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DIREITO DAS SUCESSÕES.

MARIA BERENICE DIAS


GISELDA HIRONAKA.

SUCESSÃO EM GERAL:

1. A sucessão como um fenômeno jurídico.


A sucessão não se restringe ao direito das sucessões. Isso significa que o direito sucessório é mais amplo,
mais abrangente que o conceito de sucessão.
Direito das sucessões é apenas uma parte do fenômeno sucessório.
Tudo parte da expressão latina “SUB + CEDERE” que significa substituição. Assim, a sucessão é a
substituição do sujeito ou do objeto de uma relação jurídica.

Existem três possibilidades de sucessão. Esta substituição pode ser:


a) Do objeto = chama-se sub-rogação real. É quando se substitui o objeto de uma relação jurídica. Ex: o
bem de família convencional (escolhido pela entidade familiar, quando dedica a proteção de um
determinado bem) – o CC limitou o bem de família convencional a 1/3 do patrimônio líquido do
devedor; o regime do bem de família legal se harmoniza com o bem de família convencional.
Ex: suponha-se que um grupo de família convencionou bem de família e quer substituir a convenção.
Isso pode acontecer pelo art. 1717 do CC e 1719 do CC, por decisão judicial, ouvido o MP.

b) Do sujeito (por ato “inter vivos”) = chama-se de sub-rogação pessoal. É a substituição do sujeito de uma
relação jurídica decorrente de um ato inter vivos.
Ex: art. 304 do CC – direito das obrigações (pagamento pelo terceiro interessado – aquele que pode ser
atingido juridicamente pelo inadimplemento (avalista, fiador, sublocatário)).
Não se aplica a regra do art. 304 quando se tratar de alienação fiduciária. Pois, nesta hipótese, haverá
sub-rogacão sempre, mesmo sem ser interessado.

c) Do sujeito (por ato “causa mortis”) = AQUI ESTÁ A MATÉRIA DIREITO DAS SUCESSÕES.
O DIREITO DAS SUCESSOES diz respeito à substituição do sujeito da relação jurídica, em razão da morte do
titular. Entretanto, nem toda sucessão diz respeito ao direito das sucessões.
Logo, nem toda sucessão está abrangida pelo direito das sucessões. Existem sucessões não abrangidas pelo
direito das sucessões. Com isso, percebe-se que o fenômeno sucessório é mais amplo para o direito do que
somente o direito das sucessões.

2. O direito das sucessões.


É o conjunto de normas-regras e normas princípios que disciplinam a transmissão do patrimônio de alguém
que faleceu para os seus sucessores.

Obs: É possível dizer que toda e qualquer relação jurídica admite a incidência do direito das sucessões?
Existem relações jurídicas que não admitem a incidência do direito das sucessões. O direito das sucessões
limita-se ÀS RELAÇÕES JURÍDICAS PATRIMONIAIS. Somente tais relações admitem a substituição do sujeito
quando da morte do titular. Ex: crédito, propriedade. Já as relações personalíssimas (EXISTENCIAIS) se
extinguem com a morte do titular. NUNCA SE TRANSMITEM.

Obs: relações patrimoniais que excepcionalmente não admitem a incidência do direito das sucessões:
ENFITEUSE – quando falecido o foreiro, sem deixar sucessores (art. 692, inciso III, CC/16);
USUFRUTO, USO E -- por serem relações baseadas no caráter intuito personae.
HABITAÇÃO
DIREITO AUTORAL – art. 41 – o direito autoral é híbrido, porque:
(Lei 9.610/98) a) é direito da personalidade - É direito da personalidade em relação ao
invento, criação
b) é direito real - É direito real no que diz respeito à exploração, ao exercício
(Dá-se o nome de propriedade intelectual).

Obs: no caso de coautoria, o prazo começa a fluir da morte do último coautor.


O autor da obra continua sendo o morto, não alterando a autoria.
O aspecto patrimonial do direito autoral se transmite e funciona da seguinte
maneira: transmite-se a parte patrimonial do direito autoral aos herdeiros do autor,
pelo prazo de 70 anos, contados de 1º de janeiro do ano subsequente à morte do
autor. Findo, a obra cairá no domínio público, ou seja, qualquer pessoa poderá
explorá-la independentemente de pagamento.
ALVARÁ JUDICIAL Art. 1037 do CPC; Lei 6.858/80, que está regulamentada pelo Decreto 85.845/81.
Não entra na regra dos direitos das sucessões.
Conceito: é a regulamentação de pequenas sucessões. É um procedimento de
jurisdição voluntária tendente a disciplinar pequenas sucessões de modo facilitado.
Todo procedimento de jurisdição voluntária tem como marca a possibilidade de o
juiz não se submeter à legalidade estrita, mas ao princípio da equidade.
Requisitos para o alvará judicial:
a) Patrimônio consistente, apenas, em verbas pecuniárias não superiores a
500 OTNs (cálculos do TJ/SP estabelecem o valor de R$15 a R$20mil).
b) Inexistência de outros bens a partilhas.
Obs: a existência de qualquer outro bem obsta o alvará. Todavia, considerando
que a LINDB estabelece que o juiz ao aplicar a lei observará as suas funções
sociais e os fins para os quais foi criada, Cristiano entende que havendo bem
deixado pelo de cujus, não ultrapassado o valor de 500 OTNs, com base no art.
5º da LINDB poderia ser liberado por alvará.

muitos estados do país preveem a inexistência de incidência fiscal sobre o alvará


(isenção).

3. Terminologias fundamentais.
Os autores mais antigos (Monteiro, Rodrigues) estabelecem que a compreensão dos direitos das sucessões
está em suas terminologias.
AUTOR DA (“DE CUJUS SUCESSIONIS AGITUR)” – (aquele de quem a sucessão se trata).
HERANÇA É o titular falecido do patrimônio transmitido.
Obs: Quem morre sem deixar patrimônio não é “de cujus”.
SUCESSOR É aquele que será convocado para dar continuidade às relações patrimoniais do falecido.
Há duas espécies de sucessor:
LEGATÁRIO
É o sucessor a título singular.
é quando se recebe um bem certo e determinado (um legado). Ex: casa, carro,
quantia em dinheiro.
É SEMPRE TESTAMENTÁRIO.

HERDEIRO
É o sucessor a título universal
Possui um percentual do patrimônio transmitido. É quem recebe um quinhão (fração
ideal do patrimônio transmitido).
PODE SER LEGÍTIMO (previsto em lei – arts. 1829/1790- descendentes, ascendentes,
cônjuge supérstite, companheiro e colaterais até 4º grau). Dentre os herdeiros
legítimos, alguns são necessários, outros facultativos (art. 1.845 do CC).

 Os herdeiros necessários são aqueles que sucedem obrigatoriamente, fazendo


jus a uma porção mínima chamada de legítima (que corresponde a 50% do
patrimônio líquido disponível). São eles: descendentes, ascendentes e cônjuges
sobreviventes. O companheiro não foi contemplado pelo art. 1845 do CC. Isso
não se sustenta pela técnica da interpretação conforme a constituição. No
entanto, caindo em prova de marcar, atentar para o fato de que o código não se
referiu ao companheiro.

Obs1: há casos de concomitância entre sucessor legítimo e facultativo.


a) Quando há herdeiro necessário e testamento. Observa-se a legítima.
b) Quando não há herdeiro necessário, mas o testamento não dispõe da
integralidade do patrimônio. Chamam-se os herdeiros facultativos quando só
haja herdeiro facultativo é possível dispor de todo o patrimônio. Ele não tem
legítima.

Obs2: não esquecer a expressão HERDEIRO UNIVERSAL – é quando uma pessoa herda
todo o patrimônio sozinha. Não haverá partilha, mas ADJUDICAÇÃO DA HERANÇA.

OU TESTAMENTÁRIO (provém da vontade do autor da herança).


HERANÇA. Obs: diferenciação
HERANÇA
É o conjunto (complexo) de relações jurídicas patrimoniais transmitidas pelo falecido.
No Brasil, é direito fundamental (art. 5º, XXX, da CF).
É um bem imóvel, indivisível e universal (art. 80 do CC), mesmo que composta
somente de bens móveis, divisíveis e singulares.
Obs: o titular pode ceder a sua herança. Caso seja casado, precisa de consentimento de
sua esposa, pois é bem imóvel. Logo, necessário o instrumento público.
Obs: necessário dar preferência aos outros herdeiros, porque é universalidade.
É universalidade de direito e não de fato.
Obs: é possível litisconsórcio entre espólio e herdeiros.

