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REGISTROS PÚBLICOS

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REGISTROS PÚBLICOS

SUMÁRIO
1. TEORIA GERAL DOS ATOS NOTARIAIS E REGISTRAIS ........................................................ 03

2. NOÇÕES GERAIS DE DOCUMENTOS ELETRÔNICOS E DE INFORMÁTICA ........................ 18

3. REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS ........................................................................ 20

4. TABELIONATO DE NOTAS ................................................................................................. 44

5. TABELIONATO DE PROTESTO ........................................................................................... 78

6. REGISTRO DE IMÓVEIS .................................................................................................... 104

7. REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS ......................................................................... 118

8. REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS JURÍDICAS ...................................................................... 120

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REGISTROS PÚBLICOS

TEORIA GERAL DOS ATOS NOTARIAIS E


REGISTRAIS
1.1 TEORIA GERAL DOS ATOS NOTARIAIS E REGISTRAIS
O art. 236 da Constituição Federal estabeleceu que:
Art. 236. Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do
Poder Público.
§ 1º Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil e criminal dos notários, dos
oficiais de registro e de seus prepostos, e definirá a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciá-
rio.
§ 2º Lei federal estabelecerá normas gerais para fixação de emolumentos relativos aos atos
praticados pelos serviços notariais e de registro.
§ 3º O ingresso na atividade notarial e de registro depende de concurso público de provas e tí-
tulos, não se permitindo que qualquer serventia fique vaga, sem abertura de concurso de pro-
vimento ou de remoção, por mais de seis meses.

Portanto, a disposição do artigo mencionado consolida a extinção de um antigo privilégio concedi-


do somente às famílias influentes e bem relacionadas, de exercer a prestação dos serviços notariais e
registrais. Tão amplo era esse privilégio que, mesmo após a morte do titular do serviço, permanecia com
sua família o direito de explorá-lo, o que fazia com que seus descendentes acabassem por "herdar" o seu
cartório, como se a serventia fizesse parte do patrimônio do de cujus.

Mudanças aconteceram, na qual, pelo menos em tese, passou a prevalecer o princípio da isonomia,
já que a partir de então ficou estabelecido que o ingresso na atividade notarial fosse via concurso público
e o preenchimento de alguns requisitos.

Na época, esta mudança representou um grande avanço para o direito brasileiro, na medida em
que visou ao atendimento dos princípios básicos da administração pública, além de significar um fortale-
cimento do regime democrático, que cresce sempre que prevalece o princípio da igualdade.

A lei nº 8.935/94, que regulamentou o art. 236 da CF/88, estabelecendo diversos requisitos para a
investidura no cargo, entre eles, a necessidade do título de bacharel em Direito para todos aqueles que
desejam exercer a atividade notarial e registral.

1.2 PRINCÍPIOS
Os princípios norteadores dos Registros Públicos são a publicidade, legalidade, especialidade, con-
tinuidade, prioridade, instância, obrigatoriedade, tipicidade, presunção e fé pública, disponibilidade, ins-
crição e territorialidade.

1.2.1 PUBLICIDADE
Através da publicidade, o imóvel, suas características, os direitos reais que nele incidirem, bem
como o nome do proprietário serão de conhecimento de todos, pois qualquer pessoa pode requerer uma
certidão no ofício imobiliário. Visa a proteção dos interesses de terceiros, dando a estes a segurança de

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que as informações constantes dos registros públicos correspondem à realidade presente quanto às pes-
soas interessadas e ao bem a que se refere.

Assim, este princípio torna público todos os atos relativos a imóveis, sejam de constituição, trans-
ferência ou modificação dos direitos reais, indicando a situação física e jurídica do imóvel, tornando ditos
direitos oponíveis contra terceiros, conferindo ao titular o direito de rea- ver o imóvel de quem injusta-
mente o detenha ou possua.

1.2.2 LEGALIDADE
Tem como objetivo impedir que sejam registrados títulos inválidos, ineficazes ou imperfeitos.

Quando um título é apresentado para ser registrado, este é examinado à luz da legislação em vigor
ou da época de sua firmação e, havendo exigência a ser cumprida, o oficial as indicará por escrito, con-
forme preceitua o artigo 198 da Lei Federal nº 6.015/73.

Então, a validade do registro de um título diz respeito à validade do negócio jurídico causal. Nulo o
negócio, nulo será o registro. Anulado o negócio, anulado será o registro.

1.2.3 ESPECIALIDADE
Consiste na determinação precisa do conteúdo do direito, que se procura assegurar, e da individua-
lidade do imóvel que dele é objeto.

A Lei Federal nº 6.015/73, em seus artigos 225 e 176, § 1º, inciso II, item 3, esmerou-se no sentido
de individualizar cada imóvel, tornando-o inconfundível com qualquer outro, exigindo a plena e perfeita
identificação deste nos títulos apresentados, devendo haver correspondência exata entre o imóvel objeto
do título e o imóvel constante do álbum imobiliário para que o registro seja levado a efeito.

1.2.4 CONTINUIDADE
Somente será viável o registro de título contendo informações perfeitamente coincidentes que a-
quelas constantes da respectiva matrícula sobre as pessoas e bem nela mencionados.

Identifica-se a obediência a este princípio nos artigos 195, 222 e 237 da Lei nº 6.015/73, determi-
nando o imprescindível encadeamento entre assentos pertinentes a um dado imóvel e as pessoas neles
constantes, formando uma continuidade ininterrupta das titularidades jurídicas de um imóvel.

Baseado neste princípio, não poderá vender ou gravar de ônus, quem não figurar como proprietá-
rio no registro imobiliário.

Respeitando o princípio da continuidade, se for anulado um negócio jurídico por sentença transita-
da em julgado, o respectivo registro será cancelado, e, consequentemente, serão cancelados todos os
posteriores que nele se apoiaram.

1.2.5 PRIORIDADE
Está prenotado o título quando lançado no Livro Protocolo e esta prenotação, ou seja, o número de
ordem, determinará a prioridade do registro deste título, e esta, a preferência dos direitos reais, benefi-
ciando, assim, a pessoa que primeiro apresentar seu título, pois a prioridade é garantida pela ordem cro-
nológica da apresentação dos títulos, garantindo a prioridade de exame e de registro e a preferência do

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direito real, oponível perante terceiros.

Quando um imóvel é vendido pela mesma pessoa duas vezes, temos um caso de direi- to real con-
traditório incompatível, sendo registrado o título que primeiro ingressar no protocolo e devolvido o outro
com os motivos da recusa, pois os títulos são contraditórios no seu conteúdo, colidentes entre si.

Já, os direitos reais contraditórios compatíveis são aqueles atribuídos pelo mesmo transmitente, a
titulares diversos ou não, incidentes sobre o mesmo imóvel, como verifica-se no caso da hipoteca, onde
os direitos não se anulam reciprocamente, apenas se graduam.

1.2.6 INSTÂNCIA
O princípio da instância diz respeito à provocação ao registro, ou seja, o oficial precisa ser provoca-
do por alguém para exercer sua função, não podendo agir ex officio (salvo algumas exceções), manifes-
tando-se, neste sentido, os artigos 13 e 217, da Lei Federal nº 6.015/73.

Qualquer pessoa pode apresentar um título para que seja registrado, independente de qualquer
formalidade e, para lançar uma averbação que tenha influência no registro ou nas pessoas nele interes-
sadas, é necessário um requerimento escrito, com firma reconhecida, instruído com documento compro-
batório.

Como exceções a este princípio, temos a averbação de nomes de logradouros decretados pelo Po-
der Público e a averbação de qualquer ônus que conste na certidão oriunda de outra circunscrição, quan-
do da abertura de matrícula, podendo o oficial averbar de ofício, ou seja, por iniciativa própria.

1.2.7 OBRIGATORIEDADE
A Lei Federal nº 6.015/73, menciona quais os atos que são obrigados ao registro, mas não impõe
sanções ou penalidades diretas à pessoa que deixa de registrar algum dos títulos, uma vez que o prejuízo
pela indiligência será sofrido pelo próprio titular que não promoveu o registro do seu título.

Assim, é escopo do princípio da obrigatoriedade evitar que títulos não sejam registrados, pois
quem não observar este dever arca com o ônus da sua omissão, não obtendo os benefícios do registro,
ou seja, a autenticidade, segurança jurídica e eficácia do registro imobiliário, oponível contra terceiros.

1.2.8 TIPICIDADE
O princípio da tipicidade visa o registro dos títulos legalmente previstos, conforme expressão reco-
nhecidos em lei, contida no artigo 172 da Lei Federal nº 6.015/73, estando ditos títulos relacionados no
artigo 167 da mesma Lei, que não exauriu, porém, todos os atos e títulos que necessitam de registro.

Como exemplo de título atípico, podemos citar a escritura pública de cessão de direitos hereditá-
rios que não é título hábil para o registro, mas sim para a habilitação no processo de inventário, do qual
resultará o formal de partilha, que consiste no título típico para o registro da trans- missão da proprieda-
de.

Então, serão registrados ou averbados no registro de imóveis todos os títulos ou atos, Inter- Vivos
ou causa mortis, reconhecidos em Lei, que constituam, declarem, transladem ou extingam direitos reais
sobre imóveis.

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1.2.9 PRESUNÇÃO E FÉ PÚBLICA


A fé pública inerente ao registro e a presunção de domínio estão diretamente ligadas à validade do
negócio jurídico.

Como sabemos, o título só será registrado se atender aos requisitos legais, donde presume-se que
é perfeitamente válido o negócio jurídico que originou o título registrado, conferindo a seu titular uma
presunção juris tantum de domínio, ou seja, presunção relativa que pode ser contestada por terceiros em
ação própria, cabendo ao contestante o ônus da prova.

Neste sentido nos ensina o artigo 1.231 do Código Civil, quando diz que a propriedade presume-se
plena e exclusiva, até prova em contrário.

1.2.10 DISPONIBILIDADE
Este princípio nos traduz que ninguém pode transferir mais direitos do que os constituí- dos no re-
gistro imobiliário.

A propriedade e os direitos a ela relativos só se transmitem com o registro do título e, para que es-
te seja registrado, necessário será que os direitos constantes dele estejam disponí- veis em nome do
transmitente. Assim, não poderá o transmitente vender mais área do que constar no registro e nem ven-
der um imóvel gravado com cláusula de inalienabilidade.

1.2.11 INSCRIÇÃO
A partir da vigência da Lei Federal nº 6.015/73, a sistemática do registro foi inovada com a criação
da matrícula.

O artigo 176 e parágrafos da Lei nº 6.015/73, definem os requisitos legais e obrigatórios a serem
observados e satisfeitos para a efetivação da matrícula, que tem por objetivo cadastrar todos os imóveis
do território nacional, cujo controle e exatidão das informações nela contidas darão ao sistema registral
brasileiro mais autenticidade, segurança e eficácia.

1.2.12 TERRITORIALIDADE
A circunscrição territorial é definida em Lei e ao oficial compete apurar os limites da sua compe-
tência. A Lei Federal nº 6.015/73, no artigo 169, preceitua que o registro deve ser feito no ofício imobiliá-
rio da circunscrição territorial a que pertencer o imóvel, estabelecendo exceções nos incisos I e II.

Este princípio possibilita a qualquer interessado o conhecimento da situação física e jurídica do i-


móvel, uma vez que basta a ele saber a qual circunscrição pertence o imóvel para dirigir-se ao ofício imo-
biliário competente e solicitar uma certidão.

1.3 ESPÉCIES
Os registros públicos podem ser divididos em duas espécies segundo a forma como são desempe-
nhadas suas funções, a saber:
1. Os prestados diretamente pelo Estado, citando como exemplo o registro público de empresas
mercantis, nos termos da Lei Federal 8.934/9431 e

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2. Os prestados em caráter privado, por delegação do Poder Público, nos termos do art. 236 da
Constituição.

Os prestados diretamente pelo Estado temos como exemplo o Departamento Nacional de Registro
do Comércio (DNRC), órgão integrante do Ministério da Indústria e Comércio e como órgãos locais as
Juntas Comerciais que são serviços de registros públicos que atuam no registro e conservação da docu-
mentação de empresas mercantis e são prestados diretamente pelo Estado-membro, através de funcio-
nários públicos.

Já os prestados em caráter privativo, temos os registros públicos notariais e registrais cujos servi-
ços foram delegados aos particulares e passaram a ser exercidos em caráter privado, nos termos da Cons-
tituição.

São eles:
- Tabelionato de notas;
- Tabeliães e oficiais de registro de contratos marítimos;
- Tabeliães de protesto de títulos;
- Oficiais de registro de imóveis;
- Oficiais de registro de títulos e documentos e civis das pessoas jurídicas;
- Oficiais de registro civis das pessoas naturais e de interdição e tutelas e oficiais e registro de dis-
tribuição.

1.4 OBJETO
O constituinte de 88 optou quanto as atividades extrajudiciais notariais e de registro, pelo exercício
em caráter privado por delegação do poder público. Assim, denota-se do art. 236 da CF/88.

Como se infere da legislação constitucional, os serviços notariais e de registro são públicos, mas
exercidos em caráter privado através da delegação, instituto de direito administrativo pelo qual a admi-
nistração atribui atividade própria a um ente privado ou público (no caso uma pessoa física).

Os delegatários dessa atividade estatal são particulares que, ao desempenhar funções que caberi-
am ao Estado, colaboram com a administração pública, sem se enquadrar na definição de funcionário
público. Contudo, dada a natureza pública dos ser- viços e exercendo os delegatários função pública,
estão sujeitos às regras impostas ao funcionamento dos serviços públicos e são considerados “funcioná-
rios públicos” para efeitos penais, nos termos do art. 327 do Código Penal.

Devem, outrossim, ser considerados autoridades públicas para efeito de impetração de mandado
de segurança, já que têm "poder de decisão dentro da esfera de competência que lhe é atribuída".

Ainda nesse sentido a súmula 510 do STF: "Praticado o ato por autoridade, no exercício de compe-
tência delegada, contra ela cabe o mandado de segurança ou a medida judicial".

A regulamentação da norma constitucional veio, primeiramente, com a edição da Lei 8.935/94 e,


posteriormente, com a edição da Lei 10.169/00.

A Lei 8.935 dispõe sobre a natureza e os fins dos serviços notariais e de registro, trata dos titulares
dos serviços e de seus prepostos (escreventes e auxiliares), das atribuições, do ingresso na atividade, da

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responsabilidade civil e criminal, das incompatibilidades e impedimentos, dos direitos e deveres, das in-
frações disciplinares e das penalidades, da fiscalização pelo Poder Judiciário, da extinção da delegação e
da seguridade social.

Por sua vez, a Lei 10.169/00, ao regulamentar o § 2º do art. 236, estabelece normas gerais para a
fixação de emolumentos. Considerando a estrutura federativa adotada no País e as peculiaridades locais,
cada unidade da Federação (Estados) define por lei estadual os emolumentos a serem ali praticados, ob-
servada a lei federal quanto às normas gerais face ao princípio da hierarquia das leis.

Ainda, estabeleceu a Constituição, no § 3º do art. 236, o concurso público, co- mo forma de ingres-
so na atividade. Por fim, legislador constituinte incluiu dentre as competências privativas da União legis-
lar sobre registros públicos (art. 22, XXV).

1.5 FINALIDADE
A regra domiciliada no art. 1º da Lei 8.935/94 define como fins dos serviços notariais e registrais
"garantir a publicidade, autenticidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos".

A Lei de Registros Públicos - Lei 6.015/73, também no art. 1º, dispõe que os serviços concernentes
aos registros públicos são estabelecidos pela legislação civil para "autenticidade, segurança e eficácia dos
atos jurídicos", tratando em seus arts. 16 a 21 da publicidade. A lei de protesto de títulos e outros docu-
mentos de dívida - Lei 9.492/97, no art. 2º, estabelece que os serviços concernentes ao protesto são ga-
rantidores de autenticidade, publicidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos.

A publicidade visa atribuir segurança às relações jurídicas, permitindo a qualquer interessado que
conheça o teor do acervo das serventias notariais e registrais.

Para o efetivo conhecimento exige-se a atitude do interessado em conhecer o que se dá à publici-


dade (publicidade formal, que se concretiza pela expedição de certidões, espécie de ato administrativo
enunciativo.

A publicidade formal não é absoluta, e sofre restrições nos serviços registrais quanto ao registro ci-
vil de pessoas naturais no seu art. 18 da Lei 6.015 quanto as questões referentes ao nome.

Na atividade notarial, há restrição no tabelionato de protestos, pois certidões de protestos cance-


lados só podem ser fornecidas ao próprio devedor ou por ordem judicial; quanto às demais, não há qual-
quer óbice, mas existe uma formalidade a ser observada: requerimento por escrito do interessado (arts.
27, § 2º, e 31 da Lei 9.492/97)
Art. 27. O Tabelião de Protesto expedirá as certidões solicitadas dentro de cinco dias úteis, no
máximo, que abrangerão o período mínimo dos cinco anos anteriores, contados da data do
pedido, salvo quando se referir a protesto específico. (...)
§ 2º Das certidões não constarão os registros cujos cancelamentos tiverem sido averbados, sal-
vo por requerimento escrito do próprio devedor ou por ordem judicial.

Art. 31. Poderão ser fornecidas certidões de protestos, não cancelados, a quaisquer interessa-
dos, desde que requeridas por escrito.

A autenticidade é qualidade do que é confirmado por ato de autoridade, criando presunção juris
tantum de veracidade. Frise-se que a presunção relativa não se estende ao negócio causal ou ao fato que
deu origem ao ato praticado, incidindo a autenticidade exclusivamente sobre o ato notarial ou registral.

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A segurança decorre da certeza quanto ao ato e sua eficácia, promovendo a libertação dos riscos. A
consulta aos teores dos registros e dos livros de notas, possível a qualquer interessado, associada à pre-
sunção de verdade dos atos que emanam dos ser- viços notariais e registrais, permite a aferição da boa-
fé de quem pratica qualquer ato fundado nas informações recebidas.

Por fim, quanto à eficácia, significa a garantia de que o ato notarial ou de registro produzirá a con-
seqüência própria do mesmo, o estar apto a produzir os efeitos jurídicos que dele se esperam como no
caso do registro nas aquisições entre vivos é constitutivo, transmitindo a propriedade imóvel e permitin-
do ao proprietário, ainda, a oponibilidade de sua situação a terceiros, já que produz o registro efeitos
erga omnes.

Vê-se que publicidade, autenticidade, segurança e eficácia são fins que se entrelaçam e se comple-
tam, são interdependentes.

A publicidade dos atos é relevante porque a eles se atribui autenticidade; a segurança é dependen-
te e fim da publicidade e da eficácia; a eficácia, por seu turno, só se atinge em razão da autenticidade e
da publicidade. Várias outras relações podem ser feitas entre os fins dos serviços notariais e registrais,
importando assinalar que, em síntese, o que se almeja é a segurança jurídica.

1.6 FUNÇÃO
Para entendermos qual a função exercida pelos notários e registradores é necessário diferenciar-
mos a modalidade de serventias que estão vinculados.

Nesse sentido a doutrina clássica classifica as serventias em:


1. Serventias Oficializadas ou Estatais: fazem parte da estrutura do Estado e, dessa forma, os seus
titulares e demais funcionários são servidores públicos. Nesta condição, eram submetidos às normas
administrativas próprias dos servidores estatais, se sujeitando a um estatuto e a todos os privilégios e
restrições comuns à categoria, como, por exemplo, sanções disciplinares, aposentadoria compulsória aos
70 anos e percepção de proventos integrais.

2. Serventias Não-oficializadas ou Privatizadas: não fazem parte da estrutura do Estado, tendo na-
tureza privada, mas prestando um serviço de natureza pública. Seus titulares e funcionários são remune-
rados de acordo com a arrecadação da serventia, sendo os últimos contratados pelo regime da Consoli-
dação das Leis do Trabalho - CLT.

No entanto, estabelece o artigo 236 que "os serviços notariais e de registro são exercidos em cará-
ter privado, por delegação do Poder Público e submetidos à fiscalização do Poder Judiciário".

Ao mesmo tempo, define que "o ingresso na atividade notarial e de registro depende de aprovação
em concurso público de provas e títulos".

Os doutrinadores clássicos defensores da tese de que os notários e registradores não são funcioná-
rios públicos, alegam que a intenção do constituinte de 1988 foi a de privatizar a prestação dos serviços
notariais ao dispor que os mesmos seriam exercidos em caráter privado.

A expressão caráter privado conduziria os notários e registradores da seara do direito público para
a do direito privado. Eles deixariam de integrar a estrutura do Estado, passando a ser colaboradores do
Poder Público, atuando em recinto particular e contratando seus empregados sob o regime da Consolida-
ção das Leis do Trabalho.

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Nesse sentido, a regulamentadora do art. 236 da CF/88 - Lei nº 8.935/94, reforça este entendimen-
to ao dispor, em seu artigo 3º que os notários e registradores são "profissionais do direito, dotados de fé
pública, a quem é delegado o exercício da atividade notarial e de registro". Outra determinação neste
sentido se encontra nas disposições transitórias da referida lei, em seu artigo 50, quando menciona que
os delegados no- meados a partir da sua vigência, passam a se sujeitar ao Regime Geral da Previdência
Social (RGPS), que é o regime próprio da iniciativa privada, diferente daquele aplicado aos funcionários
públicos (estatutários).

Os defensores dessa corrente alegam que muito embora a atividade por eles exercida tenha cará-
ter eminentemente público, não é somente o funcionário público que presta serviços desta natureza,
havendo no direito brasileiro inúmeros exemplos de ser- viços públicos que não são exercidos por servi-
dores, como é o caso dos leiloeiros, tradutores, intérpretes e dos permissionários e concessionários. Por
esta razão é que o Estado lhes concede a delegação, para que eles, enquanto particulares, possam exer-
cer uma função típica dos entes de direito público. Se fossem os notários e registradores funcionários,
não haveria necessidade de se outorgar a delegação. Além do mais não são remunerados como os servi-
dores públicos, uma vez que não possuem vencimentos, pois são remunerados pelo que arrecadam exer-
cendo a atividade delegada.

Em sentido contrário, os doutrinadores modernos defendem a idéia de que os titulares de serven-


tias extrajudiciais são considerados funcionários públicos, sob os argumentos de que o ingresso na ativi-
dade notarial se dá via concurso público, que é o meio próprio para a admissão no serviço público. A de-
legação de serviço público, não se dá via concurso, mas através de processo de licitação, onde se habili-
tam os que desejam prestá-lo, com a posterior assinatura do contrato licitatório.

Ainda, o art. 25 da Lei nº 8. 935/94, determina a proibição de acumulação do exercício da atividade


notarial com a ocupação de qualquer cargo público.
Art. 25. O exercício da atividade notarial e de registro é incompatível com o da advocacia, o da
intermediação de seus serviços ou o de qualquer cargo, emprego ou função públicos, ainda
que em comissão.

Outro argumento é que as atividades das serventias são investidas de um caráter de autoridade,
concedido pelo Estado, que confere fé pública aos atos ali praticados, caracterizando assim, o traço es-
sencialmente público dos referidos serviços. Até por isso, as atividades notariais e registrais concernentes
ao Registro Civil das Pessoas Naturais no exterior são praticadas pelos Cônsules do Brasil, já que trata-se
do exercício de parcela da autoridade do Estado, o que acentua ainda mais a oficialidade de tais serviços.

Assim, a natureza jurídica dos notários e registradores em uma figura jurídica híbrida, inexistente
no direito pátrio, mas admitida pela jurisprudência dominante dos tribunais superiores. Não pode ser
definida como delegação, posto que esta é uma forma de o Estado passar ao particular a titularidade de
um serviço através de um contrato, sempre precedido de procedi- mento licitatório. O particular interes-
sado em prestar um serviço delegado deve, pois, se sujeitar a uma licitação. Além disso, por se tratar de
contrato administrativo, a delegação de serviço público pode a qualquer tempo ser revogada, desde que
o interesse público assim o exija.

Também não se pode pura e simplesmente classificar o exercente de atividade notarial ou registral
como funcionário público porque o seu ingresso se deu via concurso público, já que a própria constituição
faz questão de ressaltar o cunho privatista da delegação.

Ademais, a Lei nº 8.935/94, ao definir o Regime Geral da Previdência Social como o próprio da ca-

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tegoria, pretendeu dar mais um sinal de que notários e registradores não são funcionários públicos em
sentido estrito, posto que estes se submetem a regime especial.

1.7 FÉ PÚBLICA
A natureza jurídica abarca os serviços, considerados em si mesmos e seus responsáveis, enquanto
delegados do Poder Público, habilitados à plenitude e providos de fé pública, para cumprimento de suas
tarefas de prestação de serviços públicos. O seu exercício em caráter privado por delegação do Poder
Público não lhes retira o caráter público e, para que atinjam suas finalidades, são delegados a profissio-
nais do direito dotados de fé pública (art. 3º da Lei 8.935/94), o que reafirma sua natureza.

Os atos emanados dos serviços em questão, assim como os dos demais serviços públicos, gozam de
presunção relativa de veracidade, atributo dos atos praticados pelo Poder Público.

São, portanto, serviços públicos exercidos em caráter privado por um profissional do direito em ra-
zão de delegação, organizados técnica e administrativamente para garantir publicidade, autenticidade,
segurança e eficácia dos atos jurídicos.

1.8 DELEGAÇÕES E ASPECTOS INSTITUCIONAIS DOS SERVIÇOS NOTARIAIS E


REGISTRAIS
 O INGRESSO NA ATIVIDADE
O ingresso na atividade notarial e de registro se dá através de concurso público de provas e títulos.
Os concursos são realizados pelo Poder Judiciário, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil,
do Ministério Público, de um notário e um registrador conforme o art. 15 da Lei 8.935/94.
Art. 15. Os concursos serão realizados pelo Poder Judiciário, com a participação, em todas as
suas fases, da Ordem dos Advogados do Brasil, do Ministério Público, de um notário e de um
registra- dor.
§ 1º O concurso será aberto com a publicação de edital, dele constando os critérios de desem-
pate.
§ 2º Ao concurso público poderão concorrer candidatos não bacharéis em direito que tenham
completado, até a data da primeira publicação do edital do concurso de provas e títulos, dez
anos de exercício em serviço notarial ou de registro.

A obtenção da delegação depende, além da aprovação em concurso público, do preenchimento


dos seguintes requisitos:
- Nacionalidade brasileira;
- Capacidade civil;
- Quitação com as obrigações eleitorais e militares;
- Diploma de bacharel em direito e;
- Verificação de conduta condigna para o exercício da profissão.

No entanto, o § 2° do art. 15 da Lei 8.935/94 abre exceção ao requisito do bacharelado em direito,


permitindo que se candidatem não bacharéis "que tenham completado, até a data da primeira publica-
ção do edital do concurso de provas e títulos, 10 (dez) anos de exercício em serviço notarial ou de regis-
tro".

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O legislador, após definir os tabeliães e registradores como profissionais do direito, permite que al-
cem a delegação não bacharéis, exigindo apenas a prática no exercício das funções.
Art. 3º/Lei 8.935. Notário, ou tabelião, e oficial de registro, ou registrador, são profissionais do
direito, dota- dos de fé pública, a quem é delegado o exercício da atividade notarial e de regis-
tro.

A nacionalidade brasileira exigida engloba os brasileiros natos ou naturalizados. Encerra- do o con-


curso, os candidatos serão declarados habilitados na rigorosa ordem de classificação e receberão a ou-
torga da delegação.

Destinam-se ao ingresso na atividade duas terças partes das vagas, cabendo à remoção por concur-
so de títulos o preenchimento do terço restante. O critério de preenchimento define- se pela data da
vacância da titularidade ou, quando vagas na mesma data, aquela da criação do serviço.

Admitem-se à remoção titulares que exerçam a atividade há mais de 2 (dois) anos, cabendo à legis-
lação estadual dispor sobre as normas e os critérios para o concurso de remoção.

 OS TITULARES E SEUS PREPOSTOS


Os titulares são notários ou tabeliães e oficiais de registro ou registradores, como sinônimos. Pro-
fissionais do direito dotados de fé pública, a quem se delega o exercício da atividade notarial e de regis-
tro, gozam de independência no exercício de suas atribuições e têm direito à percepção dos emolumen-
tos integrais pelos atos praticados na serventia.

Para o exercício de suas funções, deve o titular organizar técnica e administrativamente a serventi-
a, sendo de sua responsabilidade exclusiva o gerenciamento administrativo e financeiro dos serviços "in-
clusive no que diz respeito às despesas de custeio, investimento e pessoal, cabendo-lhe estabelecer nor-
mas, condições e obrigações relativas à atribuição de funções e de remuneração de seus prepostos de
modo a obter a melhor qualidade na prestação dos serviços".

Art. 21. O gerenciamento administrativo e financeiro dos serviços notariais e de registro é da


responsabilidade exclusiva do respectivo titular, inclusive no que diz respeito às despesas de
custeio, investimento e pessoal, cabendo-lhe estabelecer normas, condições e obrigações rela-
tivas à atribuição de funções e de remuneração de seus prepostos de modo a obter a melhor
qualidade na prestação dos serviços.

A serventia temos um titular que ingressa na atividade por concurso público e que, co- mo profis-
sional do direito gozando de independência, é responsável não só por toda a organização administrativa
como, e principalmente, pela interpretação jurídica.

Tem o titular independência jurídica, como delegado de função pública que exige a formação de ju-
ízo e a tomada de decisões.

A execução dos serviços exige a participação de outras pessoas e, para tanto, podem os delegatá-
rios contratar empregados, com remuneração livremente ajustada e sob o regime da legislação do traba-
lho.

Os empregados são escreventes e auxiliares, ficando a critério de cada titular determinar o número
a contratar. Dentre os escreventes o notário ou registrador escolherá os substitutos para, simultanea-
mente com o titular, praticar todos os atos que lhe sejam próprios. Dentre os substitutos um será desig-
nado pelo titular para responder pelo serviço em suas ausências ou impedimentos.

12
REGISTROS PÚBLICOS

Havendo necessidade do titular praticar ato de seu interesse (ou de cônjuge ou parentes na linha
reta ou colateral, consangüíneos ou afins, até o terceiro grau) em sua serventia, não poderá fazê-lo pes-
soalmente, devendo o ato ser praticado pelo substituto.

Art. 27/Lei 8.935. No serviço de que é titular, o notário e o registrador não poderão praticar,
pessoalmente, qualquer ato de seu interesse, ou de interesse de seu cônjuge ou de parentes,
na linha reta, ou na colateral, consangüíneos ou afins, até o terceiro grau.

O art. 5º da Lei 8.935 define quais são os titulares de serviços notariais e registrais:
Art. 5º. Os titulares de serviços notariais e de registro são os:
I - tabeliães de notas;
II - tabeliães e oficiais de registro de contratos marítimos;
III - tabeliães de protesto de títulos;
IV - oficiais de registro de imóveis;
V - oficiais de registro de títulos e documentos e civis das pessoas jurídicas;
VI - oficiais de registro civis das pessoas naturais e de interdições e tutelas;
VII - oficiais de registro de distribuição.

I - tabeliães de notas (atribuições e competências definidas nos arts. 6º e 7º da Lei 8.935/94 – for-
malizar juridicamente a vontade das partes, intervir nos atos e negócios jurídicos a que as partes devam
ou queiram dar forma legal ou autenticidade, autenticar fatos, lavrar escrituras e procurações públicas,
lavrar testamentos públicos e aprovar os cerrados, lavrar atas notariais, reconhecer firmas e autenticar
cópias);

II - tabeliães e oficiais de registro de contratos marítimos (competência definida no art. 10 da Lei


8.935/94, devendo ser suas atribuições específicas buscadas nos princípios gerais da legislação comercial,
por tratarem de negócios relacionados com o comércio marítimo);

III - tabeliães de protesto de títulos (competência definida no art. 11 da Lei 8.935/94, estando os
serviços de protesto de títulos e outros documentos de dívida regulamentados pela Lei 9.492/97);

IV - oficiais de registro de imóveis (praticam os atos previstos na Lei 6.015/73 – Lei de Registros
Públicos – e em outros diplomas aplicáveis ao registro imobiliário);

V - oficiais de registro de títulos e documentos e civis das pessoas jurídicas (praticam os atos pre-
vistos na Lei 6.015/73);

VI - oficiais de registro civis das pessoas naturais e de interdições e tutelas (praticam os atos pre-
vistos na Lei 6.015/73);

VII - oficiais de registro de distribuição (competência definida no art. 13 da Lei 8.935/94 – proce-
der à distribuição equitativa pelos serviços da mesma natureza, quando previamente exigida, registrando
os atos praticados; em caso contrário, registrar as comunicações recebidas dos órgãos e serviços compe-
tentes).

Os serviços enumerados no art. 5º não são acumuláveis, devendo aqueles com atribuições acumu-
ladas sofrer a desacumulação na primeira vacância de titularidade após a vigência da Lei 8.935/94. Con-
tudo, a lei contém uma exceção, permitindo a acumulação nos Municípios que não comportarem, em
razão do volume dos serviços ou da receita, a instalação de mais de um dos serviços.

13
REGISTROS PÚBLICOS

Art. 26. Não são acumuláveis os serviços enumerados no art. 5º.


Parágrafo único. Poderão, contudo, ser acumulados nos Municípios que não comportarem, em
razão do volume dos serviços ou da receita, a instalação de mais de um dos serviços.

Por fim, vale assinalar que fora do âmbito das funções típicas, podem ser contratadas pessoas físi-
cas, que não sejam escreventes ou auxiliares, e mesmo pessoas jurídicas.

 RESPONSABILIDADE
No exercício de suas funções, na prática de atos próprios da serventia, podem os titula- res infringir
normas civis, penais ou administrativas, respondendo pelas faltas praticadas.

As infrações disciplinares estão previstas no art. 31 da Lei 8.935:


Art. 31. São infrações disciplinares que sujeitam os notários e os oficiais de registro às penali-
dades previstas nesta lei:
I - a inobservância das prescrições legais ou normativas;
II - a conduta atentatória às instituições notariais e de registro;
III - a cobrança indevida ou excessiva de emolumentos, ainda que sob a alegação de urgência;
IV - a violação do sigilo profissional;
V - o descumprimento de quaisquer dos deveres descritos no art. 30.

Praticada infração administrativa, sujeita-se o titular (e somente ele, pois os prepostos são subme-
tidos ao poder de comando dos titulares) às penas de repreensão, multa, suspensão e perda da delega-
ção, impostas pelo Poder Judiciário.

Art. 32. Os notários e os oficiais de registro estão sujeitos, pelas infrações que praticarem, as-
segurado amplo direito de defesa, às seguintes penas:
I - repreensão;
II - multa;
III - suspensão por noventa dias, prorrogável por mais trinta;
IV - perda da delegação.

Ocorrendo dano a usuário do serviço, surge o dever de indenizar e, sendo a conduta sancionada
pela lei penal, responde criminalmente o delegatário. Ainda prevê o Código Penal, no art. 92, inc. I, e seu
parágrafo único, como efeito extrapenal da condenação, a perda de cargo, função pública ou mandato
eletivo. Assim, o titular que praticar infração penal e for condenado por decisão transitada em julgado,
poderá perder a delegação, como efeito secundário da sentença penal, que deverá ser expressa e moti-
vadamente declarado pelo magistrado prolator da decisão.

Ao contrário da obrigação de indenizar, que também decorre da sentença condenatória transitada


em julgado, mas não precisa ser declarada pelo juiz, a perda da delegação há de ser expressamente men-
cionada.

Para que suceda a perda da delegação como decorrência da condenação criminal deve ser aplicada
pena privativa de liberdade igual ou superior a um ano na prática de crimes com abuso de poder ou vio-
lação de dever para com a administração pública ou superior a quatro anos nos demais casos.

Art. 92/CP. São também efeitos da condenação:


I - a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a um ano, nos cri-
mes praticados com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública;

14
REGISTROS PÚBLICOS

b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4 (quatro) anos nos
demais casos.

Por ser a infração penal mais grave que a administrativa, já que atinge bens sociais de maior rele-
vância, pode a sua prática repercutir na esfera administrativa, assim como repercute na esfera civil.

1.9 RESPONSABILIDADE PENAL


O art. 24 da Lei 8.935/94 reza que a responsabilidade penal será individualizada e que se aplica, no
que couber, a legislação relativa aos crimes contra a administração pública.
Art. 24. A responsabilidade criminal será individualizada, aplicando-se, no que couber, a legis-
lação relativa aos crimes contra a administração pública.

Assim, se um preposto pratica uma infração penal, sem a participação do titular, este não respon-
derá criminalmente, pois a conduta é individualizada.

No entanto, o titular responderá civilmente e administrativamente, mas não poderá sofrer as con-
seqüências penais da condenação de seu preposto, por força do parágrafo único do art. 24 da Lei nº
8.935/94.

Parágrafo único. A individualização prevista no caput não exime os notários e os oficiais de re-
gistro de sua responsabilidade civil.

Considerado funcionário público para efeitos penais pode o titular praticar crimes contra a admi-
nistração pública previstos nos arts. 312 a 326 do CP, e infrações previstas em outras normas penais in-
criminadoras.

Art. 327/CP. Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transito-
riamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
§ 1º Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade
para- estatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada
para a execução de atividade típica da Administração Pública.

A Lei 6.766/79, que dispõe sobre o parcelamento do solo urbano, criou tipos penais que podem ter
como agentes titulares de serviços notariais e registrais.

Art. 50. Constitui crime contra a Administração Pública.


I - dar início, de qualquer modo, ou efetuar loteamento ou desmembramento do solo para fins
urbanos, sem autorização do órgão público competente, ou em desacordo com as disposições
desta Lei ou das normas pertinentes do Distrito Federal, Estados e Municipíos;
II - dar início, de qualquer modo, ou efetuar loteamento ou desmembramento do solo para fins
urbanos sem observância das determinações constantes do ato administrativo de licença;
III - fazer ou veicular em proposta, contrato, prospecto ou comunicação ao público ou a inte-
res- sados, afirmação falsa sobre a legalidade de loteamento ou desmembramento do solo pa-
ra fins urbanos, ou ocultar fraudulentamente fato a ele relativo.
Pena: Reclusão, de 1(um) a 4 (quatro) anos, e multa de 5 (cinco) a 50 (cinqüenta) vezes o maior
salário mínimo vigente no País.
Parágrafo único. O crime definido neste artigo é qualificado, se cometido.
I - por meio de venda, promessa de venda, reserva de lote ou quaisquer outros instrumentos
que manifestem a intenção de vender lote em loteamento ou desmembramento não registra-
do no Registro de Imóveis competente.

15
REGISTROS PÚBLICOS

II - com inexistência de título legítimo de propriedade do imóvel loteado ou desmembrado, res-


salvado o disposto no art. 18, §§ 4º e 5º, desta Lei, ou com omissão fraudulenta de fato a ele
relativo, se o fato não constituir crime mais grave. Pena: Reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e
multa de 10 (dez) a 100 (cem) vezes o maior salário mínimo vigente no País.

Art. 51. Quem, de qualquer modo, concorra para a prática dos crimes previstos no artigo ante-
rior desta Lei incide nas penas a estes cominadas, considerados em especial os atos praticados
na qualidade de mandatário de loteador, diretor ou gerente de sociedade.

Art. 52. Registrar loteamento ou desmembramento não aprovado pelos órgãos competentes,
registrar o compromisso de compra e venda, a cessão ou promessa de cessão de direitos, ou
efetuar registro de contrato de venda de loteamento ou desmembramento não registrado.
Pena: Detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa de 5 (cinco) a 50 (cinqüenta) vezes o maior
salário mínimo vigente no País, sem prejuízo das sanções administrativas cabíveis.

1.10 RESPONSABILIDADE CIVIL


Indiscutível que os delegatários estão obrigados a responder por danos que eles e seus prepostos
causarem a terceiros na prática de atos próprios da serventia.

Art. 22. Os notários e oficiais de registro, temporários ou permanentes, responderão pelos da-
nos que eles e seus prepostos causem a terceiros, inclusive pelos relacionados a direitos e en-
cargos trabalhistas, na prática de atos próprios da serventia, assegurado aos primeiros direito
de regresso no caso de dolo ou culpa dos prepostos. (Redação dada pela Lei nº 13.137, de
2015)

Art. 23. A responsabilidade civil independe da criminal.

No entanto, a natureza jurídica da responsabilidade objetiva ou subjetiva do titular passa pelo tipo
da natureza dos serviços prestados, pela apreciação do instituto da delegação e pela interpretação de
alguns dispositivos legais, destacando-se o mencionado art. 22 da Lei 8.935/94 com os seguintes artigos:
a) § 6° do art. 37 da Constituição Federal - "As pessoas jurídicas de direto público e as de direito
privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa quali-
dade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de do-
lo ou culpa;"

b) art. 38 da Lei 9.492 - "Os Tabeliães de Protesto de Títulos são civilmente responsáveis por todos
os prejuízos que causarem, por culpa ou dolo, pessoalmente, pelos substitutos que designarem ou
escreventes que autorizarem, assegurado o direito de regresso";

c) art. 14 da Lei 8.078 (CDC) - "O fornecedor de serviços responde, independentemente da existên-
cia de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à presta-
ção dos serviços...".

O art. 3° do CDC define como fornecedor toda pessoa física ou jurídica, pública ou priva- da, nacio-
nal ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados que, entre outras atividades, prestem serviços.

A Constituição Federal adotou, quanto à responsabilidade estatal, a teoria do risco administrativo,


atribuindo responsabilidade decorrente do risco criado pela atividade administrativa do Estado. A exclu-
são da responsabilidade depende do rompimento do nexo causal.

Ante o disposto no § 6° do art. 37 da CF/88, aplica-se a responsabilidade objetiva, de forma induvi-

16
REGISTROS PÚBLICOS

dosa, também às pessoas jurídicas de direito privado prestadoras de serviços públicos.

Os serviços extrajudiciais são, serviços públicos. Contudo, são prestados por pessoas físicas através
da delegação, o que afasta, ao menos a princípio, a incidência do mencionado § 6° do art. 37 da C.F/88.

Os delegatários são colaboradores do Poder Público, pessoas físicas que exercem funções públicas.
Não são funcionários públicos, a eles equiparados apenas para efeitos penais. No entanto, também não
parece correto afirmar que a responsabilidade objetiva seria apenas do Estado, e que caberia então direi-
to de regresso em face dos titulares, havendo dolo ou culpa.

O art. 22 da Lei 8.935/94 sinaliza responderem objetivamente os titulares, em razão de danos cau-
sados na prática de atos típicos da serventia.
Art. 22. Os notários e oficiais de registro, temporários ou permanentes, responderão pelos da-
nos que eles e seus prepostos causem a terceiros, inclusive pelos relacionados a direitos e en-
cargos trabalhistas, na prática de atos próprios da serventia, assegurado aos primeiros direito
de regresso no caso de dolo ou culpa dos prepostos. (Redação dada pela Lei nº 13.137, de
2015)

Com efeito, o constituinte reservou ao legislador infraconstitucional a definição da responsabilida-


de dos delegatários, mas a opção foi no sentido de manter a mesma disciplina quanto às pessoas jurídicas
de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços, do § 6° do art. 37 da CF/88 E o fez o
legislador em harmonia com o sistema, pois o Código de Defesa do Consumidor já previa a responsabili-
dade objetiva do prestador de serviços, pessoa física ou jurídica, pública ou privada.

Quanto à responsabilidade do Estado, há de ser solidária. O usuário do serviço pode buscar a repa-
ração do dano em face do delegatário e/ou do Estado diante da previsão legislativa expressa no Código
de Defesa do Consumidor que admite, como fornecedor, toda a pessoa física ou jurídica, pública ou pri-
vada, nacional ou estrangeira.

A prestação de serviços públicos constitui, portanto, relação de consumo, sendo a vítima dos danos
provocados pela administração pública o consumidor final ou equiparado, o que atrai para tais hipóteses
a disciplina dos acidentes de consumo, de modo a gerar a solidariedade dos diversos entes públicos e
privados que se apresentem como fornecedores dos respectivos serviços, prestados pela atividade esta-
tal. A legislação avança em direção à proteção do consumidor, que se amplia com o reconhecimento da
solidariedade entre o Estado e o prestador de serviços públicos, não cabendo afastar o primeiro mas, ao
contrário, responsabilizá-lo. O reconhecimento da responsabilidade objetiva do delegatário não é motivo
de qualquer preocupação para os titulares. Não importa adoção de risco integral, já que comporta exclu-
dentes. Inexis- tente nexo causal entre o ato e o dano, não há responsabilidade. A responsabilidade de-
correrá da falta do serviço ou de sua execução defeituosa. Agindo estritamente dentro da legalidade, não
causará o notário ou registrador dano indenizável.

O Supremo Tribunal Federal tem decidido pela responsabilidade objetiva do Estado, com direito de
regresso em face dos titulares, se tiverem agido com dolo ou culpa.

 ENCERRAMENTO DA DELEGAÇÃO
Extingue-se a delegação nas hipóteses elencadas no art. 39 da Lei 8.935/94:
Art. 39. Extinguir-se-á a delegação a notário ou a oficial de registro por:
I - morte;
II - aposentadoria facultativa;

17
REGISTROS PÚBLICOS

III - invalidez;
IV - renúncia;
V - perda, nos termos do art. 35.
VI - descumprimento, comprovado, da gratuidade estabelecida na Lei no 9.534, de 10 de de-
zembro de 1997.
§ 1º Dar-se-á aposentadoria facultativa ou por invalidez nos termos da legislação previdenciá-
ria federal.
§ 2º Extinta a delegação a notário ou a oficial de registro, a autoridade competente declarará
vago o respectivo serviço, designará o substituto mais antigo para responder pelo expediente e
abrirá concurso.

A aposentadoria facultativa ou por invalidez segue as normas da legislação previdenciária lei nº


8.212/91. A perda da delegação, como sanção disciplinar, depende de sentença judicial transitada em
julgado ou decisão decorrente de processo administrativo instaurado pelo juízo competente, assegurado
amplo direito à defesa.

A extinção pelo descumprimento da gratuidade da Lei 9.534/94 nada mais é que a perda da dele-
gação, que se dará após a aplicação das demais penalidades (repreensão, multa e suspensão) e verifican-
do-se novo descumprimento (§ 3°, A e B, do art. 30, da Lei 6.015).

Prevista no inciso II do § 1º do art. 40 da Constituição Federal, a aposentadoria compulsória atinge


os servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados e dos Municípios, aos 70 anos de idade. A
redação atual do dispositivo em tela foi dada pela Emenda Constitucional nº 20/98.

