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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA 11ª VARA DA FAMÍLIA E

SUCESSÕES DO FORO REGIONAL VI – PENHA DE FRANÇA – DA COMARCA DE SÃO PAULO – SP.

Processo Origem nº ________________

Olavinho da Mata, nacionalidade, estado civil, profissão,


portador da cédula de identidade sob o nº, inscrito no CPF/MF sob o nº, e-mail, residente e
domiciliado à, nº, complemento, bairro, CEP, cidade, estado, representado por seu advogado, que
esta subscreve, em conformidade com a procuração que segue anexa (DOC. 1), vem, mui
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, nos autos da ação de inventário concernente ao
processo em epígrafe, com fulcro nos artigos 319, 550 e 553, do Código de Processo Civil, propor

AÇÃO DE EXIGIR CONTAS

em face de Condomínio Lion, situado à Rua Guaiaúna, nº, Penha de França, CEP, cidade, estado,
representado na pessoa de seu síndico, Ariovaldo da Cunha, já qualificado no referido processo,
pelas razões de fato e de direitos a seguir expostas.

I – DOS FATOS

I.I – DA NECESSIDADE DA AÇÃO

Com a constatação do falecimento de Herculano da Mata,


citado em testamento público como herdeiro do imóvel localizado no condomínio supracitado,
verificou-se que Olavinho da Mata, seu único filho, Autor desta ação, tornou-se o único e legítimo
herdeiro do referido imóvel, em consonância ao constante no artigo 1.798, do Código Civil
Brasileiro, sendo intimado por este Douto Juízo para habilitar-se na ação de inventário.
Ocorre que foi noticiado que o imóvel em questão
encontra-se ocupado. Alguns alegam que foi alugado pelo sindico, Ariovaldo da Cunha. Outros
alegam que o ocupante é o próprio zelador do prédio.

Certo é que pairam diversas dúvidas e incertezas acerca da


real condição do imóvel, seja de uso ou conservação, fazendo jus à exigência de prestação de
contas, conforme dispõe o artigo 550, do Código de Processo Civil, objetivando o cumprimento do
que determina o artigo 551, do mesmo dispositivo legal.

I.II – DA ORIGEM DA AÇÃO DE INVENTÁRIO

Rosalina de Alcântara, aos noventa anos de idade, faleceu


sem deixar herdeiros sucessórios pela ordem de vocação hereditária. Como único bem que
constitui seu espólio, deixou o apartamento objeto da referida ação, situado no condomínio Lion,
Réu nesta ação de exigência de prestação de contas, o qual representado por seu sindico, Ariovaldo
da Cunha, ingressou com ação para adjudicação deste bem, a fim de saldar dividas condominiais
que, segundo o Réu, alcançam o montante de R$ 10.000,00.

Posteriormente, como resultado dos ofícios distribuídos


por este Meritíssimo Juízo aos Cartórios de Registro Público, foi encontrado um testamento em que
a de cujus deixa seu único bem para Herculano da Mata, valendo-se do disposto no artigo 1.857, do
Código Civil Brasileiro. Entretanto, constatou-se o falecimento de Herculano em data posterior à de
Rosalina, como citado anteriormente, deixando seu único filho como herdeiro de seus bens,
Olavinho da Mata.

Deste modo, com base nestes acontecimentos, Vossa


Excelência negou o requerimento de adjudicação do Condomínio Lion, ora Réu, intimando Olavinho
da Mata, ora Autor, para habilitar-se na ação de inventário.

II – DOS DIREITOS

Em conformidade com o reconhecimento deste MM. Juízo


acerca da legitimidade e do direito de habilitação do Autor como herdeiro e administrador da
herança na ação de inventário, nos termos do artigo 617, III, do Código de Processo Civil, este, para
fazer valer o seu direito, buscou coletar informações acerca do bem que lhe foi herdado.

A propósito, concernente à legitimidade do Autor em


relação à ação em epígrafe, entranhada no artigo 1.784, do Código Civil Brasileiro, o ordenamento
jurídico dispõe:

“Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. PRESTAÇÃO DE CONTAS.