LEGADO
vide comentários anteriores
4. Abertura da sucessão e transmissão automática (art. 1784 do CC).
O CC abraça a regra da transmissão automática da herança, com a abertura da sucessão.
Há expressão “Droit de Saisine” que explica o art. 1784 do CC.
Na idade média, os senhores feudais começaram a subtrair patrimônio dos servos que iam morrendo. A
Jurisprudência francesa criou o “saisine” com a intenção de preservar o patrimônio dos servos. Significa a
transmissão automática de todas as relações patrimoniais do falecido. Falecendo o titular, todas as relações
patrimoniais são automaticamente transmitidas aos herdeiros.
“Saisine impede que o patrimônio fique acéfalo”.

ABERTURA DA SUCESSAO TRANSMISSAO AUTOMÁTICA.


(MORTE) (SAISINE)

A morte gera a transmissão automática das relações patrimoniais do falecido (independe da vontade dos
herdeiros), formando a herança, que é representada pelo espólio. Com isso, forma-se, por força de Lei um
condomínio, que somente será dissolvido pela partilha.

4.1 Outros efeitos jurídicos decorrentes da saisine, além da transmissão automática.


a) Averiguação da capacidade sucessória dos herdeiros e legatários (1.798) – qualquer modificação
superveniente nessa capacidade sucessória é irrelevante.
b) Fixação da lei sucessória – a lei que norteia uma sucessão é aquela vigente no momento de sua
abertura. Modificações posteriores são irrelevantes. Ex: imagine-se uma pessoa que faleceu em
dez/2002, mas cujo inventário só foi aberto posteriormente e, quando este último fato ocorreu,
estávamos sob a égide do novo código. Aplica-se o código velho (caso de ultratividade da norma); ex:
nesse sentido a súmula 112 do STF (a alíquota do imposto causa mortis será a vigente no momento da
abertura da sucessão).
c) Verificação do cálculo da legítima –.
c.1) O cálculo da legítima para fins de testamento é a abertura da sucessão
c.2) Já o cálculo da legítima para fins de doação é o momento da liberalidade (art. 549).
c.3) O cálculo da legítima para antecipação de herança – discussão: aparente conflito de normas:
Art. 1014, parágrafo único do CPC Art. 2004, parágrafo 2º do CC
– estabelece que o momento é a abertura da – estabelece que a legítima será calculada no
sucessão momento da liberalidade
Enunciado 119 da Jornada –
 se o bem antecipado ainda estiver no patrimônio do donatário calcula-se o seu valor na
abertura da sucessão.
 Se o bem não mais estiver no patrimônio do donatário, o valor será calculado pela data da
liberalidade.
O objetivo é evitar o enriquecimento sem causa.

d) Fixação do lugar da sucessão (art. 1.785 do CC).


O lugar da sucessão é o último domicílio do falecido, porque lá se hospedam os seus interesses. Essa
informação é importante para fins de competência, no que diz respeito à competência para processar e
julgar o inventário.

Obs: COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR O INVENTÁRIO (1.785 + 96 DO CPC).


 REGRA GERAL: ÚLTIMO DOMICÍLIO DO FALECIDO.
 SITUAÇÕES ESPECIAIS:
a) Se tinha mais de um domicílio (pluralidade de domicílios (art. 70 do cc)), qualquer deles por prevenção.
b) Se não tinha domicílio, o lugar do óbito, se nele havia bens.
c) Se no lugar do óbito não havia bens, qualquer dos lugares onde existiam, por prevenção.
Obs: TODAS ESSAS REGRAS SÃO DE COMPETENCIA RELATIVA, PORTANTO, NÃO PODEM SER CONHECIDAS
DE OFÍCIO PELO JUIZ (súmula 33 do STJ). As partes podem prorrogar.
Obs: O STJ estabelece que o MP, como fiscal da Lei, excepcione o inventário como representante do
incapaz.

Obs: não se aplicam essas regras de competência quando se tratar de inventário extrajudicial (cartório) –
consensual, não tem incapaz, e não tem testamento. Não existe competência/jurisdição cartorária. O
imposto vai ser pago no estado competente.

Obs: agrega-se o art. 89 do CPC, inciso II, às regras de competência.


Competência exclusiva da Justiça brasileira para processar e julgar o inventário de bens situados no Brasil
ainda que pertencentes a um estrangeiro. Nesses casos de competência exclusiva da Justiça Brasileira, o
juiz do Brasil vai julgar de acordo com a regra do art. 5º, inciso XXXI da CF, que corresponde a LINDB, art.
10 (consagram a regra da norma sucessória mais favorável – quando se tratar de sucessão de bens de
estrangeiro, aplica-se sempre a norma sucessória mais favorável ao herdeiro brasileiro). Em se tratando de
direito estrangeiro, compete à parte provar qual a norma sucessória mais favorável (art. 337 do CPC) - O
juiz tem que saber a legislação dos países do Mercosul (protocolo de Las Lenas).

Obs: os efeitos decorrentes de saisine não alcançam o legatário, somente o herdeiro. O legatário só recebe
quando houver a partilha (a transmissão é a título singular).
Logo, não será citado nas ações contrárias ao espólio, pois não integra o espólio.
E se o legatário pleitear tutela antecipada. É possível? Sim, desde que preste garantia chamada de CAUÇAO
MUCIANA (real ou fidejussória).

5. Capacidade sucessória.
É a aptidão para ser herdeiro ou legatário. Portanto, prende-se à ideia de atributo sucessório.
No CC, a expressão capacidade sucessória veicula a ideia de capacidade jurídica. Porém não são
confundíveis, sendo a segunda expressão a possibilidade de praticar atos jurídicos pessoalmente.
Já a capacidade sucessória é a aptidão para ser herdeiro ou legatário. Assim, a melhor nomenclatura se
mostra como legitimidade sucessória (aptidão para ser herdeiro ou legatário).

Quem tem capacidade sucessória são as pessoas nascidas ou concebidas (art. 1798 do CC). A sua
verificação se dará no momento da abertura da sucessão, sendo irrelevantes eventuais modificações
posteriores. Ex: uma filha que mata os pais (indigna) e o filho é concebido depois (não terá capacidade
sucessória).

Obs: AMPLIAÇAO DE CAPACIDADE SUCESSÓRIA NO QUE TANGE À SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA.


Quando se tratar de sucessão testamentária, haverá uma ampliação da capacidade sucessória. Além de
sucederem as pessoas nascidas ou concebidas (sucessão genérica), também terão capacidade sucessória:
a) A pessoa jurídica.
b) A pessoa jurídica a ser constituída com o patrimônio transmitido (fundações).
c) A prole eventual (ou concepturo) – haverá prazo de dois anos para a concepção, contados da abertura
da sucessão. Cristiano não verifica óbice à possibilidade de adoção nesse caso de prole eventual, salvo
disposição expressa do testador.
Obs: art. 1799, inciso I do CC – diz que é possível deixar herança/legado para prole eventual (filho não
concebido) de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas (no momento da abertura da sucessão).
Esse inciso limita o benefício em relação à prole eventual.
Nessa medida, não pode o testador caracterizar como prole eventual o filho dele, ainda que não concebido.
O único caso que se admite fideicomisso (substituição) é em favor de prole eventual (art. 1952 do CC).

Obs: art. 1798 do CC –


“Pessoas nascidas” – separadas pelo cordão umbilical
“Pessoas concebidas” – abrange também a concepção laboratorial? Terá o embrião capacidade sucessória?
É indiscutível o fato de que ele não tem personalidade. Há divergência doutrinária:
a) Para Caio Mário, Tartuce a resposta é negativa, pois somente quando se tornar nascituro se teria o
conceito jurídico de concepção. O conceito jurídico de concepção para esses autores é uterino.
b) Maria Berenice Dias, Giselda Hironaka, em entendimento majoritário, entendem que o embrião de
laboratório tem capacidade sucessória, porque a constituição proclama a igualdade entre os filhos.
No art. 1.798 não há referencia à necessidade de concepção uterina.
Obs: a Lei 11.105/2005 – Lei de Biossegurança estabelece o prazo de 03 anos para ficar guardado o
embrião. Após tal prazo, se não houver o implante, será descartado.
Obs: PETIÇAO DE HERANÇA – AÇAO CABÍVEL PARA RECLAMAR HERANCA QUE NÃO FOI RECEBIDA –
O prazo prescricional é de dez anos a partir da abertura da sucessão. Assim, considerando causas
suspensivas da prescrição, somente aos 16 anos recomeça o prazo a fluir para aquele embrião
concebido em laboratório.