Alterada a redação do art. 40 da Constituição Federal, teve início processo de mudança de posição
nas decisões judiciais, hoje estando assentado, tanto no Supremo Tribunal Federal quanto no Superior
Tribunal de Justiça, que a aposentadoria compulsória não se aplica a tabeliães e registradores, mas ape-
nas a ocupantes de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distri- to Federal e dos Municípios, incluídas
suas autarquias e fundações. Por não ocuparem cargo, não estão os delegatários sujeitos à aposentadoria
compulsória.

NOÇÕES GERAIS DE DOCUMENTOS ELE-


TRÔNICOS E DE INFORMÁTICA
Os registros públicos evoluíram muito no início do segundo milênio, em decorrência dos avanços
tecnológicos da informática e da Internet que integra o mundo transformando internautas em atores e
partícipes de uma sociedade realmente globalizada.

Nesse novo contexto é de suma importância que registradores e notários interajam com a socieda-
de de forma digital. Assim como os negócios são realizados no meio eletrônico, as informações e conse-
quentemente seus registros também já são processados eletronicamente de forma a dar respostas efeti-
vas à sociedade visando o interesse público. Vários já são os serviços disponibilizados aos usuários destes
serviços em meio eletrônico.

Um deles é a certificação digital que se trata de um documento eletrônico assinado digitalmente


que cumpre a função de associar uma pessoa, ou entidade, a uma chave pública, e que apresenta infor-
mações como: nome da pessoa ou entidade a ser associada à chave pública; período de validade do certi-

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REGISTROS PÚBLICOS

ficado; chave pública; nome e assinatura da entidade que assinou o certificado; e número de série visan-
do individualizar e identificar as pessoas no mundo virtual.

Vários notários já estão aptos a fornecer um smart card que é um cartão inteligente, dotado de
hardware criptográfico, com memória capaz de armazenar e processar diversos tipos de informações.
Com ele é possível gerar as chaves e mantê-las em ambiente seguro, uma vez que as operações cripto-
gráficas podem ser realizadas no próprio dispositivo.

Com essa tecnologia, atualmente, é possível autenticar assinaturas eletrônicas para utilização no
meio virtual, onde acontecem mais de 50% de toda movimentação econômica do mundo.

Em decorrência de Lei Federal e nos exatos termos do art. 837, CPC, obedecidas às normas de se-
gurança instituídas, poderá ser efetivada a penhora de dinheiro e as averbações de penhoras de bens
imóveis e móveis por meios eletrônicos. Desse modo, já acontece a penhora on-line, ou seja, através de
sistema eletrônico é possível registrar a constituição e o cancelamento de penhoras, oriundas de proces-
sos judiciais, diretamente nos arquivos dos registros de imóveis utilizando-se, apenas, da troca de infor-
mações eletrônicas.

Assim, a disseminação e ampliação do uso da tecnologia da informação visa atender aos padrões
de autenticidade, integridade, validade e interoperabilidade da Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasi-
leiras denominada – ICP-Brasil.

Outra alteração substancial de procedimentos nos registros públicos aconteceu através da Lei n.
11.441/07 que autorizou aos tabelionatos a realização de separações, divórcios e inventários, tudo rea-
lizado extrajudicialmente, salvo exceções. Essa nova atribuição é decorrência do acúmulo de ações em
tramitação nos Tribunais, em razão da Constituição Federal de 1988 que trouxe mais direitos para os
cidadãos, facilitando o acesso massivo ao judiciário potencializando a morosidade da tramitação proces-
sual.

Além do procedimento supra mencionado, outra modernização dos registros decorrente de Lei são
as retificações extrajudiciais, que possibilitam aos registradores alterar as matrículas dos imóveis, a área,
as divisas, os confrontantes, nomes das partes, tudo em razão de requerimentos embasados em laudos e
mapas georreferenciados por satélite. Não há mais a necessidade de procedimento judicial visando tais
retificações. Esses requerimentos são apresentados aos registradores em meio eletrônico, visando à cele-
ridade dos procedimentos registrais. Além dessas, a principal alteração nos registros públicos reside, na
maioria dos cartórios na utilização maciça da tecnologia da informática.

Entretanto, em alguns lugares do Brasil ainda persiste uma situação precária, principalmente no
concernente ao sub-registro de nascimento, em razão da falta de serviços em volume que viabilize a ma-
nutenção dos cartórios. Em decorrência de Lei, o Estado determinou a gratuidade dos registros de nas-
cimento e óbito deixando aos cuidados de leis estaduais um possível reembolso de tais atos praticados
gratuitamente.

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REGISTROS PÚBLICOS

REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS

3.1 DISPOSIÇÕES GERAIS


Os Ofícios de Registro Civil de Pessoas naturais possuem a sua área de abrangência e circunscrição
territorial delimitada em conformidade com a Lei de Organização Judiciária local do Estado da Federação
a que pertencer.

3.2 COMPETÊNCIA
Todos os atos e fatos jurídicos que podem ser registrados ou averbados junto ao Registro Civil de
Pessoas Naturais encontram-se determinados junto ao art. 29 da Lei 6.015/73 (Registros Públicos), quais
sejam:
Art. 29. Serão registrados no registro civil de pessoas naturais:
I - os nascimentos;
II - os casamentos;
III - os óbitos;
IV - as emancipações;
V - as interdições;
VI - as sentenças declaratórias de ausência;
VII - as opções de nacionalidade;
VIII - as sentenças que deferirem a legitimação adotiva.
§ 1º Serão averbados:
a) as sentenças que decidirem a nulidade ou anulação do casamento, o desquite e o restabele-
cimento da sociedade conjugal;
b) as sentenças que julgarem ilegítimos os filhos concebidos na constância do casamento e as
que declararem a filiação legítima;
c) os casamentos de que resultar a legitimação de filhos havidos ou concebidos anteriormente;
d) os atos judiciais ou extrajudiciais de reconhecimento de filhos ilegítimos;
e) as escrituras de adoção e os atos que a dissolverem;
f) as alterações ou abreviaturas de nomes.

3.3 REGISTRO E AVERBAÇÕES


O ato de Registrar compreende a fatos ou atos jurídicos relevantes da vida dos seres humanos, tais
como o nascimento, casamento, óbito, emancipação etc.

A averbação se dá em razão da modificação ou alteração do conteúdo do registro, sendo feita por-


tanto à margem deste, devendo obrigatoriamente ser mencionada nas certidões expedidas posterior-
mente ao ato.

De acordo com o parágrafo primeiro do art. 29, serão obrigatoriamente averbados:


a) as sentenças que decidirem a nulidade ou anulação do casamento, o desquite e o restabele-
cimento da sociedade conjugal;

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REGISTROS PÚBLICOS

b) as sentenças que julgarem ilegítimos os filhos concebidos na constância do casamento e as


que declararem a filiação legítima;

c) os casamentos de que resultar a legitimação de filhos havidos ou concebidos anteriormente;

d) os atos judiciais ou extrajudiciais de reconhecimento de filhos ilegítimos;

e) as escrituras de adoção e os atos que a dissolverem;

f) as alterações ou abreviaturas de nomes.

Contudo, devemos considerar que em razão da promulgação da Lei 6.515/77, a extinção da socie-
dade conjugal, mantido o vínculo, que antes se denominava desquite, passou a se chamar separação judi-
cial, emergindo ainda a figura do divórcio.

Da mesma forma, em razão da promulgação da Lei nº 8.069/90 “Estatuto da Criança e do Adoles-


cente”, a legitimação adotiva foi substituída pela adoção de menor.

Ainda, Swensson (2005, p. 30) afirma que: com a equiparação dos filhos havidos ou não da relação
do casamento ou por adoção, quanto aos direitos e qualificações, são proibidas quaisquer designações
discriminatórias relativas à filiação (art. 227, § 5º, CF) é de ser excluída a letra c, bem como a supressão do
termo “ilegítimos”, inserido na letra d, ambas do § 1º, art. 29, LRP.

3.4 ESCRITURAÇÃO E ORDEM DE SERVIÇO


A escrituração será feita seguidamente, em ordem cronológica de declarações, sem abreviaturas,
nem algarismos; no fim de cada assento e antes da subscrição e das assinaturas, serão ressalvadas as e-
mendas, entrelinhas ou outras circunstâncias que puderem ocasionar dúvidas. Entre um assento e outro,
será traçada uma linha de intervalo, tendo cada um o seu número de ordem.

A escrituração será feita nos seguintes livros:


Art. 33. (...)
I - "A" - de registro de nascimento;
II - "B" - de registro de casamento;
III - "B Auxiliar" - de registro de casamento Religioso para Efeitos Civis;
IV - "C" - de registro de óbitos;
V - "C Auxiliar" - de registro de natimortos;
VI - "D" - de registro de proclama.

O oficial juntará, a cada um dos livros, índice alfabético dos assentos lavrados pelos nomes das pes-
soas a quem se referirem.

3.5 PENALIDADES
É obrigação do oficial lavrar o assento de nascimento dentro em cinco (5) dias, sob pena de pagar
multa correspondente a um salário mínimo da região.

Contudo, se o oficial do registro civil recusar fazer ou retardar qualquer registro, averbação ou ano-
tação, bem como o fornecimento de certidão, as partes prejudicadas poderão queixar-se à autoridade
judiciária, que após oportunizado o contraditório, decidirá dentro de cinco (5) dias.

21
REGISTROS PÚBLICOS

Se for injusta a recusa ou injustificada a demora, o Juiz que tomar conhecimento do fato poderá
impor ao oficial multa de um a dez salários mínimos da região, ordenando que, no prazo improrrogável de
vinte e quatro (24) horas, seja feito o registro, a averbação, a anotação ou fornecida certidão, sob pena de
prisão de cinco (5) a vinte (20) dias.

Os pedidos de certidão feitos por via postal, telegráfica ou bancária serão obrigatoriamente atendi-
dos pelo oficial do registro civil, satisfeitos os emolumentos devidos, sob as penas previstas no parágrafo
anterior.

Também consiste obrigação dos oficiais do registro civil a remessa à Fundação Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística, dentro dos primeiros oito dias dos meses de janeiro, abril, julho e outubro de
cada ano, de um mapa dos nascimentos, casamentos e óbitos ocorridos no trimestre anterior. A punição
para os oficiais que, no prazo legal, não remeterem os mapas, é a multa de um a cinco salários mínimos
da região, que será cobrada como dívida ativa da União, sem prejuízo da ação penal que no caso couber.

Importante frisar que a partir de 2012 no mapa deverá ser informado o número da identificação da
Declaração de Nascido Vivo, sendo que os mapas dos nascimentos deverão ser remetidos aos órgãos pú-
blicos interessados no cruzamento das informações do registro civil e da Declaração de Nascido Vivo con-
forme o regulamento, com o objetivo de integrar a informação e promover a busca ativa de nascimentos.

3.6 NASCIMENTO
O nascimento de toda e qualquer criança, na vasta extensão do território nacional deverá ser regis-
trado junto à serventia de pessoas naturais, no lugar onde ocorreu o parto, ou no lugar da residência dos
pais, no prazo de 15 dias, que será ampliado a 90 (noventa) dias em caso de residência distante 30 quilô-
metros do local do registro.

Os índios não estão obrigados a ser registrados, desde que não integrados à sociedade, podendo o
seu registro realizar-se em livro próprio do órgão federal de assistência aos indíge- nas (FUNAI).

A necessidade e conseqüente exigência do registro dos nascimentos foi abordada pela comunidade
mundial, a partir do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos na XXI Seção da Assembléia Geral
das Nações Unidas em 16 de dezembro de 1966, tendo sido estabelecido em seu art. 25, que “toda crian-
ça deverá ser registrada imediatamente após seu nascimento e deverá receber um nome” e que “toda
criança terá direito de adquirir uma nacionalidade”. Sen- do o referido texto internacional aprovado pelo
Congresso Nacional pelo Decreto Legislativo nº. 226, de 12 de dezembro de 1991.

A Lei de Registros Públicos, em seu artigo 52, que teve modificações significativas em 2015, estabe-
lece a ordem sucessiva, das pessoas que estão obrigadas a realizar a declaração do nascimento de uma
criança, na seguinte ordem:
Art. 52. (...)
o o
1 ) o pai ou a mãe, isoladamente ou em conjunto, observado o disposto no § 2 do art. 54;
o
2º) no caso de falta ou de impedimento de um dos indicados no item 1 , outro indicado, que
terá o prazo para declaração prorrogado por 45 (quarenta e cinco) dias;
3º) no impedimento de ambos, o parente mais próximo, sendo maior achando-se presente;
4º) em falta ou impedimento do parente referido no número anterior os administradores de
hospitais ou os médicos e parteiras, que tiverem assistido o parto;
5º) pessoa idônea da casa em que ocorrer, sendo fora da residência da mãe;
6º) finalmente, as pessoas (VETADO) encarregadas da guarda do menor.

22
REGISTROS PÚBLICOS

A legislação não prevê sanção pela ausência de declaração, se limitando a estabelecer uma ordem
sucessiva.

Se a criança nasceu morta (não respirou), será o registro feito no livro “C auxiliar”, com os elemen-
tos que couberem ao livro de óbitos. Se a criança morrer na ocasião do parto, tendo, entretanto, respira-
do, será feito os dois assentos, o de nascimento e o de óbito, com os elementos cabíveis e com remissões
recíprocas.

Lembrando que tal distinção é importantíssima, uma vez que: “a personalidade civil do homem co-
meça do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo desde a concepção os direitos dos nascituros” (art. 2º
do Código Civil Brasileiro), conforme estudado na disciplina Direito Civil I, bem como na disciplina de In-
trodução ao Estudo do Direito.

Os dados referentes ao registrando são imprescindíveis para a perfeita individualização e identifica-


ção do indivíduo perante a sociedade, pois a partir das características pessoais, se definirá a capacidade
ou incapacidade, no âmbito do Direito Civil, a imputabilidade ou inimputabilidade, na esfera penal.

São exigências que deverão constar no assento do nascimento da criança junto ao registro civil, ob-
servada a seguinte ordem legal:
Art. 54. (...)
1º) o dia, mês, ano e lugar do nascimento e a hora certa, sendo possível determiná-la, ou apro-
ximada;
2º) o sexo do registrando;
3º) o fato de ser gêmeo, quando assim tiver acontecido;
4º) o nome e o prenome, que forem postos à criança;
5º) a declaração de que nasceu morta, ou morreu no ato ou logo depois do parto;
6º) a ordem de filiação de outros irmãos do mesmo prenome que existirem ou tiverem existi-
do;
7º) Os nomes e prenomes, a naturalidade, a profissão dos pais, o lugar e cartório onde se casa-
ram, a idade da genitora, do registrando em anos completos, na ocasião do parto, e o domicílio
ou a residência do casal.
8º) os nomes e prenomes dos avós paternos e maternos;
9º) os nomes e prenomes, a profissão e a residência das duas testemunhas do assento, quando
se tratar de parto ocorrido sem assistência médica em residência ou fora de unidade hospitalar
ou casa de saúde;
10) o número de identificação da Declaração de Nascido Vivo, com controle do dígito verifica-
dor, exceto na hipótese de registro tardio previsto no art. 46 desta Lei; e
11) a naturalidade do registrando.

Swensson (2005, pág. 124) citando R. Limong França afirma que “Sendo o homem distin- to de seus
semelhantes e devendo manter com eles relações de ordem social e jurídica, é necessário que a sua distin-
ção se faça claramente, através de um signo exterior e preciso. Esse signo, diz Humblet, é o nome. Pelo
nome o homem é designado, individualizado. Não se compreende, na vida social, um homem que não
tivesse nome”.

Se o declarante no momento do registro não indicar o nome completo, o oficial da serventia de


pessoas naturais poderá lançar o adiante do prenome escolhido o nome do pai, e, na falta, o da mãe, se
forem conhecidos. (art. 55, LRP)

3.7 NOME. REGISTRO FORA DO PRAZO DA LEI Nº 11.790/08

23
REGISTROS PÚBLICOS

Swensson (2005, pág. 124) novamente citando R. Limong França afirma que “nome civil é a desig-
nação pela qual se identificam e distinguem as pessoas naturais, nas relações concernentes ao aspecto
civil da sua vida jurídica” e “prenome é o mesmo que nome individual, nome próprio da pessoa, corres-
pondente ao antigo nome de batismo, e que, entre nós, vem em primeiro lugar na enunciação do nome
completo”.

Após um ano de completada a maioridade civil, o próprio interessado, ou mediante pro- curador
poderá alterar o nome, desde que ocorra a publicação pela imprensa e averbação da mesma. (art. 56,
LRP). A alteração posterior de nome, somente poderá se realizar por exceção e motivadamente após au-
diência do Ministério Público, mediante sentença do juiz a que tiver sujeito o registro. (art. 57, LRP).

Ainda, de acordo com a Lei 11.790/08, que alterou o art. 46, as declarações de nascimento feitas
após o decurso do prazo legal serão registradas no lugar de residência do interessado.

3.8 HABILITAÇÃO PARA CASAMENTO E PROCLAMAS


Tendo em vista a importância que o Estado dá ao Casamento, a legislação, visando a proteção des-
se instituto, estabelece o cumprimento de uma série de formalidades para sua efetivação. As formalida-
des preliminares referem-se ao Processo de Habilitação que, conforme disposto no art. 1.526, CC, exige
que a habilitação seja feita perante o oficial do Registro Civil, a quem, juntamente com o Ministério Públi-
co, caberá apreciar a capacidade dos nubentes para o casamento, a existência ou não de impedimento
matrimoniais e, por fim, dar publicidade à pretensão das partes.

a) Do procedimento
Os nubentes deverão requerer a instauração do referido Processo de Habilitação no cartório de seu
domicílio. Entretanto, caso os noivos residam em municípios distintos, o requerimento poderá ser feito no
cartório de qualquer dos municípios, sendo necessária a publicação do edital em ambas as cidades.

Após o recebimento do requerimento, o qual deve estar acompanhado da documentação exigida,


obrigatoriamente, dar-se-á vista do Processo de Habilitação ao Ministério Público. Não havendo qualquer
impugnação, o oficial extrairá o edital, que se afixará durante quinze dias nas circunscrições do Registro
Civil de ambos os nubentes, e, obrigatoriamente, se publicará na imprensa local, se houver. Essa publica-
ção poderá ser dispensada em casos de urgência, conforme o parágrafo único do art. 1.527, CC. Todavia, a
lei não estabelece quais são os casos de urgência, sendo assim, caberá ao juiz determiná-los. Pode-se citar
a moléstia grave e viagem inadiável como exemplos de casos urgentes.

Decorrido o prazo de 15 dias a contar da afixação do edital em cartório, o oficial entregará aos noi-
vos certidão de que estão habilitados a se casar dentro de 90 dias, sob pena de perda de sua eficácia.
Caso o casamento não ocorra nesse prazo, será necessário novo Processo de Habilitação.

Cabe aqui referir que, por força do art. 1.512, CC, o casamento que obedece ao disposto acima é
“civil” e sua celebração será gratuita, sendo a habilitação para o casamento, o registro e a primeira certi-
dão isentos de selos, emolumentos e custas, para os nubentes que declararam pobreza, sob as penas da
lei.

a.1) Dos documentos necessários


Como antes referido, o requerimento de instauração do Processo de Habilitação deve estar acom-
panhado dos documentos necessários. Esses documentos, segundo o art. 1.525, CC, são:

24
REGISTROS PÚBLICOS

I - Certidão de Nascimento ou documento equivalente


Nesse caso é possível a apresentação, por exemplo, da cédula de identidade ou título de eleitor. Es-
ses documentos destinam-se a comprovar, em primeiro lugar, que os noivos atingiram a idade mínima
exigida para o casamento, qual seja, 16 anos (art. 1.517, CC).

O art. 1.520, CC, permitia, excepcionalmente, o casamento de quem ainda não tivesse completado
a idade núbil, para evitar a imposição ou cumprimento de pena criminal ou em caso de gravidez. No en-
tanto, tal artigo foi alterado pela Lei 13.811/19, dispondo que não será permitido, em qualquer caso, o
casamento de menores de 16 anos.

II - Autorização das pessoas sob cuja dependência legal estiveram, ou Ato Judicial que a supra
Os nubentes que não completaram 18 anos de idade devem apresentar autorização, por escrito,
dos pais ou tutores, ou prova da emancipação ou ato judicial que a supra. Sendo os pais casados, impres-
cindível o consentimento de ambos. Se não forem casados ou estiverem separados, basta o consentimen-
to da mãe ou daquele que tem a guarda do menor. Em caso de divergência entre os pais, assegura o par.
único do art. 1.631, CC, que, qualquer deles poderá recorrer ao Judiciário para a solução desse conflito.
Do mesmo modo, quando não há autorização dos pais ou tutor, o interessado poderá requerer o supri-
mento do consentimento pela via judicial quando reputar injusta a denegação, segundo o que dispõe o
art. 1.519, CC. Se o pedido for deferido, a autorização estará suprida, sendo expedido competente alvará,
o qual deverá ser juntado ao Processo de Habilitação. Nesse caso, necessariamente, o casamento será
celebrado sob o regime da separação de bens, conforme o inc. III do art. 1.641, CC. Vale referir que esse
procedimento configura hipótese de jurisdição voluntária, seguindo, por consequência, as regras do art.
719 e seguintes, CPC.

O pródigo, embora não esteja impedido de casar, nem seu estado seja considerado causa suspensi-
va ou de anulabilidade do casamento, eis que a interdição acarreta somente a incapacidade para gerenci-
ar seu patrimônio, deverá apresentar autorização, por escrito, de seu curador. O surdo-mudo, por sua
vez, somente terá casamento válido se for capaz de enunciar sua vontade.

III - Declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou não, que atestem conhecer os nuben-
tes e afirmem não existir impedimento
A finalidade desse documento é complementar a identificação dos nubentes e reforçar a prova da
inexistência de impedimentos para a realização do casamento.

IV - Declaração do estado civil, do domicílio e da residência atual dos contraentes e de seus pais,
se forem conhecidos
Também conhecido como Memorial esse documento deve ser assinado pelos noivos.

V - Certidão de óbito do cônjuge falecido, de sentença declaratória de nulidade ou de anulação de


casamento anterior ou do registro da sentença de divórcio
A certidão de óbito poderá ser substituída por sentença que declare a morte presumida nos casos
em que o cônjuge estiver ausente/desaparecido.

b) Dos impedimentos
Além dos requisitos essenciais à validade do casamento, os nubentes devem, ainda, atender outros
requisitos, que em caso de inobservância geram a nulidade do ato. Dentre esses requisitos a serem ob-
servados situam-se os impedimentos, que, em verdade, são barreiras impostas pela lei para a realização

25
REGISTROS PÚBLICOS

do casamento para evitar prejuízos à ordem pública, aos nubentes e a terceiros.

O artigo 1.521, CC, estabelece os impedimentos:


Art. 1.521. Não podem casar:
I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil;
II - os afins em linha reta;
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do adotante;
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive;
V - o adotado com o filho do adotante;
VI - as pessoas casadas;
1
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio contra
o seu consorte.

No que tange a afinidade cabe ressaltar que o Código Civil proíbe o casamento somente dos afins
em linha reta, não sendo a linha colateral impedimento ao casamento. Assim, o cônjuge viúvo ou divorci-
ado pode casar-se com a cunhada. Todavia, não poderá casar-se com a enteada, nem com a sogra, pois
nesses casos há a finidade em linha reta e a dissolução do casamento ou união estável não extingue essa
afinidade. Por sua vez, ao tutelar a adoção como causa de impedimento do casamento, buscou o Código
Civil proteger o referido instituto, eis que a adoção imita a família, e permitir tal conduta afetaria a mora-
lidade familiar. O impedimento resultante de casamento anterior procura combater a poligamia e somen-
te será extinto tal impedimento com a dissolução do anterior vínculo matrimonial pela morte, anulação,
divórcio ou morte presumida do ausente. Cabe aqui observar que o casamento religioso anterior não
constitui impedimento legal.

Quanto ao impedimento constante do inciso VII, conveniente destacar que não há necessidade de
cumplicidade entre o delinquente e o cônjuge sobrevivente, todavia, imprescindível haver condenação.
Em caso de absolvição ou extinção da punibilidade o referido impedimento deixará de existir.

O casamento que for realizado sem a observância dos impedimentos acima descritos será conside-
rado nulo e sem nenhum efeito, por força do art. 1.548, CC.

c) Das causas suspensivas


Fora do rol dos impedimentos matrimoniais, mas com eles relacionados, situam-se as “causas sus-
pensivas”, dispondo o CC, no art. 1.523, que não devem contrair casamento certas pessoas. As disposi-
ções referem-se:
Art. 1.523. Não devem casar:
I - o viúvo ou a viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer inventário dos bens
do casal e der partilha aos herdeiros;
II - a viúva, ou a mulher cujo casamento se desfez por ser nulo ou ter sido anulado, até dez me-
ses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade conjugal;
III - o divorciado, enquanto não houver sido homologada ou decidida a partilha dos bens do ca-
sal;
IV - o tutor ou o curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos,
com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estive-
rem saldadas as respectivas contas.

Nota-se o emprego da expressão “não devem”, em lugar de “não podem”", para excluir o caráter
impeditivo daquelas causas. Dessa forma, as causas suspensivas não impedem que o casamento se reali-

1
Homicídio doloso.

26
REGISTROS PÚBLICOS

ze, consistindo apenas em uma orientação aos nubentes para que o casamento não se realize a fim de
evitar confusão de sangue ou de patrimônio. De qualquer forma, mesmo que tais causas sejam violadas,
não acarretarão a invalidade do casamento, limitando-se a sanção à obrigatoriedade do regime da sepa-
ração de bens, conforme preceitua o art. 1.641, CC.

3.9 CASAMENTO. CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO. REGISTRO DO CASAMENTO


RELIGIOSO PARA EFEITOS CIVIS, CONVERSÃO DE UNIÃO ESTÁVEL EM CASA-
MENTO.
O casamento é uma instituição antiga, nascida dos costumes, incentivada pelo sentimento moral e
religioso e na atualidade completamente incorporada ao direito pátrio.

A Constituição Federal de 1988 introduziu relevantes mudanças no conceito de família e no trata-


mento dispensado a essa instituição considerada a base da sociedade. Podem ser apontadas quatro ver-
tentes básicas a partir do disposto no art. 226, CF, quais sejam: a) ampliação das formas de constituição
da família, pois antes o ordenamento protegia especialmente o casamento, acrescendo-se como entida-
des familiares a união estável e a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes; b)
facilitação da dissolução do casamento pelo divórcio, e pela conversão da separação judicial em divórcio
nos casos em que houver sido decretada a separação antes da EC n. 66/10; c) igualdade de direitos e de-
veres do homem e da mulher na sociedade conjugal, e d) igualdade dos filhos, havidos ou não do casa-
mento, ou por adoção, garantindo-se a todos os mesmos direitos e deveres e sendo vedada qualquer
discriminação decorrente de sua origem.

Posto isto, imprescindível referir que o casamento é condição jurídica para existência de certos di-
reitos e, no sentido social, pode ser entendido como uma manifestação de vontade conjunta, subordina-
da a inúmeros pré-requisitos e a uma cerimônia civil que, cumpridas certas formalidades, substancia e
legitima uma união entre pessoas. Sendo assim, o art. 1.511, CC, preceitua: “O casamento estabelece
comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges”. É, em outras pala-
vras, um ato complexo, de natureza institucional, dependente da livre manifestação de vontade de ambas
as partes, que se completa por uma celebração solene.

3.9.1 OPOSIÇÃO DOS IMPEDIMENTOS E DAS CAUSAS SUSPENSIVAS


Ambos os institutos devem ser opostos em declaração escrita e assinada, além de estar instruída
com as provas do fato alegado ou com indicação do lugar onde possam ser obtidas, segundo disciplina do
art. 1.529, CC.

O art. 1.522, CC, trata do tempo e da legitimação para a oposição dos impedimentos à realização do
casamento, referindo que a oposição de impedimentos poderá ser feita no Processo de Habilitação até o
instante da celebração do casamento, ou seja, até a data da celebração do casamento, por qualquer
pessoa capaz. Reconhecida a oposição, caberá ao juiz, ao oficial do Registro Civil ou a quem presidir a
celebração do casamento declarar a existência, quando for o caso, de algum impedimento. Quando o
casamento se realizar infringindo qualquer das causas impeditivas, o Ministério Público ou qualquer inte-
ressado, por força do art. 1.549, CC, poderá promover ação direta objetivando a decretação de nulidade
desse casamento. Os nubentes, entretanto, poderão fazer prova em contrário aos impedimentos, caben-
do-lhes promover ações cíveis e criminais contra o oponente de má-fé (art. 1.530, parágrafo único, CC).

As causas suspensivas, diferentemente das causas impeditivas, por interessarem exclusivamente à


família, só poderão ser opostas por parentes em linha reta ou colaterais em segundo grau de um dos
nubentes, consanguíneos ou afins (art. 1.524, CC), dentro do prazo de 15 dias da publicação dos procla-

27
REGISTROS PÚBLICOS

mas, conforme o art. 1.527, CC.

3.9.2 DA CELEBRAÇÃO DO CASAMENTO (ARTS. 1.533 A 1.542, CC)


A celebração do casamento é ato necessário para sua validade. Averiguados os requisitos legais, em
regular Processo de Habilitação, e expedida a certidão de habilitação prevista no art. 1.521, CC, os contra-
entes, mediante petição, requerem à autoridade competente a celebração do casamento. A apresentação
do certificado de habilitação para o casamento é documento imprescindível para a realização da soleni-
dade.

A celebração do casamento que não atender as formalidades legais será inexistente. Dentre as
principais exigências legais, importante destacar o momento em que o juiz pergunta aos nubentes se per-
sistem no propósito de casar. A resposta deve ser inequívoca, sendo admitida a forma verbal (“sim”), mas
também a forma escrita, utilizada no caso do mudo, ou por gestos, não podendo o silêncio, nesse caso,
ser interpretado como manifestação de vontade. Oportuno referir que, se um dos nubentes manifestar
arrependimento, negar ou declarar que não é livre e espontâneo o seu consentimento, a celebração será
suspensa, não podendo o nubente retratar-se no mesmo dia. Outro importante momento é aquele onde
o juiz declara efetuado o casamento após o inequívoco consentimento dos noivos. Sem a declaração do
celebrante, o casamento, perante o sistema brasileiro é considerado inexistente (art. 1.514, CC). Depois
de celebrado o casamento, será lavrado assento no livro de registro, a fim de dar publicidade ao ato e,
ainda, para servir de prova de sua realização e do regime de bens (nesses casos vigora o sistema de prova
pré-constituída). A falta dessa formalidade apenas dificultará a prova do ato, mas não o tornará inválido,
pois ocorre depois que o casamento já está concluído.

Segundo disposição do parágrafo único do art. 1.543, CC, somente em caso de falta de registro,
perda, inutilização ou desaparecimento, com ou sem culpa do oficial do Registro Civil, é que poderão ser
aceitas outras provas (testemunhais, documentais ou outras julgadas suficientes e adequadas). A ação
declaratória é o meio hábil para declarar a existência do casamento quando ocorrer alguma das hipóteses
acima descritas. Os efeitos desse reconhecimento em relação aos cônjuges e aos filhos retroagem à data
em que o casamento foi celebrado, e não apenas à data do registro.

3.9.3 CAUSAS DE NULIDADE E DE ANULAÇÃO DO CASAMENTO


No capítulo da invalidade do casamento, o Código Civil distingue os casos de casamento nulo e de
casamento anulável.

Nulo será o casamento contraído por infringência de impedimento (artigo 1.548, CC). Tal artigo
contava com outro inciso, que previa que seria nulo o casamento contraído por enfermo mental sem o
necessário discernimento para os atos da vida civil, no entanto, esse inciso foi revogado pela Lei
13.146/15 (Estatuto da Pessoa com Deficiência).

No rol de causas de anulação do casamento, o Código Civil trata de situações relacionadas à falta
da idade mínima para casar (16 anos), à falta de autorização do representante legal para os menores de
18 anos, ao vício de vontade, à incapacidade relativa, à atuação de mandatário com procuração revogada
e à incompetência da autoridade celebrante (artigo 1.550, CC). A questão do mandato revogado constitui
inovação em relação ao ordenamento anterior, mas com interessante ressalva de que não tenha havido
coabitação entre os cônjuges, vez que esse tipo de comportamento estaria convalidando a celebração do
casamento ainda que por mandatário excluído.

Enquadram-se como causas de anulação do casamento por vício de vontade aquelas relativas ao
erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge (artigo 1.556, CC). A enumeração dos casos de “erro es-

28
REGISTROS PÚBLICOS

sencial”, consta no art. 1.557, CC:


Art. 1.557. Considera-se erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge:
I - o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu co-
nhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado;
II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua natureza, torne insuportável a
vida conjugal;
III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável que não caracterize defi-
ciência ou de moléstia grave e transmissível, por contágio ou por herança, capaz de pôr em ris-
co a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência;

3.9.4 REGISTRO DO CASAMENTO RELIGIOSO PARA EFEITOS CIVIS


A Constituição Federal, no seu art. 226, § 1º, dispõe que “O casamento é civil e gratuita a celebra-
ção”, e no § 2º do mesmo artigo prevê a possibilidade do casamento religioso ter efeito civil “O casamen-
to religioso tem efeito civil, nos termos da lei”.

Desde que os nubentes se encontrem habilitados para o casamento, poderão requerer certidão
junto ao oficial do Registro Civil, para se casarem perante a autoridade religiosa de seu credo, desde que
mencionado na certidão o prazo de validade da habilitação. No prazo de 30 dias da celebração poderá
requerer o registro ao oficial do cartório expedidor da certidão de habilitação.

O casamento no religioso, celebrado sem a prévia habilitação perante o oficial da serventia, poderá
ser registrado, desde que apresentado pelos nubentes, com o requerimento de registro, a prova do ato
religioso e os documentos exigidos pelo Código Civil.

3.9.5 CONVERSÃO DA UNIÃO ESTÁVEL EM CASAMENTO


No que diz respeito a essa instituição, a Lei 9.278/96 (art. 8º) e depois o Código Civil (art. 1.726),
cumprindo a ordem constitucional de facilitar a conversão em casamento permitiram a conversão da uni-
ão estável em casamento.

Art. 8º. Os conviventes poderão, de comum acordo e a qualquer tempo, requerer a conversão
da união estável em casamento, por requerimento ao Oficial do Registro Civil da Circunscrição
de seu domicílio.

Art. 1.726. A união estável poderá converter-se em casamento, mediante pedido dos compa-
nheiros ao juiz e assento no Registro Civil.

3.10 REGISTRO CIVIL E AS ESCRITURAS DE SEPARAÇÃO E DIVÓRCIOS CON-


SENSUAIS E CORRELATAS
A Lei 11.441/07 introduziu o artigo 1.124-A no CPC/73 (art. 733, CPC/15), ficando com a seguinte
redação após a edição da Lei nº 11.965/09:
Art. 733. O divórcio consensual, a separação consensual e a extinção consensual de união está-
vel, não havendo nascituro ou filhos incapazes e observados os requisitos legais, poderão ser
realizados por escritura pública, da qual constarão as disposições de que trata o art. 731.
o
§ 1 A escritura não depende de homologação judicial e constitui título hábil para qualquer ato
de registro, bem como para levantamento de importância depositada em instituições financei-
ras.
o
§ 2 O tabelião somente lavrará a escritura se os interessados estiverem assistidos por advoga-
do ou por defensor público, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial.

29
REGISTROS PÚBLICOS

A lei prevê, assim como no inventário, que para a realização de separação e divórcio consensuais,
por meio de escritura pública, faz-se necessário que os interessados sejam maiores e capazes.

Quanto aos prazos mencionados no art. 733, CPC, a Resolução 35/07, CNJ, previa que, no caso da
separação consensual extrajudicial, o tempo de duração do casamento deveria ser de um ano e no caso
do divórcio direto seria exigida separação de fato por mais de dois anos.

O § 6º do art. 226, CF, dizia: “O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia sepa-
ração judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato por mais
de dois anos”. Com a aprovação da emenda EC 66/10, ao dar nova redação ao § 6º do art. 226, CF, o texto
passou a prever apenas que “O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio”, suprimindo os pré-
requisitos da redação anterior.

Maria Berenice delineia sobre o assunto:


“Ao ser excluída a parte final do indigitado dispositivo constitucional, desapareceu toda e qual-
quer restrição para a concessão do divórcio, que cabe ser concedido sem prévia separação e
sem o implemento de prazos. A partir de agora a única ação dissolutória do casamento é o di-
vórcio que não mais exige a indicação da causa de pedir. Eventuais controvérsias referentes a
causa, culpa ou prazos deixam de integrar o objeto da demanda.” (DIAS, 2010, online).

A mesma autora afirma que instituto da separação foi extinto do ordenamento jurídico, como já
mencionado anteriormente, pela inserção EC 66/10:
“A verdade é uma só: a única forma de dissolução do casamento é o divórcio, eis que o instituto
da separação foi banido - e em boa hora - do sistema jurídico pátrio. Qualquer outra conclusão
transformaria a alteração em letra morta.
A nova ordem constitucional veio para atender ao anseio de todos e acabar com uma excres-
cência que só se manteve durante anos pela histórica resistência à adoção do divórcio. Mas,
passados mais de 30 anos nada, absolutamente nada, justifica manter uma dupla via para as-
segurar o direito à felicidade, que nem sempre está na manutenção coacta de um casamento já
roto.” (DIAS, 2010, online).

O Presidente do Instituto do Instituto Brasileiro de Direito de Família (Ibdfam) Rodrigo da Cunha


Pereira, também vê com bons olhos o fim da separação quando afirma:
“A separação era um atraso na vida daqueles que queriam se divorciar. Sem contar que ela a-
cabava fomentando uma discussão sem fim em relação à questão da culpa sobre o fim do rela-
cionamento, estimulando aquelas 0famosas brigas que todos conhecem. Na verdade, da forma
como ocorria, o sofrimento acabava sendo dobrado, porque havia a necessidade de fazer a
mesma coisa duas vezes.” (OLIVEIRA, 2010, online).

Pereira ainda justifica: “Ora, o verdadeiro sustento do laço conjugal não são as fórmulas jurídicas. O
que a garante a existência dos vínculos conjugais é o DESEJO”. (PEREIRA, 2010, online). Maria Berenice
menciona ainda a sensibilidade do legislador ao deixar nas mãos do casal a decisão de querer permane-
cer ou não junto, deixando assim o Estado de interferir em decisões íntimas e pessoais.

O legislador foi sensível à necessidade de desafogar a justiça e simplificar o fim do casamento. O


primeiro passo para limitar o intervencionismo do Estado nos vínculos afetivos foi a possibilidade de a
separação e o divórcio consensual serem levados a efeito na via administrativa por meio de escritura
pública perante tabelião (art. 733, CPC). Para isso, além de haver consenso entre os cônjuges, indispen-

30
REGISTROS PÚBLICOS

sável que não existam nascituros ou filhos incapazes. Ainda assim, os cônjuges precisam ser assistidos
por advogado ou defensor público. Nada justificava que a separação e o divórcio continuassem a exigir a
participação do Poder Judiciário. Principalmente quando o casamento termina de forma consensual, to-
talmente dispensável que sua dissolução dependa da chancela do juiz com a audiência das partes.

Vale frisar que grande parte dos estudiosos do Direito vê a referida aprovação como sendo um be-
nefício em todos os aspectos, já que trará uma maior celeridade para o Judiciário, como também auto-
nomia para as partes, uma vez que terão o direito de decidirem se desejam permanecer ou não casadas,
sem precisar de prazo ou de qualquer outro obstáculo para que isso aconteça.

O art. 53. da Resolução 35/07, CNJ, trazia os seguintes requisitos para comprovação do lapso tem-
poral:
Art. 53. A declaração dos cônjuges não basta para a comprovação do implemento do lapso de
dois anos de separação no divórcio direto. Deve o tabelião observar se o casamento foi realiza-
do há mais de dois anos e a prova documental da separação, se houver, podendo colher decla-
ração de testemunha, que consignará na própria escritura pública. Caso o notário se recuse a
lavrar a escritura, deverá formalizar a respectiva nota, desde que haja pedido das partes neste
sentido.

Observa-se que as testemunhas exigidas pelo notário no ato da confecção da escritura pública de
divórcio tinham o objetivo de fazer prova do lapso temporal cumprido, nos casos de divórcio direto. Com
a extinção dos prazos, o papel das testemunhas deixa de existir. Importante ressaltar que tal art. foi re-
vogado pela Resolução 120/10.

Ainda no que se refere o art. 733, CPC, devem estar inclusos na escritura pública as disposições de
que trata o art. 731, CPC:
Art. 731. A homologação do divórcio ou da separação consensuais, observados os requisitos
legais, poderá ser requerida em petição assinada por ambos os cônjuges, da qual constarão:
I - as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns;
II - as disposições relativas à pensão alimentícia entre os cônjuges;
III - o acordo relativo à guarda dos filhos incapazes e ao regime de visitas; e
IV - o valor da contribuição para criar e educar os filhos.

A partilha em escritura pública de separação e divórcios consensuais seguirá as regras da partilha


em inventário extrajudicial, no que couber, conforme delineia o art. 39 da Resolução 35/07, CNJ.

Quanto à assistência de advogado ou defensor e à gratuidade dos atos notariais, o procedimento


segue os mesmos parâmetros da ação de inventário.

O art. 33 da Resolução 35/07, CNJ, delineia os documentos necessários para a lavratura de escritu-
ra pública de separação e divórcio consensuais:
Art. 33. Para a lavratura da escritura pública de separação e de divórcio consensuais, deverão
ser apresentados: a) certidão de casamento; b) documento de identidade oficial e CPF/MF; c)
pacto antenupcial, se houver; d) certidão de nascimento ou outro documento de identidade o-
ficial dos filhos absolutamente capazes, se houver; e) certidão de propriedade de bens imóveis
e direitos a eles relativos; e f) documentos necessários à comprovação da titularidade dos bens
móveis e direitos, se houver.

Vale ressaltar que o art. 35 da citada Resolução menciona que:


Art. 35. Da escritura, deve constar declaração das partes, de que estão cientes das consequên-

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REGISTROS PÚBLICOS

cias da separação e do divórcio, firmes no propósito de pôr fim à sociedade conjugal ou ao vín-
culo matrimonial, respectivamente, sem hesitação, com recusa de reconciliação.

3.11 ÓBITO
A morte de um ser humano se dá com a cessação das manifestações vitais, quais sejam: sistema
cardiovascular (circulatório), respiratório, nervoso central e funções cerebrais, devendo a pessoa ser se-
pultada em local próprio.

O Código Civil, em seu art. 6º dispõe que “A existência da pessoa natural termina com a morte;
presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura da sucessão definitiva”.

Todo sepultamento deverá ser feito com a certidão do oficial de registro do lugar do falecimento,
extraída após a lavratura do assento de óbito, com vista de médico ou, caso não exista no local, de duas
pessoas qualificadas que presenciaram ou verificaram a morte.

Se uma criança falecer com menos de 1 ano, antes de proceder o assento, o oficial registrador se
certificará primeiro da existência de registro de nascimento, e caso não tenha ocorrido, o mesmo provi-
denciará o registro.

É possível que uma pessoa manifeste em vida o seu interesse de cremar seu cadáver, podendo ain-
da ocorrer a necessidade de manifesto interesse público pela cremação, desde que firmado por dois mé-
dicos ou por um médico legista e, no caso de morte violenta, após a autorização judicial.

Se, pela distância ou qualquer outro motivo justificável, o registro não puder ser feito em 24 horas
do falecimento, o assento poderá ser lavrado, com a maior urgência nos prazos estabelecidos no art. 50,
LRP (15 dias ou 03 meses para os lugares distantes 30 Km do óbito).

A declaração de óbito é obrigatória, podendo ser realizada por preposto autorizado pelo declaran-
te por escrito, tendo o legislador especificado as pessoas na ordem seguinte:
Art. 79/LRP. São obrigados a fazer declaração de óbitos:
1°) o chefe de família, a respeito de sua mulher, filhos, hóspedes, agregados e fâmulos;
2º) a viúva, a respeito de seu marido, e de cada uma das pessoas indicadas no número antece-
dente;
3°) o filho, a respeito do pai ou da mãe; o irmão, a respeito dos irmãos e demais pessoas de ca-
sa, indicadas no nº 1; o parente mais próximo maior e presente;
4º) o administrador, diretor ou gerente de qualquer estabelecimento público ou particular, a
respeito dos que nele faleceram, salvo se estiver presente algum parente em grau acima indi-
cado;
5º) na falta de pessoa competente, nos termos dos números anteriores, a que tiver assistido
aos últimos momentos do finado, o médico, o sacerdote ou vizinho que do falecimento tiver
notícia;
6°) a autoridade policial, a respeito de pessoas encontradas mortas.

O registro do óbito deverá conter obrigatoriamente:


Art. 80/LRP. O assento de óbito deverá conter:
1º) a hora, se possível, dia, mês e ano do falecimento;
2º) o lugar do falecimento, com indicação precisa;
3º) o prenome, nome, sexo, idade, cor, estado, profissão, naturalidade, domicílio e residência
do morto;

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REGISTROS PÚBLICOS

4º) se era casado, o nome do cônjuge sobrevivente, mesmo quando desquitado; se viúvo, o do
cônjuge pré-defunto; e o cartório de casamento em ambos os casos;
5º) os nomes, prenomes, profissão, naturalidade e residência dos pais;
6º) se faleceu com testamento conhecido;
7º) se deixou filhos, nome e idade de cada um;
8°) se a morte foi natural ou violenta e a causa conhecida, com o nome dos atestantes;
9°) lugar do sepultamento;
10º) se deixou bens e herdeiros menores ou interditos;
11°) se era eleitor.
12º) pelo menos uma das informações a seguir arroladas: número de inscrição do PIS/PASEP;
número de inscrição no Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, se contribuinte individual;
número de benefício previdenciário - NB, se a pessoa falecida for titular de qualquer benefício
pago pelo INSS; número do CPF; número de registro da Carteira de Identidade e respectivo ór-
gão emissor; número do título de eleitor; número do registro de nascimento, com informação
do livro, da folha e do termo; número e série da Carteira de Trabalho.
Parágrafo único. O oficial de registro civil comunicará o óbito à Receita Federal e à Secretaria
de Segurança Pública da unidade da Federação que tenha emitido a cédula de identidade, ex-
ceto se, em razão da idade do falecido, essa informação for manifestamente desnecessária.

Existem situações em que o falecido seja desconhecido. Logo, o assentamento deverá conter de-
claração de estatura ou medida, se for possível, cor, sinais aparentes, idade presumida, vestuário ou
qualquer outra indicação que possa contribuir para uma futura identificação.

