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CONRADO PAULINO DA ROSA

MARCO ANTONIO RODRIGUES

INVENTÁRIO
E PARTILHA
TEORIA e PRÁTICA

5ª edição
Revista, atualizada
e ampliada

2023
9
INVENTÁRIO E PARTILHA:
TEORIA GERAL

9.1. INVENTÁRIO. CONCEITO E ESPÉCIES

A palavra inventário significa ato ou efeito de inventariar, e é empregada


no sentido de relacionar, registrar, catalogar, descrever, enumerar coisas,
arrolar para fins de partilha. Deriva do latim inventarium, de invenire,
isto é, achar, encontrar.1
O inventário não se presta à transmissão do patrimônio deixado pelo
de cujus. Transmite-se a herança com a morte, não sendo, porém, delimi-
tadas a qualidade e a quantidade de bens que irão compor o quinhão de
cada herdeiro ou a meação do cônjuge sobrevivo. Deverá ter lugar, portanto,
um procedimento em que se apurem, descrevam-se e partilhem-se os bens
componentes dessa universalidade. Para tanto, o direito prevê o procedi-
mento de inventário e partilha disciplinado nos artigos 610 a 673 do CPC2.
O Código de Processo Civil, tendo em vista a (in)capacidade civil dos
herdeiros, bem como o valor do monte a ser partilhado, previu diversas
espécies de inventário, a saber:

a) Inventário extrajudicial: cabível na hipótese em que todos os


herdeiros são capazes e concordem quanto à partilha a ser rea-
lizada. É instrumentalizado através de escritura pública, a qual
constituirá documento hábil para qualquer ato de registro, bem

1. OLIVEIRA, Euclides de; AMORIM, Sebastião. Inventário e partilha: teoria e prática. 24. ed.
São Paulo: Saraiva, 2016, p. 278.
2. CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro. Inventário e partilha judicial e extrajudicial. Rio de Janeiro:
Forense, 2018, p. 20.
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como para levantamento de importância depositada em institui-


ções financeiras (artigo 610, § 1º3). Será analisado no próximo
item;
b) Inventário judicial: terá cabimento se houver testamento a ser
cumprido, bem como interessado incapaz (artigo 610 do CPC).
Da mesma forma, caso não haja concordância entre os herdeiros
a respeito da partilha dos bens integrantes do acervo hereditário,
exigir-se-á o processamento do inventário pela via judicial.

O inventário judicial pode se processar pela forma de inventário


litigioso ou de arrolamento, sendo dividido em sumário, cabível quando
os herdeiros optarem pela partilha amigável ou se houver pedido de ad-
judicação por herdeiro único, e em sumaríssimo4 (também chamado de
comum), se o valor do monte não superar mil salários-mínimos (artigo
659 e artigo 664 do CPC5).

3. Artigo 610 do Código de Processo Civil: Havendo testamento ou interessado incapaz, pro-
ceder-se-á ao inventário judicial.
§ 1º Se todos forem capazes e concordes, o inventário e a partilha poderão ser feitos por
escritura pública, a qual constituirá documento hábil para qualquer ato de registro, bem
como para levantamento de importância depositada em instituições financeiras.
4. Também denominado simples, comum ou simplificado (OLIVEIRA, José Maria Leoni Lopes
de. Direito civil: sucessões. Rio de Janeiro: Forense, 2018, p. 754).
5. Artigo 659 do Código de Processo Civil: A partilha amigável, celebrada entre partes capazes,
nos termos da lei, será homologada de plano pelo juiz, com observância dos arts. 660 a
663.
Artigo 664 do Código de Processo Civil: Quando o valor dos bens do espólio for igual ou
inferior a 1.000 (mil) salários-mínimos, o inventário processar-se-á na forma de arrolamen-
to, cabendo ao inventariante nomeado, independentemente de assinatura de termo de
compromisso, apresentar, com suas declarações, a atribuição de valor aos bens do espólio
e o plano da partilha.
Cap. 9 • INVENTÁRIO E PARTILHA: TEORIA GERAL 423

9.1.1. O inventário como um processo multipolar

Parte da doutrina defende que o inventário pode ser caracterizado


pela multipolaridade, ao envolver interesses diversos, de origem material
ou processual, como no caso de a herança reunir o interesse do cônjuge
sobrevivente/meeiro, dos demais herdeiros e de terceiros6. Isto é, afasta-se
a ideia tradicional de inventário como mero procedimento especial de
jurisdição contenciosa ou voluntária.
Nessa linha, entendemos que a complexidade das relações jurídicas e
a necessidade de adequação dos procedimentos às necessidades do direito
material impõe que os procedimentos sejam interpretados à luz da garantia
da tutela jurisdicional efetiva e adequada. Assim, vê-se que o inventário
foge da tradicional visão do inventário como um procedimento com apenas
autor e réu, podendo haver diferentes polos de interesse.
Registre-se que Mazzei defende a ideia de policentrismo no inventário,
em que o interesse direto na sucessão acaba se concentrando em um ou mais
eixos, a princípio, próprios, mas que acabam se interligando até que haja a
solução final da lide. Cabe aqui transcrever o exemplo por ele apresentado:
Basta pensar que na arrecadação não ocorra consenso acerca dos bens particulares
de cada membro do casal, alegando o descendente que bens em nome do cônjuge
sobrevivente fazem parte da comunhão (art. 1.660, I, CC), ao passo que o segundo
defende que os bens – embora adquiridos depois do casamento – foram custeados
com os recursos advindos da sub-rogação de bens (art. 1.659, II, CC). Além de tal
controvérsia, seguindo na ilustração, há também requerimento de colação coacta, já
que como os autores do inventário são herdeiros necessários se fará indispensável
que procedam com a conferência das doações efetuadas em vida pelo autor da
herança (arts.639 do CPC e arts. 2.002-2.003 do CC/2002).7

Esses institutos acabam por revelar que o processo de inventário


possui um grau de complexidade bem maior do que aparenta, sendo que,
à luz de cada situação concreta, podem ser encontradas nuances distintas.

