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Capítulo VI

INVENTÁRIO E PARTILHA

I – INTRODUÇÃO

115. O procedimento do Inventário na legislação


brasileira
Antes da unificação processual operada com a edição do
CPC/1939, nosso direito positivo não conferia tratamento sistemático
ao instituto do inventário. Enquanto alguns Códigos estaduais
impunham a sua realização (v. g., os Códigos do Distrito Federal e de
Minas Gerais), outros silenciavam a respeito, gerando controvérsias e
incertezas acerca da obrigatoriedade, ou não, do inventário,
mormente quando os herdeiros fossem capazes e realizassem a
partilha por escrito público ou particular, ou, ainda, quando ela fosse
feita em vida pelo titular da herança.
Dirimindo todas as dúvidas até então existentes, aquele primeiro
Código nacional unitário tornou obrigatória a realização de inventário
judicial, mesmo que todos os herdeiros fossem capazes (art. 465). No
entanto, ao ser editado o CPC/1973 previa, nos parágrafos de seu
art. 982, a realização de inventário extrajudicial, quando capazes
todos os herdeiros; como esses parágrafos foram suprimidos, ainda
na vacatio legis, pela Lei nº 5.925/73, somente a partir de 2007
tornou-se possível a realização extrajudicial do inventário e
correspondente partilha do acervo hereditário, regulamentado pelos
parágrafos introduzidos ao art. 982 pela Lei nº 11.441, daquele ano.
O CPC também autoriza o inventário e partilha por escritura
pública, desde que, inexistindo testamento ou herdeiro incapaz, os
herdeiros capazes estiverem de acordo e assistidos por advogado ou
Defensor Público (art. 610, §§ 1º e 2º).
II – O INVENTÁRIO

116. Introdução
Morta a pessoa, abre-se a sua sucessão hereditária, com a
imediata transmissão da herança aos herdeiros legítimos e
testamentários (CC, arts. 1.784, c.c. arts. 6º, 37 e 38).1 Como cada
herdeiro tem direito à percepção de parte da herança, há a
necessidade do inventário e da partilha do acervo hereditário, com a
individualização e atribuição, a cada um deles, dos respectivos
quinhões (CC, arts. 1.991 a 2.027) – ressalvada, evidentemente, a
existência de herdeiro único, destinatário final, via adjudicação, da
herança líquida inventariada.
Inventário (do latim invenire: achar, encontrar) é, portanto, o
arrolamento detalhado dos bens, créditos e quaisquer outros direitos
integrantes do acervo hereditário (monte-mór ou herança bruta),
tendo por objetivo a apuração da herança líquida (ou monte-partível)
e sua posterior partilha entre os herdeiros (ou adjudicação, havendo
apenas um) ou, sendo o caso, entre os legatários, cessionários e
credores do espólio (v., infra, nº 146).
O inventário e a partilha serão realizados pelo procedimento
especial de jurisdição contenciosa (o inventário propriamente dito ou
o arrolamento comum – CPC, art. 664), reservado o procedimento
de jurisdição voluntária do arrolamento sumário para a partilha
amigável (v. arts. 659 a 663 – infra, nºs 155 a 157).

117. O espólio
Aberta a sucessão hereditária, o correspondente acervo (bens,
direitos e obrigações adquiridos e assumidos, em vida, pelo agora
falecido) deverá ser inventariado, com a posterior partilha, aos
herdeiros (ou a adjudicação, havendo apenas um sucessor), da
herança líquida; até que isso ocorra, o acervo constitui o espólio,
entidade sem personalidade jurídica, mas que poderá figurar como
parte em juízo e será representado, judicial e extrajudicialmente, pelo
inventariante, ou, antes dele, pelo administrador provisório (CPC, arts.
75, VII, 613 e 614).

118. Inventário e partilha extrajudiciais


Conforme já registrado, em sua versão original o CPC/1973
previa a modalidade do inventário extrajudicial, suprimida, no entanto,
ainda no período de vacatio legis, pela Lei nº 5.925, de 1º.10.73.
Diante da supressão, o art. 982 determinou que a partilha (ou a
adjudicação, havendo herdeiro único) fosse necessariamente
precedida de inventário (ou de arrolamento comum, sendo o caso).
Com a nova redação conferida ao art. 982 pela Lei nº 11.441/07,
estabeleceu-se a possibilidade de realização extrajudicial do
inventário e correspondente partilha do acervo hereditário, por
escritura pública lavrada por tabelião, desde que inexista testamento,
todos os herdeiros sejam capazes e concordes e, ainda, estejam
assistidos por advogado (parágrafo único). Nesse caso, não haverá
homologação judicial da partilha, valendo a escritura pública como
documento hábil para fins registrais. Existindo apenas um herdeiro – e
sendo ele capaz –, o inventário e a adjudicação da herança também
poderão ser realizados extrajudicialmente, salvo se houver testamento
a ser cumprido.
Essa novidade, apesar de atender em princípio ao interesse
imediato de herdeiros capazes e concordes, reduzir drasticamente o
tempo para a realização da partilha e desafogar o Poder Judiciário,
foi objeto de críticas, por propiciar, ao menos em tese, a ocorrência
de abusos ou fraudes, além de eventualmente revelar-se mais
dispendiosa aos herdeiros; para impedir tais ocorrências, o CNJ
editou a Resolução nº 35, de 24 de abril de 2007, regulamentando o
procedimento do inventário e partilha extrajudiciais, especialmente em
seus arts. 11 a 35.
O inventário e partilha extrajudiciais representam faculdade
conferida aos herdeiros que, no entanto, por razões diversas,
poderão preferir a via judicial, ainda que presentes os requisitos da
capacidade, concordância e inexistência de testamento a ser
cumprido. Por outras palavras, na dicção exata do caput do aludido
art. 982 o inventário e partilha judiciais serão obrigatórios,
exclusivamente, se e quando houver testamento, herdeiro incapaz ou
discordante; excetuadas essas hipóteses, os herdeiros poderão valer-
se de qualquer das duas vias previstas para a apuração e partilha da
herança líquida.
Como o CPC recepcionou o inventário e partilha extrajudiciais
(art. 610, § 1º), todas as referências aos procedimentos de inventário
e arrolamento contidas neste texto dizem respeito, exclusivamente, à
partilha realizada em juízo; sendo formalizada em cartório, competirá
ao tabelião lavrar a respectiva escritura pública de partilha, assistidos
os interessados por advogado comum ou exclusivo (art. 610, § 2º).

119. Inventário negativo


Não obstante as críticas formuladas ao denominado inventário
negativo,2 este procedimento, para o qual inexiste expressa previsão
legal, é aceito por parcela considerável da doutrina, já se consagrou
na prática forense e é contemplado, na modalidade extrajudicial, pela
já referida Resolução nº 35/2007 do CNJ.3
Isto se deve ao fato de que, mesmo não tendo o falecido deixado
bens a inventariar, em determinadas situações será necessária a
demonstração dessa circunstância por seu cônjuge ou herdeiros,
como ocorre, por exemplo, nas hipóteses seguintes: (a) no rol das
causas suspensivas do casamento, o Código Civil inclui o casamento
do viúvo, ou viúva, que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não
fizer inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros (art.
1.523, inc. I); deixando de proceder ao inventário (ainda que negativo,
inexistindo bens a inventariar) e contraindo novas núpcias, o regime
de bens será o de separação (art. 1.641, inc. I), sem prejuízo de vir a
ser instituída hipoteca legal em favor dos filhos do primeiro
casamento (art. 1.489, inc. II); (b) como o herdeiro responde, até a
força do respectivo quinhão hereditário, pelas dívidas da herança
(arts. 1.792 e 1.997), eventualmente terá interesse em demonstrar a
inexistência de bens hereditários, via inventário negativo, para evitar
que tais dívidas possam onerar seu patrimônio; (c) também é possível
o inventário negativo para justificar a não incidência de imposto causa
mortis.
Como o inventário negativo representa simples justificação
judicial, o interessado na declaração de inexistência de bens a
inventariar poderá requerer, junto ao juízo que seria o competente
para processar o inventário e a partilha, a tomada por termo de suas
declarações, por meio das quais informará o nome, qualificação e
último domicílio ou residência do falecido, o dia, hora e local do
falecimento, o nome e qualificação de seu cônjuge e herdeiros, bem
como a inexistência de bens a inventariar, instruindo a petição com a
certidão de óbito e outros documentos de interesse.
Deferido o pedido pelo juiz e lavrado o termo de declarações,
serão intimados a manifestar-se os representantes do Ministério
Público (havendo interessado incapaz) e da Fazenda Pública. Não
havendo impugnação, o juiz declarará por sentença encerrado o
inventário por falta de bens, extraindo-se a certidão correspondente;
havendo impugnação ao pedido e produzidas as provas porventura
necessárias, o juiz decidirá. Por aplicação extensiva do parágrafo do
art. 1.015 do CPC, da decisão caberá agravo de instrumento.

Como já registrado no item 8.6, supra, para decisões não


previstas no rol do art. 1.015 do CPC, mas que também
justificariam impugnação por agravo de instrumento, a Corte
Especial do Superior Tribunal de Justiça adotou a tese da
taxatividade mitigada, segundo a qual é agravável a decisão
interlocutória “quando verificada a urgência decorrente da
inutilidade do julgamento da questão no recurso de
apelação.” (REsp nº 1.704.520, rel. Min. Nancy Andrighi, julg.
5.12.2018).

120. Prazos para a abertura e encerramento do


inventário
Seja porque o estado de comunhão dos bens hereditários entre
os herdeiros não pode perdurar indefinidamente, seja em virtude do
direito de a Fazenda Pública arrecadar o imposto de transmissão
causa mortis, seja, enfim, até mesmo para preservar os interesses
dos credores do espólio, estabelece-se o prazo de dois meses para o
requerimento de inventário e partilha do acervo hereditário (CPC, art.
611). Descumprindo-o, os interessados não estarão impedidos de
requerê-lo posteriormente, ficando sujeitos, porém, à imposição de
multa instituída por lei estadual, conforme enunciado da Súmula 542
do STF.4
O prazo para a conclusão do inventário é de doze meses, a
contar de sua instauração. Como esse prazo pode não ser suficiente
(e a prática forense demonstra que geralmente não é), poderá ser
prorrogado pelo juiz, de ofício ou a requerimento do interessado, pelo
tempo que for necessário (CPC, art. 611). Mas, sendo o caso, deve a
autoridade judicial inibir e sancionar o comportamento protelatório de
herdeiro, inventariante ou qualquer terceiro interveniente (v.g., credor
habilitante), ou remeter os interessados às vias ordinárias, se e
quando houver necessidade de resolução de questão que imponha a
produção de prova diversa da documental.

121. A resolução de questões de alta indagação


O juiz resolverá todas as questões de direito e de fato (em
relação a este, quando documentalmente demonstrado – CPC, art.
612) suscitadas no curso do processo de inventário, determinando a
resolução, pelas vias ordinárias (rectius: processo de cognição
plenária e exauriente), daquelas que demandarem alta indagação –
isto é, aquelas questões de fato dependentes, para sua resolução, de
provas de natureza diversa da documental.
Seja em atenção às finalidades do inventário e partilha (atribuição
dos quinhões aos herdeiros, satisfação de credores do espólio etc.),
seja porque a vedação de produção de provas orais prestigia a
celeridade processual e expurga do âmbito do mérito questões
estranhas ao estrito direito sucessório (ou que não possam ser
resolvidas exclusivamente por meio de prova documental), no
processo de inventário e partilha não serão debatidas e solucionadas
questões fáticas que exijam a produção de prova oral, inspeção
judicial ou perícia.
Questão de alta indagação é, portanto, a que envolva fato, ou
fatos, cuja demonstração imponha a produção de prova em outro
processo, valendo como exemplos a discussão sobre a qualidade de
herdeiro (CPC, art. 627, inc. III e § 3º), a petição de herança (art.
628), a questão relativa às colações (art. 641, § 2º), a discordância
sobre pedido de pagamento feito pelo credor (art. 643, caput), a
petição de legado, a nulidade de testamento, a ação de sonegados
(art. 621), a exclusão do herdeiro indigno (CC, art. 1.815), entre
outras.

122. Administrador provisório


Com a abertura da sucessão hereditária, a herança é transmitida
imediatamente aos herdeiros legítimos e testamentários do falecido
(CC, art. 1.784). Como o espólio somente será definitivamente
representado pelo inventariante após sua nomeação e compromisso
(CPC, arts. 75, VII e 617 ss.), não pode a massa hereditária ficar
sem administrador no período entre a abertura da sucessão e a
nomeação e o compromisso aludidos; daí a figura do administrador
provisório – o qual, como resulta da própria denominação, exercerá a
representação do espólio em caráter temporário. Então, antes de
compromissado o inventariante, incumbirá àquela pessoa a
administração do espólio, representando-o ativa e passivamente
(CPC, arts. 613 e 614).
Em suma, até que ocorram a nomeação, compromisso e
assunção do inventariante como representante do espólio, este será
administrado e representado, ativa e passivamente, judicial e
extrajudicialmente, pelo administrador provisório. Como essa
administração provisória resulta de situação fática (encontrar-se o
administrador na posse e administração dos bens por ocasião da
abertura da sucessão), o exercício do encargo independe de
nomeação judicial, devendo ser normalmente atribuído àquela pessoa
que já esteja na posse e administração dos bens integrantes do
espólio (v. art. 1.797 do CC). A desnecessidade de nomeação é
evidente: fosse o caso de nomear-se, imediatamente à abertura da
sucessão, o representante do espólio, este já assumiria suas funções
na condição de inventariante, não de administrador provisório.
O administrador terá direito ao reembolso das despesas
necessárias e úteis que efetuar, mas, em contrapartida, estará
obrigado a requerer a abertura do inventário, trazer ao acervo os
frutos percebidos desde a abertura da sucessão hereditária, prestar
contas de sua gestão e, de modo geral, praticar todos os atos
tendentes à conservação e proteção dos bens, respondendo, perante
os herdeiros, em ação própria, pelos danos a que vier a dar causa
por dolo ou culpa.

III – PROCEDIMENTO DO INVENTÁRIO

123. Foro e juízo competentes


Abre-se a sucessão hereditária no lugar do último domicílio do
falecido (CC, art. 1.785), daí a regra de competência territorial
estampada no caput do art. 48 do CPC, indicando o foro do domicílio
do autor da herança como o competente para o inventário, a partilha,
a arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade e
todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha
ocorrido no estrangeiro.
Em seu parágrafo o art. 48 prevê foros subsidiários,
estabelecendo como critérios determinativos da competência
territorial, em ordem sucessiva e excludente, (i) o foro da situação
dos bens imóveis, (ii) havendo mais de um, qualquer dos foros onde
se situem ou, finalmente, (iii) inexistindo bens imóveis, o foro do local
de qualquer dos bens do espólio.
Havendo bens do falecido situados no Brasil, são irrelevantes a
sua nacionalidade e o fato de seu último domicílio haver sido no
exterior, pois somente à autoridade judiciária brasileira competirá,
com exclusividade, proceder ao inventário e partilha desses bens e
confirmar testamento particular, ainda que o autor da herança fosse
de nacionalidade estrangeira ou tivesse domicílio fora do território
nacional (CPC, art. 23, inc. II).
Não se deve, portanto, confundir as normas de direito material
aplicáveis ao processo (LIDB, art. 10 – v., ainda, CF, art. 5º, XXXI),
com as regras de fixação da competência para o inventário e a
partilha da herança.
Nas comarcas onde existam juízos especializados de Família e
Sucessões, perante eles processar-se-ão o inventário e a partilha;
naquelas que possuam juízos distritais (ou foros regionais), eles serão
os competentes.5

124. Legitimidade para requerer o inventário


Os arts. 615 e 616 do CPC indicam as pessoas legitimadas a
requerer o inventário, inclusive quando se der por meio do
arrolamento, comum ou sumário. Esses dispositivos não
recepcionaram o disposto no art. 989 do CPC/1973, ao prever que o
juiz determinará, de ofício, a instauração do inventário, se e quando
os legitimados não tomarem a iniciativa no prazo legal.