Sendo encontrado morto, e nada se saiba dessa pessoa, serão inseridos no registro as circunstân-
cias, o lugar, e a necropsia, se realizada.

Se ocorrer primeiramente o enterro, e faltar atestado médico ou de duas pessoas qualificadas, as-
sinarão duas testemunhas que assistiram ao falecimento ou ao funeral.

Um ser humano pode falecer em diversas circunstâncias, das quais a Lei de Registros Públicos pre-
vê as seguintes regras específicas:
- falecimento a bordo de navio será lavrado de acordo com as regras do registro do nascimento
do art. 80, LRP.

- óbitos em campanha ou guerra, será registrado em livro próprio, com a assinatura do médico
chefe da corporação, nas formações de tropa, pelo oficial militar, que será publicado em bole-
tim da corporação e posteriormente no registro civil.

No desaparecimento de pessoas em situações de naufrágio, inundação, incêndio, terremoto ou


quaisquer outras catástrofes, das quais se presuma a morte, os juízes poderão admitir a justificação para
o assentamento.

3.12 EMANCIPAÇÃO, AUSÊNCIA, MORTE PRESUMIDA, INTERDIÇÃO, TUTELA


E CURATELA
3.12.1 EMANCIPAÇÃO
A emancipação, instituto que exige idade mínima de 16 anos do beneficiário, pode ser voluntária,
judicial ou legal. A voluntária é a concedida pelos pais, se o menor tiver dezesseis anos completos (por
instrumento público, independente de homologação judicial); a judicial é concedida por sentença, ouvido
o tutor, em favor do tutelado que já completou dezesseis anos; a legal é a que decorre de fatos previstos

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REGISTROS PÚBLICOS

na lei como o casamento, o exercício de emprego público efetivo, a colação de grau em curso de ensino
superior e o estabelecimento com economia própria, civil ou comercial ou existência de relação de em-
prego, tendo o menor dezesseis anos completos.

A voluntária deve ser concedida por ambos os pais. A impossibilidade de qualquer deles participar
do ato, por se encontrar em local ignorado ou por outro motivo relevante, deve ser devidamente justifi-
cada em juízo. Havendo divergência entre si, tal deverá ser dirimida pelo juiz. Ademais, a emancipação
voluntária não produz o efeito de isentar os pais da obrigação de indenizar as vítimas dos atos ilícitos
praticados pelo menor emancipado, para evitar emancipações maliciosas.

A voluntária e a judicial, para que produzam efeitos, devem ser registradas em livro próprio no Re-
gistro Civil da comarca do domicílio do menor, anotando-se também, com remissões recíprocas, no as-
sento de nascimento. Quando concedida por sentença, o juiz deve comunicar, de ofício, a concessão ao
escrivão do Registro Civil.

A emancipação legal independe de registro e produzirá efeitos desde logo, ou seja, a partir do ato
ou do fato que a provocou.

Em qualquer forma, a emancipação é irrevogável, o que não impede o reconhecimento da invali-


dade do ato.

3.12.2 AUSÊNCIA
A lei autoriza que o juiz declare ausente a pessoa desaparecida de seu domicílio. Para que se verifi-
que o desaparecimento não basta o afastamento da pessoa do lugar em que reside, por mais prolongado
que seja. É necessário que se tenha perdido totalmente as notícias sobre a pessoa e seu paradeiro. A lei
é, inclusive, redundante, ao dizer que será declarada a ausência da pessoa que desaparecer sem dela
haver notícia (art. 22, CC).

Para que seja decretada a ausência de uma pessoa é necessário que o desaparecido não tenha re-
presentante ou procurador cuidando de seus negócios e bens. Não exige a lei prazo mínimo para a carac-
terização do desaparecimento, nem determina que se diligencie a procura do desaparecido.

Convencendo-se de que certa pessoa está realmente desaparecida e seus interesses encontram-se
ao desamparo, o juiz, a pedido de qualquer interessado, declarará a sua ausência. A primeira conseqüên-
cia dessa declaração é a arrecadação dos bens do ausente e a nomeação de um curador para esses bens,
fixando seus poderes e obrigações.

Depois de transcorrido um ano da arrecadação dos bens da pessoa declarada judicialmente ausen-
te, os legalmente tidos por interessados (art. 27, CC) podem requerer ao juiz a abertura da sucessão, que,
inicialmente, terá caráter provisório. Também pode ser requerida a abertura de sucessão provisória da
pessoa desaparecida que possuía representante ou procurador, se o desaparecimento perdura por três
anos. Na sucessão provisória o ausente preserva a propriedade de sues bens, mas a posse é dada aos
seus presumíveis sucessores. O curador dos bens do ausente, assim como o representante e o procurador
do desaparecido, é dispensado de suas funções e a responsabilidade pela administração dos bens passa a
ser do titular do direito à posse provisória.

Durante a fase da sucessão provisória nenhum bem imóvel do ausente pode ser, como regra, alie-
nado ou hipotecado, para impedir a perda dos bens. Há duas exceções, contudo: o imóvel pode ser desa-
propriado (que é uma hipótese de alienação) ou pode alienado ou hipotecado, mediante autorização
judicial, para evitar sua ruína. Em relação aos bens móveis, quando sujeitos a deterioração ou a extravio,

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REGISTROS PÚBLICOS

o juiz pode ordenar sua venda e posterior emprego do valor obtido em investimento de perfil conserva-
dor, lembrando a lei de imóveis e títulos federais (art. 29, CC).

Depois de transcorridos dez anos da abertura da sucessão provisória da pessoa declara- da ausen-
te, os interessados podem requerer ao juiz que abra a definitiva, quando se presumirá a morte do desa-
parecido. A sucessão definitiva pode ser aberta independentemente de prévia abertura da provisória,
quando o desaparecido conta com 80 anos de idade e há pelo menos cinco anos sem notícias dele.

Se a pessoa declarada ausente retorna ao seu domicílio, variam os direitos que titulariza de acordo
com o momento do reaparecimento:
- Se retorna antes da abertura da sucessão provisória, conserva não só o direito à propriedade
de seus bens como a todos os frutos e rendimentos. Se depois da sucessão provisória, mas an-
tes de aberta a definitiva, mantém o direito à propriedade dos bens, mas não à totalidade dos
frutos e rendimentos desses.

- Se retorna após a sucessão definitiva, mas antes de transcorridos dez anos, tem apenas o di-
reito à restituição dos seus bens no estado em que se encontram. Regressando depois de dez
anos da sucessão definitiva, não tem mais direito aos seus bens.

3.12.3 MORTE PRESUMIDA


Presume-se a morte, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão
definitiva. A declaração de ausência produz efeitos patrimoniais, permitindo a abertura de sucessão pro-
visória e, depois, a definitiva (art. 7º, CC).

3.12.4 TUTELA
A tutela é instituto eminentemente assistencial que visa atender o interesse de menores desampa-
rados. Consiste na imputação legal de uma pessoa capaz para que cuide do menor e administre seus
bens.

Serão postos sob tutela, nos termos do art. 1.728, CC:


Art. 1.728. Os filhos menores são postos em tutela:
I - com o falecimento dos pais, ou sendo estes julgados ausentes;
II - em caso de os pais decaírem do poder familiar.

A tutela é espécie substitutiva para o poder familiar, e, assim, como ele incompatível. Desse modo,
havendo um dos pais no exercício do poder familiar inviável será a tutela. Esta desaparecerá, ainda, se
surgir novo poder familiar através da adoção ou reconhecimento de paternidade, por exemplo.

3.12.4.1 ESPÉCIES DE TUTELA


a) Tutela do menor abandonado (art. 1.734, CC): o juiz nomeará tutor ou determinará o reco-
lhimento do menor a estabelecimento adequado, mantendo-o sob responsabilidade do Estado.

b) Tutela de fato: é quando alguma pessoa passa, sem que haja qualquer determinação legal ou
judicial, a cuidar do menor e administrar seus bens. Saliente-se que os atos praticados por essa
espécie de tutor serão inválidos sendo ele considerado como mero gestor de negócios.

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REGISTROS PÚBLICOS

c) Tutela ad hoc: é quando uma pessoa é especialmente nomeada para exercer a tutela em re-
lação a apenas um ato, também conhecido como curador especial do menor. Nesse caso, não
haverá extinção do poder familiar como nos demais (ex.: quando os interesses do menor colidi-
rem com os dos pais).

d) Tutela dos índios: é modalidade de tutela estatal exercida pela União através da FUNAI, nos
termos da Lei 6.001/73.

e) Tutela testamentária: podem os detentores do poder familiar, ou um dos pais a falta do ou-
tro, determinar em testamento – por meio de escritura pública ou documento autêntico – a
pessoa que desejam ver desempenhando a tutela de seus filhos menores quando de sua falta.
De acordo com as recentes alterações introduzidas pela lei 12.010/09, o tutor nomeado por tes-
tamento ou qualquer documento autêntico deverá no prazo de trinta dias após a abertura da
sucessão ingressar com o pedido destinado ao controle judicial do ato.

f) Tutela legítima: é aquela que se opera por determinação legal quando não houver tutela tes-
tamentária. Será exercida na seguinte ordem:
Art. 1.731. Em falta de tutor nomeado pelos pais incumbe a tutela aos parentes consanguíneos
do menor, por esta ordem:
I - aos ascendentes, preferindo o de grau mais próximo ao mais remoto;
II - aos colaterais até o terceiro grau, preferindo os mais próximos aos mais remotos, e, no
mesmo grau, os mais velhos aos mais moços; em qualquer dos casos, o juiz escolherá entre e-
les o mais apto a exercer a tutela em benefício do menor.

Tal ordem não é, contudo, absoluta, podendo o juiz alterá-la em benefício do menor ou mesmo
nomear pessoa que não esteja ali compreendida.

g) Tutela dativa: é quando o juiz nomeia pessoa estranha para o exercício da tutela, pois, não há
testamento designando pessoa e os parentes consanguíneos determinados pela lei não são ap-
tos ao exercício ou não existem. É espécie subsidiária de tutela.

3.12.4.2 EXERCÍCIO DA TUTELA


Embora a tutela seja um múnus púbico obrigatório algumas pessoas estão impedidas de exercê-la,
conforme disposição do art. 1.735, CC, como segue:
Art. 1.735. Não podem ser tutores e serão exonerados da tutela, caso a exerçam:
I - aqueles que não tiverem a livre administração de seus bens;
II - aqueles que, no momento de lhes ser deferida a tutela, se acharem constituídos em obriga-
ção para com o menor, ou tiverem que fazer valer direitos contra este, e aqueles cujos pais, fi-
lhos ou cônjuges tiverem demanda contra o menor;
III - os inimigos do menor, ou de seus pais, ou que tiverem sido por estes expressamente exclu-
ídos da tutela;
IV - os condenados por crime de furto, roubo, estelionato, falsidade, contra a família ou os cos-
tumes, tenham ou não cumprido pena;
V - as pessoas de mau procedimento, ou falhas em probidade, e as culpadas de abuso em tuto-
rias anteriores;
VI - aqueles que exercerem função pública incompatível com a boa administração da tutela.

Outras pessoas, em que pese obrigadas, poderão eventualmente escusar-se do exercício da tutela,
quando enquadrarem-se numa das situações do art. 1.736, CC, que vai abaixo transcrito:
Art. 1.736. Podem escusar-se da tutela:

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REGISTROS PÚBLICOS

I - mulheres casadas;
II - maiores de sessenta anos;
III - aqueles que tiverem sob sua autoridade mais de três filhos;
IV - os impossibilitados por enfermidade;
V - aqueles que habitarem longe do lugar onde se haja de exercer a tutela;
VI - aqueles que já exercerem tutela ou curatela;
VII - militares em serviço.

O exercício da tutela aproxima-se em quase tudo do poder familiar, mas ao contrário deste, encon-
tra limitações e está sujeito a inspeção judicial.

É obrigação do tutor apresentar balanços anuais de sua administração e prestar contas em juízo de
dois em dois anos. Tais contas depois de analisadas pelo promotor de justiça serão julgadas pelo juiz.

Assim, extinta a tutela pela emancipação ou pela maioridade, a quitação dada pelo tutelado só será
válida depois de julgadas boas as contas pelo juiz.

Destaque-se, que não cabe ao tutor, voluntariamente, emancipar o tutelado, tal só será possível ju-
dicialmente.

Do mesmo modo, a alienação dos bens imóveis do tutelado deverá ser precedida de avaliação e au-
torização judicial, comprovada manifesta vantagem para o menor.

Inovou, entretanto, o Código Civil ao autorizar o juiz a nomeação de um protutor para a fiscalização
das atividades do tutor (art. 1.742). A esse protutor incumbirá mantê-lo informado sobre qualquer mal-
versação dos bens pertencentes ao tutelado.

Cessará a tutela quando ocorrer alguma das circunstâncias previstas nos arts. 1.763 e 1.764, CC:
Art. 1.763. Cessa a condição de tutelado:
I - com a maioridade ou a emancipação do menor;
II - ao cair o menor sob o poder familiar, no caso de reconhecimento ou adoção.

Art. 1.764. Cessam as funções do tutor:


I - ao expirar o termo, em que era obrigado a servir;
II - ao sobrevir escusa legítima;
III - ao ser removido.

3.12.5 CURATELA
A curatela é instituto eminentemente assistencial que visa atender o interesse de incapazes, de re-
gra maiores de idade. Consiste na imputação legal de uma pessoa capaz para que cuide do incapaz e lhe
administre os bens.

Serão postos sob curatela, nos termos do art. 1.767, CC:


Art. 1.767. Estão sujeitos a curatela:
I - aqueles que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade;
III - os ébrios habituais e os viciados em tóxico;
V - os pródigos.

A curatela tem caráter supletivo da capacidade e será temporária, devendo perdurar pelo tempo
em que durar a incapacidade do curatelado.

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REGISTROS PÚBLICOS

Esta só poderá ser decretada mediante processo de interdição, no qual deverá restar cabalmente
comprovada a incapacidade do agente (art. 747 e ss, CPC).

A curatela pode ser de duas espécies, ordinária ou especial. Será ordinária quando se fundar no
art. 1.767, CC, e especial quando se fundar no art. 1.779, CC. O art. 1.782, CC, esclarece a especial cir-
cunstância de que a curatela pode ser parcial.

Poderão pleitear a interdição (art. 747, CPC): o cônjuge ou companheiro (I), os parentes ou tutores
(II), o representante da entidade em que se encontra abrigado o interditando (III) ou o Ministério Público
(IV).

O curador será nomeado dentre as pessoas mencionadas no art. 1.775 sendo chamado de curador
dativo no caso do § 3º e de curador legítimo nos demais:
Art. 1.775. O cônjuge ou companheiro, não separado judicialmente ou de fato, é, de direito,
curador do outro, quando interdito.
§1º Na falta do cônjuge ou companheiro, é curador legítimo o pai ou a mãe; na falta destes, o
descendente que se demonstrar mais apto.
§ 2º Entre os descendentes, os mais próximos precedem aos mais remotos.
§ 3º Na falta das pessoas mencionadas neste artigo, compete ao juiz a escolha do curador.

No mais, por expressa determinação do art. 1.781, CC, as regras atinentes ao exercício da tutela a-
plicam-se ao da curatela.

3.13 INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE E NEGATÓRIA DE PATERNIDADE


3.13.1 INVESTIGATÓRIA DE PATERNIDADE
O reconhecimento forçado da paternidade ocorre através de ação judicial de investigação de pa-
ternidade ou maternidade, a qual tem natureza declaratória e imprescritível, pois trata de direito perso-
nalíssimo e indisponível.

Os efeitos dessa sentença são os mesmo do reconhecimento voluntário e retroagem à data do nas-
cimento, ou seja, tem efeitos ex tunc, conforme o art. 1.616, CC.

Importante referir que, embora a ação de investigação de paternidade ou maternidade seja im-
prescritível, os efeitos patrimoniais são prescritíveis, segundo entendimento sumulado pelo Supremo
Tribunal Federal:
Súmula 149. É imprescritível a ação de investigação de paternidade, mas não o é a de petição
de herança.

Com isso, entende-se que a primeira é pressuposto para a segunda, mas na prática o que, muitas
vezes ocorre é a cumulação de ambas.

A legitimidade ativa para a ação de investigação de paternidade ou maternidade é privativa do fi-


lho, já a legitimidade passiva recairá sobre o pai ou a mãe, ou a seus herdeiros no caso de falecimento.
Por fim, importante destacar que o espólio não tem legitimidade, não tem personalidade jurídica, sendo
incorreto propor ação contra ele.

3.13.2 NEGATÓRIA DE PATERNIDADE

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REGISTROS PÚBLICOS

A presunção de paternidade não é juris et de jure ou absoluta, mas juris tantum ou relativa, no que
concerne ao pai, que pode afastá-la, provando o contrário, através de uma ação negatória de paternida-
de, a qual é pessoal do marido, pois só ele tem legitimatio ad causam para propô-la (art. 1.601, CC) a
qualquer tempo; mas se, porventura, falecer na pendência da lide, a seus herdeiros será lícito continuá-la
(art. 1.601, par. único, CC). Todavia, o marido não pode contestar a paternidade sem que haja um motivo
relevante, para tanto, terá de mover ação judicial, provando uma das circunstâncias taxativamente enu-
meradas em lei (arts. 1.597, V, 1.599, 1.600 e 1.602 e CC):
a) que houve adultério, tendo em vista que nos primeiros 121 dias ou mais dos 300 que prece-
deram ao nascimento do filho, ele se encontrava impossibilitado de coabitar com a mulher;

b) que não havia possibilidade de inseminação artificial homóloga, nem de fertilização in vitro,
visto que não doou sêmen para isso (art. 1.597, III e IV, CC), ou heteróloga, já que não havia da-
do autorização ou que ela se dera por vício de consentimento (art. 1.597, V, CC);

c) que se encontra acometido de doença grave, que impede as relações sexuais (art. 1.599,
CC).

A mãe, por sua vez, somente poderá contestar a maternidade constante do termo de nascimento
do filho se provar a falsidade desse termo ou das declarações nele contidas (art. 1.608, CC).

Na ação de contestação de paternidade ou de maternidade não se pretende descaracterizar a legi-


timidade da prole, porque não há mais tal discriminação, mas sim impugnar o vínculo de paternidade ou
de maternidade, ou melhor, de filiação.

3.14 SUBSTITUIÇÃO E DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR E GUARDA. ADO-


ÇÃO
3.14.1 DESTITUIÇÃO E SUBSTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR
Extingue-se (art. 1.635, CC) ipso jure o poder familiar:
Art. 1.635. (...)
I - pela morte dos pais ou do filho;
o
II - pela emancipação, nos termos do art. 5 , parágrafo único;;
III - pela maioridade;
IV - pela adoção;
V - por decisão judicial, na forma do artigo 1.638.

Vale referir que o Código Penal também prevê a perda do poder familiar como efeito da condena-
ção penal nos crimes dolosos praticados contra filho, sujeitos à pena de reclusão (art. 92, II, CP). Em regra
a perda do poder familiar é permanente, o que não significa que será definitiva, pois poderá ser recupe-
rado através de ação judicial, desde que comprovem a cessação das causas que a determinaram. Alcança
toda a prole, tendo em vista que as causas que ensejam a perda do poder familiar caracterizam a incapa-
cidade para o seu exercício.

Suspende-se (art. 1.637, CC) o poder familiar por:


Art. 1.637. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos deveres a eles ineren-
tes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz, requerendo algum parente, ou o Ministério
Público, adotar a medida que lhe pareça reclamada pela segurança do menor e seus haveres,
até suspendendo o poder familiar, quando convenha.

39
REGISTROS PÚBLICOS

A suspensão, diferentemente da extinção do poder familiar, não visa punir os pais, mas proteger o
menor. É uma norma genérica onde se examina se a atitude dos pais, ou de um deles, é prejudicial ao
desenvolvimento do menor. É temporária e subsiste somente até quando se mostre necessária. Desapa-
recendo a causa, o pai ou a mãe poderá recuperar o poder familiar. Pode referir-se a um só filho, alguns
ou a toda prole, porém, se fundamentada na condenação por sentença irrecorrível, atingirá a todos os
filhos, obrigatoriamente. Assim, conclui-se que competirá ao juiz, respeitados o contraditório e a ampla
defesa, a pedido de algum parente do menor ou do Ministério Público, adotar a medida da suspensão do
poder familiar, ocorrendo uma das causas legais que a justifique, até quando julgar conveniente para a
segurança do menor e à preservação de seus bens.

Importantes dispositivos do ECA:


Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade de condições, pelo pai e pela mãe, na
forma do que dispuser a legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em caso de
discordância, recorrer à autoridade judiciária competente para a solução da divergência.

Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores, caben-
do-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as determinações
judiciais.
Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm direitos iguais e deveres e responsabi-
lidades compartilhados no cuidado e na educação da criança, devendo ser resguardado o direi-
to de transmissão familiar de suas crenças e culturas, assegurados os direitos da criança esta-
belecidos nesta Lei.

Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda
ou a suspensão do poder familiar.
o
§ 1 Não existindo outro motivo que por si só autorize a decretação da medida, a criança ou o
adolescente será mantido em sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluí-
da em serviços e programas oficiais de proteção, apoio e promoção.
§ 2º A condenação criminal do pai ou da mãe não implicará a destituição do poder familiar, ex-
ceto na hipótese de condenação por crime doloso sujeito à pena de reclusão contra outrem i-
gualmente titular do mesmo poder familiar ou contra filho, filha ou outro descendente.

Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão decretadas judicialmente, em procedi-
mento contraditório, nos casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de descum-
primento injustificado dos deveres e obrigações a que alude o art. 22.

Havendo motivo grave, o Estatuto da Criança e do Adolescente autoriza a suspensão liminar ou in-
cidental do poder familiar, ficando o menor confiado à guarda de pessoa idônea, mediante termo de res-
ponsabilidade (art. 157). A sentença que decretar a perda ou suspensão do poder familiar deverá ser
averbada à margem do registro de nascimento da criança ou do adolescente (art. 163, ECA).

A Lei 12.010/09, que trouxe inúmeras e importantes modificações no Estatuto da Criança e do Ado-
lescente alterando a disciplina da adoção também no Código Civil, deu nova redação ao art. 1.734 do
diploma civil para determinar que:
Art. 1.734. As crianças e os adolescentes cujos pais forem desconhecidos, falecidos ou que ti-
verem sido suspensos ou destituídos do poder familiar terão tutores nomeados pelo Juiz ou se-
o
rão incluídos em programa de colocação familiar, na forma prevista pela Lei n 8.069, de 13 de
julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente.

3.14.2 DA ADOÇÃO
A adoção é uma modalidade artificial de filiação pela qual se aceita como filho, de forma voluntária
e legal, um estranho no seio familiar. O vínculo criado pela adoção visa a imitar a filiação natural, ou seja,

40
REGISTROS PÚBLICOS

aquela oriunda de sangue, genética ou biológica, razão pela qual, também é conhecida como filiação civil.

A Constituição Federal de 1988, em seu art. 6º, ao cuidar dos Direitos Sociais, faz referência à ma-
ternidade e à infância como direitos fundamentais de uma pessoa em desenvolvimento. Porém, é no art.
227, §§ 5º e 6º, que os princípios basilares assecuratórios à criança e ao adolescente no que tange a ado-
ção são especificados. Tais princípios referem- se, entre outros, a fiscalização pelo Poder Público das con-
dições para a efetivação da colocação da criança ou adolescente em família substituta na modalidade da
adoção. O legislador constitucional, também em consonância com a tendência universal, proíbe quais-
quer espécies de discriminações face à filiação adotiva, no que diz respeito aos direitos alimentícios, su-
cessórios, ao nome, etc., salvo, os impedimentos matrimoniais.

O vínculo existente entre pais e filhos adotivos é de natureza civil, pois a relação que os une é de-
terminada e regulada por lei: o Estatuto da Criança e do Adolescente que passa a disciplinar com exclusi-
vidade a adoção da criança e do adolescente nos arts. 39 a 52 e o nos arts. 1.618 a 1.619, CC. Anote-se a
quase total revogação dos artigos destinados à regulação da adoção no Código Civil pela edição da Lei
12.010/09 e nova redação que deu aos mencionados arts. 1.618 e 1.619 para remeter ao ECA tanto a
adoção de crianças e adolescentes como os maiores de 18 anos hipótese em que o estatuto deve ser
aplicado “no que couber”.

A nova lei revoga expressamente todos os artigos sobre a adoção no CC/02, dando nova redação
aos arts. 1.618 e 1.619, justamente para remeter ao ECA toda a adoção de crianças e adolescentes e para
reiterar a ordem de que a adoção dos maiores de 18 anos depende da assistência efetiva do poder públi-
co somente sendo constituída por sentença e, portanto, em processo judicial.

Importante frisar que ficam mantidos no ECA (Lei 8.069/90) os seguintes requisitos:
a) idade mínima de dezoito anos para o adotante (art. 42, ECA);
b) diferença de 16 anos entre adotante e adotado (art. 42, §3º, ECA);
c) consentimento dos pais ou representantes legais de quem se deseja adotar - requisito dis-
pensado quando os pais forem desconhecidos ou tenham sido destituídos do poder familiar
(art. 45, §1º, ECA);
d) concordância do adotando quando maior de 12 anos (art. 45, § 2º c/c art. 28, ECA);
e) efetivo benefício para o adotando e motivos legítimos (art. 43, ECA).

3.14.2.1 EFEITOS DA ADOÇÃO


Os efeitos da adoção podem ser de duas ordens:
a) pessoal, que diz respeito ao parentesco, ao poder familiar e ao nome;
b) patrimonial, que se refere aos alimentos e ao direito sucessório.

A adoção gera o chamado parentesco civil entre o adotante e o adotado, todavia, essa relação, por
força de norma constitucional (art. 227, § 6º, CF) em tudo se equipara ao parentesco natural (consanguí-
neo). Ademais, o ECA também refere, em seu art. 41, que a adoção atribui a condição de filho ao adota-
do, com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o de qualquer vínculo com pais e
parentes, salvo os impedimentos matrimoniais. Na adoção o adotado se sujeita ao poder familiar dos pais
adotivos, tendo em vista o rompimento dos vínculos consanguíneos. No que diz respeito ao nome do
adotando, o ECA, em seu art. 47, § 5º, refere que o sobrenome dele deverá ser o mesmo do adotante,
todavia faculta a modificação do prenome, a pedido de qualquer deles, consoante pequena alteração de
redação dada pela Lei 12.010/09. A nova lei também modificou a redação do § 6º do mesmo artigo para

41
REGISTROS PÚBLICOS

dispor que é obrigatória a ouvida do adotando no caso da modificação de prenome ser requerida pelo
adotante obedecendo-se os novos comandos do art. 28, §§ 1º e 2º, do Estatuto, quais sejam, que estas
ouvidas se façam com auxílio de equipe interprofissional.

No que tange aos alimentos, importante referir que são reciprocamente devidos entre adotante e
adotado. Quanto ao direito sucessório, cabe destacar que o filho adotivo concorre em igualdade de con-
dições com os filhos de sangue.

Por força do artigo 47, § 7º, ECA, os efeitos acima expostos começam a partir do trânsito em julga-
do da sentença, exceto se o adotante falecer no curso do procedimento, caso em que a sentença terá
eficácia retroativa à data do óbito (post mortem).

Ainda considerando as várias novidades trazidas pela Lei 12.010/09 faz-se a seguinte síntese:
a) assegura ao adotando conhecer sua origem biológica (art. 48);
b) introduz o termo “família extensa” referindo-se aos parentes próximos, além da unidade pais
e filhos, com os quais o adotando menor convive e mantém laços de afinidade e afetividade.

3.15 ANOTAÇÕES
Os registros ou averbações feitos pelo oficial, no prazo de 05 dias, deverão ser anotados nos atos
anteriores, com remissões recíprocas, se lançados em seu cartório, ou feitas às comunicações, contendo
o resumo do assento, pelo oficial em cujo cartório estiverem os registros primitivos. (art. 106, LRP).

Dessa forma, se os atos anteriores estiverem registrados ou averbados em outro cartório, caberá
ao oficial que lavrou o ato posterior comunicá-lo por carta ao oficial da serventia em que foram lavrados
os atos cronologicamente considerados primitivos, para que proceda as anotações.

Swensson (2005, p. 217) diz que:


“a alteração pode ser em relação à situação da pessoa mencionada no registro (casamento, ó-
bito, emancipação, interdição, declaração de ausência, adoção de criança ou adolescente), ou,
então, circunstância relevante que traga modificações em relação ao ato ou fato registrado (a-
nulação ou nulidade de casamento, separação judicial, restabelecimento da sociedade conju-
gal, escrituras de adoção dos maiores de 18 anos, alterações e abreviaturas de nomes).”

O óbito deverá ser anotado, com as remissões recíprocas, nos assentos de casamento e nascimen-
to, e o casamento no de nascimento. A dissolução e a anulação do casamento, bem como o restabeleci-
mento da sociedade conjugal serão anotados nos assentos de nascimento dos cônjuges, (art. 107, § 2º,
LRP). A emancipação, a interdição e a ausência serão anotadas pela mesma forma, nos assentos de nas-
cimento e casamento, bem como a mudança do nome da mulher, em virtude de casamento, ou sua dis-
solução, anulação ou desquite (art. 107, §1º, LRP).

3.16 RETIFICAÇÕES, RESTAURAÇÕES E SUPRIMENTOS


- Retificação: é a correção das informações constantes de um registro ou averbação, para que
os mesmos possam representar a máxima expressão da verdade, correspondendo à estrita rea-
lidade dos fatos.

- Restauração: é a reconstituição de registros por ventura estraviados, dilacerado, danificados


ou inutilizados, para que seja restabelecida a situação dos fatos ao estado anterior.

42
REGISTROS PÚBLICOS

-Suprimento: é a inserção ou acréscimo de informações que se encontravam ausentes à aver-


bação ou registro.

A pessoa que pretender a retificação, restauração ou suprimento, o requererá em petição funda-


mentada e instruída com documentos e indicação de testemunhas, pra que o juiz o ordene, ouvindo o
Ministério Público ou interessados, no prazo de 05 dias e, caso ocorra impugnação, o juiz determinará a
produção de prova, dentro do prazo de 10 dias ouvindo, sucessivamente, em 03 dias, os interessados e o
órgão do Ministério Público. Da decisão proferida pelo magistrado caberá recurso de apelação nos efeitos
devolutivo ou suspensivo. (art. 109, LRP).

Os erros de grafia poderão ser corrigidos, processando-se no próprio cartório onde se encontrar o
assentamento, mediante petição assinada pelo interessado, ou seu procurador, sem pagamento de cus-
tas ou taxas, sendo em seguida submetida ao Ministério Público e posteriormente conclusos ao juiz toga-
do.

O Juiz de Direito, ao receber a petição devidamente instruída, despachará em 48 horas, e se defe-


rido, será averbado pelo oficial da serventia a retificação junto à margem do registro, mencionando nú-
mero do protocolo, data da sentença e seu trânsito em julgado.

3.17 TRANSLADOS DE ASSENTOS LAVRADOS NO EXTERIOR. OPÇÃO DE NA-


CIONALIDADE. PAPEL DE SEGURANÇA
A Lei 6.015/73 diz que os assentos de nascimento, óbito e de casamento de brasileiros em país es-
trangeiro serão considerados autênticos, nos termos da lei do lugar em que forem feitos, legalizadas as
certidões pelos cônsules ou quando por estes tomados, nos termos do regulamento consular (art. 32).

Os assentos serão, porém, transladados nos cartórios de 1º Ofício do domicílio do registrado ou no


1º Ofício do Distrito Federal, em falta de domicílio conhecido, quando tiverem de produzir efeito no País,
ou, antes, por meio de segunda via que os cônsules serão obrigados a re- meter por intermédio do Minis-
tério das Relações Exteriores.

O filho de brasileiro ou brasileira, nascido no estrangeiro, e cujos pais não estejam ali a serviço do
Brasil, desde que registrado em consulado brasileiro ou não registrado, venha a residir no território na-
cional antes de atingir a maioridade, poderá requerer, no juízo de seu domicílio, se registre, no livro "E"
do 1º Ofício do Registro Civil, o termo de nascimento.

Do termo e das respectivas certidões do nascimento registrado na forma do parágrafo antecedente


constará que só valerão como prova de nacionalidade brasileira, até quatro anos depois de atingida a
maioridade.

Dentro do prazo de quatro anos, depois de atingida a maioridade pelo interessado deverá ele ma-
nifestar a sua opção pela nacionalidade brasileira perante o juízo federal. Deferido o pedido, proceder-se-
á ao registro no livro "E" do Cartório do 1º Ofício do domicílio do optante. Se não houve manifestação, o
oficial cancelará, de ofício, o registro provisório efetuado.

3.18 GRATUIDADE NO SERVIÇO DE REGISTRO CIVIL. FUNDO DE RESSARCI-


MENTO DOS ATOS GRATUITOS
A Lei de Registros Públicos estabelece condições de isenção de emolumentos para os atos mais im-

43
REGISTROS PÚBLICOS

portantes da vida de um ser humano, a saber: custas e emolumentos pelo registro civil de nascimento e
de óbito, bem como a primeira certidão respectiva.

Outra hipótese de isenção está inserida pelo § 1º do art. 226, CF, e no art. 1.512, CC:
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.
§ 1º O casamento é civil e gratuita a celebração.

Art. 1.512. O casamento é civil e gratuita a sua celebração.


Parágrafo único. A habilitação para o casamento, o registro e a primeira certidão serão isentos
de selos, emolumentos e custas, para as pessoas cuja pobreza for declarada, sob as penas da
lei.

Quanto às demais certidões extraídas do cartório de registro civil, as custas e emolumentos são i-
sentos aos comprovadamente pobres, em conformidade ao que determina a Lei 1.060/50, onde o pró-
prio interessado poderá se declarar nesta condição. Entretanto, vale lembrar que a falsidade da declara-
ção ensejará a responsabilidade civil e criminal do declarante.

Considera-se necessitado, para os fins legais, todo aquele cuja situação econômica não lhe permita
pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo do sustento próprio ou da família
(Lei 1.060/50).

TABELIONATO DE NOTAS

4.1 ATA NOTARIAL


Ata notarial é um instrumento público solicitado ao tabelião de notas a pedido de um indivíduo
com interesse legítimo, o qual tem o objetivo de constatar a verdade de um fato que o notário presen-
ciou, como de que as assinaturas do depositante e as de dois representantes, devidamente qualificados
foram lançadas na presença do notário. Quanto à autenticação de cópias, trata-se de dar veracidade a
uma cópia de um documento original, atribuindo, assim, a ela a fé pública, por meio de cópia autentica-
da.

Assim relatamos todas as funções dispostas na lei e exercidas dentro de um tabelionato de notas
por seus profissionais competentes. Mas vale lembrar que o parágrafo único do art. 7º da Lei 8.935/94
menciona que é facultado aos tabeliães de notas realizar todas as gestões e diligências necessárias ou
convenientes ao preparo dos atos notariais, requerendo o que couber, sem ônus maiores que os emolu-
mentos devidos.

O art. 8º da Lei nos traz que, “é livre a escolha do tabelião de notas, qualquer que seja o domicilio
das partes ou o lugar de situação dos bens objeto do ato ou negócio”, assim demonstrando que as partes
não estão obrigadas a escolher nenhum tabelionato determinado, seja em função de onde moram ou do
local do negocio que será realizado, mas sim que é livre nesta escolha.

Já o art. 9º, nos traz que, “o tabelião de notas não poderá praticar atos de seu oficio fora do muni-
cípio para o qual recebeu delegação”.

44
REGISTROS PÚBLICOS

As partes possuem liberdade de escolha de tabelionatos de acordo com suas necessidade, já o ta-
belião de notas possui competência restrita à sua área de delegação.

4.2 ATOS NOTARIAIS


De livre escolha das partes, independentemente de seu domicílio ou do lugar de situação dos bens
objeto do ato ou negócio jurídico, deve o tabelião praticar atos somente dentro da base geográfica para a
qual recebeu delegação conforme arts. 8º e 9º da Lei 8.935/94.

O tabelião de notas lavra escrituras, procurações, testamentos públicos, aprova testamentos cer-
rados, autentica cópias e reconhece firmas.

Os requisitos genéricos para os atos notariais são:


a) dia, mês e ano, local da lavratura (na sede da serventia ou fora dela, neste caso com endere-
ço perfeitamente caracterizado), e, se solicitado pela parte, indicação do horário de início e fim
do lançamento;

b) nome e qualificação das pessoas naturais comparecentes ao ato – nacionalidade, profissão,


domicílio, residência, estado civil (referindo o cônjuge se casado), regime de bens (legal ou es-
tabelecido por pacto antenupcial, este a ser completamente caracterizado, incluindo numero
do registro e cartório imobiliário onde, se for o caso, haja bem dos nubentes), número do do-
cumento de identidade, repartição expedidora e número de inscrição no CPF;

c) nome da pessoa jurídica, mediante comprovação documental, registro na Junta Comercial


ou no registro civil de pessoas jurídicas, a disposição estatutária ou contratual autorizadora do
comparecimento, qualificando o representante legal, com a indicação do modo de sua escolha;

d) para representação por procurador, mediante comprovação documental. Por instrumento


público: data, livro e folha do serviço onde lavrado, e data do traslado ou certidão; por instru-
mento particular: com firma reconhecida, os elementos constantes dele;

e) em cumprimento de alvará judicial, entregue no ato, com identificação plena do juízo e da


data da emissão, com prazo de validade;

f) indicação do objeto do ato ou do negócio jurídico referido, pormenorizando a declaração das


partes (por exemplo: pagamento à vista ou a prazo, em dinheiro ou em cheque, cumprindo
compromisso anteriores ou não, com quitação plena ou parcial).

Após cumpridas estas formalidades, o ato será lido em voz alta para os presentes, assim sendo cer-
tificado. Ao final, são lançados o montante dos emolumentos devidos e o termo de encerramento, segui-
do pela assinatura dos presentes, sendo esta de próprio punho (no caso de analfabetos será dado com a
impressão digital do polegar direito).

Importa ressaltar que a assinatura ou a impressão digital das partes é de fundamental importância,
pois na sua falta o fato será considerado sem efeito.

a) Escrituras Públicas
A escritura pública, não dispondo a lei em contrário, é essencial à validade dos negócios jurídicos
que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis confor-

45
REGISTROS PÚBLICOS

me art. 108, CC:


Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negó-
cios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais
sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País.

A primeira exceção à regra está no próprio art. 108, que exige a escritura pública quando os direi-
tos tiverem "valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País"; portanto, sendo o valor
igual ou inferior ao apontado, prescinde-se da exigência do instrumento público.

Podemos citar outras exceções:


1. Decreto-lei 58/37 - art. 11 (compromissos de compra e venda de imóvel loteado)
Art. 11. Do compromisso de compra e venda a que se refere esta lei, contratado por instru-
mento público ou particular, constarão sempre as seguintes especificações:
a) nome, nacionalidade, estado e domicílio dos contratantes;
b) denominação e situação da propriedade, número e data da inscrição;
c) descrição do lote ou dos lotes que forem objeto do compromisso, confrontações, áreas e
outros característicos, bem como os números correspondentes na planta arquivada;
d) prazo, preço e forma de pagamento, e importância do sinal;
e) juros devidos sôbre o débito em aberto e sôbre as prestações vencidas e não pagas;
f) cláusula penal não superior a 10 % do débito, e só exigível no caso de intervenção judicial;
g) declaração da existência ou inexistência de servidão ativa ou passiva e outros onus reais ou
quaisquer outras restrições ao direito de propriedade;
h) indicação do contratante a quem incumbe o pagamento das taxas e impostos.

2. Lei 4.380/64 - § 5º do art. 61 (imóveis adquiridos pelo Sistema Financeiro da Habitação)


Art. 61. Para plena consecução do disposto no artigo anterior, as escrituras deverão consignar
exclusivamente as cláusulas, têrmos ou condições variáveis ou específicas. (...)
§ 5º Os contratos de que forem parte o Banco Nacional de Habitação ou entidades que inte-
grem o Sistema Financeiro da Habitação, bem como as operações efetuadas por determinação
da presente Lei, poderão ser celebrados por instrumento particular, os quais poderão ser im-
pressos, não se aplicando aos mesmos as disposições do art. 134, II, do Código Civil, atribuindo-
se o caráter de escritura pública, para todos os fins de direito, aos contratos particulares firma-
dos pelas entidades acima citados até a data da publicação desta Lei.

3. Lei 6.766/79 - art. 26 (compromissos de compra e venda, cessões e promessas de cessão de


imóveis loteados)
Art. 26. Os compromissos de compra e venda, as cessões ou promessas de cessão poderão ser
feitos por escritura pública ou por instrumento particular, de acordo com o modelo depositado
na forma do inciso VI do art. 18 e conterão, pelo menos, as seguintes indicações:
I - nome, registro civil, cadastro fiscal no Ministério da Fazenda, nacionalidade, estado civil e
residência dos contratantes;
II - denominação e situação do loteamento, número e data da inscrição;
III - descrição do lote ou dos lotes que forem objeto de compromissos, confrontações, área e
outras características;
IV - preço, prazo, forma e local de pagamento bem como a importância do sinal;
V - taxa de juros incidentes sobre o débito em aberto e sobre as prestações vencidas e não pa-
gas, bem como a cláusula penal, nunca excedente a 10% (dez por cento) do débito e só exigível
nos casos de intervenção judicial ou de mora superior a 3 (três) meses;
VI - indicação sobre a quem incumbe o pagamento dos impostos e taxas incidentes sobre o lote
compromissado;

46
REGISTROS PÚBLICOS

VII - declaração das restrições urbanísticas convencionais do loteamento, supletivas da legisla-


ção pertinente.

4. Lei 9.514/97 - art. 38 (aquisição de imóveis com financiamento e alienação fiduciária)


Art. 38. Os atos e contratos referidos nesta Lei ou resultantes da sua aplicação, mesmo aqueles
que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imó-
veis, poderão ser celebrados por escritura pública ou por instrumento particular com efeitos de
escritura pública.

No entanto, exige a lei a escritura pública em outras hipóteses dentre eles:


- pacto antenupcial (art. 1.653, CC) sob pena de nulidade;
- cessão de direitos hereditários (art. 1.793, CC);
- aquisição de imóvel rural por estrangeiro (art. 8º, Lei 5.709/71), sob pena de nulidade (art. 15,
Lei 5.709/71);
- atos de interesse de analfabeto (arts. 215, § 2º; 221 e 654, CC), só pode contratar por instru-
mento particular aquele que assina;
- testamento, para o cego (art. 1.867, CC).

Se algum dos contratantes for se fazer representar por mandatário, deve o mandato se sujeitar à
forma exigida por lei para o ato a ser praticado, ou seja, exigida escritura pública para o ato a outorga do
mandato deve ser por instrumento público.

b) Procurações
É sabido que a procuração é o instrumento do contrato de mandato. O mandado pode ser instru-
mentado por escrito particular, mas, em determinados casos, só pode ser formalizado por escritura pú-
blica, como, por exemplo, quando o mandante é analfabeto, quando o man- dante é menor, incapaz,
representado ou assistido por seu representante legal, de seu tutor, do curador.

c) Testamentos
No que diz respeito a lavrar testamentos públicos, o art. 1864, I, do Código Civil, vem re- latando
que: “são requisitos essenciais do testamento público: I - ser escrito por tabelião ou por seu substituto
legal em seu livro de notas, de acordo com as declarações do testador, podendo este servir-se de minuta,
notas ou apontamentos”.

O tabelião, sendo um agente do Poder Público, pode ser autorizado pelo testador a comunicar a
existência da disposição favorável a entidade beneficente, ou sua revogação, ao representante legal des-
ta, respeitando o dever do sigilo quanto ao conteúdo da declaração feita.

De acordo com o art. 1868 do Código Civil, o testamento cerrado é aquele escrito ou assinado pelo
testador, ou por outra pessoa, a seu rogo. Para ser aprovado pelo tabelião, é necessário observar as se-
guintes formalidades: o testador entrega o testamento ao tabelião, em presença de duas testemunhas,
declarando ser aquele seu testamento e que quer que seja a- provado; o tabelião lavra o auto de aprova-
ção, que é lido, em seguida, ao testador e testemunhas, e assinado por todos.

O tabelião deverá começar o auto de aprovação logo após a última palavra do testador, declaran-
do, sob sua fé, que o testamento lhe foi entregue pelo testador para ser aprovado na presença das tes-
temunhas, passando, assim, a cerrar e coser o instrumento aprovado (art. 1.869, CC)

47
REGISTROS PÚBLICOS

Depois de aprovado e cerrado o testamento, será entregue ao testador, o tabelião lançará no livro
nota do lugar e data (dia, mês e ano) em que o testamento foi aprovado.

d) Escrituras de Separações, Divórcio e Inventários


A Lei 11.441/07 trouxe peculiaridades acerca de inventário, partilha, separação consensual e divór-
cio consensual por via administrativa, a saber:

4.2.1 OS REQUISITOS DA LEI Nº 11.441/07


Requisitos do inventário extrajudicial
O art. 1º, Lei 11.441/07 modificou a redação do artigo 982, CPC/73 (art. 610, CPC/15), passando a
vigorar da seguinte forma:
Art. 610. Havendo testamento ou interessado incapaz, proceder-se-á ao inventário judicial.
o
§ 1 Se todos forem capazes e concordes, o inventário e a partilha poderão ser feitos por escri-
tura pública, a qual constituirá documento hábil para qualquer ato de registro, bem como para
levantamento de importância depositada em instituições financeiras.
o
§ 2 O tabelião somente lavrará a escritura pública se todas as partes interessadas estiverem
assistidas por advogado ou por defensor público, cuja qualificação e assinatura constarão do
ato notarial.

Conforme explicitado no artigo acima, os interessados deverão observar determinados requisitos


como: não haja testamento, que as partes estejam de comum acordo, inexistência de filhos menores e
incapazes.

Neste sentido, afirma,Theodoro Júnior :


“Sem qualquer participação do juiz, o inventário e a partilha serão efetuados por escritura pú-
blica, a qual constituirá título hábil para o registro imobiliário, independentemente de homolo-
gação judicial (art. 982, caput). Trata-se de sistema antigo no direito europeu e que, a partir da
Lei nº 11.441/2007, passou a vigorar também entre nós, gerando só benefícios para as partes e
para os serviços Judiciários. De fato, entre maiores e capazes que se acham em pleno acordo
quanto ao modo de partilhar o acervo hereditário, nada recomenda ou justifica o recurso ao
processo judicial e a submissão a seus custos, sua complexidade e sua inevitável demora. Por
outro lado, a retira- da do inventário da esfera judicial contribuiu para aliviar a justiça de uma
sobrecarga significativa de processos. A reforma do art. 982, portanto, só merece aplausos.”
(THEODORO JÚNIOR, 2010, p. 220).