9.2. INVENTÁRIO NEGATIVO

O inventário negativo ocorre quando é iniciado um processo de


inventário sem que haja bens ou direitos do devedor. Na realidade, na

6. MAZZEI, Rodrigo Reis. Ensaio sobre a Multipolaridade e o Policentrismo (com Projeção


aos Conflitos Internos do Inventário “Causa Mortis”). Estudos em homenagem a Cândido
Rangel Dinamarco. São Paulo: Malheiros; Salvador: Juspodivm, p.1154.
7. Ibidem., p.1159.
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medida em que o inventário é procedimento para a catalogação de bens


e direitos do falecido, de modo a proceder à sua partilha, a expressão
inventário negativo parece ser contraditória, pois nesse caso não há bens
a inventariar e, consequentemente, a partilhar.
No entanto, não se pode esquecer de que o falecimento de alguém
pode gerar consequências jurídicas para herdeiros, legatários ou mesmo
terceiros credores. Como exemplo, é preciso recordar que, por força do
artigo 1.7928 do Código Civil, os herdeiros respondem pelas dívidas do
espólio nos limites da herança. Por isso, pode algum herdeiro querer
realizar o inventário negativo, de modo a assegurar sua ausência de res-
ponsabilidade, em virtude da ausência de bens e direitos do morto. No
que se refere à competência, deve ser aplicada a regra geral do artigo 489
do CPC, sendo preferencial o foro do domicílio do de cujus.
Outra finalidade para a aplicação do inventário negativo decorre do
interesse do cônjuge supérstite de afastar causa suspensiva em relação a
uma nova relação matrimonial. Isso porque, o artigo 1.523, inciso I de
nossa codificação civil estabelece como como causa suspensiva (também
chamada de impedimento proibitivo) a hipótese de o viúvo ou a viúva que
tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não se fizer inventário dos bens
do casal e der partilha aos herdeiros (artigo 1.523, II CC). A previsão tem
como escopo evitar que a nova união pretendida pelo sobrevivente não
acarrete em prejuízos a prole havida no relacionamento com seu falecido
marido.10 Nessa hipótese, caso haja a união matrimonial, além da imposição
do regime da separação obrigatória de bens (artigo 1.641, I CC), haverá a
hipoteca legal de seus imóveis em favor dos filhos (artigo 1.489, II CC). A
solução para que isso não ocorra será a realização do inventário negativo.

8. Artigo 1.792 do Código Civil: O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da
herança; incumbe-lhe, porém, a prova do excesso, salvo se houver inventário que a escuse,
demostrando o valor dos bens herdados.
9. Artigo 48 do Código de Processo Civil: O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é
o competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições
de última vontade, a impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e para todas as
ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro.
Parágrafo único. Se o autor da herança não possuía domicílio certo, é competente:
I – o foro de situação dos bens imóveis;
II – havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes;
III – não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do espólio.
10. ROSA, Conrado Paulino da. Curso de direito de família contemporâneo. 5. ed. Salvador:
Juspodivm, 2019, p. 80.
Cap. 9 • INVENTÁRIO E PARTILHA: TEORIA GERAL 425

Note-se que, sendo o inventário extrajudicial preferencial, a Resolução


n. 35/07 do CNJ estabeleceu, em seu artigo 2811, que é possível a realiza-
ção de inventário negativo por escritura pública, o que facilita e acelera
o reconhecimento da ausência de patrimônio do falecido, afastando a
responsabilidade dos herdeiros perante credores.

9.3. INVENTÁRIO COMO PROCEDIMENTO ESPECIAL.


A ADAPTAÇÃO DA TUTELA JURISDICIONAL ÀS
NECESSIDADES DO DIREITO DAS SUCESSÕES

A ação de inventário possui natureza de procedimento especial de


conhecimento, constando do Livro I do Código de Processo Civil. Nessa
ambiência, o inventário é um procedimento especial tendente a apurar o
patrimônio transmitido automaticamente, pelo falecido, pagando as dívidas
deixadas, recolhendo o tributo incidente na espécie e, em arremate, pro-
movendo a partilha entre os sucessores. Assim, o procedimento tradicional
de inventário é bifásico e escalonado, apresentando um momento inicial
de inventariança e um outro, superveniente, de partilha12.
Com efeito, com base no artigo 318 do Código de Processo Civil13,
pode-se afirmar que o processo de conhecimento – aquele em que há um
predomínio da atividade cognitiva – divide-se em dois tipos de procedi-
mento: o comum e os especiais. O procedimento comum é aquele previsto
com uma ampla atividade processual, de modo a se permitir às partes, a
partir de uma cognição exauriente, obter uma decisão final que resolva
o conflito entre elas14. Importante destacar que o procedimento comum
não foi criado pelo CPC tendo em vista as necessidades específicas dos

11. Artigo 28 da Resolução n. 35 do CNJ: É admissível inventário negativo por escritura pública.
12. FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: sucessões. 4. ed.
Salvador: Ed. Juspodivm, 2018, p. 533.
13. Artigo 318 do Código de Processo Civil: Aplica-se a todas as causas o procedimento comum,
salvo disposição em contrário deste Código ou de lei.
Parágrafo único. O procedimento comum aplica-se subsidiariamente aos demais procedi-
mentos especiais e ao processo de execução.
14. “O procedimento comum é o mais completo e o mais apto à perfeita realização do processo
de conhecimento, pela amplitude com que permite às partes e ao juiz pesquisar a verdade real
e encontrar a justa composição da lide. Está estruturado segundo fases lógicas, que tornam
efetivos os princípios fundamentais do procedimento, como o da iniciativa da parte, o do
contraditório e o do convencimento motivado do julgador.” (THEODORO JUNIOR, Humberto.
Curso de Direito Processual Civil. Vol. I. 59. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2018, p. 775).
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direitos envolvidos, mas se destina a ser usado em função de conflitos


das mais variadas espécies.
No entanto, muitas vezes o direito em jogo não será tutelado da
melhor forma possível por meio do procedimento comum, dadas as espe-
cificidades do conflito ou da relação jurídica de direito material envolvido.
Assim, os procedimentos especiais exercem importante papel: representam
a adaptação do processo às necessidades do direito material em jogo15.
O processo não representa um fim em si mesmo, mas um instrumento
para a tutela ao direito nele discutido, preordenado a este objetivo16. Da
mesma forma, os procedimentos representam uma adaptabilidade da tutela
jurisdicional às necessidades do direito material.
Uma vez aberta a sucessão de um morto, surgem direitos para os
herdeiros e mesmo para terceiros, como legatários e credores. Assim, o
procedimento de inventário e partilha de bens surge como o mais adequado
à tutela dos direitos de todos os envolvidos, trazendo regras distintas do
procedimento comum, como a necessidade de apresentação das primeiras
declarações, a manifestação das partes, as últimas declarações, a avaliação
dos bens, o cálculo do imposto e a partilha. A utilização do procedimento
comum do artigo 318 e seguintes do CPC por certo não levaria à perfor-
mance mais adequada à tutela dos direitos de todos os envolvidos.

