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D0 inventario. Conceito,
modalidades e procedimentos
Para encerrar 0 presente Capitulo e esta obra, cumpre estudar a
instrumentalizagao concreta do Direito Sucessorio, que se da pelo inventario,
pela partilha e por temas correlatos, tratando tanto pela lei privada quanto
pela lei processual. Como nao poderia ser diferente, 0 tema merece ser
atualizado diante da einergéncia do Novo Codigo de Processo Civil.
Sobre 0 conceito de inventario, lecionam Euclides de Oliveira e
Sebastiao Amorim que “quando morre urna pessoa deixando bens, abre-se a
sucessao e procede-se 0 inventario, para regular apuragao dos bens deixados,
com a finalidade de que passem a pertencer legalmente aos seus sucessores.
O inventario é o procedimento obrigatorio para a atribuigao legal dos bens
aos sucessores do falecido, mesmo em caso de partilha eXtrajudicial”.@ Em
sentido proximo, esclarece Francisco José Cahali que “o inventario é o meio
pelo qual se promove a efetiva transferéncia da heranga e os respectivos
herdeiros, embora, no plano juridico (e ficticio, como visto), a transniissao do
acervo se opere no exato instante do falecimento”.l’
A respeito da matéria, ha um dispositivo inicial no CC/2002, o art.
1.991, segundo o qual: “Desde a assinatura do compromisso até a
honiologagao da partilha, a administragao da heranga sera exercida pelo
inventariante”. O inventariante é o administrador do espolio, conjunto de
bens formado corn a morte de alguém, que constitui um ente
despersonalizado, como visto. Age o inventariante com um mandato legal,
apos a devida nomeagao pelo juiz.
Os principais procedimentos quanto ao inventario estao previstos no
Estatuto Processual, como realmente deve ser. No Codigo de Processo Civil
anterior estavarn entre os seus arts. 982 a 1.021. No Codigo de Processo Civil
de 2015, ora em vigor, a regulamentagao do inventario consta dos arts. 610 a
646.
Conforme julgado do Superior Tribunal de Justiga, dernonstrando essa
faceta de atuagao processual, “o inventariante nada mais é do que,
substancialmente, auxiliar do juizo (art. 139 do CC/2002), nao podendo ser
civilmente preso pelo descumprimento de seus deveres, mas sim destituido
por um dos motivos do art. 995 do CC/2002” (STJ, HC 256.793/RN, Rel.
Min. Luis Felipe Salomao, j. 1.°.10.2013, publicado no seu Informativo n.
531).
N510 se olvide de que o art. 982 do CPC/1973 foi alterado pela Lei
11.441, de 4 de janeiro de 2007, norma que revolucionou a matéria. Em sua
redacao original, determinava a norma que se procederia ao inventario
judicial, ainda que todas as partes fossem capazes. Nesse contexto, o
procedimento judicial de inventario era tido como necessario e obrigatério
para a partilha de bens do falecido, mesmo havendo plena capacidade e
acordo entre os seus herdeiros.
Com a entrada em vigor da nova lei, o panorama legal alterou-se, de
forma contundente e substancial. A modificada redacao do art. 982 do
CPC/1973 era a seguinte: “Havendo testamento ou interessado incapaz,
proceder-se-a ao inventario judicial; se todos forem capazes e concordes,
podera fazer-se o inventario e a partilha por escritura publica, a qual
constituira titulo habil para o registro imobiliario. § 1.° O tabeliao somente
lavrara a escritura publica se todas as partes interessadas estiverem assistidas
por advogado comum ou advogados de cada uma delas ou por defensor
publico, cuja qualificacao e assinatura constarao do ato notarial. § 2.° A
escritura e demais atos notariais serao gratuitos aqueles que se declararem
pobres sob as penas da lei”. Desse modo, sendo as partes capazes e
inexistindo testamento, poderiam os herdeiros optar pelo inventario
extrajudicial, que constitui um caminho facultativo e nao obrigatorio.
O Codigo de Processo Civil de 2015 praticamente repetiu o preceito, no
seu art. 610, in verbis:
Do inventario judicial
Conforme se extrai da obra de Euclides de Oliveira e Sebastiao Amorim
devidamente atualizada, trés sao as espécies de inventario judicial:
Da pena de sonegados
De acordo com o art. 1.992 do CC/2002, impoe-se a pena de sonegados
ao herdeiro: a) que sonegar bens da heranca, nao os descrevendo no
inventario quando estejam em seu poder, ou, com o seu conhecimento,
estejam no poder de outrem; b) que os omitir na colacao, a que os deva levar,
ou ainda que deixar de restitui-los. Como consequéncia direta, o herdeiro
sonegador perde o direito existente sobre tais bens.