5.1 Incapacidade sucessória (art. 1801 do CC).


a) Quem não é nascido, nem concebido (art. 1.798 do CC) – à exceção da sucessão testamentária,
conforme visto.
b) O tabelião ou quem redigir o testamento.
c) As testemunhas testamentárias (pode ter 16 anos – pois pode fazer o testamento também).
d) Aquele que redigir o testamento a rogo do testador.
e) A concubina, salvo se estiver separada de fato há cinco anos (inciso III – VIDE O ART. 1723, parágrafo 1º
que estabelece que a simples separação de fato – independente de prazo – já caracteriza a união
estável). Não há, logo, prazo para configurar a união estável.
f) A pessoa interposta (“laranja”, “testa de ferro”), pois se trata de simulação (NULIDADE).
Obs: haverá presunção absoluta de simulação quando se tratar de descendente, ascendente, cônjuge, ou
companheiro, e irmão das pessoas incapazes de suceder.
g) O filho do testador – art. 1.803

6. Indignidade e deserdação.
6.1 pontos comuns.
Os institutos possuem ponto de afinidade. Ambos são sanção civil (pena) àquele que praticou ato contrário
aos interesses do autor da herança, somente sendo punido com o devido processo legal. Aplica-se o
princípio da intranscedência da pena. Consequentemente, o indigno ou deserdado não recebe, mas os seus
herdeiros recebem como se ele morto fosse.
Constitui um dos casos de sucessão por representação (ou por estirpe), ou seja, quando uma pessoa
recebe no lugar da outra. Os três casos são: INDIGNIDADE, DESERDACAO, PRÉ-MORTE.
6.2 pontos divergentes.
INDIGNIDADE DESERDAÇÃO
Qualquer sucessor, seja herdeiro, seja legatário. é somente dos herdeiros necessários.
É causada por atos praticados antes da abertura da Obs: os herdeiros facultativos não são
sucessão. deserdados, pois não possuem legítima.
será reconhecida por meio de ação ordinária de é por ato praticado antes da abertura da
indignidade, cujo procedimento é comum. Qualquer sucessão.
interessado na indignidade pode promovê-la. Ex: o o instrumento para deserdar é o
descendente do indigno, outros herdeiros. testamento, que deve ser homologado pelo
Obs: discute-se se no conceito de interessado enquadra- juiz (que precisa confirmar se o ato praticado
se o MP. é causa deserdativa e é necessário o devido
Argumentos contrários: O art. 127 da CF estabelece que o processo legal).
MP atuará quando se tratar de interesse social ou somente é cabível ao autor da herança,
individual indisponível. Na indignidade e deserdação, o que é o ofendido.
interesse é patrimonial. Assim, mesmo que haja Não tem prazo, podendo ser feito
incapazes, a disponibilidade do interesse em disputa enquanto vivo for.
cessa a disputa. Não tem prazo.
Argumentos favoráveis – majoritário – enunciado 116 da
Jornada
prazo decadencial de 04 anos para propositura da ação
de indignidade.
Hipóteses de indignidade: art. 1814 do CC
a) Homicídio doloso (tentado/consumado) contra o
autor da herança, seu cônjuge ou companheiro,
ascendente ou descendente. Causas deserdativas (art. 1814 do CC + art.
b) Crime contra a honra ou denunciação caluniosa 1961 a 1963 do CC):
contra o autor da herança, seu cônjuge ou a) Homicídio doloso (tentado/consumado)
companheiro. O ascendente e descendente não contra o autor da herança, seu cônjuge
foram alcançados por essa hipótese. ou companheiro, ascendente ou
c) Ato que impeça a manifestação de vontade do autor descendente.
da herança produzir efeitos. Ex: marido que jogou o b) Crime contra a honra ou denunciação
testamento da esposa no mar. caluniosa contra o autor da herança, seu
Obs: trata-se de rol taxativo. Em se tratando de filho que cônjuge ou companheiro. O ascendente
não tentou matar o pai, e praticou auxilio, instigação ao e descendente não foram alcançados por
suicídio merece sanção? O STJ, no REsp 334.773/RJ, essa hipótese.
abraçou a tese da tipicidade finalística, que também c) Ato que impeça a manifestação de
serve para indignidade, deserdação e doação (ingratidão vontade do autor da herança produzir
do donatário, hipótese em que pode ser revogada). efeitos.
Tal tese estabelece que a interpretação desse rol taxativo d) Ofensas físicas.
deve levar em conta a finalidade de cada tipo. Logo, o juiz e) Injúria grave.
pode considerar outras causas, desde tenham a mesma f) Abandono material.
finalidade. g) Relações ilícitas.

Obs: nesse rol, as duas primeiras hipóteses Obs: quem pode ser deserdado é herdeiro
correspondem a crimes. É necessária condenação necessário: ascendente, descendente,
criminal prévia? cônjuge.
A resposta vem do art. 935 do CC – autonomia das As sete causas são aplicáveis aos
instâncias. Não se exige prévia condenação criminal, em descendentes e ascendentes. Já o cônjuge só
face do princípio. Se já houve a condenação criminal, a pode ser deserdado nas três hipóteses de
condenação civil é efeito da ação penal condenatória. indignidade.
Há um caso em que é necessária a prévia condenação
criminal: O DELITO, O CRIME, SOMENTE O JUIZ PENAL
PODE RECONHECER. O JUIZ CIVEL SOMENTE RECONHECE
O FATO JURÍDICO. HÁ UMA DECLARAÇÃO DE FATO.
Assim, quando a lei fala “crime” somente o juiz penal
pode reconhecer. Dessa maneira, em se tratando de
homicídio e denunciação caluniosa, o juiz pode
reconhecer que o homicídio e a denunciação é
indignidade. Já crime contra a honra depende de prévia
condenação criminal.

Ex: se depois da sentenca condenatória cível por


indignidade sobrevier sentenca absolutória por negativa
de autoria ou materialidade é cabível ação rescisória, no
prazo de 2 anos, e preenchidos os requisitos do art. 485
do CPC. Se não forem preenchidos os requisitos, haverá
coisa julgada material, sem cabimento de relativização da
coisa julgada (pois os interesses são patrimoniais e a
jurisprudência somente admite relativização em
interesses extrapatrimoniais)

7. Cessão de direitos hereditários.


É possível fazer circular a herança. Pode ser objeto de um negócio jurídico. Esse negócio é a cessão de
direitos hereditários.
Pode ser:
a) No todo/ Em parte
b) A título oneroso/gratuito.

7.1 Requisitos.
a) Requisito temporal: o negócio deve ser celebrado no lapso temporal compreendido entre a abertura da
sucessão e a partilha. O motivo é simples, pois depois da partilha não é cessão de herança, mas de
direitos próprios (compra e venda ou doação).
Obs: Proibição de pacto sucessório (pacta corvina) – art. 426 do CC – não é possível a cessão de
herança antes da abertura da sucessão. Isso traz contrato nulo.
b) Requisito formal: tem que ser por escritura pública/instrumento público – sem necessidade de registro
no cartório- ou por termos nos autos do inventário, pois a herança é bem imóvel.
c) Requisito subjetivo: a capacidade do cedente.
Obs: se o herdeiro for incapaz, somente se pode celebrar o negócio ouvido o MP com prévia autorização
do juiz.
Obs: exceto na separação absoluta (a lei dispensa), exige-se o consentimento do cônjuge, sob pena de
anulabilidade no prazo de 02 anos. Se o casamento for na separação dos aquestos, o pacto pode
dispensar.
d) Requisito objetivo: o objeto da cessão deve ser uma universalidade, pois a herança é um bem universal.
Considerada a sua universalidade, somente uma universalidade (percentuais) e não bens específicos
podem ser cedidos (ninguém pode dar mais do que possui).
Obs: as únicas hipóteses em que se admite cessão de direitos hereditários de bens singulares é quando
houver a concordância de todos os interessados (Fazenda Pública, eventuais credores, cônjuges),
porque efetivamente são interessados no inventário; ou na cessão de legado.

7.2 Efeito jurídico da cessão.


O cessionário passa a ocupar o lugar do cedente. Dessa maneira, passa ele ter legitimidade para requerer a
abertura do inventário ou mesmo para requerer a ação de petição de herança.
A natureza jurídica é aleatória (alea = sorte). Trata-se, portanto, de negócio incerto. Assim, não incidem
vícios redibitórios e evicção. Conclusão, considerada a não incidência dos vícios redibitórios ou evicção,
observa-se que, por exemplo, cessão onerosa, mesmo havendo dívidas que diminuam o patrimônio, não
poderá ajuizar ação pelos vícios referidos. Ademais, sobrevindo bens desconhecidos do cedente não
pertencerão ao cessionário (ninguém pode dispor do que não possui).

