas ou de incidente de assunção de competência;

29. A reclamação não se sujeita a qualquer prazo, podendo ser proposta a qualquer tempo, desde que ainda
não transitada em julgado a decisão que se pretende cassar.

30. O CPC/2015 promoveu modificação essencial no procedimento da reclamação, ao instituir o


contraditório prévio à decisão final (art. 989, III).

31. Neste novo cenário, a observância do princípio da causalidade viabiliza a condenação da sucumbente na
reclamação ao pagamento dos respectivos honorários advocatícios, devendo o respectivo cumprimento da
condenação ser realizado nos autos do processo de origem, quando se tratar de impugnação de decisão
judicial.

14
55
EXECUÇÃO FISCAL
1. A Execução Fiscal está prevista na Lei 6.830/80 e trata da execução de título executivo extrajudicial de
natureza tributária ou não tributária. A Certidão da Dívida Ativa (CDA), título que fundamenta a execução
fiscal é, pois, título executivo que consubstancia obrigação líquida, certa e exigível.

2. A Fazenda Pública pode substituir a certidão de dívida ativa (CDA) até a prolação da sentença de embargos,
quando se tratar de correção de erro material ou formal, vedada a modificação do sujeito passivo da
execução.

3. Se, antes da decisão de primeira instância, a inscrição de Divida Ativa for, a qualquer título, cancelada, a
execução fiscal será extinta, sem qualquer ônus para as partes. Tal hipótese difere daquela em que a Fazenda
Pública, diante dos embargos à execução, cancela o débito, vindo a execução a ser extinta. Sendo extinta a
execução, haverá, em virtude da causalidade, condenação da Fazenda Pública nos honorários de advogado.

4. O advento da nova lei tributária, não tem o condão de impor à Fazenda que demandou legitimamente sob
a égide de outra norma jurídica o ônus sucumbencial posto o resultado do processo ter sido conduzido por
regra benéfica superveniente.

5. Uma vez falecido o Executado, a ação já deve ser proposta diretamente em face do Espólio, sendo cabível
o redirecionamento da execução apenas em hipótese de morte do Executado no curso do processo.

6. A extinção das ações de pequeno valor é faculdade da Administração Federal, vedada a atuação judicial
de ofício.

7. Possível o protesto de CDA em razão de expressa disposição da Lei 9.492/97.

7.1. Em 2021, no julgamento da ADI 5881, o plenário do Supremo Tribunal Federal decidiu, por maioria dos
votos, pela impossibilidade de a Fazenda Nacional poder, administrativamente (sem decisão judicial), colocar
o nome de devedores no serviço de proteção ao crédito e averbar a indisponibilidade de seus bens para
garantir o pagamento dos débitos a serem executados sem decisão judicial. No entanto, a averbação dos
bens, que é a comunicação aos cartórios e aos órgãos de proteção ao crédito sobre a inscrição do
contribuinte na dívida ativa, foi considerada constitucional.

8. A legitimidade ativa para manejo da Execução Fiscal é dada apenas aos entes da Fazenda Pública, salvo a
revisão legal da Caixa Econômica Federal cobrar o FGTS.

9. Podem também propor Execução Fiscal os Conselhos Profissionais, eis que o STJ mantém o entendimento
que se tratam de Autarquias Especiais e, por isso, integrantes do conceito de Fazenda Pública.

10. Possível que o Fisco proponha a Execução Fiscal diretamente contra a pessoa jurídica e o respectivo sócio
administrador que praticou ato ilícito ou tão somente contra a pessoa jurídica requerendo o posterior
redirecionamento da execução ao respectivo sócio.

11. A primeira hipótese apenas poderá ocorrer acaso o nome do sócio administrador conste expressamente
da Certidão de Dívida Ativa (CDA), dada a presunção de legitimidade que goza o título executivo. Trata-se de

15
55
documento formado a partir de processo administrativo onde se oportuniza tanto à pessoa jurídica como ao
sócio administrador o contraditório e a ampla defesa.

12. Por outro lado, acaso o nome do sócio administrador não conste da CDA, é ônus do fisco demonstrar que
ele infringiu a lei ou o contrato social, sendo necessária a prova de tal alegação para possibilitar o
redirecionamento da Execução Fiscal.

13. Presume-se dissolvida irregularmente a empresa que deixar de funcionar no seu domicílio fiscal, sem
comunicação aos órgãos competentes, legitimando o redirecionamento da execução fiscal para o sócio-
gerente.

14. A reunião de execuções fiscais contra o mesmo devedor constitui faculdade do Juiz.

15. As execuções fiscais, nos lugares onde não havia vara federal eram propostas na Justiça Estadual. Tal
dispositivo foi revogado expressamente pelo inciso IX, do artigo 114, da Lei 13.043/2014. Significa que não
há mais competência federal delegada nas execuções fiscais. Todas as execuções fiscais propostas por entes
federais devem ser ajuizadas na Justiça Federal, não podendo mais tramitar na Justiça Estadual.

16. A interrupção da prescrição em Execuções Fiscais dá-se com o despacho inicial do juiz e não mais com a
citação válida.

17. Proposta a ação no prazo fixado para o seu exercício, a demora na citação, por motivos inerentes ao
mecanismo da justiça, não justifica o acolhimento da argüição de prescrição ou decadência.

18. A citação será feita de forma preferencial pelos Correios com aviso de recepção, podendo, todavia, a
Fazenda Pública requerer que seja realizada a citação de outra forma. Acaso seja feita a citação pelos
Correios, esta considera-se feita na data da entrega da carta no endereço do executado. Ou se a data for
omitida, conta-se 10 (dez) dias após a entrega da carta na agencia postal (inciso II).

19. A citação por edital na execução fiscal é cabível quando frustradas as demais modalidades.

20. A intimação de representante judicial da Fazenda Pública, nos embargos à execução fiscal, será feita
pessoalmente.

21. É desnecessária a intervenção do Ministério Público nas execuções fiscais.

22. O crédito representado por precatório é bem penhorável, mesmo que a entidade dele devedora não seja
a própria exequente. Enquadra-se na hipótese do inciso XI do art. 655 do CPC, por se constituir em direito
de crédito. Não se confunde com dinheiro, que poderia substituir o imóvel penhorado independentemente
do consentimento do credor.

23. É legítima a penhora da sede do estabelecimento comercial.

24. A Fazenda Pública pode recusar a substituição do bem penhorado por precatório.

25. Em execução fiscal, não localizados bens penhoráveis, suspende-se o processo por um ano, findo o qual
se inicia o prazo da prescrição quinquenal intercorrente.

16
55
26. Não obstante o art. 16, I, da Lei 6.830/80 disponha que o executado oferecerá embargos no prazo de 30
(trinta) dias, contados do depósito, a Corte Especial, ao julgar os EREsp 1.062.537/RJ (Rel. Min. Eliana Calmon,
DJe de 4.5.2009), entendeu que, efetivado o depósito em garantia pelo devedor, é aconselhável seja ele
formalizado, reduzindo-se a termo, para dele tomar conhecimento o juiz e o exequente, iniciando-se o prazo
para oposição de embargos a contar da data da intimação do termo, quando passa o devedor a ter segurança
quanto à aceitação do depósito e a sua formalização.

27. Admite-se, a alegação de compensação em sede de Embargos à Execução Fiscal.

28. Apenas será possível o manejo de embargos à execução acaso garantido o juízo. Ademais, em regra, os
embargos à execução opostos pelo devedor não terão efeito suspensivo; contudo, o juiz poderá atribuir
efeito suspensivo aos embargos quando verificado o cumprimento cumulativo de 3 requisitos: a)
requerimento do embargante; b) preenchimento dos requisitos necessários à concessão da tutela provisória
(probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo); c) garantia da execução
mediante penhora, depósito ou caução suficientes.

29. A exceção de pré-executividade é admissível na execução fiscal relativamente às matérias conhecíveis de


ofício que não demandem dilação probatória.

30. É inconstitucional a exigência de depósito prévio como requisito de admissibilidade de ação judicial na
qual se pretenda discutir a exigibilidade de crédito tributário.

31. A expropriação dos bens do devedor na Execução Fiscal poderá ser feita através de adjudicação, alienação
ou apropriação de frutos e rendimentos da empresa.

32. Na execução fiscal o devedor deverá ser intimado, pessoalmente, do dia e hora da realização do leilão.

33. Quanto à Medida Cautelar Fiscal, tem-se a previsão na Lei 8.397/92 e, assim como a Execução Fiscal, é
procedimento próprio do Direito Processual Público, eis que se trata de procedimento cuja legitimidade é
dada apenas à Fazenda Pública.

34. Trata-se de procedimento cujo objetivo é idêntico a diversas outras cautelares: assegurar a efetividade,
o resultado útil da Execução Fiscal já proposta ou que o será no futuro.

35. A demanda pode ser proposta de maneira incidental (quanto já protocolada a Execução Fiscal) ou de
maneira preparatória, sendo certo que sempre será desta dependente.

36. A competência para processar e julgar a medida será do mesmo juiz competente para apreciar a Execução
Fiscal, salvo se tal execução já estiver no Tribunal, oportunidade em que a Medida Cautelar Fiscal deverá ser
dirigida ao Relator do processo.

37. Em regra, a demanda apenas terá cabimento quando devidamente constituído o crédito tributário, sendo
possível apontar-se duas exceções previstas no artigo 2º, inciso V, “b” e inciso VII, da Lei 8.397/92:

38. Quando o devedor notificado pela Fazenda Pública para o recolhimento do crédito fiscal, põe ou tenta
por seus bens em nome de terceiros;

17
55
39. Quando o devedor aliena bens ou direitos sem comunicar os órgãos fazendários competentes, quando é
obrigado em virtude da lei;

40. Muito embora a concessão da cautelar fiscal atinja, apenas, os bens integrantes do ativo permanente da
pessoa jurídica, o Superior Tribunal de Justiça vem admitindo – em situações excepcionais, quando a
sociedade empresária estiver com suas atividades paralisadas ou não forem localizados em seu patrimônio
bens que possam garantir a execução fiscal – a decretação de indisponibilidade de bens de pessoa jurídica,
ainda que estes não constituam seu ativo permanente.

41. Tanto a doutrina como o Superior Tribunal de Justiça entendem que os parágrafos do artigo 4º, da Lei
8.397/92 devem ser interpretados em conjunto com o disposto no CTN, razão pela qual apenas deve ser
decretada a indisponibilidade dos bens dos sócios gerentes que tinham poderes para fazer a empresa
cumprir as obrigações fiscais e que tenham agido com excesso de poderes, infração à lei, contrato social ou
estatutos, não podendo atingir os bens de família.

42. Quando a Medida Cautelar Fiscal for concedida em procedimento preparatório, a Execução Fiscal deverá
ser proposta no prazo de 60 (sessenta) dias, a contar da data em que a exigência se tornar irrecorrível na
esfera administrativa.

43. A sentença proferida em sede de Medida Cautelar Fiscal poderá ser combatida por Apelação que não
será dotada de efeito suspensivo, salvo se oferecida alguma garantia, prevista no artigo 10 da Lei 8.397/92.

44. Não merece subsistir a medida cautelar fiscal proposta contra o devedor quando ao tempo do
ajuizamento os créditos tributários estavam com sua exigibilidade suspensa em razão da adesão ao REFIS. A
cautelar fiscal nessa situação precisa ter amparo expresso no art. 2º, V, "b" ou VII, da Lei n. 8.397/92.

EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA E PRECATÓRIOS


1. A execução promovida em face da Fazenda Pública obedece ao regramento diferente em relação
àquela proposta contra os particulares. É que sendo os bens públicos inalienáveis e impenhoráveis, não há
como proceder-se à execução utilizando-se de medidas expropriatórias para a satisfação do crédito.
2. Proposta a demanda executiva em face da Fazenda Pública, esta será intimada não para pagar os
valores pleiteados, mas para, no prazo de 30 (trinta) dias, impugnar a execução, em se tratando de título
executivo judicial. Se a execução for de título executivo extrajudicial, a Fazenda será citada para opor
embargos à execução, em 30 (trinta) dias. Vamos relembrar o mapa mental:

18
55
para apresentar
Execução de título Ente público é
impugnação em 30
judicial intimado
dias
Saiba
diferenciar:
para apresentar
Execução de título Ente público é
embargos em 30
extrajudicial citado
dias

3. Tratando-se de impugnação parcial, a parte não questionada pela executada será, desde logo, objeto
de cumprimento.
4. O precatório ou a RPV somente se expede depois de não haver mais qualquer discussão quanto ao
valor executado, valendo dizer que tal expedição depende do trânsito em julgado da decisão que julgar a
impugnação. Por essa razão, a impugnação apresentada pela Fazenda Pública deve forçosamente, ser
recebida no efeito suspensivo, pois, enquanto não se tornar incontroverso ou definitivo o valor cobrado não
há como expedir o precatório ou a RPV.
5. É perfeitamente admissível a discussão quanto à compensação da quantia objeto da restituição do
indébito tributário com valores recolhidos em período anterior sob o mesmo título, em execução fundada
em título judicial.
6. Não apresentada impugnação ou transitada em julgado a decisão que a inadmitir ou rejeitar deverá
ser expedido precatório seguindo-se com a observância das normas contidas no art. 100 da Constituição
Federal, ou seja, o juiz determina a expedição de precatório ao Presidente do respectivo tribunal para que
reste consignado à sua ordem o valor do crédito com requisição às autoridades administrativas para que
façam incluir no orçamento geral a fim de proceder ao pagamento no exercício financeiro subsequente.
7. É cabível execução por título extrajudicial contra a Fazenda Pública.
8. É cabível ação monitória contra a Fazenda Pública
9. O juízo da execução elabora o precatório e faz o seu encaminhamento ao Presidente do Tribunal ao
qual se submete a decisão exequenda. Este magistrado, por outro lado, repassa a requisição de pagamento
ao ente público, para inclusão na lei orçamentária do ano subsequente.
10. Possível identificarmos três listas para pagamento de precatórios:
a) Lista das pessoas que possuam 60 (sessenta) anos de idade ou mais OU sejam portadores de doença
grave OU sejam pessoas com deficiência, até o valor de 03 vezes o estipulado como Requisição de
Pequeno Valor, desde que o crédito seja de natureza alimentícia (parágrafo 2º, artigo 100, CF); Nesta

19
55
hipótese será permitido o fracionamento do precatório, sendo a diferença paga na forma dos créditos
ordinários.
b) Créditos de natureza alimentar, conforme previsão do parágrafo 1º, do artigo 100;
c) Créditos ordinários;
11. A verba honorária é sempre alimentar, independentemente da natureza do débito fixado pelo juízo
para a parte vencedora da demanda. O conceito de verba honorária engloba tanto os honorários
sucumbenciais, fixados pelo juízo, quanto os contratuais, acertados entre o causídico e o cliente.
12. Os honorários advocatícios incluídos na condenação ou destacados do montante principal devido ao
credor consubstanciam verba de natureza alimentar cuja satisfação ocorrerá com a expedição de precatório
ou requisição de pequeno valor, observada ordem especial restrita aos créditos dessa natureza.
13. Durante o período previsto no parágrafo 1º do artigo 100 da Constituição, não incidem juros de mora
sobre os precatórios que nele sejam pagos.
14. Os atos do presidente do tribunal que disponham sobre processamento e pagamento de precatório
não têm caráter jurisdicional.
15. Não cabe recurso extraordinário contra decisão proferida no processamento de precatórios.
16. Não se justifica decreto de intervenção federal por não pagamento de precatório judicial, quando o
fato não se deva a omissão voluntária e intencional do ente federado, mas a insuficiência temporária de
recursos financeiros.
17. O montante relativo ao que seria “pequeno valor” depende da legislação de cada ente, sendo certo
que o ente não pode estabelecer nenhum valor inferior ao maior benefício do regime geral de previdência
social.
18. O processamento da requisição de pequeno valor é muito mais simples que o precatório, porque
não demanda inclusão orçamentária para pagamento em momento posterior. O cumprimento é imediato.
19. Foi instituído o regime especial de precatórios com a finalidade de viabilizar o pagamento de créditos
inscritos há anos e não adimplidos pelo Distrito Federal, nem por vários Estados e Municípios.
20. O regime especial é inconstitucional, por ferir vários direitos fundamentais, tais como a efetividade
da jurisdição, a intangibilidade da coisa julgada, a impessoalidade, a isonomia e a moralidade administrativa,
abalando os alicerces do próprio Estado Democrático de Direito.
21. Declarada a inconstitucionalidade pelo STF, este modulou os efeitos da decisão, sendo recomendável
a leitura integral do acórdão.

20
55
22. A seu critério exclusivo e na forma de lei, a União poderá assumir débitos, oriundos de precatórios,
de Estados, Distrito Federal e Municípios, refinanciando-os diretamente.
23. Não serão devidos honorários no cumprimento de sentença contra a Fazenda Pública que enseje
expedição de precatório, desde que não tenha sido impugnada.
24. São devidos honorários advocatícios na hipótese de execução sujeita a Requisição de Pequeno
Valor (RPV).
25. Na "execução invertida" a Fazenda Pública condenada em obrigação de pagar quantia certa,
mediante RPV, ao invés de aguardar a fase executiva do débito já reconhecido, antecipa-se ao credor
cumprindo espontaneamente a obrigação apresentado os cálculos da quantia devida.
26. Não são devidos honorários advocatícios em hipótese de execução invertida.
27. A cessão de crédito (precatório) não implica alteração da natureza.
28. A EC 113 determinou ampliação do rol de créditos (art. 11, § 11, CF). Agora, o credor poderá, além
de comprar imóveis públicos do ente federado, também:
a) quitar de débitos;
b) pagamento de outorga de delegações de serviços públicos;
c) adquirir participações societárias;
d) comprar direitos.

29. A EC 113 determinou que, a partir de sua vigência, a Taxa Selic será o único critério para fins de
atualização monetária, de remuneração do capital e de compensação da mora, inclusive do precatório, nas
condenações da Fazenda Pública.
30. A EC 114 determinou que, a partir de 2022, os precatórios deverão ser apresentados até 2 de abril (e
não mais em 1º de julho) para que sejam pagos até o fim do exercício seguinte. (art. 100, § 5º, CF).

AÇÃO POPULAR
1. Ação popular é o meio constitucional posto à disposição de qualquer cidadão para obter a invalidação de
atos ou contratos administrativos – ou a estes equiparados – ilegais e lesivos ao patrimônio federal, estadual
e municipal, ou de suas autarquias, entidades paraestatais e pessoas jurídicas subvencionadas com dinheiros
públicos

2. Pessoa jurídica não tem legitimidade para propor ação popular.

3. A legitimação bifronte na Ação Popular ocorre uma vez que a pessoa jurídica de direito público ou de
direito privado, cujo ato seja objeto de impugnação, não é ré na ação, podendo abster-se de contestar o

21
55
pedido. Pode, inclusive, atuar em defesa do patrimônio público, ao lado do autor e contrário ao gestor, desde
que isso se afigure útil ao interesse público, a juízo do respectivo representante legal ou dirigente.

4.A Ação Popular terá cabimento para anular atos lesivos ao patrimônio público, de entidade que o Estado
participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural.

5. Independente de quem seja o Réu na Ação Popular, se detentor ou não de foro privilegiado por
prerrogativa de função, a competência para processar e julgar a demanda será, regra geral, do juiz de
primeiro grau de jurisdição. Assim, a depender de quem seja apontado como réu na demanda, a competência
será de um juiz de direito ou de um juiz federal.

6. Hoje, prevalece na doutrina e na jurisprudência que o controle difuso de constitucionalidade pode ser
exercido na ação popular (e nas demais ações coletivas). Contudo, tal discussão seria feita como causa de
pedir da ação popular, razão pela qual a discussão sobre a constitucionalidade da norma faria parte da
fundamentação da decisão, não de seu dispositivo.

7. A sentença da ação popular terá eficácia de coisa julgada oponível erga omnes, exceto no caso de haver
sido a ação julgada improcedente por deficiência de prova; neste caso, qualquer cidadão poderá intentar
outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.

8. Habeas data é o meio constitucional posto à disposição de pessoa física ou jurídica para lhe assegurar o
conhecimento de registros concernentes ao postulante e constantes de repartições públicas ou particulares
acessíveis ao público, para retificação de seus dados pessoais.

9. Havendo recusa no fornecimento de certidões (para a defesa de direitos ou esclarecimento de situações


de interesse pessoal, próprio ou de terceiros), ou informações de terceiros, o remédio próprio é o mandado
de segurança, e não o habeas data. Se o pedido for para assegurar o conhecimento de informações relativas
à pessoa do impetrante, aí sim o remédio será o habeas data.

10. Não cabe Habeas Data para se obter cópia de processos administrativos

11. Não cabe Habeas Data para discutir correção de provas de concurso público

12. Não cabe Habeas Data para se quebrar o sigilo de Inquérito Policial

13. O Habeas Data é garantia constitucional adequada para a obtenção dos dados concernentes ao
pagamento de tributos do próprio contribuinte constantes dos sistemas informatizados de apoio à
arrecadação dos órgãos da administração fazendária dos entes estatais.

14. É parte legítima para impetrar habeas data o cônjuge sobrevivente na defesa de interesse do falecido.

15. Não cabe o habeas data (CF/88, art. 5º, LXXII, «a») se não houve recusa de informações por parte da
autoridade administrativa.

16. Mandado de Injunção é o meio constitucional posto à disposição de quem se considera prejudicado pela
falta de norma regulamentadora que torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das
prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania.

22
55
17. É importante distinguir duas situações: quando a Constituição Federal ordena o legislador a elaborar uma
norma e quando apenas permite-lhe que o faça. No primeiro caso, tem-se uma ordem. No segundo, uma
permissão. (...) O mandado de injunção só tem cabimento quando a Constituição impõe a feitura de norma
regulamentadora, não quando a elaboração desta traduz apenas uma faculdade.

18. Qualquer pessoa poderá impetrar mandado de injunção, quando a falta de norma regulamentadora
estiver inviabilizando o exercício de direitos, liberdades e prerrogativas inerentes à nacionalidade, à
soberania e à cidadania.

19. Quanto à eficácia subjetiva, a regra adotada pela Lei é a eficácia inter partes. Contudo, poderá ser
conferida eficácia ultra partes ou erga omnes, quando inerente ou indispensável ao exercício do direito
objeto da impetração. E, uma vez transitada em julgado a decisão, seus efeitos poderão ser estendidos aos
casos análogos por decisão monocrática do relator.

20. Quanto ao Mandado de Injunção Coletivo, a sentença fará coisa julgada limitadamente às pessoas
integrantes da coletividade, grupo, classe ou categoria substituídos pelo impetrante. Contudo, a depender
da hipótese, os efeitos poderão ser estendidos ultra partes ou erga omnes.

21. Sem prejuízo dos efeitos já produzidos, a decisão do Mandado de Injunção poderá ser revista, a pedido
de qualquer interessado, quando sobrevierem relevantes modificações das circunstâncias de fato ou de
direito.

MANDADO DE SEGURANÇA
1. O mandado de segurança é um remédio constitucional residual, eis que apenas será cabível quanto
aos direitos não amparados por habeas corpus ou habeas data.
2. Segundo a melhor doutrina, atualmente, o direito líquido e certo é aquele que diz respeito à prova
dos fatos postos em juízo. Independente da discussão jurídica em relação ao tema, os fatos devem vir todos
provados juntamente com a petição inicial, sendo inviável a dilação probatória no seio do procedimento.
3. Controvérsia sobre matéria de direito não impede concessão de mandado de segurança.
4. Não cabe mandado de segurança contra os atos de gestão comercial praticados pelos
administradores de empresas públicas, de sociedade de economia mista e de concessionárias de serviço
público.
5. Cabe mandado de segurança contra ato praticado em licitação promovida por sociedade de
economia mista ou empresa pública.
6. A imposição de multa decorrente de contrato ainda que de cunho administrativo não é ato de
autoridade, posto inegável ato de gestão contratual.

