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AR 01 - Sucessões
No último livro da saga Harry Potter há uma frase que nos coloca no centro de
uma problemática: “ ora, o último inimigo a ser aniquilado é a morte”. O contexto da
frase, que também possui um significado bíblico, é viver além da morte, de tal modo
que os atos em vida façam sentido e seus efeitos se posterguem ainda que o corpo
físico se deteriore. Em Direito das Sucessões, o ordenamento jurídico tem a intenção
de fazer com que os bens e relações jurídicas deixados pelo autor da herança sejam
ocupados, em outras palavras, que tenham uma continuação mesmo com o evento
morte.
Em virtude da proteção constitucional dada ao herdeiro e os limites impostos ao
testador, há uma corrente doutrinária que entende estar mitigada essa ideia de que a
vontade do de cujus estaria como prioridade no Código Civil. Entendo, no entanto, que
em que pese as partes que legalmente são deixadas aos herdeiros obrigatórios, há
uma parte que pode o autor da herança ter liberdade para dispor, demonstrando que
existe uma autonomia legalmente garantida. Afinal, todo nosso conceito atual de
autonomia já é subentendido estar eivado de limitações.
Somado a isso, é preciso sempre ter em mente que as normas precisam ser
interpretadas em conjunto, para que se façam sentido num todo coerente, por esse
motivo, se existe um rol de herdeiros montado de acordo com o grau de proximidade
com o de cujus é justamente pela tentativa de privilegiar os laços que foram
construídos e manter o acervo patrimonial dentro do que poderia ser sua vontade.
Nesse contexto, é preciso ter um bom entendimento dos conceitos de herança,
meação e espólio sob a perspectiva da possibilidade de disposição dos mesmos. Em
primeiro lugar, a análise da meação é prioritária por ser a parte em que, a depender do
regime de bens, será destinada a pessoa específica: o cônjuge. O conceito de meação
é estudado dentro do Direito de Família porque devemos entender o mesmo como a
proteção dos bens comunicáveis que o casal constituiu a título oneroso na constância
do casamento e não se confunde com o conceito de herança posteriormente analisado.
Por isso, o meeiro, pessoa que responde pela meação, não está herdando ainda, mas
tomando para si parte do patrimônio que é seu por direito.
Dentro do conceito de meação é importante saber qual o regime de bens
adotado, os bens comuns e os individualizados. Essa informação traz consequências
importantes, se o casal opta pelo regime de separação total dos bens, por exemplo,
não há que se falar em meação, pois os bens serão exclusivos de cada um dos
cônjuges. Contudo, nos casos de separação obrigatória, elencados no art. 1.641, do
Código Civil, ainda há comunicação dos bens adquiridos na constância do casamento,
direito dado pela Súmula 377 do STF.
Em termos gerais, a meação é essa parte do patrimônio que fica disponível para
o cônjuge em relação à totalidade dos bens, durante as pesquisas que realizei o
percentual de 50% me pareceu ser a regra. A meação, portanto, é um direito adquirido
da pessoa que compõe o casal, contudo, essa porcentagem deve ser inicialmente
incorporada ao patrimônio do de cujus para posterior partilha, essa determinação
aparece de forma expressa no Código de Processo Civil:
Isso acontece porque, após a morte, deve acontecer a reunião de todos os bens
para posterior partilha como forma de proteção dos herdeiros, os quais devem saber
em quais bens incidiam os direitos da pessoa falecida ainda que fosse metade do valor.
Reservado o direito à meação, partiremos para a herança. No âmbito jurídico, a
herança pode ser conceituada como o conjunto dos bens, direitos e deveres deixados
pelo de cujus que passam aos seus sucessores, sejam eles testamentários ou
legítimos. Pelo princípio da droit de saisine, a herança transmite-se aos herdeiros
imediatamente após a morte do autor da herança. Assim, há uma reunião dos bens,
direitos e obrigações da pessoa falecida, na qual também podem estar inseridos os
investimentos, tudo reunido e considerado como um todo, isso quer dizer que a
herança só faz sentido quando considerada a universalidade, o acervo deixado.
Logo, o entendimento é que quando nos referimos a herança isso não quer dizer
apenas os bens e valores deixados, nesse sentido entende o doutrinador Carlos
Roberto Gonçalves:
A palavra “herança” tem maior amplitude, abrangendo o patrimônio do
cujus, que não é constituído apenas de bens materiais e corpóreos, como
um imóvel ou um veículo, mas representa uma universalidade de direito,
o complexo de relações jurídicas dotadas de valor econômico (CC, art.
91). (GONÇALVES, 2012, p.7).
Da leitura do referido artigo, temos que, em primeiro lugar, é preciso que haja a
morte do autor da herança e, consequentemente, a abertura da sucessão para que se
possa falar em cessão de herança.
O Código Civil exige que a cessão observe requisitos formais. Para isso,
cedente e cessionário realizam um negócio jurídico que, independente do valor da
herança, deve ser observado a formalidade de ser feito por meio de escritura pública.
Do cedente
1. Carteira de Identidade ou CNH, CPF e indicar a profissão,
telefone, e-mail e endereço completo do cedente e do
cônjuge/companheiro, se tiver.
Do cessionário
Esse rol listado não é taxativo, visto que quando houverem imóveis, por
exemplo, serão exigidos documentos específicos. Ainda mais importante é salientar
que deve ser dado direito de preferência para os demais coerdeiros.