Quanto à presença de advogado, é um requisito obrigatório, pois os interesses recíprocos das par-
tes devem ser protegidos. Como assevera Theodoro Júnior: “A inobservância dessa exigência legal viola
solenidade essencial do ato, acarretando sua nulidade, nos termos do art. 166, V, do Cód. Civil”2.

Com relação à gratuidade mencionada na lei, os art. 6º e 7º da Resolução 35/07 do Conselho Na-
cional de Justiça delineiam a possibilidade de sua obtenção:
Art. 6º A gratuidade prevista na Lei nº 11.441/07 compreende as escrituras de inventário, par-
tilha, separação e divórcio consensuais.

Art. 7º Para a obtenção da gratuidade de que trata a Lei nº 11.441/07, basta a simples declara-
ção dos interessados de que não possuem condições de arcar com os emolumentos, ainda que

2
THEODORO JÚNIOR, 2010, p. 370

48
REGISTROS PÚBLICOS

as partes estejam assistidas por advogado constituído.

A gratuidade prevista na Lei n. 11.441/2007, segundo a Resolução n. 35/CNJ, compreende as escri-


turas de inventário, partilha, separação e divórcio consensuais (art. 6º). Bastará que os interessados de-
clararem não possuir condições de arcar com os emolumentos (art. 7º). Essa gratuidade do ato notarial,
antes prevista de forma expressa apenas para a separação e divórcio, foi expressamente assegurada
também ao inventário e partilha pela Lei n. 11.965/09, que deu nova redação aos parágrafos do art. 982.

Os documentos necessários para lavratura da escritura pública estão delineados no art. 22 da Re-
solução 35/07 do Conselho Nacional de Justiça:
Art. 22. Na lavratura da escritura deverão ser apresentados os seguintes documentos: a) certi-
dão de óbito do autor da herança; b) documento de identidade oficial e CPF das partes e do au-
tor da herança; c) certidão comprobatória do vínculo de parentesco dos herdeiros; d) certidão
de casamento do cônjuge sobrevivente e dos herdeiros casados e pacto antenupcial, se hou-
ver; e) certidão de propriedade de bens imóveis e direitos a eles relativos; f) documentos ne-
cessários à comprovação da titularidade dos bens móveis e direitos, se houver; g) certidão ne-
gativa de tributos; e h) Certificado de Cadastro de Imóvel Rural - CCIR, se houver imóvel rural a
ser partilhado.

Já o art. 23 da mesma Resolução, menciona a exigência da apresentação de documentos de identi-


ficação originais das partes e cópia autenticada dos demais documentos, no ato da lavratura da escritura.

Requisitos da separação e divórcio extrajudicial


A Lei 11.441/07 introduziu o artigo 1.124-A no CPC/73 (art. 733, CPC/15), ficando com a seguinte
redação:
Art. 733. O divórcio consensual, a separação consensual e a extinção consensual de união está-
vel, não havendo nascituro ou filhos incapazes e observados os requisitos legais, poderão ser
realizados por escritura pública, da qual constarão as disposições de que trata o art. 731.
o
§ 1 A escritura não depende de homologação judicial e constitui título hábil para qualquer ato
de registro, bem como para levantamento de importância depositada em instituições financei-
ras.
o
§ 2 O tabelião somente lavrará a escritura se os interessados estiverem assistidos por advoga-
do ou por defensor público, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial.

A lei prevê, assim como no inventário, que para a realização de separação e divórcio consensuais,
por meio de escritura pública, faz-se necessário que os interessados sejam maiores e capazes.

Neste respeito, verbaliza Maria Berenice Dias:


“Com isso, demandas que envolvem somente maiores e capazes podem ser solvidas na via ad-
ministrativa sem a participação do juiz e do Ministério Público. Aliás, por inexistir conflito entre
3
as partes, esses procedimentos são chamados de jurisdição voluntária.”

O § 6º do art. 226, CF, dizia: “O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia sepa-
ração judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato por mais
de dois anos”.

Com a aprovação da emenda EC 66/10, ao dar nova redação ao § 6º do art. 226, CF, o texto passou

3
DIAS, 2007, p. 301

49
REGISTROS PÚBLICOS

a prever apenas que “o casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio”, suprimindo os pré-requisitos da
redação anterior.

Maria Berenice delineia sobre o assunto:


“Ao ser excluída a parte final do indigitado dispositivo constitucional, desapareceu toda e qual-
quer restrição para a concessão do divórcio, que cabe ser concedido sem prévia separação e
sem o implemento de prazos. A partir de agora a única ação dissolutória do casamento é o di-
vórcio que não mais exige a indicação da causa de pedir. Eventuais controvérsias referentes a
causa, culpa ou prazos deixam de integrar o objeto da demanda.” (DIAS, 2010, online).

A mesma autora afirma que instituto da separação foi extinto do ordenamento jurídico, como já
mencionado anteriormente, pela inserção EC 66/10:
“A verdade é uma só: a única forma de dissolução do casamento é o divórcio, eis que o instituto
da separação foi banido - e em boa hora - do sistema jurídico pátrio. Qualquer outra conclusão
transformaria a alteração em letra morta.
A nova ordem constitucional veio para atender ao anseio de todos e acabar com uma excres-
cência que só se manteve durante anos pela histórica resistência à adoção do divórcio. Mas,
passados mais de 30 anos nada, absolutamente nada, justifica manter uma dupla via para as-
segurar o direito à felicidade, que nem sempre está na manutenção coacta de um casamento já
roto.” (DIAS, 2010, online).

O Presidente do Instituto do Instituto Brasileiro de Direito de Família (Ibdfam) Rodrigo da Cunha


Pereira, também vê com bons olhos o fim da separação quando afirma:
“A separação era um atraso na vida daqueles que queriam se divorciar. Sem contar que ela a-
cabava fomentando uma discussão sem fim em relação à questão da culpa sobre o fim do rela-
cionamento, estimulando aquelas 0famosas brigas que todos conhecem. Na verdade, da forma
como ocorria, o sofrimento acabava sendo dobrado, porque havia a necessidade de fazer a
mesma coisa duas vezes.” (OLIVEIRA, 2010, online).

Pereira ainda justifica: “Ora, o verdadeiro sustento do laço conjugal não são as fórmulas jurídicas. O
que a garante a existência dos vínculos conjugais é o DESEJO”. (PEREIRA, 2010, online). Maria Berenice
menciona ainda a sensibilidade do legislador ao deixar nas mãos do casal a decisão de querer permane-
cer ou não junto, deixando assim o Estado de interferir em decisões íntimas e pessoais.

O legislador foi sensível à necessidade de desafogar a justiça e simplificar o fim do casamento. O


primeiro passo para limitar o intervencionismo do Estado nos vínculos afetivos foi a possibilidade de a
separação e o divórcio consensual serem levados a efeito na via administrativa por meio de escritura
pública perante tabelião (art. 733, CPC). Para isso, além de haver consenso entre os cônjuges, indispensá-
vel que não existam filhos menores ou incapazes. Ainda assim, os cônjuges precisam ser assistidos por
advogado ou defensor público. Nada justificava que a separação e o divórcio continuassem a exigir a par-
ticipação do Poder Judiciário. Principalmente quando o casamento termina de forma consensual, total-
mente dispensável que sua dissolução dependa da chancela do juiz com a audiência das partes. Afinal,
facilitar os procedimentos abrevia o sofrimento daqueles que desejam buscar em novos relacionamentos
a construção de uma nova família.

Vale frisar que grande parte dos estudiosos do Direito vê a referida aprovação como sendo um be-
nefício em todos os aspectos, já que trará uma maior celeridade para o Judiciário, como também auto-
nomia para as partes, uma vez que terão o direito de decidirem se desejam permanecer ou não casadas,
sem precisar de prazo ou de qualquer outro obstáculo para que isso aconteça.

50
REGISTROS PÚBLICOS

O art. 53. da Resolução 35/07 do CNJ, trazia os seguintes requisitos para comprovação do lapso
temporal:
Art. 53. A declaração dos cônjuges não basta para a comprovação do implemento do lapso de
dois anos de separação no divórcio direto. Deve o tabelião observar se o casamento foi realiza-
do há mais de dois anos e a prova documental da separação, se houver, podendo colher decla-
ração de testemunha, que consignará na própria escritura pública. Caso o notário se recuse a
lavrar a escritura, deverá formalizar a respectiva nota, desde que haja pedido das partes neste
sentido.

Observa-se que as testemunhas exigidas pelo notário no ato da confecção da escritura pública de
divórcio tinham o objetivo de fazer prova do lapso temporal cumprido, nos casos de divórcio direto. Com
a extinção dos prazos, o papel das testemunhas deixa de existir. Importante ressaltar que tal art. foi re-
vogado pela Resolução 120/10.

Ainda no que se refere o art. 733, CPC, deve estar incluso na escritura pública, disposições de que
trata o art. 731, CPC4.

A partilha em escritura pública de separação e divórcios consensuais seguirá as regras da partilha


em inventário extrajudicial, no que couber, conforme delineia o art. 39 da Resolução 35/07 do CNJ.

Quanto à assistência de advogado ou defensor e à gratuidade dos atos notariais, o procedimento


segue os mesmos parâmetros da ação de inventário.

O art. 33 da Resolução 35/07 do CNJ, delineia os documentos necessários para a lavratura de escri-
tura pública de separação e divórcio consensuais:
Art. 33. Para a lavratura da escritura pública de separação e de divórcio consensuais, deverão
ser apresentados: a) certidão de casamento; b) documento de identidade oficial e CPF/MF; c)
pacto antenupcial, se houver; d) certidão de nascimento ou outro documento de identidade o-
ficial dos filhos absolutamente capazes, se houver; e) certidão de propriedade de bens imóveis
e direitos a eles relativos; e f) documentos necessários à comprovação da titularidade dos bens
móveis e direitos, se houver.

Vale ressaltar que o art. 35 da citada Resolução menciona que:


Art. 35. Da escritura, deve constar declaração das partes, de que estão cientes das consequên-
cias da separação e do divórcio, firmes no propósito de pôr fim à sociedade conjugal ou ao vín-
culo matrimonial, respectivamente, sem hesitação, com recusa de reconciliação.

e) Reconhecimento de Firmas e Autenticações


Quanto ao reconhecimento de firma, trata-se de uma atividade com caráter burocrático e repetiti-
vo.

De acordo com o autor, Ceneviva (2002, p.55),


“O reconhecimento de firmas só será possível a contar de fichários que contenham pa- drões

4
Art. 731. A homologação do divórcio ou da separação consensuais, observados os requisitos legais, poderá ser requerida em
petição assinada por ambos os cônjuges, da qual constarão:
I - as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns;
II - as disposições relativas à pensão alimentícia entre os cônjuges;
III - o acordo relativo à guarda dos filhos incapazes e ao regime de visitas; e
IV - o valor da contribuição para criar e educar os filhos.

51
REGISTROS PÚBLICOS

das assinaturas a reconhecer , para poder indicar se a firma é autentica , quando não lan- çada
em presença do titular ou do substituto autorizado. Assim é porque o verbo e conhecer corres-
ponde a afirmar a coincidência gráfica , visível a olho nu , entre a assinatura no docu- mento
apresentado e aquela que foi previamente lançada nas fichas do serviço.”

De acordo com os autores Lair da Silva Loureiro Filho e Claudia Regina Magalhaes Loureiro (2004,
p. 176), o conteúdo da ficha-padrão destinada ao reconhecimento de firmas deve trazer estas informa-
ções:
a) nome do depositante, endereço, profissão, nacionalidade, estado civil, filiação e data do
nascimento;
b) indicação do número de inscrição no CIC, quando for o caso, e do documento de identidade,
com o respectivo número, data de emissão e repartição expedidora;
c) data do depósito da firma;
d) assinatura do depositante, aposta duas vezes;
e) rubrica e identificação do tabelião ou escrevente que verificou a regularidade do preenchi-
mento;
f) no caso de depositante cego ou portador de visão subnormal, certidão de que depositante
exibiu cédula de identidade, cujo número foi anotado.

f) Declaração de Reconhecimento de União Estável, União Homoafetiva e Correlatas


1. União Estável
União Estável é a união entre duas pessoas, configurada na convivência pública, contínua e dura-
doura com o objetivo de constituição de família. O Supremo Tribunal Federal atribuiu às uniões homoafe-
tivas os mesmos efeitos da união estável heteroafetiva.

Aplicam-se à união estável os deveres de lealdade, respeito, assistência, e de guarda, sustento e


educação dos filhos.

O casal pode formalizar a existência da união mediante escritura pública declaratória de união es-
tável. A escritura pode ser utilizada para fixar a data do início da união estável, o regime de bens entre os
conviventes, bem como para garantir direitos junto ao INSS, convênios médicos, odontológicos, clubes,
etc.

Quais são os requisitos da escritura de união estável?


A lei não exige prazo mínimo de duração da convivência para que se constitua a união estável e
também não exige que o casal viva na mesma casa ou tenha o mesmo domicílio, bastando o intuito de
constituir família.

O casal interessado em formalizar a união estável por escritura pública deve comparecer ao Cartó-
rio de Notas portando os documentos pessoais originais e declarar a data de início da união, bem como o
regime de bens aplicável à relação.

Não há necessidade de presença de testemunhas na escritura. A união estável não se constituirá se


houver impedimentos matrimoniais. Podem viver em união estável as pessoas casadas, desde que sepa-
radas de fato ou judicialmente.

2. União Estável Homoafetiva


É a união entre duas pessoas do mesmo sexo, configurada na convivência pública, contínua, dura-
doura e estabelecida com o objetivo de constituir família.

52
REGISTROS PÚBLICOS

A escritura de união estável homoafetiva é o documento público que possibilita a regulamentação


das relações civis e patrimoniais dos conviventes do mesmo sexo entre si e em relação aos respectivos
familiares.

g) Reconhecimento de Filhos
Reconhecimento de filho é o ato pelo qual o pai (ou mãe) assume que determinada pessoa é seu fi-
lho biológico. Não há limite de idade para que seja feito o reconhecimento do filho.

Poderá ser reconhecido o filho, mesmo depois de sua morte, desde que ele tenha deixado filhos,
netos ou qualquer descendente.

O reconhecimento de filho poderá ser feito em Cartório de Notas por escritura pública ou testa-
mento.

É necessário o comparecimento do pai, que deverá ser maior de 16 anos e deverá apresentar seus
documentos pessoais (RG e CPF) e a certidão de nascimento do filho.

O filho maior de idade não poderá ser reconhecido sem o seu consentimento, e o menor pode im-
pugnar o reconhecimento, nos quatro anos que se seguirem à maioridade, ou à emancipação (art. 1.614,
CC).

É possível acrescentar o sobrenome do pai ao nome do filho no ato do reconhecimento.

O reconhecimento de filho é ato irrevogável que independe de homologação judicial. A escritura


deve ser levada ao Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais onde foi registrado o nascimento do
filho para averbação.

Se o filho já é casado, será necessário averbar o nome de seu pai no registro de casamento, o que
deverá ser feito no cartório onde foi registrado o casamento.

Se o filho já tem filhos, será necessário averbar o nome do avô no registro de nascimento dos ne-
tos, o que deverá ser feito no cartório onde está registrado o nascimento dos netos.

h) Doações e Cessões
A Escritura Pública de Doação é o ato feito e assinado em Tabelionato de Notas por meio do qual
uma das partes doa determinado bem (móvel ou imóvel) para outra.

Atenção: Geralmente a doação é gratuita, mas também pode ser onerosa, ou seja, pode ser estipu-
lada uma contraprestação, como por exemplo, o compromisso de se construir uma escola no terreno
doado.

A escritura de doação deve ser agendada com o tabelião ou com um de seus escreventes, sendo
recomendável que a parte faça o agendamento pessoalmente para entregar a documentação que possui
e ser orientada sobre a necessidade de reunir outros documentos.

Na data marcada, as partes comparecerão ao tabelionato de notas, munidas de seus documentos


pessoais originais, para assinar a escritura. A assinatura da escritura será feita por todas as partes no
mesmo momento. Aquele que vai receber o bem em doação também precisa estar presente, para aceitar
o bem doado.

53
REGISTROS PÚBLICOS

Não é admitido que apenas uma das partes assine, deixando para que a outra parte assine posteri-
ormente.

A escritura pública é obrigatória para a transferência de bens imóveis de valor superior a 30 salá-
rios mínimos.

Atenção: Depois de lavrada a escritura de doação do imóvel, ela deve ser registrada no cartório de
Registro de Imóveis. Você pode solicitar que o próprio tabelionato providencie esse trâmite junto ao re-
gistro imobiliário. Somente depois do registro a propriedade fica de fato transferida à pessoa do donatá-
rio.

São necessários os seguintes documentos pessoais das partes e do bem envolvido:


Doadores Pessoa Física:
- Fotocópia do RG e CPF, inclusive dos cônjuges (e apresentação do original);
- Certidão de Casamento: se casado, separado, divorciado ou viúvo;
- Pacto antenupcial registrado, se houver;
- Certidão de óbito;
- Informar endereço;
- Informar profissão.

Doadores Pessoa Jurídica:


- Número do CNPJ para obtenção da certidão via internet;
- Fotocópia autenticada do contrato ou estatuto social, última alteração e alteração em que
conste modificação na diretoria;
- Certidão Conjunta de Débitos da Receita Federal (PGFN);
- Certidão Negativa de Débitos (CND) do INSS;
- RG, CPF, profissão e residência do diretor, sócio ou procurador que assinará a escritura;
- Certidão da junta comercial de que não há outras alterações.

Donatários:
- Fotocópia do RG e CPF, inclusive dos cônjuges (e apresentação do original);
- Certidão de Casamento: se casado, separado, divorciado ou viúvo;
- Pacto antenupcial registrado, se houver;
- Certidão de óbito;
- Informar endereço;
- Informar profissão.

O cônjuge deve ter CPF individual próprio. Se a doação for feita em favor de filho menor incapaz,
ele também deverá ter CPF próprio.

Se o casal for casado sob o regime da comunhão universal, da separação total ou participação final

54
REGISTROS PÚBLICOS

dos aquestos, é necessário o prévio registro do pacto antenupcial no cartório de Registro de Imóveis do
domicílio dos cônjuges.

Documentos dos bens móveis:


No caso de bem móvel, deve ser levado ao tabelionato documento que descreva o bem e de
onde se possa apurar seu valor, por exemplo, documento do carro e valor nos termos da tabela
FIPE.

Caso o bem não possua documento específico, como jóias, máquinas e outros, o vende- dor
descreverá o bem e declarará o valor.

Se a doação for de quotas ou ações de determinada empresa é importante que seja apresenta-
do o balanço patrimonial.

Documentos dos bens imóveis:


Urbano (Casa ou Apartamento):
- Certidão de matrícula ou transcrição atualizada no momento da assinatura da escritura (pra-
zo de 30 dias a partir da data de expedição);
- Certidão de quitação de tributos imobiliários;
- Carnê do IPTU do ano vigente;
- Informar o valor da doação.

Rural:
- Certidão de matrícula ou transcrição atualizada (prazo de 30 dias a partir da data de expedi-
ção). A certidão deve estar atualizada no momento da lavratura da escritura, e não no momen-
to da entrega dos documentos no cartório;
- Certidão de regularidade fiscal do imóvel emitida pela Secretaria da Receita Federal;
- CCIR – Certificado de Cadastro de Imóvel Rural;
- 5 (cinco) últimos comprovantes de pagamento do ITR (Imposto Territorial Rural);
- DITR – Declaração do Imposto sobre a Propriedade Rural;
- Informar o valor da doação.

Outros documentos:
- Procuração de representantes. Prazo: 90 dias. Se a procuração for feita em cartório de outra
cidade, deve apresentar firma reconhecida do oficial que a expediu;
- Substabelecimento de procuração. Prazo: 90 dias. Se feita em cartório de outra cidade, deve
apresentar firma reconhecida do oficial que a expediu;
- Alvará judicial original, se for necessário para o caso concreto.
- Doação com reserva de usufruto

Na doação com reserva de usufruto transmite-se somente a nua-propriedade para o donatário,


sendo que o usufruto fica reservado ao doador. Isso significa que o doador tem o direito permanecer no
uso e no gozo do imóvel pelo prazo estipulado, que pode ser vitalício.

55
REGISTROS PÚBLICOS

Imposto de Transmissão de Bens Imóveis e Imposto de Transmissão Causas mortis e Do-


ação
Tem como fato gerador a transmissão “causa mortis” e doação, assim denominado por ITCD ou
ITCMD, nos termos que preceitua o artigo 155, I, CF, a saber:
Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos sobre:
I - transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos;

O contribuinte do imposto é: a) nas doações: o doador domiciliado no país; o donatário, quando o


doador não for residente no país; b) nas transmissões “causa mortis”: o beneficiário ou recebedor do
bem ou direito transmitido.

O Supremo Tribunal Federal, em sede de repercussão geral (RE 562045), decidiu pela possibilidade
da progressividade da alíquota deste imposto.
Em conclusão, o Plenário, por maioria, deu provimento a recurso extraordinário, interposto pe-
lo Estado do Rio Grande do Sul, para assentar a constitucionalidade do art. 18 da Lei gaúcha
8.821/89, que prevê o sistema progressivo de alíquotas para o imposto sobre a transmissão
causa mortis de doação - ITCD. Salientou-se, inicialmente, que o entendimento de que a pro-
gressividade das alíquotas do ITCD seria inconstitucional decorreria da suposição de que o § 1º
do art. 145 da CF a admitiria exclusivamente para os impostos de caráter pessoal. Afirmou-se,
entretanto, que todos os impostos estariam sujeitos ao princípio da capacidade contributiva,
mesmo os que não tivessem caráter pessoal. Esse dispositivo estabeleceria que os impostos,
sempre que possível, deveriam ter caráter pessoal. Assim, todos os impostos, independente-
mente de sua classificação como de caráter real ou pessoal, poderiam e deveriam guardar rela-
ção com a capacidade contributiva do sujeito passivo. Aduziu-se, também, ser possível aferir a
capacidade contributiva do sujeito passivo do ITCD, pois, tratando-se de imposto direto, a sua
incidência poderia expressar, em diversas circunstâncias, progressividade ou regressividade di-
reta. Asseverou-se que a progressividade de alíquotas do imposto em comento não teria como
descambar para o confisco, porquanto haveria o controle do teto das alíquotas pelo Senado
Federal (CF, art. 155, § 1º, IV). Ademais, assinalou-se inexistir incompatibilidade com o Enunci-
ado 668 da Súmula do STF (?É inconstitucional a lei municipal que tenha estabelecido, antes da
Emenda Constitucional 29/2000, alíquotas progressivas para o IPTU, salvo se destinada a asse-
gurar o cumprimento da função social da propriedade urbana?). Por derradeiro, esclareceu-se
que, diferentemente do que o- correria com o IPTU, no âmbito do ITCD não haveria a necessi-
dade de emenda constitucional para que o imposto fosse progressivo. Vencidos os Ministros
Ricardo Lewandowski, relator, e Marco Aurélio. O Relator entendia que a progressividade de
tributos só poderia ser adotada se houvesse ex- pressa disposição constitucional. Asseverava
que a vedação da progressividade dos impostos de natureza real (CF, art. 145, § 1º) configura-
ria garantia constitucional e direito individual do contribuinte, sem que lei estadual pudesse al-
terar esse quadro. O Min. Marco Aurélio considerava que a progressividade das alíquotas, em-
bora teoricamente realizasse justiça tributária, não o faria no caso, visto que herdeiros em si-
tuações econômicas distintas seriam compelidos ao pagamento de igual valor do tributo. Além
disso, a lei estadual, de forma diferida, implementaria o imposto sobre grandes fortunas (CF,
art. 153, VII), o que deveria ser cobrado pela União, não pelo estado- membro. RE 562045/RS,
rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o acórdão Min. Cármen Lúcia, 6.2.2013.
(RE- 562045) (Informativo 694, Plenário, Repercussão Geral) – julgamento em fev/2013

4.3 LEGISLAÇÃO
 LEI DE REGISTROS PÚBLICOS (LEI FEDERAL Nº 6.015/73)

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REGISTROS PÚBLICOS

1. FINS DO REGISTRO PÚBLICO


Autenticidade é qualidade do que é confirmado por ato de autoridade: de coisa, documento ou de-
claração verdadeiras. O Registro cria presunção relativa de verdade. É retificável, modificável e, por ser o
Oficial um receptor da declaração de terceiros, que examina segundo critérios predominantemente for-
mais, não alcança o Registro o fim que lhe é determinado pela definição legal: Não dá autenticidade ao
negócio causal ou ao fato jurídico de que se origina. Só o próprio registro tem autenticidade.

2. FUNÇÃO DO REGISTRO DE IMÓVEIS


A Função básica do Registro Imobiliário é a de constituir o Repositório fiel da propriedade Imóvel e
dos negócios jurídicos a ele referentes no país segundo regiões certas e determinadas, ajustadas a sua
circunscrição.

O Registro de um Imóvel induz prova de domínio e tem a característica de dar publicidade e poder
informar a situação de um imóvel através de histórico feito das alienações e alterações sofridas pelo
mesmo no decorrer do tempo, prevenindo a má fé de uns em prejuízo da boa fé de outros. A publicidade
se obtém pelas seguintes maneiras: pelas informações verbais e pelas certidões.

3. DIVISÃO DOS TÍTULOS


a) Registros: (art. 167, I, Lei 6.015/73)
São sujeitos a Registros os Títulos cujos atos, de alguma forma, gerem direitos reais sobre o imóvel
ou, de um certo modo, grave a propriedade.

b) Averbações: (art. 167, II, Lei 6.015/73)


São sujeitos a averbação os títulos cujos atos apenas alterem ou complementem um Registro.

4. DIVISÃO DOS LIVROS


Antes de entrarmos na Legislação atual (Lei 6.015/73) que vigora a partir de 01/01/76 vamos lem-
brar o sistema da Lei anterior (Decreto 4.857/34, que vigorou até 31/12/75).

A lei anterior só permitia que cada cartório de imóveis abrisse um livro para registro dos títulos, e
só poderia abrir outro quando este fosse encerrado, com isto só poderia registrar um título por vez, tor-
nando um acumulo muito grande de serviços nos cartórios. Um imóvel poderia estar transcrito em vários
livros, onde pela coluna de averbação iria anotando a transferência para outro livro, onde teria uma nova
transcrição, tornando assim o sistema muito falho.

Dependendo da natureza do Título apresentado, ele era inscrito, transcrito ou averbado em 11 li-
vros distintos:
A - LIVRO 1 - Protocolo Geral;
B - LIVRO 2 - Inscrições Hipotecarias;
C - LIVRO 3 - Transcrições das Transmissões; D - LIVRO 3 - Auxiliar;
E - LIVRO 4 - Registros Diversos;
F - LIVRO 5 - Emissão de Debêntures; G - LIVRO 6 - Indicador Real;
H - LIVRO 7 - Indicador Pessoal; I - LIVRO 8 - Registro Especial;
J - LIVRO 9 - Registro de Cédula Rural;

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REGISTROS PÚBLICOS

K - LIVRO 10 - Registro de Cédula Industrial.


L – LIVRO TALÃO - Nessa época existia ainda o Livro Talão no qual se reproduzia todos os atos
praticados.

Vejamos a função de cada um dos Livros acima mencionados.

A - LIVRO 1 - PROTOCOLO GERAL: Chave do Registro Geral


Antes de ser encaminhado para registro ou averbação, o título passa por esse livro. Contém o a-
pontamento de todos os títulos apresentados diariamente para registro ou averbação. E identificado pelo
n.º 1 seguido de uma letra. (ex. 1-A, 1-B, etc.). Contém: n.º de ordem; data de apresentação; nome do
apresentante; natureza do título e atos a formalizar.

No término de cada dia é feito um Termo de Encerramento contendo o numero de prenotações


feitas naquela data para que possa ser iniciada a data seguinte. Neste livro é onde se obtém o numero de
ordem do título no livro do protocolo que determina sua prioridade, resultando a preferência dos direitos
reais. No apontamento assinalado da entrada em cartório nasce o começo da oponibilidade aos terceiros
e a publicidade.

B - LIVRO 2 - INSCRIÇÕES HIPOTECÁRIAS:


Usado para registro dos títulos de empréstimos garantidos por hipoteca de imóvel. É identificado
pelo número 2 seguido de uma letra.

São eles: 2-A a 2-Z e 2-AB a 2-AD, etc. Contém: número de ordem; data; nome e qualificação do
devedor; nome e qualificação do credor; título. Valor do contrato, prazo, juros, penas e demais condições
necessárias;

Circunscrição, denominação do imóvel; descrição do imóvel dado em garantia, grau da garantia e


número da transcrição do imóvel.

C - LIVRO 3 - TRANSCRIÇÃO DAS TRANSMISSÕES:


Nesse livro eram feitos todos os atos translativos da propriedade imóvel. (ex: compra e venda, do-
ação, permuta etc.).

É identificado pelo número 3 seguido de letras. São eles: 3-A a 3-Z; 3-AB a 3-AZ; 3- BA a 3-BZ e 3-CA
a 3-CZ. Contém: número de ordem; data, circunscrição, denominação do imóvel, descrição do imóvel,
nome e qualificação do adquirente, nome e qualificação do transmitente, registro anterior, título, forma
do titulo, quitações e documentos fiscais. Valor do contrato e condições do contrato.

D - LIVRO 3 - AUXILIAR:
Usado para a transcrição "verbo-ad-verbum" dos títulos apresentados, sem prejuízo dos demais li-
vros e também para serem inscritas por extrato ou integralmente, as convenções antenupciais. E identifi-
cado pelo nome seguido de uma letra (ex: 3-Auxiliar-A, 3-Auxiliar-B etc.). Contém: número de ordem,
data e os registros feitos integralmente "verbo-ad-verbum".

E - LIVRO 4 - REGISTROS DIVERSOS:


Neste Livro eram inscritos os ônus reais, que gravavam a propriedade, exceto a hipoteca. É identifi-
cado pelo numero 4 seguido de uma letra do alfabeto.(ex: 4-A, 4-B, etc.). Contém: número de ordem,

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REGISTROS PÚBLICOS

data, circunscrição, denominação do imóvel, descrição do imóvel, nome e qualificação do credor, nome e
qualificação do devedor, ônus, valor do contrato, prazo e juros, condições.

F - LIVRO 5 - EMISSÃO DE DEBÊNTURES:


Usado para registro das emissões de Debêntures. É identificado pelo numero 5 seguido de uma le-
tra (ex: 5A, 5-B, etc.). Contém: número de ordem; data; nome, objeto e sede da sociedade, data da publi-
cação dos estatutos; data de publicação da ata, importância dos empréstimos anteriores, numero e valor
das obrigações, juros e época do resgate e pagamento, condições.

G - LIVRO 6 - INDICADOR REAL: 6


Dividido, por bairros (ou por freguesias), é o repositório de todos os imóveis registrados nos Livros
2, 3, 4, 8, 9 e 10.

Contém: endereço do imóvel (número e rua), bem como o livro, folhas e numero de ordem, onde o
mesmo encontra-se registrado, nome do proprietário. Possibilita a localização de registro quando o único
dado fornecido é o endereço do imóvel.

H - LIVRO 7 - INDICADOR PESSOAL:


Dividido alfabeticamente, e' o repositório dos nomes de todos as pessoas que, indivi- dual ou cole-
tivamente, ativa ou passivamente, direta ou indiretamente, figurarem nos outros livros. Contém: nome
da pessoa por extenso e referencia aos demais livros e anotações. Possibilita a localização de um registro
quando o único dado fornecido é o nome da pessoa.

I - LIVRO 8 - REGISTRO ESPECIAL:


Usado para inscrição de propriedade loteada para venda de lotes a prestação. É identificado pelo
numero 8 seguido de uma letra. São eles: 8A, 8-B, etc. Contém: número de ordem data e transcrição ver-
bo-ad-verbum do memorial.

J - LIVRO 9 - REGISTRO DE CÉDULA RURAL:


Usado para registro de cédula rural. E' identificado pelo número 9 seguido de uma letra. (ex: 9-A, 9-
B, etc.). Contém: número de ordem, data, circunscrição, denominação da cédula, nome e qualificação do
credor. nome e qualificação do devedor, data e lugar da emissão, valor do crédito, juros, data e praça de
pagamento, descrição do bem vinculado, condições.

K - LIVRO 10 - REGISTRO DE CÉDULA INDUSTRIAL:


Usado para registro de cédula Industrial. É identificado pelo numero 10 seguido de uma letra.
(Ex:10-A,10-B, etc.).

Contém numero de ordem; data; circunscrição; forma de pagamento; nome e qualifica- ção do E-
mitente; nome e qualificação do credor, nome e qualificação do endossatário, data e lugar da emissão,
valor do credito e forma de utilização, juros, data e praça de pagamento, descrição do objeto da garantia.

L – LIVRO TALÃO
Nessa época existia ainda o livro talão no qual se reproduzia todos os atos praticados.

5. MODIFICAÇÕES SOFRIDAS PELO SISTEMA DE REGISTRO DE IMÓVEIS N.º 6.015/73

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REGISTROS PÚBLICOS

Através da Lei 6.015, de 31 de dezembro de 1973, que entrou em vigor em 01-01-76 o registro de
imóveis sofreu várias alterações.

No sistema anterior, um imóvel poderia esta em vários livros, e não permitia a mecanização do sis-
tema de registro, para uma maior agilidade de serviço registral.

A Lei atual de registro de imóveis trouxe um princípio básico inovador: a unificação do registro ou
melhor, para cada imóvel terá' que ser aberta uma só matrícula, onde nessa matrícula serão praticados
todos os atos referentes aquele imóvel, dando assim, uma maior segurança e agilidade no registro do
imóvel.

Com a vigência da nova Lei, ficou exigido no registro de imóveis os seguintes livros (art. 173, LRP):
Art. 173. Haverá, no Registro de Imóveis, os seguintes livros:
I - Livro nº 1 - Protocolo;
II - Livro nº 2 - Registro Geral;
III - Livro nº 3 - Registro Auxiliar;
IV - Livro nº 4 - Indicador Real;
V - Livro nº 5 - Indicador Pessoal.

Livro de Registro de Imóveis rurais adquiridos por estrangeiros


A partir de 01 de janeiro de 1976, as transcrições, inscrições e averbações anterior- mente feitas
nos livros 2, 3, 4 e 8, passaram a ser feitas em único livro denominado livro 2 - Registro Geral, e as que
eram feitas nos livros 5, 9 e 10, passaram a ser feitas no Livro 3-Auxiliar, sendo suprido o livro talão.

Cada imóvel passou a ter sua própria matrícula que é aberta por ocasião do primeiro registro do
imóvel, ou por falta de espaço nos livros 3 anteriores.(art. 176, §1º, I, LRP).

As matriculas são numeradas de 1 ao infinito. A abertura é constituída pela descrição do imóvel e


contém: número de ordem, data, tipo do imóvel, localização, metragem e limites. (art. 176, §1º, II, LRP).
Em seguida vem: nome do proprietário, registro anterior e, tratando-se de imóvel em regime de multi-
propriedade, a indicação da existência de matrículas, nos termos do § 105.

O primeiro ato após a abertura da matricula relativo a um imóvel é identificado pela letra R(no ca-
so de ser um Registro), seguido do numero 1 e do numero da matricula. Ex: Matricula 10.000. (art. 232,
LRP) 1º ato - R.1-10.000.

Tratando-se de Averbação, identifica-se usando-se as letras AV.1º ato - AV.1-10.000. Os demais a-


tos recebem o número seguinte.

Cada Registro é composto por: número do registro, número do protocolo geral, denominação do
ato, nome e qualificação do outorgado, nome e qualificação do outorgante, título e seus dados, valor do
contrato, certidões fiscais e impostos (se houver), data e assinatura do Oficial (ou do escrevente autori-
zado) (art. 176, §1º, III, LRP).

Cada Averbação é composta por: número da averbação, número do protocolo geral, denominação
do ato, titulo, nome e qualificação das partes (dependendo da averbação), assunto, data e assinatura do
5
Art. 176. (...)
§ 10. Quando o imóvel se destinar ao regime da multipropriedade, além da matrícula do imóvel, haverá
uma matrícula para cada fração de tempo, na qual se registrarão e averbarão os atos referentes à respec-
tiva fração de tempo, ressalvado o disposto no § 11 deste artigo.

60
REGISTROS PÚBLICOS

Oficial (ou do escrevente autorizado).

Com a nova lei, o Livro Indicador Real, anteriormente chamado de Livro 6, ficou com a denomina-
ção de LIVRO 4 e o livro Indicador Pessoal, antes chamado de Livro 7, ficou com a denominação de LIVRO
5.

O Livro 3 - Registro Auxiliar foi destinado ao registro de atos que, sendo atribuídos ao registro de
imóveis por disposição legal, não digam respeito diretamente ao imóvel matriculado. Nele registra-se:
emissão de Debêntures; cédulas de crédito rural, industrial, comercia e de exportação, convenções de
condomínio edilício, condomínio geral voluntário e condomínio em multipropriedade, penhor, (art. 178,
Lei n 6.015/73).

LIVRO 1 - PROTOCOLO GERAL:


O Livro 1 - Protocolo Geral, continuou com as mesmas características.

O Livro poderá' ser o tradicional, em livro grande manuscrito. Como pode ser em folhas datilogra-
fadas e numeradas em seqüência. Apesar de se acrescentar uma letra ao numero 1 (1-A, após vem o 1-B,
etc...), os números de ordem permanecem em seqüência, sendo cada livro a continuação do anterior.

Protocolo Auxiliar - A Lei deixa liberdade para os Oficiais de Registros tanto no artigo 11, como no
artigo 12 parágrafo único da Lei 6.015. Com é possível adotar o sistema de Proto- colo Auxiliar, que co-
manda toda entrada diária dos títulos para exame e calculo dos emolumentos. Examinado todos os títu-
los que entraram naquele dia, e' feita uma separação, ficando os títulos com exigências e os aptos para
registro.

Estes serão protocolados no Livro 1 Protocolo Geral, e os com exigências serão entregues as partes
que apresentaram, para que sejam cumpridas as exigências ou as requeiram o levantamento da duvida
para o juiz competente.

LIVRO 2 - REGISTRO GERAL - SISTEMA DE FICHAS:


Apesar de haver mudado os nomes dados aos Livros, as características físicas continuaram as
mesmas: Livros grandes de difícil manuseio e conservação.

Para agilizar o Registro de Imóveis, foi criado o Sistema de Fichas para os livros 2, 3, 4, 5 substituin-
do os Livros encadernados. (art. 173, parágrafo único, LRP).

Poderão ser também utilizados os livros tradicionais, grandes e manuscritos, o que não aconselha-
mos por não ser inviável o seu manuseio, a sua eficiência e segurança.

Assim sendo, os livros passaram a ter as seguintes características:


- As matrículas foram transferidas para as fichas que são datilografadas e numeradas em se-
qüência, sendo uma a continuação da outra. Cada matrícula tem tantas fichas quantas sejam
necessárias para conter os registros e averbações referentes ao imóvel, e pode ser encerrada
quando o imóvel sofre modificação que gere outra matrícula, como a fusão e a divisão. (art.
234, LRP). A matrícula imobiliária é o ato de individualização do imóvel (princípio jurídico da uni-
tariedade da matrícula) e pode significar o conteúdo registral, ou seja, a primeira inscrição lan-
çada naquela folha numerada ou o suporte registral, isto é, cada uma das folhas numeradas que
compõem o Livro nº 2, Registro Geral.

61
REGISTROS PÚBLICOS

- A matrícula será aberta, obrigatoriamente, por ocasião do primeiro registro relativo ao imóvel;
nos casos de fusão de imóvel; no caso de averbação, quando não houver espaço no livro de
transcrição das transmissões; por requerimento do proprietário; ou, de ofício, para cada lote ou
unidade autônoma, após o registro do loteamento, desmembramento ou condomínio e, ainda,
no interesse do serviço.

Requisitos obrigatórios da matrícula:


- Número de ordem que seguirá até o infinito;
- Data da abertura;
- Identificação do imóvel;
- Qualificação do proprietário;
- Número do registro anterior.

Ex: Matricula 10.000. (Art.232LRP) 1º ato - R.1-10.000. Tratando-se de Averbação, identifica-se u-


sando-se as letras AV.1º ato - AV.1-10.000.

LIVRO 3 - REGISTRO AUXILIAR:


O Livro 3 Auxiliar poderá' ser utilizado por meio de ficha da mesma maneira do livro 2, só que no li-
vro 3, cada registro é gerado um numero de ordem que será' seqüencial para cada registro. Exemplo:
(Registro de uma Cédula número 01, Registro de outra Cédula número 02, e assim sucessivamente).

No livro 3 Auxiliar, poderá ter ainda averbações que serão feitas abaixo de cada registro feito na
respectiva ficha e obedecerão a seqüência numérica de averbação. Exemplo:(AV1- 01, AV2-01 e assim
sucessivamente.).

Os Livros 4 e 5 podem serem substituídos pelo sistema de computação onde as informações pode-
rão serem manuseadas mais facilmente, de forma mais rápida e com maior segurança do que os fichários
ou Livros.

LIVRO 4 - INDICADOR REAL:


Representado por fichas individuais, ou seja: uma ficha para cada imóvel.

LIVRO 5 - INDICADOR PESSOAL:


Representado por fichas individuais, ou seja: uma ficha para cada pessoa.

Apesar das mudanças implantadas a partir de 01 de janeiro de 1976, os Livros anterio- res não per-
deram totalmente o uso. Nos Livros 2, 3, 4, 5, 8, 9 e 10, existe um espaço reservado a margem de cada
registro, denominado "Coluna de Averbações", onde, como o nome já diz , são feitas as averbações rela-
tivas a cada transcrição ou inscrição. Este espaço e' também usado para as anotações de transferência. As
averbações hoje apresentadas, referentes a imóveis registra- dos nesses livros, ainda são feitas na coluna
de averbações da inscrição ou transcrição a qual se referem, inclusive aos imóveis que não mais perten-
cem aquela circunscrição, isto se não estiver sido aberta matricula na atual circunscrição do imóvel.

6. TÍTULOS
A Lei Federal de Registro de Imóveis (Lei 6.015/75), no seu art. 221, especifica o que são títulos.

62
REGISTROS PÚBLICOS

Art. 221. Somente são admitidos registro:


I - escrituras públicas, inclusive as lavradas em consulados brasileiros;
II - escritos particulares autorizados em lei, assinados pelas partes e testemunhas, com as fir-
mas reconhecidas, dispensado o reconhecimento quando se tratar de atos praticados por enti-
dades vinculadas ao Sistema Financeiro da Habitação;
III - atos autênticos de países estrangeiros, com força de instrumento público, legalizados e
traduzidos na forma da lei, e registrados no cartório do Registro de Títulos e Documentos, as-
sim como sentenças proferidas por tribunais estrangeiros após homologação pelo Supremo
Tribunal Federal;
IV - cartas de sentença, formais de partilha, certidões e mandados extraídos de autos de pro-
cesso.
V - contratos ou termos administrativos, assinados com a União, Estados, Municípios ou o Dis-
trito Federal, no âmbito de programas de regularização fundiária e de programas habitacionais
de interesse social, dispensado o reconhecimento de firma.

Titulo é o documento que instrumenta o direito real, apresentado ao registro imobiliário. Para os
fins da lei é classificado em público ou particular, nacional ou Estrangeiro, Judicial ou Extrajudicial.

Portanto conforme a Lei todos os instrumentos expedidos pelo Juiz que são admitidos pelos Regis-
tros de Imóveis. São considerados títulos inclusive os mandados que podem ser de- volvidos ao apresen-
tante se não estiverem de conformidade com a lei.

7. PENHORA OU ARRESTO:
Existem dois tipos de penhoras: de execução fiscal e de execução de títulos judiciais ou extrajudici-
ais As fiscais tem lei própria (Lei 6.830/80), que para averbá-la basta que o Oficial de Justiça, entregue
contra fé, do mandado, cópia do termo ou do auto de penhora, com o despacho do Juiz com ordem de
registro, ficando o pagamento dos emolumentos para ser pago no final do processo.

A execução de títulos judiciais ou extrajudiciais é totalmente diferente da anterior no aspecto de tí-


tulo para averbação. Primeiro ela só poderá ser registrada depois de pagos os emolumentos (art. 14 LPR)
e apresentado por mandado ou a vista de certidão do escrivão que deve conter: descrição completa do
imóvel, metragens e limites, registro do imóvel, se o imóvel pertence ao executado, nome e qualificação
do exequente e executado, valor da execução, nome do Juiz, do depositário, e a natureza do processo.
(art. 239, LRP).

8. MANDADOS JUDICIAIS
Os juízes utilizam os mandados como uma forma de substituir todos os títulos existentes, quando
não e permitido.

Com isso geram muitos problemas com os Oficiais dos Registros de Imóveis. As partes e o próprio
Juiz, que vez por outra entendem como descumprimento de ordem judicial, não entendendo que para
certos atos a lei exige um determinado título como poderemos ver abaixo:

No registro de imóveis o mandado judicial é aceito como titulo para as averbações de retificação
de área, processo de duvida, averbação de penhora, arresto e seqüestro. (art. 239, LRP).

Nas separações judiciais o titulo a ser apresentado para registro é a carta de sentença.

Nos inventários o título pode ser o formal de partilha para cada herdeiro e poderá ser substituído
por certidão do pagamento do quinhão hereditário, quando este não exceder cinco vezes o salário míni-

63
REGISTROS PÚBLICOS

mo. (art. 655, CPC).

Para os demais podem ser usados, quando for o caso, a carta de adjudicação, arrematação e até
mesmo a carta de sentença, não utilizando o mandado judicial.

9. DÚVIDA
O processo de dúvida é pedido de natureza administrativa, formulado pelo Oficial de Registro, a
requerimento do apresentante do título, para que o Juiz competente decida sobre legitimidade da exi-
gência feita, como condição ao registro pretendido. (art. 198, LRP).

No encaminhamento da dúvida ao juiz competente, o título e enviado ao juízo, acompanhado de


todos os documentos exibidos pela parte e pertinentes ao registro.

A eles acrescentará o Oficial informações que permitam ao juiz aferir da razões da recusa do regis-
tro, decidindo pela procedência ou improcedência.

Conforme consta da lei de registros públicos, o titular do registro é obrigado a apresentar a exigên-
cia por escrito e o apresentante do título poderá requerer a dúvida por escrito, ao titular. Fazendo-a o
Oficial prenota no "Livro 01", anota a ocorrência da dúvida em seguida autuará e rubricará todas as fo-
lhas do processo e dará ciência dos termos da duvida, ao apresentante, fornecendo-lhe copia da suscita-
ção e notificando-o para impugná-la ao juízo competente no prazo de 15 dias, certificado o fato, remete-
se todo processo ao juízo.

