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NOÇÕES GERAIS SOBRE O TESTAMENTO

Vale relembrar que, no primeiro texto elaborado, foi vislumbrada a existência


de duas modalidades de sucessão mortis causa: a legítima e a testamentária. Cabe-
nos, agora, explicitar como a codificação civil normatiza a segunda, e para isso, é
fundamental conhecer as noções gerais sobre o testamento.

Esse é definido como um negócio jurídico unilateral, no qual há uma


declaração de vontade não só com propósito de dispor (totalmente ou parcialmente)
seus bens, mas também, determinar diligências de caráter não patrimonial
(manifestação de vontade de conteúdo não econômico -CC 1857 §2º-).

Nota-se aqui, como o exercício do direito de propriedade e o princípio da


autonomia da vontade fundamentam o tema em comento, uma vez que há o
direcionamento do domínio de seus bens para pessoas escolhidas, segundo a
manifestação de vontade do testador, após sua morte.

A ideia de testar constante no artigo 1857 CC se refere à possibilidade de o


indivíduo dispor de seus bens, no momento post mortem, através de um instrumento
formal, público e solene: o testamento. Logo, já é possível vislumbrar a ideia de que há
depender da intenção do testador, a forma adotada deverá seguir o modelo legal
imposto pelo Código Civil, sob pena de nulidade.

Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da


totalidade dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte.

§ 1 o A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída


no testamento.

§ 2 o São válidas as disposições testamentárias de caráter não


patrimonial, ainda que o testador somente a elas se tenha limitado.
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Por oportuno, cabe ressaltar que o poder de testar é, de certa forma,
limitado, pois o artigo 1857 § 1º do CC determina que a parte legítima do patrimônio
(50 por cento) destinada aos herdeiros necessários não poderá ser incluída no
testamento. Contudo, caso não haja herdeiros necessários à sucessão poderá ocorrer
exclusivamente na forma testamentária.

De mais a mais, a codificação civil vigente traz, em seu bojo, certas


determinações acerca da capacidade de testar, constantes nos artigos 1860 e 1861 do
CC. Estes dispositivos determinam que a capacidade deve ser aferida no momento da
elaboração do testamento, então, além dos incapazes, não podem testar os que, no
ato de fazê-lo, não tiverem pleno discernimento.

Por isto, a codificação civil vigente prevê expressamente que, a incapacidade


superveniente do testador não invalida o testamento e nem o testamento do incapaz
se valida com a superveniência da capacidade.

Importante ter em mente alguns pontos essenciais para o entendimento do


tema:

Caráter personalíssimo de tal ato: (1858 CC), apenas o autor da herança,


pessoalmente, pode fazê-lo. As disposições testamentárias devem ser fruto da
exposição direta da vontade do testador e jamais poderão ficar à mercê do arbítrio
de outrem. Contudo, nada impede que um terceiro desinteressado, seguindo as
orientações do testador, o acompanhe e o assessore no que tange a elaboração,
podendo escrever, inclusive, uma minuta do testamento.

Solenidade: As formalidades exigidas pela codificação civil tem o intuito de assegurar


a liberdade do testador e a veracidade de suas disposições

Gratuidade: Como ensina Flávio Tartuce, "não é imposta uma contraprestação ao


beneficiário do testamento, não há o sacrifício bilateral que identifica os negócios
jurídicos onerosos. Desse modo, não há qualquer remuneração ou contraprestação
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para a aquisição dos bens ou direitos decorrentes de um testamento. (“aplica se o
art. 114 do CC, com a notória interpretação restritiva).”

Vale ressaltar que, é importante não confundir tal característica com a imposição de
ônus, modo ou encargo (estes não constituem tecnicamente uma prestação).

Revogabilidade: Flávio Tartuce explica: “O princípio da autonomia privada é


importante norte jurídico para tal assunto, e justamente por força deste princípio, o
ordenamento jurídico fornece ao testador a prerrogativa de reescrever os termos da
sua vontade declarada, quantas vezes o achasse conveniente. Assim, qualquer
cláusula prevendo a irrevogabilidade será considerada nula e não produzirá efeitos
jurídicos.” (exceção- art. 1.610 do CC, pela qual o reconhecimento de filhos é sempre
irrevogável )

No mais, Pablo Stolze relaciona de forma sábia, o testamento com certos aspectos
relevantes do negócio jurídico:

a) manifestação de vontade livre e de boa-fé;

b) capacidade do agente;

c) possibilidade, licitude e determinabilidade do objeto;

d) forma adequada (in casu, prescrita em lei).