23
55
7. A existência de recurso administrativo com efeito suspensivo não impede o uso do mandado de
segurança contra omissão da autoridade.
8. Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou correição.
9. A impetração de segurança por terceiro, contra ato judicial, não se condiciona à interposição de
recurso.
10. Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial com trânsito em julgado.
11. Não cabe mandado de segurança contra lei em tese.
12. É admissível o controle jurisdicional preventivo de constitucionalidade formal de projeto de lei pela
via do mandado de segurança.
13. É defeso, ao Judiciário, na via estreita do mandamus, a convalidação da compensação tributária
realizada por iniciativa exclusiva do contribuinte, porquanto necessária a dilação probatória.
14. O mandado de segurança constitui ação adequada para a declaração do direito à compensação
tributária.
15. O Mandado de Segurança não é substitutivo de ação de cobrança.
16. O Mandado de Segurança não substitui a ação popular.
17. Tanto a pessoa física como a pessoa jurídica poderão impetrar o Mandado de Segurança. Tais entes,
normalmente, precisam ter capacidade de ser parte, mercê da sua personalidade jurídica e capacidade para
adquirir direitos e obrigações
18. Há entes que, em que pese não terem legitimidade para ajuizar o procedimento comum, poderão
impetrar mandado de segurança: é o caso de entes despersonalizados, como a Câmara de Vereadores, uma
Secretaria de Estado ou Município ou o Tribunal de Contas, desde que para garantir ou resguardar
prerrogativas institucionais.
19. A Câmara de Vereadores não possui personalidade jurídica, apenas personalidade judiciária,
somente podendo demandar em juízo para defender os seus direitos institucionais.
20. Pacífico o entendimento na jurisprudência pátria que o polo passivo da demanda de Mandado de
Segurança é ocupado pela pessoa jurídica de direito público, até porque é esta quem sofre as consequências
financeiras e patrimoniais da eventual concessão da segurança.
21. Possível impetrar Mandado de Segurança em face de ato praticado por órgão colegiado. Contudo, a
doutrina entende que quem deve figurar como autoridade impetrada é o presidente do órgão.
22. O Superior Tribunal de Justiça é incompetente para processar e julgar, originariamente, mandado de
segurança contra ato de órgão colegiado presidido por ministro de estado.

24
55
23. No mandado de segurança contra a nomeação de magistrado da competência do Presidente da
República, este é considerado autoridade coatora, ainda que o fundamento da impetração seja nulidade
ocorrida em fase anterior do procedimento.
24. Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência delegada, contra ela cabe o mandado
de segurança ou a medida judicial.
25. Em caso de indicação errônea da autoridade impetrada, tal fato por si só não deve induzir de
imediato a extinção do processo sem resolução do mérito. É que segundo entendimento do STJ, possível a
aplicação da Teoria da Encampação.
26. Três são os requisitos para aplicação da referida teoria:
I. Necessidade de vínculo hierárquico entre a autoridade que ordenou a prática do ato e aquela que
prestou informações no Mandado de Segurança;
II. A indicação errônea da autoridade coatora não pode acarretar a mudança na competência para
processar e julgar o feito, conforme estabelecido na Constituição Federal;
III. A autoridade impetrada, ao apresentar suas informações, não pode se limitar a arguir sua
ilegitimidade passiva. Necessário que a autoridade impetrada apresente manifestação quanto ao
mérito do ato combatido;
27. Extingue-se o processo de mandado de segurança se o impetrante não promove, no prazo assinado,
a citação do litisconsorte passivo necessário.
28. Pedido de reconsideração na via administrativa não interrompe o prazo para o mandado de
segurança.
29. É constitucional lei que fixa o prazo de decadência para a impetração de mandado de segurança.
30. A jurisprudência do STJ é assente em afirmar que, quando houver redução, e não supressão do valor
de vantagem, configura-se a prestação de trato sucessivo, que se renova mês a mês, pois não equivale à
negação do próprio fundo de direito. Mutatis mutandis, a exclusão do pagamento da verba é ato comissivo
que atinge o fundo de direito e, portanto, está sujeito ao prazo decadencial do art. 23 da Lei 12.016/2009.
31. O prazo decadencial do mandado de segurança inicia-se com o ato administrativo que determina a
eliminação do candidato do certame, momento em que a regra editalícia passa a afetar seu direito subjetivo,
legitimando-o para a impetração. Precedentes, inclusive da Corte Especial
32. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 669.367/RJ, Relatora p/ acórdão a Ministra ROSA
WEBER, submetido ao regime de repercussão geral, firmou entendimento no sentido de que o impetrante
pode desistir de Mandado de Segurança, nos termos do art. 267, VIII, do CPC, a qualquer tempo, sem
anuência da parte contrária, mesmo após a prolação de sentença de mérito.

25
55
33. A competência para processar e julgar o mandado de segurança será fixada a partir da autoridade
apontada como coatora, sendo certo que influirá diretamente na competência a qualificação da autoridade
como federal ou local e a graduação hierárquica da autoridade.
34. É competente, originariamente, o Supremo Tribunal Federal, para mandado de segurança contra ato
do Tribunal de Contas da União.
35. O Superior Tribunal de Justiça não tem competência para processar e julgar, originariamente,
mandado de segurança contra ato de outros tribunais ou dos respectivos órgãos
36. A liminar, em mandado de segurança tanto pode ter natureza cautelar como natureza satisfativa, a
depender do pedido formulado pelo impetrante. Concedida liminar, o juiz deve determinar além da
notificação da autoridade, a intimação pessoal do representante judicial da pessoa jurídica de direito público
interessada para que possa ter início o prazo do recurso cabível e, igualmente, para que possa ser ajuizada a
suspensão de liminar.
37. Por disposição legal, eram vedadas as liminares em mandado de segurança em algumas hipóteses,
como no caso do art. 7º, § 2º: “Não será concedida medida liminar que tenha por objeto a compensação de
créditos tributários, a entrega de mercadorias e bens provenientes do exterior, a reclassificação ou
equiparação de servidores públicos e a concessão de aumento ou a extensão de vantagens ou pagamento
de qualquer natureza”. Todavia, o art. 7º, §2º foi declarado inconstitucional pelo STF, no julgamento da ADI
4296, proposta pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. Para o Relator da ação, Ministro
Alexandre de Moraes: “O preceito dá a Fazenda Pública tratamento preferencial incompatível com o Estado
Democrático de Direito, relegando a inocuidade possível direito líquido e certo a ser examinado pelo julgador
daquele que se diga prejudicado por um ato público.”
38. Denegado o Mandado de Segurança pela sentença, ou no julgamento do agravo, dela interposto,
fica sem efeito a liminar concedida, retroagindo os efeitos da decisão contrária.
39. Decisão denegatória de mandado de segurança, não fazendo coisa julgada contra o impetrante, não
impede o uso da ação própria.
40. O pedido de mandado de segurança poderá ser renovado dentro do prazo decadencial, se a decisão
denegatória não lhe houver apreciado o mérito.
41. Não cabem, no processo de mandado de segurança, a interposição de embargos infringentes e a
condenação ao pagamento dos honorários advocatícios, sem prejuízo da aplicação de sanções no caso de
litigância de má-fé.

26
55
42. Nos casos de competência originária dos tribunais, caberá ao relator a instrução do processo, sendo
assegurada a defesa oral na sessão do julgamento. Da decisão do relator que conceder ou denegar a medida
liminar caberá agravo ao órgão competente do tribunal que integre.
43. Serão julgados em recurso ordinário:
I. pelo Supremo Tribunal Federal, os mandados de segurança, os habeas data e os mandados de
injunção decididos em única instância pelos tribunais superiores, quando denegatória a decisão;
II. pelo Superior Tribunal de Justiça: os mandados de segurança decididos em única instância pelos
tribunais regionais federais ou pelos tribunais de justiça dos Estados e do Distrito Federal e
Territórios, quando denegatória a decisão;
44. Concessão de mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais em relação a período
pretérito, os quais devem ser reclamados administrativamente ou pela via judicial própria.
45. A liminar no Mandado de Segurança coletivo apenas poderia ser deferida após a oitiva do
representante judicial da pessoa jurídica de direito público no prazo de 72 (setenta e duas) horas, nos termos
do parágrafo segundo, do artigo 22, da Lei 12.016/2009. Todavia, essa norma foi declarada inconstitucional
no julgamento da ADI 4296/DF, em 09/06/2021, de modo que não é mais imprescindível a oitiva da pessoa
jurídica de direito público para concessão de liminar em mandado de segurança coletivo. Para o Relator da
ação, Ministro Alexandre de Moraes: “O preceito contraria o sistema judicial alusivo à tutela de urgência. Se
esta surge cabível no caso concreto, é impertinente, sob pena de risco do perecimento do direito, estabelecer
contraditório ouvindo-se, antes de qualquer providência, o patrono da pessoa jurídica. Conflita com o acesso
ao Judiciário para afastar lesão ou ameaça de lesão a direito.”
46. O mandado de segurança coletivo não induz litispendência para as ações individuais, mas os efeitos
da coisa julgada não beneficiarão o impetrante a título individual se não requerer a desistência de seu
mandado de segurança no prazo de 30 (trinta) dias a contar da ciência comprovada da impetração da
segurança coletiva.
47. O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido político com representação no
Congresso Nacional, na defesa de seus interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade
partidária, ou por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em
funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa de direitos líquidos e certos da totalidade, ou de
parte, dos seus membros ou associados, na forma dos seus estatutos e desde que pertinentes às suas
finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial.
48. A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos associados
independe da autorização destes.

27
55
49. A entidade de classe tem legitimação para o mandado de segurança ainda quando a pretensão
veiculada interesse apenas a uma parte da respectiva categoria.
50. Os direitos protegidos pelo mandado de segurança coletivo podem ser:
I. coletivos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os transindividuais, de natureza indivisível, de que
seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação
jurídica básica;
II. individuais homogêneos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os decorrentes de origem comum
e da atividade ou situação específica da totalidade ou de parte dos associados ou membros do
impetrante.

DESAPROPRIAÇÃO
1. A desapropriação consiste na forma mais drástica de intervenção do Estado na propriedade, que
afeta o próprio caráter perpétuo e irrevogável do direito de propriedade.
2. Existem dois tipos de desapropriação: as desapropriações ordinárias e as desapropriações
extraordinárias.
3. Tanto a desapropriação por necessidade ou utilidade pública, quanto a desapropriação por interesse
social serão regidas pelas disposições do Decreto-Lei 3.365/41.
4. Apenas juízes estaduais ou federais podem processar a demanda, sendo certo não haver hipótese de
competência delegada, ou seja, se o bem não estiver situado na cidade sede de Justiça Federal, a ação de
desapropriação deve ser proposta na Seção Judiciária da Justiça Federal com competência para aquela
região.
5. A Lei é explícita ao autorizar os Estados a desapropriarem bens do Município, mas, implicitamente,
veda o inverso. Desse modo, deve ser aplicado, por analogia, o entendimento adotado pelo Superior Tribunal
de Justiça no sentido de que "É vedado ao Município desapropriar bens de propriedade da União ou de suas
autarquias e fundações, sem prévia autorização, por decreto, do Presidente da República”.
6. O mérito da contestação é de cognição limitada, podendo abranger apenas eventual vício no
processo judicial ou o valor da indenização, razão pela qual é incabível a propositura de reconvenção.
7. Para o Supremo Tribunal Federal o laudo particular é útil para a imissão provisória na posse de imóvel
rural, sendo necessário o laudo judicial apenas para definição do justo preço e consequente transmissão da
propriedade de forma definitiva.
8. Para o STJ, possível a desistência a qualquer tempo da ação de desapropriação desde que ainda não
tenha sido pago integralmente o valor da indenização ao particular. Assim, mesmo que iniciado o

28
55
pagamento, a desistência será viável, se não concluído, restituindo-se o bem ao particular no mesmo estado
que recebido.
9. A base de cálculo dos honorários de advogado em desapropriação é a diferença entre a oferta e a
indenização, corrigidas ambas monetariamente.
10. Na desapropriação direta, os juros compensatórios são devidos desde a antecipada imissão na posse
e, na desapropriação indireta, a partir da efetiva ocupação do imóvel.
11. Em desapropriação, é devida a correção monetária até a data do efetivo pagamento da indenização,
devendo proceder-se à atualização do cálculo, ainda que por mais de uma vez.
12. O imóvel que poderá sofrer a desapropriação para fins de reforma agrária será apenas aquele imóvel
rural que não atende a sua função social, sendo certo que o objetivo da reforma agrária é exatamente dar
função social a este bem.
13. A competência para propor a Desapropriação para fins de reforma agrária é privativa/exclusiva da
União Federal, sendo proposta pelo órgão executor (INCRA) perante a Justiça Federal.
14. A invasão do imóvel é causa de suspensão do processo expropriatório para fins de reforma agrária.
15. Há, ainda, outra modalidade de desapropriação extraordinária voltada para a zona urbana. Trata-se
da desapropriação para fins urbanísticos cuja indenização será paga com títulos da dívida pública.
16. Verificado que o imóvel se trata de solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, lei
municipal específica para área incluída no plano diretor poderá determinar o parcelamento, a edificação ou
a utilização compulsórios, fixando as condições para o cumprimento desta obrigação.
17. Acaso não cumpridas as condições e prazos estabelecidas quanto às determinações de edificação,
parcelamento e utilização compulsórios ou, ainda, acaso o particular descumpra os prazos relativos à
apresentação dos projetos ou inícios das obras (um ano ou dois anos – parágrafo 5º, do artigo 5º), poderá o
Município proceder à aplicação do IPTU progressivo no tempo.
18. Passados os cinco anos de cobrança de IPTU progressivo, o Município poderá ou manter a cobrança
do IPTU em valores máximos até que o proprietário cumpra sua obrigação ou proceder à desapropriação do
imóvel.
19. A tredestinação lícita ocorre quando o bem é desapropriado para um fim, mas lhe é dado fim diverso
pelo poder público, porém ainda permanecendo o interesse público. Exemplo: o poder público desapropria
um terreno para a construção de uma escola, mas por questões de conveniência e oportunidade decide
construir um hospital.