7.3 Direito de preferência.


Obs: quando se tratar de cessão onerosa de direitos hereditários, o CC exige o respeito ao direito de
preferência de coerdeiros, sob pena ineficácia do negócio celebrado em relação aos coerdeiros
prejudicados. Os coerdeiros preteridos tem o prazo de 180 dias para ajuizar adjudicação compulsória.
Obs: Em se tratando de cessão gratuita, há liberalidade.

AÇÕES.
Petição de herança – é para reclamar herança (universalidade).
Reintegração de posse – é pra reclamar a posse de um bem singularmente compreendido.

Obs: art. 2.045 do CC


Relações jurídicas continuativas submetem-se à seguinte regra intertemporal:
a) Existência e validade estão submetidas à norma do tempo da celebração
b) Eficácia está submetida à norma atualmente em vigor.

8. Aceitação de herança.
É ato jurídico em sentido estrito de natureza confirmatória. Portanto, confirma a transmissão automática
de saisine. Logo, tem efeitos retroativos.

Obs: de acordo com o art. 1.792 do CC, a aceitação de herança é sempre “COM O BENEFÍCIO DE
INVENTÁRIO”, por força de lei. Significa que os herdeiros não respondem por dívidas para além das forças
da herança.
Obs: toda aceitação de herança é irrevogável e irretratável. Caso haja renúncia posterior à sua aceitação, o
tributo gerado pela aceitação se mantém.
Obs: a aceitação pode ser direta (com manifestação de vontade do interessado). Já a indireta (decorre do
credor do renunciante – não é no limite da fração ideal do quinhão, mas sim no limite do crédito do credor.
Se o crédito não for satisfeito, a dívida continua pelo remanescente).

8.1 Limites da aceitação.


a) Expressa: decorre de uma manifestação de vontade escrita. É rara.
b) Tácita: é a mais comum, e é comportamental. Ex: constituir advogado para requerer abertura de
inventário; cessão de direitos hereditários.
Obs: o CC adverte que não induz aceitação tácita a prática de atos ordinatórios ou oficiosos. Por
exemplo: pagamento de despesas do funeral.
c) Presumida: depende de ação própria (ACTIO INTERROGATORIA). É a ação promovida pelo interessado
em saber se uma determinada pessoa vai ou não aceitar uma herança. Ex: o credor quer saber se o
herdeiro vai aceitar a herança. ESSA AÇÃO TEM PRAZO MÍNIMO DE 20 DIAS PARA CONFIGURAR O
INTERESSE DE AGIR. Passado o prazo, não havendo a aceitação, será ajuizada Ação interrogatória,
citando o herdeiro que , no prazo de 30 dias, poderá:
 Renunciar
 Aceitar expressamente
 Permanecer calado (aceitou tacitamente) – o silencio gera aceitação presumida.
Obs: em todos os casos a aceitação é plena e integral, sob o fundamento de que, podendo ser parcial,
aceitaria o crédito e renunciaria ao débito. Não há, também, possibilidade de condição ou termo.
Obs: a aceitação só pode ser parcial em caso daquele que é herdeiro e legatário a um só tempo. (art. 1808
do CC).
Obs: a aceitação é no limite do inventário – das forças da herança.
Obs: a legitimidade passiva para ação em que se discute interesse patrimonial do falecido é do espólio, pois
é essa massa que responde pelas dívidas, e não o herdeiro individualmente.

9. Renúncia.
É o ato de despojamento da herança. Portanto, é o repúdio à transmissão automática de saisine. O seu
caráter é retroativo. Assim como a aceitação, é irrevogável e irretratável.
A renúncia exige escritura pública ou termo judicial.

Obs: Há uma discussão se é necessário para a renúncia o consentimento do cônjuge:


 MHD entende que não, pois é ato personalíssimo – a qualidade hereditária é personalíssima.
 Prevalece Venosa, Tartuce, Zeno Veloso – maioria – a renúncia é ato de disposição patrimonial, por
isso exige o consentimento do cônjuge, exceto se o casamento for no regime de separação
absoluta, e, na separação final dos aquestos, se o pacto convencionar.

9.1 Classificação.
I – Quanto à estrutura:
a) Renúncia abdicativa – seria uma renúncia pura e simples (“eu não quero”).
b) Renúncia translativa (“in favorem”) – seria a renúncia em favor de um terceiro (“Eu não quero pra mim,
mas para fulano”). Isso caracteriza, em verdade, cessão de direitos hereditários, submetendo-se às suas
regras, inclusive incidência fiscal.
Obs: STJ: REsp 36.076/MG – há precedente de que a renúncia abdicativa não tem incidência fiscal, o que
em sentido contrário leva ao raciocínio de ter efeito fiscal a translativa.
A renúncia abdicativa não pode prejudicar os credores, sob pena de leva-los à aceitação indireta.

9.2. Efeito jurídico da renúncia


Tratar o renunciante como se nunca tivesse existido. Será ele eliminado (A renúncia não produz sucessão
por representação). Assim, o descendente do renunciante nada pode reclamar.
Obs: O descendente do renunciante só recebe se todos de uma mesma classe (grau) renunciarem.

SUCESSÃO LEGÍTIMA.

1. Ordem de vocação hereditária.


A sucessão legítima se opera de acordo com a lei, sendo irrelevante a vontade do autor da herança.
No Brasil, a sucessão legítima beneficia as pessoas que o autor da herança provavelmente gostaria de
transferir seu patrimônio (os parentes mais próximos em ordem de preferência).
A sucessão legítima presume a vontade do autor da herança. Trata-se de presunção relativa e não absoluta,
pois o autor da herança pode elaborar testamento.

É possível concomitância (simultaneidade) de sucessão legítima e testamentária em duas hipóteses:


a) Quando houver herdeiro necessário e testamento - ocorre o bloqueio da legítima e o patrimônio
disponível para testamento é de 50% do patrimônio líquido na data da abertura da sucessão.
b) Quando não há herdeiros necessários, mas também não há testamento dispondo da integralidade
do patrimônio.
Obs: pergunta da defensoria do Rio – se a pessoa não tem esses herdeiros necessários.

A sucessão legítima traz presunção relativa de manifestação da vontade do autor da herança.


A sucessão legítima se opera de acordo com a ordem de vocação hereditária. Trata-se do fundamento da
sucessão legítima. Também é chamada de ordem de vocação sucessória.
A ordem de vocação hereditária é o estabelecimento do rol dos sucessíveis, ou seja, a lista das pessoas que
serão chamadas a suceder por força de lei.