Desse modo, sonegados sao os bens que deveriam ter sido inventariados
ou trazidos a colacao, mas nao o foram, pois ocultados pelo inventariante ou
por herdeiro. Como consequéncia, a pena de sonegados constitui uma sancao
ou penalidade civil imposta para os casos de ocultacao de bens da heranca,
gerando a perda do direito sobre os bens ocultados.
Na esteira da melhor doutrina, para a imposicao de tal penalidade, exige-
se a presenca de dois elementos: um objetivo — a ocultacao dos bens em si — e
outro subjetivo — o ato malicioso do ocultador, o seu dolo, a sua intencao de
prejudicar.“‘“ O Codigo de Processo Civil determina, que os bens sonegados
ficarao sujeitos a sobrepartilha (art. 669, inc. I, do CPC/2015, correspondente
ao art. 1.040, inc. I, do CPC/ 1973). Aplicando tais requisitos, da
jurisprudéncia paulista:
Da colacao ou conferéncia
A colacao (collatio) é conceituada pela doutrina como sendo “uma
conferéncia dos bens da heranca com outros transferidos pelo de cujus, em
vida, aos seus descendentes, promovendo o retorno ao monte das
liberalidades feitas pelo autor da heranga antes de falecer, para uma equitativa
apuracao das quotas hereditarias dos sucessores legitimarios”.l7 A matéria
igualmente esta tratada tanto no CC/2002 (arts. 2.002 a 2.012) quanto no
Estatuto Processual (arts. 639 a 641 do CPC/2015, correspondentes aos arts.
1.014 a 1.016 do CPC/1973).
O conceito de colacao ou conferéncia pode ser retirado do art. 2.002 do
CC, segundo o qual: “os descendentes que concorrerem a sucessao do
ascendente comum sao obrigados, para igualar as legitimas, a conferir o valor
das doacoes que dele em vida receberam, sob pena de sonegacao”. O proprio
comando legal disciplina a sancao para o caso de o descendente nao trazer o
bem a colacao: a pena civil de sonegados, antes estudada. Dispoe o seu
paragrafo unico que, para o calculo da legitima, o valor dos bens conferidos
sera computado na parte indisponivel, sem aumentar a disponivel.
A colacao esta justificada na possibilidade de doacao do ascendente ao
descendente ou mesmo entre conjuges, implicando estas em adiantamento da
legitima, conforme outrora estudado no art. 544 do CC/2002. Porém, de
acordo com a jurisprudéncia superior, nao ingressam no dever de colacao a
ocupacao e o uso de um imovel e da respectiva garagem, cedidos em
comodato. Nos termos da correta ementa, que estabelece a diferenca entre tal
contrato e a doacao, somente no ultimo caso “ha transferéncia da
propriedade, tendo o condao de provocar desequilibrio entre as quotas-partes
dos herdeiros necessarios, importando, por isso, em regra, no adiantamento
da legitima” (STJ, REsp 1.722.691/SP, 3.“ Turma, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, j. 12.03.2019, DJe 15.03.2019).
~ ~
A colacao, assim, tem por fim igualar, na proporcao estabelecida no
proprio Codigo Civil, as legitimas dos descendentes e do conjuge
sobrevivente, obrigando também os donatarios que, ao tempo do falecimento
do doador, ja nao possuirem os bens doados (art. 2.003 do CC). A ultima
norma coloca o conjuge sobrevivente, ao lado dos descendentes, como pessoa
obrigada a colacionar.
Quanto ao dever de colacionar do companheiro, prevalecia o seu
afastamento, pois, como visto, doutrina e jurisprudéncia majoritarias nao o
consideravam como herdeiro necessario. De toda sorte, com a recente decisao
do STF, que equiparou a uniao estavel ao casamento para os fins sucessorios,
ganha forca a visao que impoe ao companheiro o dever de colacionar
(Recurso Extraordinario 878.694/MG, j. 10.05.2017, por maioria).
A minha posicao doutrinaria de interpretacao desse julgado, reafirme-se,
é a equiparacao sucessoria total das entidades familiares, inclusive para que o
convivente seja tratado como herdeiro necessario e incluido no rol do art.
1.845 do CC. Em complemento para a premissa, acrescente-se que o
CPC/2015 equiparou o companheiro ao conjuge para os fins processuais,
especialmente quanto ao inventario e a partilha. Assim, pensamos que o
companheiro ou o convivente tem o dever de trazer os bens recebidos por
doacao a colacao, sob pena de imposicao da pena de sonegados,
anteriormente estudada.