9.4. JURISDIÇÃO CONTENCIOSA OU VOLUNTÁRIA?

O Poder Judiciário, no exercício da função jurisdicional, atua (i)


solucionando conflitos de interesse e (ii) tutelando interesses privados,
quando assim exigido ou facultado pelo ordenamento jurídico. No primeiro
caso, estar-se-á diante da jurisdição contenciosa; no segundo, diante da
jurisdição voluntária.

15. Como aponta Fredie Didier Junior: adequa-se o processo ao seu objeto tanto no plano
pré-jurídico, legislativo, abstrato, com a construção de procedimentos compatíveis com o
direito material, como no plano do caso concreto, processual, permitindo-se ao magistrado,
dês que previamente (em homenagem ao princípio da tipicidade), alterar o procedimento
conforme às exigências da causa.” (DIDIER JUNIOR, Fredie. Sobre dois importantes, e es-
quecidos, princípios do processo: adequação e adaptabilidade do procedimento. Disponível
em http://www.abdpc.org.br/abdpc/artigos/fredie%20didier_3_-%20formatado.pdf. Acesso
em 27/02/2019).
16. DINAMARCO, Cândido Rangel; LOPES, Bruno Vasconcellos Carrilho. Teoria geral do novo
processo civil. São Paulo: Malheiros, 2018, p. 20-22.
Cap. 9 • INVENTÁRIO E PARTILHA: TEORIA GERAL 427

Durante longo período, houve controvérsia a respeito da jurisdição


voluntária enquanto atividade jurisdicional, especialmente em razão da
definição de Francesco Carnelutti, para quem a lide é indispensável para a
caracterização da jurisdição17. A jurisdição voluntária, sob tal perspectiva,
seria meramente uma atividade administrativa de interesses privados18, a
cargo do Poder Judiciário.
Tal posicionamento não se mostra adequado, na medida em que o
próprio Código de Processo Civil considera a jurisdição voluntária como
espécie de jurisdição, conforme se verifica, por exemplo, no artigo 719 e
seguintes, que tratam dos procedimentos especiais de jurisdição voluntária.
Assim, parece-nos que o Código de Processo Civil adotou claramente uma
opção de os procedimentos de jurisdição voluntária caracterizarem jurisdição.
Ademais, o conflito de interesses não nos parece requisito indispensável
à caracterização da jurisdição, que se presta a tutelar com definitividade
interesses. Na jurisdição voluntária, tal qual na contenciosa, são garantidos
os direitos fundamentais processuais das partes, como se pode observar
do artigo 1º19 do Código de Processo Civil.
Registre-se, ainda, que pode ser até mesmo que um procedimento de
jurisdição voluntária assuma caráter contencioso, caso o conflito surja no
seu curso. Imagine-se um procedimento de retificação de registro de óbito,
para alteração de horário da morte, pois o falecido morreu em acidente de
veículo e o requerente quer fazer constar que o horário do óbito foi posterior
ao do cônjuge do de cujus, também falecido no acidente. Tal procedimento
se inicia meramente como jurisdição voluntária, mas pode passar a ter con-
flito, em razão de parentes do cônjuge do morto questionarem tal alteração,
que fatalmente traria consequências para a sucessão de ambos os cônjuges.
Diante das definições que adotamos acima acerca do que são as
jurisdições contenciosa e voluntária, é preciso analisar se o inventário
configura procedimento especial de jurisdição contenciosa ou voluntária.
Na realidade, essa natureza dependerá da espécie de inventário em
jogo. Isso porque, tratando-se de inventário judicial comum, em que,

17. CARNELUTTI, Francesco. Sistema di diritto processuale civile. Vol. 1. Padova: CEDAM, 1936, p. 40.
18. MARQUES, José Frederico. Ensaio sobre a jurisdição voluntária. Campinas: Millennium,
2000, p. 61.
19. Artigo 1º do Código de Processo Civil: O processo civil será ordenado, disciplinado e inter-
pretado conforme os valores e as normas fundamentais estabelecidos na Constituição da
República Federativa do Brasil, observando-se as disposições deste Código.
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por força do artigo 610 do Código de Processo Civil, há testamento ou


interesse de incapaz, o procedimento possui natureza de jurisdição con-
tenciosa, pois a falta de concordância entre os herdeiros ou a existência
de testamento impõe procedimento em que desde logo se franqueia
contraditório e ampla defesa aos herdeiros20. Assim, o inventário tradi-
cional ou comum trata-se de procedimento de jurisdição contenciosa no
qual se reúnem os elementos relativos à abertura da sucessão em virtude
da morte do de cujus, sua herança, suas dívidas, seus herdeiros e seus
legatários, a fim de, após atender ao pagamento dos débitos exigíveis
e resolver as questões suscitadas de direito ou de fato, ser ultimada a
partilha (ou a adjudicação, em caso de único sucessor), pondo termo à
comunhão hereditária.21
Já o inventário por arrolamento sumário, decorrente da partilha
amigável, na forma do artigo 659 do Código de Processo Civil, possui
natureza de jurisdição voluntária. Isso porque se trata de mera exigência
legal de que a partilha seja objeto de controle judicial, sendo desde já
apresentada pelos herdeiros concordes ou pelo inventariante22.
No caso do arrolamento sumário, fica ainda mais evidente sua na-
tureza de jurisdição voluntária, ao se recordar que poderia ser realizado
por meio de escritura pública, o que demonstra que a participação do
Poder Judiciário sequer é requisito intransponível para a eficácia plena
da partilha. O tabelião, nesse caso, exerce papel típico de jurisdição
voluntária.
Tratando-se de arrolamento sumaríssimo, decorrente do valor dos
bens do espólio igual ou inferior a 1.000 salários mínimos, constante do
artigo 664 do CPC, trata-se de modalidade de inventário em que não
há acordo entre os herdeiros capazes, ou algum dos herdeiros é incapaz.
Nesses casos, o juiz deverá julgar a partilha, o que demonstra seu caráter
de jurisdição contenciosa23.

