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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS


FACULDADE DE DIREITO

Sucessão Testamentária
Análise de jurisprudência
Turma 2022.2 – 502017

Luís Eduardo Corrêa Assunção – nº de matrícula 201706140118


E-mail: luis.assuncao18l@gmail.com

Belém-PA
Maio 2022
Ementa
AGRAVO DE INSTRUMENTO. SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA. EXISTÊNCIA DE
HERDEIROS LEGÍTIMOS. POSSIBILIDADE. OBSERVÂNCIA DE ORDEM ENTRE
HERDEIROS NECESSÁRIOS. NECESSIDADE. DECISÃO MANTIDA.
1. Na sucessão testamentária, o testador, em ato unilateral de vontade, pode dispor de
seus bens na sua totalidade ou em parte. Contudo, deve respeitar a legítima dos
herdeiros necessários.
2. O artigo 1829 do Código Civil dispõe a ordem em que a sucessão é deferida e a quem
compete suceder.
3. Agravo de Instrumento conhecido e desprovido.
Acórdão
CONHECIDO. DESPROVIDO. UNÂNIME.

Comentário:

A sucessão testamentária surge como uma forma de expressão de última vontade do de cujus,
podendo ele e somente ele, dispor de todos os seus bens - caso não tenha herdeiros
necessários e obedecendo as devidas formalidades estabelecidas em lei - bem como estipular
situações de cunho pessoal para depois de sua morte.

É importante observar como funciona a lei testamentária no tempo para poder entrar em um
processo como esse. Antes de tudo, o que deve ser observado e seguido pelo testador é a lei
do momento da elaboração, pois, é ela que vai versar sobre a capacidade do testador (é o
indivíduo que tem a legitimidade para dispor dos bens pelo testamento) e também sobre a
forma extrínseca do ato (são os diversos pressupostos e formalidades que o negócio jurídico
unilateral do testamento deve cumprir). Na elaboração do testamento se precisa obedecer a
todos os requisitos que a lei diz para que o testamento seja considerado válido. A validade do
testamento se dá pelo cumprimento dos requisitos da época; o que tem que ser feito é cumprir
os requisitos no tempo que o ato se torna perfeito e acabado naquela época, é por isso que a
incapacidade superveniente do testador não invalida o testamento, pois o ato estava dentro dos
parâmetros daquele período (art. 1861, CC).

Quando se trata dos herdeiros, é imprescindível a observância da lei vigente ao tempo da


abertura da sucessão porque é ela que vai tratar da legitimação passiva (aqueles que estão
aptos a herdar) como também da eficácia do conteúdo do testamento.

O princípio da submissão as normas de ordem pública que o testador deve se submeter,


compreende não apenas as leis que tratam do assunto, mas também a moral, a boa-fé, os bons
costumes. Essa submissão diz respeito tanto para atos estritamente formais como para
situações que inclusive restringem a liberdade do testador, como é o caso do pacto
comissório. O pacto comissório nada mais é do que a estipulação de herança de pessoa viva, o
que é proibido no nosso ordenamento jurídico (art. 426, CC). O Código Civil prevê 3 espécies
de testamento conjuntivo (art. 1863, CC): simultâneo - ocorre quando dois testadores
contemplam uma terceira pessoa; recíproco – acontece quando dois testadores se beneficiam
mutuamente num só ato; e correspectivo: os testadores efetuam disposições em retribuições
de outras correspondentes. De acordo com Carlos Roberto (2020, p. 236) essa proibição se
justifica “porque tais disposições constituem espécies de pacto sucessório e contrariam uma
característica essencial do testamento, que é a revogabilidade.”

As características do testamento traduzem a sua forma única de se realizar, sendo elas: é ato
personalíssimo, portanto, não há se falar em qualquer tipo de representação como um
procurador; é gratuito por não precisar de uma contraprestação ao testador – vale ressaltar que
o testador pode impor certas condições no ato da nomeação do herdeiro, entretanto, isso não
lhe retira a característica da gratuidade; constitui negócio jurídico unilateral que, para Carlos
Roberto (2020, p. 235) “aperfeiçoa-se com uma única manifestação de vontade, a do testador
(declaração não receptícia de vontade), e presta-se à produção de diversos efeitos por ele
desejados e tutelados na ordem jurídica”; é ato solene por existirem formalidades que a lei
exige para que o ato seja fato, são elementos intrínsecos e extrínsecos imprescindíveis para a
validade; a revogabilidade, que foi mencionada anteriormente, é a desistência/arrependimento
de testamento realizado anteriormente; e ato causa mortis porque é pressuposto necessário
para a abertura da sucessão e posterior cumprimento dos fatos jurídicos previstos no
testamento a morte do testador.