CURADORA. LEGITIMIDADE ATIVA DO HERDEIRO. Evidente
a legitimidade do autor para propor a ação
de prestação de contas que diz respeito à administração
dos bens de sua genitora, falecida, no período em que a
apelante exerceu o cargo de Curadora. APELO
DESPROVIDO.”

(Apelação Cível Nº 70057410771, Sétima Câmara Cível,


Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sandra Brisolara
Medeiros, Julgado em 02/07/2014).

Em face da mencionada busca de informações, o Autor


tomou ciência da dívida condominial do imóvel. Porém, antes mesmo de se pensar em procurar o
Réu para uma eventual tratativa de negociação da referida dívida, o Autor tomou ciência, também,
das falácias e boatos supramencionados acerca deste bem, o que lhe causou uma enorme
insegurança quanto às reais condições do imóvel, dada a possibilidade deste estar ocupado.

Ora, Excelência, ficando evidente que este imóvel tem


servido de moradia há algum tempo, após a devida prestação de contas por parte do Réu,
constatar-se-á que há plausibilidade para discussão no tocante aos valores por ele cobrados, visto
que, se o bem foi e está ocupado após o falecimento de Rosalina, então há consumo de água, luz,
gás, etc. Se há este consumo pós morten, não há que se falar em dívida condominial em face do
Autor, o qual figura como único herdeiro, mas sim em reparação de dano em favor de Olavinho.

Desta feita, evidenciando-se a utilização do imóvel durante


o período sucessório, necessária se faz a verificação de suas condições, para que se apure eventual
dano material, causado por mau uso e/ou má conservação, o que caracterizará o disposto nos
artigos 186 e 187, combinados com o artigo 927, todos do Código Civil Brasileiro, que tratam da
obrigação de reparação de dano material e moral decorrente de ato ilícito, ato este caracterizado e
aplicável ao caso concreto, se demonstrado o proveito do bem pelo Réu, ao passo que seu dever
lícito era mantê-lo desocupado e bem conservado até o fim da sucessão.

Observemos, então, o que dispõe a doutrina brasileira, no


que se refere ao detalhamento da prestação de contas, para sanar dúvidas como a retrocitada:

“As contas devem vir acompanhadas dos documentos


comprobatórios. Se houver a indicação de gastos, é
indispensável que sejam comprovados com os recibos ou
notas fiscais correspondentes. Se aquele que prestar contas
não apresenta dessa maneira, o juiz considerará não
prestadas.”( GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios, 2005).

Situação pior se comprovado, então, que o imóvel está


alugado pelo Réu, tendo em vista o caráter dividendo dado ao bem, fazendo deste uma fonte de
renda, quando, em verdade, detinha a responsabilidade de administrá-lo e zelá-lo, em
conformidade com o disposto no artigo 1.797, II, do Código Civil, dada a sua figura de herdeiro
momentâneo, observado o desconhecimento da existência do Autor e de seu direito de herança,
até que findasse o trâmite sucessório.

Neste sentido, importante se faz citar a jurisprudência


pátria, que assim preceitua:

“APELAÇÃO. Ação de prestação de contas. Sentença de


procedência. Inconformismo da ré. Dever de prestação de
contas do inventariante ré à autora, em relação aos bens
deixados pelos falecido. Prestação de contas pelo réu
determinada, nos termos do art. 551, "caput", do CPC.
Sentença mantida. Recurso a que se nega provimento.”

(TJSP; Apelação 1003130-66.2017.8.26.0266; Relator


(a): Carlos Goldman; Órgão Julgador: 7ª Câmara de Direito
Privado; Foro de Itanhaém - 1ª Vara; Data do Julgamento:
09/08/2018; Data de Registro: 09/08/2018).

Isto posto, constata-se, além de sua obrigação, consoante o


disposto no artigo 1.348, do Código Civil Brasileiro, a importância da prestação de contas por parte
do Réu, já que este, na pessoa de seu síndico, figurou como inventariante e administrador do
imóvel, após a abertura da sucessão, até que se houvesse conhecimento acerca da existência e
legitimidade do Autor como único herdeiro deste bem.
Neste diapasão, no que tange ao objetivo da prestação de
contas, a doutrina brasileira predominante, assim preceitua:

“O objetivo da ação de exigir contas é liquidar o


relacionamento jurídico existente entre as partes no seu
aspecto econômico, de tal modo que, afinal, se determine,
com exatidão, a existência ou não de um saldo”. (JUNIOR
Humberto Theodoro, 2015).

