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Procedimentos Especiais - Teoria Geral

O novo Código de Processo Civil, aprovado em 2015 com vigência em 2016, extinguiu
vários tipos de processo, mantendo apenas o processo de conhecimento, agora não mais
dividido em ordinário e sumário, e o de execução. Segundo o CPC:

Conhecimento: apresentar o direito do caso concreto, decidir se existe e de quem é;

Execução: satisfaz/efetiva o direito conhecido por meio de processo anterior.

Os procedimentos especiais estão inseridos dentro do processo de conhecimento, visto


que buscam conhecer quais os direitos em questão.

No nCPC, os artigos 318 e subsequentes apresentam o que serve para a maioria dos casos.
Já entre os artigos 539 e 770, são apresentados os procedimentos especiais.

Contudo, é sempre importante lembrar que nem todos os procedimentos especiais estão no
nCPC, de forma que necessitam da legislação extravagante, como mandado de segurança,
ação popular, alienação fiduciária, lei de alimentos, entre outras.

Os procedimentos especiais se justificam a partir das particularidades do direito material


a ser titulado, ou seja, se há algum ponto do direito material que dificulte a tutela do
procedimento comum, torna-se imprescindível a adaptação do procedimento a fim de
garantir que o direito material se concretize, atingindo a finalidade do processo civil de
satisfazer um bem material.

Tais procedimentos são divididos em fungíveis e infungíveis. Esses conceitos aparecem na


matéria de direito das coisas, contudo faz-se mister ressaltar aqui:

Fungíveis: podem ser substituídos por outros do mesmo gênero, qualidade e quantidade
(art. 85 do Código Civil);

Infungíveis: não podem ser substituídos.

Para os procedimentos especiais, a divisão se mostra em:

Fungíveis são aqueles procedimentos especiais que existem, porém não são obrigatórios,
sendo possível a escolha pelo procedimento comum. Inclusive essa é a regra;

Infungíveis são aqueles procedimentos especiais que existem e não podem ser
substituídos, eles devem ser usados. Exemplo disso é o inventário que iremos aprender
neste material.

Por que o inventário e a partilha fazem parte dos procedimentos especiais?

A particularidade do inventário e da partilha se mostra na sucessão causa mortis, de uma


morte real ou morte presumida (art. 6º do Código Civil).

Em caso de desaparecimento, há a possibilidade de abertura do inventário, havendo a


abertura provisória e a abertura definitiva.
O conjunto de bens deixado pela pessoa falecida, também conhecida como de cujus, é
chamado de espólio, sendo observando o princípio da saisine, ou seja, no exato momento
que a pessoa morre, os herdeiros tornam-se proprietários do espólio.

Inventário x Partilha São duas fases do mesmo procedimento.

Para compreender as fases, é preciso compreender quais são os objetivos de cada uma.
Iniciando pelo inventário:

Elencar quais são os bens, quais são as dívidas, quais são os herdeiros, ou seja, quais os
direitos e obrigações deixadas pelo falecido;

Isolar a meação, ou seja, isolar o direito efetivo da metade do patrimônio compartilhado com
alguém – casamentos sem divisão total de bens;

Elencar os herdeiros legítimos, testamentários ou legatários e analisar a existência de


colação, ou seja, doações que dele em vida foram recebidas, a ser feita na herança;

Verificar a existência de dívidas e estabelecer uma forma de pagamento, caso existam. As


dívidas não são partilhadas, de forma que quem responde às dívidas é o espólio, sendo os
herdeiros responsáveis pelas dívidas apenas nos limites da herança, ou seja, não é possível
herdar dívidas que sejam maiores que o patrimônio.

Nesse caso, há a possibilidade de fazer um inventário negativo, quando o patrimônio não é


o suficiente para quitar as dívidas. Isso se mostra como uma opção que resguarda os
herdeiros.

Regularização de imóveis e tributos.

Após tais passos, caso sobre alguma coisa no espólio, haverá a partilha com a divisão dos
bens. A partilha pode ser definida como a repartida dos bens e dos créditos entre os
herdeiros. Para que isso ocorra, é necessário gerar o formal de partilha, ou seja, um
documento que coloca quais bens são para cada herdeiro, para que seja levado a registro e,
assim, seja transferido/registrado em seus respectivos nomes. É uma forma de formalizar a
aquisição da propriedade.