124.1 Legitimidade do administrador provisório: justamente por


se encontrar na posse e na administração dos bens do espólio, o
administrador provisório ocupa posição destacada entre os demais
legitimados a requerer o inventário e partilha. Deverá fazê-lo no prazo
legal, a contar da abertura da sucessão, instruindo o requerimento
com a indispensável prova documental do óbito (CPC, art. 615).

124.2 Legitimidade concorrente: por não ser exclusiva, a


legitimidade do administrador provisório não afasta a das demais
pessoas incluídas no rol legal, mesmo que não estejam na posse e
administração do espólio. Esse rol consta do art. 616 do novo
diploma processual civil, com a inclusão do companheiro do falecido,
a saber:
a) legitimidade do cônjuge ou companheiro supérstite:
independentemente do regime matrimonial (ou do regime de bens, na
união estável), o cônjuge ou o companheiro sobrevivente poderá
requerer a abertura do inventário, legitimidade inconfundível com a
capacidade para ser inventariante (CC, art. 1.797, inc. I);
b) legitimidade do herdeiro: na condição de maior interessado na
realização do inventário e partilha, com a individualização e posterior
transmissão de seu respectivo quinhão, qualquer herdeiro capaz
poderá requerer a abertura do inventário;
c) legitimidade do legatário: legatário é o sucessor do autor da
herança a título singular, isto é, a pessoa beneficiada, por
testamento, com liberalidade que tem por objeto coisa certa e
determinada, daí seu interesse na abertura do inventário (CC, arts.
1.923 e 1.924);
d) legitimidade do testamenteiro: como ao testamenteiro cabe,
precipuamente, dar cumprimento às disposições de última vontade do
autor da herança (CC, arts. 1.976 ss.; CPC, art. 735, § 5º), poderá
requerer o inventário e partilha, outros legitimados não tomando a
iniciativa – até porque o pleno exercício da testamentaria pressupõe a
existência de processo inventário;
e) legitimidade do cessionário: cessionário é aquele que assume
a titularidade de direitos, mediante a transferência destes para o seu
patrimônio, ou seja, por cessão do crédito (CC, arts. 286 ss.). Se o
herdeiro ou o legatário cede seus direitos sobre a herança a terceiro
– o cessionário –, este, mesmo não sendo herdeiro, assume a
qualidade de sucessor dos direitos do cedente, motivo pelo qual está
legitimado a requerer o inventário. Vale aqui o registro, por pertinente,
de que a cessão de direitos hereditários, para ser válida, só pode
operar-se após a abertura da sucessão, pois a lei veda o denominado
pacto sucessório, ou pacta corvina (CC, art. 426);
f) legitimidade do credor: o credor do herdeiro, do legatário ou
do autor da herança (agora credor, neste último caso, do espólio) tem
interesse na abertura do inventário, com isso visando satisfazer seu
crédito, desde que líquido e certo. Como a lei civil permite ao credor
inclusive aceitar a herança em nome do herdeiro devedor renunciante,
sempre que lhe seja prejudicial a renúncia (art. 1.813), com maior
razão o legitima para requerer o inventário. Sendo credora do
herdeiro, legatário ou autor da herança, a Fazenda Pública ostenta
legitimidade fundada em causa diversa daquela indicada no inc. VIII
do art. 616 do CPC;
g) legitimidade do Ministério Público: o Ministério Público deverá
requerer a abertura do inventário, caso nenhum outro legitimado o
faça, apenas se e quando pessoa incapaz figurar entre os herdeiros
ou legatários;
h) legitimidade da Fazenda Pública: a legitimidade (ou, mais
exatamente, o interesse) da Fazenda Pública em requerer o
inventário encontra sua razão de ser na necessidade de apuração e
recebimento do imposto causa mortis;
i) legitimidade do administrador judicial da falência do herdeiro,
do legatário, do autor da herança ou do cônjuge ou companheiro
supérstite: decretada a falência de qualquer das pessoas indicadas
no inciso sob exame (CPC, art. 616, inc. IX), o administrador judicial
poderá requerer a abertura do inventário. A mesma legitimidade lhe é
conferida se, falecendo um comerciante, for o caso de decretação da
falência de seu espólio, hipótese em que o processo de inventário
ficará suspenso (v. arts. 96, § 1º e 125 da LRE).

125. Inventariante
Inventariante é a pessoa nomeada pelo juiz para administrar e
representar o espólio, ativa e passivamente, em juízo e fora dele, até
a finalização do inventário e partilha, podendo ser precedido nessas
funções pelo administrador provisório.

125.1 Modalidades de inventariança: a inventariança pode ser


legítima, judicial ou dativa. A primeira é conferida às pessoas
indicadas nos incs. I a V do art. 617, do CPC, observada a ordem
nele estabelecida, competindo ao inventariante legítimo, com
exclusividade, a administração e representação do espólio (art. 75,
VII).
Em sede jurisprudencial prevalece o entendimento de que a
ordem estabelecida pelo art. 990 do CPC/1973 –
recepcionada, com pequenas variações, pelo art. 617 do
CPC – não é inflexível, ao órgão jurisdicional sendo facultado
nomear como inventariante “aquele que, de acordo com as
circunstâncias do caso concreto, reúna as melhores
condições para o desempenho dessa função, ainda que não
expressamente incluído no rol de legitimados.”6 Mas essa
discrição reconhecida à autoridade judiciária de modo algum
significa possa ela, imotivadamente, tornar “letra morta” a
norma legal e nomear, a seu talante, qualquer pessoa para a
inventariança.

Inexistindo qualquer das pessoas indicadas, ou, existindo, não


seja idônea, tenha sido removida da inventariança ou não possa, por
motivo comprovadamente justo, desincumbir-se do encargo, a
nomeação recairá no inventariante judicial, caso exista na comarca
(CPC, art. 617, VII); na falta ou impedimento do inventariante judicial,
o juiz nomeará pessoa estranha, porém idônea, para o exercício da
inventariança dativa (inc. VIII), figurando os herdeiros, neste caso,
como litisconsortes necessários, ativos ou passivos, nos processos
em que o espólio seja parte.

125.2 Legitimidade para exercer a inventariança: a inventariança


legítima será exercida, em primeiro lugar, pelo cônjuge sobrevivente,
qualquer que seja o regime de bens do casal, ou pelo companheiro.
Em relação ao companheiro já sustentávamos, em edições
anteriores, que apesar de o inciso I do art. 990 do CPC/1973 referir-
se explicitamente ao “cônjuge sobrevivente casado sob o regime de
comunhão”, sua adequada interpretação deveria pautar-se no inciso I
do art. 1.797 do Código Civil, que reconhece legitimidade ao cônjuge
(sem restrição quanto ao regime de bens), ou ao companheiro, para
administrar a herança – e, por consequência, para assumir a
inventariança. Editada a Lei nº 12.195, de 14 de janeiro de 2010,
conferindo nova redação aos incisos I e II do art. 990 do CPC/1973,
não mais remanesce dúvida quanto à legitimidade do companheiro
sobrevivente para assumir a inventariança, desde que estivesse
convivendo com o outro, ao tempo da morte deste, certeza que agora
também se extrai da previsão do art. 617, I e II, do CPC.
Na falta de cônjuge ou companheiro sobrevivente, ou na
impossibilidade de qualquer deles assumir o encargo, a inventariança
competirá ao herdeiro que se achar na posse e administração do
espólio; existindo mais de um herdeiro nessa situação, a escolha do
inventariante resultará de consenso, ou de determinação judicial, se
houver divergência. Nenhum deles estando na posse e administração
dos bens, a nomeação também resultará ou do consenso dos demais,
ou de determinação judicial. Finalmente, a inventariança será
assumida pelo testamenteiro (atendidos os requisitos estabelecidos
no inc. V do art. 617 do CPC) e, sucessiva e excludentemente, pelo
inventariante judicial ou, na sua falta, pelo dativo.7

126. Incumbências do inventariante


As funções do inventariante vêm previstas no art. 619 do Código
de Processo Civil.

126.1 A livre administração do espólio: relativamente às


incumbências enunciadas no primeiro dispositivo, o inventariante tem
ampla autonomia de exercício, diversamente do que sucede em
relação às indicadas no segundo, que demandam, para serem
exercitadas, prévia manifestação dos herdeiros e autorização judicial.
Além da representação legal do espólio, ao inventariante também
incumbe a sua administração, devendo, nesse mister, (a) praticar
todos os atos necessários à defesa e preservação dos bens
integrantes do acervo hereditário, com a mesma diligência dispensada
aos seus, reivindicando-os em juízo, quando indevidamente em poder
de terceiros, (b) prestar as primeiras e últimas declarações,
pessoalmente ou por procurador com poderes especiais, sob pena de
remoção do cargo, exibindo em cartório, para exame das partes,
sempre que necessário ou solicitado, os documentos relativos ao
espólio, (c) providenciar a juntada, nos autos do inventário, da
certidão de testamento, se houver, assim possibilitando sua abertura
e cumprimento (v. CPC, art. 735 a 737), (d) trazer à colação os bens
recebidos pelo herdeiro ausente, renunciante ou excluído (v. CC, arts.
2.002 a 2.012, CPC, arts 639 a 641), (e) prestar contas de sua
gestão ao deixar o cargo, ou sempre que determinado pelo juiz; a
prestação de contas é obrigatória ao término da inventariança e
facultativa no curso dela, procedendo-se em apenso aos autos do
processo de inventário, podendo o juiz, sendo o inventariante
condenado a pagar o saldo – e não o fazendo no prazo legal –,
destituí-lo da função, sequestrar bens sob sua guarda, glosar o
prêmio ou a gratificação a que teria direito e determinar as medidas
executivas necessárias à recomposição dos prejuízos (v. CPC, arts.
553 e parágrafo único e 622). Finalmente, incumbe ao inventariante
requerer a declaração de insolvência do espólio (art. 618, VIII),
hipótese em que deverá ser suspenso o curso do processo de
inventário.

126.2 Atos de inventariança dependentes de prévia autorização


judicial: sem prejuízo das funções ordinariamente exercidas em razão
da inventariança (e já enumeradas no item anterior), outras há que
dependem, para seu exercício, de prévia manifestação dos herdeiros
e expressa autorização judicial – sem o que, convém salientar, é
absolutamente nulo o ato praticado pelo inventariante, que responderá
pelos prejuízos sofridos pelos herdeiros ou terceiros. Sendo
necessária ou conveniente a alienação de bem do espólio (v. g.,
ameaçado de deterioração, de manutenção custosa etc.), deverá o
inventariante consultar prévia e formalmente os herdeiros e obter a
indispensável autorização judicial para a prática do negócio jurídico.
As mesmas exigências deverão ser atendidas para a concretização
de transação, judicial ou extrajudicial, pois tendo ela por finalidade
prevenir ou pôr fim a litígios mediante mútuas concessões (CC, art.
840), o inventariante somente poderá transigir, em nome e por conta
do espólio, se e quando assim concordarem os interessados e
autorizá-lo o juiz. Dependerão de consulta e autorização judicial,
ainda, o pagamento das dívidas do espólio (v. CPC, arts. 642 a 646)
e a realização das despesas necessárias com a conservação e o
melhoramento dos bens que o integram.

127. Remoção do inventariante


As causas determinantes da remoção do inventariante são as
enunciadas no art. 622 do CPC, convindo distinguir, com Moraes e
Barros, a remoção da destituição do inventariante: “Se bem que
ambas importem na perda do cargo, há diferença entre elas. A
remoção é por falta, isto é, pela prática de ato omissivo ou
comissivo, dentro do processo ou por fora dele, mas ligado ao
processo; a destituição é por fato exterior a ele, como, v. g., a
condenação criminal, que retira a idoneidade, e a falência, que pode
envolver inidoneidade moral ou técnica.”8
Não obstante essas distinções, a remoção ou a destituição só
podem ser determinadas pelo juiz se e quando demonstrado o
comportamento desidioso do inventariante na administração dos bens
do espólio, em detrimento dos direitos dos herdeiros, ou
desaparecendo a necessária confiança nele depositada, seja em
razão de fato anterior (agora conhecido - v.g., condenação criminal)
ou superveniente à nomeação.

Situação particular diz respeito ao inventariante dativo. Como


sua nomeação resultou da confiança nele depositada pelo
juiz, ficará sujeito à remoção nos casos previstos em lei,
inclusive quando extinta ou abalada essa confiança. Mas
também poderá vir a ser substituído por pessoa de confiança
de novo juiz que assuma a presidência do processo de
inventário, pois atuando o inventariante dativo como longa
manus da autoridade judiciária, nada justifica a manutenção
no cargo de pessoa que, embora idônea, seja desconhecida
por aquela autoridade.

127.1 Causas determinantes da remoção: o inventariante será


removido do cargo (a) se não prestar as primeiras e últimas
declarações no prazo (CPC, arts. 620 e 636), (b) procrastinar o
regular andamento do inventário, (c) permitir, por culpa sua, a
deterioração, dilapidação ou danificação dos bens do espólio (art.
618, inc. II), (d) não o defender nas ações em que for citado, (e)
deixar de cobrar dívidas ativas ou não promover as medidas
necessárias para evitar o perecimento de direitos (v. art. 618, inc. I),
(f) não prestar contas, ou, prestando-as, não forem julgadas boas
(arts. 618, VII e 553), e, finalmente, (g) sonegar, ocultar ou desviar
bens do espólio (art. 621).

127.2 Inércia do inventariante: a paralisação do procedimento de


do inventário por inércia do inventariante não justifica a incidência do
art. 485, inc. III, do CPC; será o caso, isto sim, de destituição do
faltoso, com a nomeação de novo inventariante (art. 622, inc. II).

127.3 Procedimento da remoção: poderá ser instaurado por


iniciativa do próprio juiz, ou a requerimento de qualquer interessado
(herdeiro, legatário, meeiro, credor, representante do Ministério
Público ou da Fazenda Pública), com a indicação da causa que
justifique a providência. Requerida a remoção, o respectivo incidente
será processado em apenso aos autos do processo de inventário,
sem suspensão de seu curso.
Instaurado o incidente de remoção, o inventariante será intimado,
em atenção ao contraditório, para no prazo de quinze dias defender-
se e produzir as provas que repute necessárias à demonstração dos
fatos em que fundou sua defesa (art. 623). Ofertada ou não defesa
no prazo legal, o juiz proferirá decisão interlocutória, decretando a
remoção, se for o caso, e nomeando novo inventariante, com a
observância da ordem estabelecida pelo art. 617 do CPC, da
respectiva decisão cabendo agravo de instrumento (art. 1.015,
parágrafo único).

127.4 Consequências da remoção: além de perder o cargo e


continuar responsável pelos atos de administração até então
praticados, o removido deverá proceder à imediata entrega dos bens
do espólio ao seu substituto, sob pena de, não o fazendo, a tanto ser
compelido mediante mandado de busca e apreensão de bem móvel
ou de imissão na posse de imóvel, sem prejuízo de imposição de
multa, em valor não superior a três por cento do valor dos bens
inventariados (art. 625).

