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Prezada Maysa,
Legatário – como o próprio nome diz – é quem recebe um legado: bem certo
ou identificado pela espécie, quantidade e qualidade, que lhe é conferido
por meio de testamento ou codicilo. O testador pode beneficiar qualquer
pessoa estranha à sucessão, mas nada impede que nomeie os próprios
herdeiros legítimos, necessários ou facultativos. É o que se chama de
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O art. 2.014 reforça a disposição do art. 2.018, este similar ao art. 1.776
do Código anterior. O art. 2.018 faculta ao ascendente efetuar partilha em
vida, por testamento, em relação a seus descendentes. O art. 2.014
assegura ao testador, em todas as situações e não somente quando se
trata de ascendente em face de descendentes, o direito de, no
testamento, deliberadar sobre a partilha, indicando quais bens e
valores irão compor o quinhão de cada herdeiro. Essa disposição
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É preciso que se diga, desde já, que vige no tocante aos testamentos,
também, o princípio da conservação do negócio jurídico – constante,
dentre outros dispositivos, do art. 184 do CC/2002 –, que determinada
que “respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio
jurídico não o prejudicará na parte válida, se esta for separável (…)”. Sendo
assim, uma disposição nula ou anulável não irá, necessariamente, tornar
todo o testamento nulo ou anulável, respectivamente. Aproveitar-se-á a
declaração ao máximo, preservando-se a última vontade do testador,
conforme os princípios gerais de direito. Desta forma, as invalidades que
serão aqui apresentadas devem sempre ser analisadas conforme o seu
grau de penetração no todo da declaração de vontade, para que não sejam
cometidas injustiças e nem se acabe, por desconsideração do princípio da
conservação do negócio jurídico, se desconsiderando todas as disposições
testamentárias sob a justificativa de que uma ou parte delas é cominada
de nulidade ou anulabilidade. Vige em matéria testamentária com sua
intensidade máxima, por se tratar de uma declaração de vontade não
passível de reiteração, a parêmia utile per inutile non vitiatur, o útil não
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Nessa esteira, é cediço que meação, nessa esteira, é cediço que meação,
por não ser herança, não é objeto de partilha. O que se partilha em um
inventário é a parte cabente ao morto - ou seja, a herança. Contudo,
tendo em vista a indivisibilidade da herança e o estado de indivisão
ocasionado pela morte, o objeto do inventário deve ser a totalidade
dos bens, que por óbvio, inclui a meação. Porém, esta não é partilhada
- é apenas individualizada. Dessa forma, qualquer disposição sobre a
meação pelo cônjuge sobrevivente, em um inventário, deve ser considerado
um negócio jurídico autônomo, passível de tributação e registro distinto da
partilha, ensejando, inclusive, cobrança de emolumentos diferentes da
partilha.
(SOUZA, Abrahão Jesus de. Meação e Herança – institutos diferentes, que
ensejam regramentos diferentes. Disponível em:
<http://ajsregistral.blogspot.com.br/2010/07/meacao-e-
heranca-institutos-diferentes.html>).
(Destacou-se).
1 Confiram-se trechos de detalhado artigo de autoria de Júlio César Meira Medina, o qual se
remete também anexo à presente consulta:
4. Cessão da meação.
A pergunta feita no início, urge seja respondida. A grande maioria dos autores consultados não
têm enfrentado o tema, de forma específica. Encontrei uma forte opinião no sentido de uma
resposta positiva. Embora sem expor os fundamentos, ORLANDO DE SOUZA nos ensina que 'o
próprio cônjuge meeiro pode ceder e transferir os bens que constituem sua meação aos herdeiros
no inventário ou mesmo a estranhos'. Limita-se o professor de Minas Gerais a referir que um
paracer do conhecido jurista Prof. FRANCISCO CAMPOS afirma ser 'válida a cessão da meação da
viúva, com individuação dos bens, feita anteriormente à partilha'. Nada mais acrescenta.