Quadro comparativo: ORDEM DE VOCAÇAO SUCESSÓRIA


CC/1916 – ART. 1.603 CC/2002 – ART. 1829/1.790
 DESCENDENTE Houve extinção do USUFRUTO VIDUAL, e
ASCENDENTE estabelecimento de NOVA ORDEM DE VOCAÇÃO
CONJUGE SOBREVIVENTE (SUPERSTITE) SUCESSÓRIA:
COLATERAIS ATÉ 4º GRAU
FAZENDA PÚBLICA. DESCENDENTE (+ CONJUGE/COMPANHEIRO)
OBS: trata-se de ordem preferencial. Tendo ASCENDENTES (+ CONJUGE/COMPANHEIRO)
descendente não são chamados os ascendentes CÔNJUGE SOBREVIVENTE (sozinho)
e assim sucessivamente. COLATERAIS ATÉ 4º GRAU (+ COMPANHEIRO).
Advieram duas leis: 8.971/94; 9.278/96. COMPANHEIRO SOBREVIVENTE (sozinho)
Estabeleceram o direito sucessório para o
companheiro sobrevivente, que passou a Conclusões acerca da nova ordem sucessória:
figurar ao lado do cônjuge sobrevivente. Deixa-
se claro que na ordem do CC/16 não constava o 1. O grande beneficiário foi o cônjuge ou
companheiro. companheiro do novo CC, em razão de se
A posição jurídica sucessória do cônjuge ou tornarem herdeiros junto com os descendentes e
companheiro era residual, que somente ascendentes. Há, portanto, indiscutível privilégio
herdaria na hipótese de não existir descendente do cônjuge e companheiro.
ou ascendente.
Em razão de não ser comum a hipótese de 2. Quebrou-se a histórica paridade entre cônjuge e
alguém falecer e não deixar ascendente ou companheiro. No CC/16 advieram duas leis, que
descendente, seria quase impossível o cônjuge conferiram paridade ao cônjuge e companheiro.
ou companheiro herdar.
A fim de o cônjuge ou companheiro exercer 3. A Fazenda Pública deixou de ser herdeira. Ela
direito sobre a massa hereditária criou-se o recebe na ausência de herdeiros. Não tem
instituto do USUFRUTO VIDUAL (decorrente da qualidade hereditária, recebendo através de um
viuvez). O patrimônio era transferido direto ao procedimento de jurisdição voluntária chamado
ascendente ou descendente, mas o cônjuge ou HERANÇA JACENTE E VACANTE (procedimento
companheiro teria direito de ½ ou ¼ da bifásico escalonado equivalente ao Júri. A primeira
administração e retirada dos frutos do fase é a jacência e a segunda é a vacância – a
patrimônio transmitido aos descendentes ou Fazenda Pública somente se torna proprietária
ascendentes. com a sentença de vacância). Há um caso em que
Logo, percebe-se que o instituto do usufruto o procedimento não será bifásico (art. 1823) –
vidual partia da falsa premissa de que o cônjuge quando todos os herdeiros renunciarem, abre-se
ou companheiro sobrevivente administraria os direto a vacância, saltando a jacência (que é
bens com seus filhos. Até 1949, era proibido ao procedimento para prevenir os herdeiros).
homem reconhecer o filho havido fora do
casamento. Obs: Não sendo herdeira, pode ser beneficiada pela
O raciocínio era lógico enquanto não havia o transmissão automática de saisine?
divórcio. A partir de 1977, quando surgiu o O art. 1.784 fala em transmissão automática de toda a
divórcio, o usufruto vidual se tornou fonte de herança. Assim, não será beneficiada, porque não é
conflitos, pois o sobrevivente não herdeira. Se nem o legatário é beneficiário do direito
necessariamente era o pai ou mãe dos filhos de saisine, como poderia a Fazenda Pública ser. (REsp
com quem estava concorrendo. 253.719 - RJ – STJ estabeleceu que a aquisição de
Tornou-se necessário extinguir o USUFRUTO propriedade pela Fazenda Pública só ocorre com
VIDUAL, pois aquele que não era o real dono decisão judicial. Enquanto não proferida, não adquire
administrava o bem, colocando-o, em muitos a propriedade. Com isso, até que a decisão judicial seja
casos, em situação de falência. proferida é possível falar em usucapião dos bens antes
da prolação da decisão, porque os bens ainda não se
tornaram públicos (AgRgAI 851.228-RJ).

2. Sucessão do descendente.
A sucessão do descendente é norteada por DUAS REGRAS fundamentais:
2.1. Inexistência de tratamento discriminatório entre os descendentes.
Trata-se de uma projeção do princípio constitucional da igualdade entre os filhos.
No CC/16, o filho adotivo não herdava. Agora, herda sim, tendo o mesmo direito sucessório do filho
biológico. Os arts. 41 a 49 do ECA reconhecem o direito hereditário do filho adotivo ( trata-se da
irrevogabilidade da adoção).

2.2. A presença do descendente mais próximo afasta o mais remoto.


Se há um descendente mais próximo, NÃO SERÁ chamado o mais remoto. Ex: se há filho, não se chama o
neto; se há neto, não será chamado o bisneto e, assim, sucessivamente. Com isso, regra geral, não serão
chamados descendentes de diferentes graus (a sucessão do descendente é POR CABEÇA, POR DIREITO
PRÓPRIO).
EXCEÇÃO: A SUCESSÃO SERÁ POR REPRESENTAÇAO (por estirpe), ou seja, é possível a presença de
diferentes graus de herdeiros. Há três casos em que ela ocorre:
a) Indignidade
b) Deserdação
c) Pré-morte
Nesses casos, os herdeiros (por representação e não por direito próprios) daqueles que preencherem tais
condições dividem o quinhão hereditário inicial.

Obs: A renúncia NUNCA gera sucessão por representação. Assim, se um herdeiro renunciar, seus filhos não
podem requerer representação. A sua parte será redistribuída.
Obs: se todos os descendentes de um mesmo grau renunciarem, aí sim os descendentes da classe seguinte
serão convocados, pois haverá direito próprio e não representação.
Obs: se todos os netos renunciarem, serão chamados os bisnetos, e, não tendo, segue a ordem de vocação.

Obs: se a sucessão por representação decorre de indignidade ou de deserdação, somente serão chamados
os descendentes. Mas se decorre de pré-morte é possível chamar os demais sucessíveis (segue os demais
sucessíveis).

3. Sucessão do ascendente.
A sucessão do ascendente é norteada por três regras.
3.1. Aplicação da igualdade de origens ou reciprocidade sucessória.
Se há igualdade entre os filhos, há reciprocidade entre os descendentes.
Não há limitação de origem para representação.

3.2. A presença do ascendente mais próximo afastará o mais remoto.


Havendo o pai não chama o avô; se há avô não chama bisavô
Na classe dos ascendentes, não há sucessão por representação.
Se há pré-morte, há preenchimento da ordem sucessória normal.

3.3. A sucessão do ascendente é a única dividida em linhas (materna e paterna).


Quando não houver representante em uma linha, a outra acresce, não passa pra bisavô.
4. Sucessão do cônjuge.
CONCORRÊNCIAS SUCESSÓRIAS DO CÔNJUGE E DO COMPANHEIRO.
C/DESCENDENTE ASCENDENTE SOZINHO C/COLATERAIS.
CONJUGE Letra a) Letra b) recebe, O cônjuge não concorre
(art.1829/1837). independente do com o colateral, antecipa-
regime de bens, se, recebendo tudo
todo o patrimônio sozinho.
sozinho.
COMPANHEIRO
(art. 1.790)

a) Concorrência sucessória do cônjuge com o descendente.


a.1) Depende do regime de bens – isso porque o código civil eliminou a concorrência em três regimes de
bens. O código não quer que o cônjuge concorra com descendente, querendo que o descendente receba a
totalidade da herança:
Regimes que excluem o direito sucessório do cônjuge concorrendo com o descendente:
 Comunhão universal de bens – o motivo é que o cônjuge já tem metade de tudo, incluídos os bens
que ele não colaborou. Logo, não é necessária herança. A situação jurídica é muito confortável.
 Comunhão parcial sem bens particulares – na prática é uma comunhão universal, e é por isso que
não terá direito à herança.
 Separação obrigatória de bens (art. 1641 do CC) – maior de 70 anos; aquele que viola causa
suspensiva. O código quer privar direitos patrimoniais.
Obs: esses três regimes não geram direito sucessório concorrendo com o descendente. Significa que todos
os demais regimes geram direito do cônjuge concorrendo com o descendente.

Obs: CASAMENTO EM REGIME DE SEPARAÇÃO CONVENCIONAL – a intenção de quem casa é não ter
separação de bens, nem herança. Porém, o CC estabelece que quem casa nesse regime vai deixar herança
ao cônjuge. O CC acaba estabelecendo um direito sucessório para quem casou no regime de separação
convencional. Segundo o professor, parece afronta à liberdade privada.
O STJ já julgou esse caso única vez, tornando-se precedente (força normativa) – REsp 992.749 – MS – o STJ
firmou o entendimento de que, se o casamento é em regime de separação convencional, também elimina o
direito à herança do cônjuge.

a.2) Incide sobre os bens particulares.


Somente os bens particulares serão objeto de herança em favor do cônjuge. Os bens comuns geram
meação. Conclusão: onde se herda não méia; onde se méia não herda, porque onde há meação não há
herança; onde há herança não há meação.
Ex: um homem se casa com mulher em regime de comunhão parcial. Antes de casar possui terreno; depois,
um apartamento. Ele tem filhos e falece. A viúva terá direito:
 sobre o apartamento (bem comum) haverá meação e o que ficar será transferido aos filhos;
 do terreno (bem particular), terá herança junto com os filhos.

Obs: meação e herança incidem sobre patrimônios distintos na sucessão do cônjuge com o descendente.

a.3) Percentual do cônjuge concorrendo com o descendente.