128. Primeiras declarações


Informações indispensáveis à instauração e processamento do
inventário, com a posterior partilha da herança líquida (ou sua
adjudicação, ao herdeiro único), as primeiras declarações deverão
ser prestadas pelo inventariante antes das citações dos interessados,
no prazo de vinte dias a contar da data de seu compromisso, sob
pena de remoção. Nelas serão apresentados os elementos
enumerados nos incisos do art. 620 do CPC, podendo ser prestadas
por petição firmada por procurador com poderes expressos (§ 2º).
Independentemente de requerimento expresso, o juiz ordenará
que se proceda ao balanço do estabelecimento comercial, se o autor
da herança era comerciante individual, ou à apuração de haveres, se
sócio de sociedade não anônima (art. 620, § 1º - v., supra, nºs 108 e
ss.).9

129. Citação dos interessados


Prestadas as primeiras declarações, serão citados o cônjuge ou
o companheiro sobrevivente, os herdeiros, os legatários e o
testamenteiro, se o falecido houver deixado testamento (art. 626,
caput).
O CPC/1973 previa que os interessados domiciliados na comarca
por onde corresse o inventário, ou que nela fossem encontrados,
seriam citados pessoalmente ou com hora certa; todos os demais
interessados, residentes ou não no Brasil, por edital (art. 999, § 1º,
c.c. arts. 224 a 230).
Essa exigência de citação edilícia de pessoas conhecidas e com
endereço certo, apesar de encontrar defensores,10 enfrentou sérias e
merecidas críticas em sede doutrinária, pautadas, basicamente, seja
na insegurança, seja no custo dessa modalidade citatória: afinal, se o
interessado é conhecido e tem endereço certo, qual a vantagem em
citá-lo por editais, além de tudo a forma citatória mais onerosa e
praticamente menos eficiente para a consecução de seus objetivos?
O Código atual corrige essa distorção, ao prever a citação pelo
correio do cônjuge ou companheiro, herdeiros e legatários, com a
publicação de edital para dar ciência do inventário apenas aos
interessados incertos ou desconhecidos (art. 626, § 1º).
À medida que forem citadas, as partes receberão exemplar das
primeiras declarações, cumprindo ainda ao escrivão remeter cópias
aos representantes do Ministério Público e da Fazenda Pública, ao
testamenteiro, se houver, e ao advogado da parte que já esteja
representada nos autos (art. 626, §§ 2º a 4º), providência que tem
por escopo permitir aos interessados, sendo o caso, reclamar a
adoção de qualquer das providências indicadas no art. 627.

130. Intimação da Fazenda Pública e do Ministério


Público
Estas duas instituições deverão ser intimadas na pessoa de seus
respectivos representantes legais. A primeira, para os fins do art.
629; o Ministério Público, na função de fiscal da ordem jurídica, por
força do disposto no art. 178, inc. II, limitada essa sua intervenção
aos inventários onde haja interesses de incapazes.

131. Impugnação às primeiras declarações


Citadas, as partes têm o prazo comum de quinze dias para
impugnar as primeiras declarações, arguindo erros e omissões,
reclamando da nomeação do inventariante ou contestando a
qualidade de quem foi incluído como herdeiro (CPC, art. 627, caput).
Acolhendo a impugnação de erro ou de omissão, o juiz mandará
retificar as primeiras declarações; acolhendo a reclamação contra a
nomeação do inventariante, nomeará outro, observada a preferência
legal (art. 617). Verificando constituir matéria de alta indagação a
disputa sobre a qualidade de herdeiro, o juiz remeterá as partes às
vias ordinárias, para que resolvam a questão por meio da ação
adequada, sobrestando, até o julgamento da mesma, a entrega do
quinhão que na partilha couber ao herdeiro admitido. Não proposta a
referida ação no prazo de trinta dias, cessará a eficácia da medida
que determinou o sobrestamento na entrega do quinhão cabente ao
herdeiro cuja qualidade foi impugnada pelos demais (CPC, art. 668,
inc. I). Em suma, o juiz decidirá de plano todas as questões de direito
e de fato (estando este documentalmente provado) e remeterá a
solução das demais às vias ordinárias, evitando, com isso, tumultuar o
regular processamento do inventário (art. 612).

132. Admissão do interessado preterido


Terceiro omitido nas primeiras declarações poderá pleitear sua
admissão no inventário, na qualidade de herdeiro, de legatário (v. CC,
art. 1.924) e até mesmo de companheiro preterido na meação, desde
que o faça antes da partilha (CPC, art. 628). Havendo necessidade
de produção de outras provas para a demonstração de sua
qualidade, será remetido às vias ordinárias, pois o juiz somente
poderá admitir o ingresso do terceiro requerente no inventário se a
sua condição de herdeiro, legatário ou companheiro sobrevivente
puder ser documentalmente comprovada. Aliás, no caso do legatário
a prova de sua condição é necessariamente documental, pois o
legado deve ser instituído por testamento escrito – exceto em se
tratando do testamento nuncupativo (CC, art. 1.896).
Ouvidas as partes, o juiz apreciará o pleito: acolhendo-o,
determinará o ingresso do requerente no inventário. Na hipótese de a
admissão do requerente haver sido impugnada, dessa decisão caberá
agravo de instrumento (CPC, art. 1.015, parágrafo único).

132.1 Reserva de quinhão: rejeitado o pedido de admissão no


inventário, o juiz remeterá o requerente às vias ordinárias e
determinará ao inventariante que reserve o quinhão do preterido até a
decisão do litígio no respectivo processo (CPC, art. 628 e §§). Mas,
nesse ínterim, o inventário ou o arrolamento terá trâmite regular.

132.2 Ação de petição de herança: o pretendido herdeiro excluído


terá o prazo de 30 dias para promover a ação de petição de herança;
não a promovendo, cessará a eficácia da medida acautelatória (tutela
provisória) de seu quinhão (v. CC, arts. 1.824 a 1.828 – CPC, art.
668, inc. I), embora nada o impeça, evidentemente, de vir a promove-
la no futuro, observado o prazo prescricional.11

132.3 Ação adequada após a realização da partilha: após o


julgamento da partilha, restará ao interessado preterido valer-se da
ação direta em face dos herdeiros aquinhoados, reclamando o seu
quinhão (no caso do herdeiro) ou legado (sendo autor o legatário);
mas se o litígio se referir à validade da partilha, a ação adequada
será a rescisória ou a anulatória, adiante examinadas (infra, nºs 152 e
153).

132.4 A informação do valor dos bens de raiz pela Fazenda


Pública: também antes da partilha deverá a Fazenda Pública informar
ao juízo, dentro de quinze dias após a vista dos autos, o valor dos
bens de raiz descritos nas primeiras declarações, valendo-se dos
dados constantes de seu cadastro imobiliário (CPC, arts. 629 e 634).

133. Avaliação dos bens


Escoado o prazo comum de quinze dias estabelecido pelo art.
627 do CPC sem que as primeiras declarações sofram impugnação,
ou decidida aquela eventualmente apresentada, proceder-se-á à
avaliação dos bens do espólio, com o cálculo posterior dos impostos
devidos. Essa providência tem por finalidade, em primeiro lugar, a
apuração do exato valor do monte partível, ou seja, da herança
líquida (CC, arts. 1.846 e 1.847), possibilitando a justa partilha entre
os herdeiros; em segundo lugar, permitir à Fazenda Pública o cálculo
do valor do imposto causa mortis a ser recolhido aos cofres públicos.
A avaliação será realizada pelo avaliador oficial da comarca ou,
não havendo, por perito nomeado pelo juiz. Será dispensada quando
(a) todos os herdeiros forem capazes e a Fazenda Pública, intimada
pessoalmente, concordar expressamente com o valor atribuído aos
bens nas primeiras declarações (CPC, arts. 630 a 638), (b) os
herdeiros concordarem com o valor dos bens declarado pela Fazenda
Pública (arts. 629 e 634, combs.), (c) o cálculo do tributo causa
mortis incidente sobre bens imóveis tiver por base os seus valores
venais e, ainda, (d) houver avaliação recente realizada em outro
processo.
Como cabe à Fazenda Pública indicar, antes da partilha, o valor
dos bens de raiz descritos nas primeiras declarações (art. 629), será
dispensada a avaliação se os herdeiros concordarem com o valor
indicado, limitando-se o perito, neste caso, a avaliar os demais bens
do espólio, sempre ressalvadas as hipóteses dos arts. 632 e 634.
Entregue o laudo de avaliação, as partes terão o prazo de quinze
dias para manifestação. Impugnado o valor atribuído a qualquer dos
bens avaliados, o juiz decidirá de plano a impugnação. Acolhendo-a,
determinará ao perito a retificação da avaliação, atendidos os
fundamentos da decisão (art. 635). A decisão de acolhimento ou de
rejeição da impugnação poderá ser questionada por agravo de
instrumento (art. 1015, parágrafo único).

133.1 Dispensa de expedição de carta precatória avaliatória:


considerando que a avaliação poderá acarretar despesas elevadas,
se os bens situados fora da comarca onde se processa o inventário
tiverem pequeno valor (aceito, neste caso, aquele atribuído nas
primeiras declarações) ou seu valor já seja do conhecimento do
perito, o juiz não determinará a expedição de carta precatória
avaliatória (CPC, art. 632).

134. Laudo avaliatório e últimas declarações


Aceito o laudo pelas partes, ou resolvidas definitivamente as
impugnações apresentadas, será lavrado o termo de últimas
declarações. Como elas põem fim à fase de inventário dos bens e
devem, consequentemente, retratar a realidade do acervo hereditário
– até porque, não sendo corretas, poderá o inventariante vir sofrer a
ação de sonegados (art. 621) –, a lei faculta-lhe a realização, no
termo correspondente, de emenda, adição ou complementação das
primeiras declarações (art. 636).

135. Cálculo do imposto de transmissão causa mortis


Assim que as últimas declarações forem aceitas pelas partes, ou
sanados erros ou omissões relacionados à emenda, adição ou
complementação levada a cabo pelo inventariante, o juiz determinará
a realização do cálculo do imposto de transmissão, tendo como base
o valor dos bens na data da avaliação e respeitada a alíquota vigente
ao tempo da abertura da sucessão (Súmulas 11212 e 11313 do STF).
O imposto causa mortis não será exigível antes da homologação
do cálculo pelo juiz (Súmula 114 do STF14), nem incidirá sobre os
honorários do advogado contratado pelo inventariante (Súmula 11515).
No inventário por morte presumida (v., CPC, arts. 744 e 745) é
legítima a incidência do imposto de transmissão causa mortis
(Súmula 331 do STF16); na sucessão do promitente-vendedor o
imposto de transmissão causa mortis deverá ser calculado sobre o
saldo credor da promessa de compra e venda de imóvel, no momento
da abertura da sucessão (Súmula 590 do STF17).

135.1 Manifestação sobre o cálculo: apresentado o cálculo do


imposto de transmissão, sobre ele poderão manifestar-se as partes
no prazo comum de cinco dias, em cartório, colhendo-se em seguida
a manifestação da Fazenda Pública. Havendo impugnação acolhida
pelo juiz, ele ordenará a remessa dos autos ao contabilista (contador
judicial), determinando as alterações que devam ser feitas e, em
seguida, julgará o cálculo (CPC, arts. 637 e 638).

136. Colação
Disciplinada pelo Código Civil em seus arts. 2.002 a 2.012, a
colação (ou conferência), tem por finalidade reconstituir o acervo
hereditário para a exata e justa determinação da legítima de cada
coerdeiro descendente, sempre que qualquer deles (aquele obrigado
à colação) houver sido beneficiado por ato praticado em vida
(doação) pelo ascendente de cuja sucessão agora se trata (CC, art.
2.003 – CPC, art. 639).

136.1 Legitimidade para requerer a colação: ostenta essa


legitimidade o herdeiro descendente prejudicado pela doação feita em
favor de outro herdeiro da mesma classe ou do cônjuge do doador.
136.2 Os obrigados à colação: estão obrigados à colação o
herdeiro descendente que recebeu doação do ascendente (CC, arts.
544 e 2.002) e o cônjuge beneficiado por doação feita pelo outro. O
herdeiro obrigado deve proceder à colação quando concorrer à
sucessão com herdeiros da mesma classe, isto é, trazer à colação o
bem doado pelo autor da herança, sob pena de sonegação (CC, art.
1.992), exceto se dispensado da conferência pelo doador (CC, arts.
2.005 e 2.006); relativamente ao cônjuge sobrevivente tem-se que,
não obstante o silêncio do art. 2.002, sua obrigação em colacionar
resulta do disposto nos arts. 544 e 2.003 da lei civil.18

136.3 Formas de colação: a colação é feita por duas formas


distintas: in natura (CC, arts. 2.002 e 2.007, § 2º), ou por imputação
do valor (CC, art. 2.004). No primeiro caso, o bem doado é restituído
ao acervo hereditário; no segundo, computa-se no quinhão do
herdeiro beneficiado com a doação (ou na meação do cônjuge
donatário) o valor do bem doado, correspondente àquele indicado no
ato da doação, ou, na sua falta, àquele apurado, à época da partilha,
pelo que valeria ao tempo da liberalidade (CC, arts. 2.002, 2.004 e
2.007, § 2º). O valor em dinheiro a ser imputado será o apurado ao
tempo da abertura da sucessão, devidamente atualizado (CC, art.
2.007, § 2º, 2ª parte).
136.4 Valor de colação dos bens doados: em seu art. 1.792 o
CC/1916 previa que os bens doados seriam conferidos pelo valor
certo, ou por estimação que deles houvesse sido feita na data da
doação. Esse cálculo retrospectivo resultava em valores totalmente
defasados pela corrosão inflacionária, circunstância que levou à
edição do parágrafo único do art. 1.014 do CPC/1973, estabelecendo
a prevalência, para o fim de colação, do valor do bem calculado ao
tempo da abertura da sucessão hereditária. Sobreveio o atual Código
Civil que, em seu art. 2.004, § 1º, equivocadamente reavivou os
critérios de apuração estabelecidos no revogado, afastando, assim, a
incidência do aludido parágrafo.
Em boa hora o CPC restaura o critério anterior (art. 639,
parágrafo único), pois aquele estabelecido pela lei civil impõe
injustificável prejuízo ao herdeiro que vier a reclamar a colação, eis
que o valor do bem colacionado, já corroído pelo tempo, dificilmente
corresponderá àquele necessário para igualar as legítimas.

136.5 Colação pelo herdeiro renunciante ou excluído: mesmo


que o herdeiro tenha renunciado à herança (CC, arts. 1.804 a 1.813)
ou dela sido excluído (CC, arts. 1.814 a 1.818), deverá trazer à
colação as doações que houver recebido, para o fim de repor o que
exceder o disponível (v. CC, art. 2.008, c.c. arts. 1.845 a 1.847); isto
porque, a liberalidade praticada em favor do renunciante ou excluído,
em vida, pelo autor da herança, representou antecipação da legítima,
impondo ao beneficiado, aberta a sucessão, a obrigação de proceder
à conferência, se a tanto exigido por herdeiro sucessível.
Para o fim de colação pode o herdeiro renunciante ou excluído
escolher, entre os bens doados, tantos quantos bastem para perfazer
a legítima e a metade disponível, entrando na partilha (isto é, sendo
trazido à colação) o excedente, para que seja dividido entre os
demais herdeiros. Se esse excedente (parte inoficiosa da doação)
recair sobre bem imóvel que não comporte divisão cômoda entre os
herdeiros, o juiz determinará se proceda à licitação entre eles,
podendo de ela também participar o donatário que trouxe o referido
bem à colação, o qual, em igualdade de condições com os herdeiros
licitantes, terá a preferência (CPC, art. 640 e §§).

136.6 O procedimento incidente da colação: negando o herdeiro


ou o cônjuge sobrevivente haver recebido o bem reclamado à
colação, ou a sua obrigação de colacioná-lo, alegando dispensa (CC,
arts. 2.005 e 2.006), o juiz proferirá sua decisão. Rejeitando a
oposição, a colação deverá ser realizada no prazo improrrogável de
quinze dias, sob pena de, permanecendo omisso aquele a ela
obrigado, serem sequestrados os bens sujeitos à conferência, para
serem inventariados e partilhados; não mais os possuindo, o herdeiro
opositor terá imputado no seu quinhão hereditário o valor daqueles
bens, ou seja, no cálculo de seu quinhão será descontado o valor dos
bens que alienou. O mesmo ocorrerá se o opositor for o cônjuge
sobrevivente, caso em que a imputação ocorrerá em relação à sua
meação. Havendo necessidade de dilação probatória diversa da
documental, as partes serão remetidas às vias ordinárias, não
podendo o opositor receber seu quinhão hereditário (ou sua meação)
enquanto pender a demanda, salvo se prestar caução correspondente
ao valor dos bens sob conferência (CPC, art. 641 e §§).

