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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2a VARA CÍVEL DA COMARCA

DE SÃ O JOSÉ DE RIBAMAR/MA
Processo nº
, brasileira, casada, empresaria, como RG nº: e CPF nº: -49, já qualificado nos autos em
epígrafe, vem respeitosamente perante Vossa Excelência, com fundamento no artigo 564
do Có digo de Processo Civil, apresentar CONTESTAÇÃ O na Açã o de
Reintegraçã o/Manutençã o de Posse que lhe move , já qualificada nos autos em epígrafe,
expondo e requerendo o que segue.

1 - SÍNTESE FÁTICA
Em síntese a autora alega na exordial se possuidora desde o ano de 1985 dos lotes de 15;
16 e 17, localizados na quadra 34, loteamento Parque Aquá rios, com a seguinte dimensã o
15x30 m2.
Aduziu que sofreu esbulho possessó rio por parte das requeridas de modo a perder a posse
dos lotes e que só descobriu que havia sido esbulhada no ano de 2020. E que logo apó s tal
descoberta teria registrado um Boletim de Ocorrência na delegacia do Araçagy.
Alega também, ainda que de forma infundada, que os lotes da autora e requeridas e estã o
sobrepostos, sem qualquer comprovaçã o técnica, apenas junta um memorial descritivo de
validade duvidosa uma vez que sequer Anotaçã o de Responsabilidade Técnica - ART ,
possui.
Eis o resumo dos fatos expendidos na inicial. Contudo a presente Açã o nã o merece
prosperar, conforme melhor se demonstrará nos tó picos a seguir.
1.1 - Da Verdade dos fatos.
A autora proprietá ria e possuidora dos lotes 1 e 2 localizados no Residencial das
Laranjeiras, Ponta Grossa em Sã o José de Ribamar/MA, firmou contrato de compra e venda
com a empresa TREZE EMPREENDIMENTOS E SERVIÇOS IMOBILIARIOS, no ano de 1998 e
a partir dai passou a pagar mês apó s mês o valor de até a quitaçã o.
Em 15 de Dezembro de 2005, apó s terminaram de pagamento, a escritura foi feita e o
imó vel transmitido para a legitima proprietá ria, ora requerida, que desde de entã o passou
a exercer a posse do bem, tanto que no mesmo ano, declarou em seu Imposto de Renda o
bem adquiro.
Os lotes possuíam as seguintes matriculas 38.329 e 28.330, com metragem de 10x30 m2. O
que veja excelência, logo de inicio já demonstra nã o se compatível com as dimensõ es dos
lotes que a autora alega ser possuidora.
Desde entã o a requerida, zela pelo bem, sempre mandando limpar com recibos datados do
ano de 2012 até 2021 e em 2011, murou com uma cerca seus lotes e a medida em que sua
condiçã o financeira foi evoluindo, em 07 de abril de 2014, a requerida construiu um muro
pré-moldado, conforme conta em anexo recibo e recibos de transferências.
Portanto, diferentemente do exposto na exordial, a autora nunca teve a posse dos lotes em
questã o, pois a senhora sempre exerceu a posse plana e teve o titulo de propriedade, ao
ponto de ser conhecida na vizinhança.
Pelo exposto, em razã o da inequívoca inexistência do exercício da posse, a autora nã o pode
vir a este douto Juízo pleitear a REINTEGRAÇÃ O DE POSSE que nunca teve. Inexistindo
qualquer indicio mínimo de que os lotes em questõ es estã o sobrepostos, logo nã o merece
prosperar o pleito autoral, devendo o mesmo ser julgado totalmente IMPROCEDENTE.
2.0 - DAS PRELIMINARES
2.1 - Da Falta de Interesse Processual
Conforme se observa da leitura da peça inaugural, a requerente alega ser proprietá ria de
determinados lotes, fundamentando apenas nisto seu pedido de reintegraçã o de posse.
Ora, conforme preceituado nos artigos 560 e seguintes do Có digo de Processo Civil, a causa
de pedir nas açõ es possessó rias deve ser a posse e nã o a propriedade. Caso quisesse reaver
o imó vel com base no seu domínio sobre ele, deveria a requerente ter se utilizado do
instrumento processual adequado.
A jurisprudência brasileira coaduna desse entendimento, vejamos:
EMENTA: APELAÇÃO - INTERESSE PROCESSUAL - REINTEGRAÇÃO DE POSSE - POSSE ANTERIOR - ESBULHO - ÔNUS
DA PROVA - DANOS MORAIS. É patente o interesse de agir das autoras, que atentaram para a adequação da
pretensão formulada ao procedimento eleito, havendo necessidade e utilidade da providência judicial reclamada.
Nos termos do art. 561 do CPC/2015, na ação de reintegração de posse, cumpre ao autor provar a posse do bem, a
sua perda e o esbulho praticado pelo réu. O dano moral é o prejuízo decorrente da dor imputada a uma pessoa,
em razão de atos que, indevidamente, ofendem seus sentimentos de honra e dignidade, provocando mágoa e
atribulações na esfera interna pertinente à sensibilidade moral.
(TJ-MG - AC: 10543160035894001 Resplendor, Relator: Evangelina Castilho Duarte, Data de Julgamento:
21/10/2021, Câmaras Cíveis / 14a CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 25/10/2021)

