Você está na página 1de 5

EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA 11ª VARA DA FAMÍLIA E

SUCESSÕES DO FORO REGIONAL VI – PENHA DE FRANÇA – DA COMARCA DE SÃO PAULO – SP.

Processo Origem nº ________________


Processo nº ________________

Condomínio Lion, já qualificado nos autos do processo em


epígrafe, por seu advogado, que esta subscreve, em conformidade com a procuração que segue
anexa (DOC. 1), vem, mui respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fulcro nos artigos
335 e seguintes, do Código de Processo Civil, apresentar

CONTESTAÇÃO À AÇÃO DE EXIGIR CONTAS

que lhe move Olavinho da Mata, já qualificado nos autos supramencionados, expondo e
requerendo o quanto segue:

I – SÍNTESE FÁTICA

Rosalina de Alcântara, aos noventa anos de idade, faleceu


sem deixar herdeiros sucessórios pela ordem de vocação hereditária e/ou testamentária, a
princípio. Como único bem que constitui seu espólio, deixou um apartamento, sito à Rua Guaiaúna,
no bairro da Penha.

Após o seu falecimento, pelo fato de não haver o


conhecimento acerca da existência de herdeiros, como foi citado acima, o Réu, na pessoa de seu
síndico, Ariovaldo da Cunha, já qualificado nos autos da Ação de Inventário, ingressou com ação
para adjudicação do bem, a fim de saldar dívidas condominiais, as quais somam o valor de R$
10.000,00.
Ocorre que, algum tempo após o inicio do trâmite
processual concernente à ação de inventário e a pretendida adjudicação do imóvel, sobreveio a
notícia acera da existência de herdeiro testamentário, na pessoa de Olavinho da Mata, ora Autor, o
qual foi intimado por este Douto Juízo para habilitar-se na referida ação, fato este que culminou
com a negativa ao requerimento de adjudicação realizado pelo Réu.

II – DOS DIREITOS

Em que pese o fato deste MM. Juízo determinar a


habilitação do Autor como herdeiro testamentário na referida ação de inventário, em
conformidade com o que dispõe o artigo 1.784, do Código Civil Brasileiro, não restou comprovada
sua legitimidade para postular a ação em epígrafe, haja a vista a ausência de documentos
comprobatórios acerca de sua filiação e origem, não fazendo jus ao disposto neste diploma legal.

A respeito da ilegitimidade do Autor, a jurisprudência


pátria posiciona-se da seguinte maneira:

“APELAÇÃO CÍVEL. MANDATOS. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE


CONTAS. ADMINISTRADORA DE BENS DE FALECIDA QUE
FORAM RECEBIDOS PELA MÃE DO AUTOR, QUE TAMBÉM
VEIO A ÓBITO. HERDEIRO. ILEGITIMIDADE PASSIVA PARA
POSTULAR JUDICIALMENTE A PRESTAÇÃO DE CONTAS EM
NOME PRÓPRIO. A ação de prestação de contas constitui-se
em ato personalíssimo do mandante, não possuindo o
herdeiro legitimidade para o ajuizamento da demanda em
nome próprio, sem prova de ser o representante do espólio
ou da sucessão. APELAÇÃO DESPROVIDA. (Apelação Cível
Nº 70071682728, Décima Quinta Câmara Cível, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Ana Beatriz Iser, Julgado em
23/11/2016).”

(TJ-RS - AC: 70071682728 RS, Relator: Ana Beatriz Iser,


Data de Julgamento: 23/11/2016, Décima Quinta Câmara
Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia
25/11/2016).
Desta forma, Excelência, resta, no mínimo, duvidosa a
legitimidade do Autor.

Mostrando-se controversa esta legitimidade, bem como


não advindo imediatamente após o falecimento da De Cujus a possibilidade de existência de
herdeiro, seja por vocação ou testamentário, não sobreveio outra opção ao Réu, em conformidade
com o disposto no artigo 1.797, II, do Código Civil Brasileiro, senão administrar o bem, por meio do
sindico, Ariovaldo da Cunha, objetivando o zelo e conservação do apartamento e, posteriormente,
ingressar com a ação de inventário, requerendo a adjudicação do imóvel objeto do Espólio, a fim de
saldar as dívidas condominiais que se acumularam, dado o lapso temporal pós morten, até o
momento.