137. Sonegação
Na lição de Orlando Gomes, sonegação “é a ocultação dolosa de
bens do espólio. Ocorre, tanto se não descritos pelo inventariante
com o propósito de subtraí-los à partilha, como se não trazidos à
colação pelo donatário”.19 Vale dizer, tendo em vista as graves
sanções a serem impostas ao sonegador, é necessário demonstrar
que ele agiu dolosamente ao não declarar a existência do bem ou ao
se recusar a colacioná-lo, quando a tanto instado.

137.1 A ação de sonegados: está ativamente legitimado o herdeiro


prejudicado pela sonegação, figurando como réu o herdeiro ou
inventariante sonegador. Embora ainda haja divergências em relação
ao cônjuge sobrevivente, têm prevalecido os entendimentos de que
carece de legitimidade ad causam, ativa20 ou passiva.21

137.2 As penas impostas ao sonegador: o Código Civil estabelece


a imposição de penas ao sonegador, seja ele o inventariante ou
herdeiro (arts. 1.992 a 1.996), no que é secundado pelo novo estatuto
processual, ao prever a remoção do inventariante que sonegar,
ocultar ou desviar bens do espólio (art. 622, VI). Sendo sonegador o
herdeiro, perderá o direito que lhe caiba sobre o bem sonegado, ou
pagará o seu valor, mais perdas e danos, se já não mais o tiver em
seu poder (CC, arts. 1.992 e 1.995); sendo também inventariante,
sofrerá, além de tais penas, a de remoção do cargo (CC, art. 1.993).
A sonegação somente poderá ser arguida após encerrada a
descrição dos bens, com a declaração feita pelo inventariante de não
existirem outros por inventariar (CC, art. 1.996 – CPC, art. 621);
antes disso não é possível a arguição, pois ainda poderão ser
aditadas as primeiras declarações, nelas incluindo-se bens omitidos,
ou até então ignorados.
Importante observar, ainda, que a sonegação pressupõe conduta
maliciosa do inventariante, não se justificando a imposição de
qualquer penalidade se a omissão de bens decorrer da ignorância de
sua existência.

137.3 Prazo prescricional: é de dez anos o prazo prescricional


para a arguição em juízo da sonegação (CC, art. 205), “a partir do
encerramento do inventário, pois, até essa data, podem ocorrer
novas declarações, trazendo-se bens a inventariar.”22

138. Pagamento das dívidas


O patrimônio do devedor responde pelo cumprimento de suas
obrigações e, vindo a falecer, a responsabilidade é transferida à
herança. Após partilhado o acervo hereditário, o herdeiro só
responderá por tais dívidas até a força do respectivo quinhão
hereditário (CC, arts. 1.792 e 1.997), daí a necessidade de o
pagamento daquelas dar-se antes da partilha, mediante a adoção do
procedimento previsto nos arts. 642 a 646 do CPC (v. CC, arts. 1.997
a 2.001).

Explicitando: se o montante das dívidas do espólio superar o


da herança, os herdeiros não responderão pelo saldo
devedor, mas nada herdarão, pois o ativo apurado será
destinado ao pagamento do(s) credor(es) da massa; se esse
ativo for superior ao montante das dívidas, daí, sim, aos
herdeiros caberá o saldo positivo, proporcionalmente aos
respectivos quinhões.

O pagamento será requerido pelo credor, por petição


acompanhada de prova literal da existência de dívida vencida e
exigível, autuando-se o pedido em apenso aos autos do processo de
inventário ou do arrolamento. Havendo concordância das partes, o juiz
declarará habilitado o credor, ordenando que se faça a separação de
dinheiro ou, em sua falta, de bens suficientes para o seu pagamento.
Separados os bens, mandará aliená-los ou, caso concordem as
partes e assim prefira o credor, determinará a sua adjudicação em
favor deste.

138.1 Impugnação ao pagamento e reserva de bens:


discordando qualquer das partes do pedido de pagamento formulado
pelo pretendido credor, este será remetido às vias ordinárias,
procedendo-se à reserva de bens suficientes para o pagamento da
dívida, sempre que esta constar de documento que comprove
suficientemente a obrigação e desde que a impugnação não se funde
em quitação (CPC, art. 643 e parágrafo único). Nesse caso, o credor
terá o prazo de trinta dias para promover a ação de natureza
condenatória, sob pena de cessação da eficácia da medida que
determinou a reserva de bens (art. 668, inc. I).

138.2 Desnecessidade de habilitação do crédito: nem todos os


credores do espólio necessitam habilitar seu crédito, como é o caso
da Fazenda Pública, relativamente aos créditos tributários (CTN, art.
187).

139. Habilitação do credor do espólio


Mesmo que ainda não vencida a dívida, poderá o credor requerer
a sua habilitação no inventário e, concordando as partes, o juiz julgará
habilitado o crédito, determinando que se faça a reserva de bens para
o futuro pagamento (CPC, art. 644 e parágrafo único). Discordando
as partes, poderá o credor, assim que vencida a dívida, requerer a
sua habilitação, nos termos do art. 642 e §§.

139.1 Legitimidade do legatário para se manifestar sobre as


habilitações: na qualidade de sucessor do autor da herança a título
singular, ou seja, beneficiado por testamento com liberalidade que
tem por objeto coisa certa e determinada, o legatário não entra na
posse imediata do bem legado (CC, art. 1.923), que poderá,
inclusive, ser reduzido (arts. 1.967 e 1.968). Justamente para prevenir
tal possibilidade, a lei reconhece-lhe legitimidade para se manifestar
sobre as dívidas do espólio, permitindo-lhe, assim, preservar o seu
legado de reivindicações ilegítimas ou excessivas (CPC, art. 645).
Finalmente, quando o espólio estiver sendo executado, o CPC permite
aos herdeiros que separem bens e autorizem o inventariante a
nomeá-los à penhora (art. 646).

IV – PARTILHA

140. Conceito de partilha


Aberta a sucessão hereditária, opera-se a transmissão da
herança aos herdeiros legítimos e testamentários (CC, art. 1.784).
Consequentemente, entre eles surge relação de cotitularidade de
direitos, ou seja, instaura-se em relação à herança a comunhão
denominada hereditária.23 E, de duas, uma: ou o autor da herança já
especificara em testamento os bens que integrarão os quinhões
cabentes aos respectivos herdeiros, ou é impossível individualizar,
desde logo, quais caberão a cada um deles; neste último caso, o
acervo hereditário mostra-se indiviso, devendo, por consequência, ser
realizada a partilha dos bens, visando à individualização do quinhão de
cada um dos herdeiros.
O modo de partilhar a herança depende do modo de suceder.
Assim, os herdeiros sucederão por direito próprio, por direito de
representação, por linhas ou por transmissão.

140.1 Sucessão por direito próprio: opera-se essa modalidade


sucessória quando entre os herdeiros houver igualdade de grau de
parentesco com o falecido, isto é, todos são descendentes ou
colaterais, no mesmo grau de parentesco. Exemplificando: todos os
herdeiros são filhos do falecido (parentesco em linha reta
descendente, 1º grau) ou seus irmãos (parentesco na linha colateral,
2º grau), devendo a herança será dividida em tantos quinhões quantos
sejam os herdeiros, que herdarão por cabeça (partilha por cabeça –
CC, arts. 1.835 e 1.840).

140.2 Sucessão por direito de representação: ocorre essa


modalidade de sucessão quando houver desigualdade de graus de
parentesco entre os herdeiros, descendentes ou colaterais (CC, arts.
1.851 a 1.856). O direito de representação opera-se quer na linha
reta descendente (quando a herança é partilhada entre filhos e netos
do autor da herança – CC, art. 1.852), quer na linha colateral (quando
a herança é partilhada entre os irmãos e sobrinhos do falecido (CC,
art. 1.853). Explicitando: caso um dos herdeiros diretos (filho ou irmão
do autor da herança) tenha falecido antes, ou ao mesmo tempo, que
o autor da herança (isto é, tenha ocorrido premoriência ou
comoriência – CC, art. 8º), ou, então, seja excluído da herança por
indignidade (CC, arts. 1.814 a 1.818, especialmente art. 1.816), seus
filhos herdarão o quinhão que lhe caberia.

A título de exemplificação: o falecido deixa como herdeiros


apenas três filhos do mesmo casamento, com eles não
concorrendo à herança o cônjuge sobrevivente (v. CC, art.
1.829, inc. I). Dentro da normalidade sucessória, eles
herdariam por cabeça, ou seja, por direito próprio, sendo a
herança partilhada entre eles em três quinhões de idêntico
valor. Imagine-se, porém, que um dos filhos tenha sido
excluído da herança por indignidade, ou falecido antes que o
autor da herança. Se esse filho indigno, ou premorto,
também tiver filhos (portanto, netos do autor da herança),
estes concorrerão à herança do avô, herdando aquilo que
seu pai herdaria, se vivo fosse, ou se não houvesse sido
alijado da sucessão por indignidade. Então, na situação
retratada no exemplo sob exame, a herança será dividida em
três quinhões: cada um dos filhos do autor da herança
receberá um terço dela, e o terço restante, que caberia ao
filho premorto ou indigno, será entregue aos seus filhos, que
herdarão por estirpe (partilha por estirpe).

140.3 Sucessão por linhas: se os únicos herdeiros são


ascendentes do falecido, eles herdarão por linhas (sucessão in
lineas), ou seja, metade da herança será deferida à linha paterna e, a
outra, à materna. Sendo sobrevivente apenas um dos pais do
falecido, ele herdará integralmente a herança, ainda que existam
avós, pois na linha ascendente não se dá o direito de representação
(CC, art. 1.852); caso os herdeiros sejam os avós do falecido, a
herança será dividida igualmente entre as duas linhas, pouco
importando a quantidade de ascendentes em cada uma delas (v. g.,
havendo dois avós maternos e um paterno, aos dois primeiros caberá
metade da herança, herdando, o outro, a metade remanescente). Em
suma, não herdam por cabeça, mas por linhas de parentesco (CC,
art. 1.836, § 2º).

140.4 Sucessão por transmissão: opera-se a transmissão da


herança se, depois da abertura da sucessão hereditária, um dos
herdeiros do autor da herança vier a falecer antes de aceitar o seu
quinhão hereditário ou, então, depois de aceitá-lo, mas antes da
partilha. Em qualquer dessas hipóteses, o quinhão destinado ao
herdeiro falecido é transmitido aos seus respectivos herdeiros.
141. Modalidades de partilhas
A partilha pode ser realizada pelas formas amigável ou judicial,
quando resultante de acordo dos herdeiros ou definida por sentença
judicial.

141.1 Partilha amigável: se todos os herdeiros forem capazes e


manifestarem sua concordância com o modo de partilhar a herança
líquida, a partilha será amigável e formalizada por escritura pública,
por termo nos autos do inventário ou por escrito particular
homologado pelo juiz (CPC, art. 657; CC, art. 2.015). Essa
modalidade de partilha exige a plena capacidade de todos os
herdeiros, mais a total concordância a respeito da composição e
distribuição dos respectivos quinhões hereditários, observado, para
sua concretização, o procedimento de arrolamento sumário (CPC,
art. 660 e §§), adiante examinado.
A partilha amigável também poderá ser efetivada
extrajudicialmente, sendo do interesse dos herdeiros, desde que
sejam todos capazes, concordes com o modo de partilhar,
acompanhados por advogado(s) e inexista testamento a ser
cumprido. A escritura pública de partilha independerá de
homologação judicial, seja por força do previsto no art. 610, §§ 1º e
2º, seja, ainda, pela inexistência de base procedimental para a prática
daquele ato judicial.
Anota-se, em complementação, que independentemente da
adoção da via judicial ou extrajudicial, a herança líquida não será
partilhada, mas adjudicada ao único herdeiro capaz; sendo ele
incapaz, haverá a necessidade de instauração de inventário ou de
arrolamento comum, dependendo do valor da herança.

141.2 Partilha judicial: havendo herdeiro incapaz, ou, sendo todos


capazes, qualquer deles discordar do modo de repartir a herança, a
partilha será judicial (CPC, arts. 647 ss; CC, art. 2.016), adotado
agora, dependendo do valor do acervo hereditário, ou o procedimento
de arrolamento comum (CPC, art. 664 e §§), ou o de inventário
propriamente dito (arts. 610 e ss.).
141.3 Desnecessidade de partilha e adjudicação da herança:
existindo apenas um herdeiro sucessível, a ele será adjudicada
integralmente a herança líquida.

142. Partilha em vida


A denominada partilha em vida, contemplada no art. 2.018 do
Código Civil, é formalizada por doação ou por testamento e consiste
“na repartição dos bens entre descendentes, feita por ascendente
comum, mediante ato ‘inter vivos’ ou de última vontade”.24 Feita por
doação, o donatário será chamado à colação, sendo o caso (supra,
nº 136).

143. Partilha judicial


Estabelecidos o conceito e as modalidades de partilhas, resta o
exame do procedimento da partilha judicial, regulado pelos arts. 647 a
658 do novo diploma processual civil.
Apresentadas as primeiras e últimas declarações, decididas
eventuais impugnações, ou remetida a sua resolução às vias
ordinárias, avaliados os bens e calculados os impostos, resolvidos, se
houver, os incidentes das colações e do pagamento das dívidas do
espólio, ou também remetida a sua resolução às vias ordinárias,
separados os bens necessários para o pagamento dos credores
habilitados, o acervo hereditário está em termos de ser partilhado.
No prazo comum de quinze dias, contados da data da
concretização da última providência acima referida, poderão os
herdeiros formular o pedido de quinhão. Em seguida, o juiz proferirá a
decisão de deliberação da partilha, resolvendo os pedidos das
partes, designando os bens que devam constituir o quinhão de cada
herdeiro e legatário e a meação do cônjuge ou companheiro
sobrevivente, levando em conta, para tanto, o regime de bens.
Também indicará os bens que serão alienados ou adjudicados, por
não comportarem divisão cômoda (v. CC, art. 2.019) e decidirá,
igualmente, sobre a licitação de bem insuscetível de divisão cômoda,
se dois ou mais herdeiros pretenderem sua adjudicação (CC, art.
2.019, § 2º), ou, ainda, na situação prevista no art. 640, § 2º, do
CPC.

143.1 Antecipação da partilha: antes mesmo de formalizada a


partilha, poderá o juiz, com apoio no parágrafo do art. 647, desde
logo deferir a qualquer dos herdeiros o exercício imediato do direito
de uso e de fruição de determinado bem integrante da herança
líquida. A correspondente decisão, devidamente fundamentada
(como, de resto, devem ser todas as decisões judiciais), apesar de
antecipatória tem eficácia definitiva, pois o efetivo exercício do direito
pelo herdeiro beneficiado acarretará, necessariamente, a inclusão do
bem em seu quinhão hereditário, assumindo ele ainda, a partir de
então, todos os ônus e bônus resultantes do exercício.

Exemplificando: determinado herdeiro reside em imóvel


integrante do acervo hereditário e, autorizado pelo juiz, nele
permanecerá até a partilha; no entanto, na apuração dos
quinhões hereditários o bem integrará necessariamente a
quota desse herdeiro que, se for o caso, deverá compensar
os demais com verba de reposição (infra, nº 144.4). Ficará
ele, ainda, responsável pela satisfação de todos os tributos,
encargos e outras despesas relacionados ao imóvel.

A decisão judicial antecipatória não colide com o art. 1.791 e


parágrafo, do Código Civil, pois encontra respaldo no regime geral de
amparo aos herdeiros estabelecido por esse diploma legal, tal como
se extrai, por exemplo, de seu art. 2.017. Nem tem incidência, por
certo, o disposto no art. 2.020, visto que o herdeiro beneficiado com
a medida antecipatória irá usar e fruir de bem que, desde então, já
estará destinado a integrar o seu quinhão hereditário. Ou, por outras
palavras, não mais se trata de “bem da herança” – na dicção do
aludido art. 2.020 –, mas de bem sobre o qual o herdeiro já estará
exercendo todos os direitos inerentes ao domínio.
144. Regras para a definição da partilha
Outra louvável novidade introduzida pelo CPC consiste no
estabelecimento de regras para a concretização da partilha da
herança líquida entre os herdeiros (arts. 648 e 649) e a acomodação
dos interesses deles ou de outros interessados.