O percentual sucessório do cônjuge será o mesmo do descendente (art. 1.832). Trata-se de mais uma
cabeça sucessória participando da partilha.
O art. 1832 garante, pelo menos, ¼ (25%) para o cônjuge sobrevivente, se ele for o ascendente do
descendente com quem estiver concorrendo (pai ou mãe); caso contrário, não terá essa garantia.
Ex: imagine que um homem morreu e deixou a esposa e seis filhos. Se os seis são dela, ela terá ¼ pra ela e
¾ pra os filhos. Se os seis não forem dela, garante-se 1/7 para ela.
Ex: se houver concorrência híbrida (filhos comuns e não comuns), o código não responde a essa pergunta.
Há três posições doutrinárias:
 basta um filho para a garantia
 todos devem ser filhos para ter a garantia
 deve haver composição = aplicar ¼ para o número de filhos comuns e ¼ para os que não são
comuns. (é a prevalente).

b) Concorrência sucessória do cônjuge com o ascendente.


b.1) Independe do regime de bens
seja qual for o regime de bens.
b.2) incide sobre todo o acervo patrimonial e não apenas sobre os bens particulares, mas também os
comuns.
b.3) o cônjuge leva metade sobre todo o acervo patrimonial, exceto se concorrer com pai e mãe (1/3)
(art. 1.837).

obs: além do direito à herança e à meação, o CC criou o DIREITO REAL DE HABITACAO em favor do
cônjuge. É direito, reconhecido ao viúvo ou à viúva, de continuar morando no imóvel residencial que servia
de lar para o casal. O direito real de habitação do cônjuge é vitalício (só perde quando morre), e
incondicionado (tem direito, mesmo que constitua nova família).
Se o falecido tinha filhos que herdaram aquele imóvel, mesmo que o cônjuge não tenha direito à meação,
ela fica no respectivo imóvel até a sua morte.
Se o supérstite tinha imóvel, e o seu cônjuge morre, fica morando no imóvel do falecido.
O STJ entende que o direito real de habitação independe de herança e meação. Além desse fato, é
reconhecido mesmo que exista mais de um bem residencial a partilhar.
Pode-se sustentar a derrotabilidade – forma de sustar a aplicação da regra – HUMBERTO ÁVILA. Essa tese
serve para casos excepcionais, nos quais uma regra que é válida é afastada para casos específicos. Continua
a regra no sistema.

Obs: o direito à herança e o direito à habitação só serão reconhecidos se o cônjuge não estiver divorciado,
separado judicialmente, e separado de fato há mais de dois anos (art. 1830). Em caso contrário, não terá
nem herança, nem habitação.
Cuidado: pois se o cônjuge estiver separado há mais de dois anos, e provar que o casamento se desfez sem
culpa sua, terá direito à habitação (isso é chamado de CULPA MORTUÁRIA ou FUNERÁRIA – Rolph
Madaleno). A doutrina brasileira é UNANIME e estabelece que essa parte é não escrita, pela
impossibilidade de se discutir essa culpa.

5. Sucessão do companheiro.
5.1. Pressuposto da sucessão do companheiro (art. 1.790).
O companheiro sobrevivente terá direito à herança sobre os bens adquiridos onerosamente na constância
da união estável. Sobre esses bens, o companheiro já tem meação, pois sobre eles incide a comunhão
parcial. Assim, conclui-se que na união estável, o direito à herança incide sobre os mesmos bens sobre os
quais incide a meação. Portanto, o companheiro terá direito à herança somente sobre os bens comuns.
Sobre os particulares, não terá nem herança, nem meação.

CONCORRÊNCIAS SUCESSÓRIAS DO CÔNJUGE E DO COMPANHEIRO.


C/DESCENDENTE ASCENDENTE SOZINHO C/COLATERAIS.
CONJUGE Letra a) Letra b) recebe, O cônjuge não concorre
(art.1829/1837). independente do com o colateral, antecipa-
regime de bens, se, recebendo tudo
todo o patrimônio sozinho.
sozinho.
COMPANHEIRO Letra a) Letra b) Letra c)
(art. 1.790)

a) Concorrência sucessória do companheiro com o descendente (art. 1790)


O direito à herança é somente sobre os bens comuns. Sobre os bens particulares, não terá direito nem à
herança, nem à meação.
O percentual do companheiro é o mesmo do descendente. O companheiro NÃO TEM a garantia mínima de
¼ (que é garantida ao cônjuge). Ademais,
 o companheiro somente terá o mesmo percentual se for o ascendente do descendente com
quem estiver concorrendo.
 Se não for o ascendente do descendente com quem estiver concorrendo, terá metade do que
couber ao descendente. Assim, caso haja 2 filhos do companheiro, e a companheira. (1/5 para
ela; 2/5 para cada filho)
 Se for sucessão híbrida, o Código nada disse e a doutrina vai controvertendo.

b) Concorrência sucessória do companheiro com o ascendente.


O companheiro terá direito à herança somente sobre os bens comuns.
O percentual do companheiro é de 1/3.

c) Companheiro sozinho.
Nesse caso, o companheiro não recebe sozinho (como acontece com o cônjuge). Ademais, vai concorrer
com os colaterais recebendo somente os bens comuns, no percentual de 1/3.
Os bens particulares ficam todos para os colaterais.
Se não tem sequer colateral, o art. 1790, caput, estabelece que o companheiro sobrevivente participará
da sucessão do outro, somente sobre os bens comuns. OS BENS PARTICULARES VÃO PARA A FAZENDA
PÚBLICA.

OBS: Maria Berenice Dias e a maioria esmagadora dos autores faz interpretação sistêmica, observando o
inciso IV de forma dissociada do caput do art. 1790, informando que a totalidade da herança é tudo,
inclusive os bens particulares, privando a Fazenda Pública.

Obs: a Lei 9.278/96, art. 7º estabelece que o companheiro tem direito real de Habitação. Trata-se, nesse
caso, de direito vitalício, condicionado. Se a companheira sobrevivente constituir nova família, extingue-se
automaticamente o direito de habitação. A maioria dos autores defende a inconstitucionalidade de tal
condicionante (Berenice Dias, Zeno Veloso, Rolf Madaleno).

Obs: O STJ (na Arguição de inconstitucionalidade no REsp 1. 135.354 – PB), foi arguida a
inconstitucionalidade do art. 1790 no sentido de que fosse norteada pelas mesmas regras do cônjuge. O STJ
não conheceu o REsp e estabeleceu ser do STF a necessidade de solução da dúvida.
SUCESSAO TESTAMENTÁRIA.

1. Noções conceituais.
O testamento é negócio jurídico pelo qual se dispõe de patrimônio para depois da morte. Em outras
palavras, trata-se de negócio jurídico mortis causa.
Pegadinha: trata-se de conceito incompleto, pois o testamento além de estipular previsões patrimoniais
para depois da morte, comporta também outras manifestações de vontade, quais sejam,
a) reconhecimento de filho,
c) Deserdação
d) Nomeação de tutor
e) Instituição de bem de família.
f) Etc (outras manifestações de vontade).
Obs: perceba-se que no Brasil não é comum se encontrar testamentos. Zeno Veloso estabelece
argumentos convincentes: questão econômica (a maioria da população não tem patrimônio para
transmitir); questão cultural (Religiosa. A morte é algo velado); as pessoas, que muito provavelmente o
titular do patrimônio gostaria de contemplar, já o estão pela sucessão legítima.

1.1. Características do testamento.


a) Natureza negocial
b) Caráter personalíssimo – o testamento é personalíssimo e só quem pode elaborar é o titular, que pode
ser maior de 16 anos de idade (relativamente capaz), também pode servir como testemunha
testamentária.
c) Revogabilidade – significa que o testamento pode ser revogado a qualquer tempo, sendo nula toda e
qualquer cláusula derrogativa, também chamada de derrogatória (cláusula que retira do testador o
direito de revogar o testamento).
d) Solenidade – negócio solene, formal, depois do casamento (que é o mais formal), sob pena de nulidade.
e) Eficácia causa mortis – o testamento só produz efeitos para depois da morte do titular
f) Possibilidade de inserção de outras manifestações de vontade – reconhecimento de filho, nomeação de
tutor, deserdação.
Obs: não esquecer que as outras manifestações de vontade inseridas no testamento serão interpretadas
autonomamente, de modo que a eventual nulidade/anulabilidade/caducidade/revogação do
testamento não afetará essa declarações. Ex: se um testamento contém um reconhecimento de filho, ao
revogar o testamento, não se atinge tal reconhecimento.

Obs: O art. 1863 do CC estabelece a proibição de testamento conjuntivo – simultâneo entre duas pessoas;
recíproco com concessões mútuas; retribuição.