20. RODRIGUES, Marco Antonio. A Fazenda Pública no processo civil. Rio de Janeiro: GEN,
2016, p. 297-298. Assim também defendemos em: RODRIGUES, Marco Antonio. O papel
das Procuradorias dos Estados nos processos de inventário no novo CPC. In: ARAÚJO, José
Henrique Mouta; CUNHA, Leonardo Carneiro da; RODRIGUES, Marco Antonio. (Org.).
Fazenda Pública. 2ª ed. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 456-457.
21. CARVALHO, Luiz Paulo Vieira de. Direito das sucessões. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2017, p. 875.
22. RODRIGUES, Marco Antonio. A Fazenda Pública no processo civil. Op. cit., p. 298.
23. No mesmo sentido, CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro. Inventário e Partilha Judicial e Extra-
judicial. São Paulo: GEN, 2019, p. 202.
Cap. 9 • INVENTÁRIO E PARTILHA: TEORIA GERAL 429

Também o inventário negativo é espécie de procedimento de juris-


dição voluntária24. Isso porque, como visto, é o inventário negativo mero
procedimento para certificação da inexistência de patrimônio do falecido,
sem que o herdeiro ou herdeiros possuam qualquer tipo de conflito a
ser decidido. Tanto assim, que a Resolução n. 35/07 do CNJ autoriza sua
realização por meio de escritura pública.

9.5. COGNIÇÃO NO INVENTÁRIO E AS QUESTÕES DE ALTA


INDAGAÇÃO

A cognição – atividade judicial de análise de alegações e provas –


se divide nos planos horizontal e vertical25. No plano horizontal, está-se
diante das matérias que podem ser analisadas num processo, a cognição
pode ser plena, quando não há limitação às matérias que podem ser
analisadas, ou parcial/limitada, quando há restrições às questões que
podem ser enfrentadas. Já no plano vertical, verifica-se a profundidade
da análise de alegações e provas, dividindo-se a cognição em exauriente
ou sumária.

24. OLIVEIRA, José Maria Leoni Lopes de. Direito civil: sucessões. Rio de Janeiro: Forense, 2018,
p. 736.
25. “No plano horizontal, a cognição tem por limite os elementos objetivos do processo estu-
dados no capitulo precedente (trinômio: questões processuais, condições da ação e mérito,
inclusive questões de mérito; para alguns: binômio, com exclusão das condições da ação;
Celso Neves: quadrinômio, distinguindo pressuposto dos supostos processuais). Nesse
plano, a cognição pode ser plena ou limitada (ou parcial) segundo a extensão permitida.
No plano vertical, a cognição pode ser classificada, segundo o grau de sua profundidade,
em exauriente (completa) e sumária (incompleta).” (WATANABE, Kazuo. Da cognição no
processo civil. 3. ed. São Paulo: Perfil, 2005, p. 127).
430 INVENTÁRIO E PARTILHA • Conrado Paulino da Rosa | Marco Antonio Rodrigues

O artigo 61226 do CPC define os limites da cognição no inventário,


ao estabelecer que o juiz decidirá todas as questões de direito desde que
os fatos relevantes estejam provados por documento, só remetendo para
as vias ordinárias as questões que dependerem de outras provas.
Diante desse dispositivo, pode-se afirmar que, no plano horizontal,
a cognição é limitada, pois não podem as partes discutir toda e qualquer
matéria. As questões de direito, por mais difíceis, complexas e intricadas,
podem e devem ser resolvidas de plano, nos próprios autos de inventário.
Até mesmo matéria de fato, quando instruída por documentos inequívocos,
pode ser igualmente dirimida no processo de inventário.27
É natural que no processo de inventário e partilha surjam questões
referentes à definição do acervo hereditário e de sua divisão entre os her-
deiros, bem como de quem são esses herdeiros, cabendo ao juiz decidi-las
para que o resultado desse processo seja atingido. Ocorre, porém, que
nem todas as questões podem ser resolvidas no processo de inventário e
partilha, obrigando-se os interessados a ingressar com um novo processo
para a solução de algumas espécies de questões. No diploma legal revogado
eram chamadas de “questões de alta indagação”, expressão suprimida pelo
Código de Processo Civil28, mas que continua a ser utilizada na prática.

26. Artigo 612 do Código de Processo Civil: O juiz decidirá todas as questões de direito desde
que os fatos relevantes estejam provados por documento, só remetendo para as vias or-
dinárias as questões que dependerem de outras provas.
27. MONTEIRO, Washington de Barros; PINTO, Ana Cristina de Barros Monteiro França. Curso
de direito civil. Vol. VI. 39. ed. São Paulo: Saraiva, 2016, p. 316. É o caso, por exemplo, da
pretensão de apreciação de pedido de expedição de alvará judicial de escritura de compra
e venda, caso seja comprovado, documentalmente, o negócio jurídico: AGRAVO DE INSTRU-
MENTO – AÇÃO DE INVENTÁRIO – PEDIDO DE EXPEDIÇÃO DE ALVARÁ PARA TRANSFERÊNCIA
DE BENS ALIENADOS PELO DE CUJUS ANTES DE SEU FALECIMENTO – POSSIBILIDADE DE
ANÁLISE PELO JUÍZO DO INVENTÁRIO – ART. 612 CPC – RECURSO CONHECIDO E PROVIDO 1.
Não há impossibilidade de apreciação do pedido de expedição de alvará judicial de escritura
definitiva de compra e venda nos próprios autos do inventário, tendo em vista a dicção do
artigo 612 do Código de Processo Civil. 2. Tratando-se de matéria de direito comprovada
por prova documental, faz-se dispensável a instauração de nova demanda para a apreciação
do pedido.* (TJMS- AI: 14139075220208120000 MS 1413907-52.2020.8.12.0000, Relator:
Fernando Mauro Moreira Marinho, Data de Julgamento: 24/01/2021, 2ª Câmara Cível, Data
de Publicação: 25/01/2021).
28. NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo código de processo civil comentado. Salvador:
Juspodivm, 2016, p. 1026. Questões de alta indagação são aquelas em que aparecem ele-
mentos de fato que exigiram prova a ser produzida em processo à parte, com rito próprio.
Questões só de direito são questões puras, em que não se precisa investigar fato ou apurar
provas. A dificuldade de interpretação, ou de aplicação, do texto normativo não constitui
Cap. 9 • INVENTÁRIO E PARTILHA: TEORIA GERAL 431