Inventário e Partilha Extrajudicial

Procedimentos judiciais

O procedimento especial acerca do inventário e partilha é apresentado nos artigos


presentes entre o 610 e o 673 do CPC. Assim, percebe-se que o procedimento é
inteiramente especial, do início ao fim, além de ser um procedimento deveras detalhado,
cheio de formalidades.

O artigo 611 apresenta os prazos e a duração dos procedimentos de inventário:


Art. 611. O processo de inventário e de partilha deve ser instaurado dentro de 2 (dois)
meses, a contar da abertura da sucessão, ultimando-se nos 12 (doze) meses subsequentes,
podendo o juiz prorrogar esses prazos, de ofício ou a requerimento de parte.

Contudo, o que dialoga com o senso comum sobre a morosidade do inventário, devido à
complexidade do processo, esses prazos não correspondem à realidade.

O artigo 610 do CPC faz uma abertura sobre a judicialidade do procedimento. No caput,
apresenta que se houver incapaz ou testamento, o processo judicial é mandatário, sendo o
testamento, segundo o CNJ, válido e eficaz.

Porém, caso o testamento não cumpra tais requisitos, torna-se possível a extrajudicialidade
do procedimento.

Requisitos

Ainda no mesmo artigo, já nos parágrafos, são apresentados os requisitos para o inventário
extrajudicial:

§ 1º Se todos forem capazes e concordes, o inventário e a partilha poderão ser feitos por
escritura pública, a qual constituirá documento hábil para qualquer ato de registro, bem
como para levantamento de importância depositada em instituições financeiras.

§ 2º O tabelião somente lavrará a escritura pública se todas as partes interessadas


estiverem assistidas por advogado ou por defensor público, cuja qualificação e assinatura
constarão do ato notarial.

Analisando os §§, exige-se que as partes sejam capazes e concordes. As questões sobre
capacidade são apresentadas no Código Civil, nos artigos 3º e 4º. Já para que os herdeiros
sejam concordes, é necessário que não haja nenhum tipo de briga ou inventário judicial.
Ainda há a obrigatoriedade de um advogado ou defensor público no cartório, principalmente
devido às complexidades da matéria.

Funcionamento

O funcionamento se dá pela escritura pública lavrada e não por uma sentença, uma vez que
não há o envolvimento do juiz. Nessa escritura, as manifestações de vontade são
apresentadas perante o tabelião, tais quais como elas querem que sejam divididas, quem
são os herdeiros. Após a escritura pública é levada a registro, para que os herdeiros tenham
acesso aos bens. Assim, ao invés do formal de partilha, há uma escritura pública.

Ao contrário de um processo judicial, que precisa respeitar as regras de competência, a


escritura pública não faz tais exigências, de forma que é passível de escolha.

Resolução 35/2007 – CNJ

Para compreender as questões de inventário extrajudicial em sua plenitude, é imprescindível


tomar conhecimento dos pontos levantados pela Resolução 35/2007 do Conselho Nacional
de Justiça, que dispõe de regras específicas. Dentre as questões levantadas, é interessante
observar algumas em específico:
A possível desistência ou suspensão do processo judicial por 30 dias para iniciar um
inventário extrajudicial;

Em caso de inventário feito por escritura pública, há a dispensa de procuração do advogado;

Em caso de consentimento de todos os interessados, é possível retificar a escritura e


reconhecer a meação do cônjuge ou do companheiro.

É permitido:

a) sobrepartilha, ou seja, após a partilha e o encerramento do inventário, há a descoberta de


um novo bem a ser partilhado, é possível realizar uma nova partilha desse bem;

b) inventário negativo, que funciona para a resguarda dos herdeiros.

É proibido:

a) inventário de bens no exterior;

b) indícios de fraude ou dúvidas sobre a declaração de vontade.

Requerimento de Inventário e Nomeação de Inventariante

É preciso lembrar que o objetivo do procedimento especial é tornar o procedimento mais


célere, portanto, o âmbito de discussão é restringido. Assim, só podem ser tratadas as
questões já provadas por documento, ou seja, suficientemente provadas pelas partes por
prova documental, sem dilações probatórias maiores que isso.

Ainda, as questões de alta indagação devem ser levadas às vias ordinárias, isto é, aquelas
que não conseguem ser provadas por mera prova documental e exigem dilação probatória
maior, tal como perícias, necessitam do procedimento comum.

Daí, nesse caso, após produzida a prova mais complexa, ela será trazida ao inventário.