Deve ficar claro que os netos também tem o dever de colacionar,
representando os seus pais, notadamente quando sucederem aos avos. Isso,
ainda que nao hajam herdado o que os pais teriam de conferir (art. 2.009 do
CC). Em relacao aos ascendentes e colaterais, estao dispensados da colacao,
uma vez que a lei nao prevé tal dever.
O paragrafo unico do art. 2.003 do CC expressa que, “se, computados os
valores das doacoes feitas em adiantamento de legitima, nao houver no
acervo bens suficientes para igualar as legitimas dos descendentes e do
conjuge, os bens assim doados serao conferidos em espécie, ou, quando deles
ja nao disponha o donatario, pelo seu valor ao tempo da liberalidade”.
Interpretando o dispositivo, conforme ensina Maria Helena Diniz, nosso
ordenamento juridico adotou o sistema da colacdo em substdncia, pois “a
mesma coisa doada em adiantamento da legitima ao descendente e ao
conjuge (arts. 544 e 2.003, paragrafo unico, segunda parte, do Codigo Civil)
deve ser trazida a colacao. Se, ao tempo da abertura da sucessao por morte do
doador, nao houver no acewo hereditario bens suficientes para igualar a
legitima, a coisa doada devera ser conferida em espécie (TJ SP, Ap. 530.150-
4/9-00, Rel. Francisco Loureiro, j. 08.11.2007), e se os donatarios
(descendentes ou conjuge) nao mais a tiverem, deverao trazer a colacao o seu
valor correspondente, hipotese em que se tera a colacao ideal (RT 697:154),
ou por imputacao. Tal valor é o que a coisa doada possuia ao tempo da
liberalidade”.@
No que concerne ao valor de colacao dos bens doados, sera aquele, certo
ou estimativo, que lhes atribuir o ato de liberalidade, ou seja, quando da
doacao (art. 2.004, caput, do CC). Relativamente ao valor estimativo, o juiz
do inventario pode nomear um perito para a sua determinacao, se houver
dificuldades na fixacao do quantum. Havia certa contradicao entre esse
ultimo comando legal e o art. 1.014 do CPC/1973, segundo o qual: “No prazo
estabelecido no art. 1.000, o herdeiro obrigado a colacao conferira por termo
nos autos os bens que recebeu ou, se ja os nao possuir, trar-lhes-a o valor.
Paragrafo unico. Os bens que devem ser conferidos na partilha, assim como
as acessoes e benfeitorias que o donatario fez, calcular-se-ao pelo valor que
tiverem ao tempo da abertura da sucessao”.
Incrivelmente, a contradicao foi mantida em relacao ao Novo CPC, pois
o seu art. 639 é praticamente uma repeticao do seu correspondente anterior.
Senao, vejamos: “No prazo estabelecido no art. 627, o herdeiro obrigado a
colacao conferira por termo nos autos ou por peticao a qual o termo se
reportara os bens que recebeu ou, se ja nao os possuir, trar-lhes-a o valor.
Paragrafo unico. Os bens a serem conferidos na partilha, assim como as
acessoes e as benfeitorias que o donatario fez, calcular-se-ao pelo valor que
tiverem ao tempo da abertura da sucessao”.
A contradicao estava e continua presente, pois o CC/2002 menciona o
valor do bem ao tempo da doacao, enquanto o CPC expressa o momento da
abertura da sucessao. A solucao para tal conflito era muito bem apontada por
Zeno Veloso, que afirmava que o art. 2.004 do CC/2002 revogaria o art.
1.014 do CPC/1973.w
Trata-se de uma questao de direito intertemporal. Desse modo, este
autor sempre entendeu que, se o falecimento ocorresse antes da entrada em
vigor do CC/2002, seria aplicada a regra do CPC/1973. Se o falecimento
ocorresse a partir de 11 de janeiro de 2003, o CC/2002 teria incidéncia. Como
todas as normas estao no plano da eficacia, trata-se de aplicacao do art. 2.035,
caput, do CC/2002. Com a emergéncia do Novo CPC, é forcoso concluir que
o seu conteudo passa a ter incidéncia para os falecimentos ocorridos apos a
entrada em vigor da nova legislacao processual, a partir de marco de 2016.