144.1 Equiparação dos quinhões hereditários: reproduzindo a


normativa do art. 2.017 do Código Civil, em seu primeiro inciso o art.
648 estabelece que, dentro do possível, os bens que comporão cada
quinhão deverão ter idênticos valores e qualidades e, havendo alguns
da mesma natureza e com tais atributos, atribuídos aos aquinhoados.

Assim, por exemplo, se há três herdeiros e no acervo


existem, entre outros bens, três apartamentos situados no
mesmo edifício, cada herdeiro receberá um dos imóveis,
mais outros bens ou direitos que comporão os respectivos
quinhões, mantida a máxima igualdade possível entre eles.

144.2 Comodidade dos coerdeiros, cônjuge ou companheiro:


coerdeiros do de cujus, o cônjuge ou o companheiro supérstites
poderão já estar usando, para si, determinado bem integrante do
espólio, situação que, se for o caso, deverá ser mantida por ocasião
da partilha da herança aos herdeiros e atribuição dos bens que
integrarão a meação do cônjuge ou do companheiro. A observância
dessa regra não pode interferir, todavia, no direito real de habitação
conferido ao cônjuge sobrevivente, que resulta do casamento, não da
sucessão hereditária (CC, art. 1.831 – v. art. 1.415).

144.3 Prevenção de futuros litígios: a previsão do segundo inciso


não representa, em verdade, regra referente à partilha propriamente
dita. Trata-se, isto sim, de norma programática em sentido amplo,
pois atendidas as outras duas contidas no art. 648, já estarão sendo
adotadas as medidas preventivas de futuros conflitos.
144.4 Alienação de bens insuscetíveis de divisão cômoda: outra
regra relacionada à partilha vem contida no art. 649, reproduzindo o
que dispõe o art. 2.019 do Código Civil: bens natural ou legalmente
indivisíveis ou que, embora divisíveis, não admitam divisão cômoda e
não caibam na parte do cônjuge ou companheiro ou no quinhão de um
dos herdeiros, serão objeto de licitação entre os interessados, ou de
venda judicial, com a correspondente partilha do resultado entre eles.
Essa regra tem por finalidade evitar condomínio forçado entre
herdeiros ou, então, impedir que um deles seja melhor aquinhoado,
em detrimento dos demais; e como o dinheiro é bem divisível por
excelência, nele converte-se o valor do imóvel, por meio da alienação
judicial, tornando possível a justa partilha da herança. A alienação
será dispensada, contudo, se e quando o cônjuge ou companheiro
sobrevivente, ou um dos herdeiros, com a prévia concordância dos
demais, requerer para si a adjudicação do bem, repondo aos outros,
em dinheiro, a diferença, ou seja, a verba de reposição para igualar
os quinhões.

145. Reserva de bens ao nascituro


Outra previsão sem correspondência no CPC/1973 é encontrada
no art. 650 do CPC, determinando a reserva de bens ao nascituro.
Isto porque, ainda não nascido, mas já concebido, o nascituro tem
protegidos seus direitos, no aguardo de seu nascimento e aquisição
de personalidade civil (CC, art. 2º, 2ª parte – v., ainda, arts. 542,
1.609, parágrafo único e 1.779).
Vindo à luz, assumirá a titularidade dos direitos que lhe são
assegurados, entre eles o direito à sucessão hereditária, daí a
necessidade de reservar-se, em poder do inventariante, o quinhão
que lhe caberá. Se, no entanto, tratar-se de natimorto, a reserva será
desfeita e os bens a ela afetados redistribuídos entre os herdeiros
ou, se já formalizada a partilha, sobrepartilhados (v., infra, nº 163).

146. Esboço de partilha judicial


O esboço da partilha representa o plano, o projeto da partilha
definitiva. É organizado pelo órgão auxiliar do juízo denominado
partidor, com base na decisão de deliberação do juiz, devendo conter
todos os elementos ativos e passivos do acervo hereditário (v. art.
651 do CPC).
O partidor deve apurar, em primeiro lugar, o chamado monte-mor
(ou herança bruta), que representa o conjunto de todos os bens
existentes à época da abertura da sucessão hereditária,
especificando os respectivos valores. Abatidas as dívidas vencidas do
espólio, reservados os bens ou valores para o pagamento das
vincendas (v. CPC, art. 644, parágrafo único) e deduzidas as
despesas do funeral, ao resultado adiciona-se o valor dos bens
trazidos à colação, daí surgindo o chamado monte partível (herança
líquida), que será, então, objeto da partilha (v. CC, arts. 1.847, 1.997
e 1.998).

146.1 A metade disponível e a legítima: excluída a meação que


couber ao cônjuge sobrevivente, a parte remanescente poderá ser
dividida em duas: a metade disponível, qual seja, a parte da herança
da qual poderia o seu titular dispor livremente, em vida, sem
prejudicar o direito dos herdeiros necessários (CC, arts. 1.846 e
1.789); a outra metade, já abatidas as dívidas do espólio e despesas
do funeral e acrescida dos bens trazidos à colação (CC, art. 1.847),
representa a legítima, parte da herança a ser repartida entre os
herdeiros necessários (descendentes, ascendentes e cônjuge do
falecido – CC, art. 1.845), obedecida a ordem da vocação hereditária
(arts. 1.829, 1.836 e 1.838).
Inexistirá meação do sobrevivente e, por consequência, a
totalidade da herança líquida será atribuída aos herdeiros
descendentes: (a) se o autor da herança houver falecido no estado de
solteiro, viúvo, separado judicialmente (ou estivesse separado de fato
há mais de dois anos – v., porém, CC, art. 1.830, in fine) ou
divorciado; (b) estivesse casado no regime de separação de bens,
ou, (c) se não houver deixado companheiro sobrevivente com direito a
aquestos (CF, art. 226, § 3º e Leis nºs 8.971/94 e 9.278/96).
Ademais, somente a existência de herdeiros necessários impõe a
apuração da legítima; não existindo essa classe de herdeiros, ou
sendo eles renunciantes (CC, arts. 1.804 a 1.813), excluídos da
herança por indignidade (arts. 1.814 a 1.818) ou deserdados (arts.
1.961 a 1.965), a herança será partilhada entre os herdeiros
facultativos (os parentes colaterais do falecido – art. 1.829, inc. IV),
obedecida a ordem legal (arts. 1.839 a 1.843), salvo se houver
testamento dispondo de forma diversa.

146.2 O quinhão do cônjuge sobrevivente: diferentemente do


CC/1916, que excluía da sucessão o cônjuge sobrevivente, se e
quando o falecido houvesse deixado descendentes ou ascendentes
sucessíveis (arts. 1.603 e 1.611, conjugados), o atual estabelece, em
seu art. 1.829, que o cônjuge sobrevivente concorrerá à herança com
aqueles herdeiros. Não concorrerá, porém, se à época da abertura
da sucessão o casal já estivesse legalmente separado, ou separado
de fato há mais de dois anos – salvo, nesta última hipótese, se o
sobrevivente não deu causa à separação (art. 1.830).
Observe-se, porém, que:
i) ante o estabelecido no inc. I do art. 1.829 do Código Civil, o
sobrevivente não concorrerá com os descendentes se o regime de
bens até então vigente era o de comunhão universal ou de separação
obrigatória de bens (v. CC, art. 1.641 – e não art. 1.640, parágrafo
único, conforme equivocada remissão feita no inciso sob exame);
sendo de comunhão parcial, só haverá concorrência em relação aos
bens particulares (ou seja, incomunicáveis) deixados pelo falecido (v.
art. 1.659). Concorrendo com os descendentes do falecido, ao
cônjuge sobrevivente caberá quinhão igual ao daqueles, sempre que
estiverem herdando por cabeça; se o sobrevivente também for
ascendente dos referidos herdeiros, sua quota hereditária não poderá
ser inferior à quarta parte da herança (CC, art. 1.832);

Exemplificando: se o falecido deixou dois filhos e cônjuge, a


herança líquida será repartida em três quinhões idênticos; se
esses filhos forem comuns do casal, uma quarta parte da
herança caberá ao sobrevivente, repartindo-se igualmente
entre os dois descendentes o restante do monte partível.
ii) inexistindo descendentes sucessíveis, serão chamados à
sucessão os ascendentes sucessíveis do falecido, sempre em
concorrência com o cônjuge sobrevivente – e independentemente do
regime de bens (CC, art. 1.829, inc. II); concorrendo com os
ascendentes em primeiro grau (pais do falecido), o cônjuge
sobrevivente herdará uma terça parte da herança; caso concorra com
apenas um dos genitores do cônjuge falecido, ou com avô (ou avós)
do mesmo, tocar-lhe-á metade da herança (CC, art. 1.837);
iii) a herança caberá por inteiro ao cônjuge sobrevivente,
qualquer que seja o regime de bens, se o falecido não houver deixado
herdeiros na linha reta, descendente ou ascendente (CC, art. 1.829,
inc. III).

146.3 O quinhão do companheiro: por estabelecer distintos – e


discriminatórios – tratamentos a cônjuges e companheiros em matéria
sucessória, o art. 1.790 do Código Civil teve declarada
incidentalmente a sua inconstitucionalidade pelo Supremo Tribunal
Federal, ficando afastada, portanto, para tal fim, a diferença entre
cônjuge e companheiro, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o
regime estabelecido no art. 1.829 do Código Civil.25

146.4 A meação do cônjuge ou do companheiro sobrevivente:


herança e meação são inconfundíveis. A primeira, ligada ao direito
sucessório, somente existirá com a abertura da sucessão hereditária,
sendo deferida aos herdeiros do falecido (entre eles, como visto, o
cônjuge ou companheiro sobrevivente); meação é direito oriundo do
casamento, ou da união estável, respeitante aos bens comunicáveis
pertencentes aos cônjuges, ou companheiros, podendo inclusive ser
apurada em vida, como ocorre com a dissolução da sociedade
conjugal, do vínculo conjugal pelo divórcio ou anulação judicial ou,
ainda, pelo desfazimento da união estável (CC, arts. 1.723 a 1.727).
São várias as situações envolvendo a meação: (a) nos regimes
de comunhão parcial (CC, arts. 1.658 a 1.666) e de participação final
nos aquestos (arts. 1.672 a 1.686), comunicam-se os bens adquiridos
onerosamente na constância da sociedade conjugal e, vindo a falecer
um dos cônjuges, o outro terá direito à meação, sem prejuízo de sua
eventual participação na herança; (b) no regime da comunhão
universal (CC, arts. 1.667 a 1.671), comunicam-se todos os bens,
anteriores ou posteriores ao casamento, ainda que adquiridos a título
gratuito; (c) no regime da separação (CC, arts. 1.687 e 1.688),
comunicam-se apenas os bens adquiridos com esforço comum dos
cônjuges; (d) tratando-se de companheiros, observar-se-á o regime
de comunhão parcial para as relações patrimoniais, salvo se houver
convenção válida dispondo diferentemente (CC, art. 1.725).

147. Manifestação dos interessados sobre o esboço


de partilha
Elaborado o esboço de partilha, as partes, o Ministério Público e
a Fazenda Pública dele serão intimados para, no prazo comum de
quinze dias, aceitá-lo ou impugná-lo (CPC, art. 652). Resolvidas
eventuais reclamações e realizada a licitação prevista no art. 640, §
2º do CPC, a partilha será lançada nos autos, não sendo admissível
recurso à decisão correspondente; da sentença de partilha definitiva é
que caberá, sendo o caso, recurso de apelação (v. art. 654).

148. Elementos componentes da partilha judicial


A partilha judicial é composta do auto de orçamento e da folha
de pagamento dos quinhões, legados e dívidas aceitas (CPC, art.
653). Do auto de orçamento constarão os nomes do falecido, do
inventariante, do cônjuge ou companheiro sobrevivente, dos herdeiros
e legatários e, se houver, dos credores que tiveram seus créditos
habilitados e aceitos. Nas folhas de pagamento serão especificados a
meação do cônjuge ou companheiro sobrevivente (ou, quando for o
caso, o crédito deste em relação ao acervo), os quinhões de cada
herdeiro (com a indicação dos bens que os integram e dos ônus que
eventualmente os gravam e observada a ordem estabelecida pelo inc.
IV do art. 651), os legados e os créditos admitidos.
149. Julgamento da partilha judicial
Comprovado nos autos o pagamento do imposto de transmissão
causa mortis e apresentada pelo inventariante certidão ou informação
negativa de dívidas para com a Fazenda Pública, o juiz julgará a
partilha por sentença (CPC, art. 654), que tem, segundo a doutrina
predominante, natureza constitutiva, pois extingue a comunhão até
então existente entre os herdeiros e define os quinhões cabentes a
cada um deles. Também será julgada a partilha, mesmo existindo
crédito fazendário a ser satisfeito, se o seu pagamento estiver
devidamente garantido.
Após o julgamento da partilha, restará ao interessado preterido
valer-se da ação direta em face dos herdeiros aquinhoados,
reclamando o seu quinhão (no caso do herdeiro) ou legado (sendo o
autor legatário). Tratando-se de partilha inválida, valer-se da ação
anulatória ou da rescisória, dependendo do caso (v. CPC, arts. 657 e
658 – infra, nºs 152 e 153).

150. Formal de partilha


Com o trânsito em julgado da sentença de partilha cada herdeiro
receberá os bens que couberem em seu quinhão, mais o formal de
partilha (CPC, art. 655), ou a carta de adjudicação, sendo herdeiro
único. O formal e a certidão de partilha têm força executiva, pois
erigidos por lei à categoria de títulos executivos judiciais, se bem que
restritos ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título
universal ou singular (art. 515, inc. IV). Deverão ainda ser levados a
registro, havendo bem imóvel partilhado ou adjudicado (LRP, art. 167,
inc. I, nºs 24 e 25).

151. Emenda da partilha


Na dicção do art. 494 do CPC, publicada a sentença de mérito o
juiz não mais poderá alterá-la, exceto para lhe corrigir, de ofício ou a
requerimento da parte, inexatidões materiais, ou lhe retificar erros de
cálculo, ou, ainda, por meio de embargos de declaração. Essa
possibilidade de correção é também contemplada no art. 656, no que
se refere à partilha, se e quando houver ocorrido erro de fato na
descrição dos bens, ou qualquer outra inexatidão material.
Constatado o erro de fato, poderão as partes requerer (e o juiz até
mesmo ordenar de ofício) a emenda da partilha, nos próprios autos
do inventário ou do arrolamento.
Não se pode confundir essa possibilidade, porém, com a
sobrepartilha, examinada adiante (infra, nº 163).

152. Anulação da partilha amigável


Admitida quando todos os herdeiros sejam capazes e estejam de
acordo quanto ao modo de partilhar o acervo hereditário, a partilha
amigável representa verdadeira transação entre eles. Será lavrada
por escritura pública, reduzida a termo nos autos ou feita por
instrumento particular, dependendo ainda, neste último caso, de
homologação judicial – ressalvada, evidentemente, a possibilidade de
vir a ser realizada administrativamente.
Negócio jurídico que é, a partilha amigável pode estar viciada por
erro essencial, dolo ou coação na manifestação de vontade de
qualquer dos herdeiros, tornando-se passível de anulação – de
acordo, aliás, com o estabelecido pelos arts. 657 e 966, § 4º, do
CPC; o mesmo ocorrerá quando houver incapaz entre os herdeiros
nela intervenientes.
Erro é a falsa percepção da realidade, influindo na manifestação
da vontade, considerando-se essencial, ou substancial, aquele que
interessa à natureza do ato, ao objeto principal da declaração, a
algumas das qualidades essenciais do ato, ou, ainda, aquele que
disser respeito a qualidades essenciais da pessoa a quem se refira a
declaração de vontade (CC, arts. 138 ss); dolo é a manobra
intencional e maliciosa do terceiro, que visa obter declaração de
vontade não querida pelo prejudicado (CC, arts. 145 ss); coação é a
violência moral (vis compulsiva) que impõe ao coagido manifestação
de vontade por ele não querida (CC, arts. 151 ss).
Presente qualquer desses vícios do consentimento no negócio
jurídico que é a partilha amigável, ou desta participando herdeiro
incapaz, faculta-se ao interessado a sua anulação, nos termos dos
arts. 657 do CPC e 2.027 do Código Civil. Sendo extrajudicial a
partilha amigável – e inexistindo, portanto, sentença homologatória –,
o herdeiro prejudicado deverá promover ação anulatória, com a
observância, então, do prazo decadencial estabelecido pela lei civil (v.
CC, arts. 171, I e II e 178).
Tem legitimidade para propor a ação anulatória qualquer dos
participantes do arrolamento sumário (v. CPC, art. 660), figurando no
polo passivo, em litisconsórcio necessário, todos os beneficiados com
a partilha.
A ação deverá ser proposta no primeiro grau de jurisdição, no
prazo decadencial de 1 (um) ano, contado: (a) no caso de coação, do
dia em que ela cessou; (b) no de erro ou dolo, do dia em que se
realizou o ato; (c) no caso de incapacidade, do dia em que a mesma
cessar.