Como apontado pelo Superior Tribunal de Justiça:


AGRAVO INTERNO. RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. SUCESSÕES.
INVENTÁRIO. PARTILHA. MEEIRA. QUESTÃO DE ALTA INDAGAÇÃO. PRE-
TENSÃO DE ANULAÇÃO DE NEGÓCIO JURÍDICO ANTERIOR AO ÓBITO.
TRANSFERÊNCIA DE COTAS SOCIETÁRIAS. AÇÃO ANULATÓRIA.
1. Questões de alta indagação são as que demandam a produção de provas que
não estão nos autos do inventário, e, por exigirem ampla cognição para serem
apuradas e solucionadas, devem ser decididas em ação própria, nas vias ordinárias.
(CPC/1973, artigo 984 e CPC/2015, artigo 612). Precedentes.
2. Os sucessores e o meeiro não são terceiros interessados em relação aos negócios
jurídicos celebrados pelo inventariado; recebem eles o patrimônio (ativo e passivo)
nas condições existentes na data do óbito.
3. As cotas societárias transferidas antes da data do óbito não integram o patrimô-
nio a ser partilhado no inventário, sendo irrelevante, em relação aos sucessores do
falecido, a circunstância de o registro do negócio jurídico na junta comercial ter
ocorrido após o óbito. O registro é necessário apenas para a produção de efeitos
da alteração societária em face da própria sociedade e de terceiros.
4. A verificação de existência de eventuais vícios no contrato de compra e venda das
cotas societárias, sob o argumento de que teria a finalidade de beneficiar o filho do
de cujus, deverá ser precedida de ampla instrução probatória, configurando, pois,
questão de alta indagação a ser decidida pelas vias ordinárias, no caso, em ação
que já se encontra em tramitação.
5. Agravo interno provido. Recurso especial parcialmente provido.29

As questões de fato que necessitem de outros meios de prova, que


não o documental, são, portanto, consideradas de alta indagação, e por
isso devem ser analisadas por meio de outra ação, em que haverá pedi-
do sobre elas e será possível cognição plena e exauriente, levando a uma
decisão que tenha aptidão para a formação de coisa julgada material (e.g.,
reconhecimento de união estável ou de vínculo de filiação socioafetivo). O
artigo 612 menciona que tais matérias serão remetidas às “vias ordinárias”,
o que significa dizer que as questões serão objeto de ação própria. Por
exemplo, imagine-se uma discussão sobre a qualidade de herdeiro de um
interessado, que pode demandar até mesmo eventual exame de DNA, ou a
ocorrência de dissolução parcial de sociedade a qual o de cujus integrava30.

questão de alta indagação. (NERY, Rosa Maria de Andrade; JUNIOR, Nelson Nery. Instituições
do direito civil. Vol. VI. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2017, p. 231).
29. STJ, 4a Turma, Agint no Resp 1359060 / RJ, Relator Min. Lázaro Guimarães, data de julga-
mento: 19/06/2018, data de publicação: 01/08/2018.
30. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. JUÍZO
DA VARA DE SUCESSÕES E JUÍZO DA VARA CÍVEL. INVENTÁRIO. DISSOLUÇÃO PARCIAL DE
432 INVENTÁRIO E PARTILHA • Conrado Paulino da Rosa | Marco Antonio Rodrigues

Tal ação própria para a discussão das questões de alta indagação deverá
seguir suas regras de competência, não sendo de obrigatória submissão
ao juízo do inventário. Pode ser até mesmo que o juízo do inventário seja
absolutamente incompetente para a questão de alta indagação. É o caso,
por exemplo, de uma discussão sobre apuração de haveres decorrente
da dissolução parcial de sociedade de que o de cujus era sócio, hipótese
que, devido à sua complexidade, demanda reserva dos bens até
realização de sobrepartilha31. Trata-se de demanda de competência do
juízo cível ou empresarial, e não do juízo do inventário32.

SOCIEDADES. APURAÇÃO DE HAVERES. ARTS. 984 E 993, PARÁGRAFO ÚNICO, II, DO CPC.
QUESTÕES DE ALTA INDAGAÇÃO. EXTENSA DILAÇÃO PROBATÓRIA. COMPETÊNCIA DO JUÍZO
DA VARA CÍVEL. RECURSO PROVIDO.
1. “Cabe ao juízo do inventário decidir, nos termos do artigo 984 do CPC, ‘todas as questões
de direito e também as questões de fato, quando este se achar provado por documento, só
remetendo para os meios ordinários as que demandarem alta indagação ou dependerem
de outras provas’, entendidas como de ‘alta indagação’ aquelas questões que não puderem
ser provadas nos autos do inventário” (REsp n. 450.951/DF).
2. Questões de alta indagação, por exigirem extensa dilação probatória, extrapolam a cognição
do juízo do inventário, para onde devem ser remetidos apenas os resultados da apuração
definitiva dos haveres. Interpretação dos arts. 984 e 993, parágrafo único, II, do CPC.
3. É no juízo cível que haverá lugar para a dissolução parcial das sociedades limitadas e conse-
quente apuração de haveres do de cujus, visto que, nessa via ordinária, deve ser esmiuçado,
caso a caso, o alcance dos direitos e obrigações das partes interessadas – os quotistas e as
próprias sociedades limitadas, indiferentes ao desate do processo de inventário.
4. Cabe ao juízo do inventário a atribuição jurisdicional de descrever o saldo advindo com a
liquidação das sociedades comerciais e dar à herança a devida partilha, não comportando
seu limitado procedimento questões mais complexas que não aquelas voltadas para o
levantamento, descrição e liquidação do espólio.
5. Recurso especial provido. (STJ – Acórdão Resp 1459192/CE, Relator(a): Min. Ricardo
Villas Bôas Cueva, data de julgamento: 23/06/2015, data de publicação: 12/08/2015,
3ª Turma)
31. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE INVENTÁRIO. APURAÇÃO DE HAVERES. QUOTAS DE
SOCIEDADE EMPRESÁRIA. ALTA COMPLEXIDADE. SOBREPARTILHA. NECESSIDADE. RECURSO
PROVIDO. 1. Nos termos do art. 612, do CPC de 2015, as questões de alta indagação não
podem ser decididas no inventário, devendo ser utilizada a via ordinária. 2. Havendo dis-
cordância entre os herdeiros quanto à partilha das quotas de sociedade empresária, bem
como constatada a necessidade da apuração dos haveres, as quotas da sociedade empresária
devem ser reservadas para posterior sobrepartilha. 3. Agravo de instrumento conhecido
provido para determinar que as quotas da sociedade empresária sejam reservadas para
posterior sobrepartilha. (TJMG- AI: 10024142546233002 MG, Relator: Caetano Levi Lopes,
Data de Julgamento: 08/04/0018, Data de Publicação: 11/04/2018).
32. “PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. JUÍZO
DA VARA DE SUCESSÕES E JUÍZO DA VARA CÍVEL. INVENTÁRIO. DISSOLUÇÃO PARCIAL DE
SOCIEDADES. APURAÇÃO DE HAVERES. ARTS. 984 E 993, PARÁGRAFO ÚNICO, II, DO CPC.
Cap. 9 • INVENTÁRIO E PARTILHA: TEORIA GERAL 433