2. Pressupostos da sucessão testamentária.


2.1. Capacidade testamentária do testador.
É a aptidão para elaborar o testamento (significa ter idade superior a 16 anos e gozo das faculdades
mentais). Essa capacidade será aferida no momento da elaboração do testamento, e não a abertura da
sucessão.

2.2. Capacidade sucessória do beneficiário (art. 1798 do CC).


Significa a existência de uma pessoa apta a receber a herança ou o legado.
São as pessoas nascidas (separadas pelo cordão umbilical) ou concebidas (no ventre materno, embrião no
laboratório (entendimento majoritário)), no momento da abertura da sucessão (art. 1.798 do CC).

No que diz respeito ao testamento, há ampliação da capacidade sucessória, quando se tratar de sucessão
testamentária – herança ou legado (art. 1799):
a) As pessoas jurídicas
b) As pessoas jurídicas a serem constituídas com o patrimônio recebido (fundações)
c) A prole eventual (o filho que alguém vai ter), deve ser concebida no prazo de 02 anos contados da
abertura da sucessão.
Obs: não há óbices que seja por meio de adoção, salvo restrição expressa (raciocínio de Cristiano).

Obs:
CAPACIDADE TESTAMENTÁRIA (TESTADOR) – É VERIFICADA NO MOMENTO DA ELABORAÇAO DO
TESTAMENTO.
CAPACIDADE SUCESSÓRIA (BENEFICIÁRIO) – É VERIFICADA NA ABERTURA DA SUCESSAO.

2.3. Respeito às formalidades na elaboração do testamento, sob pena de nulidade.


A eventual nulidade do testamento não afetará as demais declarações de vontade, que serão preservadas.

2.4. Observância do limite da legítima (metade do patrimônio líquido disponível do testador).


OBJETIVO CÁLCULO DA LEGÍTIMA
Para fins de testamento A legítima é calcula na ABERTURA DA SUCESSÃO.

Para fins de doação A legítima é calculada na DATA DA LIBERALIDADE

Com relação às antecipações de herança (doação a legítima é calculada (de acordo com o enunciado
para filhos, sem ressalva de que o bem sairia da 119 da Jornada, na data da abertura da sucessão
cota disponível), se o bem ainda existir; se o bem não existir, na
data da liberalidade) – o fundamento é a proibição
de enriquecimento sem causa.

3. Espécies de testamento.
O testamento pode se apresentar a partir de dois grandes grupos:
TESTAMENTOS ORDINÁRIOS TESTAMENTOS ESPECIAIS (EXTRAORDINÁRIOS).
ELABORADOS EM CONDICOES NORMAIS ELABORADOS EM SITUACOES EXCEPCIONAIS.
Podem ser público, cerrado (secreto) ou particular; podem ser marítimo/aeronáutico ou militar.
todos tem forma própria todos tem forma própria
exigem duas testemunhas, à exceção do particular exigem duas testemunhas.
que exige três.

3.1.TESTAMENTO PÚBLICO
É aquele elaborado pelo testador, de viva-voz, na presença de duas testemunhas e na presença da
autoridade notarial (ex: tabelião, cônsules –fora do Brasil). É uma narrativa da declaração de vontade.
A característica mais notória é a publicidade da declaração.
Tem que ser redigido em língua portuguesa (art. 13 da CF).
O mudo não pode fazê-lo. Porém, é permitido ao analfabeto e ao cego (nesta hipótese, além da presença
das duas testemunhas e da autoridade, exige-se a presença de terceira pessoa que assinará o testamento a
rogo do cego ou analfabeto).
Não pode ser elaborado com base em perguntas e respostas, pois teria afrontada a essência
personalíssima.

3.2. TESTAMENTO CERRADO/SECRETO/MÍSTICO.


Tem como grande característica o segredo. É aquele elaborado unilateralmente pelo testador e já
redigido é entregue pela autoridade na presença de duas testemunhas, que não terão acesso ao seu
conteúdo.
As testemunhas são meramente instrumentais, pois apenas testemunham a entrega.
O mudo pode fazê-lo, pois não há necessidade de vocalização da declaração de vontade. Mas não é
possível ao analfabeto e ao cego (e a linguagem de libras? O CC não contemplou essa possibilidade).
se houver dilaceramento (rompimento indevido do testamento), gera caducidade, pois só poderá aberto
pelo juiz das sucessões.
Obs: se o dilaceramento, segundo caio Mario e Cristiano Chaves, operou-se depois da morte do testador,
mas antes do juiz, não se opera a caducidade, mas mera irregularidade, uma vez que o testador já faleceu e
não tem possibilidade de elaboração de outro.

Há somente um caso em que o conteúdo do testamento cerrado será conhecido por mais alguém além
do testador, é quando o testador sabe ler, mas não sabe ou não pode escrever. Nessa hipótese, a
autoridade recebe o testamento, vai coser o testamento e entregue ao tabelião na presença das
testemunhas.
esse testamento pode ser em língua estrangeira (antes da homologação requer tradução juramentada) e
somente será aberto pelo juiz das sucessões.

3.2.TESTAMENTO PARTICULAR.
Características: a forma e o conteúdo são livres. Será elaborado como bem entender o testador. Pode
elaborar mecanicamente (escrevendo), etc. somente se exige que leia o seu conteúdo na presença de três
testemunhas, podendo ser feito em língua estrangeira, desde que as testemunhas compreendam seu
conteúdo.
Traz consigo alto grau de insegurança, pois não é registrado em lugar algum.
O código exige homologação judicial da validade do testamento particular, para garantir a sua segurança e
validade. ATENÇAO: Há uma exceção (art. 1.879 do CC), na qual se permite ao testador elaborar
testamento particular de próprio punho, sem testemunhas, declaradas no testamento (Nesse caso,
continua sendo exigida homologação judicial).

3.2. TESTAMENTO ESPECIAL: MARÍTIMO/AERONÁUTICO.


É aquele testamento elaborado à bordo de navios ou aeronaves. Por passageiros/tripulantes. Há uma
condição: que a aeronave/embarcação precisam estar em curso. Caso contrário, não haverá
excepcionalidade.
Será público ou cerrado e entregue ao comandante (que fará registro no livro de bordo).

3.3. TESTAMENTO ESPECIAL: MILITAR.


é elaborado por militares ou civis das forças armadas, em tempo de guerra ou praça sitiada. Será possível
a elaboração de testamento perante o comandante.
obs: O TESTAMENTO MILITAR É O ÚNICO QUE PERMITE A FORMA ORAL NO DIREITO BRASILEIRO.
TESTAMENTO MILITAR NUNCUPATIVO (É AQUELE CELEBRADO POR QUEM ESTIVER FERIDO OU EM
SITUAÇAO DE COMBATE PODE TESTAR VERBALMENTE).

Obs: TODOS OS TESTAMENTOS ESPECIAIS EXIGEM HOMOLOGAÇAO JUDICIAL, EM RAZAO DO ALTO GRAU
DE INSEGURANÇA. ADEMAIS, CONTAM COM CONDIÇAO DE CADUCIDADE, QUAL SEJA, EXIGÊNCIA DE
QUE TESTADOR MORRA DURANTE A CIRCUNSTÂNCIA ESPECIAL. NÃO FALECENDO, DISPORÁ DO PRAZO
DECADENCIAL DE 90 DIAS PARA RATIFICAR O TESTAMENTO, SOB PENA DE CADUCIDADE.
Obs: o direito brasileiro admite o chamado CODICILO (PEQUENO TESTAMENTO) – trata-se de disposição
para o funeral ou para pequenos legados (é aquilo que não ultrapasse 10% do patrimônio liquido). Tem
forma livre e dispensa testemunhas, mas exige a capacidade testamentária. Tem objeto próprio.
É possível a coexistência de codicilo e testamento. E o codicilo pode revogar o testamento naquilo que for
possível.

Obs: havendo testamento e/ou codicilo (havendo disposição de ultima vontade), exige-se intervenção do
MP como fiscal (art. 999 do CPC) e não se admite inventário em cartório.

4. Regras interpretativas e cláusulas testamentárias.


As cláusulas testamentárias dizem respeitos às disposições de vontade de um testamento (nomeação de
tutor, reconhecimento de filho, etc).
As cláusulas testamentárias de conteúdo não patrimonial não serão afetadas no caso de revogação,
invalidade, ou caducidade das disposições de conteúdo patrimonial. Isso porque as disposições
patrimoniais são interpretadas autonomamente.
Assim, havendo vício de vontade sobre uma disposição de conteúdo patrimonial, haverá o prazo de 04
anos (decadencial) – art. 1909 do CC - para ajuizar ação anulatória somente em relação àquela disposição
viciada.