153. Rescisão da partilha judicial


Essa modalidade de partilha é decidida por sentença de mérito
que, transitada em julgado, poderá ser objeto de ação rescisória, se
e quando ocorrente qualquer das circunstâncias apontadas quer nos
arts. 657 e 658, quer no art. 966, do CPC. Vale dizer, além das
hipóteses enunciadas neste último dispositivo legal, a sentença de
partilha judicial será rescindível nas seguintes situações específicas:
(a) se presente qualquer das circunstâncias ensejadoras da anulação
da partilha amigável (v. art. 657), não se podendo confundir, porém,
essa hipótese de rescisão com aquela de anulação da partilha:
enquanto a partilha amigável viciada por erro, dolo, coação ou
incapacidade é anulável, a sentença da partilha judicial que
apresente os mesmos vícios é rescindível; (b) se na partilha judicial
houver sido preterida formalidade legal, isto é, desatendida qualquer
das exigências estabelecidas pelos arts. 647 a 653 do CPC, ou,
ainda, quando todo o processo de inventário for nulo por preterição
de formalidades legais; e (c) se preterido da partilha herdeiro
sucessível ou nela incluído quem não o era. A primeira hipótese trata
da exclusão de herdeiro regularmente habilitado no processo de
inventário, e a segunda, da inclusão de herdeiro aparente.
Situação particular, diversa daquela prevista na primeira parte do
inc. III do art. 658, diz respeito à não inclusão, na partilha, de herdeiro
necessário também não habilitado no inventário.
Suponha-se, a título de ilustração, que findo o inventário e
partilhados os bens entre os herdeiros, filho havido pelo autor da
herança fora do matrimônio promova e vença ação investigatória de
paternidade (v. Lei nº 8.560/92). À época da realização do inventário
e posterior partilha, seu parentesco com o pretendido pai – e o
consequente direito sucessório à sua herança – ainda não havia sido
judicialmente declarado; reconhecida por sentença a paternidade, e,
por decorrência, tornado certo o seu direito sucessório, não poderá
esse herdeiro estar sujeito ao prazo decadencial da ação rescisória,
até porque não foi parte no inventário. Consequentemente, apesar de
ser nula a sentença da partilha, adequada será a ação de petição de
herança, sujeita a prazo prescricional de vinte anos, conforme
enunciado da Súmula 149 do Supremo Tribunal Federal26 (v. CC, arts.
1.824 a 1.828).

V – ARROLAMENTO

154. Conceito de arrolamento


O procedimento de inventário e partilha propriamente dito, até
aqui examinado, deverá ser adotado exclusivamente quando o valor
da herança ultrapassar 1.000 (mil) salários mínimos e existir incapaz
entre os herdeiros ou, ainda, quando qualquer deles discordar da
realização de partilha amigável. Nos demais casos o procedimento
adequado é o do arrolamento, que dispensa termos, cálculos do
contador e avaliações (exceto nos casos expressamente previstos),
sendo, consequentemente, mais célere e econômico que o do
inventário tradicional.
O arrolamento é, em suma, o procedimento específico para
inventariar e partilhar herança quando (a) os herdeiros requerem em
juízo a partilha amigável (v. CPC, arts. 659, caput), (b) for o caso de
adjudicação da herança líquida a herdeiro único, ou (c) o valor dos
bens do espólio for igual ou inferior 1.000 (mil) salários mínimos (art.
664).

Não se perca de vista, porém, a possibilidade de a partilha


amigável ser formalizada extrajudicialmente, por escritura
pública – hipótese em que descabe falar-se em inventário ou
arrolamento judicial.

155. Modalidades de arrolamentos e seus requisitos


Duas são as modalidades de arrolamentos previstas no CPC, a
saber: o sumário (arts. 659 a 663) e o comum (art. 664).
Procedimento de jurisdição voluntária, o arrolamento sumário
será adotado, qualquer que seja o valor da herança, quando todos os
herdeiros forem capazes e estiverem de acordo com a partilha
amigável do acervo hereditário e, ainda, no caso de adjudicação da
herança a herdeiro único. Adotar-se-á o arrolamento comum,
procedimento de jurisdição contenciosa, se o valor da herança for
igual ou inferior a 1.000 (mil) salários mínimos e existir herdeiro
incapaz, ou sendo capazes todos os herdeiros, não concordarem com
a partilha amigável da herança líquida.
Ressalvada a hipótese contemplada no art. 665 (infra, nº 157.1),
havendo herdeiro incapaz ou discordante com a partilha amigável e o
valor da herança exceder a 1.000 (mil) salários mínimos, dever-se-á
observar o procedimento judicial do inventário, inviáveis que são,
nesses casos, tanto o arrolamento sumário, quanto o inventário e a
partilha extrajudiciais.

156. Procedimento do arrolamento sumário


É procedimento de jurisdição voluntária, que se inicia com a
apresentação da petição inicial ao juízo competente, acompanhada da
certidão de óbito e do comprovante de recolhimento de custas, se
devidas (CPC, art. 662, § 1º), contendo histórico elaborado em
consonância com o disposto no art. 620. Nomeado o inventariante
indicado pelos próprios herdeiros – e independentemente de termo de
compromisso –, será apresentado o plano de partilha amigável, ou
requerida a adjudicação dos bens, no caso de herdeiro único.
Provada a quitação dos tributos relativos aos bens do espólio
(imposto predial ou territorial) e de suas rendas (imposto de renda), o
juiz homologará a partilha, ou a adjudicação, determinando a
expedição, respectivamente, do formal ou da carta, e, após, ordenará
o arquivamento dos autos.

156.1 Peculiaridades do arrolamento sumário: caracterizado pela


celeridade e pouco formalismo, o arrolamento sumário dispensa a
lavratura de termos (inclusive o de inventariança), a avaliação dos
bens do espólio (exceto se, havendo credor habilitado, este impugnar
a estimativa feita pelos herdeiros do valor dos bens reservados para
o pagamento da dívida e a remessa dos autos ao contabilista
(contador) e ao partidor, pois o plano de partilha é elaborado pelos
próprios herdeiros. O imposto de transmissão causa mortis será
lançado e recolhido administrativamente (art. 662, § 2º).

156.2 A dispensa de avaliação dos bens do espólio: como já


salientado, adotar-se-á o arrolamento sumário quando a partilha for
amigável (caso em que, por óbvio, os valores atribuídos aos bens
serão aqueles definidos consensualmente pelos herdeiros), ou em se
tratando de adjudicação da herança ao herdeiro único – daí a
desnecessidade de avaliação dos bens do espólio.

156.3 A utilização da via administrativa para a resolução de


questões envolvendo taxas e tributos: o procedimento do
arrolamento sumário não se presta à resolução de questões
envolvendo quer a correção do valor estimado dos bens do espólio,
quer o pagamento de tributos ou de taxas judiciárias. Sendo
necessário resolver-se qualquer dessas questões, deverá a Fazenda
Pública valer-se da via administrativa (CPC, art. 662 e § 2º), ficando
assim preservada a necessária celeridade procedimental, sem
prejuízo de apuração, pelas vias próprias, de eventuais créditos
tributários.

156.4 Credores do espólio e reserva de bens: não teria sentido


impedir-se a homologação judicial da partilha ou da adjudicação, em
prejuízo dos interesses dos herdeiros ou legatários, apenas em
virtude da existência de credor (ou credores) do espólio, pois o
pagamento das dívidas deste último será garantido pela reserva de
bens já realizada antes da homologação. Essa reserva levará em
conta o valor dos bens estimado pelos próprios herdeiros, razão pela
qual, discordando o credor da estimativa, sob o argumento de que
não corresponde ao valor real dos bens, será necessária, só então, a
sua avaliação (v. CPC, art. 661).

156.5 A necessidade de comprovação de pagamento de tributos


e a intervenção da Fazenda Pública: conforme previsto no § 2º do
art. 659 do CPC, transitada em julgado a sentença homologatória da
partilha amigável ou da adjudicação, lavrado ou elaborado o formal ou
a carta respectivos, serão expedidos os alvarás referentes aos bens
e às rendas por eles abrangidos; em seguida, o fisco será intimado
para lançamento administrativo do imposto de transmissão ou de
outros porventura exigíveis, conforme dispuser a legislação tributária.
Benéfica essa modificação introduzida pelo CPC em relação ao
CPC/1973, pois este, em seu art. 1.031, § 2º, condiciona a entrega
do formal de partilha ou da carta de adjudicação dos bens à prévia
demonstração, nos autos do arrolamento, do pagamento dos tributos
devidos. Ora, esse condicionamento não apenas permite a
intromissão do fisco no procedimento do arrolamento, dando ensejo a
eventuais incidentes e retardando seu curso, como praticamente torna
letra morta o caput do art. 1.034. Com a solução agora trazida pelo §
2º do art. 659 do novo diploma processual, os interesses do fisco
ficarão igualmente resguardados, pois poderá, uma vez intimado,
proceder ao lançamento administrativo dos tributos.
Não por acaso, em edições anteriores deste trabalho já
sustentávamos a necessidade de intimação da Fazenda
Pública, limitada sua intervenção, contudo, à verificação da
correção do recolhimento dos tributos, pois qualquer questão
relacionada seja ao valor atribuído aos bens pelos herdeiros,
seja à integralidade do pagamento de imposto devido no
caso concreto, deveria ser resolvida administrativamente.

156.6 Conversibilidade do inventário em arrolamento sumário:


pode ocorrer de no curso do processo de inventário os herdeiros
virem a compor-se amigavelmente ou, ainda, o incapaz adquirir
capacidade plena. Havendo interesse da parte deles – e atendidos os
demais requisitos legais –, nada obsta a conversão do inventário em
arrolamento sumário.

157. Procedimento do arrolamento comum


Instaurado o procedimento perante o juízo competente e
nomeado inventariante, ele prestará as suas declarações, atribuindo
valor aos bens do espólio e apresentando, desde logo, o plano de
partilha. Em seguida, serão citados os interessados e intimado o
representante da Pública, a fim de se manifeste sobre as declarações
(CPC, art. 664).
Impugnada a estimativa do valor dos bens por qualquer das
partes ou pelo fisco, o juiz nomeará avaliador para apresentação do
laudo de avaliação em dez dias. Produzido o laudo – e sobre ele
manifestando-se os interessados –, será designada audiência; nela o
juiz deliberará sobre a partilha ou a adjudicação dos bens, decidirá de
plano todas as reclamações e impugnações apresentadas a respeito
do plano de partilha, da avaliação e do pagamento de dívidas,
mandando pagar aquelas não impugnadas; também determinará a
reserva de bens suficientes para o pagamento das dívidas
impugnadas, a serem cobradas posteriormente pelos credores (v. art.
643, parágrafo único), remetendo os interessados às vias ordinárias
para a resolução de questões envolvendo matéria de alta indagação
(v., art. 612).
Julgada a partilha, proceder-se-á nos termos já examinados.

157.1 Possibilidade de adoção do arrolamento comum havendo


herdeiro incapaz: a existência de incapaz entre os herdeiros é causa
impeditiva tanto do inventário e partilha extrajudiciais, quanto da
adoção do arrolamento, tanto o sumário (só admissível em se
tratando de partilha amigável), quanto o comum. No entanto, o art.
665 do CPC autoriza a adoção desse último procedimento se e
quando, mesmo existindo herdeiro incapaz, todos os demais estejam
de acordo e também o Ministério Público – que, aliás, intervirá no
feito justamente em razão da incapacidade do herdeiro (CPC, art.
178, inc. II).

157.2 Peculiaridades do arrolamento comum: além das


peculiaridades apresentadas pelo arrolamento sumário, o comum
apresenta ainda as seguintes: (a) o Ministério Público intervirá no
feito, acautelando os interesses de herdeiro incapaz; (b) os bens
serão avaliados sempre que qualquer das partes ou o Ministério
Público impugnar a estimativa de seu valor; (c) os herdeiros serão
citados; (d) será realizada audiência, para os fins previstos no § 2º do
art. 664 do CPC, com a lavratura do termo respectivo; (e) o
inventariante será nomeado pelo juiz, observada a ordem legal (art.
617).

158. Anulação e rescisão da sentença de partilha no


arrolamento
A sentença homologatória da partilha ou adjudicação amigáveis
realizadas no arrolamento sumário poderá ser anulada por vício de
consentimento ou de incapacidade; aquela que julga a adjudicação ou
a partilha realizadas no arrolamento comum poderá ser objeto de
ação rescisória (v., supra, nºs 152 e 153).
159. Dispensa de inventário ou de arrolamento
Em consonância com os arts. 1º e 2º da Lei 6.858, de 24.11.80,
regulamentada pelo Decreto 85.845, de 26.3.81, o art. 666 do CPC
dispensa de inventário ou de arrolamento o pagamento de valores
devidos pelos empregadores e os montantes das contas individuais
do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do Fundo de
Participação PIS-PASEP, não recebidos em vida pelo autor da
herança. Esses valores serão pagos, em cotas iguais,
preferencialmente aos dependentes do falecido que estejam
habilitados perante a Previdência Social, ou na forma da legislação
específica dos servidores civis e militares. Na falta de dependentes,
daí, sim, os pagamentos serão destinados aos sucessores do de
cujus, indicados em alvará judicial, independentemente de inventário
ou arrolamento (v. CC, art. 1.829). Igualmente independerá de
inventário ou arrolamento o pagamento das restituições relativas ao
imposto de renda e outros tributos; inexistindo outros bens sujeitos a
inventário ou arrolamento, também não serão inventariados e
partilhados os saldos bancários e as contas de cadernetas de
poupança e fundos de investimento de valor igual ou inferior, nos
termos da lei, a 500 Obrigações do Tesouro Nacional – OTNs. Como
esse indexador não mais existe, o valor a que alude o art. 2º da Lei
no 6.858/80 deverá corresponder a, no máximo, 1.000 salários
mínimos, por aplicação analógica do art. 664 do CPC.

160. Aplicação subsidiária das normas do inventário


ao arrolamento
Do cotejo entre os arts. 667 do CPC e 1.038 do CPC/1973
extrai-se que aquele autoriza a aplicação subsidiária das normas do
inventário apenas ao pagamento das dívidas do espólio e à partilha,
tendo, portanto, campo de incidência menor que o desse último
dispositivo. Esse novo dispositivo é salutar, pois preserva dois dos
atributos do procedimento do arrolamento, quais sejam suas
celeridade e relativa informalidade.
VI – DISPOSIÇÕES COMUNS AO INVENTÁRIO E AO
ARROLAMENTO

161. Introdução
Os procedimentos de inventário e de arrolamento apresentam
pontos comuns, como a possibilidade de concessão de medidas
provisórias, a realização de sobrepartilha, a nomeação de curador
especial ao herdeiro ausente ou incapaz e a simultaneidade de
inventário ou arrolamento, em caso de falecimento do cônjuge
supérstite, antes da partilha dos bens do cônjuge premorto.
Adequada, portanto, a explicitação das medidas e providências a
serem adotadas em situações similares a ambos os procedimentos
aludidos.