Como foi dito, o testamento conjuntivo não é permitido no nosso ordenamento jurídico,
entretanto, é possível um herdeiro ser beneficiado em vida de forma legal, bastando que após
a morte do testador, traga os bens à colação, que nada mais é do que a declaração em juízo do
adiantamento que teve, mesmo que esteja na sua cota; a exceção para que isso deixe de ser
obrigatório é que haja o consentimento dos demais herdeiros. No entanto, existem situações
que podem e devem ser impugnadas em juízo caso haja alguma irregularidade, é o caso dos
pressupostos para existência, validade e eficácia do testamento.

A existência pressupõe que o ato exista juridicamente, que tenha sujeito capaz e objeto lícito
(p.ex., um contrato de compra e venda com uma criança ou mesmo um testamento, que
permite no mínimo maiores de 16 anos – esses atos não existem juridicamente). A validade
diz respeito à obediência as formalidades estabelecidas e, por fim, o ato é eficaz quando
possível de realizar, logo, a sua ineficácia torna impossível a realização do ato, é o caso da
morte de herdeiro antes do testador.

Existem dois indivíduos que estão aptos a ingressar num testamento para a parte disponível da
herança: o herdeiro instituído e o legatário. Esse é quem recebe o legado, que seria a
estipulação de um bem discriminado, especificado, individualizado. Aquele é a pessoa que é
beneficiária de uma parte ou de uma quota ideal do patrimônio disponível, uma porcentagem,
podendo ser também um herdeiro necessário – vale ressaltar que as disposições testamentárias
no Brasil só podem beneficiar pessoas físicas e jurídicas.

A nomeação desse herdeiro no testamento pode se consolidar de seis formas distintas: 1) de


forma pura e simples, ou seja, diretamente (art. 1897, CC); 2) nomeação condicional: é aquela
em que os efeitos do negócio jurídico vão depender de um evento futuro e incerto. Aquela que
é permitido é a condição suspensiva pois ela deixa o negocio jurídico suspenso até a
efetivação de determinada conduta, diferente da condição resolutiva que não é permitida por
limitar a liberdade daquele possível herdeiro; 3) nomeação simplesmente potestativa é
permitida por não restringir a liberdade, diferente da nomeação puramente potestativa; 4)
nomeação modal ou com encargo: diferente da nomeação condicional em que o implemento
da condição é obrigatório para a efetivação do direito, a nomeação modal ou com encargo o
bem é repassado ao herdeiro ou legatário de forma direta mas esse bem ou parte dele deve ter
um fim específico determinado pelo de cujus. Quem receber o bem não é obrigado a realizar
essa vontade do de cujus, mas pode ser cobrado em juízo por isso. Pode deixar de fazer caso
esteja falido, por exemplo; 5) nomeação por certa causa: é a nomeação por algum
serviço/auxílio prestado ao de cujus; 6) a termo: ocorre apenas nas disposições
fideicomissórias.

Talvez a grande questão em análise seja o caso de esse herdeiro necessário ser do tipo não-
necessário, que são os colaterais. Para a sua exclusão do testamento basta que o testador
disponha a totalidade de seus bens em favor de terceiros, sem o contemplar, sendo
desnecessário excluí-lo (art.1850, CC). A hermenêutica testamentária possui muitas regras,
dentre elas há a prevalência da vontade ou intenção do testador (art.1899, CC), logo, a
ausência de herdeiro não-necessário não implica em nenhuma alteração ou nulidade do
testamento.

Vale destacar que existem dois tipos de testamento: o Ordinário (art. 1862, CC) e o Especial
(art. 1886, CC). O testamento ordinário é suscetível de ser utilizado por qualquer pessoa e a
qualquer momento, enquanto o especial serve para situações específicas, não sendo permitido
outro meio de expressão de última vontade.

São três as espécies de testamento ordinário: público, cerrado (secreto ou místico) e o


particular ou olográfico. O testamento público deve ser escrito por tabelião, lido em voz alta,
presenciado por duas testemunhas, sendo assinado pelo testador, testemunhas e pelo tabelião.
O testamento público é a única forma pela qual os analfabetos e cegos podem testamentar. Já
o testamento cerrado é a maneira pela qual o testador dispõe de suas vontades na forma escrita
e em seguida leva ao tabelião para o auto de aprovação. Esta forma permite ao surdo-mudo
escreva seu testamento. E o testamento particular que pode ser escrito por próprio punho,
devendo ser lido e assinado por pelo menos três testemunhas. Quando ocorrer a morte do
testador, leva-se o testamento particular ao juiz competente para validar o negócio jurídico.

O testamento do tipo especial possui também três espécies: o marítimo, aeronáutico e o


militar. Estes são bem descritos nos artigos 1888 a 1896 do Código Civil.
Referencias

BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.

Decisão disponível em:


https://tj-df.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/899645693/7025855620168070000-df-0702585-
5620168070000
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro vol. 7 – 14. ed. – São Paulo: Saraiva
Educação, 2020.

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