MODALIDADES TESTAMENTÁRIAS

As modalidades classificatórias do testamento se distinguem através das circunstâncias


de sua elaboração e são elas:

Ordinária (1862 CC)- ocorre dentro de uma conjuntura de normalidade,


relacionada com a preferência do testador- público, cerrado e particular.
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I) TESTAMENTO PÚBLICO ( 1864 a 1867 CC) :

Traz maior segurança para as partes, pois é lavrado pelo tabelião de


notas ou por seu substituto, que recebe as declarações do testador ou
autor da herança. Importante relembrar que a jurisprudência superior
tem mitigado a observância dos requisitos formais do testamento público.

Ex: informativo n. 435 do STJ

Escrito por tabelião ou substituto no livro de notas;

Rito:

- Tabelião deve ler o testamento em voz alta perante o testador


e 02 testemunhas ou o testador ler perante o tabelião e as
testemunhas,
- Ato contínuo, o instrumento deve ser assinado pelas
testemunhas e pelo tabelião.

E se o testador não puder/souber assinar? 1865, CC- Se o testador não


souber, ou não puder assinar, o tabelião ou seu substituto legal assim o
declarará, assinando, neste caso, pelo testador, e, a seu rogo, uma das
testemunhas instrumentárias.

E se o indivíduo for surdo ? 1866 CC- O indivíduo inteiramente surdo,


sabendo ler, lerá o seu testamento, e, se não o souber, designará quem o
leia em seu lugar, presentes as testemunhas.

E se o indivíduo for cego? 1867 CC-  Ao cego só se permite o testamento


público, que lhe será lido, em voz alta, duas vezes, uma pelo tabelião ou por
seu substituto legal, e a outra por uma das testemunhas, designada pelo
testador, fazendo-se de tudo circunstanciada menção no testamento.

II) TESTAMENTO CERRADO (1868 a 1875 CC) : TB PODE SER


FEITO DE FORMA MECÂNICA

Testador entrega ao tabelião na presença de 02 testemunhas

Testador precisa declarar que aquele é o seu testamento e que o


quer aprovado

Auto de aprovação lavrado desde logo e lido na presença do testador


e de 02 testemunhas (obs: auto de aprovação deve ser aprovado
imediatamente depois da última palavra do testador)

Tabelião pode escrever a rogo (a pedido) do testador e mesmo assim


aprová-lo

Pode ser escrito em língua nacional ou estrangeira

Quem não saiba ler não pode realizá-lo


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Depois de aprovado e cerrado, o testamento será entregue ao
testador e o tabelião registrará em seu livro a data na qual este foi
aprovado e entregue

Após a morte do testador, o testamento será apresentado ao Juiz


que o abrirá, fará o registro do teste, ordenando que este seja
cumprido (Juiz deve ficar atento para com vício externo que torne o
testamento nulo ou suspeito de falsidade)

E quanto ao surdo mudo? 1873 CC- Pode fazer testamento cerrado o


surdo-mudo, contanto que o escreva todo, e o assine de sua mão, e que, ao
entregá-lo ao oficial público, ante as duas testemunhas, escreva, na face
externa do papel ou do envoltório, que aquele é o seu testamento, cuja
aprovação lhe pede.