Concluindo desse modo, colaciona-se, do STJ, a merecer destaque:
Da partilha
Com é notorio, a partilha é o instituto juridico pelo qual cessam a
indivisibilidade e a imobilidade da heranca, uma vez que os bens sao
divididos entre os herdeiros do falecido. Trata-se do momento pelo qual os
herdeiros aguardam ansiosamente, sendo certo que a partilha tem efeito
declaratorio e nao constitutivo, como bem ensina Zeno Veloso.@ Ou, ainda,
é a “reparticao ou distribuicao dos bens do falecido. E o ponto culminante da
liquidacao da heranca, pondo termo ao estado de indivisao, discriminando e
especificando os quinhoes hereditarios. Fixa o momento em que o acervo
deixa de ser uma coisa comum e se transforma em coisas particulares”.1—55
~
Em relacao a matéria, mais uma vez devem ser estudadas as regras
previstas tanto no Codigo Civil (arts. 2.013 a 2.022) quanto no Codigo de
Processo Civil. Na antiga norma instrumental, o tratamento estava entre os
seus arts. 1.022 a 1.030. No Novo CPC, sem grandes modificacoes, devem
ser observados os arts. 647 a 658.
De inicio, determina o Codigo Civil que o herdeiro pode sempre
requerer a partilha, ainda que o testador o proiba, cabendo igual faculdade aos
seus cessionarios e credores (art. 2.013 do CC/2002). Percebe-se que o direito
a partilha constitui um direito do herdeiro, inafastavel pela vontade do
testador; até pelo reconhecimento de que o direito a heranca é um direito
fundamental (art. 5.“, inciso XXX, da CF/1988).
A partir dos ensinamentos da melhor doutrina, e pelo que consta do
Codigo Civil, podem ser apontadas trés espécies de partilha: a amigavel (ou
extrajudicial), a judicial e a partilha em vida.@
Da partilha judicial
No que diz respeito a partilha judicial, esta é obrigatoria para os casos
em que ha divergéncia entre os herdeiros ou quando algum deles for incapaz
(art. 2.016 do CC/2002). O Novo Estatuto Processual continua a trazer
procedimentos especificos. De inicio, dispoe o art. 647 do CPC/2015,
correspondente ao antigo art. 1.022 do CPC/1973, que, separados os bens
para pagamento dos credores para a respectiva praca ou leilao, o juiz
facultara as partes que, no prazo comum de quinze dias, formulem o pedido
de quinhao.
Mais uma vez houve aumento de prazo, que antes era de dez dias. Pela
mesma norma, em seguida o juiz proferira a decisao de deliberacao da
partilha, resolvendo os pedidos das partes e designando os bens que devem
constituir quinhao de cada herdeiro e legatario. No trecho final do diploma
foram feitas duas alteracoes. Primeiro, nao ha mais mencao ao prazo de dez
dias para decisao do juiz, o que causa estranheza, pois o CPC/2015 procurou
agilizar os procedimentos. Segundo, houve a substituicao do termo despacho
por decisao que, de fato, parece ser melhor tecnicamente.
O paragrafo unico do art. 647 do CPC/2015 traz regra que nao existia no
sistema anterior, estabelecendo que o juiz podera, em decisao fundamentada,
deferir antecipadamente a qualquer dos herdeiros o exercicio dos direitos de
usar e fruir de determinado bem. Todavia, a norma estabelece a condicao de
que, ao término do inventario, tal bem integre a cota desse herdeiro.
Em continuidade, enuncia-se que, desde o deferimento do exercicio dos
direitos de usar e fruir do bem, cabem ao herdeiro beneficiado todos os onus
e bonus decorrentes do exercicio daqueles direitos. Como se nota, o objetivo
do novo preceito é que o herdeiro possa fruir plenamente do que tem direito,
concretizando-se a heranca como direito fundamental. Em suplemento, ha a
efetivacao do droit de saisine, retirado do art. 1.784 do Codigo Civil, pelo
qual, aberta a sucessao, a heranca transmite-se, desde logo, aos herdeiros
legitimos e testamentarios.
Sobre a natureza juridica do instituto, Daniel Amorim Assumpcao
Neves expoe a existéncia de incertezas. De acordo com suas palavras, “nao
resta duvida sobre a natureza de decisao interlocutoria, recorrivel por agravo
de instrumento (art. 1.015 do Novo CPC), nesse caso, mas sobrem duvidas a
respeito de qual espécie de julgamento versa o dispositivo legal ora
comentado. Nao se trata de julgamento parcial de mérito, porque o herdeiro
recebe apenas o exercicio dos direitos de usar e usufruir do bem, e nao a sua
propriedade. Por outro lado, embora se assemelhe a tutela provisoria (da
evidéncia, porque a lei nao prevé o periculum in mora como requisito para
sua concessao), parte da certeza de que o bem integra a cota do herdeiro
beneficiado pela concessao da tutela, o que contraria o juizo de mera
probabilidade tipico das tutelas provisorias”.@ Filia-se a sua posicao,
cabendo a doutrina especializada e a jurisprudéncia delinear o enquadramento
da nova categoria.