Se impugnada ou não a dúvida, será ouvido o Ministério Publico no prazo de 10 dias, se não forem
requeridas diligências o Juiz proferirá decisão no prazo de 15 dias. A duvida será sempre julgada por sen-
tença.

Proferida a sentença poderão interpor apelação, o apresentante, o Ministério Público e o terceiro


prejudicado.

Transitada em Julgado, a sentença, se for procedente a dúvida, os documentos serão restituídos ao


apresentante, dando-se ciência da decisão ao Oficial de Registro de Imóveis, para que anote no protocolo
e cancele a prenotação.

Se for julgada improcedente o apresentante apresentará de novo ao cartório de imóveis, o título


com o respectivo mandado ou certidão da sentença, para que o Oficial, proceda o registro ou Averbação
conforme a decisão, fazendo referencia no ato que o praticar da referida decisão da dúvida. (arts. 198 a
204, LRP)

Livros anteriores à Lei 6.015/75, que tenham folhas dilaceradas pelo manuseio ao longo do tempo,
tornando impossível o exame de um título que ali tenha registro anterior. Nesses casos, o título é confe-
rido verificando-se apenas se o mesmo contem todos dados necessários para o registro, sem, no entanto,
compará-lo ao registro anterior e devolvido à parte interessada. Caso esteja com as informações comple-
tas, a devolução será feita explicando o motivo de não ser possível processar o registro, pedindo o reque-
rimento assinado pela parte interessada, com firma reconhecida, autorizando suscitar dúvida. Neste caso,
só é possível fazer o registro mediante a expressa autorização judicial. Caso o documento necessite de
algum complemento, o mesmo é pedido juntamente com a autorização para a suscitação de dúvida, que
só poderá ser pedida com o título apto para registro.

64
REGISTROS PÚBLICOS

 LEI Nº 8.935/94
Art. 1º. Serviços notariais e de registro são de organização técnica e administrativa destinados
a garantir a publicidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos.

Esse dispositivo define e conceitua quais são os serviços notariais e registrais que a Lei regulamen-
ta, dividindo-os desde logo em duas categorias, isto é, aqueles de organização técnica e outros de organi-
zação administrativa.

Invertendo o exame, principiamos pela organização administrativa. As atividades de notários e re-


gistradores se desenvolve com a prática dos atos de cada um de tais misteres.

Esses atos, por sua própria natureza, deixam vestígios, são instrumentados nos livros de notas e de
registros, estes, por expresso permissivo legal contido na Lei 6.015/73, substituí- dos por fichas. Mas, sem
dúvida, tanto os atos notariais como os de registro têm como supor- te a sua instrumentação, a sua do-
cumentação, em especial considerando a necessária publicidade que os cerca e que é de sua essência, à
exceção dos testamentos, enquanto não falecido o testador. Cremos que, exatamente em razão da ne-
cessidade da organização dos notários e dos serviços de registro, foi que o legislador dividiu as atividades
notariais e de registro em razão dessa função instrumental, tanto que as classificou em técnica adminis-
trativa, porque desta última resultam importantes conseqüências jurídicas.

Com efeito, não basta a boa técnica na formalização dos atos notariais ou na prática dos atos regis-
trários, se ambos não forem praticados ou em livros em fichas que estejam arquivados e mantidos se-
gundo as melhores técnicas da segurança e da confiabilidade, com facilidade de reprodução, com brevi-
dade na sua localização através dos índices.

Toda a estrutura que deve cercar os serviços notariais e de registro, portanto, compõe a parte ad-
ministrativa de tais atos regulamentados pela Lei que examinamos, daí porque não se possa dissociar a
estrutura, a organização e o funcionamento desses serviços, da parte estrita- mente técnica e jurídica
que, sem dúvida, são seu objetivo principal.

E o que dizer desta organização administrativa?


Verificaremos no correr dessas anotações que vários dispositivos estão diretamente vinculados a
ela, dissociados da parte técnica da execução de tais atividades.

Assim, já o art. 4º disciplina local de instalação dos serviços, horário destinado ao atendimento dos
usuários e segurança no arquivamento dos livros e documentos.

Logo depois, os dois parágrafos desse mesmo artigo consagram dispositivos de ordem exclusiva-
mente administrativa, tornando obrigatório o plantão para o registro civil das pessoas naturais e o horá-
rio mínimo de atendimento ao público.

Ao tratar dos prepostos, no art. 20 cuidou, sem dúvida, o legislador da estrutura administrativa, es-
tabelecendo a livre administração e gerenciamento dos serviços.

Ao cuidar, nos artigos 14 a 19, da investidura de Notários e Registradores igualmente o legislador


traçou as normas técnicas, mas administrativas, o mesmo ocorrendo quando disciplinou a responsabili-
dade civil e criminal, as incompatibilidades e impedimentos, direitos e deveres, as infrações disciplinares
e as penalidades a que estão a fiscalização pelo Poder Judiciário, a extinção da delegação, a seguridade
social.

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REGISTROS PÚBLICOS

Pouco restou - afastando-se as disposições transitórias - para as questões técnicas, ou para a orga-
nização técnica, que mereceu apenas o Título I, Capítulos I, Secções I, II e III.

Parece, portanto, que a maior preocupação do legislador foi a de cuidar da organização administra-
tiva desses serviços, de forma a que, em todo o País, se obedeçam aos mesmos regramentos, evitando-se
a disparidade até então existente, conseqüência da diversidade das leis de organização judiciária de cada
uma das unidades da Federação.

Depois de apontar a dicotomia pela Lei, tratando das questões técnicas e das administrativas, resta
a breve análise de cada um dos dispositivos que ela contemplou.

Curiosamente, parece indispensável que se examine um artigo que inexiste na Lei, porque o proje-
to foi vetado pelo Exmo. Sr. Presidente da República e esse veto foi mantido pelo Congresso Nacional.

Cuidemos, agora, do exame do art. 3º:


Art. 3º. Notário, ou Tabelião, e Oficial de Registro, ou registrador, são profissionais do direito,
dotados de fé pública, a quem é delegado o exercício da atividade notarial e de registro.

O dispositivo consagra antiga reivindicação de notários e registradores, qual seja, a sua qualificação
como profissional do direito.

Nesse dispositivo se consagra a regulamentação que foi buscada há décadas em especial pelo no-
tário Antonio Augusto Firmo da Silva, Tabelião em São Paulo, primeiro e único brasileiro a participar de
um Congresso Internacional do Notariado, várias vezes Presidente do Colégio Notarial do Brasil, que fun-
dou, Presidente, também em várias oportunidades, do Colégio Notarial de São Paulo.

Art. 4º. Os serviços notariais e de registro serão prestados, de modo eficiente e adequado, em
dias e horários estabelecidos pelo Juízo competente, atendidas as peculiaridades locais, em lo-
cal de fácil acesso ao público e que ofereça segurança para o arquivamento de livros e docu-
mentos.
§ 1º - O serviço de registro civil das pessoas naturais será prestado, também, nos sábados, do-
mingos e feriados pelo sistema de plantão.
§ 2º - O atendimento ao público será, no mínimo, de seis horas diárias.

O dispositivo contempla determinação não só quanto à eficiência e adequação dos servi- ços de
que tratamos, mas também quanto ao horário dessa prestação, conforme estabelecido pelo Juízo compe-
tente, consideradas as peculiaridades locais, determinando que as serventias se estabeleçam em local de
fácil acesso ao público, e que sejam instaladas também em prédio que ofereça segurança para o arqui-
vamento de livros e documentos.

O horário de funcionamento da serventia Num primeiro passo devemos atentar para que o legisla-
dor federal estabeleceu um mínimo de horário para o atendimento do público: seis horas.

No art. 5º, o legislador definiu quais são os titulares dos serviços notariais e de registro e fez ex-
pressa referência aos tabeliães e oficiais de registro de contratos marítimos.

Elencou todos os profissionais de direito, cujas atividades regulamentou, dizendo quem são os no-
tários e registradores no Brasil.

Art. 5º. Os titulares de serviços notariais e de registro são os:

66
REGISTROS PÚBLICOS

I - tabeliães de notas;
II - tabeliães e oficiais de registro de contratos marítimos;
III - tabeliães de protesto de títulos;
IV - oficiais de registro de imóveis;
V - oficiais de registro de títulos e documentos e civis das pessoas jurídicas;
VI - oficiais de registro civis das pessoas naturais e de interdições e tutelas;
VII - oficiais de registro de distribuição.

Quanto ao art. 6º, cabe, entretanto, interpretar cada um dos dispositivos:


Art. 6º. Aos notários compete:
I - formalizar juridicamente a vontade das partes.
II - intervir nos atos e negócios jurídicos a que as partes devam ou queiram dar forma legal ou
autenticidade, autorizando a redação ou redigindo os instrumentos adequados, conservando
os originais e expedindo cópias fidedignas de seu conteúdo;
III - autenticar fatos.

A formalização, ao contrário do que possa parecer, não deve e nem pode se limitar aos atos e con-
tratos com reflexos no registro imobiliário. Em especial as transações para prevenir demandas, os acor-
dos de vontade formalizados, os acertos comerciais numa amplitude sem limites, podem e devem ser
instrumentada pelo Tabelião de Notas.

Cabe ao tabelião, diante da manifestação das partes, redigir o instrumento público adequado. A
propósito, cabe dizer que, dentro da sua independência, se até então inexistente, o tabelião não estava e
nem está jungido ou obrigado a lavrar e instrumentar escrituras que ele pretende não se afeiçoem às
prescrições legais ou que contravenham princípios notariais ou registrários previamente estabelecidos.

E por derradeiro neste artigo, o que se deve entender pela atuação do notário quanto à função que
a lei nº 8.935/94 lhe conferiu no inciso III do art. 6º isto é, autenticar fatos.

Que são Fatos?


"Fato. (do lat. Factu). 1- Coisa ou ação feita; sucesso; caso; acontecimento; feito. 2- Aquilo que re-
almente existe, que é real. 3- Filos. V. fenômeno. * Fato Jurídico. Jur.

Acontecimento de que decorrem efeitos jurídicos, independentemente da vontade humana (por


oposição do ato).

No artigo 7º, disciplinou o legislador que ao tabelião de notas compete "com exclusividade".
Art. 7º. Aos tabeliães de notas compete com exclusividade:
I - lavrar escrituras e procurações, públicas;
II - lavrar testamentos públicos e aprovar os cerrados;
III - lavrar atas notariais;
IV - reconhecer firmas;
V - autenticar cópias.
Parágrafo único. É facultado aos tabeliães de notas realizar todas as gestões e diligências ne-
cessárias ou convenientes ao preparo dos atos notariais, requerendo o que couber, sem ônus
maiores que os emolumentos devidos pelo ato.

É sabido que a procuração é o instrumento do contrato de mandato. O mandado pode ser instru-
mentado por escrito particular, mas, em determinados casos, só pode ser formalizado por escritura pú-
blica, como, por exemplo, quando o mandante é analfabeto, quando o mandante é menor, incapaz, re-

67
REGISTROS PÚBLICOS

presentado ou assistido por seu representante legal, de seu tutor, do curador. A tarefa do reconhecimen-
to de firmas é curiosamente a mais difícil e a mais desmoralizada de todas as atividades burocráticas pra-
ticadas pelos Tabeliães de Notas do País.

São três os tipos de reconhecimento de firmas, a saber, o autêntico, o por semelhança e por abo-
nação.

O reconhecimento autêntico é que o notário pratica, por si ou por seus prepostos, depois de identi-
ficada a parte, que assina o documento na sua presença.

O reconhecimento por semelhança é o que o tabelião pratica, por si ou por seus prepostos, medi-
ante a conferência da assinatura lançada no documento e aquela que ele detém em sua notaria, para
servir de padrão de confronto.

O reconhecimento por abonação, praticamente já não mais admitido, é aquele em que duas pes-
soas abonam a assinatura de uma terceira e o tabelião reconhece as firmas dos abonadores.

A autenticação de cópias reprográficas é tarefa que como as demais desempenhadas pelos notá-
rios exige cautela e cuidado. Não se perca de vista que, nos grandes centros, as grandes empresas reme-
tem aos notários, dezenas, centenas e às vezes, até milhares de documentos para serem autenticadas as
cópias respectivas.

Art. 8º. É livre a escolha do tabelião de notas, qualquer que seja o domicílio das partes ou o lu-
gar de situação dos bens objeto do ato ou negócio.

Por esse dispositivo se estabeleceu o que a praxe já consagrara, isto é, a livre escolha, pelas partes,
do tabelião para a formalização dos atos notariais.

O art. 9º também consagra a proibição do tabelião itinerante, que, com o livro de notas embaixo
do braço, se dirigia à sede da comarca (os dos municípios ou distritos), para colher assinaturas, angariar
clientela fora do âmbito de sua atribuição, como sempre foi muito comum. A proibição, antes existente
nas várias legislações estaduais e, mais ainda, na consciência dos fiscalizadores, agora conta com expres-
sa previsão legal.

O art. 10 trata dos tabeliães e oficiais de registro de contratos marítimos:


Art. 10. Aos tabeliães e oficiais de registro de contratos marítimos compete:
I - lavrar os atos, contratos e instrumentos relativos a transações de embarcações a que as par-
tes devam ou queiram dar forma legal de escritura pública;
II - registrar os documentos da mesma natureza;
III - reconhecer firmas em documentos destinados a fins de direito marítimo;
IV - expedir traslados e certidões.

O art. 11 determina a competência dos tabeliães de protesto:


Art. 11. Aos tabeliães de protesto de título compete privativamente:
I - protocolar de imediato os documentos de dívida, para prova do descumprimento da obriga-
ção;
II - intimar os devedores dos títulos para aceitá-los, devolvê-los ou pagá-los, sob pena de pro-
testo;
III - receber o pagamento dos títulos protocolizados, dando quitação;

68
REGISTROS PÚBLICOS

IV - lavrar o protesto, registrando o ato em livro próprio, em microfilme ou sob outra forma de
documentação;
V - acatar o pedido de desistência do protesto formulado pelo apresentante;
VI - averbar:
a) o cancelamento do protesto;
b) as alterações necessárias para atualização dos registros efetuados;
VII - expedir certidões de atos e documentos que constem de seus registros e papéis.
Parágrafo único. Havendo mais de um tabelião de protestos na mesma localidade, será obriga-
tória a prévia distribuição dos títulos.

Art. 12. Aos oficiais de registro de imóveis, de títulos e documentos e civis das pessoas jurídi-
cas, civis das pessoas naturais e de interdições e tutelas compete a prática dos atos relaciona-
dos na legislação pertinente aos registros públicos, de que são incumbidos, independentemen-
te de prévia distribuição, mas sujeitos os oficiais de registro de imóveis e civis das pessoas na-
turais às normas que definirem as circunscrições geográficas.

Quanto aos Oficiais de registros públicos, a lei remeteu sua competência para as leis ordinárias, en-
tre as quais sobreleva a Lei de Registros Públicos, estabelecendo que estão dispensados de distribuição,
mas sujeitos, os registradores da propriedade e os titulares de registro civil, à obediência à competência
estabelecida nas leis de organização judiciária, que fixa o território de cada um de tais serviços.

Art. 13. Aos oficiais de registro de distribuição compete privativamente:


I - quando previamente exigida, proceder à distribuição eqüitativa pelos serviços da mesma na-
tureza, registrando os atos praticados; em caso contrário, registrar as comunicações recebidas
dos órgãos e serviços competentes;
II - efetuar as averbações e os cancelamentos de sua competência;
III - expedir certidões de atos e documentos que constem de seus registros e papéis.

O legislador ordinário disciplinou o concurso público de provas e títulos, para o exercício da ativi-
dade notarial ou de registro nos art. 14 a 19 dal.

O que cabe ponderar, aqui, é que não mais podem ser (aliás, desde 1988) feitos concursos ao qual
só poderiam acorrer aqueles que já estivessem na classe ou na atividade notarial ou de registro (titulares
e escreventes ou ainda auxiliares) como ocorreu em vários Estados, inclusive no Estado de São Paulo. Não
há mais acesso nem promoção.

Os concursos são abertos a qualquer cidadão do povo que preencha os requisitos dita- dos pelo le-
gislador federal.

Art. 14. A delegação para o exercício da atividade notarial e de registro depende dos seguintes
requisitos:
I - habilitação em concurso público de provas e títulos;
II - nacionalidade brasileira;
III - capacidade civil;
IV - quitação com as obrigações eleitorais e militares;
V - diploma de bacharel em direito;
VI - verificação de conduta condigna para o exercício da profissão.

Art. 15. Os concursos serão realizados pelo Poder Judiciário, com a participação, em todas as
suas fases, da Ordem dos Advogados do Brasil, do Ministério Público, de um notário e de um
registrador.
§ 1º O concurso será aberto com a publicação de edital, dele constando os critérios de desem-
pate.

69
REGISTROS PÚBLICOS

§ 2º Ao concurso público poderão concorrer candidatos não bacharéis em direito que tenham
completado, até a data da primeira publicação do edital do concurso de provas e títulos, dez
anos de exercício em serviço notarial ou de registro.

Art. 16. As vagas serão preenchidas alternadamente, duas terças partes por concurso público
de provas e títulos e uma terça parte por meio de remoção, mediante concurso de títulos, não
se permitindo que qualquer serventia notarial ou de registro fique vaga, sem abertura de con-
curso de provimento inicial ou de remoção, por mais de seis meses. (Re- dação dada pela Lei nº
10.506, de 9.7.2002)
Parágrafo único. Para estabelecer o critério do preenchimento, tomar-se-á por base a da- ta de
vacância da titularidade ou, quando vagas na mesma data, aquela da criação do ser- viço.

Art. 17. Ao concurso de remoção somente serão admitidos titulares que exerçam a atividade
por mais de dois anos.

Art. 18. A legislação estadual disporá sobre as normas e os critérios para o concurso de remo-
ção.
Parágrafo único. Aos que ingressaram por concurso, nos termos do art. 236 da Constituição
Federal, ficam preservadas todas as remoções reguladas por lei estadual ou do Distrito Federal,
homologadas pelo respectivo Tribunal de Justiça, que ocorreram no período anterior à publica-
ção desta Lei.

Art. 19. Os candidatos serão declarados habilitados na rigorosa ordem de classificação no con-
curso.

Os Notários e os Oficiais de Registro poderão, para o desempenho de suas funções, contratar es-
creventes, dentre eles escolhendo os substitutos, e auxiliares como empregados, com remuneração li-
vremente ajustada e sob o regime da legislação do trabalho.

Na legislação Estadual, de cada uma das unidades da federação, havia um regramento específico
para que, alguém fosse investido nas funções de escrevente ou auxiliar.

O auxiliar se distingue do escrevente, porque ele não pratica atos de registros ou notariais: ele a-
penas auxilia os escreventes e o Titular na prática desses atos. A diversidade da legislação dos Estados,
não permite ou não permitiu, conhecer as diferentes situações dos diversos modos de investidura dos
escreventes nestas funções.

Art. 20. Os notários e os oficiais de registro poderão, para o desempenho de suas funções, con-
tratar escreventes, dentre eles escolhendo os substitutos, e auxiliares como empregados, com
remuneração livremente ajustada e sob o regime da legislação do trabalho.
§ 1º Em cada serviço notarial ou de registro haverá tantos substitutos, escreventes e auxiliares
quantos forem necessários, a critério de cada notário ou oficial de registro.
§ 2º Os notários e os oficiais de registro encaminharão ao juízo competente os nomes dos
substitutos.
§ 3º Os escreventes poderão praticar somente os atos que o notário ou o oficial de registro au-
torizar.
§ 4º Os substitutos poderão, simultaneamente com o notário ou o oficial de registro, praticar
to- dos os atos que lhe sejam próprios exceto, nos tabelionatos de notas, lavrar testamentos.
§ 5º Dentre os substitutos, um deles será designado pelo notário ou oficial de registro para
responder pelo respectivo serviço nas ausências e nos impedimentos do titular.

Consagrou o legislador a total liberdade de atuação dos titulares, entregando-lhes o gerenciamen-


to administrativo e financeiro dos serviços. Findou-se a fase em que os balancetes das serventias eram
publicadas no Diário Oficial (Brasilia), fiscalizados pelos Juízes Corregedores Permanentes (São Paulo,

70
REGISTROS PÚBLICOS

etc.), glozando despesas, autorizando algumas, proibindo o registro de outras.

Art. 21. O gerenciamento administrativo e financeiro dos serviços notariais e de registro é da


responsabilidade exclusiva do respectivo titular, inclusive no que diz respeito às despesas de
custeio, investimento e pessoal, cabendo-lhe estabelecer normas, condições e obrigações rela-
tivas à atribuição de funções e de remuneração de seus prepostos de modo a obter a melhor
qualidade na prestação dos serviços.

Art. 22. Os notários e oficiais de registro são civilmente responsáveis por todos os prejuízos
que causarem a terceiros, por culpa ou dolo, pessoalmente, pelos substitutos que designarem
ou escreventes que autorizarem, assegurado o direito de regresso.

Art. 23. A responsabilidade civil independe da criminal.

Art. 24. A responsabilidade criminal será individualizada, aplicando-se, no que couber, a legis-
lação relativa aos crimes contra a administração pública.
Parágrafo único. A individualização prevista no caput não exime os notários e os oficiais de re-
gistro de sua responsabilidade civil.

Acerca do disposto nos artigos, podemos concluir que:


a) Os Notários e Registradores, titulares de serventias extrajudiciais, sob a vigência da Lei
8.935/94, devem ser considerados "agentes públicos", equiparados, pois, aos servidores públi-
cos típicos;
b) O poder público responderá objetivamente pelos danos que os titulares das serventias extra-
judiciais, enumerados no art. 5º da Lei 8.935/94, ou seus prepostos, nessa qualidade, causarem
a terceiros;
c) Nos termos do art. 22 dessa Lei e do § 6º, do art. 37, CF, os Notários e Registradores respon-
derão, por via de regresso, perante o Poder Público, pelos danos que eles e seus prepostos cau-
sarem a terceiros, inclusive pelos relacionados a direitos e encargos trabalhistas, nos casos de
dolo ou culpa, assegurando-se-lhes o direito de ação regressiva em face do funcionário causa-
dor direto do prejuízo;
d) Nada impede, contudo, que o prejudicado ajuíze a ação diretamente contra o titular do Car-
tório, desde que se disponha a provar-lhe a culpa "lato sensu", posto que, contra o Estado, tal
seria dispensado, bastando a demonstração do nexo de causalidade e do dono.

Nos art. 25 a 27, trata o registrador das incompatibilidades e impedimentos, estabelecendo a in-
compatibilidade para o exercício da advocacia, a intermediação de seus serviços, isto é, o agenciamento,
vedando o exercício de qualquer cargo, emprego ou função públicos, ainda que em comissão.

Art. 25. O exercício da atividade notarial e de registro é incompatível com o da advocacia, o da


intermediação de seus serviços ou o de qualquer cargo, emprego ou função públicos, ainda
que em comissão.
§ 2º A diplomação, na hipótese de mandato eletivo, e a posse, nos demais casos, implicará no
afastamento da atividade.

Art. 26. Não são acumuláveis os serviços enumerados no art. 5º.


Parágrafo único. Poderão, contudo, ser acumulados nos Municípios que não comportarem, em
razão do volume dos serviços ou da receita, a instalação de mais de um dos serviços.

Art. 27. No serviço de que é titular, o notário e o registrador não poderão praticar, pessoal-
mente, qualquer ato de seu interesse, ou de interesse de seu cônjuge ou de parentes, na linha
reta, ou na colateral, consangüíneos ou afins, até o terceiro grau.

71
REGISTROS PÚBLICOS

O art. 28 estabelece, em harmonia com outros artigos da lei, a independência dos notários e regis-
tradores no exercício de suas atribuições, carregando-lhes o direito à percepção de emolumentos e esta-
belecendo que a perda da delegação só ocorrerá nas hipóteses previstas em lei.

Art. 28. Os notários e oficiais de registro gozam de independência no exercício de suas atribui-
ções, têm direito à percepção dos emolumentos integrais pelos atos praticados na serventia e
só perderão a delegação nas hipóteses previstas em lei.

O legislador estabeleceu os direitos e deveres de notários e registradores, de forma minuciosa. To-


dos os deveres elencados não trazem novidades; alguns estavam consagrados em leis civis, outros em leis
de organização judiciária; terceiros; em leis de custas e emolumentos.

Art. 29. São direitos do notário e do registrador:


I - exercer opção, nos casos de desmembramento ou desdobramento de sua serventia;
II - organizar associações ou sindicatos de classe e deles participar.

Art. 30. São deveres dos notários e dos oficiais de registro:


I - manter em ordem os livros, papéis e documentos de sua serventia, guardando- os em locais
seguros;
II - atender as partes com eficiência, urbanidade e presteza;
III - atender prioritariamente as requisições de papéis, documentos, informações ou providên-
cias que lhes forem solicitadas pelas autoridades judiciárias ou administrativas para a defesa
das pessoas jurídicas de direito público em juízo;
IV - manter em arquivo as leis, regulamentos, resoluções, provimentos, regimentos, ordens de
serviço e quaisquer outros atos que digam respeito à sua atividade;
V - proceder de forma a dignificar a função exercida, tanto nas atividades profissionais como na
vida privada;
VI - guardar sigilo sobre a documentação e os assuntos de natureza reservada de que tenham
conhecimento em razão do exercício de sua profissão;
VII - afixar em local visível, de fácil leitura e acesso ao público, as tabelas de emolumentos em
vigor;
VIII - observar os emolumentos fixados para a prática dos atos do seu ofício;
IX - dar recibo dos emolumentos percebidos;
X - observar os prazos legais fixados para a prática dos atos do seu ofício;
XI - fiscalizar o recolhimento dos impostos incidentes sobre os atos que devem praticar;
XII - facilitar, por todos os meios, o acesso à documentação existente às pessoas legalmente
habilitadas;
XIII - encaminhar ao juízo competente as dúvidas levantadas pelos interessados, obedecida a
sistemática processual fixada pela legislação respectiva;
XIV -- observar as normas técnicas estabelecidas pelo juízo competente.

No art. 31, o legislador estabeleceu as infrações disciplinares e cominou ou enumerou as penalida-


des a que estão sujeitos notários e registradores.

São facilmente compreensíveis as infrações elencadas, devendo merecer destaque o inciso V desse
artigo, que entendeu infração disciplinar o descumprimento de todos os deveres que enumerou o art. 30.

Art. 31. São infrações disciplinares que sujeitam os notários e os oficiais de registro às penali-
dades previstas nesta lei:
I - a inobservância das prescrições legais ou normativas;
II - a conduta atentatória às instituições notariais e de registro;

72
REGISTROS PÚBLICOS

III - a cobrança indevida ou excessiva de emolumentos, ainda que sob a alegação de urgência;
IV - a violação do sigilo profissional;
V- o descumprimento de quaisquer dos deveres descritos no art. 30.

Nos art. 32 a 35 a lei tipificou as penas de tal sorte que não há mais lugar para a pena de advertên-
cia, que os administrativistas já tinham entendido não mais devesse ser aplicada, por- que imposta ver-
balmente, não poderia deixar registro.

Art. 32. Os notários e os oficiais de registro estão sujeitos, pelas infrações que praticarem, as-
segurado amplo direito de defesa, às seguintes penas:
I - repreensão;
II - multa;
III - suspensão por noventa dias, prorrogável por mais trinta;
IV - perda da delegação.

Art. 33. As penas serão aplicadas:


I - a de repreensão, no caso de falta leve;
II - a de multa, em caso de reincidência ou de infração que não configure falta mais grave;
III - a de suspensão, em caso de reiterado descumprimento dos deveres ou de falta grave.

Art. 34. As penas serão impostas pelo juízo competente, independentemente da ordem de
gradação, conforme a gravidade do fato.

No art. 35 a lei estabelece que a cassação da delegação dependerá de sentença judicial transitada
em julgado ou de decisão decorrente de processo administrativo, assegurada ampla defesa.

Art. 35. A perda da delegação dependerá:


I - de sentença judicial transitada em julgado; ou
II - de decisão decorrente de processo administrativo instaurado pelo juízo competente, asse-
gura- do amplo direito de defesa.
§ 1º Quando o caso configurar a perda da delegação, o juízo competente suspenderá o notário
ou oficial de registro, até a decisão final, e designará interventor, observando-se o disposto no
art. 36.

Art. 36. Quando, para a apuração de faltas imputadas a notários ou a oficiais de registro, for
necessário o afastamento do titular do serviço, poderá ele ser suspenso, preventivamente, pe-
lo prazo de noventa dias, prorrogável por mais trinta.
§ 1º Na hipótese do caput, o juízo competente designará interventor para responder pela ser-
ventia, quando o substituto também for acusado das faltas ou quando a medida se revelar
conveniente para os serviços.
§ 2º Durante o período de afastamento, o titular perceberá metade da renda líquida da serven-
tia; outra metade será depositada em conta bancária especial, com correção monetária.
§ 3º Absolvido o titular, receberá ele o montante dessa conta; condenado, caberá esse mon-
tante ao interventor.

Na primeira parte o legislador apenas repetiu o que já disciplina o Código Penal (art. 92) quando
prescreve como pena acessória a perda do cargo. Mas, segundo penso, por força do direito adquirido,
continuam vitalícios e só podem perder seus cargos de delegados por força ou da decisão proferida em
procedimento criminal, como pena acessória ou em ação própria, ação ordinária de perda da delegação.

Estabelece os arts. 37 e 38 e que a fiscalização será exercida pelo Juízo competente, segundo a le-
gislação dos Estados-Membros. Assim, quem exercita essa fiscalização é o Juízo ao qual a Lei de Organiza-

73
REGISTROS PÚBLICOS

ção Judiciária de cada Estado membro cometeu a competência de fazê-lo.

Lembre-se que, competente é quem a lei diz que o é e não quem pretender sê-lo. A fiscalização se
faz, de ofício, através do exercício da Corregedoria Permanente ou quando provocada por qualquer inte-
ressado.

Art. 37. A fiscalização judiciária dos atos notariais e de registro, mencionados nos artes. 6º a
13, será exercida pelo juízo competente, assim definido na órbita estadual e do Distrito Fede-
ral, sempre que necessário, ou mediante representação de qualquer interessado, quando da
inobservância de obrigação legal por parte de notário ou de oficial de registro, ou de seus pre-
postos.
Parágrafo único. Quando, em autos ou papéis de que conhecer, o Juiz verificar a existência de
cri- me de ação pública, remeterá ao Ministério Público as cópias e os documentos necessários
ao oferecimento da denúncia.

Art. 38. O juízo competente zelará para que os serviços notariais e de registro sejam prestados
com rapidez, qualidade satisfatória e de modo eficiente, podendo sugerir à autoridade compe-
tente a elaboração de planos de adequada e melhor prestação desses serviços, observados,
também, critérios populacionais e sócio- econômicos, publicados regularmente pela Fundação
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

No art. 39 são contemplados aos casos da extinção da delegação, devendo, desde logo, ser notado
que não fala o legislador na aposentadoria compulsória.

Art. 39. Extinguir-se-á a delegação a notário ou a oficial de registro por:


I - morte;
II - aposentadoria facultativa;
III - invalidez;
IV - renúncia;
V - perda, nos termos do art. 35.
VI - descumprimento, comprovado, da gratuidade estabelecida na Lei no 9.534, de 10 de de-
zembro de 1997.
§ 1º Dar-se-á aposentadoria facultativa ou por invalidez nos termos da legislação previdenciá-
ria federal.
§ 2º Extinta a delegação a notário ou a oficial de registro, a autoridade competente declarará
vago o respectivo serviço, designará o substituto mais antigo para responder pelo expediente e
abrirá concurso.

O art. 40 trata sobre a seguridade social. Antes de mais nada é preciso distinguir entre sistema pre-
videnciário e regime de trabalho. O sistema previdenciário pode ser estatal ou privado e em sendo estatal
pode ser federal (INSS) ou estadual ou, ainda municipal, tendo em vista o que dispõem os artigos 12 e 13
da Lei da Seguridade Social.

O regime de trabalho é o estatutário ou o celetista, sendo pacífica a jurisprudência dos Tribunais


do Trabalho, entre eles o Tribunal Superior do Trabalho no sentido da inexistência de um tertius genus.

Art. 40. Os notários, oficiais de registro, escreventes e auxiliares são vinculados à previdência
social, de âmbito federal, e têm assegurada a contagem recíproca de tempo de serviço em sis-
temas diversos.
Parágrafo único. Ficam assegurados, aos notários, oficiais de registro, escreventes e auxiliares
os direitos e vantagens previdenciários adquiridos até a data da publicação desta lei.

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REGISTROS PÚBLICOS

Os arts. 41 a 46 se harmonizam, perfeitamente, com os artigos 20 e 21 da Lei 8.935, possibilitando


os titulares dos serviços que, sem qualquer autorização, implantem equipamentos modernos e moderni-
zadores para a instrumentação dos seus atos, para a expedição de certidões, para a própria prática dos
atos de seu ofício. Merece destaque o art. 46 que uma vez mais determina a responsabilidade dos titula-
res pela guarda, conservação e manutenção de todos os livros, fichas, papéis, documentos.

Art. 41. Incumbe aos notários e aos oficiais de registro praticar, independentemente de autori-
zação, todos os atos previstos em lei necessários à organização e execução dos serviços, po-
dendo, ainda, adotar sistemas de computação, microfilmagem, disco ótico e outros meios de
reprodução.

Art. 42. Os papéis referentes aos serviços dos notários e dos oficiais de registro serão arquiva-
dos mediante utilização de processos que facilitem as buscas.

Art. 43. Cada serviço notarial ou de registro funcionará em um só local, vedada a instalação de
sucursal.

Art. 44. Verificada a absoluta impossibilidade de se prover, através de concurso público, a titu-
laridade de serviço notarial ou de registro, por desinteresse ou inexistência de candidatos, o ju-
ízo competente proporá à autoridade competente a extinção do serviço e a anexação de suas
atribuições ao serviço da mesma natureza mais próximo ou àquele localizado na sede do res-
pectivo Município ou de Município contíguo.
§ 2º Em cada sede municipal haverá no mínimo um registrador civil das pessoas naturais.
§ 3º Nos municípios de significativa extensão territorial, a juízo do respectivo Estado, cada sede
distrital disporá no mínimo de um registrador civil das pessoas naturais.

Art. 45. São gratuitos os assentos do registro civil de nascimento e o de óbito, bem como a
primeira certidão respectiva.
§ 1º Para os reconhecidamente pobres não serão cobrados emolumentos pelas certidões a que
se refere este artigo.
§ 2º É proibida a inserção nas certidões de que trata o § 1º deste artigo de expressões que indi-
quem condição de pobreza ou semelhantes.

Art. 46. Os livros, fichas, documentos, papéis, microfilmes e sistemas de computação deverão
permanecer sempre sob a guarda e responsabilidade do titular de serviço notarial ou de regis-
tro, que zelará por sua ordem, segurança e conservação.
Parágrafo único. Se houver necessidade de serem periciados, o exame deverá ocorrer na pró-
pria sede do serviço, em dia e hora adrede designados, com ciência do titular e autorização do
juízo competente.

Tratemos, agora, das disposições transitórias, pois a ela o legislador consagrou dos artigos 47 a 53.

TÍTULO IV
Das Disposições Transitórias
Art. 47. O notário e o oficial de registro, legalmente nomeados até 5 de outubro de 1988, de-
têm a delegação constitucional de que trata o art. 2º.

Art. 48. Os notários e os oficiais de registro poderão contratar, segundo a legislação trabalhis-
ta, seus atuais escreventes e auxiliares de investidura estatutária ou em regime especial desde
que estes aceitem a transformação de seu regime jurídico, em opção expressa, no prazo im-
prorrogável de trinta dias, contados da publicação desta lei.
§ 1º Ocorrendo opção, o tempo de serviço prestado será integralmente considerado, para to-
dos os efeitos de direito.
§ 2º Não ocorrendo opção, os escreventes e auxiliares de investidura estatutária ou em regime

75
REGISTROS PÚBLICOS

especial continuarão regidos pelas normas aplicáveis aos funcionários públicos ou pelas edita-
das pelo Tribunal de Justiça respectivo, vedadas novas admissões por qualquer desses regimes,
a partir da publicação desta lei.

Art. 49. Quando da primeira vacância da titularidade de serviço notarial ou de registro, será
procedida a desacumulação, nos termos do art. 26.

Art. 50. Em caso de vacância, os serviços notariais e de registro estatizados passarão automati-
camente ao regime desta lei.

Art. 51. Aos atuais notários e oficiais de registro, quando da aposentadoria, fica assegurado o
direi- to de percepção de proventos de acordo com a legislação que anteriormente os regia,
desde que tenham mantido as contribuições nela estipuladas até a data do deferimento do
pedido ou de sua concessão.
§ 1º O disposto neste artigo aplica-se aos escreventes e auxiliares de investidura estatutária ou
em regime especial que vierem a ser contratados em virtude da opção de que trata o art. 48.
§ 2º Os proventos de que trata este artigo serão os fixados pela legislação previdenciária aludi-
da no caput.
§ 3º O disposto neste artigo aplica-se também às pensões deixadas, por morte, pelos notários,
oficiais de registro, escreventes e auxiliares.

Art. 52. Nas unidades federativas onde já existia lei estadual específica, em vigor na data de
publicação desta lei, são competentes para a lavratura de instrumentos traslatícios de direitos
reais, procurações, reconhecimento de firmas e autenticação de cópia reprográfica os serviços
de Registro Civil das Pessoas Naturais.

Art. 53. Nos Estados cujas organizações judiciárias, vigentes à época da publicação desta lei, as-
sim previrem, continuam em vigor as determinações relativas à fixação da área territorial de
atuação dos tabeliães de protesto de títulos, a quem os títulos serão distribuídos em obediên-
cia às respectivas zonas.
Parágrafo único. Quando da primeira vacância, aplicar-se-á à espécie o disposto no parágrafo
único do art. 11.

Art. 54. Esta Lei entra em vigor na data da sua publicação.

Art. 55. Revogam-se as disposições em contrário.

 LEI Nº 7.433/85
Dispõe sobre os requisitos para a lavratura de escrituras públicas
e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1º. Na lavratura de atos notariais, inclusive os relativos a imóveis, além dos documentos de identificação
das partes, somente serão apresentados os documentos expressamente determinados nesta Lei.
§ 1º - O disposto nesta Lei se estende, onde couber, ao instrumento particular a que se refere o art. 61, da
Lei nº 4.380, de 21 de agosto de 1964, modificada pela Lei nº 5.049, de 29 de Junho de 1966.
o
§ 2 O Tabelião consignará no ato notarial a apresentação do documento comprobatório do pagamento do
Imposto de Transmissão inter vivos, as certidões fiscais e as certidões de propriedade e de ônus reais, ficando dis-
pensada sua transcrição.
§ 3º Obriga-se o Tabelião a manter, em Cartório, os documentos e certidões de que trata o parágrafo anteri-
or, no original ou em cópias autenticadas.

Art. 2º. Ficam dispensados, na escritura pública de imóveis urbanos, sua descrição e caracterização, desde
que constem, estes elementos, da certidão do Cartório do Registro de Imóveis.

76
REGISTROS PÚBLICOS

§ 1º Na hipótese prevista neste artigo, o instrumento consignará exclusivamente o número do registro ou


matrícula no Registro de Imóveis, sua completa localização, logradouro, número, bairro, cidade, Estado e os docu-
mentos e certidões constantes do § 2º do art. 1º desta mesma Lei.
§ 2º Para os fins do disposto no parágrafo único do art. 4º da Lei nº 4.591, de 16 de dezembro de 1964, modi-
ficada pela Lei nº 7.182, de 27 de março de 1984, considerar-se-á prova de quitação a declaração feita pelo alienan-
te ou seu procurador, sob as penas da Lei, a ser expressamente consignada nos instrumentos de alienação ou de
transferência de direitos.

Art. 3º. Esta Lei será aplicada, no que couber, aos casos em que o instrumento público recair sobre coisas ou
bens cuja aquisição haja sido feita através de documento não sujeito a matrícula no Registro de Imóveis.

Art. 4º. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 5º. Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, em 18 de dezembro de 1985; 164º da Independência e 97º da República.

• DECRETO Nº 93.240/86
Regulamenta a Lei nº 7.433, de 18 de dezembro de 1985, que
‘’dispõe sobre os requisitos para a lavratura de escrituras públi-
cas, e dá outras providências’’.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA , no uso das atribuições que lhe confere o artigo 81, item III, da Constituição,
DECRETA:
Art. 1º. Para a lavratura de atos notariais, relativos a imóveis, serão apresentados os seguintes documentos e
certidões:
I - os documentos de identificação das partes e das demais pessoas que comparecerem na escritura pública,
quando julgados necessários pelo Tabelião;
II - o comprovante do pagamento do Imposto sobre a Transmissão de Bens Imóveis e de Direitos a eles rela-
tivos, quando incidente sobre o ato, ressalvadas as hipóteses em que a lei autorize a efetivação do pagamento após
a sua lavratura;
III - as certidões fiscais, assim entendidas:
a) em relação aos imóveis urbanos, as certidões referentes aos tributos que incidam sobre o imóvel, obser-
vado o disposto no § 2º, deste artigo;
b) em relação aos imóveis rurais, o Certificado de Cadastro emitido pelo Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária - INCRA, com a prova de quitação do último Imposto Territorial Rural lançado ou, quando o prazo
para o seu pagamento ainda não tenha vencido, do Imposto Territorial Rural correspondente ao exercício imedia-
tamente anterior;
IV - a certidão de ações reais e pessoais reipersecutórias, relativas ao imóvel, e a de ônus reais, expedidas pe-
lo Registro de Imóveis competente, cujo prazo de validade, para este fim, será de 30 (trinta) dias;
V - os demais documentos e certidões, cuja apresentação seja exigida por lei.
§ 1º O Tabelião consignará na escritura pública a apresentação dos documentos e das certidões mencionadas
nos incisos II, III, IV e V, deste artigo.
§ 2º As certidões referidas na letra a , do inciso III, deste artigo, somente serão exigidas para a lavratura das
escrituras públicas que impliquem a transferência de domínio e a sua apresentação poderá ser dispensada pelo
adquirente que, neste caso, responderá, nos termos da lei, pelo pagamento dos débitos fiscais existentes.
§ 3º A apresentação das certidões previstas no inciso IV, deste artigo, não eximirá o outorgante da obrigação
de declarar na escritura pública, sob pena de responsabilidade civil e penal, a existência de outras ações reais e
pessoais reipersecutórias, relativas ao imóvel, e de outros ônus reais incidentes sobre o mesmo.

77
REGISTROS PÚBLICOS

Art. 2º. O Tabelião fica desobrigado de manter, em cartório, o original ou cópias autenticadas das certidões
mencionadas nos incisos III e IV, do artigo 1º, desde que transcreva na escritura pública os elementos necessários à
sua identificação, devendo, neste caso, as certidões acompanharem o traslado da escritura.

Art. 3º. Na escritura pública relativa a imóvel urbano cuja descrição e caracterização conste da certidão do
Registro de Imóveis, o instrumento poderá consignar, a critério do Tabelião, exclusivamente o número do registro
ou matrícula no Registro de Imóveis, sua completa localização, logradouro, número, bairro, cidade, Estado e os
documentos e certidões mencionados nos incisos II, III, IV e V, do artigo 1º.

Art. 4º. As disposições deste decreto aplicam-se, no que couberem, ao instrumento particular previsto
no artigo 61, da Lei nº 4.380, de 21 de agosto de 1964, modificada pela Lei nº 5.049, de 29 de junho de 1966, ao
qual se anexarão os documentos e as certidões apresentadas.

Art. 5º. Este decreto entrará em vigor na data de sua publicação.

Art. 6º. Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 9 de setembro de 1986; 165º da Independência e 98º da República.

TABELIONATO DE PROTESTO

5.1 NOÇÕES SOBRE PROTESTO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS


O regime jurídico do Protesto de Títulos e Documentos está definido na legislação federal, mais
precisamente nas Leis n. 8.935/97, 9.492/97 e Lei Complementar n. 123/06.

Assim como nos demais cargos públicos, principalmente naqueles que tratam dos diversos registros
públicos, os tabeliães e cartórios devem realizar suas funções que a legislação atribui de forma a garantir
os princípios que regem os registros públicos, quais sejam: a publicidade, a autenticidade, segurança e
eficácia dos atos jurídicos.

No que diz respeito ao protocolo, este será realizado imediatamente após a sua apresentação, o-
bedecendo à ordem cronológica de entrada, mediante recibo contendo os dados essenciais do título, se
houver mais de um Tabelionato, a emissão do recibo se dará pela distribuição (onde houver mais de um
tabelionato de protesto de títulos e documentos, será obrigatório a manutenção por parte destes de um
centro de distribuição, sendo que o envio do títulos ao cartório para o qual foi distribuído deverá ocorrer
na mesma data, adotando critérios de eqüidade na distribuição).

Havendo algum impedimento justificado para o imediato protocolo, este terá que ser feito impre-
terivelmente no prazo de vinte e quatro horas a contar do momento do protocolo, sendo que este lança-
mento deve ser feito antes da expedição da intimação, pois se o protocolo ocorrer após a emissão desta,
será automaticamente irregular.

Consistindo essas em características gerais desses Tabelionatos.

78
REGISTROS PÚBLICOS

5.2 DA RECEPÇÃO E APONTAMENTO DOS TÍTULOS.


Para o recebimento dos títulos e documentos levados a protesto, é necessária a adoção de alguns
procedimentos:

Quando do recebimento dos títulos e documentos, cabe ao Tabelião verificar se estão presentes
suas características de ordem formal, não sendo de sua competência tecer juízo de mérito a respeito de
prescrição ou caducidade, sendo que se verificada a existência de qualquer irregularidade de ordem for-
mal, os títulos e documentos serão devidamente entregues ao apresentante com os devidos apontamen-
tos especificando as irregularidades que impossibilitam o apontamento e o protesto. Além dessa situação,
o protesto também não será devidamente efetivado quando for verificada a existência de vício formal,
mesmo após o devido protocolo do título, ou ainda se houver a desistência voluntária do protesto por
parte do apresentante, sendo que por óbvio, com o pagamento do título no tabelionato, também não se
efetiva o protesto, e também por determinação judicial que determina a sustação do protesto. As letras
de Câmbio constituem-se em caso específico, pois desde que tenham circulado por endosso, não possu-
am aceite e o sacador e o beneficiário consistam na mesma pessoa, é vedado seu apontamento ou pro-
testo.