Elucidando sobre o tema o Desembargador [1] nos esclarece que "Os interditos
possessó rios pertencem ao sistema da proteçã o da posse, de modo que a eles só podem
recorrer os possuidores, quando esbulhados, turbados ou ameaçados em seu direito. O que
legitima o autor na açã o possessó ria é o fato da posse. Carece de açã o, o autor que só prova
domínio".
Destarte, a presente Açã o carece de interesse processual, haja vista que a requerente nunca
exerceu a posse dos lotes objeto da açã o, tã o pouco prova que os lotes das requeridas e da
requerente ocupam o mesmo espaço geográ fico. Deve Vossa Excelência extinguir o
processo sem julgamento do mérito.
2.1 - Da Inépcia da Inicial.
Como é de conhecimento comum, a petiçã o inicial, sendo instrumento introdutó rio da
demanda, necessita do preenchimento de determinados requisitos denominados requisitos
da petiçã o inicial, que vêm enumerados pelo artigo 319 do Có digo de Processo Civil de
modo que a petiçã o inicial indicará : VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a
verdade dos fatos alegados. Ademais, sobre a inépcia da inicial, o artigo 330 do CPC elenca
que "A petiçã o inicial será indeferida: I - quando for inepta; [...] Pará grafo 1º. Considera-se
inepta a petiçã o inicial quando: II - da narraçã o dos fatos nã o decorrer logicamente a
conclusã o".
Ao verificar a documentaçã o acostada aos autos pelo Requerente, verifica-se que a
narraçã o dos fatos alegados por este nã o condiz com os documentos juntados na sua inicial
para a comprovaçã o de posse da autora seguido anterior a eventual esbulho possessó rio e
ou turbaçã o. O AUTOR ALMEJA A REITEGRAÇÃ O DE POSSE DOS LOTES 15; 16 e 17,
CONTUDO, NÃ O DEMONSTRA EM QUE TEVE POSSE DO BEM E A PARTIR E QUANDO FOI
DESTITUIO.
Nã o possui nos autos um ú nico documento que comprove os fatos alegados, qual seja,
esbulho ou turbaçã o, ainda mais pelo fato de que a requerida está sob posse do imó vel por
um considerá vel tempo.
Vê-se, assim, que nã o basta o Autor simplesmente deduzir a sua pretensã o em Juízo de
forma genérica e superficial, necessá rio se faz que traga ao Estado-Juiz e à Ré, os fatos de
forma clara e precisa, delimitando os contornos da lide. Agindo dessa forma, ou seja, dando
os fatos de forma ordenada e específica, será possível ao ó rgã o jurisdicional dar-lhe o
direito - mihi factum, dabo tibi jus - e à pró pria Ré exercer o direito à ampla defesa,
impondo-se o indeferimento da inicial por inépcia e a consequente extinçã o do processo
sem julgamento do mérito.
Conforme todos os documentos disponibilizados, percebe-se que o imó vel foi entregue na
data de 30 de março de 2014, ou seja, o prazo legal para que o autor reclamasse dos vícios
constatados, seria de 90 dias, melhor dizendo, até 30 de junho de 2014. Nã o devendo ser
acolhido a pretensã o do Autor, pugnando-se ao d. Juízo que promova a EXTINÇÃ O DO
PROCESSO COM RESOLUÇÃ O DO MÉ RITO, nos termos do art. 487, II do CPC.