Outros autores não abordam especificamente o assunto em foco. Os mestres WASHINGTON e
CAIO MÁRIO, já referidos, ao sustentarem a distinção dos bens em corpóreos e incorpóreos e,
principalmente, a forma de alienação dos mesmos, fazem com que seus leitores concluam, por
óbvio, que o direito à sucessão aberta (bem incorpóreo) se transmite pela cessão, enquanto a
meação do cônjuge supérstite, que não é direito hereditário e sim domínio sobre metade dos bens,
preexistente à morte do de cujus (bem corpóreo), só pode ser objeto de compra e venda ou de
doação. E, sendo imóveis para os efeitos legais, tal alienação depende de escritura pública. (...)
Outro autor de nomeada, o Prof. CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA, só fala em cessão da herança,
não fazendo qualquer alusão à meação 20, além de dizer que: 'Em regime da comunhão universal
reconhece-se aos cônjuges a propriedade e a posse de todas as coisas móveis e imóveis, atribuídas
a um e a outro por metade como quota ideal'. E acrescenta o autor: 'Somente com a cessação da
sociedade conjugal, e liquidação da comunhão, é que vêm a caber a cada um dos consortes (ou
respectivos herdeiros) os bens que se comportam na sua meação' 21. Mas, adiante, afirma que
cessando o estado de indivisão, se presume ter sido o cônjuge sempre titular de direitos sobre a
sua meação. Alude que a presunção é juris et de jure'. (...)
CARVALHO SANTOS posiciona-se não admitindo a cessão para os direitos reais. Segundo o
renomado civilista 'há quem sustente que a cessão estende-se a todo o campo dos direitos
patrimoniais (cf. DERNBURG, ob. cit., § 50). Mas, evidentemente, há nessa afirmativa um
evidente exagero. A verdade é outra: a cessão não pode ter por objeto direitos imobiliários ou
direitos reais, por isso que a transmissão dos direitos reais, sendo por título oneroso, constituirá
sempre uma compra e venda'. Mais adiante, transcreve a lição de CUNHA GONÇALVES, a saber:
'a) na cessão figuram, sempre, três pessoas, enquanto que na alienação de direitos reais só podem
intervir o alienante e o adquirente; b) a alienação dos direitos reais realize-se erga omnes, quando
muito, terá de ser registrada'. (...)
5. Conclusão.
Com a devida vênia da respeitável posição assumida pelo renomado ORLANDO DE SOUZA,
fulcrado no parecer do jurista Prof. FRANCISCO CAMPOS, concluo, pelos ensinamentos dos
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Atenciosamente,
demais autores aludidos e, principalmente, pela sábia lição que o julgado antes referido nos
apresenta, que:
'A meação do cônjuge supérstite, como não é direito hereditário (coisa incorpórea), não pode ser
objeto de cessão, já que esta, no caso, não transmite o domínio, como também não o transmitiria
a partilha, por não ser atributiva de direito'.
O que se fazer, então? Dois são os caminhos possíveis para a alienação da meação (bem
corpóreo), antes de concluída a partilha, a saber: a) a escritura pública de compra e venda; b) a
escritura pública de promessa de compra e venda irretratável e irrevogável.
Qualquer uma habilita o adquirente ou o promitente adquirente a concorrer ao inventário e
receber a meação, na condição de sucessor do meeiro. Aliás, é sabido que a promessa de compra e
venda irrevogável e irretratável é título de jus in re, oponível erga omnes, isso sem falar na
prerrogativa da adjudicação compulsória.
(MEDINA, Júlio César Meira. A incessibilidade da meação do cônjuge supérstite. Revista da
AJURIS, v. 39, n. 35, nov/1985. Disponível em:
<http://livepublish.iob.com.br/ntzajuris/lpext.dll/Infobase/633e4/63423/6356f?
f=templates&fn=document-frame.htm&2.0>).
(Destacou-se).