Embora esteja claro que o art. 1814 verse sobre a exclusão dos herdeiros e
legatários, o inciso I não correlaciona o crime contra a vida à herança, ou seja, mesmo
que a motivação não seja obter o acervo patrimonial, o fato de ocorrer a conduta
tipificada já é suficiente para ocorrer a exclusão da sucessão.
A segunda hipótese, inciso II, são os crimes contra a honra causando a exclusão
da herança, de igual modo se estende ao cônjuge ou companheiro. Nesses casos, a
jurisprudência vem entendendo a necessidade de uma condenação no âmbito criminal.
Nesse caso acima descrito, temos que a posição foi no sentido de que a escolha
legislativa foi de trazer um rol taxativo, mas que isso não significa dizer que não
existam condutas criminosas além das descritas que criem a mesma sensação de
inconformismo, indignação e injustiça.
O argumento que vislumbro seguir um raciocínio mais coerente seria dizer que a
taxatividade opera em favor da segurança jurídica, para que esteja muito clara qual a
conduta reprovada, e não seja mais uma lei aberta, passível de interpretações
arbitrárias. Entendo e respeito essa linha argumentativa, porém é preciso frisar que ter
princípios como o da tipicidade e legalidade nunca foi um obstáculo para que se
cometessem erros no judiciário.
O juiz não pode, de ofício, declarar que há uma exclusão por indignidade, é
preciso que seja provocado (art. 1815, CC). Logo, são pessoas legítimas para propor a
referida ação: coerdeiro, legatário, donatário e o Poder Público na falta de sucessores
legítimos e testamentários. A exemplo disso, o Ministério Público é legítimo para propor
a ação na hipótese de homicídio tentado ou consumado.
Nesse sentido, é preciso que um dos legítimos ingresse com uma Ação
Declaratória de Indignidade, que deve ser interposta em até 4 (quatro) anos contados
da abertura da sucessão. A sentença proferida nessa ação cível é que determina a
exclusão ou não do acusado, sendo, portanto, dispensável a sentença penal
condenatória.
Nota-se que a ação é declaratória, pois o fato jurídico sob o qual recai a norma
prevista no art. 1814 já foi praticado. Por esse motivo, o réu tem a possibilidade de
interpor defesa, mas, se a sentença o considerar indigno, o efeito é ex tunc como se o
mesmo nunca tivesse sido chamado a suceder.
Além do fato de conseguir provar sua inocência, é possível ao acusado de
indignidade receber o perdão do ofendido, o qual pode ser expresso: o ofendido
expressamente reabilite o ofensor em testamento ou em um outro documento
autêntico. Mas também pode ser uma reabilitação tácita, quando o testador, já tendo
conhecimento da prática de uma das causas de indignidade, contempla o ofensor no
seu testamento, assim, passa a suceder por via testamentária, mas não nas vias
legítimas, (art. 1818, parágrafo único, do CC).
BENS INDIVIDUAIS:
● apartamento (I MILHÃO)
● herança 1 milhão
Dos netos de Marília (Maiara, Maraísa e Leandro), Leandro foi o único recebedor
da herança deixada, isso porque seu pai Leonardo faleceu após a notícia da morte,
isso fez com que inicia-se a sucessão e imediata transmissão dos bens. Dessa forma,
os demais netos, felizmente (ou não), ainda possuem pais vivos os quais são titulares
da herança deixada por Marília. Por isso, Leandro recebe por direito próprio a herança
deixada por seu pai.
05 – Bell nasceu em 1945, filho de Ivete e Durval. Tinha dois irmãos, Saulo e Tuca.
Tuca tinha uma filha, Daniela. Ao longo de sua vida, Bell dedicou-se
exclusivamente ao trabalho, tendo adquirido um patrimônio de 12 milhões de
reais. Nunca teve filhos. Em 2018, Bell se casou com Carlinhos. Ivete morreu em
2020, deixando vivos seus pais, Xandyy e Carla, avós de Bell. Bell morreu em
2022. Como se dará a partilha dos bens deixados por Bell? Das pessoas listadas,
identifique quem herdará, a que título (legítimo ou testamentário), de que modo
(direito próprio, representação ou transmissão) e os respectivos valores.
Também indique quais pessoas nada herdarão e por quê.
Os bens deixados por Bell foram construídos pelo próprio ao longo de sua vida,
o casamento só ocorreu depois do patrimônio montado. Por causa da morte de Bell,
teremos que analisar quais são os parentescos e o grau de proximidade das pessoas
que restaram vivas.
Conforme dito, o casamento com Carlinhos foi posterior à construção do
patrimônio de 12 milhões de reais, o que, consequentemente, afasta o direito à meação
nesses bens. Contudo, ainda é possível que o cônjuge sobrevivente seja herdeiro.
Pela ordem de vocação hereditária, a inexistência de descendentes, já que Bell
não teve filhos, faz com que os parentes mais próximos na linha sucessória sejam os
ascendentes em concorrência com o cônjuge:
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I – aos descendentes, em concorrência com o cônjuge
sobrevivente, salvo se casado este com o falecido no regime da
comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art.
1.640, parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o
autor da herança não houver deixado bens particulares;
IV – aos colaterais
REFERÊNCIAS