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LUIZ HENRIQUE LEITE DA SILVA ADVOCACIA

OAB/MG 59.374
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA
COMARCA DE FRANCISCO SÁ - ESTADO DE MINAS GERAIS.

Processo nº 5000135-64.2020.8.13.0267.

JASQUESON APARECIDO SOARES,


DANIELE GONÇALVES SANTOS PENA, MARIA ISABELA
RODRIGUES BRITO, e MARIA FERNANDA RODRIGUES
BRITO, devidamente qualificados nos autos do processo em epígrafe,
atinente à AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE , em curso por este
Douto Juízo e Secretaria, que lhe move a COOPERATIVA DOS
PRODUTORES RURAIS DE FRANCISCO SÁ LTDA. , também
qualificada, vêm, respeitosamente, por intermédio de seu advogado,
subscritor, com endereço profissional na Rua Alfredo de Sá, nº 74, Centro,
Francisco Sá/MG, onde serão encaminhadas as notificações do feito e com
instrumento de mandato em anexo, apresentar sua CONTESTAÇÃO, com
base no artigo 335 do Novo CPC, consubstanciados nas razões fáticas e
fundamentos de direito adiante aduzidos.

I – SÍNTESE DA INICIAL E LIMITES DA LIDE.

Conforme ensina a melhor doutrina, em


hermenêutica das normas processuais, é o pedido e a causa de pedir do
autor que delimitam os contornos da lide.

Primordialmente, alega a requerente que o


Senhor Jasqueson é o proprietário do imóvel, não obstante este não ser
figurar como titular de direito na escritura de compra e venda válida.

Diz que, quando da transmissão do imóvel, já


havia o portão lateral da cooperativa, sendo que admitem não ser o único
portão do imóvel da requerente, sequer o portão da lide seria a principal
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saída para a via pública.


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Aduz que a cláusula décima primeira do contrato


de compromisso de compra e venda firmado anteriormente, o qual
transferiu a posse sobre a área, diz: "OS PROMISSARIOS
COMPRADORES declaram que tendo visitado o imóvel e examinado
detalhadamente o seu estado de conservação, não registra nenhuma
ressalva em relação ao estado em que se encontra, não podendo vir a
reclamar do mesmo em tempo algum, sob nenhuma hipótese E VICE e
VERSA" (este contrato foi firmado em 17/04/2015), sendo que tal cláusula
resguardaria seu direito.

Por fim, explica que o seu MAIOR PREJUÍZO é


o fato de que seu almoxarifado ficará isolado das demais partes e o acesso
dos carros de leite, conforme boletim de ocorrências anexado.

É, em síntese, o necessário.

II – PRELIMINARMENTE EM DEFESA PROCESSUAL.

II.1. DA INÉPCIA DA INICIAL - ARTIGO 320 - CPC.

Em aspecto vestibular, cuida dizer que o contrato


de compra e venda e a sua cláusula décima primeira constaram: "OS
PROMISSARIOS COMPRADORES declaram que tendo visitado o
imóvel e examinado detalhadamente o seu estado de conservação, não
registra nenhuma ressalva em relação ao estado em que se encontra, não
podendo vir a reclamar do mesmo em tempo algum, sob nenhuma
hipótese E VICE e VERSA"; dessa forma, não constituem por exegese
qualquer um direito do autor em pretender utilizar a área do posto como
ponto de passagem.

A própria interpretação da cláusula expõe isso: se


tivesse que ser ajustada essa obrigação deveria ter sido feita aqui, e não foi
feita, sequer foi feita posteriormente na escritura pública!!! A própria
cláusula fala: “Não registra nenhuma ressalva em relação ao estado em que
se encontra, não podendo vir a reclamar do mesmo em tempo algum, sob
nenhuma hipótese E VICE e VERSA”., ou seja, eles não alegaram esse fato
da necessidade do direito de passagem ali, não constou expressamente do
contrato, o contrato foi omisso, a escritura foi omissa, não dá para querer
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fazer exigir esse direito com tal acordo.


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A inépcia, pois, é do documento em si e seu


conteúdo em relação aos fatos alegados. SENDO ASSIM, PARA ESSA
FINALIDADE, TAL DOCUMENTO NÃO POSSUI VALIDADE.

Nesse sentido:

REsp 1572577 - 27/02/2019: 2. No Recurso Especial Repetitivo n.