29
55
20. Já a tredestinação ilícita ocorre quando ao bem desapropriado é dado destino desprovido de
interesse público (transferência do bem a terceiro, por exemplo).
21. O direito de retrocessão é, pois, aquele que assiste ao proprietário do bem exigi-lo de volta caso, após
efetivada a desapropriação, a ele seja dada destinação desprovida de interesse público. Assim, sempre será
cabível o direito de retrocessão em caso de tredestinação ilícita.
22. Sempre será cabível o direito de retrocessão em caso de tredestinação ilícita.
Em caso de tredestinação lícita, passando o bem para finalidade diversa, mas igualmente fundamentada no
interesse público (bem desapropriado para construção de uma escola, mas se construiu um hospital), não
haverá direito de retrocesso.

JUIZADOS ESPECIAIS DA FAZENDA PÚBLICA


1. De acordo com o inciso I, do artigo 98, da Constituição Federal, a União, no Distrito Federal e nos
Territórios, e os Estados criarão juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos,
competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade.
2. Não se incluem na competência do Juizado Especial da Fazenda Pública:
I. as ações de mandado de segurança, de desapropriação, de divisão e demarcação, populares, por
improbidade administrativa, execuções fiscais e as demandas sobre direitos ou interesses difusos e
coletivos;
II. as causas sobre bens imóveis dos Estados, Distrito Federal, Territórios e Municípios, autarquias e
fundações públicas a eles vinculadas;
III. as causas que tenham como objeto a impugnação da pena de demissão imposta a servidores públicos
civis ou sanções disciplinares aplicadas a militares.
3. A competência do Juizado Especial Cível da Fazenda Pública será para apreciar as causas de até 60
(sessenta) salários mínimos, sendo certo que no foro onde estiver instalado o JEC, a sua competência é
absoluta.
4. Somente podem ser parte como autores as pessoas físicas e as microempresas ou empresas de
pequeno porte. E, como réus, apenas podem ser partes os Estados, o Distrito Federal, os Territórios e os
Municípios, bem como suas Autarquias e Fundações (apesar de não constar expressamente no texto legal).
5. A contagem dos prazos processuais nos Juizados da Fazenda Pública será feita em dias úteis, após a
alteração feita pela Lei 13.728/2018.

30
55
6. Em se tratando de litisconsórcio ativo facultativo, para que se fixe a competência dos Juizados
Especiais, deve ser considerado o valor da causa individualmente por autor, não importando se a soma
ultrapassa o valor de alçada.
7. O juiz poderá, de ofício ou a requerimento das partes, deferir quaisquer providências cautelares e
antecipatórias no curso do processo, para evitar dano de difícil ou de incerta reparação.
8. É cabível recurso extraordinário contra decisão proferida por juiz de primeiro grau nas causas de
alçada, ou por turma recursal de juizado especial cível e criminal.
9. Não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de segundo grau dos Juizados
Especiais.
10. A cláusula de reserva de plenário não se aplica às turmas recursais, quando da apreciação incidental
da inconstitucionalidade de normas.
11. Cabe pedido de suspensão de liminar, contra antecipação de tutela deferida pelo Juizado Especial da
Fazenda Pública, para o presidente da Turma Recursal.
12. Da sentença proferida pelo Juizado Especial da Fazenda Pública cabe recurso inominado em 10 dias
úteis.
13. Não é cabível reclamação, tampouco pedido de uniformização de jurisprudência ao STJ contra
acórdão de Turma Recursal do Juizado Especial da Fazenda Pública sob a alegação de que a decisão
impugnada diverge de orientação fixada em precedentes do STJ.
14. É inviável a discussão de matéria processual em sede de incidente de uniformização de jurisprudência
oriundo de juizados especiais, visto que cabível, apenas, contra acórdão da Turma Nacional de Uniformização
que, apreciando questão de direito material, contrarie súmula ou jurisprudência dominante no STJ.
15. O cumprimento do acordo ou da sentença, com trânsito em julgado, que imponham obrigação de
fazer, não fazer ou entrega de coisa certa, será efetuado mediante ofício do juiz à autoridade citada para a
causa, com cópia da sentença ou do acordo. Quando se tratar de obrigação de pagar quantia certa, o
pagamento será feito por meio de requisição de pequeno valor (em 60 sessenta dias) ou precatório.
16. Compete ao Juizado Especial a execução de seus próprios julgados, independente da quantia a ser
executada, desde que tenha sido observado o valor de alçada na ocasião da propositura da ação.

JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS


1. O Juizados Especial Federal divide-se em dois tipos: criminal e cível.

31
55
2. No criminal, tem competência para processar e julgar os feitos de competência da Justiça Federal relativos
às infrações de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de conexão e continência (art. 2º da Lei
10.259/01).
3. Já no cível, tem competência para processar, conciliar e julgar causas de competência da Justiça Federal
até o valor de sessenta salários mínimos, bem como executar as suas sentenças.
4. Em se tratando de litisconsórcio ativo facultativo, para que se fixe a competência dos Juizados Especiais,
deve ser considerado o valor da causa individualmente por autor, não importando se a soma ultrapassa o
valor de alçada.
5. Partes:

pessoas físicas

como autores microempresas

Somente podem
empresas de pequeno porte
ser parte

União, autarquias, fundações e


como réus
empresas públicas federais.

6. Competência:

32
55
II - as causas entre
Estado estrangeiro ou
organismo internacional
e Município ou pessoa
domiciliada ou
residente no País;

referidas no art. 109, incisos II, III e XI, da


Constituição Federal III - as causas fundadas
em tratado ou contrato
da União com Estado
as ações de mandado de segurança, de estrangeiro ou
desapropriação, de divisão e demarcação, organismo
populares, por improbidade administrativa, internacional;
execuções fiscais e as demandas sobre
direitos ou interesses difusos, coletivos ou
individuais homogêneos;
XI - a disputa sobre
Além disso, não se direitos indígenas.
incluem na
competência dos as causas sobre bens imóveis da União,
Juizados Especiais autarquias e fundações públicas federais;
Cíveis Federais:

para a anulação ou cancelamento de ato


administrativo federal, salvo o de natureza
previdenciária e o de lançamento fiscal;

que tenham como objeto a impugnação da


pena de demissão imposta a servidores
públicos civis ou de sanções disciplinares
aplicadas a militares.

7. Não haverá prazo diferenciado para a prática de qualquer ato processual pelas pessoas jurídicas de direito
público, inclusive a interposição de recursos, devendo a citação para audiência de conciliação ser efetuada
com antecedência mínima de trinta dias.
8. No Juizado Especial Federal não haverá reexame necessária.
9. É possível a concessão de tutela provisória no Juizado Especial Federal, de ofício ou a requerimento das
partes, para evitar dano de difícil reparação.

33
55
10. Da sentença proferida no Juizado Especial Federal cabe Recurso Inominado, no prazo de dez dias, o qual
terá os efeitos suspensivo e devolutivo.
11. Cabe pedido de uniformização de interpretação de lei federal quando houver divergência entre decisões
sobre questões de direito material proferidas por Turmas Recursais na interpretação da lei.
12. O pedido fundado em divergência entre decisões de turmas de diferentes regiões ou da proferida em
contrariedade a súmula ou jurisprudência dominante do STJ será julgado por Turma de Uniformização,
integrada por juízes de Turmas Recursais, sob a presidência do Coordenador da Justiça Federal.
13. O cumprimento do acordo ou da sentença, com trânsito em julgado, que imponham obrigação de fazer,
não fazer ou entrega de coisa certa, será efetuado mediante ofício do Juiz à autoridade citada para a causa,
com cópia da sentença ou do acordo.
14. De outro lado, quando se tratar de obrigação de pagar quantia certa, após o trânsito em julgado da
decisão, o pagamento será efetuado no prazo de sessenta dias, por meio de RPV, se for pequeno valor.
15. Os prazos no Juizado Especial Federal computam-se apenas em dias úteis.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA


1. A Ação Civil Pública corresponde a uma espécie de processo coletivo prevista na Lei 7.347/85. Trata-
se de procedimento destinado à tutela da coletividade e que poderá ser manejado independente da
propositura de Ação Popular, quanto aos danos morais e patrimoniais relacionados aos seguintes interesses:

I – ao meio-ambiente;
II – ao consumidor;
III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
IV – a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.
V – por infração da ordem econômica;
VI – à ordem urbanística.
VII – à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos.
VIII – ao patrimônio público e social.
2. O Ministério Público não tem legitimidade para aforar ação civil pública para o fim de impugnar a
cobrança e pleitear a restituição de imposto - no caso o IPTU - pago indevidamente.
3. O Ministério Público tem legitimidade ativa para propor ação judicial que vise a defesa de direitos
individuais homogêneos tendo em vista o relevante interesse social na causa.

34
55
4. Hoje, prevalece na doutrina e na jurisprudência que o controle difuso de constitucionalidade pode
ser exercido na ação popular (e nas demais ações coletivas, inclusive na Ação Civil Pública).
5. O pedido de condenação ao dano moral coletivo é cabível quando o dano ultrapassa os limites do
tolerável e atinge, efetivamente, valores coletivos.
6. A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer
ou não fazer.
7. A jurisprudência do STJ está firmada no sentido da viabilidade, no âmbito da Lei 7.347/85 e da Lei
6.938/81, de cumulação de obrigações de fazer, de não fazer e de indenizar
8. Se a ação civil pública se encaixar em qualquer das hipóteses previstas no art. 109 da Constituição
Federal, que estabelece a competência do juiz federal, deverá tramitar na Justiça Federal necessariamente,
não lhe sendo aplicável a regra do parágrafo 3º do mesmo art. 109 (julgamento por juiz estadual).
9. No Brasil, a legitimação para demandas coletivas é plúrima, eis que vários entes são legitimados para
proporem as demandas e mista, eis que tanto entes da sociedade civil como do Estado são legitimados para
o manejo da ação coletiva.
10. A Defensoria Pública é parte legítima para propor a Ação Civil Pública.
11. Para que a Associação possa manejar a Ação Civil Pública, faz-se necessário que tenha sido constituída
há pelo menos um ano, nos termos da lei civil e inclua entre suas finalidades institucionais a defesa do
patrimônio público ou social, ao meio ambiente, ao consumidor ou outros direitos coletivos lato sensu.
12. Diante do microssistema processual das ações coletivas, em interpretação sistemática de seus
dispositivos (art. 5°, § 3°, da Lei n. 7.347/1985 e art. 9° da Lei n. 4.717/1965), deve ser dado aproveitamento
ao processo coletivo, com a substituição (sucessão) da parte tida por ilegítima para a condução da demanda
e não extinto o processo sem resolução do mérito.
13. Qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá provocar a iniciativa do Ministério Público,
ministrando-lhe informações sobre fatos que constituam objeto da ação civil e indicando-lhe os elementos
de convicção.
14. Se, no exercício de suas funções, os juízes e tribunais tiverem conhecimento de fatos que possam
ensejar a propositura da ação civil, remeterão peças ao Ministério Público para as providências cabíveis.
15. Reconhecida a continência, devem ser reunidas na Justiça Federal as ações civis públicas propostas
nesta e na Justiça estadual.