Obs: CLÁUSULAS PROIBITIVAS DO TESTAMENTO (são nulas):


a) Cláusula derrogativa ou derrogatória – é aquela que prevê a iderrogabilidade do testamento. É
aquela que prevê que um determinado testamento não poderá ser derrogado.
b) Cláusula conjuntiva – é aquela que informa duas ou mais pessoas elaborarem testamento
conjuntamente. É nula, pois o testamento é personalíssimo.
c) Cláusula a termo – apesar de se tratar de negócio jurídico, não pode ter cláusula a termo. O
testamento admite condição, mas não admite termo, sob o fundamento de se criar hipótese de
propriedade resolúvel não prevista expressamente em lei. De acordo com o art. 1.898 do CC essa
cláusula a termo só será admitida em hipótese de legado.
d) Cláusula captatória – também é proibida (art. 1.900, I, do CC) – com nomeação de pessoa incerta, e
sem possibilidade de determinação (indeterminada e indeterminável).
e) Cláusula conferindo a indicação do beneficiário ou o objeto do testamento a um terceiro –
também é nula, pois viola a natureza personalíssima. Só quem pode indicar o beneficiário e o
objeto do testamento é o testador. Nenhuma outra pessoa poderá indicar o beneficiário e o objeto
do testamento.
f) Cláusula beneficiando uma das pessoas proibidas de receber herança ou legado – são os art.
1.801 e 1.802 do CC:
 As testemunhas testamentárias
 A autoridade que presidiu o ato
 Aquele que assinou a rogo o testamento.
 A concubina, desde que o testador não esteja separado de fato há mais de 05 anos ( tal prazo
é prejudicado pelo 1.723, parágrafo 1º do CC – estabelece que independe de prazo), hipótese
em que passa a ser companheira.
 O cônjuge ou companheiro, descendente, ascendente ou irmão destas pessoas
anteriormente listadas – pois haveria presunção de simulação, quando o benefício for dirigido
a uma dessas pessoas (art. 1.801/1.1802).

OBS: CLÁUSULAS RESTRITIVAS. São três:


a) IMPENHORABILIDADE.
b) INCOMUNICABILIDADE.
c) INALIENABILIDADE - É preciso chamar atenção, pois essa cláusula faz presumir as demais, mas a
recíproca não é verdadeira (art. 1.911), isso porque a cláusula de inalienabilidade é mais ampla,
significando que, se o testador quiser incluir as três cláusulas, basta incluir a inalienabilidade.
Atenção: não são cláusulas absolutas, porque o juiz, a requerimento do interessado, pode determinar a
extinção ou sub-rogação (substituição) de cláusula restritiva. Ex: deixei um legado (imóvel) para Carla, com
cláusula restritiva (não pode vender, doar, e se for casada não pode vender). Tal imóvel fica
indisponibilizado no patrimônio do titular. Tal indisponibilidade pode ser extinta ou sub-rogada por ordem
judicial. Isso é feito pelo juiz da vara de registros públicos, por procedimento de jurisdição voluntária.

Atenção: o prazo das cláusulas restritivas é feito pelo testador. Silente, todavia, presume-se o prazo
máximo, qual seja, A VIDA DO BENEFICIÁRIO (cláusula vitalícia) (Assim, quem recebe herança/legado com
cláusula restritiva, transmite sem cláusula restritiva). Dessa forma, conclui-se que a cláusula restritiva
transforma o proprietário em usufrutuário.

DEBATE IMPORTANTE: Há uma grande discussão sobre a possibilidade ou não de clausulação de restrição
da legítima. É possível determinar cláusula restritiva sobre a legítima? Resposta: sobre a parte disponível
não há dúvida acerca da possibilidade de clausular, mesmo para os filhos (VUNESP ENTENDE QUE PODE)
NO BRASIL, O DIREITO À HERANÇA É DIREITO CONSTITUCIONAL (ART. 5º, INCISO XXX DA CF). ASSIM, DE
SAÍDA, A RESPOSTA É NEGATIVA, POIS O HERDEIRO NECESSÁRIO NÃO PODE SER TRANSFORMADO EM
USUFRUTUÁRIO. O FILHO TEM DIREITO À HERENÇA, NÃO PODENDO A LEGÍTIMA SER CLAUSULADA
COMO REGRA. PORÉM, O ART. 1.848 DO CC ESTABELECEU EXCEÇAO, SOMENTE QUANDO HOUVER JUSTA
CAUSA INDICADA PELO TESTADOR NO TESTAMENTO E HOMOLOGADA EM JUÍZO.
SILVIO RODRIGUES ESTABELECE QUE ESSA POSSIBILIDADE DE CLAUSULAR LEGÍTIMA É ESTRANHA, POIS
FOMENTARÁ DISCÓRDIA ENTRE OS HERDEIROS, DEVENDO SER PROVADA PELO HERDEIRO CLAUSULADO
A SITUAÇAO CONTRÁRIA.

5. Redução de cláusula testamentária.


Todo testamento tem de respeitar os limites da legítima. Estabelecer esse respeito significa não ultrapassar
o limite de 50% do patrimônio líquido do testador no momento da abertura da sucessão.
Entretanto, não se pode esquecer que o testador pode exceder a legítima sem intenção (por exemplo, ao
elaborar o testamento, somente falece 20 anos depois). Nessa hipótese, como a legítima será calculada na
abertura da sucessão é possível oscilação patrimonial, o que caracteriza violação potencial da legítima.
Resolve-se tal problemática COMO CASO DE REDUÇAO DA CLÁUSULA TESTAMENTÁRIA.

CONCEITO: é o ato pelo qual o juiz faz com que o testamento que excede a legítima, volte ao seu limite,
restabelecendo-se. PODE SER DETERMINADA DE OFÍCIO PELO JUIZ, ao detectar o excesso, durante a
homologação do testamento ou durante o inventário.

5.1. Regras para a redução testamentária.


a) havendo só herança (universalidade) ou só legado (bem individualmente considerado), o juiz
determinará uma redução proporcional.
b) havendo herança (universalidade) e legado (bem individualmente considerado), simultaneamente, o juiz
reduzirá primeiro da herança e, posteriormente, se preciso, do legado.
Poderia até 50% do patrimônio o legado ser deixado em relação ao patrimônio (em razão da legítima).
Ultrapassando ¼”:
 Se o legado deixado exceder 75% do patrimônio (1/4 da legítima), cessa o legado, recebendo os
herdeiros legítimos o bem e pagam o legado em dinheiro.
 Se o excesso não ultrapassou 75% do patrimônio (1/4 da legítima), o bem permanecerá com o
legatário que pagará o legado em dinheiro.

6. Direito de acrescer.
É preciso observar o testamento beneficiando mais de uma pessoa simultaneamente. Se o benefício é
disjuntivo não há discussão sobre o direito de acrescer. Ex: estabelece-se os percentuais.
A discussão sobre o acréscimo só é relevante se o benefício é conjuntivo. Ex: deixar uma casa para Carla e
Arlete.
Se a cláusula é conjuntiva e um dos beneficiários não pode (indignidade/deserdação); ou não quer
(renúncia), e não há substituto, ocorrerá o direito de acrescer.

Obs: REQUISITOS PARA O ACRÉSCIMO TESTAMENTÁRIO.


a) Cláusula conjuntiva beneficiando duas ou mais pessoas sem especificação de fração ideal.
b) Se um dos beneficiários da cláusula não quer (renúncia), ou não pode (indignidade ou deserdação)
receber o benefício.
c) Inexistência de indicação do substituto testamentário.
Obs: se não forem preenchidos os requisitos, volta para a legítima, sob o fundamento é o respeito à
vontade do testador.

7. O testamenteiro.
O testamenteiro é pessoa indicada para fazer valer a declaração de vontade do testador.
É alguém que o testador dará a missão pelo testador. É por isso que o testamenteiro tem legitimidade no
art. 988 do CPC, para requerer a abertura do inventário. Poderá ser inventariante se assim indicou o
testador.
Ademais, assume responsabilidades civis (se não cumprir pode ser responsabilizado pelos sucessores) e
criminais (não pode dar declaração falsa, por exemplo).
Não tem privilégios, mas responsabilidades. Exatamente por isso que se não for herdeiro ou legatário, o
juiz fixará remuneração chamada de PRÊMIO/VINTENA no percentual de 1% a 5% sobre o total da herança.
Nessa hipótese, o juiz utilizará os mesmos parâmetros do arbitramento de honorários advocatícios.

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