A comarca competente para se protestar ou protocolar o título é do local indicado neste e, na falta
de local determinado no título ou documento e, este local não se constituir em requisito formal deste, a
praça será a do domicílio do sacado, mas se o título também não contiver essa indicação, a praça será a
do credor, no caso de cheque a competência para lavrar-se o protesto é a do domicílio do emitente ou do
lugar do pagamento.

Para a apresentação de títulos cuja emissão se deu fora do território brasileiro e em moeda estran-
geira, é imprescindível que se faça acompanhar de tradução juramentada, devendo ambos, a tradução e o
título, serem devidamente transcritos no termo do protesto.

Já nos títulos emitidos no Brasil, mas em moeda estrangeira, deverá ser observado o Decreto- Lei
nº 857/69, que prevê quais os títulos e documentos passíveis de emissão em moeda estrangeira, para a
sua apresentação é necessária a sua conversão para a moeda nacional, uma vez que o título somente
poderá ser pago em moeda corrente nacional.

Os valores constantes dos títulos podem ser devidamente corrigidos, desde que essa correção este-
ja devidamente prevista no próprio título, considerando-se como data final para conversão a data da a-
presentação e de acordo com o valor indicado pelo apresentante.

É pressuposto essencial para o apontamento e protesto de cheque a comprovação de sua apresen-


tação ao banco e conseqüente recusa de pagamento, com exceção dos casos em que o protesto tem fina-
lidade de instruir ação contra o próprio estabelecimento de crédito, o apontamento de cheques devolvi-
dos por motivo de furto, roubo ou perda também é vedado, a não ser que tenham circulado mediante
endosso e não possuam aval, pois se houver endosso ou aval o protesto poderá ser efetivado indepen-
dente de intimação, sendo suprimido dos assentamentos o nome dos titulares da conta bancária de seus
documentos pessoais, considerando o emitente desconhecido, e em separado deverá ser elaborado índi-
ce com o nome do representante.

Segundo Lair da Silva Loureiro Filho e Claudia Regina Magalhães Loureiro, podemos dizer que:
“As duplicatas, mercantis ou de prestação de serviços, não aceitas somente poderão ser recep-
cionadas, apontadas e protestadas mediante a apresentação de documento que comprove a
venda e compra mercantil ou a efetiva prestação do serviço e o vínculo contratual que autori-
zou, respectivamente, bem como, no caso da duplicata mercantil, do comprovante da efetiva

79
REGISTROS PÚBLICOS

prestação do serviço e o vínculo contratual que a autorizou, respectivamente, bem como, no ca-
so da duplicata mercantil, do comprovante da efetiva entrega e do recebimento da mercadoria
6
que deu origem ao saque da duplicata.”

Ao apresentante do título é facultado, no que concerne às duplicatas mercantis, que a apresenta-


ção dos documentos seja substituída por simples declaração escrita, do portador do título e apresentante,
feita sob as penas da lei, assegurando que aqueles documentos originais, ou cópias devidamente autenti-
cadas, que comprovam a causa do saque, a entrega e o recebimento da mercadoria correspondente são
mantidos em seu poder, com o compromisso de exibi-los a qualquer momento que exigidos, no lugar em
que for determinado, especialmente no caso de sobrevir a sustação judicial do protesto.

Quando a duplicata contiver endosso não translativo, com a finalidade única de autorizar a cobran-
ça por terceiro com mandato do credor, a declaração pode ser feita pelo credor-endossante e pelo apre-
sentante e portador do título, devendo nela constar que o mandatário age em nome do mandante e to-
dos os atos correm por conta e risco deste, que mantém consigo os documentos para uso futuro em caso
de necessidade. Pode ainda a declaração versar por mais de uma duplicata, desde que todas estejam de-
vidamente identificadas e individualizadas.

Para a efetivação, é obrigatório a descrição dos documentos de forma resumida, ou da declaração


que veio em sua substituição, que devem constar do instrumento de protesto.

No que diz respeito à duplicata sem aceite mas que circulou sem endosso e o protesto tem a finali-
dade específica de assegurar o direito regressivo do portador contra qualquer das partes envolvidas, é
permitido a apresentação para protesto pelo portador sem a documentação exigida por lei e, sem a de-
claração substitutiva, constando da certidão, do termo e do instrumento de protesto. Nesse caso, apenas
aqueles que estão efetivamente obrigados pelo título, ou seja, aqueles que nele depositaram suas assina-
turas, proibindo-se a inclusão dos sacados que não assinaram o aceite e dos quais não há a prova da cau-
sa do saque, entrega e recebimento da mercadoria que deu origem a duplicata.

Ainda no que diz respeito as duplicatas, assim se manifestam Loureiro Filho e Loureiro:
“O nome do sacado não aceitante não constará, em qualquer hipótese, dos índices de protesto,
7
elaborando-se outro em separado, pelo nome do apresentante.”

As indicações de duplicatas mercantis poderão ser transmitidas e recepcionadas por meio magnéti-
co ou de gravação eletrônica de dados, cujas declarações substitutivas poderão ser feitas e encaminhadas
pelos mesmos meios.

Para que se retire o protesto, o prazo legal é de três dias úteis a contar da data do protocolo do tí-
tulo, excluindo-se o dia do início (protocolo) e acrescentando-se o dia do fim (vencimento). A legislação
considera dia útil todo aquele em que o expediente judicial e bancário for normal, não sendo lavrado o
protesto antes do decurso de um dia da útil data da efetiva intimação. Caso a intimação ocorra no último
dia do prazo legal, ou até mesmo após o término desse prazo por motivo de força maior, ocorrerá o pro-
testo no dia útil imediatamente posterior a este, devendo ser devidamente mencionado no título o moti-
vo do excesso de prazo.

Para que a intimação seja válida, ela deverá ser expedida pelo tabelião para ser realizada no ende-
reço fornecido pelo portador do documento, sendo devidamente cumprida quando for comprovada e
entregue neste endereço, sendo efetivada por emissário do próprio tabelião ou por outro meio idôneo e

6
LOUREIRO FILHO, Lair da Silva; LOUREIRO, Claudia Regina Magalhães. Notas e Registros Públicos. [S.l.]: Saraiva, 2004. p. 50
7
Ibid. p. 52

80
REGISTROS PÚBLICOS

do qual não paire qualquer dúvida sobre o efetivo recebimento da intimação como por exemplo por carta
com aviso de recebimento. Não havendo retorno dos avisos de recebimento no prazo legal, o tabelião
expedirá a intimação pessoal independente da intimação por outro meio.

Segundo Loureiro Filho e Loureiro, as intimações deverão conter:


“a) o nome dos devedores com seus respectivos domicílios e residências;
b) a advertência de que o pagamento do título, quando se tratar de valor superior ao corres-
pondente a quinze UFESPs, só poderá ser efetuado mediante cheque visado e cruzado, ou che-
que administrativo, no valor equivalente ao da obrigação, emitido em nome e à ordem do apre-
sentante e pagável na mesma praça, sem prejuízo dos emolumentos devidos que serão pagos
no ato e em apartado, ficando esclarecido que a quitação é condicionada à efetiva liquidação
do cheque;
c) a advertência, quando caso, de que o apontamento foi para protesto por falta de aceite, e
não de pagamento, assim intimando-se o sacado a vir a aceitar ou justificar a recusa;
d) a data para o pagamento;
e) o nome do apresentante do título;
f) a natureza do título, o número, a data da emissão, o valor e data do vencimento;
g) o endereço do tabelionato;
8
h) a data da apresentação do título e o número do respectivo protocolo.”

Sendo o protesto para garantir direito regressivo em caso de duplicata, as intimações serão feitas
apenas para as pessoas que tiverem obrigação em relação ao título e forem especificadas pelo represen-
tante, elaborando-se, contudo o índice normalmente.

As despesas decorrentes da intimação (condução) serão fixadas pelo juiz corregedor permanente,
levando em consideração as peculiaridades de cada comarca, passando ao tabelião a incumbência de
provocar a sua efetivação. Esses valores devem ter por base os valores de transporte coletivo, ou na sua
falta o menos oneroso possível. Em se tratando de intimação por via postal, o valor a ser pago será o cor-
respondente ao cobrado pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (EBCT) para a remessa da inti-
mação.

As intimações podem ainda ser efetivadas por intermédio de empresas constituídas especificamen-
te para prestar esse tipo de serviço, que para efetuarem as intimações precisam primeiramente arquivar
as procurações de seus mandatários no tabelionato de protesto de títulos competente.

Deverão ser realizadas todas as buscas necessárias à efetiva intimação do devedor, e sendo o mes-
mo encontrado e recusando-se a receber a intimação, deve ser devidamente certificado, expedindo-se,
assim como ocorre quando não há a sua localização, o edital. Lembrando ainda que a intimação por edital
ocorrerá, segundo Loureiro Filho e Loureiro (2004, p. 55-56):
“A intimação será feita por edital, ainda, se a pessoa indicada para aceitar ou pagar for desco-
nhecida, incerta ou ignorada, ou, ainda, quando for tentada a intimação pessoal no seu endere-
9
ço, desde que seja na Comarca ou numa das Comarcas agrupadas...”

Para a garantia da publicidade, os editais deverão ser divulgados por jornais locais e afixados no
próprio tabelionato, contendo todos os requisitos da intimação e também a data de sua publicação, de-
vendo posteriormente ser arquivados em ordem cronológica. A intimação não é obrigatória quando o
aceitante ou devedor tenha feito declaração no próprio título de recusa do aceite ou pagamento do título,
e tratando-se de protesto em que se constata a falência do aceitante a intimação é facultativa.

8
Ibid. p. 53
9
Ibid. p. 55-56

81
REGISTROS PÚBLICOS

5.3 DA DESISTÊNCIA E DA SUSTAÇÃO DO PROTESTO


Anteriormente a efetiva lavratura do protesto, é facultado ao apresentante desistir do protesto,
desde que pague as devidas custas, sendo que essa desistência deverá ser feita de forma expressa e por
meio de requerimento escrito, devolvendo o tabelião o título imediatamente após o protocolo do pedido,
arquivando o pedido de desistência e anotando a devolução do título no livro de protocolo.

Outro fato que pode ocorrer é a sustação judicial do protesto, ocasionando a indisponibilidade do
mesmo, uma vez que após sua sustação, o mesmo somente poderá ser protestado, pago ou retirado,
mediante expressa determinação do juízo que determinou a sua sustação.

Os mandados de sustação devem ser imediatamente cumpridos, sendo que se a decisão for trans-
mitida via fax, o tabelião cumprirá imediatamente a determinação, cabendo aos interessados, no prazo de
dois dias, apresentar o original da decisão. Não o fazendo nesse prazo, o tabelião efetivara o protesto.
Havendo necessidade de consulta ao apresentante para a materialização do ato, o protesto não será tira-
do no dia útil imediatamente posterior. Após a ordem de sustação tornar-se definitiva, será encaminhada
ao juízo competente, exceto se da decisão constar determinação diversa.

5.4 DO PAGAMENTO
Os títulos e documentos apresentados para protesto serão pagos ao tabelião no valor declarado
quando de sua apresentação, acrescido das custas decorrentes do protesto, sendo esse pagamento em
dinheiro, a não ser que o valor exceda a quinze UFESPs, quando deverá ser pago em cheque visado e cru-
zado ou cheque administrativo, nominal ao apresentante e da praça devendo as demais custas decorren-
tes serem pagas em espécie de forma individualizada. É vedada a escusa do pagamento desde que efetu-
ado no prazo legal, dentro do tabelionato em seu horário normal de funcionamento. Com o efetivo pa-
gamento, o título é imediatamente devolvido ao credor ou a quem efetuou o pagamento. Sendo a quita-
ção efetuada por meio de cheque, fica condicionada à liquidação deste e a entrega do título somente se
dará depois de efetivamente liquidado. Se o pagamento consistir de parcela da dívida, essa será devida-
mente quitada em documento separado e o original será devolvido ao apresentante. Os valores referen-
tes à quitação do título serão disponibilizados ao credor no primeiro dia útil posterior ao pagamento, me-
diante recibo. Salvo disposição legal expressa, não há juros nem tampouco comissão de permanência no
cálculo do total do débito.

5.5 DO PROTESTO

Não ocorrendo nenhuma hipótese que impeça o protesto, como o pagamento e a sustação do
mesmo, este será devidamente protestado no prazo legal, sendo entregue o respectivo instrumento ao
apresentante no dia útil imediatamente posterior a sua lavratura. Este protesto será efetivado apenas por
falta de pagamento, devolução, aceite, para fins falimentares específicos, sendo vedada sua lavratura sem
previsão expressa em lei.

A lavratura de protesto por falta de aceite somente será efetivada antes de vencida a obrigação e
dentro do prazo legal para o aceite ou a evolução, pois, após vencida a obrigação, somente poderá ser
protestado o título por falta de pagamento.

No que diz respeito à duplicata e à letra de câmbio, são pertinentes os comentários de Loureiro Fi-
lho e Loureiro:

82
REGISTROS PÚBLICOS

“Quando o sacado retiver a letra de câmbio ou a duplicata enviada para aceite além do prazo
legal, o protesto por tais fundamentos poderá ser baseado nas indicações da duplicata ou por
segunda via da letra de câmbio, vedada a exigência de qualquer formalidade não prevista na lei
que regula a emissão e circulação das duplicatas. As duplicatas mercantis e de serviços sem a-
ceite dependerão de comprovação de sua causa, da entrega e do recebimento da mercadoria,
ou da efetiva prestação do serviço e do vínculo contratual que autorizou o saque, para que se-
jam tidas como exigíveis e possam ser protestadas, na forma da Lei Federal n. 5.474, de 18 de
10
julho de 1968, com a redação dada pela Lei Federal n. 6.458, de 1º de novembro de 1977.”

Os devedores dos títulos e documentos, bem como aqueles que forem indicados como responsá-
veis pelo cumprimento das obrigações neles contidos deverão, obrigatoriamente, constar no termo de
protesto, excetuado o titular de conta corrente bancária que tenha cheques devolvidos por motivos justi-
ficáveis, como furto roubo ou perda desses títulos, cujo nome não poderá ser apontado. Bem como nos
casos em que o aceite é pressuposto de validade do título; na falta desse, é vedado o apontamento.

Para a formação do termo do protesto é necessário a observância de alguns pressupostos:


• data e número de protocolo;
• nome e endereço do apresentante;
• transcrição do título ou documento de dívida e de suas declarações, ou a reprodução das in-
dicações que tiverem sido feitas pelo apresentante;
• certidão da intimação feita e de eventual resposta;
• certidão de não haver sido encontrada ou de ser desconhecida a pessoa indicada para aceitar
ou pagar;
• indicação dos intervenientes voluntários e das firmas por eles honradas;
• aquiescência do portador do aceite por honra;
• número do documento de identificação do devedor, com seu respectivo endereço;
• data e assinatura do tabelião, seu substituto legal ou escrevente autorizado.

Havendo, no tabelionato, instrumento de reprografia ou qualquer forma de gravação eletrônica da


imagem do título, a transcrição literal é substituída por esta reprodução que passa a ser parte integrante
do documento protestado, devidamente inscrito no termo.

5.6 DOS LIVROS E ARQUIVOS


Assim como nos demais serviços registrais, o protesto de títulos e documentos mantém os livros
obrigatórios, mas além destes, possui dois livros específicos, o Livro Protocolo dos títulos e documentos
que lhe são apresentados, e o Livro de Protesto, que necessariamente possui índice. Esses livros serão
escriturados pelo tabelião, por seu substituto legal ou escrevente com a devida autorização, tudo de a-
cordo com a legislação.

O Livro Protocolo pode ser escriturado tanto manual como mecanicamente, contendo necessaria-
mente as seguintes informações: número de ordem, natureza do título ou documento de dívida, valor,
nome da pessoa que o apresenta, nome dos devedores, espécie de protesto e ocorrências. Sua escritura-
ção é obrigatoriamente diária, havendo a necessidade de diariamente se realizar o seu fechamento, la-
vrando-se o devido termo de encerramento, com o número total de títulos apresentados no dia.

10
Ibid. p. 59-60

83
REGISTROS PÚBLICOS

O livro de protesto será iniciado e encerrado pelo tabelião, por seu substituto legal ou pelo escre-
vente autorizado, com todas as folhas devidamente rubricadas e numeradas. É nesse livro que são feitos
os assentamentos dos protestos, “que será único e no qual serão lavrados os termos dos protestos especi-
ais para fins falimentares, por falta de pagamento, por falta de aceite ou de devolução”11, com todos os
elementos para a identificação do título, seu tipo e motivo do protesto.

Existem, ainda, alguns documentos que devem ser arquivados nos tabelionatos de protesto, são e-
les: as intimações; os editais; os documentos apresentados para a averbação e o cancelamento dos pro-
testos; mandados de cancelamento e de sustação de protestos; ordens de retirada de títulos pelo apre-
sentante; comprovantes de entrega de pagamento aos credores; comprovantes de devolução dos títulos
ou documentos de dívida irregulares que não possam ser apontados; documentos apresentados para a
expedição de certidões de homônimos; procurações e respectivos atos constitutivos que comprovem a
representação legal, quando outorgantes e outorgados forem pessoas jurídicas; documentos comproba-
tórios da causa das duplicatas mercantis ou de serviços, nota fiscal – fatura ou respectivo contrato de
prestação de serviço; além do comprovante da entrega e do recebimento das mercadorias, ou do respec-
tivo comprovante da prestação do serviço, conforme o caso; declarações substitutivas, devendo ser con-
servados, juntamente com os livros, pelo tabelião, pelo prazo legal, e somente podendo ser descartados
com expressa autorização do juízo corregedor, ou devidamente guardados por meio eletrônico.

5.7 DAS RETIFICAÇÕES, CANCELAMENTOS E AVERBAÇÕES


As retificações de erros materiais podem ser realizadas de ofício ou por requerimento da parte,
desde que observadas as devidas formalidades. As realizadas de ofício são pertinentes a assentamentos
específicos do serviço realizado pelo próprio ofício ou, ainda, em documentos devidamente arquivados. Já
quando a retificação for oriunda de requerimento do próprio interessado, ficará vinculada à apresentação
dos documentos que demonstrem o erro e com o eventual instrumento de protesto, além é claro, do
requerimento.

Qualquer interessado pode solicitar ao tabelionato o cancelamento do protesto, mediante a apre-


sentação do título protestado, que terá sua cópia devidamente arquivada. Tendo o cancelamento base
em pagamento e este não puder ser comprovado pelo título, poderá ser provado por declaração de anu-
ência do credor originário devidamente reconhecida a firma deste, e se tratando de endossatário, a anu-
ência será dada por este.

Quando o cancelamento se der por outro motivo que não pelo pagamento, somente ocorrerá pela
via judicial, não isentando do pagamento dos emolumentos devidos ao tabelião.

Uma vez cancelado, o protesto não mais constará de nenhuma certidão, salvo por requerimento
por escrito do próprio devedor ou por ordem judicial, devendo ainda este ser comunicado, mediante cer-
tidão a todas as entidades interessadas.

5.8 DAS INFORMAÇÕES E CERTIDÕES


Todas as informações relativas aos protestos têm caráter sigiloso. Em função disso, seu fornecimen-
to é de competência exclusiva dos tabeliães de protesto, de acordo com a legislação, Essas informações
somente poderão ser fornecidas por meio de requerimento escrito do devedor ou por determinação judi-
cial, inclusive certidões. É permitida a emissão de certidão com fins estatísticos, desde que não mencio-
nem o nome de nenhuma das partes constantes dos títulos, atendo-se exclusivamente às quantidades.

11
Ibid. p. 63

84
REGISTROS PÚBLICOS

Respondem ainda civilmente os tabeliães que por seus atos causarem prejuízos a terceiros, por culpa ou
dolo, sua ou daqueles que lhe representam na qualidade de prepostos.

As certidões individuais emitidas pelo tabelião a pedido da parte, de regra abrangerá os últimos
cinco anos, a menos que a parte especifique um protesto em especial ou solicite prazo superior, devendo
a mesma ser entregue em no máximo cinco dias úteis. No que diz respeito as certidões em forma de rela-
ção, também serão entregues em cinco dias úteis, desde que solicitadas por entidade representativa de
segmento econômico, especificando, em seu pedido, as características referentes aos nomes e documen-
tos de seu interesse.

As certidões expedidas pelo Serviço de Protesto de Títulos e outros documentos deve sempre for-
necer o nome do solicitante e seu documento de identidade; o nome do devedor, bem como seu docu-
mento de identidade ou CPF, ou CNPJ, se tratar de pessoa jurídica e o tipo de protesto, sendo expressa-
mente vedada a supressão do nome de qualquer dos devedores.

5.9 LEGISLAÇÃO
5.9.1 LEI FEDERAL N. 8.935/1994
Diz o princípio da lei n. 8.935/94 que ela regulamenta o art. 236 da Constituição Federal, dispondo
sobre serviços notariais e de registro.

A Carta Magna já contava, pois, com seis anos quando surgiu a regulamentação do art. 236, tendo
sido este um dos raros dispositivos constitucionais, dos mais de duzentos, a merecer regulamentação.

Vale transcrever o dispositivo constitucional:


Art. 236. Os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do
Poder Público.
§ 1º Lei regulará as atividades, disciplinará a responsabilidade civil e criminal dos notários, dos
oficiais de registro e de seus prepostos, e definirá a fiscalização de seus atos pelo Poder Judiciá-
rio.
§ 2º Lei federal estabelecerá normas gerais para fixação de emolumentos relativos aos atos
praticados pelos serviços notariais e de registro.
§ 3º O ingresso na atividade notarial e de registro depende de concurso público de provas e tí-
tulos, não se permitindo que qualquer serventia fique vaga, sem abertura de concurso de pro-
vimento ou de remoção, por mais de seis meses.

5.9.1.1 INCLUSÃO DOS NOTÁRIOS E REGISTRADORES COMO AGENTES PÚBLICOS


Esclarece Celso Antônio que os titulares dos serviços notariais e de registro são “particulares em co-
laboração com a administração, na condição de delegados de ofícios públicos”.

Deixa evidente a condição de “agentes públicos” desses serventuários, ao assim se expressar: “As-
sim, também os titulares de serviços notariais e de registro, embora particulares, alheios pois ao conceito
de funcionário ou servidor público (art. 236 da CF), podem ser sujeitos passivos de mandato de segurança,
porque são agentes públicos, exercem função pública delegada”.

5.9.1.2 A LEI N. 8.935/94


Art. 1º. Serviços notariais e de registro são de organização técnica e administrativa destinados a
garantir a publicidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos.

85
REGISTROS PÚBLICOS

Esse dispositivo define e conceitua quais são os serviços notariais e registrais que a Lei regulamen-
ta, dividindo-os desde logo em duas categorias, isto é, aqueles de organização técnica e outros de organi-
zação administrativa.

Invertendo o exame, principiamos pela organização administrativa. As atividades de notários e re-


gistradores se desenvolvem com a prática dos atos de cada um de tais misteres.

Esses atos, por sua própria natureza, deixam vestígios, são instrumentados nos livros de notas e de
registros, estes, por expresso permissivo legal contido na Lei 6.015/73, substituídos por fichas. Mas, sem
dúvida, tanto os atos notariais como os de registro têm como suporte a sua instrumentação, a sua docu-
mentação, em especial considerando a necessária publicidade que os cerca e que é de sua essência, à
exceção dos testamentos, enquanto não falecido o testador. Cremos que, exatamente em razão da ne-
cessidade da organização dos notários e dos serviços de registro, foi que o legislador dividiu as atividades
notariais e de registro em razão dessa função instrumental, tanto que as classificou em técnica adminis-
trativa, porque desta última resultam importantes conseqüências jurídicas.

Com efeito, não basta a boa técnica na formalização dos atos notariais ou na prática dos atos regis-
trários, se ambos não forem praticados ou em livros em fichas que estejam arquivados e mantidos segun-
do as melhores técnicas da segurança e da confiabilidade, com facilidade de reprodução, com brevidade
na sua localização através dos índices.

Toda a estrutura que deve cercar os serviços notariais e de registro, portanto, compõe a parte ad-
ministrativa de tais atos regulamentados pela Lei que examinamos, daí porque não se possa dissociar a
estrutura, a organização e o funcionamento desses serviços, da parte estritamente técnica e jurídica que,
sem dúvida, são seu objetivo principal.

E o que dizer desta organização administrativa?


Verificaremos no correr dessas anotações que vários dispositivos estão diretamente vinculados a
ela, dissociados da parte técnica da execução de tais atividades.

Assim, já o art. 4º disciplina local de instalação dos serviços, horário destinado ao atendimento dos
usuários e segurança no arquivamento dos livros e documentos.

Logo depois, os dois parágrafos desse mesmo artigo consagram dispositivos de ordem exclusiva-
mente administrativa, tornando obrigatório o plantão para o registro civil das pessoas naturais e o horário
mínimo de atendimento ao público.

Ao tratar dos prepostos, no art. 20 cuidou, sem dúvida, o legislador da estrutura administrativa, es-
tabelecendo a livre administração e gerenciamento dos serviços.

Ao cuidar, nos artigos 14 a 19, da investidura de Notários e Registradores igualmente o legislador


traçou as normas técnicas, mas administrativas, o mesmo ocorrendo quando disciplinou a responsabilida-
de civil e criminal, as incompatibilidades e impedimentos, direitos e deveres, as infrações disciplinares e
as penalidades a que estão a fiscalização pelo Poder Judiciário, a extinção da delegação, a seguridade
social.

Pouco restou - afastando-se as disposições transitórias - para as questões técnicas, ou para a orga-
nização técnica, que mereceu apenas o Título I, Capítulos I, Secções I, II e III.

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REGISTROS PÚBLICOS

Parece, portanto, que a maior preocupação do legislador foi a de cuidar da organização administra-
tiva desses serviços, de forma a que, em todo o País, se obedeçam aos mesmos regramentos, evitando-se
a disparidade até então existente, conseqüência da diversidade das leis de organização judiciária de cada
uma das unidades da Federação.

Depois de apontar a dicotomia pela Lei, tratando das questões técnicas e das administrativas, resta
a breve análise de cada um dos dispositivos que ela contemplou.

Curiosamente, parece indispensável que se examine um artigo que inexiste na Lei, porque o projeto
foi vetado pelo Exmo. Sr. Presidente da República e esse veto foi mantido pelo Congresso Nacional.

Cuidemos, agora, do exame do art. 3º:


Art. 3º. Notário, ou Tabelião, e Oficial de Registro, ou registrador, são profissionais do direito,
dotados de fé pública, a quem é delegado o exercício da atividade notarial e de registro.

O dispositivo consagra antiga reivindicação de notários e registradores, qual seja, a sua qualificação
como Profissional do Direito.

Nesse dispositivo se consagra a regulamentação que foi buscada há décadas em especial pelo notá-
rio Antonio Augusto Firmo da Silva, Tabelião em São Paulo, primeiro e único brasileiro a participar de um
Congresso Internacional do Notariado, várias vezes Presidente do Colégio Notarial do Brasil, que fundou,
Presidente, também em várias oportunidades, do Colégio Notarial de São Paulo.

Art. 4º. Os serviços notariais e de registro serão prestados, de modo eficiente e adequado, em
dias e horários estabelecidos pelo Juízo competente, atendidas as peculiaridades locais, em lo-
cal de fácil acesso ao público e que ofereça segurança para o arquivamento de livros e docu-
mentos.
§ 1º O serviço de registro civil das pessoas naturais será prestado, também, nos sábados, do-
mingos e feriados pelo sistema de plantão.
§ 2º O atendimento ao público será, no mínimo, de seis horas diárias.

O dispositivo contempla determinação não só quanto à eficiência e adequação dos serviços de que
tratamos, mas também quanto ao horário dessa prestação, conforme estabelecido pelo Juízo competen-
te, consideradas as peculiaridades locais, determinando que as serventias se estabeleçam em local de
fácil acesso ao público, e que sejam instaladas também em prédio que ofereça segurança para o arquiva-
mento de livros e documentos.

O horário de funcionamento da serventia Num primeiro passo devemos atentar para que o legisla-
dor federal estabeleceu um mínimo de horário para o atendimento do público: "SEIS HORAS".

No artigo 5º, o legislador definiu quais são os titulares dos serviços notariais e de registro e, certa-
mente para espanto de muitos, fez expressa referência aos tabeliães e oficiais de registro de contratos
marítimos. Neste artigo, o legislador se dedicou, exclusivamente aos notários e registradores, estabele-
cendo e definindo quais são os que exercem essas atividades.

Elencou todos os profissionais de direito, cujas atividades regulamentou, dizendo quem são os no-
tários e registradores no Brasil.

Art. 5º. Os titulares de serviços notariais e de registro são os:


I - tabeliães de notas;
II - tabeliães e oficiais de registro de contratos marítimos;

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REGISTROS PÚBLICOS

III - tabeliães de protesto de títulos;


IV - oficiais de registro de imóveis;
V - oficiais de registro de títulos e documentos e civis das pessoas jurídicas;
VI - oficiais de registro civis das pessoas naturais e de interdições e tutelas;
VII - oficiais de registro de distribuição.

Quanto ao art. 6º, cabe, entretanto, interpretar cada um dos dispositivos:


Art. 6º. Aos notários compete:
I - formalizar juridicamente a vontade das partes.
II - intervir nos atos e negócios jurídicos a que as partes devam ou queiram dar forma legal ou
autenticidade, autorizando a redação ou redigindo os instrumentos adequados, conservando os
originais e expedindo cópias fidedignas de seu conteúdo;
III - autenticar fatos.

A formalização, ao contrário do que possa parecer, não deve e nem pode se limitar aos atos e con-
tratos com reflexos no registro imobiliário. Em especial as transações para prevenir demandas, os acordos
de vontade formalizados, os acertos comerciais numa amplitude sem limites, podem e devem ser instru-
mentada pelo Tabelião de Notas.

Cabe ao tabelião, diante da manifestação das partes, redigir o instrumento público adequado. A
propósito, cabe dizer que, dentro da sua independência, se até então inexistente, o tabelião não estava e
nem está jungido ou obrigado a lavrar e instrumentar escrituras que ele pretende não se afeiçoem às
prescrições legais ou que contravenham princípios notariais ou registrários previamente estabelecidos.

E por derradeiro neste artigo, o que se deve entender pela atuação do notário quanto à função que
a lei n. 8.935/94 lhe conferiu no inciso III do art. 6º isto é, autenticar fatos.

Que são Fatos? "Fato. (do lat. Factu). 1- Coisa ou ação feita; sucesso; caso; acontecimento; feito. 2-
Aquilo que realmente existe, que é real. 3- Filos. V. fenômeno. * Fato Jurídico. Jur. Acontecimento de que
decorrem efeitos jurídicos, independentemente da vontade humana (por oposição do ato).

No artigo 7º, disciplinou o legislador que ao tabelião de notas compete "com exclusividade".
Art. 7º. Aos tabeliães de notas compete com exclusividade:
I - lavrar escrituras e procurações, públicas;
II - lavrar testamentos públicos e aprovar os cerrados;
III - lavrar atas notariais;
IV - reconhecer firmas;
V - autenticar cópias.
Parágrafo único. É facultado aos tabeliães de notas realizar todas as gestões e diligências neces-
sárias ou convenientes ao preparo dos atos notariais, requerendo o que couber, sem ônus mai-
ores que os emolumentos devidos pelo ato.

É sabido que a procuração é o instrumento do contrato de mandato. O mandado pode ser instru-
mentado por escrito particular, mas, em determinados casos, só pode ser formalizado por escritura públi-
ca, como, por exemplo, quando o mandante é analfabeto, quando o mandante é menor, incapaz, repre-
sentado ou assistido por seu representante legal, de seu tutor, do curador.

A tarefa do reconhecimento de firmas é curiosamente a mais difícil e a mais desmoralizada de to-


das as atividades burocráticas praticadas pelos Tabeliães de Notas do País.

São três os tipos de reconhecimento de firmas, a saber, o autêntico, o por semelhança e por abona-

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REGISTROS PÚBLICOS

ção.

O reconhecimento autêntico é que o notário pratica, por sí ou por seus prepostos, depois de identi-
ficada a parte, que assina o documento na sua presença.

O reconhecimento por semelhança é o que o tabelião pratica, por si ou por seus prepostos, medi-
ante a conferência da assinatura lançada no documento e aquela que ele detém em sua notaria, para
servir de padrão de confronto.

O reconhecimento por abonação, praticamente já não mais admitido, é aquele em que duas pesso-
as abonam a assinatura de uma terceira e o tabelião reconhece as firmas dos abonadores.

A autenticação de cópias reprográficas é tarefa que como as demais desempenhadas pelos notários
exige cautela e cuidado. Não se perca de vista que, nos grandes centros, as grandes empresas remetem
aos notários, dezenas, centenas e às vezes, até milhares de documentos para serem autenticadas as có-
pias respectivas.

Artigo 8º. É livre a escolha do tabelião de notas, qualquer que seja o domicílio das partes ou o
lugar de situação dos bens objeto do ato ou negócio.

Por esse dispositivo se estabeleceu o que a praxe já consagrara, isto é, a livre escolha, pelas partes,
do tabelião para a formalização dos atos notariais.

Art. 9º. O tabelião de notas não poderá praticar atos de seu ofício fora do Município para o qual re-
cebeu delegação.

O dispositivo também consagra a proibição do tabelião itinerante, que com o livro de notas embai-
xo do braço, se dirigia à sede da comarca (os dos municípios ou distritos), para colher assinaturas, angari-
ar clientela fora do âmbito de sua atribuição, como sempre foi muito comum. A proibição, antes existente
nas várias legislações estaduais e, mais ainda, na consciência dos fiscalizadores, agora conta com expressa
previsão legal.

O art. 10 trata dos tabeliães e oficiais de registro de contratos marítimos.

Art. 10. Aos tabeliães e oficiais de registro de contratos marítimos compete:


I - lavrar os atos, contratos e instrumentos relativos a transações de embarcações a que as par-
tes devam ou queiram dar forma legal de escritura pública;
II - registrar os documentos da mesma natureza;
III - reconhecer firmas em documentos destinados a fins de direito marítimo;
IV - expedir traslados e certidões.

O art. 11 da lei determina a competência dos tabeliães de protesto.

Art. 11. Aos tabeliães de protesto de título compete privativamente:


I - protocolar de imediato os documentos de dívida, para prova do descumprimento da obriga-
ção;
II - intimar os devedores dos títulos para aceitá-los, devolvê-los ou pagá-los, sob pena de pro-
testo;
III - receber o pagamento dos títulos protocolizados, dando quitação;
IV - lavrar o protesto, registrando o ato em livro próprio, em microfilme ou sob outra forma de

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REGISTROS PÚBLICOS

documentação;
V - acatar o pedido de desistência do protesto formulado pelo apresentante;
VI - averbar:
a) o cancelamento do protesto;
b) as alterações necessárias para atualização dos registros efetuados;
VII - expedir certidões de atos e documentos que constem de seus registros e papéis.
Parágrafo único. Havendo mais de um tabelião de protestos na mesma localidade, será obriga-
tória a prévia distribuição dos títulos.

Art. 12. Aos oficiais de registro de imóveis, de títulos e documentos e civis das pessoas jurídicas,
civis das pessoas naturais e de interdições e tutelas compete a prática dos atos relacionados na
legislação pertinente aos registros públicos, de que são incumbidos, independentemente de
prévia distribuição, mas sujeitos os oficiais de registro de imóveis e civis das pessoas naturais às
normas que definirem as circunscrições geográficas.

Quanto aos Oficiais de registros públicos, a lei remeteu sua competência para as leis ordinárias, en-
tre as quais sobreleva a Lei de Registros Públicos, estabelecendo que estão dispensados de distribuição,
mas sujeitos, os registradores da propriedade e os titulares de registro civil, à obediência à competência
estabelecida nas leis de organização judiciária, que fixa o território de cada um de tais serviços.

Art. 13. Aos oficiais de registro de distribuição compete privativamente:


I - quando previamente exigida, proceder à distribuição eqüitativa pelos serviços da mesma na-
tureza, registrando os atos praticados; em caso contrário, registrar as comunicações recebidas
dos órgãos e serviços competentes;
II - efetuar as averbações e os cancelamentos de sua competência;
III - expedir certidões de atos e documentos que constem de seus registros e papéis.

O legislador ordinário disciplinou o concurso público de provas e títulos, para o exercício da ativida-
de notarial ou de registro nos arts. 14 a 19 da Lei.

O que cabe ponderar, aqui, é que não mais podem ser (aliás, desde 1988) feitos concursos ao qual
só poderiam acorrer aqueles que já estivessem na classe ou na atividade notarial ou de registro (titulares
e escreventes ou ainda auxiliares) como ocorreu em vários Estados, inclusive no Estado de São Paulo. Não
há mais acesso nem promoção.

Os concursos são abertos a qualquer cidadão do povo que preencha os requisitos ditados pelo le-
gislador federal.

Art. 14. A delegação para o exercício da atividade notarial e de registro depende dos seguintes
requisitos:
I - habilitação em concurso público de provas e títulos;
II - nacionalidade brasileira;
III - capacidade civil;
IV - quitação com as obrigações eleitorais e militares;
V - diploma de bacharel em direito;
VI - verificação de conduta condigna para o exercício da profissão.

Art. 15. Os concursos serão realizados pelo Poder Judiciário, com a participação, em todas as
suas fases, da Ordem dos Advogados do Brasil, do Ministério Público, de um notário e de um
registrador.
§ 1º O concurso será aberto com a publicação de edital, dele constando os critérios de desem-
pate.

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REGISTROS PÚBLICOS

§ 2º Ao concurso público poderão concorrer candidatos não bacharéis em direito que tenham
completado, até a data da primeira publicação do edital do concurso de provas e títulos, dez
anos de exercício em serviço notarial ou de registro.
§ 3º (Vetado).

Art. 16. As vagas serão preenchidas alternadamente, duas terças partes por concurso público
de provas e títulos e uma terça parte por meio de remoção, mediante concurso de títulos, não
se permitindo que qualquer serventia notarial ou de registro fique vaga, sem abertura de con-
curso de provimento inicial ou de remoção, por mais de seis meses.
Parágrafo único. Para estabelecer o critério do preenchimento, tomar-se-á por base a data de
vacância da titularidade ou, quando vagas na mesma data, aquela da criação do serviço.

Art. 17. Ao concurso de remoção somente serão admitidos titulares que exerçam a atividade
por mais de dois anos.

Art. 18. A legislação estadual disporá sobre as normas e os critérios para o concurso de remo-
ção.
Parágrafo único. Aos que ingressaram por concurso, nos termos do art. 236 da Constituição Fe-
deral, ficam preservadas todas as remoções reguladas por lei estadual ou do Distrito Federal,
homologadas pelo respectivo Tribunal de Justiça, que ocorreram no período anterior à publica-
ção desta Lei.

Art. 19. Os candidatos serão declarados habilitados na rigorosa ordem de classificação no con-
curso.

Os Notários e os Oficiais de Registro poderão, para o desempenho de suas funções, contratar es-
creventes, dentre eles escolhendo os substitutos, e auxiliares como empregados, com remuneração li-
vremente ajustada e sob o regime da legislação do trabalho.

Na legislação Estadual, de cada uma das unidades da federação, havia um regramento específico
para que, alguém fosse investido nas funções de escrevente ou auxiliar.

O auxiliar se distingue do escrevente, porque ele não pratica atos de registros ou notariais: ele ape-
nas auxilia os escreventes e o Titular na prática desses atos. A diversidade da legislação dos Estados, não
permite ou não permitiu, conhecer as diferentes situações dos diversos modos de investidura dos escre-
ventes nestas funções.

Art. 20. Os notários e os oficiais de registro poderão, para o desempenho de suas funções, con-
tratar escreventes, dentre eles escolhendo os substitutos, e auxiliares como empregados, com
remuneração livremente ajustada e sob o regime da legislação do trabalho.
§ 1º Em cada serviço notarial ou de registro haverá tantos substitutos, escreventes e auxiliares
quantos forem necessários, a critério de cada notário ou oficial de registro.
§ 2º Os notários e os oficiais de registro encaminharão ao juízo competente os nomes dos subs-
titutos.
§ 3º Os escreventes poderão praticar somente os atos que o notário ou o oficial de registro au-
torizar.
§ 4º Os substitutos poderão, simultaneamente com o notário ou o oficial de registro, praticar
todos os atos que lhe sejam próprios exceto, nos tabelionatos de notas, lavrar testamentos.
§ 5º Dentre os substitutos, um deles será designado pelo notário ou oficial de registro para res-
ponder pelo respectivo serviço nas ausências e nos impedimentos do titular.

Consagrou o legislador a total liberdade de atuação dos titulares, entregando-lhes o gerenciamento

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REGISTROS PÚBLICOS

administrativo e financeiro dos serviços. Findou-se a fase em que os balancetes das serventias eram pu-
blicadas no Diário Oficial (Brasília), fiscalizados pelos Juízes Corregedores Permanentes (São Paulo, etc.),
glosando despesas, autorizando algumas, proibindo o registro de outras.

Art. 21. O gerenciamento administrativo e financeiro dos serviços notariais e de registro é da


responsabilidade exclusiva do respectivo titular, inclusive no que diz respeito às despesas de
custeio, investimento e pessoal, cabendo-lhe estabelecer normas, condições e obrigações rela-
tivas à atribuição de funções e de remuneração de seus prepostos de modo a obter a melhor
qualidade na prestação dos serviços.

Art. 22. Os notários e oficiais de registro são civilmente responsáveis por todos os prejuízos que
causarem a terceiros, por culpa ou dolo, pessoalmente, pelos substitutos que designarem ou
escreventes que autorizarem, assegurado o direito de regresso.

Art. 23. A responsabilidade civil independe da criminal.

Art. 24. A responsabilidade criminal será individualizada, aplicando-se, no que couber, a legisla-
ção relativa aos crimes contra a administração pública.
Parágrafo único. A individualização prevista no caput não exime os notários e os oficiais de re-
gistro de sua responsabilidade civil.

Acerca do disposto nos artigos, podemos concluir que:


a) Os Notários e Registradores, titulares de serventias extrajudiciais, sob a vigência da Lei n.
8.935/94, devem ser considerados “agentes públicos”, equiparados, pois, aos servidores públi-
cos típicos;

b) O poder público responderá objetivamente pelos danos que os titulares das serventias extra-
judiciais, enumerados no art. 5º da Lei n. 8.935/94, ou seus prepostos, nessa qualidade, causa-
rem a terceiros;

c) Nos termos do art. 22 dessa Lei e do § 6º, do art. 37, CF, os Notários e Registradores respon-
derão, por via de regresso, perante o Poder Público, pelos danos que eles e seus prepostos cau-
sarem a terceiros, nos casos de dolo ou culpa, assegurando-se-lhes o direito de ação regressiva
em face do funcionário causador direto do prejuízo;

d) Nada impede, contudo, que o prejudicado ajuíze a ação diretamente contra o titular do Car-
tório, desde que se disponha a provar-lhe a culpa lato sensu, posto que, contra o Estado, tal se-
ria dispensado, bastando a demonstração do nexo de causalidade e do dono.

Os arts. 25 a 27 tratam o registrador das incompatibilidades e impedimentos, estabelecendo a in-


compatibilidade para o exercício da advocacia, a intermediação de seus serviços, isto é, o agenciamento,
vedando o exercício de qualquer cargo, emprego ou função públicos, ainda que em comissão.

Art. 25. O exercício da atividade notarial e de registro é incompatível com o da advocacia, o da


intermediação de seus serviços ou o de qualquer cargo, emprego ou função públicos, ainda que
em comissão.
§ 1º (Vetado).
§ 2º A diplomação, na hipótese de mandato eletivo, e a posse, nos demais casos, implicará no
afastamento da atividade.

Art. 26. Não são acumuláveis os serviços enumerados no art. 5º.

92
REGISTROS PÚBLICOS

Parágrafo único. Poderão, contudo, ser acumulados nos Municípios que não comportarem, em
razão do volume dos serviços ou da receita, a instalação de mais de um dos serviços.

Art. 27. No serviço de que é titular, o notário e o registrador não poderão praticar, pessoalmen-
te, qualquer ato de seu interesse, ou de interesse de seu cônjuge ou de parentes, na linha reta,
ou na colateral, consangüíneos ou afins, até o terceiro grau.

O art. 28 estabelece, em harmonia com outros artigos da lei, a independência dos notários e regis-
tradores no exercício de suas atribuições, carregando-lhes o direito à percepção de emolumentos e esta-
belecendo que a perda da delegação só ocorrerá nas hipóteses previstas em lei.

Art. 28. Os notários e oficiais de registro gozam de independência no exercício de suas atribui-
ções, têm direito à percepção dos emolumentos integrais pelos atos praticados na serventia e
só perderão a delegação nas hipóteses previstas em lei.

O legislador estabeleceu os direitos e deveres de notários e registradores, de forma minuciosa. To-


dos os deveres elencados não trazem novidades; alguns estavam consagrados em leis civis, outros em leis
de organização judiciária; terceiros; em leis de custas e emolumentos.

Art. 29. São direitos do notário e do registrador:


I - exercer opção, nos casos de desmembramento ou desdobramento de sua serventia;
II - organizar associações ou sindicatos de classe e deles participar.

Art. 30. São deveres dos notários e dos oficiais de registro:


I - manter em ordem os livros, papéis e documentos de sua serventia, guardando- os em locais
seguros;
II - atender as partes com eficiência, urbanidade e presteza;
III - atender prioritariamente as requisições de papéis, documentos, informações ou providên-
cias que lhes forem solicitadas pelas autoridades judiciárias ou administrativas para a defesa
das pessoas jurídicas de direito público em juízo;
IV - manter em arquivo as leis, regulamentos, resoluções, provimentos, regimentos, ordens de
serviço e quaisquer outros atos que digam respeito à sua atividade;
V - proceder de forma a dignificar a função exercida, tanto nas atividades profissionais como na
vida privada;
VI - guardar sigilo sobre a documentação e os assuntos de natureza reservada de que tenham
conhecimento em razão do exercício de sua profissão;
VII - afixar em local visível, de fácil leitura e acesso ao público, as tabelas de emolumentos em
vigor;
VIII - observar os emolumentos fixados para a prática dos atos do seu ofício;
IX - dar recibo dos emolumentos percebidos;
X - observar os prazos legais fixados para a prática dos atos do seu ofício;
XI - fiscalizar o recolhimento dos impostos incidentes sobre os atos que devem praticar;
XII - facilitar, por todos os meios, o acesso à documentação existente às pessoas legalmente
habilitadas;
XIII - encaminhar ao juízo competente as dúvidas levantadas pelos interessados, obedecida a
sistemática processual fixada pela legislação respectiva;
XIV - observar as normas técnicas estabelecidas pelo juízo competente.