Reforçando esta obrigação e a necessidade da exigência de


prestação de contas do Réu, vale ressaltar o Princípio Universal norteador deste direito, o qual
determina que todos aqueles que administram, ou têm sob sua guarda bens alheios, devem prestar
contas, em concordância com o descrito no artigo 861, do Código Civil Brasileiro.

Ainda nesta perspectiva, o ordenamento jurídico pátrio


assim entende:

“O herdeiro possui interesse em exigir a prestação de


contas do inventariante, ainda que não haja determinação
do juízo. Precedentes. Súmula n° 83/STJ. 4. Agravo interno a
que se nega provimento.”

(AgInt no REsp 1447000/SP, 4ª Turma do Superior Tribunal


de Justiça, relatora Ministra Maria Isabel Gallotti, DJe
03/05/17).

“Ação de Prestação de Contas Inventário Primeira fase -


Dever do inventariante de prestar contas da administração
do espólio aos demais herdeiros Inteligência dos art. 550 e
551 do CPC/2015 Prazo de quinze dias para a apresentação
das contas Recurso parcialmente provido.”

(Apelação 0059553-21.2013.8.26.0002; Relator (a): Luiz


Antonio Costa; Órgão Julgador: 7ª Câmara de Direito
Privado; Foro Regional II - Santo Amaro - 4ª Vara da Família
e Sucessões; Data do Julgamento: 27/06/2016; Data de
Registro: 27/06/2016).
Por fim, oportunamente e não menos importante, é válido
trazer à tona também o posicionamento doutrinário acerca da importância da prestação de contas
para resolução da lide e transparência no processo sucessório. Vejamos:

“Não se trata, portanto, de promover um simples


acertamento aritmético de débito e crédito, já que na
formação do balanço econômico realizado no processo
discute-se e soluciona-se tudo o que possa determinar a
existência do dever de prestar contas como tudo o que
possa influir na formação das diversas parcelas e,
conseqüentemente, no saldo final.”. (JUNIOR Humberto
Theodoro, 2015).

Desta feita, observados os preceitos legais, jurisprudenciais


e doutrinários trazidos à baila, imprescindível e inequívoco se faz a prestação de contas por parte
do Réu, ambicionando esclarecer toda e qualquer dúvida que paire sobre o bem objeto da
sucessão, tornando translúcido todo o processo sucessório e os procedimentos acerca do imóvel,
além de preservar a memória da de cujus, que dispôs de uma vida inteira para constituir este
patrimônio.

III – DOS PEDIDOS

Ante o exposto, objetivando o Autor a busca pela


demonstração da prestação de contas acerca do imóvel desde a abertura da sucessão até o
presente momento, requer se digne Vossa Excelência determinar:

a) A procedência da presente ação;


b) A citação do Réu para que, querendo, apresente
contestação, obedecendo ao prazo legal;
c) Diligência especial de Oficial de Justiça,
pretendendo a constatação das reais condições do imóvel;
d) A fixação de honorários em 20% sobre o valor da
causa;
e) Que o Réu traga aos autos todos os extratos
condominiais;
f) A expedição de ofício à administradora do
condomínio para que apresente todo e qualquer documento relacionado ao imóvel;
g) A expedição de ofícios às companhias de água,
luz, telefone, gás, televisão por assinatura e internet, a fim de se verificar a existência de respectivo
consumo no imóvel;
h) A expedição de ofício à prefeitura de São Paulo,
para que informem acerca da existência de dívidas sobre o imóvel, as quais, existindo, correrão por
conta do Réu;
i) A condenação do Réu à restituição de eventuais
danos materiais e morais causados ao Autor, em virtude da utilização indevida e ilícita do bem;
j) A designação de audiência de conciliação;

Protesta provar o alegado por todos os meios em direito


admitidos, por ser medida que contempla a justiça!

Dá-se a causa o valor de alçada: R$ 5.000,00 (cinco mil


reais).

Termos em que
Pede deferimento.

São Paulo, 10 de setembro de 2018.

Advogado____________
OAB-____ / nº________

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