35
55
16. É direito básico do consumidor a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do
ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando
for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências.
17. O Ministério Público, no âmbito de ação consumerista, faz jus à inversão do ônus da prova, a
considerar que o mecanismo previsto no art. 6º, inc. VIII, do CDC busca concretizar a melhor tutela processual
possível dos direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos e de seus titulares - na espécie, os
consumidores -, independentemente daqueles que figurem como autores ou réus na ação.
18. Em Ação Civil Pública será cabível tanto a tutela cautelar como a satisfativa requerida de forma
provisória. Além disso, possível também o pedido de tutela inibitória, inexistindo maiores diferenças em
relação à tutela provisória dos processos individuais.

19. A coisa julgada da sentença coletiva pode ser resumida da seguinte forma:

• Processo extinto sem resolução do mérito – Produz apenas coisa julgada formal;
• Pedido julgado improcedente – Não atinge as demandas individuais que porventura venham
a ser propostas;
• Pedido julgado improcedente por insuficiência de provas – Não atinge as demandas coletivas
que venham a ser novamente intentadas, desde que baseadas em novas provas;
• Sentença julgada procedente – Transporte da coisa julgada – Todos beneficiados;

20. A liquidação da sentença é a fase do processo que define com segurança o valor da prestação
(quantum debeatur) e ainda individualiza o objeto da prestação (quid debeatur) nas decisões proferidas de
forma ilíquidas.

21. A sentença coletiva que diga respeito a direitos coletivos em sentido estrito ou a direitos difusos pode
ser executada nos próprios autos pelo autor coletivo ou pela vítima através do transporte in utilibus da coisa
julgada coletiva.

22. Tal liquidação quando feita nos próprios autos pelo legitimado coletivo não se distingue do processo
individual, eis que apenas irá se buscar a identificação do quanto é devido.

23. Já no caso de liquidação pela própria vítima ou por seus sucessores, necessário que seja feita tanto a
identificação do valor executado como também do titular do crédito, sendo necessário ser dado início a um
processo executivo.

36
55
24. É que se aplica à hipótese o previsto no artigo 95 do Código de Defesa do Consumidor, pertinente
também quanto à condenação coletiva relativa a direitos individuais homogêneos.

25. Decorrido o prazo de um ano sem habilitação de interessados em número compatível com a
gravidade do dano, surge a legitimidade ativa extraordinária e subsidiária dos legitimados coletivos para
execução do julgado.

26. Em Associações, apenas é possível a execução do título executivo de forma individual acaso a
Associação tenha demandado em juízo expressamente autorizada pelos filiados e acostado à inicial a lista
dos representados.

27. Em sindicatos, todos os sindicalizados, independente de autorização, poderão demandar em juízo e


executar o título coletivo, haja vista a incidência do instituto da substituição processual.

28. O produto desta execução reverterá ao Fundo de Defesa dos Direitos Difusos (FDD) e se chama fluid
recovery (“indenização fluida”) ou recuperação fluida – já que se trata dos valores referentes aos titulares
dos direitos individuais recuperados para o FDD para garantir o princípio da tutela integral do bem jurídico
coletivo, conforme parágrafo único do art. 100, do CDC.

29. Em razão da necessidade de se facilitar a efetividade dos direitos albergados pelas ações coletivas, o
Superior Tribunal de Justiça pacificou o entendimento segundo o qual é possível o ajuizamento da demanda
executória individual no foro do domicílio do credor.

30. De acordo com o artigo 99, do Código de Defesa do Consumidor, em caso de concurso de créditos
decorrentes da condenação existente em Ação Civil Pública, terão preferência os prejuízos individuais
relacionados ao mesmo evento danoso.

31. Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo dano causado reverterá a um fundo gerido por
um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participarão necessariamente o Ministério Público
e representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados à reconstituição dos bens lesados. Trata-
se do Fundo de Defesa dos Direitos Difusos.

32. A gestão do Fundo (FDD) compete ao Conselho Federal Gestor do Fundo de Defesa dos Direitos
Difusos (CFDD), órgão colegiado integrante da estrutura do Ministério da Justiça.

33. Os recursos arrecadados pelo Fundo serão distribuídos para a efetivação das medidas dispostas no
artigo 6º do Decreto 1.036/94 e suas aplicações deverão estar relacionadas com a natureza da infração ou

37
55
do dano causado, sendo certo que serão prioritariamente aplicados na reparação específica do dano
causado, sempre que possível.

CADERNO DOS ENTENDIMENTOS ADMINISTRATIVOS DA


AGU
Olá Estrategista,

Sou o professor João Paulo Lawall Valle, professor de carreiras jurídicas do Estratégia e Advogado da União.

Como vocês tem acompanhado os concursos para as carreiras da Advocacia-Geral da União estão
caminhando e em breve teremos a publicação de 3 editais para os cargos de Advogado da União, Procurador
da Fazenda Nacional e Procurador Federal.

A Advocacia-Geral da União, conforme previsão da Lei Complementar nº 73/1993, pode editar súmulas para
orientar a atuação dos membros da carreira, tornando-a mais racional e uniforme.

Além disso, a AGU, através dos seus órgãos de atuação contenciosa e consultiva produz manifestações
jurídicas que orientam a atuação da Instituição alinhadas com os precedentes qualificados e a jurisprudência
dominante do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal.

Dada a relevância desses entendimentos e a elevada possibilidade deles constarem em algumas questões
das provas da AGU é importante conhecê-los e estudar com maior profundidade os temas com maiores
chances de cobrança.

Através dos materiais produzidos neste curso o Estratégia concursos trará a análise detalhada das principais
súmulas da AGU e dos mais relevantes entendimentos, entregando aos alunos tudo que é preciso saber
sobre esses temas.

Vamos juntos! Abraços

SÚMULAS DA ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO


As súmulas da Advocacia-Geral da União consolidam a jurisprudência iterativa dos Tribunais, nos termos do
artigo 4º, I da Lei Complementar nº 73/1993. Essas súmulas têm função de orientar a atuação dos membros
da AGU e têm caráter obrigatório para os órgãos jurídicos enumerados nos arts. 2º e 17 da LC n. 73/93.

Atualmente a Advocacia-Geral da União conta com 86 entendimentos sumulados, sendo importante que os
alunos que têm como objetivo aprovação nos próximos certames da AGU os conheçam e aprofundem o
estudo nos mais relevantes.

38
55
Dada a extensão do conteúdo programático, o que demanda a realização de um estudo estratégico, foi
desenvolvido este material, onde serão analisadas com a profundidade devida as súmulas mais relevante e
atuais para os concursos públicos da Advocacia Pública Federal.

O estudo será feito na ordem inversa da data da publicação das súmulas, começando pelas mais recente, até
a mais antiga. Como o objetivo é entregar aos nossos alunos o conteúdo que efetivamente pode ser cobrado
nas provas, serão analisadas as súmulas com conteúdo mais relevantes que ainda se mantém atuais.

SÚMULA Nº 86, DE 20 DE NOVEMBRO DE 2020 - Direito Administrativo

"A exigência de escolaridade de nível médio, para fins de concurso público, pode ser considerada
atendida pela comprovação, pelo candidato, de que possui formação em curso de nível superior
com abrangência suficiente para abarcar todos os conhecimentos exigíveis para o cargo de nível
técnico previsto no edital e dentro da mesma área de conhecimento pertinente."

A Constituição Federal de 1988 estabelece no artigo 37, I que o acesso aos cargos, empregos e funções
públicas depende do preenchimento dos requisitos estabelecidos em lei.

O artigo 5º da Lei 8.112/1990 dispõe sobre os requisitos básicos para investidura em cargo público,
prevendo o seguinte:

Art. 5o São requisitos básicos para investidura em cargo público:

I - a nacionalidade brasileira;

II - o gozo dos direitos políticos;

III - a quitação com as obrigações militares e eleitorais;

IV - o nível de escolaridade exigido para o exercício do cargo;

V - a idade mínima de dezoito anos;

VI - aptidão física e mental.

Como se vê, um dos requisitos necessários para que uma pessoa possa ser regularmente investida em um
cargo público é possuir o nível de escolaridade exigido para o exercício do cargo conforme previsto no edital
do concursos público.

Em relação à exigência do nível de escolaridade instaurou-se grande polêmica na jurisprudência nacional ao


ponto do Superior Tribunal de Justiça afetar o tema para julgamento na sistemática dos recursos especiais
repetitivos, delimitando a controvérsia da seguinte maneira:

Possibilidade de candidato aprovado em concurso público assumir cargo que, segundo o edital,
exige título de Ensino Médio profissionalizante ou completo com curso técnico em área

39
55
específica, caso não seja portador desse título, mas detenha diploma de nível superior na mesma
área profissional.

A posição inicial da Advocacia-Geral da União no seu Recurso Especial era no sentido de que a permissão
de investidura de candidato sem a comprovação da escolaridade exigida no edital (título de Ensino Médio
profissionalizante ou completo com curso técnico em área específica), ainda que detenha diploma de nível
superior na mesma área profissional, viola as disposições do art. 5.º, IV, e 10 da Lei n.º 8.112/90.

Ao analisar o Recurso Especial nº 1.903.883 não concordo com os argumentos da AGU e desproveu o REsp
e firmou a seguinte tese (recurso julgado sob a sistemática do art. 1.036 e seguintes do CPC/2015):

"O candidato aprovado em concurso público pode assumir cargo que, segundo o edital, exige
título de Ensino Médio profissionalizante ou completo com curso técnico em área específica, caso
não seja portador desse título mas detenha diploma de nível superior na mesma área
profissional.".

Os principais fundamentos que levaram à produção da tese acima transcrita são os seguintes:

➢ A titulação superior à exigida traz efeitos benéficos para o serviço público e, consequentemente,
para a sociedade brasileira, tais como (i) a ampliação do leque de candidatos postulantes ao cargo
público, permitindo uma seleção mais abrangente e mais competitiva no certame e (ii) a própria
prestação do serviço público é aperfeiçoada com a investidura de servidores mais qualificados e aptos
para o exercício da função pública;

➢ Ao analisar as consequências práticas da decisão, conforme determina o artigo 20 da Lei de


Introdução às Normas do Direito Brasileiro - LINDB, os efeitos benéficos para a sociedade justificam
a superação da literalidade do artigo 5º, IV da Lei 8.112/1990;

➢ Previsão do art. 37 da Constituição Federal, que erige o princípio da eficiência dentre os vetores da
administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios.

Ou seja, não é possível obstar a posse em cargo público de candidato que apresenta escolaridade superior
àquela exigida em edital. Entender de forma diversa, aliás, implicaria esvaziar a primordial finalidade dos
concursos públicos, qual seja, selecionar de forma objetiva os mais bem preparados para exercer o múnus
público.

Assim, o STJ publicou o seguinte acórdão para o Recurso Especial nº 1.903.883:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL SOB O RITO DOS RECURSOS REPETITIVOS. ARTS. 5.º, IV,
E 10 DA LEI N.º 8.112/1990. ART. 9.º, § 2.º, DA LEI N.º 11.091/2005. CONCURSO PÚBLICO.
EXIGÊNCIA DE TÍTULO DE ENSINO MÉDIO PROFISSIONALIZANTE OU COMPLETO COM CURSO
TÉCNICO EM ÁREA ESPECÍFICA. CANDIDATO PORTADOR DE DIPLOMA DE NÍVEL SUPERIOR NA
MESMA ÁREA PROFISSIONAL. QUALIFICAÇÃO SUPERIOR À EXIGIDA. POSSIBILIDADE DE
INVESTIDURA NO CARGO. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E IMPROVIDO. RECURSO JULGADO

40
55
SOB A SISTEMÁTICA DO ART. 1.036 E SEGUINTES DO CPC/2015, C/C O ART. 256-N E SEGUINTES
DO REGIMENTO INTERNO DO STJ.