No art. 31, o legislador estabeleceu as infrações disciplinares e cominou ou enumerou as penalida-


des a que estão sujeitos notários e registradores.

São facilmente compreensíveis as infrações elencadas, devendo merecer destaque o inciso V desse

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REGISTROS PÚBLICOS

artigo, que entendeu infração disciplinar o descumprimento de todos os deveres que enumerou o art. 30.

Art. 31. São infrações disciplinares que sujeitam os notários e os oficiais de registro às penali-
dades previstas nesta lei:
I - a inobservância das prescrições legais ou normativas;
II - a conduta atentatória às instituições notariais e de registro;
III - a cobrança indevida ou excessiva de emolumentos, ainda que sob a alegação de urgência;
IV - a violação do sigilo profissional;
V - o descumprimento de quaisquer dos deveres descritos no art. 30.

Nos arts. 32 a 35, a lei tipificou as penas de tal sorte que não há mais lugar para a pena de adver-
tência, que os administrativistas já tinham entendido não mais devesse ser aplicada, porque imposta ver-
balmente, não poderia deixar registro.

Art. 32. Os notários e os oficiais de registro estão sujeitos, pelas infrações que praticarem, as-
segurado amplo direito de defesa, às seguintes penas:
I - repreensão;
II - multa;
III - suspensão por noventa dias, prorrogável por mais trinta;
IV - perda da delegação.

Art. 33. As penas serão aplicadas:


I - a de repreensão, no caso de falta leve;
II - a de multa, em caso de reincidência ou de infração que não configure falta mais grave;
III - a de suspensão, em caso de reiterado descumprimento dos deveres ou de falta grave.

Art. 34. As penas serão impostas pelo juízo competente, independentemente da ordem de gra-
dação, conforme a gravidade do fato.

No art. 35 a lei estabelece que a cassação da delegação dependerá de sentença judicial transitada
em julgado ou de decisão decorrente de processo administrativo, assegurada ampla defesa.

Art. 35. A perda da delegação dependerá:


I - de sentença judicial transitada em julgado; ou
II - de decisão decorrente de processo administrativo instaurado pelo juízo competente, asse-
gurado amplo direito de defesa.
§ 1º Quando o caso configurar a perda da delegação, o juízo competente suspenderá o notário
ou oficial de registro, até a decisão final, e designará interventor, observando-se o disposto no
art. 36.
§ 2º (Vetado).

Art. 36. Quando, para a apuração de faltas imputadas a notários ou a oficiais de registro, for
necessário o afastamento do titular do serviço, poderá ele ser suspenso, preventivamente, pelo
prazo de noventa dias, prorrogável por mais trinta.
§ 1º Na hipótese do caput, o juízo competente designará interventor para responder pela ser-
ventia, quando o substituto também for acusado das faltas ou quando a medida se revelar con-
veniente para os serviços.
§ 2º Durante o período de afastamento, o titular perceberá metade da renda líquida da serven-
tia; outra metade será depositada em conta bancária especial, com correção monetária.
§ 3º Absolvido o titular, receberá ele o montante dessa conta; condenado, caberá esse montan-
te ao interventor.

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REGISTROS PÚBLICOS

Na primeira parte o legislador apenas repetiu o que já disciplina o Código Penal (art. 92) quando
prescreve como pena acessória a perda do cargo. Mas, segundo penso, por força do direito adquirido,
continuam vitalícios e só podem perder seus cargos de delegados por força ou da decisão proferida em
procedimento criminal, como pena acessória ou em ação própria, ação ordinária de perda da delegação.

Estabelece os artigos 37 e 38 e que a fiscalização será exercida pelo Juízo competente, segundo a
legislação dos Estados-Membros. Assim, quem exercita essa fiscalização é o Juízo ao qual a Lei de Organi-
zação Judiciária de cada Estado membro cometeu a competência de fazê-lo.

Lembre-se que, competente é quem a lei diz que o é e não quem pretender sê-lo. A fiscalização se
faz, de ofício, através do exercício da Corregedoria Permanente ou quando provocada por qualquer inte-
ressado.

Art. 37. A fiscalização judiciária dos atos notariais e de registro, mencionados nos artes. 6º a 13,
será exercida pelo juízo competente, assim definido na órbita estadual e do Distrito Federal,
sempre que necessário, ou mediante representação de qualquer interessado, quando da inob-
servância de obrigação legal por parte de notário ou de oficial de registro, ou de seus prepos-
tos.
Parágrafo único. Quando, em autos ou papéis de que conhecer, o Juiz verificar a existência de
crime de ação pública, remeterá ao Ministério Público as cópias e os documentos necessários
ao oferecimento da denúncia.

Art. 38. O juízo competente zelará para que os serviços notariais e de registro sejam prestados
com rapidez, qualidade satisfatória e de modo eficiente, podendo sugerir à autoridade compe-
tente a elaboração de planos de adequada e melhor prestação desses serviços, observados,
também, critérios populacionais e sócio- econômicos, publicados regularmente pela Fundação
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

No art. 39 são contemplados aos casos da extinção da delegação, devendo, desde logo, ser notado
que não fala o legislador na aposentadoria compulsória.

Art. 39. Extinguir-se-á a delegação a notário ou a oficial de registro por:


I - morte;
II - aposentadoria facultativa;
III - invalidez;
IV - renúncia;
V - perda, nos termos do art. 35.
VI - descumprimento, comprovado, da gratuidade estabelecida na Lei nº 9.534, de 10 de de-
zembro de 1997.
§ 1º Dar-se-á aposentadoria facultativa ou por invalidez nos termos da legislação previdenciária
federal.
§ 2º Extinta a delegação a notário ou a oficial de registro, a autoridade competente declarará
vago o respectivo serviço, designará o substituto mais antigo para responder pelo expediente e
abrirá concurso.

O art. 40 trata sobre a seguridade social. Antes de mais nada é preciso distinguir entre sistema pre-
videnciário e regime de trabalho. O sistema previdenciário pode ser estatal ou privado e em sendo estatal
pode ser federal (INSS) ou estadual ou, ainda municipal, tendo em vista o que dispõem os artigos 12 e 13
da Lei da Seguridade Social.

O regime de trabalho é o estatutário ou o celetista, sendo pacífica a jurisprudência dos Tribunais do

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REGISTROS PÚBLICOS

Trabalho, entre eles o Tribunal Superior do Trabalho no sentido da inexistência de um tertius genus.

Art. 40. Os notários, oficiais de registro, escreventes e auxiliares são vinculados à previdência
social, de âmbito federal, e têm assegurada a contagem recíproca de tempo de serviço em sis-
temas diversos.
Parágrafo único. Ficam assegurados, aos notários, oficiais de registro, escreventes e auxiliares
os direitos e vantagens previdenciários adquiridos até a data da publicação desta lei.

Os arts. 41 a 46 se harmonizam, perfeitamente, com os artigos 20 e 21 da Lei 8.935, possibilitando


os titulares dos serviços que, sem qualquer autorização, implantem equipamentos modernos e moderni-
zadores para a instrumentação dos seus atos, para a expedição de certidões, para a própria prática dos
atos de seu ofício. Merece destaque o art. 46 que uma vez mais determina a responsabilidade dos titula-
res pela guarda, conservação e manutenção de todos os livros, fichas, papéis, documentos.

Art. 41. Incumbe aos notários e aos oficiais de registro praticar, independentemente de autori-
zação, todos os atos previstos em lei necessários à organização e execução dos serviços, po-
dendo, ainda, adotar sistemas de computação, microfilmagem, disco ótico e outros meios de
reprodução.

Art. 42. Os papéis referentes aos serviços dos notários e dos oficiais de registro serão arquiva-
dos mediante utilização de processos que facilitem as buscas.

Art. 43. Cada serviço notarial ou de registro funcionará em um só local, vedada a instalação de
sucursal.

Art. 44. Verificada a absoluta impossibilidade de se prover, através de concurso público, a titu-
laridade de serviço notarial ou de registro, por desinteresse ou inexistência de candidatos, o ju-
ízo competente proporá à autoridade competente a extinção do serviço e a anexação de suas
atribuições ao serviço da mesma natureza mais próximo ou àquele localizado na sede do res-
pectivo Município ou de Município contíguo.
§ 1º (Vetado).
§ 2º Em cada sede municipal haverá no mínimo um registrador civil das pessoas naturais.
§ 3º Nos municípios de significativa extensão territorial, a juízo do respectivo Estado, cada sede
distrital disporá no mínimo de um registrador civil das pessoas naturais.

Art. 45. São gratuitos os assentos do registro civil de nascimento e o de óbito, bem como a pri-
meira certidão respectiva.
§ 1º Para os reconhecidamente pobres não serão cobrados emolumentos pelas certidões a que
se refere este artigo.
§ 2º É proibida a inserção nas certidões de que trata o § 1º deste artigo de expressões que indi-
quem condição de pobreza ou semelhantes.

Art. 46. Os livros, fichas, documentos, papéis, microfilmes e sistemas de computação deverão
permanecer sempre sob a guarda e responsabilidade do titular de serviço notarial ou de regis-
tro, que zelará por sua ordem, segurança e conservação.
Parágrafo único. Se houver necessidade de serem periciados, o exame deverá ocorrer na pró-
pria sede do serviço, em dia e hora adrede designados, com ciência do titular e autorização do
juízo competente.

Tratemos, agora, das disposições transitórias.

TÍTULO IV

96
REGISTROS PÚBLICOS

Das Disposições Transitórias


Art. 47. O notário e o oficial de registro, legalmente nomeados até 5 de outubro de 1988, de-
têm a delegação constitucional de que trata o art. 2º.

Art. 48. Os notários e os oficiais de registro poderão contratar, segundo a legislação trabalhista,
seus atuais escreventes e auxiliares de investidura estatutária ou em regime especial desde que
estes aceitem a transformação de seu regime jurídico, em opção expressa, no prazo improrro-
gável de trinta dias, contados da publicação desta lei.
§ 1º Ocorrendo opção, o tempo de serviço prestado será integralmente considerado, para to-
dos os efeitos de direito.
§ 2º Não ocorrendo opção, os escreventes e auxiliares de investidura estatutária ou em regime
especial continuarão regidos pelas normas aplicáveis aos funcionários públicos ou pelas edita-
das pelo Tribunal de Justiça respectivo, vedadas novas admissões por qualquer desses regimes,
a partir da publicação desta lei.

Art. 49. Quando da primeira vacância da titularidade de serviço notarial ou de registro, será
procedida a desacumulação, nos termos do art. 26.

Art. 50. Em caso de vacância, os serviços notariais e de registro estatizados passarão automati-
camente ao regime desta lei.

Art. 51. Aos atuais notários e oficiais de registro, quando da aposentadoria, fica assegurado o
direito de percepção de proventos de acordo com a legislação que anteriormente os regia, des-
de que tenham mantido as contribuições nela estipuladas até a data do deferimento do pedido
ou de sua concessão.
§ 1º O disposto neste artigo aplica-se aos escreventes e auxiliares de investidura estatutária ou
em regime especial que vierem a ser contratados em virtude da opção de que trata o art. 48.
§ 2º Os proventos de que trata este artigo serão os fixados pela legislação previdenciária aludi-
da no caput.
§ 3º O disposto neste artigo aplica-se também às pensões deixadas, por morte, pelos notários,
oficiais de registro, escreventes e auxiliares.

Art. 52. Nas unidades federativas onde já existia lei estadual específica, em vigor na data de
publicação desta lei, são competentes para a lavratura de instrumentos traslatícios de direitos
reais, procurações, reconhecimento de firmas e autenticação de cópia reprográfica os serviços
de Registro Civil das Pessoas Naturais.

Art. 53. Nos Estados cujas organizações judiciárias, vigentes à época da publicação desta lei, as-
sim previrem, continuam em vigor as determinações relativas à fixação da área territorial de
atuação dos tabeliães de protesto de títulos, a quem os títulos serão distribuídos em obediência
às respectivas zonas.
Parágrafo único. Quando da primeira vacância, aplicar-se-á à espécie o disposto no parágrafo
único do art. 11.

Art. 54. Esta Lei entra em vigor na data da sua publicação.

Art. 55. Revogam-se as disposições em contrário.

5.9.2 LEI FEDERAL N. 9.492/1997


Define competência, regulamenta os serviços concernentes ao
protesto de títulos e outros documentos de dívida e dá outras
providências.

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REGISTROS PÚBLICOS

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
CAPÍTULO I
Da Competência e das Atribuições
Art. 1º Protesto é o ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação
originada em títulos e outros documentos de dívida.
Parágrafo único. Incluem-se entre os títulos sujeitos a protesto as certidões de dívida ativa da União, dos
Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e das respectivas autarquias e fundações públicas.

Art. 2º Os serviços concernentes ao protesto, garantidores da autenticidade, publicidade, segurança e eficá-


cia dos atos jurídicos, ficam sujeitos ao regime estabelecido nesta Lei.

Art. 3º Compete privativamente ao Tabelião de Protesto de Títulos, na tutela dos interesses públicos e priva-
dos, a protocolização, a intimação, o acolhimento da devolução ou do aceite, o recebimento do pagamento, do títu-
lo e de outros documentos de dívida, bem como lavrar e registrar o protesto ou acatar a desistência do credor em
relação ao mesmo, proceder às averbações, prestar informações e fornecer certidões relativas a todos os atos prati-
cados, na forma desta Lei.

CAPÍTULO II
Da Ordem dos Serviços
Art. 4º O atendimento ao público será, no mínimo, de seis horas diárias.

Art. 5º Todos os documentos apresentados ou distribuídos no horário regulamentar serão protocolizados


dentro de vinte e quatro horas, obedecendo à ordem cronológica de entrega.
Parágrafo único. Ao apresentante será entregue recibo com as características essenciais do título ou docu-
mento de dívida, sendo de sua responsabilidade os dados fornecidos.

Art. 6º Tratando-se de cheque, poderá o protesto ser lavrado no lugar do pagamento ou do domicílio do emi-
tente, devendo do referido cheque constar a prova de apresentação ao Banco sacado, salvo se o protesto tenha por
fim instruir medidas pleiteadas contra o estabelecimento de crédito.

CAPÍTULO III
Da Distribuição
Art. 7º Os títulos e documentos de dívida destinados a protesto somente estarão sujeitos a prévia distribui-
ção obrigatória nas localidades onde houver mais de um Tabelionato de Protesto de Títulos.
Parágrafo único. Onde houver mais de um Tabelionato de Protesto de Títulos, a distribuição será feita por um
Serviço instalado e mantido pelos próprios Tabelionatos, salvo se já existir Ofício Distribuidor organizado antes da
promulgação desta Lei.

Art. 8º Os títulos e documentos de dívida serão recepcionados, distribuídos e entregues na mesma data aos
Tabelionatos de Protesto, obedecidos os critérios de quantidade e qualidade.
Parágrafo único. Poderão ser recepcionadas as indicações a protestos das Duplicatas Mercantis e de Presta-
ção de Serviços, por meio magnético ou de gravação eletrônica de dados, sendo de inteira responsabilidade do a-
presentante os dados fornecidos, ficando a cargo dos Tabelionatos a mera instrumentalização das mesmas.

CAPÍTULO IV
Da Apresentação e Protocolização
Art. 9º Todos os títulos e documentos de dívida protocolizados serão examinados em seus caracteres formais
e terão curso se não apresentarem vícios, não cabendo ao Tabelião de Protesto investigar a ocorrência de prescrição
ou caducidade.
Parágrafo único. Qualquer irregularidade formal observada pelo Tabelião obstará o registro do protesto.

Art. 10. Poderão ser protestados títulos e outros documentos de dívida em moeda estrangeira, emitidos fora

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REGISTROS PÚBLICOS

do Brasil, desde que acompanhados de tradução efetuada por tradutor público juramentado.
§ 1º Constarão obrigatoriamente do registro do protesto a descrição do documento e sua tradução.
§ 2º Em caso de pagamento, este será efetuado em moeda corrente nacional, cumprindo ao apresentante a
conversão na data de apresentação do documento para protesto.
§ 3º Tratando-se de títulos ou documentos de dívidas emitidos no Brasil, em moeda estrangeira, cuidará o
Tabelião de observar as disposições do Decreto-lei nº 857, de 11 de setembro de 1969, e legislação complementar
ou superveniente.

Art. 11. Tratando-se de títulos ou documentos de dívida sujeitos a qualquer tipo de correção, o pagamento
será feito pela conversão vigorante no dia da apresentação, no valor indicado pelo apresentante.

CAPÍTULO V
Do Prazo
Art. 12. O protesto será registrado dentro de três dias úteis contados da protocolização do título ou docu-
mento de dívida.
§ 1º Na contagem do prazo a que se refere o caput exclui-se o dia da protocolização e inclui-se o do venci-
mento.
§ 2º Considera-se não útil o dia em que não houver expediente bancário para o público ou aquele em que es-
te não obedecer ao horário normal.

Art. 13. Quando a intimação for efetivada excepcionalmente no último dia do prazo ou além dele, por motivo
de força maior, o protesto será tirado no primeiro dia útil subseqüente.

CAPÍTULO VI
Da Intimação
Art. 14. Protocolizado o título ou documento de dívida, o Tabelião de Protesto expedirá a intimação ao deve-
dor, no endereço fornecido pelo apresentante do título ou documento, considerando-se cumprida quando compro-
vada a sua entrega no mesmo endereço.
§ 1º A remessa da intimação poderá ser feita por portador do próprio tabelião, ou por qualquer outro meio,
desde que o recebimento fique assegurado e comprovado através de protocolo, aviso de recepção (AR) ou docu-
mento equivalente.
§ 2º A intimação deverá conter nome e endereço do devedor, elementos de identificação do título ou docu-
mento de dívida, e prazo limite para cumprimento da obrigação no Tabelionato, bem como número do protocolo e
valor a ser pago.

Art. 15. A intimação será feita por edital se a pessoa indicada para aceitar ou pagar for desconhecida, sua lo-
calização incerta ou ignorada, for residente ou domiciliada fora da competência territorial do Tabelionato, ou, ainda,
ninguém se dispuser a receber a intimação no endereço fornecido pelo apresentante.
§ 1º O edital será afixado no Tabelionato de Protesto e publicado pela imprensa local onde houver jornal de
circulação diária.
§ 2º Aquele que fornecer endereço incorreto, agindo de má-fé, responderá por perdas e danos, sem prejuízo
de outras sanções civis, administrativas ou penais.

CAPÍTULO VII
Da Desistência e Sustação do Protesto
Art. 16. Antes da lavratura do protesto, poderá o apresentante retirar o título ou documento de dívida, pagos
os emolumentos e demais despesas.

Art. 17. Permanecerão no Tabelionato, à disposição do Juízo respectivo, os títulos ou documentos de dívida
cujo protesto for judicialmente sustado.
§ 1º O título do documento de dívida cujo protesto tiver sido sustado judicialmente só poderá ser pago, pro-
testado ou retirado com autorização judicial.
§ 2º Revogada a ordem de sustação, não há necessidade de se proceder a nova intimação do devedor, sendo

99
REGISTROS PÚBLICOS

a lavratura e o registro do protesto efetivados até o primeiro dia útil subseqüente ao do recebimento da revogação,
salvo se a materialização do ato depender de consulta a ser formulada ao apresentante, caso em que o mesmo pra-
zo será contado da data da resposta dada.
§ 3º Tornada definitiva a ordem de sustação, o título ou o documento de dívida será encaminhado ao Juízo
respectivo, quando não constar determinação expressa a qual das partes o mesmo deverá ser entregue, ou se de-
corridos trinta dias sem que a parte autorizada tenha comparecido no Tabelionato para retirá-lo.

Art. 18. As dúvidas do Tabelião de Protesto serão resolvidas pelo Juízo competente.

CAPÍTULO VIII
Do Pagamento
Art. 19. O pagamento do título ou do documento de dívida apresentado para protesto será feito diretamente
no Tabelionato competente, no valor igual ao declarado pelo apresentante, acrescido dos emolumentos e demais
despesas.
§ 1º Não poderá ser recusado pagamento oferecido dentro do prazo legal, desde que feito no Tabelionato de
Protesto competente e no horário de funcionamento dos serviços.
§ 2º No ato do pagamento, o Tabelionato de Protesto dará a respectiva quitação, e o valor devido será colo-
cado à disposição do apresentante no primeiro dia útil subseqüente ao do recebimento.
§ 3º Quando for adotado sistema de recebimento do pagamento por meio de cheque, ainda que de emissão
de estabelecimento bancário, a quitação dada pelo Tabelionato fica condicionada à efetiva liquidação.
§ 4º Quando do pagamento no Tabelionato ainda subsistirem parcelas vincendas, será dada quitação da par-
cela paga em apartado, devolvendo-se o original ao apresentante.

CAPÍTULO IX
Do Registro do Protesto
Art. 20. Esgotado o prazo previsto no art. 12, sem que tenham ocorrido as hipóteses dos Capítulos VII e VIII, o
Tabelião lavrará e registrará o protesto, sendo o respectivo instrumento entregue ao apresentante.

Art. 21. O protesto será tirado por falta de pagamento, de aceite ou de devolução.
§ 1º O protesto por falta de aceite somente poderá ser efetuado antes do vencimento da obrigação e após o
decurso do prazo legal para o aceite ou a devolução.
§ 2º Após o vencimento, o protesto sempre será efetuado por falta de pagamento, vedada a recusa da lavra-
tura e registro do protesto por motivo não previsto na lei cambial.
§ 3º Quando o sacado retiver a letra de câmbio ou a duplicata enviada para aceite e não proceder à devolu-
ção dentro do prazo legal, o protesto poderá ser baseado na segunda via da letra de câmbio ou nas indicações da
duplicata, que se limitarão a conter os mesmos requisitos lançados pelo sacador ao tempo da emissão da duplicata,
vedada a exigência de qualquer formalidade não prevista na Lei que regula a emissão e circulação das duplicatas.
§ 4º Os devedores, assim compreendidos os emitentes de notas promissórias e cheques, os sacados nas le-
tras de câmbio e duplicatas, bem como os indicados pelo apresentante ou credor como responsáveis pelo cumpri-
mento da obrigação, não poderão deixar de figurar no termo de lavratura e registro de protesto.
o
§ 5 Não se poderá tirar protesto por falta de pagamento de letra de câmbio contra o sacado não aceitante.

Art. 22. O registro do protesto e seu instrumento deverão conter:


I - data e número de protocolização;
II - nome do apresentante e endereço;
III - reprodução ou transcrição do documento ou das indicações feitas pelo apresentante e declarações nele
inseridas;
IV - certidão das intimações feitas e das respostas eventualmente oferecidas;
V - indicação dos intervenientes voluntários e das firmas por eles honradas;
VI - a aquiescência do portador ao aceite por honra;
VII - nome, número do documento de identificação do devedor e endereço;
VIII - data e assinatura do Tabelião de Protesto, de seus substitutos ou de Escrevente autorizado.
Parágrafo único. Quando o Tabelião de Protesto conservar em seus arquivos gravação eletrônica da imagem,

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REGISTROS PÚBLICOS

cópia reprográfica ou micrográfica do título ou documento de dívida, dispensa-se, no registro e no instrumento, a


sua transcrição literal, bem como das demais declarações nele inseridas.

Art. 23. Os termos dos protestos lavrados, inclusive para fins especiais, por falta de pagamento, de aceite ou
de devolução serão registrados em um único livro e conterão as anotações do tipo e do motivo do protesto, além
dos requisitos previstos no artigo anterior.
Parágrafo único. Somente poderão ser protestados, para fins falimentares, os títulos ou documentos de dívi-
da de responsabilidade das pessoas sujeitas às conseqüências da legislação falimentar.

Art. 24. O deferimento do processamento de concordata não impede o protesto.

CAPÍTULO X
Das Averbações e do Cancelamento
Art. 25. A averbação de retificação de erros materiais pelo serviço poderá ser efetuada de ofício ou a reque-
rimento do interessado, sob responsabilidade do Tabelião de Protesto de Títulos.
§ 1º Para a averbação da retificação será indispensável a apresentação do instrumento eventualmente expe-
dido e de documentos que comprovem o erro.
§ 2º Não são devidos emolumentos pela averbação prevista neste artigo.

Art. 26. O cancelamento do registro do protesto será solicitado diretamente no Tabelionato de Protesto de
Títulos, por qualquer interessado, mediante apresentação do documento protestado, cuja cópia ficará arquivada.
§ 1º Na impossibilidade de apresentação do original do título ou documento de dívida protestado, será exigi-
da a declaração de anuência, com identificação e firma reconhecida, daquele que figurou no registro de protesto
como credor, originário ou por endosso translativo.
§ 2º Na hipótese de protesto em que tenha figurado apresentante por endosso-mandato, será suficiente a
declaração de anuência passada pelo credor endossante.
§ 3º O cancelamento do registro do protesto, se fundado em outro motivo que não no pagamento do título
ou documento de dívida, será efetivado por determinação judicial, pagos os emolumentos devidos ao Tabelião.
§ 4º Quando a extinção da obrigação decorrer de processo judicial, o cancelamento do registro do protesto
poderá ser solicitado com a apresentação da certidão expedida pelo Juízo processante, com menção do trânsito em
julgado, que substituirá o título ou o documento de dívida protestado.
§ 5º O cancelamento do registro do protesto será feito pelo Tabelião titular, por seus Substitutos ou por Es-
crevente autorizado.
§ 6º Quando o protesto lavrado for registrado sob forma de microfilme ou gravação eletrônica, o termo do
cancelamento será lançado em documento apartado, que será arquivado juntamente com os documentos que ins-
truíram o pedido, e anotado no índice respectivo.

CAPÍTULO XI
Das Certidões e Informações do Protesto
Art. 27. O Tabelião de Protesto expedirá as certidões solicitadas dentro de cinco dias úteis, no máximo, que
abrangerão o período mínimo dos cinco anos anteriores, contados da data do pedido, salvo quando se referir a pro-
testo específico.
§ 1º As certidões expedidas pelos serviços de protesto de títulos, inclusive as relativas à prévia distribuição,
deverão obrigatoriamente indicar, além do nome do devedor, seu número no Registro Geral (R.G.), constante da
Cédula de Identidade, ou seu número no Cadastro de Pessoas Físicas (C.P.F.), se pessoa física, e o número de inscri-
ção no Cadastro Geral de Contribuintes (C.G.C.), se pessoa jurídica, cabendo ao apresentante do título para protesto
fornecer esses dados, sob pena de recusa.
§ 2º Das certidões não constarão os registros cujos cancelamentos tiverem sido averbados, salvo por reque-
rimento escrito do próprio devedor ou por ordem judicial.

Art. 28. Sempre que a homonímia puder ser verificada simplesmente pelo confronto do número de docu-
mento de identificação, o Tabelião de Protesto dará certidão negativa.

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REGISTROS PÚBLICOS

Art. 29. Os cartórios fornecerão às entidades representativas da indústria e do comércio ou àquelas vincula-
das à proteção do crédito, quando solicitada, certidão diária, em forma de relação, dos protestos tirados e dos can-
celamentos efetuados, com a nota de se cuidar de informação reservada, da qual não se poderá dar publicidade pela
imprensa, nem mesmo parcialmente.
o
§ 1 O fornecimento da certidão será suspenso caso se desatenda ao disposto no caput ou se forneçam in-
formações de protestos cancelados.
§ 2º Dos cadastros ou bancos de dados das entidades referidas no caput somente serão prestadas informa-
ções restritivas de crédito oriundas de títulos ou documentos de dívidas regularmente protestados cujos registros
não foram cancelados.

Art. 30. As certidões, informações e relações serão elaboradas pelo nome dos devedores, conforme previstos
no § 4º do art. 21 desta Lei, devidamente identificados, e abrangerão os protestos lavrados e registrados por falta de
pagamento, de aceite ou de devolução, vedada a exclusão ou omissão de nomes e de protestos, ainda que provisó-
ria ou parcial.

Art. 31. Poderão ser fornecidas certidões de protestos, não cancelados, a quaisquer interessados, desde que
requeridas por escrito.

CAPÍTULO XII
Dos Livros e Arquivos
Art. 32. O livro de Protocolo poderá ser escriturado mediante processo manual, mecânico, eletrônico ou in-
formatizado, em folhas soltas e com colunas destinadas às seguintes anotações: número de ordem, natureza do
título ou documento de dívida, valor, apresentante, devedor e ocorrências.
Parágrafo único. A escrituração será diária, constando do termo de encerramento o número de documentos
apresentados no dia, sendo a data da protocolização a mesma do termo diário do encerramento.

Art. 33. Os livros de Registros de Protesto serão abertos e encerrados pelo Tabelião de Protestos ou seus
Substitutos, ou ainda por Escrevente autorizado, com suas folhas numeradas e rubricadas.

Art. 34. Os índices serão de localização dos protestos registrados e conterão os nomes dos devedores, na
forma do § 4º do art. 21, vedada a exclusão ou omissão de nomes e de protestos, ainda que em caráter provisório
ou parcial, não decorrente do cancelamento definitivo do protesto.
§ 1º Os índices conterão referência ao livro e à folha, ao microfilme ou ao arquivo eletrônico onde estiver re-
gistrado o protesto, ou ao número do registro, e aos cancelamentos de protestos efetuados.
§ 2º Os índices poderão ser elaborados pelo sistema de fichas, microfichas ou banco eletrônico de dados.

Art. 35. O Tabelião de Protestos arquivará ainda:


I - intimações;
II - editais;
III - documentos apresentados para a averbação no registro de protestos e ordens de cancelamentos;
IV - mandados e ofícios judiciais;
V - solicitações de retirada de documentos pelo apresentante;
VI - comprovantes de entrega de pagamentos aos credores;
VII - comprovantes de devolução de documentos de dívida irregulares.
§ 1º Os arquivos deverão ser conservados, pelo menos, durante os seguintes prazos:
I - um ano, para as intimações e editais correspondentes a documentos protestados e ordens de cancelamen-
to;
II - seis meses, para as intimações e editais correspondentes a documentos pagos ou retirados além do tríduo
legal;
III - trinta dias, para os comprovantes de entrega de pagamento aos credores, para as solicitações de retirada
dos apresentantes e para os comprovantes de devolução, por irregularidade, aos mesmos, dos títulos e documentos
de dívidas.
§ 2º Para os livros e documentos microfilmados ou gravados por processo eletrônico de imagens não subsiste

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REGISTROS PÚBLICOS

a obrigatoriedade de sua conservação.


§ 3º Os mandados judiciais de sustação de protesto deverão ser conservados, juntamente com os respectivos
documentos, até solução definitiva por parte do Juízo.

Art. 36. O prazo de arquivamento é de três anos para livros de protocolo e de dez anos para os livros de regis-
tros de protesto e respectivos títulos.

CAPÍTULO XIII
Dos Emolumentos
Art. 37. Pelos atos que praticarem em decorrência desta Lei, os Tabeliães de Protesto perceberão, diretamen-
te das partes, a título de remuneração, os emolumentos fixados na forma da lei estadual e de seus decretos regula-
mentadores, salvo quando o serviço for estatizado.
§ 1º Poderá ser exigido depósito prévio dos emolumentos e demais despesas devidas, caso em que, igual im-
portância deverá ser reembolsada ao apresentante por ocasião da prestação de contas, quando ressarcidas pelo
devedor no Tabelionato.
§ 2º Todo e qualquer ato praticado pelo Tabelião de Protesto será cotado, identificando-se as parcelas com-
ponentes do seu total.
§ 3º Pelo ato de digitalização e gravação eletrônica dos títulos e outros documentos, serão cobrados os mes-
mos valores previstos na tabela de emolumentos para o ato de microfilmagem.

CAPÍTULO XIV
Disposições Finais
Art. 38. Os Tabeliães de Protesto de Títulos são civilmente responsáveis por todos os prejuízos que causarem,
por culpa ou dolo, pessoalmente, pelos substitutos que designarem ou Escreventes que autorizarem, assegurado o
direito de regresso.

Art. 39. A reprodução de microfilme ou do processamento eletrônico da imagem, do título ou de qualquer


documento arquivado no Tabelionato, quando autenticado pelo Tabelião de Protesto, por seu Substituto ou Escre-
vente autorizado, guarda o mesmo valor do original, independentemente de restauração judicial.

Art. 40. Não havendo prazo assinado, a data do registro do protesto é o termo inicial da incidência de juros,
taxas e atualizações monetárias sobre o valor da obrigação contida no título ou documento de dívida.

Art. 41. Para os serviços previstos nesta Lei os Tabeliães poderão adotar, independentemente de autorização,
sistemas de computação, microfilmagem, gravação eletrônica de imagem e quaisquer outros meios de reprodução.

Art. 42. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 43. Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, 10 de setembro de 1997; 176º da Independência e 109º da República.

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REGISTROS PÚBLICOS

REGISTRO DE IMÓVEIS

6.1 ATRIBUIÇÕES DO REGISTRO DE IMÓVEIS


As atribuições do Registro de imóveis estão descritas no art. 172 da Lei de Registros Públicos. Con-
sistem no registro e na averbação de títulos ou atos constitutivos, declaratórios, translativos e extintivos
de direitos reais sobre imóveis reconhecidos em lei, inter vivos ou mortis causa, tanto para sua constitui-
ção, transferência e extinção, como para sua validade contra terceiros ou para sua disponibilidade. Essas
são as suas funções legais.

A legislação determina que serão feitos, além da matrícula, registros e averbações de alguns atos e
negócios jurídicos.

6.1.1 DO REGISTRO
• de instituição de bem de família; de hipotecas legais, judiciais e convencionais;
• de contratos de locação de prédios nos quais tenha sido consignada cláusula de vigência no
caso de alienação da coisa locada e para fins de exercício de direito de preferência na sua aqui-
sição;
• de penhor de máquinas e de aparelhos utilizados na indústria, instalados e em funcionamen-
to, com os respectivos pertences ou sem eles;
• de penhoras, arrestos e sequestros de imóveis; de servidão em geral;
• de usufruto e uso sobre imóveis, e o da habilitação, quando não resultarem do direito de
família;
• de rendas constituídas sobre imóveis ou a ele vinculadas por disposição de última vontade;
• de contratos de compromisso de compra e venda, de cessão deste e de promessa de cessão,
com ou sem clausula de arrependimento, que tenham por objeto imóveis não loteados, cujo
preço tenha sido pago no ato de sua celebração, ou deva sê-lo a prazo, de uma só vez ou em
prestação;
• de enfiteuse;
• de anticrese;
• de convenções antenupciais; de cédulas decrédito rural;
• de cédulas de crédito industrial, à exportação e comercial;
• de contratos de penhor rural;
• de empréstimos por obrigações ao portador ou debêntures, inclusive as conversíveis em a-
ções; de incorporações, instituições e convenções de condomínio;
• de contratos de promessa de compra e venda, cessão ou promessa de cessão de unidades
autônomas condominiais a que alude a Lei 4.591/64, quando a incorporação ou a instituição de
condomínio se formalizar na vigência da Lei 6.015/73;
• de loteamentos urbanos e rurais e desmembramentos urbanos;

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REGISTROS PÚBLICOS

• de contratos de promessa de compra e venda, cessão e promessa de cessão de terrenos lo-


teados ou desmembrados na forma do Decreto-Lei 58/37, e da Lei 6.766/79;
• de citações de ações reais ou pessoais reipersecutórias, relativas a imóveis;
• de fideicomisso;
• de julgados e atos jurídicos entre vivos que dividirem imóveis ou os demarcarem, inclusive
nos casos de incorporações que resultarem em constituições de condomínio e atribuírem uma
ou mais unidades aos incorporadores;
• de sentenças que, nos inventários, arrolamentos e partilhas, adjudicarem bens de raiz em
pagamento das dívidas de herança;
• dos atos de entrega de legados de imóveis, formais de partilha e sentenças de adjudicação
em inventário ou arrolamento, quando não houver partilha;
• de arrematação e adjudicação em hasta pública;
• de dote;
• de sentenças declaratórias de usucapião;
• de compra e venda, pura e condicional;
• de permuta;
• de dação em pagamento;
• de transferência de imóvel à sociedade, quando integrar quota social;
• de doação entre vivos;
• de desapropriação amigável e sentenças que em processo de desapropriação, fixarem o va-
lor da indenização;
• de ato de tombamento definitivo de bens imóveis, requerido pelo órgão competente, fede-
ral , estadual ou municipal, do serviço de proteção ao patrimônio histórico e artístico;
• de alienação fiduciária em garantia de coisa móvel;
• da constituição de direito de superfície de imóvel urbano;
• do contrato de concessão de direito real de uso de imóvel público;
• dos termos administrativos ou das sentenças declaratórias de concessão de uso especial pa-
ra fins de moradia.

Em todos os casos acima elencados será obrigatório o registro, para que esses atos surtam todos os
seus efeitos legais, uma vez que seu efetivo registro não é facultativo, mas sim expresso em Lei, e, portan-
to, obrigatório.

6.1.2 A AVERBAÇÃO
• de convenções antenupciais e dos regimes de bens diversos do legal, nos registros referentes
a imóveis ou direitos reais pertencentes a qualquer um dos cônjuges, inclusive os adquiridos
posteriormente ao casamento;
• extinção de ônus e direitos reais, por cancelamento; contratos de promessa de compra e
venda, cessões e promessas de cessões a que alude a Lei 6.015/73; mudança de denominação e
de numeração dos prédios, edificação, reconstrução, demolição e desmembramento de imóveis;
• alteração de nome por casamento ou por separação judicial, ou, ainda, por outras circuns-

105
REGISTROS PÚBLICOS

tâncias que, de qualquer modo, tenham influência no registro e nas pessoas nele interessadas;
• ato pertinentes a unidades autônomas condominiais a que alude a Lei 4.592/64, quando a in-
corporação tiver sido formalizada anteriormente à vigência da Lei 6.015/73;
• cédulas hipotecárias;
• caução e cessão fiduciária de direitos relativos a imóveis;
• sentença de separação de dote;
• restabelecimento da sociedade conjugal;
• cláusulas de inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade impostas a imóveis,
bem como constituição de fideicomisso;
• decisões, recursos e seus efeitos, que tenham por objeto atos ou títulos registrados ou aver-
bados;
• nomes dos logradouros, decretados pelo Poder Público;
• sentenças de separação judicial, divórcio, nulidade ou anulação de casamento, quando nas
respectivas partilhas existirem imóveis ou direitos reais sujeitos a registro;
• re-ratificação do contrato de mútuo com pacto adjeto de hipoteca em favor de entidade in-
tegrante do Sistema Financeiro da Habitação, ainda que importando elevação da dívida, desde
que mantidas as mesmas partes e que inexista outra hipoteca registrada em favor de terceiros;
• contrato de locação, para os fins de exercício de direito de preferência;
• termo de Securitização de créditos imobiliários, quando submetidos a regime fiduciário; noti-
ficação para parcelamento, edificação ou utilização compulsórios de imóvel urbano; extinção da
concessão de uso especial para fins de moradia;
• extinção do direito de superfície do imóvel urbano;
• cessão de crédito imobiliário; fusão, cisão e incorporação de sociedades; arquivamento de
documentos comprobatórios de inexistência de débitos para com a Previdência Social;
• indisponibilidade dos bens que constituem reservas técnicas das Companhias Seguradoras;
• tombamento definitivo de bens imóveis promovido pelo órgão competente, federal, estadual
ou municipal, do serviço de proteção do patrimônio histórico e artístico.

O local para serem efetuados os atos é o Cartório da Comarca onde se encontra o imóvel, já a aver-
bação se dá na própria matrícula ou à margem do registro, mesmo que não faça mais parte desta circuns-
crição, e em caso de imóvel com área em comarcas adjacentes, estes serão feitos em todas estas, sendo
tal situação devidamente apontada em todos os Registros de Imóveis envolvi- dos. A designação de regis-
tro aqui adotada inclui a inscrição e a transcrição devidamente referidas na legislação civil.

Em caso de desmembramento do território em que se encontra o imóvel, desde que já devidamen-


te registrado, este não irá ser repetido na nova circunscrição.

6.1.3 DA ESCRITURAÇÃO DOS LIVROS


Nos Registros de Imóveis, existem alguns livros específicos a essa atividades registral e que mere-
cem especial atenção. Veremos as funções e as especificidades de cada um.

1. Livro de Recepção e Títulos

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REGISTROS PÚBLICOS

Segundo o disposto no art. 12, Lei 6.015/73, neste livro serão lançados os títulos apresentados para
o cálculo e averiguação dos emolumentos devidos, e que não possuam prioridade, sendo que os demais
atos podem ser registrados diretamente no Livro de Protocolo, desde que todos os títulos sejam lançados
nele. Sendo que para a recepção de títulos para simples cálculo e exame será aceito com requerimento
escrito e expresso do interessado, que deve ser devidamente arquivados, não havendo custas a serem
pagas quando do simples exame para cálculo.

Este livro deverá conter alguns elementos considerados pela legislação como imprescindíveis para a
sua organização, que será necessariamente em colunas. Segundo os autores Filho e Loureiro (2004, p.
213), são os seguintes os elementos essenciais:
a) número de ordem, que seguirá indefinidamente;
b) nome do apresentante;
c) natureza formal do título;
d) data da devolução do título;
e) data de entrega ao interessado.

Devendo o Cartório de Registro de Imóveis manter uma organização, criando mecanismos que con-
trolem a tramitação simultânea sobre um mesmo imóvel. É obrigatória a entrega de recibo dos documen-
tos, com numeração compatível com à do livro de protocolo, sendo que este recibo deverá conter neces-
sariamente, o nome do apresentante, do outorgante e outorgado, a natureza do título, o valor do depósi-
to prévio, a data em que foi expedido, a data prevista para eventual devolução do título com exigências
(máximo de 15 dias), a data prevista para a prática de ato e a data em que cessarão automaticamente os
efeitos da prenotação. O recibo-protocolo de títulos ingressados excepcionalmente na serventia apenas
para exame e cálculo deverá conter a data em que foi expedido, a data prevista para devolução e a ex-
pressa advertência de que não implica a prioridade prevista no art. 186, Lei 6.015/73. (FILHO, LOUREIRO,
2004, p. 214)

As exigências devem sempre ser claras e específicas, de forma a não deixar nenhuma dúvida, nem
sobre Seu conteúdo, muito menos sobre a sua legitimidade, expondo as razões e a pessoa que está solici-
tando.

A entrega de títulos e restituição de valores deverá ocorrer sempre mediante a entrega de com-
provante que deverá ser arquivado por um período mínimo de um ano, sendo que existe a possi- bilidade
de substituição dos Livros por fichas.

2. Livro Protocolo
Este livro tem por finalidade apontar todos os títulos que são levados ao conhecimento do Cartório
de Registro de Imóveis, com exceção daqueles tratados no item anterior: para que seja efetivado o regis-
tro de um imóvel, primeiramente precisamos levar este documento ao conhecimento do Registro, como
forma de garantir a ordem, de preferência em relação a outros títulos que possam a vir sobre o mesmo
imóvel. A legislação prevê alguns elementos necessários à escrituração do protocolo:
a) número de ordem, que seguirá indefinidamente;
b) data da apresentação, apenas no primeiro lançamento;
c) nome do apresentante;
d) natureza formal do título

107
REGISTROS PÚBLICOS

e) atos formalizados, resumidamente lançados, com menção de sua data;


f) devolução com exigência e sua data;
g) data de reingresso do título, se na vigência da prenotação.

3. Livro Registro Geral


Este livro tem por finalidade a matrícula dos imóveis e o registro ou averbação dos atos que não di-
zem respeito ao livro de registro auxiliar que estudaremos mais adiante. Importante frisar que cada imó-
vel terá sua própria matrícula, que lhe será atribuída quando do primeiro registro ou quando se tratar de
averbação que deva ser feita no antigo livro de transcrição da transmissão e não restar mais espaço neste,
bem como nos casos em que haja a fusão de um imóvel ou a requerimento expresso do proprietário do
imóvel.

4. Livro de Registro Auxiliar


Nesse livro tem a finalidade de registrar os atos que mesmo não versando sobre imóveis, por força
de lei são atribuídos a este registro. Os atos que serão registrados nesse livro são:
a) a emissão de debêntures, sem prejuízo do registro eventual e definitivo, na matrícula do imó-
vel, da hipoteca, anticrese ou penhor que abonarem especialmente tais emissões, firmando-se
pela ordem do registro a prioridade entre as séries de obrigações emitidas pela sociedade;
b) as cédulas de crédito rural, de crédito industrial, de crédito à exportação e de crédito comer-
cial, sem prejuízo da hipoteca cedular;
c) as convenções de condomínio;
d) o penhor de máquinas e de aparelhos utilizados na industria, instalados e em funcionamento,
com os respectivos pertences ou sem eles;
e) as convenções antenupciais;
f) os contratos de penhor rural;
g) os títulos que, a requerimento do interessado, forem registrados no seu inteiro teor, sem pre-
juízo do ato praticado no livro de registro geral;
h) a transcrição integral da escritura de instituição do bem de família, sem prejuízo do seu regis-
tro no livro de registro geral
i) o tombamento definitivo do imóvel.

Nesse livro os registros serão feitos de forma resumida, arquivando o cartório uma via dos docu-
mentos que lhe deram origem.

5. Livro Indicador Real


Este livro tem como finalidade servir de repositório das indicações dos imóveis, sem exceção, que
constam do Livro de Registro Geral, trazendo sua identificação e seu número de matrícula.

6. Livro Indicador Pessoal


Tem por função reunir o nome de todas as pessoas que figurarem em qualquer dos outros livros,
seja no pólo passivo, ativo, de forma direta ou indireta, fazendo referência aos seus respectivos números
de ordem.

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REGISTROS PÚBLICOS

7. Livro de Registro de Aquisição de Imóveis Rurais por Estrangeiros


Este livro possui formato e lançamentos definidos por legislação própria e servem para auxiliar no
controle de aquisição de terras no Brasil por estrangeiros, sendo uma inscrição complementar, uma vez
que não dispensa, nem tampouco substitui a inscrição no Livro de Registro Geral.

8. Livro de Registro de Indisponibilidades


Esse livro se destina ao registro dos ofícios oriundos da Corregedoria-Geral de Justiça, bem como
dos interventores e liquidantes das instituições financeiras que, passando por dificuldades, sofrem inter-
venção ou liquidação extrajudicial, em que há necessidade de comunicar-se a indisponibilidade dos bens
de seus diretores e ex-administradores.

6.1.4 DO PROCESSO DE REGISTRO


A finalidade do registro é escriturar os atos translativos ou declaratórios referentes à propriedade
dos bens imóveis e ainda os constitutivos de direitos reais, devidamente citados no art. 167, I, LRP, sendo
da sua essência a necessidade de existência de matricula prévia do imóvel. Mas a simples matrícula não é
garantia do registro, uma vez que, mesmo matriculado, não ocorrerá o registro que dependa de apresen-
tação de título anterior em respeito à continuidade dos registros.