3 - DO DIREITO
3.2 - Das Contradiçõ es Narradas pela Requerente
Caso nã o seja acolhido o pedido de carência da Açã o, ad argumentandum tantum, faz-se
necessá rio apontar as inconsistências na narrativa da requerente, que pretendia vender os
lotes objetos da presente lide e que somente apó s assinado o contrato tomou ciência da
existência de muros.
Dessa forma excelência, quando o artigo 561, do CPC menciona que o autor deve provar a
perda da posse, significa dizer que deve-se juntar aos autos algum documento ou qualquer
outro tipo de prova que convença ao juiz que o autor nã o continua na posse daquele bem,
pois a mesma foi perdida em razã o do esbulho. Caso nã o fique comprovado nos autos que
houve esbulho o juiz nã o poderá se convencer de que houve o preenchimento dos
requisitos para a procedência da açã o.
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE POSSE - PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE ATIVA -
INOCORRENCIA - PETIÇÃO INICIAL - DESCRIÇÃO DO IMÓVEL -: AUSÊNCIA - INÉPCIA - EXTINÇÃO DO PROCESSO. -
Com a abertura da sucessão, a herança é transmitida aos herdeiros, como um todo unitário, razão pela qual eles
passam a ser os proprietários dos bens que a integram - Até a partilha do "espólio", este tem legitimidade ativa
para pleitear em juízo bens, direitos e obrigações deixados pelo "de cujus" - Para validade da petição inicial em
ação possessória é imprescindível a descrição pormenorizada da área ou do imóvel esbulhado ou turbado, com
seus limites e confrontações, de modo a ensejar a exata definição do objeto da lide, ensejando o exercício de
defesa na espécie - Não individualizado suficientemente o imóvel na petição inicial, revela-se ela inepta, o que
enseja a extinção do processo sem resolução de mérito.
(TJ-MG - AC: 10209070688251001 MG, Relator: Domingos Coelho, Data de Julgamento: 27/05/2020, Data de
Publicação: 16/06/2020)

Desse modo, o autor deve provar que perdeu a posse daquele determinado bem, ou seja,
que nã o está mais podendo exercer a posse mansa e pacífica devido ao esbulho praticado
pelo réu. Conforme é positivado no art. 561 Có digo de Processo Civil, ‘in verbis":
Art. 561. Incumbe ao autor provar:
I - a sua posse;
II - a turbação ou o esbulho praticado pelo réu;
III - a data da turbação ou do esbulho;
IV - a continuação da posse, embora turbada, na ação de manutenção, ou a perda da posse, na ação de
reintegração.

Resta claro que a requerente nã o conseguiu demonstrar que em algum momento deteve a
posse dos lotes em questõ es, dessa forma nã o pode ter restituído algo que nunca possuiu,
razã o pela qual deve ser a presente açã o julgada improcedente, protegendo-se a posse do
requerido, nos termos do artigo 556, do Có digo de Processo Civil.
2.4 - Da Liminar
Conforme amplamente demonstrado nos tó picos acima, a requerente nã o conseguiu
comprovar a sua posse e tampouco o esbulho praticado pelo requerido, razã o pela qual nã o
há que se falar em concessã o de liminar reintegrató ria de posse à requerente.
Importante pontuar ainda, o confesso interesse nas vendas dos lotes, juntando contrato de
compra e venda na exordial, trazendo para em caso de eventual concessã o de liminar, o
perigo da irreversibilidade.

3 - CONCLUSÃO
Ante todo o exposto, requer a Vossa Excelência:
a) A concessã o ao requerido dos benefícios da assistência judiciá ria gratuita, nos termos da
Lei 1.060/50, por ser pessoa pobre, nã o podendo arcar com as custas do processo sem
prejuízo do sustento seu e de sua família, conforme declaraçã o em anexo;
b) Seja indeferido o pedido liminar formulado pela requerente, uma vez que ela nã o provou
sua posse e tampouco o esbulho praticado pelo requerido;
c) Seja mantido o requerido na posse do bem imó vel objeto da lide, até o final do processo,
com fundamento no artigo 1.210, § 2º, c. C artigo 1.211, ambos do Có digo Civil;
d) Preliminarmente, seja extinta a presente açã o, sem julgamento do mérito, nos termos do
artigo 485, VI; ou que seja considerada a inépcia da inicial nos termos do artigo 330 do
Có digo de Processo Civil;
e) Caso nã o seja esse o entendimento, no mérito, requer seja julgada a presente Açã o
totalmente improcedente, haja vista que a requerente nã o logrou êxito em demonstrar a
sua posse e o esbulho praticado pelo requerido;
f) A condenaçã o do requerente ao pagamento das custas processuais e honorá rios
advocatícios.
Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, em especial o
depoimento das partes, oitiva de testemunha, cujo rol será indiciado mais adiante, juntada
de novos documentos e tudo mais que se fizer necessá rio.
Termos em que,
Pede deferimento.
Sã o Luís - MA
25 de fevereiro de 2022.

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