162. Cessação da eficácia das medidas provisórias de


urgência
No curso do inventário ou do arrolamento poderão surgir
questões ligadas à condição de herdeiro (CPC, art. 627, inc. III), à
sua exclusão da herança (art. 628), ao pagamento de dívida do
espólio (art. 643), entre outras, competindo ao juiz adotar, em tais
casos, as medidas pertinentes. Ao beneficiado com a tutela provisória
cautelar caberá, por sua vez, propor a ação principal no prazo de
trinta dias, sob pena de cessar a eficácia da medida cautelar (art.
668 - v. art. 308).
Examinemos algumas hipóteses:
a) admitido no inventário herdeiro cuja qualidade foi impugnada
por outro, o juiz, verificando tratar-se de matéria de alta indagação, a
exigir dilação probatória diversa da documental, remeterá as partes
às vias ordinárias, sobrestando, até o desfecho do respectivo
processo, a entrega do quinhão que, na partilha, vier a caber ao
herdeiro admitido. Se o herdeiro impugnante não promover, no prazo
de trinta dias contado da data de intimação daquela decisão, a ação
para a exclusão do herdeiro admitido, ficará sem efeito o
sobrestamento na entrega do quinhão;
b) inadmitido o ingresso, no inventário, de terceiro que se intitule
herdeiro, o juiz ordenará que se reserve em poder do inventariante o
quinhão do excluído, até a decisão final da ação de petição de
herança. Deixando o excluído de promover a referida ação no prazo
de trinta dias, contado da data da intimação da decisão que negou a
sua admissão no inventário, igualmente cessará a eficácia da medida
(CPC, art. 628, § 2º);
c) havendo discordância sobre o pedido de pagamento feito pelo
credor, este deverá cobrar o seu crédito pelas vias ordinárias.
Contudo, quando a dívida constar de documento que comprove
suficientemente a obrigação e a impugnação não se fundar em
quitação daquela, o juiz mandará reservar em poder do inventariante
bens suficientes para o pagamento do credor; caso este não promova
a ação de cobrança no prazo de trinta dias, contados da data da
decisão que o remeteu às vias ordinárias, ficará sem efeito a medida
de reserva de bens (v. art. 643);
d) igualmente cessará a eficácia das medidas acautelatórias
examinadas se o juiz declarar extinto o processo de inventário, com
ou sem o julgamento do mérito (v. CPC, arts. 485 e 487).

163. Sobrepartilha
É uma nova partilha, realizada após a amigável ou a judicial, com
a observância do processo de inventário e partilha (CPC, arts. 669 e
670 - CC, arts. 2.021 e 2.022).

163.1 Bens sujeitos à sobrepartilha: a ela estão sujeitos os


seguintes bens:
a) os sonegados: encerrada a partilha amigável ou judicial e
sendo descobertos bens até então sonegados, serão eles
sobrepartilhados, com a imposição ao sonegador das penas previstas
em lei (v. CC, arts. 2.022 e 1.992 a 1.996);
b) os pertencentes à herança e descobertos após a partilha,
situação inconfundível com a anterior, pois enquanto a sonegação
pressupõe ocultação maliciosa do bem, o inc. II do art. 669 prevê a
sobrepartilha de bem cuja existência era desconhecida à época da
partilha do acervo hereditário;
c) os litigiosos e os de liquidação difícil ou morosa (v. CC, art.
2.021). A título de ilustração, imagine-se que à época da partilha
estivesse sendo processada ação por meio da qual o espólio
reivindicasse determinado bem. É óbvio que este não poderia ser
partilhado, pois ainda não comprovado o domínio do espólio sobre
ele; sobrevindo sentença de procedência após a partilha, o referido
bem deverá ser objeto de sobrepartilha, da mesma forma que os
bens de liquidação difícil ou morosa que também não integraram
aquela;
d) os situados em local distante do foro do inventário, pois sua
inclusão na partilha poderá retardá-la, em detrimento dos interesses
dos herdeiros;
e) os reservados, tanto para o pagamento de credores e que
foram devolvidos à herança porque o autor foi derrotado na ação de
cobrança, quanto para constituírem o quinhão do pretendido herdeiro,
não tendo sido acolhido o seu pedido de reconhecimento dessa
condição.

163.2 Guarda dos bens a serem sobrepartilhados: diversamente


das hipóteses contempladas nos incs. I e II do art. 669 do CPC, que
tratam de bens desconhecidos ou sonegados por ocasião da partilha,
aqueles indicados nos incs. III e IV são conhecidos pelos herdeiros,
somente não se procedendo à sua partilha imediata pelas razões já
enunciadas – daí a necessidade de ficarem sob a guarda e
administração do mesmo inventariante, ou de outro, a critério da
maioria dos herdeiros (art. 669, parágrafo único, – v. CC, art. 2.021).

163.3 Procedimento da sobrepartilha: é idêntico ao do inventário


ou do arrolamento que a antecedeu, realizando-se nos mesmos
autos.
164. Curatela do herdeiro ausente ou incapaz
Na partilha judicial e no arrolamento comum os herdeiros serão
citados pelo correio, ou por edital, sendo desconhecido seu domicílio;
neste último caso, ausente do processo o herdeiro fictamente citado
e não tendo quem o represente, o juiz nomear-lhe-á curador especial,
função a ser exercida pela Defensoria Pública (CPC, art. 671, inc. I –
v. art. 72, inc. I, parágrafo único). Quanto ao herdeiro incapaz, será
ordinariamente representado ou assistido por seus pais, tutor ou
curador (art. 71); concorrendo na partilha com o seu representante
legal – caracterizada, assim, a colidência de interesses entre eles –,
ou não tendo representante legal, também será nomeado curador
especial (art. 671, inc. II – v. art. 72, inc. I, parágrafo único), sem
prejuízo da necessária atuação do Ministério Público no feito (art.
178, inc. II).

165. Cumulação de inventários


Tendo em vista o requisito da adequação procedimental
estabelecido pelo art. 327, § 1º, inc. III, do CPC e, ainda, que o
procedimento do inventário é irredutivelmente especial (isto é, não
conversível ao comum), é inadmissível a cumulação da ação de
inventário com outra, salvo se da mesma natureza (v. g.,
requerimento de abertura de inventários dos espólios de marido e
mulher).
Falecendo o cônjuge (ou o companheiro) supérstite antes da
partilha dos bens do premorto, as duas heranças serão
cumulativamente inventariadas e partilhadas, se os herdeiros forem os
mesmos e houver dependência de uma das partilhas em relação à
outra (CPC, art. 672).
Explicitando: indiferentemente de todos os bens integrantes de
cada espólio serem ou não comuns (v.g., existência de bens comuns
e outros, reservados por pacto antenupcial para um dos cônjuges - v.,
infra, nº 291), será admissível a cumulação dos dois inventários ou
arrolamentos, daí, aliás, a supressão do vocábulo meeiro contido no
caput do art. 1.043 do CPC/1973. No entanto, em situações como a
explicitada, poderá o juiz determinar a tramitação separada dos
processos, se tal providência atender aos interesses das partes ou à
celeridade processual (art. 672, parágrafo único).
Essa cumulação também será possível no arrolamento, sempre
que presentes os mesmos pressupostos legais, bastando um só
inventariante para os dois inventários ou arrolamentos.
Finalmente, na hipótese contemplada no segundo inciso do art.
672 as primeiras declarações e a avaliação já existentes no inventário
original não serão modificadas, salvo se o valor dos bens que
compõem o acervo hereditário vier a sofrer alteração (art. 673).

166. Habilitação de herdeiro representante


No curso do inventário poderá vir a falecer herdeiro nele já
admitido. Não possuindo o falecido outros bens além de seu quinhão
hereditário, poderá este ser partilhado juntamente com os bens do
monte.

Exemplificando: X era herdeiro habilitado no inventário de Y,


seu pai. X falece antes da partilha, deixa filhos e não deixa
outros bens, além daqueles que comporiam o seu quinhão na
herança de Y. Seus filhos ingressarão no inventário dos bens
de Y e herdarão, por direito de representação, aquilo que X
herdaria, se vivo fosse (v. CC, arts. 1.851 a 1.856). No
entanto, tendo X deixado outros bens, será obrigatória a
realização de inventário ou arrolamento autônomo dos
mesmos.

FLUXOGRAMA 11 – PROCEDIMENTO DO INVENTÁRIO (I)


FLUXOGRAMA 12 – PROCEDIMENTO DO INVENTÁRIO (II)

FLUXOGRAMA 13 – PROCEDIMENTO DE COLAÇÕES


FLUXOGRAMA 14 – PROCEDIMENTO DE PAGAMENTO DAS
DÍVIDAS

FLUXOGRAMA 15 – PROCEDIMENTO DA PARTILHA JUDICIAL


FLUXOGRAMA 16 – PROCEDIMENTO DO ARROLAMENTO
SUMÁRIO

FLUXOGRAMA 17 – PROCEDIMENTO DO ARROLAMENTO


COMUM
_________
1 Trata-se do denominado direito de saisina, galicismo que corresponde à
expressão francesa droit de saisine; é o direito que os herdeiros têm à
herança, imediatamente após a abertura da sucessão hereditária.
2 Por todos, Pinheiro Carneiro, Comentários ao Código de Processo Civil,
v. IX, t. I, nº 4, p. 13-14.
3 “Art. 28. É admissível inventário negativo por escritura pública.”
4 Súmula 542: “Não é inconstitucional a multa instituída pelo Estado-
membro, como sanção pelo retardamento do início ou da ultimação do
inventário.”
5 Como ocorre no Estado de São Paulo, cf. Resolução 2, de 15.12.76, do
TJSP, art. 54, II, f, e Lei Estadual nº 3.947/83, art. 4º, III, que criou os
denominados foros regionais.
6 STJ, AgRg no AREsp 688.767/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze,
Terceira Turma, julgado em 06/08/2015, DJe 24/08/2015.
7 “A necessidade de nomeação de inventariante dativo decorre ou da
inexistência, incapacidade ou desinteresse explícito das pessoas
indicadas nos incisos I a IV do art. 990 do Código de Processo Civil (e
ainda assim se não houver na comarca inventariante judicial – inciso V),
ou da remoção do inventariante nomeado e inexistência de quem o
substitua” (TJSP, AI 124.172.4/3, São Paulo, 6a Câmara de Direito
Privado, Rel. Des. Antonio Carlos Marcato, julg. 19.8.99, pub. 16.9.99).
8 Comentários ao Código de Processo Civil, v. IX, p. 193-194.
9 Súmula 265 do STF: “Na apuração de haveres, não prevalece o balanço
não aprovado pelo sócio falecido, excluído ou que se retirou.”
10 Cfr. Pinheiro Carneiro, Comentários ao Código de Processo Civil, v. IX,
t. I, no 45, p. 103-105.
11 Súmula 149 do STF: “É imprescritível a ação de investigação de
paternidade, mas não o é a de petição de herança.”
12 Súmula 112: “O Imposto de Transmissão ‘causa mortis’ é devido pela
alíquota vigente ao tempo da abertura da sucessão.”
13 Súmula 113: “O Imposto de Transmissão ‘causa mortis’ é calculado
sobre o valor dos bens na data da avaliação”.
14 Súmula 114: “O imposto de transmissão “causa mortis” não é exigível
antes da homologação do cálculo.”
15 Súmula 115: “Sobre os honorários do advogado contratado pelo
inventariante, com a homologação do juiz, não incide o Imposto de
Transmissão ‘causa mortis’.”
16 Súmula 331: “É legítima a incidência do Imposto de Transmissão ‘causa
mortis’ no inventário por morte presumida.”
17 Súmula 590: “Calcula-se o Imposto de Transmissão ‘causa mortis’ sobre
o saldo credor da promessa de compra e venda de imóvel, no momento
da abertura da sucessão do promitente-vendedor.”
18 Sobre o tema confira-se, por todos, Antonini, Código Civil Comentado,
p. 2179 e ss.
19 Sucessões, nº 241, p. 315; v., ainda, Oliveira, Colação e sonegados, in
Direito das sucessões e o novo Código Civil, p. 369 ss.; Venosa, Direito
das sucessões, nº 22, p. 224 ss. e Antonini, Código Civil Comentado, p.
2170 a 2172.
20 “(...) Como a colação tem por escopo equalizar as legítimas dos
herdeiros necessários, falece interesse jurídico à viúva meeira para o
ajuizamento das ações de sonegados, visto que estes não serão
acrescidos à sua meação.” (STJ, REsp 1390022/RS, Rel. Min. Sidnei
Beneti, Rel. p/ acórdão Min. João Otávio de Noronha, Terceira Turma,
julg. 19/08/2014, DJe 08/09/2014).
21 V., a respeito, Antonini, Código Civil Comentado, p. 2170 e 2171.
22 REsp 1196946/RS, Rel. Min. Sidnei Beneti, Rel. p/ acórdão Min. João
Otávio de Noronha, Terceira Turma, julg. 19/08/2014, DJe 05/09/2014.
23 Sobre a partilha e suas modalidades, consulte-se Amorim e Oliveira,
Inventários e partilhas – Direito das Sucessões, teoria e prática, p. 111;
Venosa, Direito das sucessões, no 25, p. 381 ss.
24 Orlando Gomes, Sucessões, no 251, p. 326-327. Sobre essa partilha,
amplamente, cfr. Antonini, Código Civil Comentado, p. 2200 a 2202.
25 STF, ARE 859955 ED, Relator Min. Dias Toffoli, Segunda Turma, julgado
em 4.8.2015, processo eletrônico DJe-174, divulg. 3.9.2015, publ.
4.9.2015. V., ainda, RE 878694 RG, Relator Min. Roberto Barroso,
julgado em 16.04.2015, DJe-092, publicado em 19.05.2015; STJ, REsp
1299866/DF, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em
25/02/2014, DJe 21/03/2014; Antonini, Código Civil Comentado, p.
2.014/2.020.
26 Súmula 149: “É imprescritível a ação de investigação de paternidade,
mas não o é a de petição de herança.”
Capítulo VII
EMBARGOS DE TERCEIRO

167. Responsabilidade patrimonial


Não corresponde à realidade jurídica a previsão do art. 391 do
Código Civil, no sentido de que todos os bens do devedor respondem
pelo inadimplemento de suas obrigações. Primeiro, porque é vedado
privar-se o devedor de determinados bens que, pela sua destinação,
são indispensáveis à sua própria subsistência e de sua família;
depois, porque o tema da responsabilidade patrimonial deve ser
examinado à luz do processo judicial, seja em cumprimento de
sentença, seja na execução fundada em título executivo extrajudicial.
Por isso mesmo, na esteira do art. 591 do CPC/1973, ao cuidar
dessa responsabilidade do executado o CPC dispõe, em seu art. 789,
que ele responde, para o cumprimento de suas obrigações, com
todos os seus bens, presentes e futuros, salvo as restrições
estabelecidas em lei, pertinentes aos bens impenhoráveis, como são
os indicados em seus arts. 832 e 833 e, ainda, o bem de família (Lei
nº 8.009/90).
Essa responsabilidade resulta da circunstância de o patrimônio
do devedor representar, para o credor, a garantia única do
cumprimento da obrigação, se e quando não dispuser de outra,
fidejussória ou real; e, inadimplida a obrigação, pode o credor
reclamar a atividade executiva do Estado (CPC, arts. 523 e 824 ss) e
assim obter a satisfação de seu crédito. Por outras palavras, a
atividade executiva estatal tem por objetivo propiciar ao credor, sem a
necessidade da colaboração direta do devedor, dentro do
praticamente possível, o resultado concretamente almejado pelo
ordenamento jurídico; para atingir tal resultado, o Estado-juiz submete
o patrimônio do devedor a atos de constrição (penhora, arresto,
sequestro etc.) e de expropriação (art. 825), objetivando a satisfação
do credor, seja pela obtenção do próprio bem da vida a que tenha
direito, seja pela adoção da técnica da conversão do bem constrito
em equivalente pecuniário.
Como essa atividade estatal impõe sacrifícios patrimoniais ao
devedor, ela sofre limitações legais, em atenção quer à natureza do
bem (bem público, bem impenhorável), quer à necessidade de
preservar-se bens destinados à subsistência do devedor e sua família
ou ao exercício de sua profissão. No entanto, outras limitações
podem ser impostas pelo próprio devedor, ao opor resistência
injustificada ao cumprimento da obrigação, ocultando ou alienando
bens, descumprindo determinações judiciais, enfim, criando
obstáculos ao sucesso da atividade executiva estatal. E, nessa
hipótese, poderão vir a ser objeto de constrição judicial não apenas
os bens pertencentes ao devedor, mas, igualmente, aqueles que
pertençam ou se encontrem em poder de terceiros estranhos à
execução, mas que a ela fiquem sujeitos, seja porque adquiridos com
evidente intuito de frustrá-la (v.g., fraude à execução – CPC, art. 674,
§ 2º, inc. II), seja porque referidos terceiros estejam obrigados, pela
lei ou em virtude de contrato, a responder patrimonialmente pela
satisfação da dívida (idem, inc. III), seja, ainda, porque o terceiro
simplesmente os possua na qualidade de comodatário, locatário,
depositário etc. (art. 790).
Pode suceder, por outro lado, de terceiro sem qualquer
responsabilidade pelo cumprimento da obrigação e totalmente
estranho ao processo, vir a ser afetado pela constrição judicial de
bem ou direito seu (CPC, art. 674), caso em que a lei lhe confere o
remédio jurídico dos embargos de terceiro. Busca o embargante, ao
propor essa ação, a obtenção de tutela jurisdicional de natureza
inibitória (no caso de ameaça de constrangimento patrimonial) ou
desconstitutiva (já concretizado o ato constritivo), com o fito de excluir
o bem ou direito seu da ilegítima constrição judicial, realizada em
qualquer processo ou procedimento judicial do qual não participe, ou,
dele participando, tenha reconhecida a sua condição de terceiro (art.
674, § 2º).1
168. Legitimidades ativa e passiva para a ação de
embargos de terceiro
Na ausência de adequada normatização legal, algumas
controvérsias sobre o tema da legitimidade para a ação de embargos
de terceiro vêm sendo solucionadas pela doutrina e jurisprudência,
como se passa a demonstrar.