Competência para o requerimento

Embora seja regra de competência, a regra geral para esse caso não está presente no CPC,
mas sim no Código Civil:

Art. 1.785. A sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido.

Portanto, o local do inventário será no último domicílio da pessoa que faleceu.

Dessa forma, esse foro exerce força atrativa, isto é, na existência de outros processos
relacionados ao inventário, herança, direitos e obrigações, é mandatório que esses sejam
levados ao mesmo foro em que o inventário está sendo processado. Até para evitar que
haja decisões contraditórias.
O artigo 23, II, do nCPC, traz a competência privativa brasileira do inventário de bens
localizados no Brasil, independente da nacionalidade do dono, como uma regra de Direito
Internacional Privado.

Administrador provisório

A pessoa que cuida provisoriamente dos bens do de cujus é o administrador provisório, que
representa o espólio até o compromisso do inventariante.

Tal pessoa possui direitos e deveres acerca desse espólio, tais como reembolso, em caso
de despesas na administração do espólio, e responsabilidade, em caso de danos no
patrimônio.

Ainda, essa pessoa é incumbida de requerer o inventário. Já se manifesta uma diferença


dos procedimentos tanto comuns quanto especiais, o processo não se inicia com uma
petição inicial, ou seja, o requerimento não é uma petição inicial. Esse requerimento é um
documento que busca quebrar a inércia da jurisdição e pedir ao juiz que abra o inventário.

O artigo 616 apresenta o rol de pessoas que são legitimadas a requerer a abertura do
inventário, além do administrador provisório:

Art. 616. Têm, contudo, legitimidade concorrente:

I - o cônjuge ou companheiro supérstite;

II - o herdeiro;

III - o legatário;

IV - o testamenteiro;

V - o cessionário do herdeiro ou do legatário;

VI - o credor do herdeiro, do legatário ou do autor da herança;

VII - o Ministério Público, havendo herdeiros incapazes;

VIII - a Fazenda Pública, quando tiver interesse;

IX - o administrador judicial da falência do herdeiro, do legatário, do autor da


herança ou do cônjuge ou companheiro supérstite.

Já o artigo 617 traz o rol de pessoas que podem ser nomeadas inventariantes. É
interessante notar que esse rol só caminha a partir do esgotamento das condições dos
incisos, seguindo a ordem, de forma que se um inciso já cumpre, não chega a ir para o
próximo.

Art. 617. O juiz nomeará inventariante na seguinte ordem:


I - o cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que estivesse
convivendo com o outro ao tempo da morte deste;

II - o herdeiro que se achar na posse e na administração do espólio,


se não houver cônjuge ou companheiro sobrevivente ou se estes não
puderem ser nomeados;

III - qualquer herdeiro, quando nenhum deles estiver na posse e na


administração do espólio;

IV - o herdeiro menor, por seu representante legal;

V - o testamenteiro, se lhe tiver sido confiada a administração do


espólio ou se toda a herança estiver distribuída em legados;

VI - o cessionário do herdeiro ou do legatário;

VII - o inventariante judicial, se houver;

VIII - pessoa estranha idônea, quando não houver inventariante


judicial.

Parágrafo único. O inventariante, intimado da nomeação, prestará,


dentro de 5 (cinco) dias, o compromisso de bem e fielmente
desempenhar a função.

O parágrafo único traz a importância do compromisso de bem e fielmente desempenhar a


função, carregado de valor jurídico, sendo o administrador provisório afastado apenas após
a prestação de compromisso.

Obrigações de inventariante

Figura do inventariante

Retomando o artigo 617, que traz o rol de pessoas que podem ser nomeadas inventariantes,
é necessário que seja uma pessoa de confiança e que tenha interessa na boa administração
do espólio. Ainda, há a prestação de compromisso de bem administrar esses bens, com
valor jurídico e que traz consequências a partir do descumprimento.

Já os artigos 618 e 619 trazem obrigações específicas do inventariante na administração do


espólio.

O artigo 618 traz as obrigações que não exigem autorização judicial nem anuência dos
herdeiros, principalmente por caracterizar condutas cotidianas:

Art. 618. Incumbe ao inventariante:

I - representar o espólio ativa e passivamente, em juízo ou fora dele,


observando-se, quanto ao dativo, o disposto no art. 75, § 1o;
II - administrar o espólio, velando-lhe os bens com a mesma diligência que
teria se seus fossem;

III - prestar as primeiras e as últimas declarações pessoalmente ou por


procurador com poderes especiais;

IV - exibir em cartório, a qualquer tempo, para exame das partes, os


documentos relativos ao espólio;

V - juntar aos autos certidão do testamento, se houver;

VI - trazer à colação os bens recebidos pelo herdeiro ausente, renunciante ou


excluído;

VII - prestar contas de sua gestão ao deixar o cargo ou sempre que o juiz lhe
determinar;

VIII - requerer a declaração de insolvência.

E o artigo 619 traz as obrigações que exigem autorização do juiz e a partir da oitiva dos
interessados, visto que não são ações triviais:

Art. 619. Incumbe ainda ao inventariante, ouvidos os interessados e com


autorização do juiz:

I - alienar bens de qualquer espécie;

II - transigir em juízo ou fora dele;

III - pagar dívidas do espólio;

IV - fazer as despesas necessárias para a conservação e o melhoramento


dos bens do espólio.

Remoção

Se um inventariante descumprir qualquer uma das obrigações ligadas ao dever de boa


administração do espólio, há a possibilidade de remoção do inventariante. As causas estão
presentes no artigo 622:

Art. 622. O inventariante será removido de ofício ou a requerimento:

I - se não prestar, no prazo legal, as primeiras ou as últimas declarações;

II - se não der ao inventário andamento regular, se suscitar dúvidas infundadas ou se


praticar atos meramente protelatórios;

III - se, por culpa sua, bens do espólio se deteriorarem, forem dilapidados ou sofrerem dano;
IV - se não defender o espólio nas ações em que for citado, se deixar de cobrar dívidas
ativas ou se não promover as medidas necessárias para evitar o perecimento de direitos;

V - se não prestar contas ou se as que prestar não forem julgadas boas;

VI - se sonegar, ocultar ou desviar bens do espólio.

Nesse caso, o juiz instaurará um incidente em apenso ao processo de inventário, com 15


dias para a defesa, concordando com o princípio do contraditório e ampla defesa, depois
disso, se for caso de remoção, a nomeação ocorrerá baseada nas regras do art. 617.

Primeiras Declarações

As primeiras declarações devem ser prestadas pelo inventariante em até 20 dias após a
nomeação e devem ser documentos com as informações solicitadas no artigo 620 do CPC.

Art. 620. Dentro de 20 (vinte) dias contados da data em que prestou o


compromisso, o inventariante fará as primeiras declarações, das quais se
lavrará termo circunstanciado, assinado pelo juiz, pelo escrivão e pelo
inventariante, no qual serão exarados:

I - o nome, o estado, a idade e o domicílio do autor da herança, o dia e o


lugar em que faleceu e se deixou testamento;

II - o nome, o estado, a idade, o endereço eletrônico e a residência dos


herdeiros e, havendo cônjuge ou companheiro supérstite, além dos
respectivos dados pessoais, o regime de bens do casamento ou da união
estável;

III - a qualidade dos herdeiros e o grau de parentesco com o inventariado;

IV - a relação completa e individualizada de todos os bens do espólio,


inclusive aqueles que devem ser conferidos à colação, e dos bens alheios
que nele forem encontrados, descrevendo-se:

a) os imóveis, com as suas especificações, nomeadamente local em que se


encontram, extensão da área, limites, confrontações, benfeitorias, origem dos
títulos, números das matrículas e ônus que os gravam;

b) os móveis, com os sinais característicos;

c) os semoventes, seu número, suas espécies, suas marcas e seus sinais


distintivos;

d) o dinheiro, as joias, os objetos de ouro e prata e as pedras preciosas,


declarando-se-lhes especificadamente a qualidade, o peso e a importância;

e) os títulos da dívida pública, bem como as ações, as quotas e os títulos de


sociedade, mencionando-se-lhes o número, o valor e a data;
f) as dívidas ativas e passivas, indicando-se-lhes as datas, os títulos, a
origem da obrigação e os nomes dos credores e dos devedores;

g) direitos e ações;

h) o valor corrente de cada um dos bens do espólio.

§ 1º O juiz determinará que se proceda:

I - ao balanço do estabelecimento, se o autor da herança era empresário


individual;

II - à apuração de haveres, se o autor da herança era sócio de sociedade que


não anônima.

§ 2º As declarações podem ser prestadas mediante petição, firmada por


procurador com poderes especiais, à qual o termo se reportará.

