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A Usucapião Extrajucial no Novo CPC

Trataremos da “usucapião extrajudicial ou administrativa”, trazida como alterações da Lei Federal nº 6.015/73
(Lei de Registros Públicos) pelo artigo 1.071 do Novo Código de Processo Civil:

“Art. 1.071. O capitulo II do Título V da lei nº 6.015, de 31 de Dezembro de 1973 (Lei de Registros Públicos), passa
a vigorar acrescida do seguinte art. 216-A: ‘Art.216-A. Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de
reconhecimento extrajudicial de usucapião, que será processado diretamente perante o cartório do registro de
imóveis da comarca em que estiver situado o imóvel usucapiendo, a requerimento do interessado, representado
por advogado, instruído com : I – ata notarial lavrada pelo tabelião, atestando o tempo de posse do requerente e
seus antecessores, conforme o caso e suas circunstâncias; II – planta e memorial descritivo assinado por
profissional legalmente habilitado, com prova de anotação de responsabilidade técnica no respectivo conselho de
fiscalização profissional, e pelos titulares de direitos reais e de outros direitos registrados ou averbados na
matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis confinantes; III – certidões negativas dos
distribuidores da comarca da situação do imóvel e do domicílio do requerente; IV – justo título ou quaisquer
outros documentos que demonstrem a origem, a continuidade, a natureza e o tempo da posse, tais como o
pagamento dos impostos e das taxas que incidirem sobre o imóvel.’ (...)”

Interessante ressaltar a necessidade de o interessado se fazer representar por advogado, e também da instrução
do pedido com ata notarial lavrada por tabelião de notas atestando o tempo de posse do requerente e seus
antecessores, conforme o caso e suas circunstâncias. E o procedimento especifico é detalhado nos parágrafos 1º
a 10º do dispositivo, garantindo-se, como deve ser, ciência a União, ao Estado, ao Distrito Federal e ao Município,
com possibilidade de manifestação em 15 dias sobre pedidos (§3º), bem como ampla publicidade ao
procedimento, com publicação de edital em jornal de grande circulação (§ 4º).

Pode-se dizer que se trata de uma tendência do legislador a partir de alguns casos exitosos de desjudicialização
de determinados procedimentos, sobretudo diante dos bons resultados advindos da experiência como divórcio
consensual realizado por escritura pública quando não há filhos menores e incapazes do casal (CPC 1973, art.
1.124 – A, incluído pela Lei Federal nº 11.441/07).

Muito longe de se diminuir o prestígio do Poder Judiciário, que continuará inafastável nos casos de lesão ou
ameaça de lesão a direito por expressa determinação constitucional (CR, art. 5º, XXXV), esse tipo de iniciativa
legislativa valoriza a busca pelo consenso, desburocratiza procedimentos e dá celeridade à prestação da tutela
estatal (em sentido amplo), ainda que pelas vias extrajudiciais.

O próprio dispositivo citado, por exemplo, garante o recurso à via judicial (“sem prejuízo da via jurisdicional”) e
também o procedimento de dúvida (“§ 7º Em qualquer caso, é lícito ao interessado suscitar o procedimento de
dúvida, nos termos desta Lei”), indicando que o caminho extrajudicial é claramente uma alternativa ao
interessado. Além disso, também há regra expressa no sentido de que a rejeição do pedido extrajudicial não
impede o ajuizamento de ação de usucapião (§ 9º).

Espera-se que, com isso, torne-se facilitado o desenrolar de muitas demandas antigas que tratam do tema, assim
como se estimule a regularização de inúmeras situações possessórias, muito embora se saiba que os custo da via
extrajudicial costuma ser maior do que o da judicial.

Luiz Paulo Orelli Bernardi


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