1. O objeto da presente demanda é definir se candidato aprovado em concurso público pode


assumir cargo que, segundo o edital, exige título de Ensino Médio profissionalizante ou completo
com curso técnico em área específica, caso não seja portador desse título mas detenha diploma
de nível superior na mesma área profissional.

2. O art. 5.º, IV, e 10 da Lei n.º 8.112/1990; e o art. 9.º, § 2.º, da Lei n.º 11.091/2005 determinam
que a investidura em cargo público apenas ocorrerá se o candidato tiver o nível de escolaridade
exigido para o exercício do cargo, conforme estiver previsto no edital do certame. Sobre isso, no
entanto, não há controvérsia alguma. A questão que se coloca apresenta uma nota distintiva,
qual seja, saber se atende à exigência do edital o candidato que porta um diploma de nível
superior na mesma área profissional do título de Ensino Médio profissionalizante ou completo
com curso técnico indicado como requisito no certame.

3. Passo a examinar da situação do REsp n.º 1.903.883/CE, o que tornará mais claro o fato de que
a aceitação de titulação superior à exigida pelo edital em área específica não fere a
discricionariedade ou conveniência da administração. O impetrante pleiteia o direito de ser
empossado no cargo de Técnico de Laboratório - Área Biologia, após aprovação em concurso
público, tendo sido negada sua investidura sob o argumento de que não teria apresentado a
habilitação exigida no edital, consistente no certificado de ensino médio profissionalizante na
área de Biologia ou ensino médio completo com curso técnico na área de Biologia. Ficou
comprovado nos autos que o impetrante é Bacharel e Mestre em Biologia. Ou seja, trata-se de
um profissional altamente qualificado para exercer o cargo ora questionado, possuindo,
portanto, qualificação bem superior à exigida para o cargo.

4. Sob um prisma da análise econômica do Direito, e considerando as consequências práticas da


decisão – nos termos do art. 20 do Decreto-Lei nº 4.657/1942 (acrescentado pela Lei nº
13.655/2018, que deu nova configuração à Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro -
LINDB) –, não se pode deixar de registrar que a aceitação de titulação superior à exigida traz
efeitos benéficos para o serviço público e, consequentemente, para a sociedade brasileira.
Destaco os seguintes: 1) o leque de candidatos postulantes ao cargo é ampliado, permitindo
uma seleção mais abrangente e mais competitiva no certame; 2) a própria prestação do serviço
público é aperfeiçoada com a investidura de servidores mais qualificados e aptos para o
exercício da função pública.

5. Tal postura se coaduna com a previsão do art. 37 da Constituição Federal, que erige o princípio
da eficiência dentre os vetores da administração pública direta e indireta de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

6. A jurisprudência do STJ tratando do caso concreto é pacífica há bastante tempo. A necessidade


de afetar o tema como repetitivo se deve à insistência da administração pública na interposição
de recursos trazendo a mesma temática repetidas vezes a esta Corte. Após firmar-se o
precedente vinculante em recurso repetitivo, os tribunais locais terão o instrumental para evitar

41
55
a subida de recursos ao STJ, e o Poder Judiciário deverá considerar como litigância de má-fé a
eventual postulação contra precedente vinculante.

7. Não se configura presente a necessidade de modulação dos efeitos do julgado, tendo em vista
que tal instituto visa a assegurar a efetivação do princípio da segurança jurídica, impedindo que
o jurisdicionado de boa-fé seja prejudicado por seguir entendimento dominante que terminou
sendo superado em momento posterior, o que, como se vê claramente, não ocorreu no caso
concreto.

8. Tese jurídica firmada: "O candidato aprovado em concurso público pode assumir cargo que,
segundo o edital, exige título de Ensino Médio profissionalizante ou completo com curso técnico
em área específica, caso não seja portador desse título mas detenha diploma de nível superior
na mesma área profissional.".

9. Recurso especial conhecido e improvido, nos termos da fundamentação.

10. Recurso julgado sob a sistemática do art. 1.036 e seguintes do CPC/2015 e art. 256-N e
seguintes do Regimento Interno deste STJ.

Assim, a jurisprudência firme do Superior Tribunal de Justiça autorizando que candidato aprovado em
concurso público assuma cargo que, segundo o edital, exige título de Ensino Médio profissionalizante ou
completo com curso técnico em área específica, caso não seja portador desse título mas detenha diploma
de nível superior na mesma área profissional fundamentou a edição da Súmula nº 86 da AGU.

SÚMULA Nº 85, DE 23 DE JANEIRO DE 2020 - Direito Administrativo

"A exigibilidade da multa por retenção de imóvel funcional, prevista no artigo 15, inciso I, alínea
"e", da Lei nº 8.025/90, será suspensa durante a vigência de provimento judicial proferido no
curso de discussão sobre o direito à sua aquisição."

A Lei 8.025/2020 dispõe sobre a alienação de bens imóveis residenciais de propriedade da União e regula
também a ocupação dos imóveis residenciais não destinados à alienação. A referida lei expressamente exclui
da autorização para alienação situações nas quais os imóveis são ocupados por agentes públicos. Assim
dispõe a legislação:

Art. 1º É o Poder Executivo autorizado a alienar, mediante concorrência pública e com


observância do Decreto-Lei nº 2.300, de 21 de novembro de 1986, os imóveis residenciais de
propriedade da União situados no Distrito Federal, inclusive os vinculados ou incorporados ao
Fundo Rotativo Habitacional de Brasília (FRHB).

(...)

§ 2º Não se incluem na autorização a que se refere este artigo, os seguintes imóveis:

I - os residenciais administrados pelas Forças Armadas, destinados à ocupação por militares;

42
55
II - os destinados a funcionários do Serviço Exterior, de que trata a lei nº 7.501, de 27 de junho
de 1986;

III - os ocupados por membros do Poder Legislativo;

IV - os ocupados por Ministros do Supremo Tribunal Federal, dos Tribunais Superiores e do


Tribunal de Contas da União, pelo Procurador-Geral da República, pelos Subprocuradores-Gerais
do Ministério Público Federal, do Trabalho e Militar e pelo Procurador-Geral do Tribunal de
Contas da União, salvo sua expressa manifestação em contrário, no prazo de vinte dias a partir
da data da publicação desta lei;

V - os destinados a servidores no exercício de cargo ou função de confiança que sejam


considerados, pelo Poder Executivo, indispensáveis ao serviço público.

A utilização dos imóveis por agentes públicos se dá através de permissão de uso de bem público e o
permissionário (o usuário do bem) tem diversas obrigações prevista em lei, especialmente de pagar,
conforme se colhe do artigo 15:

Art. 15. O permissionário, dentre outros compromissos se obriga a:

I - pagar:

a) taxa de uso;

b) despesas ordinárias de manutenção, resultantes do rateio das despesas realizadas em cada


mês, tais como zeladoria, consumo de água e energia elétrica, seguro contra incêndio, bem assim
outras relativas às áreas de uso comum;

c) quota de condomínio, exigível quando o imóvel funcional estiver localizado em edifício em


condomínio com terceiros, hipótese em que não será devido o pagamento previsto na alínea
anterior;

d) despesas relativas a consumo de gás, água e energia elétrica do próprio imóvel funcional;

e) multa equivalente a dez vezes o valor da taxa de uso, em cada período de trinta dias de
retenção do imóvel, após a perda do direito à ocupação;

II - aderir à convenção de administração do edifício;

III - ao desocupar o imóvel, restituí-lo nas mesmas condições de habitabilidade em que o recebeu.

Dentre as obrigações pecuniárias previstas no inciso I do artigo 15, consta na alínea e obrigação de natureza
punitiva decorrente da não ocupação do imóvel após a perda do direito à sua ocupação. Ou seja, quando
cesse o direito à ocupação do imóvel e este não é desocupado pelo ocupante, inicia a incidência da multa
equivalente a dez vezes o valor da taxa de uso, em cada período de trinta dias de retenção do imóvel.

43
55
Para a aquisição dos imóveis da União é necessário compatibilizar a autorização legal e a ausência de
enquadramento nas situações em que a alienação é vedada. Em determinadas situações instaurou-se litígio
entre a União e o permissionário sobre o direito de aquisição do imóvel público (STJ - REsp 1787989/DF, EAR
513/DF 2007/0013083-9). A alienação de bem imóvel somente pode ocorrer nos exatos termos previstos na
lei autorizativa, fundamental para regularidade da venda (art. 17, I da Lei 8.666/1993 e art. 76 da Lei
14.133/2021).

Os imóveis destinados à ocupação por militar e administrados pelas Forças Armadas deverão ser devolvidos
à União, tão logo cesse o vínculo funcional com a Administração Pública. A discussão tratada na súmula se
refere à exigibilidade da multa prevista no artigo 15, I, e da Lei nº 8.025/90 uma vez concedida decisão liminar
para garantir a posse ao anterior ocupante.

Durante a pendência de litígio entre União e permissionário objetivando a aquisição do bem, na hipótese de
existir decisão judicial que permita a manutenção da ocupação, o entendimento sumulado é no sentido de
que a exigibilidade da multa do artigo 15, I, e da Lei nº 8.025/90 estará suspensa, não podendo ser cobrada
pela União enquanto vigente a ordem judicial. Importante destacar que no caso não há interrupção da
exigibilidade da multa (situação na qual a exação não seria devida no período que perdurasse a decisão
permitindo a ocupação), especialmente por conta do entendimento do Superior Tribunal de Justiça no
sentido de que o dies a quo da multa prevista na legislação, portanto, coincide com o momento da perda
do direito à ocupação do imóvel, e não com o trânsito em julgado da decisão judicial, já que os efeitos
desta operam ex tunc (REsp 1.787.989/DF).

A súmula em estudo alterou a redação da súmula nº 41 que previa que a multa do artigo 15, I, e
da Lei 8.025/1990, referente a ocupação irregular de imóvel funcional seria aplica apenas após o
trânsito em julgado da ação judicial de reintegração de posse ou da ação na qual se discute o
direito à aquisição do imóvel funcional.

Importante perceber que a redação atual dada pela súmula nº 85 admite a incidência da referida
multa a partir do momento da perda do direito à ocupação do imóvel , ficando a sanção
suspensa na hipótese de deferimento de liminar em processo que discuta o direito à sua
aquisição. O entendimento atual da Advocacia-Geral da União coaduna-se com a jurisprudência
do Superior Tribunal de Justiça.

Vejamos o acórdão proferido no REsp 1.787.989/DF, de 07 de maio de 2019, da relatoria do Ministro Herman
Banjamin:

ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. REINTEGRAÇÃO DE POSSE. OCUPAÇÃO IRREGULAR DE


IMÓVEL PÚBLICO POR SERVIDOR PÚBLICO. SANÇÃO PREVISTA NA LEI 8.025/1990. MULTA
INCIDENTE A PARTIR DA PERDA DO DIREITO À OCUPAÇÃO DO IMÓVEL, E NÃO DA DATA DO
TRÂNSITO EM JULGADO.

44
55
1. Trata-se, na origem, de Ação de Reintegração de Posse proposta pela União contra o recorrido,
objetivando ser reintegrada na posse de imóvel e ser indenizada pelas perdas e danos
decorrentes da ocupação indevida, com a cominação da multa, bem como das taxas de ocupação,
despesas e gastos de manutenção e serviços.

2. O magistrado sentenciante concluiu indevido o pagamento de indenização equivalente ao


valor locatício do imóvel, proporcional ao tempo da ocupação ilegal, tendo em vista que a Lei
8.025/1990 "estabeleceu todas as sanções aplicáveis ao ocupante, dentre as quais não se insere
a pretendida indenização".

3. O acórdão recorrido está em consonância com a orientação jurisprudencial do STJ de que não
cabe indenização por perdas e danos com base em eventual recebimento de aluguéis por
ocupação irregular de imóvel, uma vez que não se aplicam na espécie institutos jurídicos próprios
do Direito Civil decorrentes de relação contratual, mesmo porque cuidou o legislador de prever
expressamente a sanção devida em caso de ocupação irregular de imóvel da União na Lei
8.025/1990, que regula a alienação e a ocupação dos bens imóveis de propriedade da União.
Hipótese em que a multa prevista na legislação terá incidência a partir do momento da perda
do direito à ocupação do imóvel, e não do trânsito em julgado.