1.352.721, apontado como paradigma, a Corte Especial entendeu que
"a ausência de conteúdo probatório eficaz a instruir a inicial,
conforme determina o artigo 283 do CPC, implica a carência de
pressuposto de constituição e desenvolvimento válido do processo,
impondo a sua extinção sem o julgamento do mérito (artigo 267, IV
do CPC) e a consequente possibilidade de o autor intentar
novamente a ação (artigo 268 do CPC), caso reúna os elementos
necessários à tal iniciativa".

De tal modo, torna-se cogente a aplicação da


inépcia da inicial, pela ausência de documento indispensável a propositura
da ação, conforme artigo 320 do Novo CPC.

II.2. ILEGIMITADE PASSIVA DO REQUERIDO ART. 338 CPC.

MM. Juiz, está caracterizada, também, a


ilegitimidade passiva do requerido JASQUESON APARECIDO SOARES,
tendo em vista, não ser titular de direito sobre o imóvel, seja por qualquer
modalidade de posse ou propriedade.

Os sujeitos passivos devem ser as demais


requeridas, conforme artigo 339 do CPC.

III. MERITUN CAUSAE.

D. Magistrado, a causa de pedir e o pedido do


autor ferem indiscutivelmente o instituto da SERVIDÃO e os princípios
basilares do direito civil: da eticidade e da propriedade.

A alegação de ser o fato um reconhecimento de


servidão de posse do art. 554 do CPC não tem fundamento jurídico e
lógico. A servidão tem requisitos e fundamentos, e aqui não há a presença
destes.
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SENÃO VEJAMOS, o que diz o especialista em
registros públicos:

Figuras típicas importantes, denominadas “servidão de água”


(passagem de água, canal ou aqueduto por prédio vizinho em
benefício do prédio dominante), “servidão de passagem” (que
possibilita o acesso do dono do imóvel incrustado à via pública),
“obtenção de luz e vista”, etc., são previstas no nosso ordenamento
jurídico. O Código Civil não denomina tais figuras como servidões, e
sim como “direitos de vizinhança” (arts. 1.277 a 1.313).
Essas são as restrições legais ao uso da propriedade mais
importantes. São originárias do Código Civil francês, que contornou
a concepção da propriedade, até então considerada absoluta, por um
princípio de direito natural. Desta forma, a lei concede ao
proprietário o direito a uma situação que importa restringir a
propriedade vizinha. São também “legais” as chamadas “servidões
administrativas”, que oneram a propriedade particular em benefício
do interesse público.
Para a constituição desse estado de restrição, impõe-se, além dos
pressupostos legais, um ato jurídico que o reconheça ou uma
sentença.
[...]
Para a sua constituição, além da declaração expressa dos
proprietários (escritura pública) ou do testamento, a servidão deve
ser registrada no Cartório de Registro de Imóveis. Em tais
hipóteses, o registro é constitutivo. (Grifamos).1

Uns dos requisitos basilares da servidão é de que


deve ser constituída de modo EXPRESSO pelos proprietários, ou por
testamento, e REGISTRADA NO CARTÓRIO DE IMÓVEIS.

Código Civil de 2002 - Art. 1.378. A servidão proporciona utilidade


para o prédio dominante, e grava o prédio serviente, que pertence a
diverso dono, e constitui-se mediante declaração expressa dos
proprietários, ou por testamento, e subseqüente registro no
Cartório de Registro de Imóveis.

Como visto também das certidões das matrículas


e transcrições no Registro de Imóveis, não consta tal servidão no fólio real, o
que já põe por terra a pretensão jurídica da requerida.

O contrato de transferência da área consta a


cláusula décima primeira já acima descrita, a qual não faz referência
qualquer a tal direito de passagem, não discutia tal necessidade, a redação é
clara, não pode neste momento mudar as regras do negócio jurídico. Nesse
mesma toada de omissão veio a escritura pública.
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1
Loureiro, Luiz Guilherme. Registros públicos: teoria e prática / Luiz Guilherme Loureiro. - 5. ed. rev., atual e ampl. - Rio de
Janeiro : Forense ; São Paulo : MÉTODO, 2014.
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SE HOUVESSE TAL NECESSIDADE DEVERIA


VIR ESCRITO “PALAVRA POR PALAVRA” EM UMA CLÁUSULA NO
CONTRATO OU NA ESCRITURA PÚBLICA O DIREITO DE
PASSAGEM DO PORTÃO PARA A VIA, PASSANDO PELA ÁREA DO
POSTO.