No plano vertical, a cognição no inventário é exauriente, ou seja,


é possível a análise profunda das matérias33. Como acima mencionado,
a cognição é limitada às questões que sejam passíveis de demonstração
por documentos, porém tais matérias serão analisadas com profundidade
pelo juiz.
Importante destacar que a decisão que nega a apreciação de determinada
matéria no inventário, remetendo às vias ordinárias, é pronunciamento que
cuida de questão no curso do processo – sem que a resolva no próprio
inventário –, caracterizando-se como decisão interlocutória, na forma do
artigo 203, § 2º34, do CPC. Assim sendo, caberá agravo de instrumento
em face dela por eventual insatisfeito, na forma do artigo 1015, parágrafo
único, do CPC, conforme será enfrentado no item relativo a recursos.

QUESTÕES DE ALTA INDAGAÇÃO. EXTENSA DILAÇÃO PROBATÓRIA. COMPETÊNCIA DO JUÍZO


DA VARA CÍVEL. RECURSO PROVIDO.
(…) 3. É no juízo cível que haverá lugar para a dissolução parcial das sociedades limitadas
e consequente apuração de haveres do de cujus, visto que, nessa via ordinária, deve ser
esmiuçado, caso a caso, o alcance dos direitos e obrigações das partes interessadas –
os quotistas e as próprias sociedades limitadas, indiferentes ao desate do processo de
inventário.
4. Cabe ao juízo do inventário a atribuição jurisdicional de descrever o saldo advindo com
a liquidação das sociedades comerciais e dar à herança a devida partilha, não
comportando seu limitado procedimento questões mais complexas que não aquelas
voltadas para o levantamento, descrição e liquidação do espólio.
5. Recurso especial provido” (STJ – Acórdão Resp 1459192/CE, Relator(a): Min. Ricardo Villas
Bôas Cueva, data de julgamento: 23/06/2015, data de publicação: 12/08/2015, 3ª Turma).
33. Rafael Lipmann sustenta haver cognição vertical exauriente no caso (Op. cit., p. 1689),
ao passo que Luiz Rodrigues Wambier e Eduardo Talamini apontam se tratar de cognição
sumária (WAMBIER, Luiz Rodrigues; TALAMINI, Eduardo. Curso avançado de processo
civil. 12. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 330). Luiz Guilherme Marinoni
entende se tratar de cognição plena e exauriente secundum eventum probationis, ou
seja, a coisa julgada só se forma se o conhecimento da questão posta em juízo foi
suficientemente aprofundado pelo órgão jurisdicional (MARINONI, Luiz Guilherme;
ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Comentários ao Código de Processo Civil.
Op. cit., p. 745).
34. Artigo 203. Os pronunciamentos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias
e despachos.
§ 1º Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais, sentença é o
pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à
fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução.
§ 2º Decisão interlocutória é todo pronunciamento judicial de natureza decisória que não
se enquadre no § 1º. [...]
434 INVENTÁRIO E PARTILHA • Conrado Paulino da Rosa | Marco Antonio Rodrigues

9.5.1. Cognição no inventário e competência para o


reconhecimento de união estável

O reconhecimento de união estável post mortem do inventariado é


tema que sempre suscita polêmica quanto à sua possibilidade ou não de
reconhecimento nos autos do inventário.
Não raro, diante da divergência entre os herdeiros ou havendo im-
pugnação a respeito do pedido formulado pelo alegado companheiro, se
houver necessidade de produção de prova não documental para comprovação
da relação de companheirismo, será necessário remeter as partes às vias
processuais próprias, diante da limitação de cognição nesse procedimento,
prevista no artigo 612 do CPC.
De outro lado, caso haja concordância dos demais herdeiros ou provas
suficientes no inventário, não haverá necessidade de produção de prova
não documental a respeito da relação de companheirismo35-36. Isso porque,
em tais situações, as provas não documentais se mostram desnecessárias, e
remeter as partes a outro processo para discutir a união estável iria contra
a eficiência e a duração razoável do processo de inventário.

35. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE INVENTÁRIO C/C RECONHECIMENTO POST MORTEM


DE UNIÃO ESTÁVEL. DOCUMENTAÇÃO SUFICIENTE PARA RECONHECIMENTO INCIDENTAL
DA UNIÃO ESTÁVEL. CONCORDÂNCIA DOS DEMAIS HERDEIROS. ART. 612, CPC. RECURSO
PROVIDO.
- O art. 612 do Código de Processo Civil reconhece a competência do Juiz da ação de
inventário em decidir questões de direito, desde que já comprovadas documentalmente
e dispensem dilação probatória.
- Hipótese na qual deve ser conferida ao Juiz a quo a competência para apreciar a
alegação de união estável que conta com a concordância dos herdeiros do falecido.
(TJMG – Agravo de instrumento n. 1.0000.19.039530-1/001, Primeira Câmara Cível,
Relator Des. Alberto Vilas Boas, julgado em 27/08/2019, Publicada em 28/08/2019).
36. PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. INVENTÁRIO - ARROLAMENTO- RECONHECIMENTO INCIDENTAL
DE UNIÃO ESTÁVEL- COMPROVAÇÃO DOCUMENTAL- POSSIBILIDADE DE APRECIAÇÃO DO
MÉRITO - RECURSO PROVIDO Se o próprio juízo do inventário dispõe de acervo probatório
suficiente para, incidentalmente, decidir a questão relativa à alegada união estável vivida
entre a apelante e o de cujus, afigura-se contrária aos princípios inspiradores da nova
codificação processual civil (princípio da primazia do julgamento de mérito e da economia
processual) a providência de extinção do processo sem julgamento do mérito. (TJ-MS - AC:
08290032720188120001 MS 0829003-27.2018.8.12.0001, Relator: Des. Geraldo de Almeida
Santiago, Data de Julgamento: 31/03/2020, 1ª Câmara Cível, Data de Publicação: 03/04/2020).
Em sentido semelhante: TJMG - AI: 10000220223754001 MG, Relator: Ângela de Lourdes
Rodrigues, Data de Julgamento: 28/04/2022, Câmaras Especializadas Cíveis / 8ª Câmara
Cível Especializada, Data de Publicação: 05/05/2022.
PARTE II