4. Recurso Especial não provido.

Assim, reconhecido judicialmente que o ocupante não tinha o direito de adquirir o imóvel a multa prevista
no artigo 15, I, e da Lei nº 8.025/90 será devida desde a perda do direito à ocupação do imóvel.

SÚMULA Nº 84, DE 23 DE JANEIRO DE 2020 - Direito Administrativo

"A anulação, pela Administração Pública, de ato administrativo do qual já decorreram efeitos
concretos deve ser precedida de regular processo administrativo".

A Constituição Federal de 1988 previu como garantia fundamental de todo brasileiro e estrangeiro residente
no Brasil o contraditório e a ampla defesa, prevendo o seguinte no artigo 5º, LV:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são


assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

A anulação de um ato administrativo é a sua invalidação pelo fato dele ter sido editado em desconformidade
com a ordem jurídica. Ou seja, a anulação pressupõe a existência de ILEGALIDADE na prática do ato. No caso
da anulação é irrelevante a natureza discricionária ou vinculada, havendo ilegalidade o ato deve ser anulado,
salvo situações excepcionais que se admite a convalidação ou sanatória do ato viciado.

45
55
A súmula 473 do Supremo Tribunal Federal dispõe sobre o tema da seguinte maneira:

A administração pode anular seus próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam ilegais,
porque deles não se originam direitos; ou revogá-los, por motivo de conveniência ou
oportunidade, respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a apreciação
judicial.

Sobre a obrigatoriedade da anulação, a doutrina do professor Rafael Carvalho Rezende de Oliveira traz
importante lição:

Em regra, a Administração Pública tem o dever de anular o ato administrativo que viola a
ordem jurídica, tendo em vista o princípio constitucional da legalidade. Trata-se de atividade
vinculada e não discricionária.

Não se trata, no entanto, de dever absoluto, admitindo-se que, em circunstâncias especiais, a


Administração Pública deixe de invalidar o ato ilegal, para convalidá-lo por razões de segurança
jurídica ou boa-fé, bem como na hipótese de decadência administrativa(art.54 da Lei
9.784/1999).

[Curso de Direito Administrativo. 2021. Editora Método].

Esta anulação dos atos ilegais decorre do chamado exercício da autotutela administrativa, que impõe tal
obrigação para Administração Pública em homenagem, sobretudo, ao princípio da legalidade.

Porém, este exercício da autotutela encontra limite no devido processo legal. A professora Mônica Martins
Toscano Simões, em sua obra O processo administrativo e a invalidação de atos viciados ensina o seguinte:

O exercício da autotutela deve ocorrer através de procedimento administrativo que confira


àqueles que eventualmente venham a ser atingidos pela decisão invalidatória oportunidade de
manifestação prévia, observados os desdobramentos da ampla defesa. Essa providência é
indispensável ao resguardo do devido processo legal, sem o qual não se pode falar em legítima
recomposição da legalidade.

Por sua vez a ministra do Supremo Tribunal Federal Carmén Lucia em artigo acadêmico destaca o seguinte:

“O processo administrativo democrático não é senão o encontro da segurança jurídica justa. Ela
é uma das formas de concretização do princípio da legitimidade do poder, à medida em que se
esclarecem e se afirmam os motivos das decisões administrativas. Tais decisões são questionadas
e deslindadas no processo administrativo e, nessa sede, o poder no exercício do qual elas foras
adotadas recebe a sua condição legítima própria. Quanto mais democrático for o processo
administrativo, mais demonstrativo ele é da essência e prática do exercício do poder em
determinado Estado.
(...)

46
55
É, pois, para a realização dos princípios democráticos legitimadores do exercício do poder que
se põe o processo administrativo como instrumento de ação do agente público, gerando-se em
sua base jurídica o conjunto elementar dos subprincípios que dão ao cidadão a segurança de
aplicação eficiente do Direito justo.”

Assim, no caso de ato administrativo que gere efeitos concretos para o administrado, se Administração
Pública, no exercício do seu poder-dever de autotutela, vislumbre a existência de ilegalidade que determine
a anulação do referido ato, em nome da segurança jurídica e da proteção da confiança legítima, é
necessário que seja garantido ao particular a possibilidade de se manifestar sobre a possível anulação,
assegurando o direito ao contraditório e a ampla defesa.

ENTENDIMENTOS JURÍDICOS DA ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO


Além dos entendimentos jurídicos sumulados pela Advocacia-Geral da União, os órgãos de direção superior
da Instituição emitem diversas orientações para os seus membros, visando uniformizar a atuação e garantir
a segurança jurídica da atuação estatal, seja em juízo ou na esfera administrativa.

Neste tópico estudaremos os entendimentos mais relevantes para o próximo concurso da Advocacia-Geral
da União, trazendo para os nossos alunos os pontos com maiores chances de cobrança nas futuras provas.

Tema: Arbitragem

A possibilidade de controle judicial da convenção de arbitragem

A arbitragem é um dos métodos alternativos ao Poder Judiciário que pode ser utilizado para resolução de
conflitos envolvendo direitos patrimoniais disponíveis.

Desde a introdução da arbitragem no ordenamento jurídico brasileiro, surgiram discussões acerca da


possibilidade de utilização do instituto pelo poder público.

A origem dessa controvérsia encontra-se no fato de ser um mecanismo originariamente privado de resolução
de conflitos e, ademais, diante da (i) ausência de norma expressa permitindo a utilização da via arbitral pelo
poder público e (ii) do regime jurídico (de direito público) a que se submete a Administração Pública (pautado
em normas e princípios específicos, tal como a legalidade e a indisponibilidade do interesse público).

A Lei nº 9.307/1996 (Lei de arbitragem) é o primeiro diploma legal brasileiro a tratar exclusivamente da
arbitragem e com a sua reforma implementada pela Lei nº 13.129, de 26 de maio de 2015, passou a prever
expressamente a possibilidade de utilização do procedimento arbitral pela administração pública. Assim é
a redação do artigo 1º, §1º da Lei 9.307/1996:

Art. 1º.

§ 1o A administração pública direta e indireta poderá utilizar-se da arbitragem para dirimir


conflitos relativos a direitos patrimoniais disponíveis.

47
55
O Superior Tribunal de Justiça, tem a sua jurisprudência firmada no sentido da possibilidade da utilização da
arbitragem pela Administração Pública:

1.No atual estágio legislativo, não restam dúvidas acerca da


possibilidade da adoção da arbitragem pela Administração Pública,
direta e indireta, bem como da arbitrabilidade nas relações
societárias, a teor das alterações promovidas pelas Leis nº
13.129/2015 e 10.303/2001. (CC 151130 / SP)

X - Convivência harmônica do direito patrimonial


disponível da Administração Pública com o princípio da
indisponibilidade do interesse público. A Administração Pública, ao
recorrer à arbitragem para solucionar litígios que tenham por objeto
direitos patrimoniais disponíveis, atende ao interesse público,
preservando a boa-fé dos atos praticados pela Administração Pública,
em homenagem ao princípio da segurança jurídica. (CC 139519 / RJ)

Importante destacar que mesmo após a reforma legislativa acima referida e a jurisprudência do STJ a questão
ainda comporta debates tal como o conceito de direito disponível para a administração e, portanto, apto a
ser objeto de arbitragem.

A presença do poder público em determinado procedimento arbitral atrai a incidência de normas


específicas, inexistentes quando se analisa a arbitragem envolvendo exclusivamente particulares. A razão
para isso encontra-se no regime jurídico de direito público a que está sujeito o poder público.

O próprio legislador positivo tratou de diferenciar o tratamento conferido à administração pública na


arbitragem, ao vedar – implicitamente – a utilização da arbitragem de equidade (apenas há permissão de
arbitragem de direito), além de exigir o respeito ao princípio da publicidade:

Art. 2º A arbitragem poderá ser de direito ou de eqüidade, a critério das partes.

(...)

§ 3o A arbitragem que envolva a administração pública será sempre de direito e respeitará o


princípio da publicidade.

A arbitragem tem natureza voluntária e encontra-se expressa em diversos dispositivos de referida Lei, tal
como o caput e §1º (acima transcrito) do artigo 1º e no art. 3º:

Art. 1º As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios
relativos a direitos patrimoniais disponíveis.

48
55
Art. 3º As partes interessadas podem submeter a solução de seus litígios ao juízo arbitral
mediante convenção de arbitragem, assim entendida a cláusula compromissória e o
compromisso arbitral.

A voluntariedade ou consensualidade das partes pode ser considerada um dos pilares estruturantes dos
meios alternativos de resolução de conflitos (dentre os quais se encontra a arbitragem). Vale dizer, ausente
a consensualidade, as partes fatalmente levariam o conflito ao Poder Judiciário. Logo, pode-se afirmar que,
no Brasil, não há arbitragem obrigatória.

Firmado que a arbitragem é um procedimento voluntário, ao optar pela submissão do conflito à arbitragem,
as partes celebram a convenção de arbitragem. E o que se entende por convenção de arbitragem (ou
convenção arbitral)?

A convenção arbitral é o pacto (negócio) pelo qual as partes se obrigam a submeter a um árbitro
(e não a um juiz estatal) a controvérsia sobre uma relação jurídica de direito material (relação
material subjacente), que será decidida definitivamente por meio de um procedimento dotado
de normatividade (processo arbitral). Assim, a arbitragem tem conteúdo jurisdicional, mas
origem negocial.

(MEGNA, Bruno Lopes. Arbitragem e administração pública: fundamentos teóricos e soluções


práticas. Belo Horizonte: Fórum, 2019, p. 178) - [trecho com adaptações/grifos acrescidos]

A convenção arbitral é o pacto (ou negócio jurídico) mediante o qual se comprometem a submeter a
disputa acerca de determinada relação jurídica de direito material a árbitro ou órgão colegiado, que
proferirá decisão definitiva no bojo de processo dotado de normatividade.

No âmbito da Administração Pública, a escolha da arbitragem resultará da prática de ato administrativo em


harmonia com o ordenamento jurídico. Ou seja, terá que conter os seguintes elementos:

Em relação ao instrumento contratual (convenção de arbitragem propriamente dita), vale observar que,
embora ditadas por normas de direito privado, há derrogação parcial de determinadas disposições por
normas de direito público, pois se trata de contratos privados da Administração.

Assim se manifesta a doutrina especializada dos professores Gustavo Justino de Oliveira e


Felipe Faiwichow Estefam:

As disposições contratuais da convenção de arbitragem são ditadas pelo direito privado, mas
são parcialmente derrogados pelo direito público, pois qualificam-se como contratos privados
da Administração.

49
55
Assim, as convenções de arbitragem em que a Administração seja parte devem atender algumas
especifidades de direito público, como: i) podem ser controladas pelos Tribunais de Contas; ii) a
autoridade que celebra a convenção de arbitragem deve ser investida de poderes para tanto; iii)
o bem jurídico objetivado pelo contrato deve ser de acordo com o mandamento do ordenamento
jurídico, entre outros.

Em síntese, a convenção arbitral submete-se a regras de direito privado, mas essas regras devem
conviver com os princípios e regras de direito público.

(OLIVEIRA, Gustavo Justino de. ESTEFAM, Felipe Faiwichow. Curso prático de arbitragem e
administração pública. São Paulo: Thomson Reuters, 2019, p. 54) - [grifos acrescidos]

ESPECIFICIDADES DA CONVENÇÃO DE ARBITRAGEM ENVOLVENDO A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Possibilidade de controle pelo Tribunal de Contas respectivo.

Autoridade que celebra a convenção de arbitragem deve ser investida de poderes


para tanto.

O bem jurídico objetivado pelo contrato deve ser de acordo com o mandamento do
ordenamento jurídico.

Analisando a Lei 9.307/96, especialmente o seu artigo 3º, observa-se que a convenção de arbitragem é
gênero que se subdivide nas seguintes espécies: a) cláusula compromissória; e b) compromisso arbitral.

A cláusula compromissória é a
convenção através da qual as partes
em um contrato comprometem-se a
submeter à arbitragem os litígios que
possam vir a surgir, relativamente a
tal contrato (art. 4º)
Convenção de arbitragem
O compromisso arbitral é a
convenção através da qual as partes
submetem um litígio à arbitragem de
uma ou mais pessoas, podendo ser
judicial ou extrajudicial (art. 9º)

A convenção de arbitragem possui limites definidos pela lei (art. 1º, caput, da Lei nº 9.307/96), sendo esses:

50
55
Arbitrabilidade Capacidade para celebrar
Limites da subjetiva convenção de arbitragem.
convenção de
arbitragem Arbitrabilidade Matérias que podem ser
objetiva submetidas à arbitragem.

