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EXMO. SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA


COMARCA DE VOLTA REDONDA/RJ

FABIANO LUGÃO DA NÓBREGA, brasileiro,


casado, técnico metalúrgico, portador do documento de
identidade n 1369549 SSP-DF, inscrito no CPF sob o n
001414837-41, residente e domiciliado na Rua Vinte e Seis, n.
35, bairro Vila Santa Cecília, Volta Redonda/RJ, CEP 27264-
350, Tel.: (24) 3343-8119, vem, pela Defensora Pública
signatária propor, pelo rito ordinário, a presente

AÇÃO REIVINDICATÓRIA C/C PERDAS E DANOS E


PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA

em face de MARIA DE FÁTIMA SOBRAL DE SOUZA,


brasileira, divorciada, do lar, residente na Rua 535-C, n. 21,
apto. 31, bairro Nossa Senhora das Graças, Volta Redonda/RJ,
CEP 27295-460, pelos fatos e fundamentos a seguir aduzidos:

DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

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Inicialmente, afirma, na forma da Lei 1060/50,
ser juridicamente necessitado, não possuindo condições de
arcar com as custas processuais e honorários advocatícios,
razão pela qual faz jus aos benefícios da GRATUIDADE DE
JUSTIÇA e indica a Defensoria Pública para a defesa dos seus
interesses.

DOS FATOS

O Autor é legítimo proprietário do imóvel


designado por apartamento residencial n. 31, à rua 535-C, n.
21, bairro Nossa Senhora das Graças, zona urbana e não
foreira, conforme demonstra a certidão do 1º. Ofício de
Registro de Imóvel desta Comarca, em anexo, onde está
registrado no Livro 2-E de Registro Geral de Imóveis, à Folha
215, Matrícula 1706.

O Autor viveu em união estável com a Ré, já


objeto de dissolução judicial (processo n.
2003.066.007384-0 – 2ª. Vara de Família de Volta
Redonda). Desde já é de se observar que Autor e Ré, quando
na constância da união estável, residiam no imóvel objeto da
presente ação. Após a ruptura fática da união, o Autor viu-se
impelido a deixar seu próprio lar, temporariamente, a fim de
evitar maiores danos emocionais a ambos.

A R. SENTENÇA prolatada no processo acima


referido DECLAROU que o imóvel objeto da presente ação
“É DE PROPRIEDADE EXCLUSIVA” DO AUTOR. Condenou o

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Autor a pagar a Ré sua parte nas benfeitorias realizadas no
imóvel, no valor de metade de R$ 1.560,00, o que foi
devidamente cumprido pelo Autor, como demonstram os
recibos em anexo, inclusive com correção monetária e
juros.

Ocorre, todavia, que a Ré se encontra ocupando


o referido imóvel e recusa-se a desocupá-lo, embora ciente de
que não tenha quaisquer direitos sobre o mesmo. Insta
observar que a Ré foi, até, notificada pelo Autor para
desocupar o imóvel, em 22 de Dezembro de 2006 (autos da
notificação em anexo – certidão de notificação à fls.
13,v.), persistindo, porém, em permanecer ilegalmente no
imóvel.

Cabe, também, informar que a Ré não arca com


as despesas necessárias ao imóvel, como condomínio e IPTU. O
Autor necessita do imóvel para sua própria moradia, pois não
tem como enfrentar os valores de aluguel de mercado e ainda
arcar com as despesas necessárias de sua propriedade, que se
encontra com débitos junto ao município e ao condomínio.

DO DIREITO

Fundamenta o Autor o presente pedido no art.


1.228 do Código Civil/02, que autoriza a propositura da
presente ação a fim de que o proprietário reivindique o seu
bem daquele que injustamente o possua. Como já acima
explicado, o Autor detinha a posse do imóvel, deixando de
exercê-la quando da ruptura da união com a ré, situação esta
que não mais pode perdurar.

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Silvio Rodrigues in Direito Civil, Direito das
Coisas - vol. 5, Saraiva, 11ª ed., pág. 77, assim dispõe:

"A ação de reivindicação, ação real que é, tem como


pressuposto o domínio. É conferida ao dono para
recuperar ou obter a coisa de que foi privado, ou que
lhe não foi entregue. Constitui o instrumento
adequado pelo qual o proprietário exerce seu direito
de seqüela."