A Lei de Registros Públicos define expressamente a forma como se processa o registro.

Todos os títulos tomarão, no Protocolo, o número de ordem que lhes competir em razão da se-
qüência rigorosa de sua apresentação.

Reproduzir-se-á, em cada título, o número de ordem respectivo e a data de sua prenotação.

O Protocolo será encerrado diariamente.

A escrituração do protocolo incumbirá tanto ao oficial titular como ao seu substituto legal, poden-
do ser feita, ainda, por escrevente auxiliar expressamente designado pelo oficial titular ou pelo seu subs-
tituto legal mediante autorização do juiz competente, ainda que os primeiros não estejam nem afastados
nem impedidos.

O número de ordem determinará a prioridade do título, e esta a preferência dos direitos reais, ain-
da que apresentados pela mesma pessoa mais de um título simultaneamente.

Em caso de permuta, e pertencendo os imóveis à mesma circunscrição, serão feitos os registros


nas matrículas correspondentes, sob um único número de ordem no Protocolo.

Protocolizado o título, proceder-se-á ao registro, dentro do prazo de 30 dias, salvo nos casos pre-
vistos nos artigos seguintes.

Apresentado título de segunda hipoteca, com referência expressa à existência de outra anterior, o
oficial, depois de prenotá-lo, aguardará durante 30 dias que os interessados na primeira promovam a
inscrição. Esgotado esse prazo, que correrá da data da prenotação, sem que seja apresentado o título
anterior, o segundo será inscrito e obterá preferência sobre aquele.

Não serão registrados, no mesmo dia, títulos pelos quais se constituam direitos reais contraditórios

109
REGISTROS PÚBLICOS

sobre o mesmo imóvel.

Prevalecerão, para efeito de prioridade de registro, quando apresentados no mesmo dia, os títulos
prenotados no Protocolo sob número de ordem mais baixo, protelando- se o registro dos apresentados
posteriormente, pelo prazo correspondente a, pelo menos, um dia útil.

O disposto nos arts. 190 e 191 não se aplica às escrituras públicas, da mesma data e apresentadas
no mesmo dia, que determinem, taxativamente, a hora da sua lavratura, prevalecendo, para efeito de
prioridade, a que foi lavrada em primeiro lugar.

O registro será feito pela simples exibição do título, sem dependência de extratos.

O título de natureza particular apresentado em uma só via será arquivado em cartório, fornecendo
o oficial, a pedido, certidão do mesmo.

Se o imóvel não estiver matriculado ou registrado em nome do outorgante, o oficial exigirá a prévia
matrícula e o registro do título anterior, qualquer que seja a sua natureza, para manter a continuidade do
registro.

A matrícula será feita à vista dos elementos constantes do título apresentado e do registro anterior
que constar do próprio cartório.

Quando o título anterior estiver registrado em outro cartório, o novo título será apresentado jun-
tamente com certidão atualizada, comprobatória do registro anterior, e da existência ou inexistência de
ônus.

6.1.5 DÚVIDA
Diante da possibilidade de vício nos documentos apresentados ao registro, a legislação prevê a
probabilidade de o oficial exigir do apresentante algumas providências, por meio de exigências, uma vez
que não solucionados ou não concordando o apresentante com as exigências impostas, poderá se socor-
rer com a declaração de dúvida.

Havendo exigência a ser satisfeita, o oficial indicá-la-á por escrito. Não se conformando o apresen-
tante com a exigência do oficial, ou não a podendo satisfazer, será o título, a seu requerimento e com a
declaração de dúvida, remetido ao juízo competente para dirimi-la, obedecendo-se ao seguinte:
a) o no Protocolo, anotará o oficial, à margem da prenotação, a ocorrência da dúvida;

b) após certificar, no título, a prenotação e a suscitação da dúvida, rubricará o oficial todas as


suas folhas;

c) em seguida, o oficial dará ciência dos termos da dúvida ao apresentante, fornecendo-lhe có-
pia da suscitação e notificando-o para impugná-la, perante o juízo competente, no prazo de 15
(quinze) dias;

d) o certificado o cumprimento do disposto no item anterior, remeter-se-ão ao juízo competen-


te, mediante carga, as razões da dúvida, acompanhadas do título.

Se o interessado não impugnar a dúvida no prazo referido no item III do artigo anterior, será ela,
ainda assim, julgada por sentença.

110
REGISTROS PÚBLICOS

Impugnada a dúvida com os documentos que o interessado apresentar, será ouvido o Ministério
Público, no prazo de dez dias.

Se não forem requeridas diligências, o juiz proferirá decisão no prazo de quinze dias, com base nos
elementos constantes dos autos.

Da sentença, poderão interpor apelação, com os efeitos devolutivo e suspensivo, o interessado, o


Ministério Público e o terceiro prejudicado.

Transitada em julgado a decisão da dúvida, proceder-se-á do seguinte modo:


a) se for julgada procedente, os documentos serão restituídos à parte, independentemente de
translado, dando-se ciência da decisão ao oficial, para que a consigne no Protocolo e cancele a
prenotação;

b) se for julgada improcedente, o interessado apresentará, de novo, os seus documentos, com o


respectivo mandado, ou certidão da sentença, que ficarão arquivados, para que, desde logo, se
proceda ao registro, declarando o oficial o fato na coluna de anotações do Protocolo.

A decisão da dúvida tem natureza administrativa e não impede o uso do processo contencioso
competente.

Cessarão automaticamente os efeitos da prenotação se, decorridos 30 dias do seu lançamento no


Protocolo, o título não tiver sido registrado por omissão do interessado em atender às exigências legais.

Se o documento, uma vez prenotado, não puder ser registrado, ou o apresentante desistir do seu
registro, a importância relativa às despesas previstas no art. 14 será restituída, deduzida a quantia cor-
respondente às buscas e a prenotação.

No processo, de dúvida, somente serão devidas custas, a serem pagas pelo interessado, quando a
dúvida for julgada procedente.

6.1.6 DAS PESSOAS


No que diz respeito ao Registro de Imóveis, não há que se falar em qualquer espécie de vedação ao
exercício dos atos de registro averbação, pois a legislação permite que qualquer pessoa realize os atos
necessários, vejamos:
a) o registro e a averbação poderão ser provocados por qualquer pessoa, incumbindo- lhe as
despesas respectivas;

b) nos atos a título gratuito, o registro pode também ser promovido pelo transferente, acompa-
nhado da prova de aceitação do beneficiado;

c) o registro do penhor rural independe do consentimento do credor hipotecário;

d) são considerados, para fins de escrituração, credores e devedores, respectivamente:


- nas servidões, o dono do prédio dominante e dono do prédio serviente;
- no uso, o usuário e o proprietário;

111
REGISTROS PÚBLICOS

- na habitação, o habitante e proprietário;


- na anticrese, o mutuante e mutuário;
- no usufruto, o usufrutuário e nu-proprietário;
- na enfiteuse, o senhorio e o enfiteuta;
- na constituição de renda, o beneficiário e o rendeiro censuário;
- na locação, o locatário e o locador;
- nas promessas de compra e venda, o promitente comprador e o promitente vendedor;
- nas penhoras e ações, o autor e o réu;
- nas cessões de direitos, o cessionário e o cedente;
- nas promessas de cessão de direitos, o promitente cessionário e o promitente cedente.

6.1.7 DOS TÍTULOS


A Lei de Registros Públicos admite apenas para registro os documentos constantes de seu art. 221,
não admitindo qualquer outro além dos enumerados neste artigo:
Art. 221. Somente são admitidos registro:
I - escrituras públicas, inclusive as lavradas em consulados brasileiros;
II - escritos particulares autorizados em lei, assinados pelas partes e testemunhas, com as fir-
mas reconhecidas, dispensado o reconhecimento quando se tratar de atos praticados por enti-
dades vinculadas ao Sistema Financeiro da Habitação;
III - atos autênticos de países estrangeiros, com força de instrumento público, legalizados e
traduzidos na forma da lei, e registrados no cartório do Registro de Títulos e Documentos, as-
sim como sentenças proferidas por tribunais estrangeiros após homologação pelo Supremo
Tribunal Federal;
IV - cartas de sentença, formais de partilha, certidões e mandados extraídos de autos de pro-
cesso.
V - contratos ou termos administrativos, assinados com a União, Estados, Municípios ou o Dis-
trito Federal, no âmbito de programas de regularização fundiária e de programas habitacionais
de interesse social, dispensado o reconhecimento de firma.

6.1.8 DA MATRÍCULA
Segundo nossa legislação vigente, a matrícula pode ser definida como um ato que individualiza o
imóvel, descrevendo-o e situando-o geograficamente. É na matricula que estão e serão escritos todo e
qualquer ato, seja de registro seja de averbação. Cada imóvel possui apenas um número de matrícula que
auxilia em sua localização.

Todo imóvel objeto de título a ser registrado deve estar matriculado no Livro nº 2 - Registro Geral -
obedecido o disposto no art. 176.

A matrícula será efetuada por ocasião do primeiro registro a ser lançado na vigência desta Lei, me-
diante os elementos constantes do título apresentado e do registro anterior nele mencionado.

Se o registro anterior foi efetuado em outra circunscrição, a matrícula será aberta com os ele- men-
tos constantes do título apresentado e da certidão atualizada daquele registro, a qual ficará arquivada em
cartório.

112
REGISTROS PÚBLICOS

Se na certidão constar ônus, o oficial fará a matrícula e, logo em seguida ao registro, averbará a e-
xistência do ônus, sua natureza e valor, certificando o fato no título que devolver à parte, o que o correrá,
também, quando o ônus estiver lançado no próprio cartório.

No preenchimento dos livros, observar-se-ão as seguintes normas:


- o no alto da face de cada folha será lançada a matrícula do imóvel, com os requisitos cons-
tantes do art. 176 e, no espaço restante e no verso, serão lançados, por ordem cronológica e
em forma narrativa, os registros e averbações dos atos pertinentes ao imóvel matriculado;

- o preenchida uma folha, será feito o transporte para a primeira folha em branco do mesmo
livro ou do livro da mesma série que estiver em uso, onde continuarão os lançamentos, com
remissões recíprocas.

Cada lançamento de registro será precedido pela letra "R" e o da averbação pelas letras "AV", se-
guindo-se o número de ordem do lançamento e o da matrícula (ex: R-1-1, R- 2-1, AV-3-1, R-4-1, AV-5-1,
etc.)

A matrícula será cancelada:


a) por decisão judicial;

b) quando em virtude de alienação parciais, o imóvel for inteiramente transferido a outros pro-
prietários;

c) pela fusão, nos termos do artigo seguinte.

Quando dois ou mais imóveis contíguos, pertencentes ao mesmo proprietário, constarem de ma-
trículas autônomas, pode ele requerer a fusão destas em uma só, de novo número, encerrando- se as
primitivas.

Podem, ainda, ser unificados, com abertura de matrícula única:


- dois ou mais imóveis constantes de transcrições anteriores a esta Lei, à margem das
quais será averbada a abertura da matrícula que os unificar;

- dois ou mais imóveis, registrados por ambos os sistemas, caso em que, nas transcrições,
será feita a averbação prevista no item anterior, as matrículas serão encerradas na forma
do artigo anterior.

Os imóveis de que trata este artigo, bem como os oriundos de desmembramentos, partilha e gle-
bas destacadas de maior porção, serão desdobrados em novas matrículas, juntamente com os ônus que
sobre eles existirem, sempre que ocorrer a transferência de uma ou mais unidades, procedendo- se, em
seguida, ao que estipula o item II do art. 233.

6.1.9 DA AVERBAÇÃO E DO CANCELAMENTO


A averbação pode ser definida como o ato responsável pela escrituração das alterações e extinções
do ato do registro, estando definidas no art. 167, II, LRP, de forma expressa e taxativa. Essas averbações
serão feitas á margem da inscrição a que se refere, ou ainda em sua transcrição ou até mesmo na matrí-
cula. Vejamos as definições legais de averbação e cancelamento.

113
REGISTROS PÚBLICOS

Além dos casos expressamente indicados no item II do art. 167, serão averbados, na matrícula, as
subrogações e outras ocorrências que, por qualquer modo, alterem o registro.

As averbações a que se referem os itens 4 e 5 do inciso II do art. 167 serão as feitas a requerimento
dos interessados, com firma reconhecida, ilustrado com documento dos interessados, com firma reco-
nhecida, instruído com documento comprobatório fornecido pela autoridade competente. A alteração do
nome só poderá ser averbada quando devidamente comprovada por certidão do Registro Civil.

Tratando-se de terra indígena com demarcação homologada, a União promoverá o registro da área
em seu nome.

Constatada, durante o processo demarcatório, a existência de domínio privado nos limites da terra
indígena, a União requererá ao Oficial de Registro a averbação, na respectiva matrícula, dessa circunstân-
cia.

As providências a que se referem os §§ 2o e 3o deste artigo deverão ser efetivadas pelo cartório,
no prazo de trinta dias, contado a partir do recebimento da solicitação de registro e averbação, sob pena
de aplicação de multa diária no valor de R$ 1.000,00 (mil reais), sem prejuízo da responsabilidade civil e
penal do Oficial de Registro.

Averbar-se-á, também, na matrícula, a declaração de indisponibilidade de bens, na forma prevista


na Lei.

O cancelamento efetuar-se-á mediante averbação, assinada pelo oficial, seu substituto legal ou es-
crevente autorizado, e declarará o motivo que o determinou, bem como o título em virtude do qual foi
feito.

O cancelamento poderá ser total ou parcial e referir-se a qualquer dos atos do registro.

Far-se-á o cancelamento:
- em cumprimento de decisão judicial transitada em julgado;

- a requerimento unânime das partes que tenham participado do ato registrado, se capazes,
com as firmas reconhecidas por tabelião;

- a requerimento do interessado, instruído com documento hábil.

O cancelamento de hipoteca só pode ser feito:


- à vista de autorização expressa ou quitação outorgada pelo credor ou seu sucessor, em ins-
trumento público ou particular;

- em razão de procedimento administrativo ou contencioso, no qual o credor tenha sido inti-


mado (art. 698 do Código de Processo Civil);

- na conformidade da legislação referente às cédulas hipotecárias.

O registro, enquanto não cancelado, produz todos os efeitos legais ainda que, por outra maneira,
se prove que o título está desfeito, anulado, extinto ou rescindido.

114
REGISTROS PÚBLICOS

Ao terceiro prejudicado é lícito, em juízo, fazer prova da extinção dos ônus, reais, e promover o
cancelamento do seu registro.

Se, cancelado o registro, subsistirem o título e os direitos dele decorrentes, poderá o credor pro-
mover novo registro, o qual só produzirá efeitos a partir da nova data.

Além dos casos previstos nesta Lei, a inscrição de incorporação ou loteamento só será cancela- da
a requerimento do incorporador ou loteador, enquanto nenhuma unidade ou lote for objeto de transa-
ção averbada, ou mediante o consentimento de todos os compromissários ou cessionários.

O cancelamento da servidão, quando o prédio dominante estiver hipotecado, só poderá ser feito
com aquiescência do credor, expressamente manifestada.

O dono do prédio serviente terá, nos termos da lei, direito a cancelar a servidão.

O foreiro poderá, nos termos da lei, averbar a renúncia de seu direito, sem dependência do con-
sentimento do senhorio direto.

O cancelamento não pode ser feito em virtude de sentença sujeita, ainda, a recurso.

6.1.10 DO BEM DE FAMÍLIA


O bem de família constitui-se na residência escolhida pela família como seu lar, sendo por força de
lei impenhorável, mas para que surta todos os seus efeitos, é necessário a sua determinação por meio de
escritura pública e consequente deve apresentá-la ao oficial do registro de imóveis em consonância com a
legislação sobre o tema.

A instituição do bem de família far-se-á por escritura pública, declarando o instituidor que determi-
nado prédio se destina a domicílio de sua família e ficará isento de execução por dívida.

Para a inscrição do bem de família, o instituidor apresentará ao oficial do registro a escritura públi-
ca de instituição, para que mande publicá-la na imprensa local e, à falta, na da Capital do Estado ou do
Território.

Se não ocorrer razão para dúvida, o oficial fará a publicação, em forma de edital, do qual constará:
- o resumo da escritura, nome, naturalidade e profissão do instituidor, data do instru-
mento e nome do tabelião que o fez, situação e característicos do prédio;

- o aviso de que, se alguém se julgar prejudicado, deverá, dentro em trinta dias, contados
da data da publicação, reclamar contra a instituição, por escrito e perante o oficial.

Findo o prazo do nº II do artigo anterior, sem que tenha havido reclamação, o oficial transcreverá a
escritura, integralmente, no livro nº 3 e fará a inscrição na competente matrícula, arquivando um exem-
plar do jornal em que a publicação houver sido feita e restituindo o instrumento ao apresentante, com a
nota da inscrição.

Se for apresentada reclamação, dela fornecerá o oficial, ao instituidor, cópia autêntica e lhe restitu-
irá a escritura, com a declaração de haver sido suspenso o registro, cancelando a prenotação.

O instituidor poderá requerer ao Juiz que ordene o registro, sem embargo da reclamação.

115
REGISTROS PÚBLICOS

Se o Juiz determinar que proceda ao registro, ressalvará ao reclamante o direito de recorrer à ação
competente para anular a instituição ou de fazer execução sobre o prédio instituído, na hipótese de tra-
tar-se de dívida anterior e cuja solução se tornou inexeqüível em virtude do ato da instituição.

O despacho do Juiz será irrecorrível e, se deferir o pedido será transcrito integralmente, juntamen-
te com o instrumento.

Quando o bem de família for instituído juntamente com a transmissão da propriedade (art. 8°, § 5º,
Decreto-Lei 3.200/41), a inscrição far-se-á imediatamente após o registro da transmissão ou, se for o ca-
so, com a matrícula.

6.1.11 DA REMIÇÃO DO IMÓVEL HIPOTECADO


A remição do imóvel hipotecado consiste na prerrogativa que o credor possui de resgatar o imóvel
dado em garantia de obrigação, possuindo direito de preferência sobre esse imóvel. A lei de registros
públicos também se preocupou com esta situação e definiu algumas regras que devem ser observadas.
São elas:
a) Para remir o imóvel hipotecado, o adquirente requererá, no prazo legal, a citação dos credo-
res hipotecários propondo, para a remição, no mínimo, o preço por que adquiriu o imóvel.

b) Se o credor, citado, não se opuser à remição, ou não comparecer, lavrar-se-á termo de paga-
mento e quitação e o Juiz ordenará, por sentença, o cancelamento de hipoteca.
- No caso de revelia, consignar-se-á o preço à custa do credor.

c) Se o credor, citado, comparecer e impugnar o preço oferecido, o Juiz mandará promover a li-
citação entre os credores hipotecários, os fiadores e o próprio adquirente, autorizando a venda
judicial a quem oferecer maior preço.
- Na licitação, será preferido, em igualdade de condições, o lanço do adquirente.
- Na falta de arrematante, o valor será o proposto pelo adquirente.

d) Arrematado o imóvel e depositado, dentro de quarenta e oito (48) horas, o respectivo preço,
o Juiz mandará cancelar a hipoteca, sub-rogando-se no produto da venda os direitos do credor
hipotecário.

e) Se o credor de segunda hipoteca, embora não vencida a dívida, requerer a remição, juntará o
título e certidão da inscrição da anterior e depositará a importância devida ao primeiro credor,
pedindo a citação deste para levantar o depósito e a do devedor para dentro do prazo de cinco
dias remir a hipoteca, sob pena de ficar o requerente sub-rogado nos direitos creditórios, sem
prejuízo dos que lhe couberem em virtude da segunda hipoteca.

f) Se o devedor não comparecer ou não remir a hipoteca, os autos serão conclusos ao Juiz para
julgar por sentença a remição pedida pelo segundo credor.

g) Se o devedor comparecer e quiser efetuar a remição, notificar-se-á o credor para receber o


preço, ficando sem efeito o depósito realizado pelo autor.

h) Se o primeiro credor estiver promovendo a execução da hipoteca, a remição, que abrangerá a


importância das custas e despesas realizadas, não se efetuará antes da primeira praça, nem de-

116
REGISTROS PÚBLICOS

pois de assinado o auto de arrematação.

i) Na remição de hipoteca legal em que haja interesse de incapaz intervirá o Ministério Público.

j) Das sentenças que julgarem o pedido de remição caberá o recurso de apelação com ambos os
efeitos.

k) Não é necessária a remição quando o credor assinar, com o vendedor, escritura de venda do
imóvel gravado.

6.1.12 DO REGISTRO TORRENS


Requerida a inscrição de imóvel rural no Registro Torrens, o oficial protocolará e autuará o reque-
rimento e documentos que o instruírem e verificará se o pedido se acha em termos de ser despachado.

O requerimento será instruído com:


- os documentos comprobatórios do domínio do requerente;

- a prova de quaisquer atos que modifiquem ou limitem a sua propriedade;

- o memorial de que constem os encargos do imóvel os nomes dos ocupantes, confrontantes,


quaisquer interessados, e a indicação das respectivas residências;

- a planta do imóvel, cuja escala poderá variar entre os limites: 01h50min (1/500) e 1:5. 000m
(1/5.000).

O levantamento da planta obedecerá às seguintes regras:


- empregar-se-ão goniômetros ou outros instrumentos de maior precisão;

- a planta será orientada segundo o mediano do lugar, determinada a declinação magnética;

- fixação dos pontos de referência necessários a verificações ulteriores e de marcos especiais,


ligados a pontos certos e estáveis nas sedes das propriedades, de maneira que a planta possa
incorporar-se à carta geral cadastral.

Às plantas serão anexados o memorial e as cadernetas das operações de campo, autenticadas pelo
agrimensor.

O imóvel sujeito a hipoteca ou ônus real não será admitido a registro sem consentimento expresso
do credor hipotecário ou da pessoa em favor de quem se tenha instituído o ônus.

Se o oficial considerar irregular o pedido ou a documentação, poderá conceder o prazo de trinta di-
as para que o interessado os regularize. Se o requerente não estiver de acordo com a exigência do oficial,
este suscitará dúvida.

Se o oficial considerar em termos o pedido, remetê-lo-á a juízo para ser despachado.

O Juiz, distribuído o pedido a um dos cartórios judiciais se entender que os documentos justificam a
propriedade do requerente, mandará expedir edital que será afixado no lugar de costume e publicado

117
REGISTROS PÚBLICOS

uma vez no órgão oficial do Estado e três vezes na imprensa local, se houver, marcando prazo não menor
de dois meses, nem maior de quatro meses para que se ofereça oposição.

O Juiz ordenará, de ofício ou a requerimento da parte, que, à custa do peticionário, se notifiquem


do requerimento as pessoas nele indicadas.

Em qualquer hipótese, será ouvido o órgão do Ministério Público, que poderá impugnar o registro
por falta de prova completa do domínio ou preterição de outra formalidade legal.

Feita a publicação do edital, a pessoa que se julgar com direito sobre o imóvel, no todo ou em par-
te, poderá contestar o pedido no prazo de quinze dias.

A contestação mencionará o nome e a residência do réu, fará a descrição exata do imóvel e indicará
os direitos reclamados e os títulos em que se fundarem.

Se não houver contestação, e se o Ministério Público não impugnar o pedido, o Juiz ordenará que
se inscreva o imóvel, que ficará, assim, submetido aos efeitos do Registro Torrens.

Se houver contestação ou impugnação, o procedimento será ordinário, cancelando-se, mediante


mandado, a prenotação.

Da sentença que deferir, ou não, o pedido, cabe o recurso de apelação, com ambos os efeitos.

Transitada em julgado a sentença que deferir o pedido, o oficial inscreverá, na matrícula, o julgado
que determinou a submissão do imóvel aos efeitos do Registro Torrens, arquivando em cartório a docu-
mentação autuada.

REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS

O registro de títulos e documentos está regulado pela Lei 6.015/73 nos arts. 127 a 166.

Tem função suplementar ou residual, praticando os registros não atribuídos aos demais serviços
(registro de imóveis, registro civil de pessoas jurídicas, registro civil de pessoas naturais).

Os títulos, documentos e papéis valem para as partes que os subscrevem, induzindo o registro a priori-
dade da data do documento em concorrência com os demais da mesma natureza não regis- trados.

São efeitos do registro em títulos e documentos:


- autenticação de data: evita o perigo da antedata, fixando a data do documento;

- validade contra terceiros: decorre da publicidade erga omnes em razão do registro;

Art. 221/CC. O instrumento particular, feito e assinado, ou somente assinado por quem esteja
na livre disposição e administração de seus bens, prova as obrigações convencionais de qual-

118
REGISTROS PÚBLICOS

quer valor; mas os seus efeitos, bem como os da cessão, não se operam, a respeito de tercei-
ros, antes de registrado no registro público.
Parágrafo único. A prova do instrumento particular pode suprir-se pelas outras de caráter legal.

- conservação: destina-se a conservar ou perpetuar o documento (é denominada transcrição fa-


cultativa conforme art. 127, VII, da Lei 6.015/73).

Art. 127. No Registro de Títulos e Documentos será feita a transcrição: (...)


VII - facultativo, de quaisquer documentos, para sua conservação.

O registro terá validade erga omnes ex tunc a partir da data da assinatura se apresentado no prazo de vin-
te dias de sua formalização e, se apresentado após tal prazo, eficácia ex nunc, operando contra terceiros a
partir da protocolização.

LEI 6.015/73
Art. 130. Dentro do prazo de vinte dias da data da sua assinatura pelas partes, todos os atos
enumerados nos arts. 127 e 129, serão registrados no domicílio das partes contratantes e,
quando residam estas em circunscrições territoriais diversas, far-se-á o registro em todas elas.
Parágrafo único. Os registros de documentos apresentados, depois de findo o prazo, produzi-
rão efeitos a partir da data da apresentação.

Os documentos de procedência estrangeira devem ser traduzidos e registrados em títulos e docu-


mentos para produzirem efeitos legais no país e para valerem contra terceiros. Para efeito apenas de
conservação ou perpetuidade podem ser registrados no original.

O serviço de títulos e documentos se presta, ainda, a notificar do registro ou da averbação os inte-


ressados que figuram no título, documento ou papel apresentado, ou a qualquer terceiro que lhe seja
indicado pelo apresentante. Por tal processo podem também ser feitos avisos, denúncias e notificações,
quando não for exigida intervenção judicial.

Relevante atribuição das serventias de títulos e documentos, as notificações em foco têm efeito
premonitório ou cautelar, e o documento deve ser registrado na íntegra. O registrador de imóveis pode
se utilizar do serviço quando a lei prevê intimações pelo registro imobiliário e faculta sejam feitas por
títulos e documentos.

As certidões do registro integral de títulos têm o mesmo valor probante dos originais, ressalvado o
incidente de falsidade destes conforme o art. 161, Lei 6.015/73, e art. 217, CC.

Art. 161. As certidões do registro integral de títulos terão o mesmo valor probante dos origi-
nais, ressalvado o incidente de falsidade destes, oportunamente levantado em juízo.

Art. 217. Terão a mesma força probante os traslados e as certidões, extraídos por tabelião ou
oficial de registro, de instrumentos ou documentos lançados em suas notas.

119
REGISTROS PÚBLICOS

REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS JURÍDICAS

O conceito de Pessoa Jurídica já foi tratado na matéria de Direito Civil

O Código Civil menciona em seus arts. 40 a 44, quem são as pessoas jurídicas de direito público e
privado:
Art. 40. As pessoas jurídicas são de direito público, interno ou externo, e de direito privado.

Art. 41. São pessoas jurídicas de direito público interno:


I - a União;
II - os Estados, o Distrito Federal e os Territórios;
III - os Municípios;
IV - as autarquias, inclusive as associações públicas;
V - as demais entidades de caráter público criadas por lei.
Parágrafo único. Salvo disposição em contrário, as pessoas jurídicas de direito público, a que se
tenha dado estrutura de direito privado, regem-se, no que couber, quanto ao seu funciona-
mento, pelas normas deste Código.

Art. 42. São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e todas as pes-
soas que forem regidas pelo direito internacional público.

Art. 43. As pessoas jurídicas de direito público interno são civilmente responsáveis por atos dos
seus agentes que nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado direito regressivo con-
tra os causadores do dano, se houver, por parte destes, culpa ou dolo.

Art. 44. São pessoas jurídicas de direito privado:


I - as associações;
II - as sociedades;
III - as fundações.
IV - as organizações religiosas;
V - os partidos políticos;
VI - as empresas individuais de responsabilidade limitada.
o
§ 1 São livres a criação, a organização, a estruturação interna e o funcionamento das organiza-
ções religiosas, sendo vedado ao poder público negar-lhes reconhecimento ou registro dos a-
tos constitutivos e necessários ao seu funcionamento.
o
§ 2 As disposições concernentes às associações aplicam-se subsidiariamente às sociedades
que são objeto do Livro II da Parte Especial deste Código.
o
§ 3 Os partidos políticos serão organizados e funcionarão conforme o disposto em lei específi-
ca.

As fundações nascem quando o seu instituidor faz, por escritura pública ou testamento, dotação
especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de admi-
nistrá-la. Sendo esta somente para constituir fins religiosos, morais, culturais ou de assistência. Assim,
logo após feita a escritura de dotação de bens, devem ser registrados no Registro Civil das Pessoas Jurídi-
cas.

Quanto às sociedades, são originadas por pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir,
com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados.

120
REGISTROS PÚBLICOS

Seria a publicidade do ato, de que esse registro trará a esta pessoa jurídica, sendo ela Pública ou
Privada, para que assim elas possam assumir obrigações, e posteriormente, adquirir direitos e deveres.

O Código Civil, em seu art.45, dispõe que “começa a existência legal das pessoas jurídicas de direito
privado com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, precedida, quando necessário, de au-
torização ou aprovação do Poder Executivo, averbando-se no registro todas as alterações por que passar
o ato constitutivo”.

E Qual Seria a Importância dos Registros Civil das Pessoas Jurídicas?


Vista a definição de pessoas jurídicas, vamos agora estudar quais as atribuições do oficial de Regis-
tro Civil das Pessoas Jurídicas, as quais de acordo com os autores Lair da Silva Loreiro Filho e Claudia Re-
gina Magalhães Loureiro (2004, p.91), seriam:
a) Registrar os contratos, os atos constitutivos, os estatutos ou compromissos das sociedades
religiosas, pias, morais, cientificas ou literais, bem como os das fundações, exceto as de direito
publico, e das associações de utilidade publica;

b) Registrar as sociedades revestidas das formas estabelecidas nas leis comerciais, com exceção
das sociedades anônimas;

c) Registrar os atos constitutivos e o estatuto dos partidos políticos;

d) Matricular jornais e demais publicações periódicas, oficinas, impressoras, empresas de radio-


difusão que mantenha serviços de noticias, reportagens , comentários , debates e entrevista , e
as empresas que tenham por objeto o agenciamento de noticias;

e) Averbar , nas respectivas inscrições e matriculas , todas as alterações supervenientes que im-
portarem em modificações das circunstâncias constantes do registro, atendidas as diligências
das leis especiais em vigor;

f) Dar certidões dos atos que praticarem em razão do ofício;

g) Registrar e autenticar livros das sociedades, exigindo a apresentação do livro anterior, com a
comprovação de, no mínimo, 50% da utilização de suas páginas, bem como uma cópia reprográ-
fica do termo de encerramento para arquivo no Serviço.

Para que sejam aceitos os registros e arquivamentos dos atos que constituem as pessoas jurídicas,
bem como seus respectivos estatutos, é imprescindível a assinatura de advogado legalmente habilitado.
Essa exigência legal estende-se, ainda, a suas emendas ou modificações.

O art. 114, Lei 6.015/73, menciona que:


Art. 114. No Registro Civil de Pessoas Jurídicas serão inscritos:
I - os contratos, os atos constitutivos, o estatuto ou compromissos das sociedades civis, religio-
sas, pias, morais, científicas ou literárias, bem como o das fundações e das associações de utili-
dade pública;
II - as sociedades civis que revestirem as formas estabelecidas nas leis comerciais, salvo as anô-
nimas.
III - os atos constitutivos e os estatutos dos partidos políticos.

Além dessas atribuições, é importante conhecermos as limitações legais dos atos que podem ser

121
REGISTROS PÚBLICOS

praticados, no que diz respeito ao Registro Civil de Pessoas Jurídicas. A lição de Loureiro Filho e Loureiro
(2004, p. 92) que diz:
a) O registro de quaisquer atos relativos às associações e sociedades, se os atos constitutivos
não estiverem registrados no mesmo Serviço;

b) Na mesma comarca, o registro de sociedades, associações e fundações, com a mesma de-


nominação;

c) A execução de serviços concernentes ao Registro do Comércio, por constituírem atribuições


exclusivas das juntas comerciais.

De acordo com Loureiro Filho e Loureiro (2004, p. 95), são requisitos para o registro de pessoa jurí-
dica: “serão apresentadas duas vias do estatuto, compromisso ou contrato, com re- conhecimento de
todas as firmas neles apostas, pelas quais far-se-á registro mediante petição do representante legal da
sociedade.”

Consta que se faz necessário, à apresentação de certos documentos e procedimentos para se obter
o registro de pessoas jurídicas, os quais são:
- O Contrato Social em 03 vias com firmas reconhecidas dos sócios, testemunhas e advogados;

- Fotocópias autenticadas da Carteira de Identidade e CPF dos sócios;

- Verificar se consta nos documentos da empresa o nome da "rua", "número", "sala"", bairro",
"cidade", "Estado" e "CEP".

- Caso objetivo social envolver atividades privativas de administrador, contabilista, economista,


advogado, etc., deve-se apresentar certidão dos respectivos conselhos regionais, como CRA,
CRC, CRE e OAB.

- Que o Capital Social terá que constar em moeda corrente no País, divisão de cotas e seu valor
unitário.
Deve constar do Contrato Social o nome do administrador, observando-se que, não havendo es-
ta menção, todos os sócios serão considerados como gerentes.
No caso da empresa ser microempresa será necessária a apresentação do formulário de enqua-
dramento como microempresa, em 03 vias, com firmas reconhecidas dos sócios. É dispensado o
visto do advogado.

VALE LEMBRAR QUE:


- Existem alguns Estados onde a prestação de serviço também pode ser registrada nas Juntas
Comerciais.

- É necessário o sócio rubricar todas as folhas do Contrato Social onde não constem as assinatu-
ras.

Quanto aos Registros de Jornais Oficinas Impressoras, Empresas de Radiodifusão e Agências de No-
tícias, o art. 122, Lei 6.015/73, dispõe que:
Art. 122. No registro civil das pessoas jurídicas serão matriculados:

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REGISTROS PÚBLICOS

I - os jornais e demais publicações periódicas;


II - as oficinas impressoras de quaisquer natureza, pertencentes a pessoas naturais ou jurídicas;
III - as empresas de radiodifusão que mantenham serviços de notícias, reportagens, comentá-
rios, debates e entrevistas;
IV - as empresas que tenham por objeto o agenciamento de notícias.

Ressaltando, ainda, para melhor aprendizagem que existem as informações necessárias para ma-
trícula de determinadas empresas, as quais são:

I - JORNAIS OU OUTRAS PUBLICAÇÕES PERIÓDICAS


a) título do jornal ou periódico, sede da redação, administração e oficinas impressoras, esclare-
cendo, quanto a estas, se são próprias ou de terceiros, e indicando, neste caso, os respectivos
proprietários;

b) nome, idade, residência e prova da nacionalidade do diretor ou redator-chefe;

c) nome, idade, residência e prova da nacionalidade do proprietário;

d) se propriedade de pessoa jurídica, exemplar do respectivo estatuto ou contrato social e no-


me, idade, residência e prova de nacionalidade dos diretores, gerentes e sócios da pessoa jurí-
dica proprietária.

II - OFICINAS IMPRESSORAS
a) nome, nacionalidade, idade e residência do gerente e do proprietário, se pessoa natural;

b) sede da administração, lugar, rua e número onde funcionam as oficinas e denominação des-
tas;

c) exemplar do contrato ou estatuto social, se pertencentes a pessoa jurídica.

III - EMPRESAS DE RADIODIFUSÃO


a) designação da emissora, sede de sua administração e local das instalações do estúdio;

b) nome, idade, residência e prova de nacionalidade do diretor ou redator-chefe responsável


pelos serviços de notícias, reportagens, comentários, debates e entrevistas.

IV - EMPRESAS NOTICIOSAS
a) nome, nacionalidade, idade e residência do gerente e do proprietário, se pessoa natural;

b) sede da administração;

c) exemplar do contrato ou estatuto social, se pessoa jurídica.

123
REGISTROS PÚBLICOS

5.1 LEGISLAÇÃO CORRELATA


5.1.1 LEI FEDERAL 6.015/73
TÍTULO III
Do Registro Civil de Pessoas Jurídicas
CAPÍTULO I
Da Escrituração
Art. 114. No Registro Civil de Pessoas Jurídicas serão inscritos:
I - os contratos, os atos constitutivos, o estatuto ou compromissos das sociedades civis, religiosas, pi-
as, morais, científicas ou literárias, bem como o das fundações e das associações de utilidade pública;
II - as sociedades civis que revestirem as formas estabelecidas nas leis comerciais, salvo as anônimas.
III - os atos constitutivos e os estatutos dos partidos políticos.
Parágrafo único. No mesmo cartório será feito o registro dos jornais, periódicos, oficinas impressoras,
empresas de radiodifusão e agências de notícias a que se refere o art. 8º da Lei nº 5.250, de 9-2-1967.

Art. 115. Não poderão ser registrados os atos constitutivos de pessoas jurídicas, quando o seu objeto
ou circunstâncias relevantes indiquem destino ou atividades ilícitos ou contrários, nocivos ou perigo-
sos ao bem público, à segurança do Estado e da coletividade, à ordem pública ou social, à moral e aos
bons costumes.
Parágrafo único. Ocorrendo qualquer dos motivos previstos neste artigo, o oficial do registro, de ofício
ou por provocação de qualquer autoridade, sobrestará no processo de registro e suscitará dúvida para
o Juiz, que a decidirá.

Art. 116. Haverá, para o fim previsto nos artigos anteriores, os seguintes livros:
I - Livro A, para os fins indicados nos números I e II, do art. 114, com 300 folhas;
II - Livro B, para matrícula das oficinas impressoras, jornais, periódicos, empresas de radiodifusão e
agências de notícias, com 150 folhas.

Art. 117. Todos os exemplares de contratos, de atos, de estatuto e de publicações, registrados e ar-
quivados serão encadernados por periódicos certos, acompanhados de índice que facilite a busca e o
exame.

Art. 118. Os oficiais farão índices, pela ordem cronológica e alfabética, de todos os registros e arqui-
vamentos, podendo adotar o sistema de fichas, mas ficando sempre responsáveis por qualquer erro
ou omissão.

Art. 119. A existência legal das pessoas jurídicas só começa com o registro de seus atos constitutivos.
Parágrafo único. Quando o funcionamento da sociedade depender de aprovação da autoridade, sem
esta não poderá ser feito o registro.

CAPÍTULO II
Da Pessoa Jurídica
Art. 120. O registro das sociedades, fundações e partidos políticos consistirá na declaração, feita em
livro, pelo oficial, do número de ordem, da data da apresentação e da espécie do ato constitutivo,
com as seguintes indicações:
I - a denominação, o fundo social, quando houver, os fins e a sede da associação ou fundação, bem
como o tempo de sua duração;
II - o modo por que se administra e representa a sociedade, ativa e passivamente, judicial e extrajudi-
cialmente;
III - se o estatuto, o contrato ou o compromisso é reformável, no tocante à administração, e de que
modo;
IV - se os membros respondem ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais;

124
REGISTROS PÚBLICOS

V - as condições de extinção da pessoa jurídica e nesse caso o destino do seu patrimônio;


VI - os nomes dos fundadores ou instituidores e dos membros da diretoria, provisória ou definitiva,
com indicação da nacionalidade, estado civil e profissão de cada um, bem como o nome e residência
do apresentante dos exemplares.
Parágrafo único. Para o registro dos partidos políticos, serão obedecidos, além dos requisitos deste ar-
tigo, os estabelecidos em lei específica.

Art. 121. Para o registro serão apresentadas duas vias do estatuto, compromisso ou contrato, pelas
quais far-se-á o registro mediante petição do representante legal da sociedade, lançando o oficial, nas
duas vias, a competente certidão do registro, com o respectivo número de ordem, livro e folha. Uma
das vias será entregue ao representante e a outra arquivada em cartório, rubricando o oficial as folhas
em que estiver impresso o contrato, compromisso ou estatuto.

CAPÍTULO III
Do Registro de Jornais, Oficinas Impressoras, Empresas de Radiodifusão e Agências de Notícias
Art. 122. No registro civil das pessoas jurídicas serão matriculados:
I - os jornais e demais publicações periódicas;
II - as oficinas impressoras de quaisquer natureza, pertencentes a pessoas naturais ou jurídicas;
III - as empresas de radiodifusão que mantenham serviços de notícias, reportagens, comentários, de-
bates e entrevistas;
IV - as empresas que tenham por objeto o agenciamento de notícias.

Art. 123. O pedido de matrícula conterá as informações e será instruído com os documentos seguin-
tes:
I - no caso de jornais ou outras publicações periódicas:
a) título do jornal ou periódico, sede da redação, administração e oficinas impressoras, esclarecendo,
quanto a estas, se são próprias ou de terceiros, e indicando, neste caso, os respectivos proprietários;
b) nome, idade, residência e prova da nacionalidade do diretor ou redator-chefe;
c) nome, idade, residência e prova da nacionalidade do proprietário;
d) se propriedade de pessoa jurídica, exemplar do respectivo estatuto ou contrato social e nome, ida-
de, residência e prova de nacionalidade dos diretores, gerentes e sócios da pessoa jurídica proprietá-
ria.
II - nos casos de oficinas impressoras:
a) nome, nacionalidade, idade e residência do gerente e do proprietário, se pessoa natural;
b) sede da administração, lugar, rua e número onde funcionam as oficinas e denominação destas;
c) exemplar do contrato ou estatuto social, se pertencentes a pessoa jurídica.
III - no caso de empresas de radiodifusão:
a) designação da emissora, sede de sua administração e local das instalações do estúdio;
b) nome, idade, residência e prova de nacionalidade do diretor ou redator-chefe responsável pelos
serviços de notícias, reportagens, comentários, debates e entrevistas.
IV no caso de empresas noticiosas:
a) nome, nacionalidade, idade e residência do gerente e do proprietário, se pessoa natural;
b) sede da administração;
c) exemplar do contrato ou estatuto social, se pessoa jurídica.
§ 1º As alterações em qualquer dessas declarações ou documentos deverão ser averbadas na matrícu-
la, no prazo de oito dias.
§ 2º A cada declaração a ser averbada deverá corresponder um requerimento.

Art. 124. A falta de matrícula das declarações, exigidas no artigo anterior, ou da averbação da altera-
ção, será punida com multa que terá o valor de meio a dois salários mínimos da região.
§ 1º A sentença que impuser a multa fixará prazo, não inferior a vinte dias, para matrícula ou altera-
ção das declarações.

125
REGISTROS PÚBLICOS

§ 2º A multa será aplicada pela autoridade judiciária em representação feita pelo oficial, e cobrada
por processo executivo, mediante ação do órgão competente.
§ 3º Se a matrícula ou alteração não for efetivada no prazo referido no § 1º deste artigo, o Juiz poderá
impor nova multa, agravando-a de 50% (cinqüenta por cento) toda vez que seja ultrapassado de dez
dias o prazo assinalado na sentença.

Art. 125. Considera-se clandestino o jornal, ou outra publicação periódica, não matriculado nos ter-
mos do artigo 122 ou de cuja matrícula não constem os nomes e as qualificações do diretor ou reda-
tor e do proprietário.

Art. 126. O processo de matrícula será o mesmo do registro prescrito no artigo 121.

5.1.2 DECRETO 8.742/16


Dispõe sobre os atos notariais e de registro civil do serviço consular brasileiro e da
dispensa de legalização no Brasil das assinaturas e atos emanados das autoridades
consulares brasileiras.
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, caput, inciso VI, “a”, da
Constituição,
DECRETA:
Art. 1º. São consideradas válidas as cópias dos atos notariais e de registro civil escriturados nos livros
do serviço consular brasileiro, quando a elas estiver aposta a etiqueta ou a folha de segurança da re-
partição consular emitente, que leva o nome e a assinatura da autoridade consular brasileira respon-
sável.
§ 1º As assinaturas originais das autoridades consulares brasileiras têm validade em todo o território
nacional, ficando dispensada sua legalização.
§ 2º São considerados autoridades consulares brasileiras os servidores do Serviço Exterior Brasileiro
no exercício dos seguintes cargos:
I - Cônsul-Geral;
II - Cônsul-Geral Adjunto;
III - Cônsul;
IV - Cônsul-Adjunto;
V - Vice-Cônsul; e
VI - Encarregados de Negócios, Encarregados dos Arquivos das Embaixadas, Encarregados de Consula-
dos-Gerais, Encarregados de Vice-Consulados, Chefes de Setor Consular das Embaixadas, Terceiros,
Segundos e Primeiros Secretários, Conselheiros, Ministros-Conselheiros e Embaixadores, quando no
exercício de função consular em Missões Diplomáticas ou Representações Consulares.

Art. 2º. Em caso de dúvidas quanto à autenticidade ou validade dos atos emitidos pelas autoridades
consulares brasileiras supracitadas, as consultas poderão ser dirigidas diretamente aos Consulados e
às Embaixadas brasileiras que escrituraram esses atos em seus livros.

Art. 3º. As etiquetas e as folhas de segurança emitidas pelas repartições consulares poderão trazer o
nome e o cargo da autoridade consular brasileira responsável por sua emissão com ou sem a sua assi-
natura, sempre que a autenticidade e a validade do documento possam ser comprovadas eletronica-
mente.

Art. 4º. Ficam dispensados de legalização consular, para terem efeito no Brasil, os documentos expe-
didos por autoridades estrangeiras encaminhados por via diplomática ao Governo brasileiro.

Art. 5º. Ficam igualmente dispensados de legalização consular os documentos expedidos por países
com os quais a República Federativa do Brasil tenha firmado acordos bilaterais ou multilaterais de

126
REGISTROS PÚBLICOS

simplificação ou dispensa do processo de legalização de documentos.

Art. 6º. Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 7º. Fica revogado o Decreto nº 84.451, 31 de janeiro de 1980.

Brasília, 4 de maio de 2016; 195º da Independência e 128º da República.

127
BLICO

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