III)- TESTAMENTO PARTICULAR (1876 a 1880 CC) : Escrito pelo próprio


testador, sem maiores formalidades. Apesar de ser a forma mais fácil de
ser concretizada, tal modalidade não tem a mesma segurança do
testamento público. A jurisprudência superior também mitiga os
requisitos formais do testamento particular

- Pode ser escrito a próprio punho ou mediante a processo


mecânico (se escrito a próprio punho, deve ser lido e assinado
por quem o escreveu na presença de pelo menos 03
testemunhas; se mecânico, não pode conter rasuras ou
espaços em branco e deverá ser assinado da mesma forma
que o outro.)
- Morto o testador, o testamento será publicado em juízo com a
citação dos herdeiros legítimos
- Se as testemunhas compreenderem, este pode ser feito em
língua estrangeira
- Em circunstâncias excepcionais, o testamento particular em
próprio punho e assinado pelo testador, sem testemunhas,
poderá ser confirmado à critério do juiz
- Testemunhas conteste

Extraordinária- ocorre dentro de circunstâncias peculiares; dificuldades da


vida do testador, só poderão acontecer se o testador estiver vivenciando certa
situação excepcional, que requeira mitigação das formalidades tradicionais atribuídas
ao testamento - são eles o marítimo, militar e aeronáutico
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a seguir segue os dispositivos do vigente código civil acerca destas modalidades

TESTAMENTO MARÍTIMO E AERONÁUTICO -

Art. 1.888. Quem estiver em viagem, a bordo de navio nacional, de guerra ou mercante,
pode testar perante o comandante, em presença de duas testemunhas, por forma que
corresponda ao testamento público ou ao cerrado.

Parágrafo único. O registro do testamento será feito no diário de bordo.


Art. 1.889. Quem estiver em viagem, a bordo de aeronave militar ou comercial, pode
testar perante pessoa designada pelo comandante, observado o disposto no artigo
antecedente.
Art. 1.890. O testamento marítimo ou aeronáutico ficará sob a guarda do comandante,
que o entregará às autoridades administrativas do primeiro porto ou aeroporto nacional,
contra recibo averbado no diário de bordo.
Art. 1.891. Caducará o testamento marítimo, ou aeronáutico, se o testador não morrer na
viagem, nem nos noventa dias subsequentes ao seu desembarque em terra, onde possa fazer,
na forma ordinária, outro testamento.
Art. 1.892. Não valerá o testamento marítimo, ainda que feito no curso de uma viagem,
se, ao tempo em que se fez, o navio estava em porto onde o testador pudesse desembarcar e
testar na forma ordinária.

TESTAMENTO MILITAR:

Art. 1.893. O testamento dos militares e demais pessoas a serviço das Forças Armadas em
campanha, dentro do País ou fora dele, assim como em praça sitiada, ou que esteja de
comunicações interrompidas, poderá fazer-se, não havendo tabelião ou seu substituto legal,
ante duas, ou três testemunhas, se o testador não puder, ou não souber assinar, caso em que
assinará por ele uma delas.
§ 1 o Se o testador pertencer a corpo ou seção de corpo destacado, o testamento será
escrito pelo respectivo comandante, ainda que de graduação ou posto inferior.
§ 2 o Se o testador estiver em tratamento em hospital, o testamento será escrito pelo
respectivo oficial de saúde, ou pelo diretor do estabelecimento.
§ 3 o Se o testador for o oficial mais graduado, o testamento será escrito por aquele que o
substituir.
Art. 1.894. Se o testador souber escrever, poderá fazer o testamento de seu punho,
contanto que o date e assine por extenso, e o apresente aberto ou cerrado, na presença de
duas testemunhas ao auditor, ou ao oficial de patente, que lhe faça às vezes neste mister.
Parágrafo único. O auditor, ou o oficial a quem o testamento se apresente notará, em
qualquer parte dele, lugar, dia, mês e ano, em que lhe for apresentado, nota esta que será
assinada por ele e pelas testemunhas.
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Art. 1.895. Caduca o testamento militar, desde que, depois dele, o testador esteja,
noventa dias seguidos, em lugar onde possa testar na forma ordinária, salvo se esse
testamento apresentar as solenidades prescritas no parágrafo único do artigo antecedente.
Art. 1.896. As pessoas designadas no art. 1.893, estando empenhadas em combate, ou
feridas, podem testar oralmente, confiando a sua última vontade a duas testemunhas.
Parágrafo único. Não terá efeito o testamento se o testador não morrer na guerra ou
convalescer do ferimento.
https://lutofoli.wordpress.com/2018/10/31/direito-das-sucessoes-aula-11-formas-de-
testamento/

https://direitofamiliar.com.br/testamento-o-que-e-como-fazer-e-quais-sao-as-modalidades/

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