As primeiras declarações são interpretadas como um esboço do inventário, devido às


informações apresentadas segundo esse rol. Essas declarações estão sujeitas ao
contraditório, retificação, impugnação. Isso é exercido a partir da manifestação em 15 dias
pela citação de determinadas pessoas, como o cônjuge ou companheiro, herdeiros e
legatários, fazenda pública (é importante tomar ciência), ministério público (em caso de
incapaz ou ausente), testamenteiro (a pessoa que foi designada pelo falecido para cuidar
dos trâmites do testamento).

A impugnação ocorre quando não há concordância por parte das pessoas citadas sobre
alguma parte do documento, sendo as causas: erro, omissão ou sonegação; figura do
inventariante; ou a qualidade de herdeiro, tanto para tirar quanto para colocar nomes.

No caso da sonegação, como ocultar bens, não mencionar a existência de algum bem que
deveria ter sido colocado no inventário, há a instauração de um litígio no processo para ver
se foi proposital e mal-intencionado. As consequências estão nos artigos 1992 e 1993 do
Código Civil, tais como a perda do direito sobre o bem e a remoção do inventariante.

Em caso de herdeiro preterido, se uma pessoa deveria ter sido nomeada com herdeira e
não foi, há a possibilidade de requerer os direitos hereditários dela até o momento da
partilha, durante a fase do inventário. Se esse prazo for perdido, com o trânsito em julgado
de todas as fases, há a possibilidade de fazer uma ação de petição de herança, que visa a
revogação de tudo e a repartilha. Esse incidente deve ser decidido em 15 dias, o que se
mostra um problema, uma vez que há a possibilidade de necessitar de dilação probatória,
devido à complexidade da temática, indo para o procedimento comum. Nesse momento, o
juiz solicita que o inventariante faça uma reserva do quinhão até que o procedimento comum
seja transitado em julgado.
Primeiras Declarações

As primeiras declarações devem ser prestadas pelo inventariante em até 20 dias após a
nomeação e devem ser documentos com as informações solicitadas no artigo 620 do CPC.

Art. 620. Dentro de 20 (vinte) dias contados da data em que prestou o


compromisso, o inventariante fará as primeiras declarações, das quais se
lavrará termo circunstanciado, assinado pelo juiz, pelo escrivão e pelo
inventariante, no qual serão exarados:

I - o nome, o estado, a idade e o domicílio do autor da herança, o dia e o


lugar em que faleceu e se deixou testamento;

II - o nome, o estado, a idade, o endereço eletrônico e a residência dos


herdeiros e, havendo cônjuge ou companheiro supérstite, além dos
respectivos dados pessoais, o regime de bens do casamento ou da união
estável;

III - a qualidade dos herdeiros e o grau de parentesco com o inventariado;

IV - a relação completa e individualizada de todos os bens do espólio,


inclusive aqueles que devem ser conferidos à colação, e dos bens alheios
que nele forem encontrados, descrevendo-se:

a) os imóveis, com as suas especificações, nomeadamente local em que se


encontram, extensão da área, limites, confrontações, benfeitorias, origem dos
títulos, números das matrículas e ônus que os gravam;

b) os móveis, com os sinais característicos;

c) os semoventes, seu número, suas espécies, suas marcas e seus sinais


distintivos;

d) o dinheiro, as joias, os objetos de ouro e prata e as pedras preciosas,


declarando-se-lhes especificadamente a qualidade, o peso e a importância;

e) os títulos da dívida pública, bem como as ações, as quotas e os títulos de


sociedade, mencionando-se-lhes o número, o valor e a data;

f) as dívidas ativas e passivas, indicando-se-lhes as datas, os títulos, a


origem da obrigação e os nomes dos credores e dos devedores;

g) direitos e ações;

h) o valor corrente de cada um dos bens do espólio.

§ 1º O juiz determinará que se proceda:

I - ao balanço do estabelecimento, se o autor da herança era empresário


individual;
II - à apuração de haveres, se o autor da herança era sócio de sociedade que
não anônima.

§ 2º As declarações podem ser prestadas mediante petição, firmada por


procurador com poderes especiais, à qual o termo se reportará.

As primeiras declarações são interpretadas como um esboço do inventário, devido às


informações apresentadas segundo esse rol.