MODELOS
Parte II – MODELOS 637

1. ABERTURA DE INVENTÁRIO

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA __ª VARA DE SUCESSÕES DA COMARCA


_________________

______________ (REQUERENTE DO INVENTÁRIO – algum dos legitimados


dos artigos 615 ou 616 do CPC), qualificação, vem, por seu advogado abaixo
assinado (doc. 01 – juntar a procuração), que tem endereço profissional
em ____________, com base no artigo 611 e seguintes do CPC, requerer
a abertura do inventário dos bens deixados por __________ (nome do
falecido), pelos seguintes motivos:
________________ (nome e qualificação do falecido) faleceu em ___ de
___________ de 20___, na cidade de_____________, conforme certidão
de óbito anexa (doc. 02).
O inventariado era casado (ou mantinha união estável, ou era viúvo,
conforme do caso) com _________ (qualificar o cônjuge ou companheiro),
pelo regime_________(indicar o regime de bens) e teve ________ filhos,
sendo _____________ (deve haver a indicação dos nomes e qualificações
dos herdeiros, relatando-se se algum deles é pré-morto, com a juntada da
respectiva certidão de óbito).
____________, filho pré-morto, deixou ____ filhos, que herda-
rão por representação, na forma do artigo 1.851 do CC. São eles:
___________________________ (Deve haver a indicação do nome e da
qualificação dos herdeiros pré-mortos e de suas qualificações). Já o filho
___________ deixou como única herdeira a inventariada (doc. 05).
O inventariado deixou bens a partilhar e testamento (ou não deixou
testamento), conforme comprova a certidão emitida pela CENSEC –
Central Notarial de Serviços Compartilhados (https://censec.org.br).
Requer desde logo a nomeação de ____________ para exercer o cargo
de inventariante, pois se encontra na posse e na administração do espólio
(artigo 617, II, do CPC).
Após a nomeação do inventariante e assinatura do respectivo termo,
requer-se o prosseguimento da demanda judicial, com a apresentação das
“Primeiras Declarações” no prazo legal (artigo 620 do CPC) e o que mais se
fizer necessário até a conclusão do inventário e homologação da partilha,
com a expedição dos respectivos formais.
Por fim, informa a V.Exa. o número da guia de emolumentos judiciais
eletrônica relativa à distribuição deste inventário/requer a juntada da guia
de custas anexa. Tal requerimento pode ser substituído por: requer a V.Exa.
638 INVENTÁRIO E PARTILHA • Conrado Paulino da Rosa | Marco Antonio Rodrigues

a concessão de gratuidade de justiça, por ser o requerente hipossuficiente


economicamente, na forma do artigo 98 do CPC.
Dá-se à causa o valor de R$ _______ (o valor da causa deve corres-
ponder ao valor estimado do monte).
Nestes termos,
Pede deferimento.
______ (Local), ___ de _______ de 20___.

NOME DO ADVOGADO
Número de sua OAB

Documentos a serem juntados:


Doc. 01: Procuração ao advogado
Doc. 02: Certidão de óbito
Outros documentos pertinentes, como eventuais certidões de óbito
de herdeiros pré-mortos, certidão de casamento ou documento referente
à união estável do inventariado e dos herdeiros, a fim de comprovar sua
condição.

Observações:
O requerente da abertura do inventário pode ser qualquer dos legi-
timados constantes dos artigos 615 e 616 do CPC.
O requerimento de nomeação do inventariante é, em regra, de quem
está na posse ou administração do espólio (artigo 615 do CPC), mas
pode ser excepcionalmente relevada essa ordem, diante de circunstâncias
concretas.
Parte II – MODELOS 639

2. ARROLAMENTO SUMÁRIO

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA DE SUCESSÕES DA COMARCA


___________________

______________, ______________ e _______________ (NOMES E


QUALIFICAÇÕES DOS HERDEIROS, QUE SÃO CAPAZES E CONCORDES), vêm,
por seu advogado abaixo assinado (Doc. 01), com fulcro no artigo 659 e
seguintes do Código de Processo Civil, requerer o inventário por arrolamento
sumário dos bens deixados por _____________ (NOME E QUALIFICAÇÃO
DO FALECIDO), a seguir expostas:

INVENTARIADO

________________ (NOME DO FALECIDO) faleceu em ________ (data),


na cidade de ________, conforme comprova a certidão de óbito anexa
(doc. 02). era casado (ou mantinha união estável, ou era viúvo, conforme
do caso) com _________ (qualificar o cônjuge ou companheiro), pelo
regime_________(indicar o regime de bens).

HERDEIROS

O inventariado teve ________ filhos: ______________ (NOME E QUA-


LIFICAÇÃO DOS HERDEIROS). Caso tenha havido o falecimento de algum
herdeiro, devem ser indicados o nome e a qualificação dos herdeiros e dos
sucessores também.
Dentre os filhos, indicam de comum acordo o herdeiro ____________
como inventariante, sendo que desde já manifesta concordância com sua
nomeação.
Portanto, são herdeiros do inventariado:
(i)_ _____________________________________________________;
(ii)______________________________________________________;
(iii)____________________ ________________________________; e
(iv)______________________________________________________.
640 INVENTÁRIO E PARTILHA • Conrado Paulino da Rosa | Marco Antonio Rodrigues

BENS INVENTARIADOS E ESBOÇO DA PARTILHA


O monte é composto pelos seguintes bens (DEVE HAVER A INDICAÇÃO
DOS BENS E SUA IDENTIFICAÇÃO):
(i)_ ______________________ Apartamento ___________________;
(ii)______________________ Automóvel _____________________; e
(iii)______________________Aplicação financeira________________.
O total do monte é de R$ _____________ (___________).
Caberão aos herdeiros (devem ser indicadas as frações de cada herdeiro,
assim como os bens e o valor em relação ao monte):

Herdeiro ___________:
(i)_ ________ (fração) para ________ (Nome do herdeiro), por direito
próprio, equivalente a R$ ___________ (___________ reais); e
(ii)___ ____ para ____________, por direito próprio, equivalente a R$
____________ (______________ reais).