Esses dois limites para a convenção de arbitragem, além de estabelecer os parâmetros, constituem
pressupostos de validade e eficácia da jurisdição arbitral. Assim, havendo vício em relação a eles abre a
possibilidade do controle judicial.

A ARBITRABILIDADE SUBJETIVA diz respeito à capacidade das partes para celebrar convenção de arbitragem.
O caput do art. 1º da Lei nº 9.307/96 estabelece que as pessoas capazes de contratar poderão valer-se da
arbitragem. Desse modo, apenas as pessoas que tenham capacidade para exercer direitos poderão resolver
seus conflitos mediante arbitragem.

O art. 851 do Código Civil (CC) veicula previsão similar (É admitido compromisso, judicial ou
extrajudicial, para resolver litígios entre pessoas que podem contratar).
Tendo em vista que as entidades públicas são dotadas de capacidade para contratar, não há,
em princípio, óbice à adoção da arbitragem para a resolução de seus conflitos.
No entanto, sempre existiu divergência quanto a esta matéria, especialmente devido à suposta
incompatibilidade entre a disposição de direitos patrimoniais da Administração Pública e a
indisponibilidade do interesse público.

Como já dito acima, a submissão de litígios envolvendo entes integrantes da Administração Pública ao juízo
arbitral já era aceita pela jurisprudência antes mesmo da edição da Lei nº 9.307/96, diploma normativo
que trata especificamente do assunto.

CASO LAGE - Objeto do AI nº 52.181, julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF)

BRASIL, Supremo Tribunal Federal, Agravo de Instrumento 52.181, Espólio de Henrique Lage e
outros vs. União Federal, Rel. Min. Bilac Pinto, j. 14.11.1973, DJ 15.2.1974. p. 720 (Caso Lage).
— O caso tratava da possibilidade de a União, pelo Decreto-Lei nº 4.648/1942, incorporar ao seu
patrimônio os bens e direitos da Organização Lage e do espólio de Henrique Lage, por interesse

51
55
da defesa nacional, em estado de guerra. Diante da dificuldade para fixação da indenização pela
expropriação pela União, surgiu a proposta de solução por arbitragem, aceita pelo Ministro da
Fazenda, e determinada pelo Presidente da República por meio de decreto-lei (que tinha força
de lei ordinária). Posteriormente, porém, sob novo governo, o novo Procurador-Geral da
Fazenda Nacional suscitou a inconstitucionalidade do juízo arbitral e levou o Legislativo a rejeitar
a abertura do crédito orçamentário. Os interessados ingressaram no Judiciário, e foram
vencedores na primeira instância, em segunda instância (Tribunal Federal de Recursos) e,
finalmente, no Supremo Tribunal Federal, que, além de confirmar a constitucionalidade do uso
do juízo arbitral pela Fazenda Pública, confirmou também a constitucionalidade da cláusula de
irrecorribilidade da sentença arbitral. O caso foi julgado sob a vigência da Constituição de 1967
e da Emenda Constitucional nº 1, de 1969, mas o entendimento continua válido para a
Constituição de 1988, e vem sendo citado pela doutrina e pela jurisprudência atual, e.g., no Caso
AES Uruguaiana.
(MEGNA, Bruno Lopes. Arbitragem e administração pública: fundamentos teóricos e soluções
práticas. Belo Horizonte: Fórum, 2019, p. 140, Nota de Rodapé nº 364)

Após as inovações legislativas trazidas pela Lei nº 13.129/2015, a Administração Pública passou a ter
permissão expressa para utilizar a arbitragem na resolução de seus litígios judiciais e extrajudiciais. Em
princípio, a referida autorização geral bastaria para a Administração Pública resolver seus litígios pela via da
arbitragem, dispensando outros regramentos.

Apesar disso, a Segunda Seção do STJ, ao julgar CC nº 151.130/SP, encampou o posicionamento de que a
existência da permissão legal genérica de que trata o art. 1º, § 1º, da Lei nº 9.307/96, não afastou a
necessidade de regulamentação (legal e/ou infralegal) específica. É o que se observa na seguinte passagem
do voto vencedor do Ministro Luís Felipe Salomão:

Nesse sentido, muito embora se alegue, no caso, a possibilidade da submissão do ente público à
arbitragem, mesmo antes da edição da Lei nº 13.129/2015 – e até mesmo antes da edição da Lei
nº 9.306/97 –, penso que tal não autoriza a utilização e extensão do procedimento arbitral à
União na condição de sua acionista controladora, seja em razão da ausência de lei autorizativa,
seja em razão do próprio conteúdo da norma estatutária, a partir da qual não se pode inferir a
referida autorização.

Com efeito, a autorização legal extraída da Lei nº 13.129/2015 refere-se à consagração, no


âmbito legislativo, da jurisprudência já sedimentada do STJ e do STF quanto à adoção da
arbitragem à administração pública, mas isto desde que diante de previsão legal ou regulamentar
próprios.

Dessa forma, observada a máxima vênia, penso que a melhor interpretação é no sentido de que,
muito embora a arbitragem seja permitida nas demandas societárias e naquelas envolvendo a
administração pública, não se pode afastar a exigência de regramento específico que apresente
a delimitação e a extensão de determinado procedimento arbitral ao sócio controlador,
notadamente em se tratando da ente federativo, no caso a União, em que a própria manifestação
de vontade deve estar condicionada ao princípio da legalidade. [grifos acrescidos]

52
55
Baseando-se na interpretação dada pelo STJ, é possível afirmar que a autorização superveniente veiculada
pelo § 1º do art. 1º da Lei nº 9.307/96 desempenha a função de norma geral do microssistema que rege a
arbitragem. As demais regras existentes no ordenamento jurídico brasileiro, que, salvo disposição em
contrário, não foram revogadas (expressa ou tacitamente) pela Lei nº 13.129/2015, têm caráter especial,
disciplinando aspectos específicos do procedimento arbitral em cada setor.

Registre-se que, mesmo com o início da vigência da Lei nº 13.129/2015, outras normas foram editadas
para fixar parâmetros de utilização da arbitragem pela Administração Pública em áreas específicas. Na
esfera federal, destacam-se, a título ilustrativo, os seguintes diplomas:

a) Lei nº 13.448/2017 (trata da prorrogação e relicitação de contratos do Programa de Parcerias de


Investimentos - PPI) e;

b) Decreto nº 10.025/2019 (dispõe sobre a arbitragem para dirimir conflitos envolvendo a


Administração Pública Federal nos setores portuário e de transporte rodoviário, ferroviário,
aquaviário e aeroportuário, e regulamenta a arbitragem nos setores de transportes aquaviários e
terrestre, e aeroportuário).

A ARBITRABILIDADE OBJETIVA, por sua vez, corresponde à possibilidade de submissão de determinado


conflito ao juízo arbitral. Assim, de acordo com o caput do art. 1º da Lei nº 9.307/96 a arbitragem pode ser
utilizada para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis. Tal regra aplica-se igualmente à
Administração Pública direta e indireta, na forma do art. 1º, § 1º, da Lei nº 9.307/96. Apesar da previsão, o
legislador não definiu o conceito de disponibilidade do direito patrimonial.

O professor Bruno Lopes Megna sintetiza os requisitos entendidos como necessários para classificação de
determinado direito como patrimonial disponível:

Assim, conclui-se que, no Direito brasileiro, conceitualmente, não há diferença ontológicas nos
critérios de arbitrabilidade objetiva ― e nem de arbitrabilidade subjetiva (cf. tópico 3.1.3) ―
entre pessoas públicas e pessoas privadas: ambas só poderão submeter à arbitragem (i) os
direitos jurisdicionáveis (que podem ter destino decidido por jurisdição, seja estatal seja arbitral,
o que exclui o poder de polícia e o mérito da discricionariedade administrativa, assim como as
cláusulas regulamentares que os instrumentalizam); (ii) destes, os direitos que apresentem
patrimonialidade, aferida da expressão econômica da relação jurídica (o que exclui, desde logo,
os poderes de império em si, embora não exclua eventual repercussão patrimonial que possam
ter), e (iii) destes, os que admitam disponibilidade, aferida da negociabilidade do objeto (o que
inclui parte importante dos atos de gestão, mas não todos eles), sempre se pressupondo, claro,
(iv) que o objeto seja lícito, possível e determinado ou determinável, pois não se presta a
arbitragem de instrumento de fraude à lei (deve apresentar, portanto, arbitrabilidade como
possibilidade jurídica lato sensu).
MEGNA, Bruno Lopes. Arbitragem e administração pública: fundamentos teóricos e soluções
práticas. Belo Horizonte: Fórum, 2019, p. 163-164) - [grifos acrescidos]

53
55
Jurisdicionalidade

Patrimonialidade
Critérios para aferir a
disponibilidade de direito
Negociabilidade

Vedação à fraude à lei

Quanto à Administração Pública, a indisponibilidade guarda relação direta com o mérito administrativo
(ou discricionariedade), que não admite controle jurisdicional. Eventual intervenção do Poder Judiciário em
tal hipótese ficaria restrita à verificação de legalidade (ou juridicidade) da conduta estatal. A respeito das
principais características da discricionariedade, vale mencionar a lição de Diogo de Figueiredo Moreira Neto:

A discricionariedade é instituto característico e necessário da aplicação administrativa da lei,


desde que esta haja delegado à Administração a função de decidir entre inúmeras opções de
mérito possíveis, ou seja, a de formular opções de conteúdo, de oportunidade e de conveniência,
a serem tomadas sempre dentro de limites legalmente prefixados. Nesta hipótese, de emprego
da discricionariedade, como as escolhas são todas exclusivas da Administração, o Judiciário, a
pretexto de exercer controle, não poderá substituí-las pelas suas, embora possa e deva
examinar, quando provocado, se as competências administrativas foram exercidas dentro dos
limites de direito.
(MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Curso de direito administrativo. 16.ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2014, p. 262) - [grifos acrescidos]

Tendo em vista a indisponibilidade de direitos ligados ao exercício legítimo da discricionariedade


administrativa (observados os limites impostos pelo ordenamento jurídico), não é possível submeter à
arbitragem litígios que envolvam poder de polícia ou regulação econômica, por exemplo. De igual modo,
o juízo arbitral não pode analisar escolhas de política pública, que englobam diversas áreas de atuação da
Administração Pública.

Assim, no que toca ao objeto (arbitrabilidade objetiva), a convenção de arbitragem (cláusula


compromissória ou compromisso arbitral) somente poderá tratar de direitos patrimoniais disponíveis. É
vedado ao juízo arbitral examinar litígios que digam respeito a direitos indisponíveis, o que, no âmbito da
Administração Pública, envolve principalmente aqueles referentes à discricionariedade administrativa, como
regulação, poder de polícia e escolhas de políticas públicas. Se a convenção de arbitragem veicular tema
relativo a direito indisponível, a intervenção excepcional do Poder Judiciário fora das hipóteses legais
torna-se possível.

54
55
Assim, o controle judicial da arbitragem é admitida na presença de vícios da convenção de arbitragem que
sinalizam ilegalidade manifesta e justificam a intervenção excepcional do Poder Judiciário, afastando a
competência do juízo arbitral.

Assim, podemos esquematizar as possibilidade de controle judicial da arbitragem, nas exatas hipóteses que
a Advocacia-Geral da União entende como possível:

• Arbitrabilidade subjetiva (hipóteses de nulidade): Inexistência de regramento (legal e/ou infralegal)


específico (além do art. 1º, § 1º, da Lei nº 9.307/96) prevendo a participação da União em
procedimento arbitral + Estatuto social de sociedade de economia mista que estipula a participação
obrigatória da União (ente controlador) em procedimento arbitral (falta de previsão legal + ausência
de consentimento);

• Arbitrabilidade objetiva (hipóteses de nulidade): Litígios relativos a direitos indisponíveis [no âmbito
da Administração Pública, envolve principalmente aqueles ligados à discricionariedade administrativa
(como regulação econômica, poder de polícia e escolhas de políticas públicas)].

55
55

Você também pode gostar