No que tange à obrigação de prestar contas por parte do


Réu, a doutrina brasileira assim preceitua:

“Sendo a ação do art. 550 proposta pela parte que


invoca para si o direito de exigir contas, a causa
apresenta-se complexa, provocando o desdobramento
do objeto processual em duas questões distintas. Em
primeiro lugar, ter-se-á que solucionar a questão
prejudicial sobre a existência ou não do dever de prestar
contas, por parte do réu. Somente quando for positiva a
decisão quanto a essa primeira questão é que o
procedimento prosseguirá com a condenação do
demandado a cumprir uma obrigação de fazer, qual seja,
a de elaborar as contas a que tem direito o autor.
Exibidas as contas, abre-se uma nova fase procedimental
destinada à discussão de suas verbas e à fixação do
saldo final do relacionamento patrimonial existente
entre os litigantes.” (JUNIOR Humberto Theodoro, 2015).

Desta feita, tendo em vista a complexidade da matéria


suscitada, o Réu reconhece seu dever de prestar contas, consoante o que dispõe o artigo 1.348, do
Código Civil Brasileiro, o que fará, oportunamente, desde que comprovada a legitimidade do Autor
para exigi-las.
Ademais, concernente aos boatos acerca da ocupação do
imóvel objeto do espólio, como já dito, não passam de falácias, a princípio, visto que não chegou
nenhuma notícia ao Réu neste sentido. Sendo assim, até que se comprove a real utilização do
imóvel, após a abertura da sucessão, sob a administração do sindico, não há que se falar em
qualquer tipo de dano.

Quanto à administração do sindico e sua obrigação de


prestação de contas, o ordenamento jurídico pátrio assim preceitua:

“APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS.


PRIMEIRA FASE. CONTESTAÇÃO INTEMPESTIVA. REVELIA.
VERACIDADE DOS FATOS ALEGADOS PELO AUTOR.
PRESUNÇÃO RELATIVA NÃO AFASTADA PELA
DOCUMENTAÇÃO CARREADA AOS AUTOS. OBRIGAÇÃO DO
SÍNDICO EM PRESTAR CONTAS DE SUA ADMINISTRAÇÃO.
PROCEDÊNCIA DA AÇÃO. RECURSO NÃO PROVIDO. 1.
Caracterizada a revelia, reputam-se como verdadeiros os
fatos alegados pelo autor. Todavia, trata-se de presunção
relativa que, no caso em apreço, não restou afastada pela
prova documental colacionada aos autos. 2. É obrigação do
síndico a prestação de contas de sua administração, de
acordo com o previsto no art. 1.348, VIII, do Código Civil e
do art. 22, § 1º, f, da Lei 4.591/64.”

(TJ-PR - AC: 1713355 PR Apelação Cível - 0171335-5,


Relator: Dulce Maria Cecconi, Data de Julgamento:
17/03/2005, 9ª Câmara Cível, Data de Publicação:
01/04/2005 DJ: 6839).

Posteriormente, constada a veracidade acerca desses


rumores, o sindico, Ariovaldo da Cunha, é quem deve ser chamado a dar esclarecimentos e prestar
contas sobre estes possíveis fatos, bem como sobre sua administração fática, aplicando-se o
disposto no artigo 1.348, VIII, do Código Civil Brasileiro, já que era administrador e figura física que
dava os comandos sobre a conservação do imóvel e, se tratou de alugá-lo, cedê-lo ou ocupá-lo, o
fez sem a anuência do Réu.
III - DOS PEDIDOS

Diante das razões de fato e de direito acima expostas,


requer se digne este MM Juízo determinar:

a) A improcedência da presente ação, sem resolução do


mérito, nos termos do artigo 485, VI, do Código de
Processo Civil;

b) Não sendo este o entendimento de Vossa Excelência,


subsidiariamente, requer que o mérito seja julgado
parcialmente procedente, a fim de que seja
determinada a prestação de contas por parte do
sindico, nos termos do artigo 1.348, VIII, do Código Civil
Brasileiro;

c) Diligência especial de Oficial de Justiça, pretendendo a


constatação das reais condições do imóvel
administrado pelo sindico;

d) A apresentação de documentos comprobatórios por


parte do Autor, a fim de ratificar seu direito de
herdeiro, disposto no artigo 1.784, do Código Civil
Brasileiro, bem como sua legitimidade para interpor a
presente demanda;

Por fim, protesta provar o alegado por todos os meios em


direito admitidos, por ser medida que contempla a justiça!

Nestes termos,
Pede deferimento.

São Paulo, 24 de setembro de 2018.

Advogado____________
OAB-____ / nº________

Você também pode gostar