Herdeiro ___________:
(i)_ ________ (fração) para ________ (Nome do herdeiro), por direito
próprio, equivalente a R$ ___________ (___________ reais); e
(ii)___ ____ para ____________, por direito próprio, equivalente a R$
____________ (______________ reais).

TESTAMENTO
O inventariado não deixou testamento, conforme comprovam as in-
clusas certidões do _______ Distribuidores/ OU: CERTIDÕES DA CENTRAL
DE DISTRIBUIDORES.

***
Diante do exposto, requer seja recebido o presente requerimento e
homologada a partilha acordada entre os herdeiros.
Dá-se à causa o valor de R$________ (o valor da causa é o valor total
indicado para o monte).
Nestes termos,
Pede deferimento.
___________(Local), ___ de ________ de 20___.

NOME DO ADVOGADO
Número de sua OAB
Parte II – MODELOS 641

Documentos a serem juntados:


Doc. 01: procuração
Doc. 02: certidão de óbito
Documentos pessoais dos herdeiros, certidão de casamento ou do-
cumento referente à união estável do inventariado e dos herdeiros, a fim
de comprovar sua condição.
Documentos comprobatórios da titularidade dos bens indicados como
pertencentes ao monte a partilhar.
642 INVENTÁRIO E PARTILHA • Conrado Paulino da Rosa | Marco Antonio Rodrigues

3. CUMPRIMENTO DE TESTAMENTO PÚBLICO

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA __ª VARA DE ÓRFÃOS E SUCESSÕES DA


COMARCA __________________

__________________ (NOMES E QUALIFICAÇÕES DOS REQUERENTES


DO CUMPRIMENTO DO TESTAMENTO), vem, por seu advogado abaixo
assinado (doc. 01), que tem endereço profissional em ____________,
apresentar o testamento público de ____________ (NOME E QUALIFI-
CAÇÃO DO FALECIDO), falecido em ___ de ________ de ____, conforme
certidão de óbito anexa (doc. 02), lavrado perante o ___º Serviço Notarial
desta Comarca, no Livro _____, às fls. ___, ato nº ___, de __ de ______
de _____ (doc. 03), para que, ouvido o Ministério Público, V. Exa. mande
registrar, arquivar e cumprir o testamento, na forma dos artigos 736 e
seguintes do CPC.
Requer a V. Exa. se digne determinar a juntada das inclusas certidões
do __________ Ofícios de Distribuidores (doc. 04), a fim de comprovar
que o testador não possuía testamento posterior ao lavrado em ____ de
_________ de ____.
Caso haja acordo entre os herdeiros maiores e capazes: Ademais, diante
da anuência de todos os herdeiros, requer seja autorizada a lavratura de
escritura pública de partilha extrajudicial, evitando-se o desnecessário
processamento de arrolamento judicialmente.
Por fim, informa a V.Exa. o número da guia de emolumentos judiciais
eletrônica relativa à distribuição deste inventário/requer a juntada da guia
de custas anexa. Tal requerimento pode ser substituído por: requer a V.Exa.
a concessão de gratuidade de justiça, por ser o requerente hipossuficiente
economicamente, na forma do artigo 98 do CPC.
Dá-se à causa o valor de R$______ (valor da causa simbólico).
Nestes termos,
Pede deferimento.
______ (Local), ___ de _______ de 20___.

NOME DO ADVOGADO
Número de sua OAB
Parte II – MODELOS 643

Documentos a serem juntados:


Doc. 01: Procuração ao advogado
Doc. 02: Certidão de óbito
Doc. 03: testamento público
Doc. 04: certidões dos distribuidores
644 INVENTÁRIO E PARTILHA • Conrado Paulino da Rosa | Marco Antonio Rodrigues

4. CUMPRIMENTO DE TESTAMENTO PARTICULAR

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA __ª VARA DE ÓRFÃOS E SUCESSÕES DA


COMARCA __________________

__________________ (NOMES E QUALIFICAÇÕES DOS REQUERENTES DO


CUMPRIMENTO DO TESTAMENTO), vem, por seu advogado abaixo assinado
(doc. 01), que tem endereço profissional em ____________, apresentar o
testamento público de ____________ (NOME E QUALIFICAÇÃO DO FALE-
CIDO), falecido em ___ de ________ de ____, conforme certidão de óbito
anexa (doc. 02), lavrado perante o ___º Serviço Notarial desta Comarca, no
Livro _____, às fls. ___, ato nº ___, de __ de ______ de _____ (doc. 03),
para que, ouvido o Ministério Público, V. Exa. mande publicar, registrar,
arquivar e cumprir o testamento, na forma do artigo 737 do CPC.
Requer a V. Exa. se digne determinar a juntada das inclusas certidões
do __________ Ofícios de Distribuidores (doc. 04), a fim de comprovar
que o testador não possuía testamento posterior ao lavrado em ____ de
_________ de ____.
Indica como testemunhas do testamento __________, ___________ e
___________, na forma do artigo 1876, § 1º, do Código Civil.
Caso haja acordo entre os herdeiros maiores e capazes: Ademais, diante
da anuência de todos os herdeiros, requer seja autorizada a lavratura de
escritura pública de partilha extrajudicial, evitando-se o desnecessário
processamento de arrolamento judicialmente.
Por fim, informa a V.Exa. o número da guia de emolumentos judiciais
eletrônica relativa à distribuição deste inventário/requer a juntada da guia
de custas anexa. Tal requerimento pode ser substituído por: requer a V.Exa.
a concessão de gratuidade de justiça, por ser o requerente hipossuficiente
economicamente, na forma do artigo 98 do CPC.
Dá-se à causa o valor de R$______ (valor da causa simbólico).
Nestes termos,
Pede deferimento.
______ (Local), ___ de _______ de 20___.

NOME DO ADVOGADO
Número de sua OAB

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