A autora quer inverter a tendência e lógica do


instituto da servidão, a lógica é que a cláusula deve ser expressa, mas ela
quer fazer valer que a omissão de cláusula criou a servidão, somente porque
antes do contrato a cooperativa usava aquela área para passagem.

Demais disso, se a requerente no ato da venda,


transferiu essa área não constando qualquer menção ou ressalva a tal
passagem, ela renegou diretamente seu direito sobre tal passagem de área,
sendo assim CANCELANDO qualquer tipo de suposta servidão que podia
existir, pensando para fins argumentativos, pois nunca houve servidão
qualquer.

O Direito não pode socorrer aos que dormem, já


dizia o velho ditado jurídico!

O contrato e a escritura pública foram feitos


validamente e questionar isso fere a eticidade que deve permear os
contratos, o qual preceitua que deve se aplicar a solução mais ética, justa e
útil a situação conflituosa concreta.

Nesse caso, a área em questão é usada pelas


proprietárias para um fim lucrativo, perquirir contra isto implicaria um
prejuízo financeiro grande e atacaria indiretamente o contrato firmado com
o Senhor Ronaldo, que hoje usa o espaço, estabelecendo uma insegurança
jurídica para todos.

O princípio da propriedade diz que o


ordenamento garante ao sujeito de direito a aquisição e manutenção de bens
móveis e imóveis. Em nosso caso, a requerente pretende na verdade, ao
contrário do que fiz, esbulhar a propriedade das requeridas, pois sendo o
imóvel delas, estas é que estão sendo potencialmente prejudicadas com a
lide.
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Ademais, a Cooperativa possui uma área
imensa, gigante, paralela à rua e que dá diretamente na via pública do
lado desse portão em comento (é um fato notório). Não seria mais fácil e
prático abrir um portão do lado diretamente para a via (o que deixaria o
imóvel com dois portões para atender melhor sua suposta demanda) do
que deixar o portão virado para a propriedade das requeridas e
diariamente adentrar sem motivo na propriedade destas?

Devemos questionar o fundamento lógico desta


ação!!!

Não há explicação com base no princípio da


proporcionalidade e razoabilidade para trazer a máquina judiciária uma
questão dessas, ao lado pode se abrir um portão direto para a via, o que
sairia mais barato e menos cansativo para todos do que discutir em juízo
esta lide. Só os gastos processuais diretos e indiretos são menos custoso que
está ação, imaginamos.

A própria autora admite que o imóvel não está


encravado, então qual a finalidade da lide? Façamos, pois, JUSTIÇA!!!

IV – DOS PEDIDOS.

ISTO POSTO, pelos fatos articulados, embasados


nos dispositivos legais apresentados e demais ensinamentos jurídicos
trazidos, REQUER:

a) primordialmente, o acolhimento das


PRELIMINARES levantadas, extinguindo e/ou alterando/anulando o feito,
tendo em vista:
1. a inépcia da inicial;

2. a ilegitimidade do requerido;

b) supletivamente, caso não acatadas as


preliminares, no MÉRITO, o acolhimento da presente contestação, julgando
inteiramente improcedente o pedido da Requerente, já que não se vislumbra
presente no caso em comento qualquer irregularidade das requeridas, mas
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ao contrário, estas é que serão prejudicadas com tal pretensão, razão pela
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qual requerem, desde já, proteção possessória e a indenização pelos


prejuízos resultantes da turbação ou do esbulho cometido pelo autor,
conforme artigo 556 do CPC;

c) a condenação da Requerente ao pagamento das


custas, despesas processuais e honorários advocatícios a serem arbitrados
por Vossa Excelência;

d) por fim, solicita, com fundamento no art. 5º,


LXXIV da C.F. e na Lei 1060/50, a concessão do benefício da Justiça Gratuita
as Requeridas, por ser hipossuficientes na acepção jurídica do termo, não
tendo condições de arcar com as custas processuais e honorários
advocatícios, sem prejuízo de sua receita.

Provarão o alegado por todos os meios de prova


admissíveis em direito, em especial, provas documentais, testemunhais e
depoimento do diretor, o que desde já requer, sob pena de confissão.

Nestes termos, pede e espera deferimento.

Francisco Sá/MG, 28 de Julho de 2020.

LUIZ HENRIQUE LEITE DA SILVA


OAB/MG 59.374.

JULIANA NOGUEIRA CORRÊA


OAB/MG 190.713.
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