Essas declarações estão sujeitas ao contraditório, retificação, impugnação. Isso é exercido a


partir da manifestação em 15 dias pela citação de determinadas pessoas, como o cônjuge
ou companheiro, herdeiros e legatários, fazenda pública (é importante tomar ciência),
ministério público (em caso de incapaz ou ausente), testamenteiro (a pessoa que foi
designada pelo falecido para cuidar dos trâmites do testamento).

A impugnação ocorre quando não há concordância por parte das pessoas citadas sobre
alguma parte do documento, sendo as causas: erro, omissão ou sonegação; figura do
inventariante; ou a qualidade de herdeiro, tanto para tirar quanto para colocar nomes.

No caso da sonegação, como ocultar bens, não mencionar a existência de algum bem que
deveria ter sido colocado no inventário, há a instauração de um litígio no processo para ver
se foi proposital e mal-intencionado. As consequências estão nos artigos 1992 e 1993 do
Código Civil, tais como a perda do direito sobre o bem e a remoção do inventariante.

Em caso de herdeiro preterido, se uma pessoa deveria ter sido nomeada com herdeira e
não foi, há a possibilidade de requerer os direitos hereditários dela até o momento da
partilha, durante a fase do inventário.

Se esse prazo for perdido, com o trânsito em julgado de todas as fases, há a possibilidade
de fazer uma ação de petição de herança, que visa a revogação de tudo e a repartilha.

Esse incidente deve ser decidido em 15 dias, o que se mostra um problema, uma vez que
há a possibilidade de necessitar de dilação probatória, devido à complexidade da temática,
indo para o procedimento comum.

Nesse momento, o juiz solicita que o inventariante faça uma reserva do quinhão até que o
procedimento comum seja transitado em julgado.

Partilha

Com o marco de encerramento do inventário, a partir do pagamento das dívidas, tudo o que
tiver restado de patrimônio será dividido entre os herdeiros.

O processo se inicia com cada herdeiro formulando seu pedido de quinhão hereditário de
forma cômoda a todos e a mais igualitária possível. As partes devem acordar como isso
funcionar, sendo possível a intervenção do juiz ou do inventariante. A lei coloca a
possibilidade de deferimento antecipado de uso, gozo e fruição de bens, o que se diferencia
de tutela antecipada, principalmente pelo caráter não provisório.
A partilha deve ser igualitária, justa e cômoda entre os herdeiros. Caso seja impossível, há a
chance de haver uma licitação, uma forma de leilão do bem, ou venda judicial com a divisão
do dinheiro. A lei também reserva o quinhão do nascituro, em caso de herdeiro por nascer.

Nessa fase, o administrador do espólio é chamado de partidor. E segundo o artigo 651, é de


sua responsabilidade a organização do esboço da partilha de acordo com a decisão judicial,
observando a ordem de dívidas atendidas, meação do cônjuge, meação disponível e
quinhões hereditários a começar pelo coerdeiro mais velho.

O esboço da partilha é feito com a lista dos bens, dos herdeiros e uma sugestão de quem
vai ficar com o quê. Há a abertura de um prazo de 15 dias para a manifestação dos
herdeiros, em seguida, paga o ITCMD. Após há a sentença de partilha, sendo esse o
documento a ser levado a registro. Com o trânsito em julgado, cria-se o formal de partilha,
que possibilita a provação de propriedade desses bens.

Essa sentença transitada em julgado ao mesmo tempo que pode ser levada a registro, pode
ter vícios.

Nesses casos, há a possibilidade de emenda da sentença, no artigo 656 do CPC, que


apresenta a possibilidade de a sentença ser emendada por erro de fato, com concordância
de todas as partes, ou inexatidão material, de ofício.

Ainda pode ocorrer a rescisão, presentes nos arts. 657 e 658, sujeita a ação rescisória (art.
966/CPC), devido a vícios formais, preterido ou incluído herdeiro e partilha extrajudicial.

Nesse último caso, o artigo 657 dispõe de forma mais precisa, ainda podendo ser anulada
pelos vícios do negócio jurídico. Contudo, há um prazo para que isso ocorra, o parágrafo
único coloca que

Parágrafo único. O direito à anulação de partilha amigável extingue-se em 1


(um) ano, contado esse prazo:

I - no caso de coação, do dia em que ela cessou;

II - no caso de erro ou dolo, do dia em que se realizou o ato;

III - quanto ao incapaz, do dia em que cessar a incapacidade.

Sendo tais condições muito semelhantes às apresentadas no Código Civil.

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