Fernanda Tartuce e Rodrigo Mazzei levantam polémica sobre a
incidéncia do comando para o legatario, pois a norma em questao utiliza o
termo herdeiros. Ademais, pontuam que o legatario nao tem a posse imediata
da heranca, que somente é concretizada com a partilha, mas apenas o dominio
do bem, o que é retirado do art. 1.923 do Codigo Civil, especialmente do seu
§ 1.“. De acordo com esse preceito civil, “Desde a abertura da sucessao,
pertence ao legatario a coisa certa, existente no acervo, salvo se o legado
estiver sob condicao suspensiva. § 1.“ Nao se defere de imediato a posse da
coisa, nem nela pode o legatario entrar por autoridade propria”.@
Sigo as mesmas conclusoes dos juristas citados, constantes de
enunciados aprovados no Forum Permanente de Processualistas Civis, com
numeros 182 e 181. Para eles, a norma em comento é aplicavel aos legatarios
quando ficar evidenciado que os pagamentos do espolio nao irao reduzir os
legados. Em outras palavras, incide o direito de fruicao sobre os bens ao
legatario quando nao houver prejuizo e herdeiros e credores. Como
consequéncia natural, o mesmo direito deve ser assegurado quando a heranca
for toda dividida em legados, o que gera a legitimidade para o legatario
manifestar acerca das dividas do espolio, segundo o mesmo Estatuto
Processual.@
Feitas tais consideracoes, observa-se que o art. 648 do CPC/2015
inaugura, no sistema processual, regras de interpretacao para a partilha, o que
nao constava da legislacao instrumental anterior. Acredita-se que tais
maximas representarao uma grande revolucao no tratamento do tema,
instituindo definitivamente a colaboracao e a boa-fé processual e material no
instituto em questao, na linha do que foi desenvolvido no Capitulo 1 deste
livro.
A primeira regra a ser considerada é a de maxima igualdade possivel na
divisao, seja quanto ao valor, seja quanto a natureza e a qualidade dos bens.
Na verdade, essa premissa ja constava do art. 2.017 do Codigo Civil de 2002,
segundo o qual, “no partilhar os bens, observar-se-a, quanto ao seu valor,
natureza e qualidade, a maior igualdade possivel”.
Trata-se do principio da igualdade da partilha, regramento
importantissimo para o instituto em estudo, aplicando no seguinte julgado,
que serve como exemplo: “Observada a existéncia de omissao na sentenca
recorrida quanto a caderneta de poupanca, a aplicagao do art. 2.017 do
Codigo Civil se impoe, para integrar aos quinhoes partilhados o equivalente a
1/4 (um quarto) cada, do saldo existente em deposito junto a Caixa
Economica federal, também ressalvados erros, omissoes e direitos de
terceiros para uma eventual sobrepartilha” (TJMT, Apelacao 5455/2014,
Capital, Rel. Des. Cleuci Terezinha Chagas, j. 15.10.2014, DJMT
23.10.2014, p. 44).
A proposito da confrontacao entre os dispositivos, civil e processual
civil, Fernanda Tartuce e Rodrigo Mazzei indagam se a novidade
instrumental ira causar algum impacto no sistema. E concluem:
Por fim, dispoe o art. 2.026 do CC que o evicto sera indenizado pelos
coerdeiros na proporcao de suas quotas hereditarias. Mas, se algum dos
herdeiros se achar insolvente, responderao os demais na mesma proporcao
pela sua parte, menos a quota que corresponderia ao indenizado.
Da anulacao, da rescisao e da
nulidade da partilha
Encerrando o livro do Direito das Sucessoes, o CC/2002 trata da
anulacao da partilha em um unico dispositivo (art. 2.027), cuja redacao foi
alterada pelo Codigo de Processo Civil de 2015. Vejamos a modificacao que
~
foi realizada pelo art. 1.068 do CPC/2015 em relacao a esse comando:
O regramento civil era completado pelo art. 1.029 do CPC anterior, que
foi substituido pelo art. 657 do CPC emergente. Atente-se para os seus
paragrafos unicos, que tratam dos vicios e defeitos do negocio juridico com
mais detalhes. Vejamos também em quadro de confrontagao: