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Estágio II em Direito Civil

PRÁTICA DAS AÇÕES DE USUCAPIÃO

PROFª NATHALIE CÂNDIDO


Aquisição da propriedade imóvel pela usucapião

Conceito:
A usucapião é um modo de aquisição de propriedade e de outros direitos reais pela posse
prolongada da coisa com a observância dos requisitos legais. Visa garantir a estabilidade e
a segurança da propriedade.

Tipos: extraordinária, ordinária, especial urbana, pro-labore ou especial rural.


Procedimento da Ação de Usucapião

 AÇÃO DE USUCAPIÃO ORDINÁRIO E EXTRAÓRDINÁRIO:


No CPC/73:
Art. 941. Compete a ação de usucapião ao possuidor para que se Ihe declare, nos termos da lei, o domínio do imóvel ou a servidão predial.
Art. 942. O autor, expondo na petição inicial o fundamento do pedido e juntando planta do imóvel, requererá a citação daquele em cujo nome
estiver registrado o imóvel usucapiendo, bem como dos confinantes e, por edital, dos réus em lugar incerto e dos eventuais interessados,
observado quanto ao prazo o disposto no inciso IV do art. 232.
Art. 943. Serão intimados por via postal, para que manifestem interesse na causa, os representantes da Fazenda Pública da União, dos Estados,
do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios.
Art. 944. Intervirá obrigatoriamente em todos os atos do processo o Ministério Público.
Art. 945. A sentença, que julgar procedente a ação, será transcrita, mediante mandado, no registro de imóveis, satisfeitas as obrigações fiscais.

No CPC/15:
Não há rito especial – segue o procedimento comum
Procedimento da Ação de Usucapião

 AÇÃO DE USUCAPIÃO ESPECIAL URBANO:


Rito do Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257, de 10 de julho de 2001)
Art. 14. Na ação judicial de usucapião especial de imóvel urbano, o rito processual a ser observado é o sumário.
No CPC/15 não existe mais o procedimento sumário – segue o procedimento comum

 AÇÃO DE USUCAPIÃO ESPECIAL RURAL:


Rito da Lei Nº 6.969, de 10 de dezembro de 1981.
Art. 5º - Adotar-se-á, na ação de usucapião especial, o procedimento sumaríssimo, assegurada a preferência à sua
instrução e julgamento.
No CPC/15 não existe mais o procedimento sumário – segue o procedimento comum
Estrutura da Petição Inicial de Usucapião

A petição inicial de Usucapião deve conter os requisitos intrínsecos dispostos no art. 319 do CPC/15:
1) Endereçamento ao Juízo Competente:
2) Qualificação das Partes;
3) Fatos e Fundamentos Jurídicos do Pedido;
4) Pedidos com especificações;
5) Valor da Causa;
6) Indicação de provas;
7) Manifestação de interesse pela audiência de conciliação.
Endereçamento

 Competência
Justiça Comum Estadual como regra
Justiça Federal:
- Bens confinante com bem da União;
- Bens pertencente a indígenas;
- Bens confiscados de particulares no tempo do regime militar;
- Bens em ilha marítima;
- Bens pertencentes a empresa pública ou autarquia federal

 Foro:
Art. 47, CPC
Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro de situação da coisa.
Qualificação das Partes

A qualificação completa das partes compreende a indicação dos nomes, os prenomes, o estado civil, a existência de união
estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o
endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu.

O polo ativo na ação é de quem pretende ver reconhecida a propriedade sobre o imóvel, podendo ser pessoa física ou jurídica,
ocorrendo necessariamente o litisconsórcio ativo quando existente a composse sobre o bem usucapiendo (independentemente de
vínculo familiar entre os possuidores). Nos casos de accessio possessionis, o(s) sucessor(es) da posse tem legitimidade,
entendendo alguns ser possível o pedido pelo Espólio. Menores e incapazes podem usucapir, desde que no processo estejam
devidamente representados.

O polo passivo é daquele(s) em cujo o título de propriedade encontra-se registrado (proprietário(s) tabular), bem como todos
aqueles que tenham direitos reais registrados na matrícula. Os termos confinante e confrontante são de utilização bastante
confusa na legislação, mas, resumidamente, os vizinhos (sejam proprietários ou meros possuidores), não são réus no processo,
mas devem ser comunicados da ação, podendo se tornar parte da relação processual, caso litiguem em razão da delimitação da
área usucapienda.
Nome da Ação

Apesar de não ser um dos requisitos apontados no CPC/15 como necessário na Petição Inicial, é certo que a
prática forense é de indicar a ação e o procedimento a ser utilizado no processo.

Faz parte, inclusive, da avaliação do Exame da OAB, sendo atribuída pontuação a este quesito. Portanto, na
petição, deve-se indicar tipo exato de usucapião pretendida, exemplos:
 Ação de Usucapião Ordinária, com fulcro nos art. 1242 do CC/02 e art. 319 e seguintes do CPC/15;
 Ação de Usucapião Extraordinária com Redução de Prazo, com fulcro nos art. 1238, PU, do CC/02 e art. 319 e
seguintes do CPC/15;
 Ação de Usucapião Especial Urbana Coletiva, com fulcro nos art. 1242 do CC/02 e art. 9º e seguintes da Lei nº
10.257/01.
Fatos e Fundamentos Jurídicos

A depender da modalidade pretendida, devem ser articulados os fatos necessários à demonstração da posse ad
usucapionem, com indicação detalhada do imóvel usucapiendo, tempo e natureza da posse do(s) autor(es) e seus
antecessores (se for o caso).

Fundamento jurídico não se confunde com fundamento legal. O primeiro corresponde à relação entre os fatos e o
direito subjetivo pleiteado, com base na lei, nos costumes ou na jurisprudência. Já os fundamentos legais são o direito
positivo (norma legal) aplicável ao caso em apreço. Não há obrigatoriedade de se provar o teor do fundamento legal
no caso da legislação federal, ou seja, não é necessário transcrever os artigos, apenas indica-los (Art. 376. A parte que
alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o juiz
determinar). No caso de jurisprudência, é necessário a indicação da ementa e dados do julgado.
Pedidos e Protesto de Provas

Ante o exposto, requerem os autores que V. Exa. se digne a julgar procedente o pedido da presente ação, declarando-se em favor do(s)
requerente(s) a aquisição do domínio do imóvel (qualificação), por usucapião na modalidade _______.

Requerem ainda:
a)a citação postal do proprietário registral FULANO DE TAL (endereço);
b)a citação postal dos confrontantes X (endereço), Y (endereço) e Z (endereço), nos termos do art. 246, § 3°, do CPC;
c)a citação por edital de todos os eventuais interessados;
d)a intimação da União, da Fazenda Pública Estadual e da Fazenda Pública Municipal, para que manifestem se têm interesse na causa;
e)a intimação do Ministério Público para que atue como fiscal da lei;
f)a produção de provas por todos os meios admitidos em direito, notadamente perícia técnica antecipada, pelos benefícios que ela traz à
celeridade do processo e por facilitar a correção das citações;
g)O reconhecimento aos requerentes dos benefícios da assistência judiciária gratuita, por serem pobres na acepção jurídica do termo e não
poderem arcar com custas e despesas processuais sem prejuízo de seu sustento, declaração que fazem por seus procuradores na forma e sob as
penas da Lei.
Valor da Causa e Audiência de
Conciliação/Mediação

Por analogia ao art. 292, IV do CPC/15, o STJ decidiu que o valor da causa nas ações de usucapião deve corresponder
ao valor venal do imóvel. Na ausência deste, utiliza-se o valor de mercado.
“Art. 292. O valor da causa constará da petição inicial ou da reconvenção e será: [...]
IV - na ação de divisão, de demarcação e de reivindicação, o valor de avaliação da área ou do bem objeto do pedido;”

A audiência de conciliação/mediação poderá acontecer ou não. Não acontecerá nos casos em que ambas as partes
manifestarem-se contrárias ou caso seja dispensada pelo magistrado.
USUCAPIÃO ADMINISTRATIVO
(Lei 6.015/73– Redação da Lei 13.465/17)
Art. 216-A. Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de reconhecimento extrajudicial de usucapião, que
será processado diretamente perante o cartório do registro de imóveis da comarca em que estiver situado o imóvel
usucapiendo, a requerimento do interessado, representado por advogado, instruído com:
I - ata notarial lavrada pelo tabelião, atestando o tempo de posse do requerente e de seus antecessores, conforme o
caso e suas circunstâncias, aplicando-se o disposto no art. 384 da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de
Processo Civil);(Redação dada pela Lei nº 13.465, de 2017)
II - planta e memorial descritivo assinado por profissional legalmente habilitado, com prova de anotação de
responsabilidade técnica no respectivo conselho de fiscalização profissional, e pelos titulares de direitos registrados
ou averbados na matrícula do imóvel usucapiendo ou na matrícula dos imóveis confinantes; Redação dada pela Lei nº
13.465, de 2017)
III - certidões negativas dos distribuidores da comarca da situação do imóvel e do domicílio do requerente;
IV - justo título ou quaisquer outros documentos que demonstrem a origem, a continuidade, a natureza e o tempo da
posse, tais como o pagamento dos impostos e das taxas que incidirem sobre o imóvel.
§ 1º O pedido será autuado pelo registrador, prorrogando-se o prazo da prenotação até o acolhimento ou a rejeição do
pedido.

§ 2º Se a planta não contiver a assinatura de qualquer um dos titulares de direitos registrados ou averbados na
matrícula do imóvel usucapiendo ou na matrícula dos imóveis confinantes, o titular será notificado pelo registrador
competente, pessoalmente ou pelo correio com aviso de recebimento, para manifestar consentimento expresso em
quinze dias, interpretado o silêncio como concordância. (Redação dada pela Lei nº 13.465, de 2017)

§ 3º O oficial de registro de imóveis dará ciência à União, ao Estado, ao Distrito Federal e ao Município,
pessoalmente, por intermédio do oficial de registro de títulos e documentos, ou pelo correio com aviso de
recebimento, para que se manifestem, em 15 (quinze) dias, sobre o pedido.

§ 4º O oficial de registro de imóveis promoverá a publicação de edital em jornal de grande circulação, onde houver,
para a ciência de terceiros eventualmente interessados, que poderão se manifestar em 15 (quinze) dias.

§ 5º Para a elucidação de qualquer ponto de dúvida, poderão ser solicitadas ou realizadas diligências pelo oficial de
registro de imóveis.
§ 6º Transcorrido o prazo de que trata o § 4o deste artigo, sem pendência de diligências na forma do § 5o deste artigo e
achando-se em ordem a documentação, o oficial de registro de imóveis registrará a aquisição do imóvel com as
descrições apresentadas, sendo permitida a abertura de matrícula, se for o caso. (Redação dada pela Lei nº 13.465, de
2017)

§ 7º Em qualquer caso, é lícito ao interessado suscitar o procedimento de dúvida, nos termos desta Lei.

§ 8º Ao final das diligências, se a documentação não estiver em ordem, o oficial de registro de imóveis rejeitará o
pedido.

§ 9º A rejeição do pedido extrajudicial não impede o ajuizamento de ação de usucapião. § 10. Em caso de impugnação
do pedido de reconhecimento extrajudicial de usucapião, apresentada por qualquer um dos titulares de direito reais e
de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis
confinantes, por algum dos entes públicos ou por algum terceiro interessado, o oficial de registro de imóveis remeterá
os autos ao juízo competente da comarca da situação do imóvel, cabendo ao requerente emendar a petição inicial para
adequá-la ao procedimento comum.

§ 11. No caso de o imóvel usucapiendo ser unidade autônoma de condomínio edilício, fica dispensado consentimento
dos titulares de direitos reais e outros direitos registrados ou averbados na matrícula dos imóveis confinantes e bastará
a notificação do síndico para se manifestar na forma do § 2o deste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017).
§ 12. Se o imóvel confinante contiver um condomínio edilício, bastará a notificação do síndico para o efeito do § 2o
deste artigo, dispensada a notificação de todos os condôminos. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017).

§ 13. Para efeito do § 2o deste artigo, caso não seja encontrado o notificando ou caso ele esteja em lugar incerto ou
não sabido, tal fato será certificado pelo registrador, que deverá promover a sua notificação por edital mediante
publicação, por duas vezes, em jornal local de grande circulação, pelo prazo de quinze dias cada um, interpretado o
silêncio do notificando como concordância. (Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017).

§ 14. Regulamento do órgão jurisdicional competente para a correição das serventias poderá autorizar a publicação
do edital em meio eletrônico, caso em que ficará dispensada a publicação em jornais de grande circulação. (Incluído
pela Lei nº 13.465, de 2017)

§ 15. No caso de ausência ou insuficiência dos documentos de que trata o inciso IV do caput deste artigo, a posse e os
demais dados necessários poderão ser comprovados em procedimento de justificação administrativa perante a
serventia extrajudicial, que obedecerá, no que couber, ao disposto no § 5o do art. 381 e ao rito previsto nos arts. 382 e
383 da Lei no 13.105, de 16 março de 2015 (Código de Processo Civil).(Incluído pela Lei nº 13.465, de 2017)

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