Segundo doutrina do ilustre Prof. Orlando


Gomes:

“a ação reivindicatória tem como fundamento o direito


de seqüela, esse poder de seguir a coisa onde quer que
esteja, que é um dos atributos dos direitos reais.
Objetiva-se no de propriedade pela faculdade de
recuperá-la: quando o possuidor não-proprietário,
embora não conteste a propriedade do dono do bem, o
retém sem título ou causa. Legitima-se como autor o
proprietário do bem que pretende reavê-lo e dirige-se
contra o detentor da coisa, ou seu possuidor, de boa
ou má-fé.”

Não é despiciendo assinalar que a expressão


"posse injusta", tal qual enunciada no art. 524 do Código Civil, é
utilizada em termos genéricos, significando sem título, isto é,
sem causa jurídica. Não se tem, pois, a acepção restrita de
posse injusta do art. 489 do Código Civil. Na reivindicatória
detém injustamente a posse aquele que não tem título que a

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justifique, mesmo que não seja violenta, clandestina ou
precária, e ainda que de boa-fé.

Eis a lição:

“Posse Injusta. É certo que o CC/1916 524


fala de posse injusta (CC 1228). Porém, a ação de reivindicação
não se dirige apenas contra o possuidor injusto, no sentido de
que tem posse violenta, clandestina ou precária (CC 1916 489-
CC.1200). Com a mencionada ação o titular do domínio objetiva
a restituição do bem que está sem causa jurídica na esfera de
atuação do demandado. Não se cogita de boa ou má-fé do
possuidor, mas sim se a posse repugna ou não ao direito. Assim,
a posse do CC 1228 é injusta tão-somente pela razão de
que, na disputa entre a posse e a propriedade, prevalece o
direito do proprietário, a menos que se trate de posse ad
usucapionem.” (RT 654/84).

Pontes de Miranda, abordando o tema


transcreve acórdão da lavra de Orozimbo Nonato, onde se
distinguiu a posse injusta do antigo art. 524 CC/16, que
encontra sucedâneo no art. 1228 do CC/02, da posse viciosa,
dizendo:

“Em sentido restrito, posse justa significa a que é


isenta de algum dos três vícios seguintes: violência,
clandestinidade ou precariedade. É claro que o Código,
no art. 524, toma a expressão em sentido genérico e
nem de outro modo poderia ser, sob pena de destruir
ele próprio o princípio em que define as faculdades
que compõem a noção complexa de domínio”

5
(Pontes de Miranda, Tratado de Direito Privado, t.
XIV, 2a ed., Borsoi, 1954, pág. 23)

Da Má-fé da Ré

O art. 1.202 do Código Civil/02 é regra que


impõe objetividade à análise da boa-fé ou má-fé do possuidor.
Por esse motivo a jurisprudência entende que a citação para a
ação é circunstância que demonstra a transformação da posse
de boa-fé em posse de má-fé, pois, tomando conhecimento da
demanda, o possuidor toma ciência dos vícios de sua posse
(nesse sentido: RTJ, 99:804; RJTJRS, 68:393). É de se
observar, também, que a primeira ré conhece a sentença
judicial, prolatada em sede de processo de dissolução da
união estável, que declarou que o bem imóvel objeto do
presente feito é de propriedade exclusiva do Autor.
Ademais, foi, também, notificada para sair do imóvel em
dezembro de 2006.

A ré, é inteiramente razoável que assim se


admita, já conhece o vício que macula a sua posse,
independentemente da citação para o presente feito.

Assim, todas as conseqüências especificadas


nos arts. 1216 a 1218 do Código Civil/02 devem ser aplicadas,
desde o momento em que se viu a Ré ressarcida pelas
benfeitorias realizadas no imóvel, como determinado pelo
Juízo da dissolução da união estável, e já devidamente
indenizadas pelo Autor, como demonstram os documentos em
anexo. E deve ser observado, para tanto, o disposto na parte

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final do art. 1215 do Código Civil/02, reputando-se percebidos
tais frutos dia a dia.

Os frutos civis percebidos pela ré de má-fé, em


detrimento do Autor, devem ser estimados com base no valor
de mercado de um aluguel do imóvel objeto da demanda. A ré
vem ocupando o imóvel há um ano e meio indevidamente sem
nada pagar ao Autor. Tais frutos civis devem ser, pois,
indenizados, incidindo os juros e correção monetária.

DA TUTELA ANTECIPADA

Como já acima narrado, a documentação anexa


comprova a verossimilhança das alegações do Autor. A cópia da
r. sentença prolatada pelo Juízo da 2ª. Vara de Família desta
Comarca demonstra que há declaração judicial no sentido de
que o imóvel objeto da presente ação não se comunicou à
Ré, sendo patrimônio exclusivo do Autor. Por outro
aspecto, de plano a propriedade do Autor se comprova pela
cópia da Escritura Pública, bem como pela Certidão do RGI
competente, que seguem em anexo. Insta notar que a
obrigação do Autor em indenizar a Ré por benfeitorias foi
devidamente cumprida, instruindo a inicial os recibos de
quitação.

Por outro lado, o Autor está privado de poderes


inerentes de proprietário desde a ruptura da união havida com
a ré. E como já dito acima, o Autor necessita do imóvel para
sua própria moradia. Além disto, como tem de enfrentar
despesas que não teria caso exercesse poderes sobre sua
propriedade, não consegue efetuar o pagamento do IPTU e do

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condomínio, despesas estas que não estão sendo realizadas
pela Ré há mais de 1 ano e que podem ensejar a perda da
propriedade imóvel.

Assim, tendo em vista que a liminar


antecipatória dos efeitos da tutela jurisdicional deve acautelar
o direito do demandante, e mais, a sua concessão se informa
pela missão de assegurar um resultado prático e útil, a fim de
que, quando do julgamento final, a decisão não se mostre
inócua, sendo pressuposto de preservação da possibilidade
da satisfação do seu direito na sentença, para obstar que o
lapso temporal, entre a propositura da ação e a sentença, não
torne o mandamento que nela possa conter, inócuo, do ponto de
vista concreto.

O artigo 273 do Código de Processo Civil


prevê a possibilidade de antecipação dos efeitos da tutela
jurisdicional pretendida, desde que verossimilhantes os fatos
alegados, e existente o perigo de ineficácia da medida, ao final
da demanda.

A dinâmica veloz das relações econômicas e


sociais de nosso dias fulmina a atividade dos operadores do
direito de descrédito e influência, pela simples impossibilidade
da prestação jurisdicional encontrar, em todos os casos, a
necessária efetividade frente a costumeira intempestividade
das decisões em relação aos fatos da vida. O processo,
enquanto instrumento de atuação e defesa do direito subjetivo
material do litigante que obtém êxito, transforma-se em
providência descabida pelo simples transcorrer do tempo. A
demora lhe desnatura a função, tornando-o impróprio para a
consecução de seus fins, como instrumento que o é.

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Posicionada a questão, observa-se que, in
casu, restou mais do que evidenciada a plausibilidade do direito
do demandante, segundo acima relatado, a permitir a
concessão da tutela antecipada.

DO PEDIDO

Ante o exposto, requer a V.Exa.:

I – a concessão da GRATUIDADE DE
JUSTIÇA;
II – a concessão da TUTELA ANTECIPADA,
parcialmente e inaudita altera pars, para determinar a
imediata desocupação da Ré do imóvel objeto do feito,
restituindo-se o imóvel ao autor, expedindo-se, pois, o
competente mandado, uma vez que se encontram presentes os
requisitos elencados no art. 273, do CPC;
III – a citação da ré para, querendo, responder
à presente ação, sob pena de revelia e confissão;
IV - a procedência do pedido para determinar a
desocupação do imóvel objeto da lide pela ré, restituindo-o ao
Autor, legítimo proprietário, bem como a condenação da ré ao
pagamento de perdas e danos referentes aos frutos
percebidos, dia a dia, cujo valor deve corresponder ao de
mercado do aluguel do imóvel, acrescido de juros e correção
monetária, a partir da data da indenização das benfeitorias
pelo Autor, constantes dos recibos em anexo, ou,
subsidiariamente, a partir da data da notificação judicial para
desocupação, ou, ainda entendendo diversamente V. Exa., a
partir da citação para a presente demanda, a serem apuradas
em sede de liquidação de sentença,

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V - a condenação da ré nas custas e honorários
advocatícios, estes a serem revertidos em favor do Centro de
Estudos Jurídicos da Defensoria Pública Geral do Estado.

Protesta provar o alegado por todos os meios


de prova em direito admitidos, em especial, documental
suplementar, pericial, testemunhal, e depoimento pessoal da
ré, sob pena de confissão.

Dá-se à presente o valor de R$


_____________(_________________________________
______________________________________________)
.

Nestes termos,
Pede deferimento.

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