168.1 Legitimidade ativa: nos termos do art. 674, caput, do CPC,


está ativamente legitimado a opor os embargos de terceiro todo
aquele que, não sendo parte no processo, estiver sujeito à ameaça
de vir a sofrer – ou já tenha sofrido – a turbação ou esbulho na posse
de seus bens, por ato de apreensão judicial, em casos como o de
penhora, depósito, arresto, sequestro, alienação judicial,
arrecadação, arrolamento, inventário e partilha.
Nessa condição estão incluídos, por exemplo, o promitente-
comprador do imóvel, ainda que o instrumento do compromisso esteja
desprovido de registro,2 a sociedade de responsabilidade limitada, na
defesa de quotas penhoradas em processo de execução em que
sócio figura como executado,3 o credor de bem dado em garantia,
com posse indireta, pela tradição ficta,4 os ocupantes de imóvel
penhorado em execução envolvendo quotas condominiais devidas
exclusivamente pelo anterior condômino,5 o donatário, beneficiado
com doação verbal antes do ajuizamento da execução contra o
doador,6 o ex-cônjuge, na defesa de bem objeto de partilha judicial
anterior à penhora.7
Equiparam-se ao terceiro, ainda, para o fim de apuração de
legitimidade ativa para os embargos, tanto a parte que, mesmo
figurando nessa condição no processo no qual se praticou o ato de
constrição, defenda bens que, pelo título de sua aquisição ou pela
qualidade em que os possui,8 não são suscetíveis de apreensão
judicial, quanto as pessoas indicadas nos incisos do § 2º do art. 674
do CPC, merecendo destaque as seguintes situações:
a) tem legitimidade ativa o cônjuge ou companheiro que defenda
a posse de bens próprios ou de sua meação,9em relação à exclusão
de bens que integram a meação prevalecendo as seguintes
orientações jurisprudenciais: (i) se ele pretende impugnar a pretensão
executiva, deverá valer-se dos embargos à execução; (ii) se almeja
apenas a exclusão da penhora sobre sua meação, valer-se-á de
embargos de terceiro (embora também se admita, nesse caso, a
utilização de embargos à execução, sendo ela fundada em título
executivo extrajudicial);10 (iii) se na execução os cônjuges figuram
como litisconsortes passivos, porque ambos contraíram a obrigação,
nenhum deles poderá opor embargos de terceiro, devendo valer-se,
isto sim, dos embargos à execução;11 (iv) os embargos de terceiro
opostos com o intuito de defender direito a meação de bem
penhorado somente suspendem o curso da execução após a
arrematação e apenas em relação à meação do cônjuge
embargante.12
Nos termos do art. 843 e §§ do CPC, se o bem penhorado e
posteriormente alienado for indivisível, ao coproprietário ou ao
cônjuge alheio à execução é assegurado o direito de preferência na
arrematação do bem, em igualdade de condições com o terceiro
licitante. Não exercido esse direito, do produto da alienação será
então reservado, àquele coproprietário ou cônjuge, o valor equivalente
à sua quota-parte do bem; todavia, não será concretizada a
expropriação do bem por preço inferior ao da avaliação, se o valor
auferido for incapaz de garantir, ao coproprietário ou ao cônjuge
alheio à execução, o correspondente à sua quota-parte, calculado
sobre o valor da avaliação;
b) são também ativamente legitimados (i) as pessoas que
mantenham união estável, seja para a exclusão de bem próprio, seja
na defesa de bem de família (Lei nº 8.009/90), (ii) o terceiro na
defesa da sua posse, nas ações de divisão ou de demarcação, se o
imóvel estiver sujeito a atos materiais, preparatórios ou definitivos da
partilha ou fixação de rumos, (iii) o adquirente de bem objeto de
alienação posteriormente declarada ineficaz, por ter sido considerada
resultante de fraude à execução, (iv) aquele que, mesmo não tendo
participado do incidente de desconsideração da personalidade, em
razão dela teve seu bem sujeito à constrição judicial e, ainda, (v) o
credor com garantia real (hipoteca, penhor ou anticrese) que queira
obstar a alienação judicial do bem objeto daquela (CPC, art. 674, §
2º, II a V). Em suma, a legitimidade ativa é reconhecida em regra à
pessoa que não é parte no processo (quer porque nunca o foi, quer
porque dele foi excluída) e não tenha, a qualquer título,
responsabilidade pelo cumprimento da obrigação.13

168.2 Legitimidade passiva: solucionando controvérsia existente


em sedes doutrinária e jurisprudencial, no § 4º de seu art. 677 o CPC
reconhece legitimidade passiva tanto à parte que figura como autora
ou credora no processo principal (rectius: processo original14) em
que se deu a constrição de bem do terceiro, ou seja, aquela a quem
aproveita o ato de constrição, quanto seu adversário no processo
principal, quando for sua a indicação do bem objeto da constrição.

Exemplificando: (i) no cumprimento de sentença, o exequente


indica o bem a ser penhorado (CPC, art. 524, VII) e,
concretizada a constrição, ele figurará como réu
(embargado) nos embargos opostos pelo terceiro que se
intitule possuidor ou proprietário do bem constrito; (ii)
executado o espólio, a penhora recai sobre bem de terceiro
indicado pelo inventariante (v. art. 646), hipótese em que
deverão figurar como embargados, em litisconsórcio
necessário, o espólio executado e o exequente, pois,
acolhidos os embargos, ambos serão prejudicados pela
exclusão do bem que garantia a execução.

169. Finalidades dos embargos de terceiro


Terceiro não responsável pela obrigação ou por seu cumprimento
poderá, não obstante, ter um bem ameaçado de constrição judicial
em determinado processo, ou a ela já submetido, podendo valer-se
dos embargos, nessas contingências, seja para impedir a
concretização da ameaça, seja para liberar o bem já constrito.15 O
mesmo se dá em relação ao terceiro que, mesmo não sendo
possuidor ou proprietário do bem, tenha sobre ele direito incompatível
com o ato constritivo, como é o caso do credor hipotecário que busca
liberar da penhora imóvel objeto da garantia real.
Os embargos de terceiro têm, portanto, finalidade preventiva ou
liberatória, prestando-se tanto a impedir que a ameaça de constrição
judicial sobre determinado bem do terceiro se concretize, quanto, já
concretizada, a liberá-los do ato constritivo. Por meio deles o
embargante busca, em suma, obter tutela jurisdicional que proteja sua
posse, domínio ou outro direito sobre o bem constrito ou ameaçado
de constrição em determinado processo, impedindo a concretização
da ameaça ou desconstituindo o ato constritivo já consumado. Não se
limitam ao processo civil, sendo admissíveis também em relação a
processo penal ou trabalhista em que ocorra – ou possa vir a ocorrer
– ato de constrição judicial.
Variadas situações dão ensejo a debates sobre a admissibilidade
dos embargos de terceiro.
Recaindo a constrição judicial sobre bem compromissado à
venda, sem que o respectivo compromisso tenha sido levado a
registro, é possível a oposição de embargos pelo promitente-
comprador, conforme enunciado da Súmula 84 do STJ,16 que afastou
a incidência da precedente Súmula 621 do STF.17 Ainda há
divergências sobre a admissibilidade de oposição dos embargos pelo
terceiro que adquire bem penhorado,18 mas já se consolidou em sede
jurisprudencial o entendimento de que eles não se prestam à anulação
de ato jurídico por fraude contra credores.19

169.1 Embargos de terceiro e oposição: v., infra, nº 179.

170. Momentos para a oposição dos embargos de


terceiro
Dois são os momentos estabelecidos pelo art. 675 do CPC para
a oposição dos embargos de terceiro: (i) no caso de turbação ou
esbulho resultante de ato de constrição em processo de
conhecimento, é possível sua oposição a qualquer tempo, a partir da
data em que se concretizou a ofensa à posse, mas antes do trânsito
em julgado da sentença; (ii) no cumprimento de sentença ou no
processo de execução, poderão ser opostos até cinco dias após a
alienação do bem, sua adjudicação ou arrematação (v. arts. 825 e
876), mas sempre antes da assinatura da respectiva carta.
Inovação interessante é contemplada no parágrafo único do art.
675: constatando a existência de terceiro titular de interesse em
embargar (v.g., o locador do executado, se a penhora recaiu sobre o
imóvel locado), o juiz ordenará sua intimação pessoal a fim de que
possa, sendo o caso, opor os embargos.

171. Juízo competente


Na dicção do art. 676 do CPC, é competente para o
processamento dos embargos o mesmo juízo que ordenou a
apreensão do bem, ou seja, aquele em que se determinou a
expedição do mandado de penhora ou de apreensão. Concretizado o
ato de constrição em cumprimento a carta precatória, os embargos
serão opostos no juízo deprecado, salvo se o bem constrito foi
indicado pelo deprecante ou se a ele já se devolveu a carta.
Opostos os embargos pela União ou qualquer de suas autarquias
ou fundações, desloca-se para a Justiça Federal a competência para
seu processamento e julgamento, ainda que o processo no qual se
deu o ato de constrição tenha sido instaurado perante a Justiça
Estadual (CF, art. 109). Mas se o ato de constrição é ordenado por
juiz estadual no exercício de competência federal, os embargos
deverão ser opostos perante o respectivo juízo, não no juízo
federal.20
172. Ajuizamento dos embargos e citação do
embargado
Conforme já registrado, os embargos de terceiro são ação
autônoma, dando vida a processo incidente àquele (o original) no qual
se realizou – ou se pretende realizar – o ato de constrição judicial.
Processam-se em autos apartados e são opostos por petição
que preencha todos os requisitos enumerados no art. 319 do CPC,21
nela devendo o embargante fazer prova sumária de sua posse ou
domínio e de sua qualidade de terceiro, oferendo documentos e
apresentando, sendo o caso, o rol de testemunhas (art. 677). Não
podendo comprovar documentalmente sua qualidade de possuidor,22
o embargante deverá fazê-lo por meio de testemunhas, em audiência
preliminar a ser designada pelo juiz (§ 1º); se não for o proprietário do
bem, mas somente seu possuidor direto, alegará, com sua posse, o
domínio alheio (CC, art. 1.197; CPC, art. 677, § 2º).

Essa audiência preliminar tem por único objetivo possibilitar


ao embargante a comprovação de sua qualidade de
possuidor, proprietário ou titular de outro direito sobre o bem.
Ofertada contestação pelo embargado e adotado o
procedimento comum para o trâmite processual (CPC, art.
679), outras provas orais porventura necessárias serão
produzidas em audiência de instrução e julgamento (arts. 358
e ss.).

Examinada a inicial, o juiz irá rejeitá-la liminarmente, sendo o


caso (CPC, art. 330); deferindo-a, ordenará a citação pessoal do
embargado na pessoa de seu procurador ou, não o tendo,
pessoalmente.

173. Suspensão das medidas constritivas e a


manutenção ou reintegração do embargante na
posse do bem
Distanciando-se do CPC/1973, que em seu art. 1.051 prevê, uma
vez julgada suficientemente provada a posse, o deferimento liminar
dos embargos pelo juiz, com ordem de expedição de mandado de
reintegração ou manutenção sujeita à prévia prestação de caução
pelo embargante, o art. 678 do Código atual estabelece que, atendido
o requisito da suficiente comprovação do domínio ou da posse do
embargante sobre o bem constrito, o juiz determinará a suspensão
das medidas constritivas (penhora, arrestou ou sequestro); e se
houver expresso requerimento, daí sim também determinará a
manutenção ou reintegração provisória da posse do bem –
condicionada a respectiva ordem, contudo, à prestação de caução
pelo embargante, salvo se, reconhecida sua condição de
hipossuficiente, não puder prestar a garantia.
Apesar de o CPC não conter previsões similares à do art. 1.052
do CPC/1973, tem-se que, determinada a suspensão da medida
constritiva em relação ao bem constrito ou à totalidade dos que
estiverem incluídos no ato de constrição e os embargos versarem
sobre aquele ou sobre todos, o processo original terá seu curso
suspenso; limitada a suspensão da medida constritiva a apenas um ou
alguns dos bens, prosseguirá o processo original em relação aos
liberados.

174. Contestação e adoção do procedimento comum


Citado, o embargado poderá ofertar contestação no prazo de
quinze dias, adotado, agora, o procedimento comum, com a
designação de audiência de instrução e julgamento, havendo
necessidade de produção de provas (CPC, art. 679 – v. arts. 358 e
ss.); ou, caso contrário, com o julgamento antecipado do mérito dos
embargos (art. 355, inc. I). Não ofertada contestação – e
configurada, por consequência, a revelia do embargado –, igualmente
caberá o julgamento antecipado (idem, inc. II – v. art. 344).

175. Julgamento dos embargos de terceiro


Acolhidos os embargos e já concretizada a manutenção ou
reintegração provisória da posse (art. 678, caput), o ato de
constrição judicial será cancelado, com o reconhecimento, se
requerido pelo embargante, (i) de seu domínio sobre a coisa, (ii) ou
da manutenção da posse ou (iii) da reintegração definitiva do bem ou
do direito sobre ele (art. 681), liberando-se a caução prestada; se
tais medidas provisórias protetivas da posse não tiverem sido
requeridas pelo embargante, nem ordenadas liminarmente pelo juiz,
este determinará a expedição do correspondente mandado.
Arcará com o pagamento da verba honorária a parte que deu
causa à constrição indevida,23 inclusive o próprio embargante, se por
falta sua houver ocorrido o ato constritivo (princípio da causalidade),
como, por exemplo, se adquiriu o imóvel constrito mas deixou de levar
a registro a transferência da propriedade na matrícula imobiliária,
omissão que permitiu a conclusão de que o bem ainda permanecia na
propriedade do alienante, réu ou executado no processo original.24

176. Embargante com garantia real


Nas dívidas garantidas por penhor, anticrese ou hipoteca, o bem
dado em garantia fica sujeito, por vínculo real, ao cumprimento da
obrigação (CC, art. 1.419). A garantia real confere ao credor,
portanto, o direito de obter o pagamento da dívida com o valor do
bem a ela submetido, ou seja, garante-lhe o recebimento da dívida,
por estar o bem vinculado ao seu pagamento; consequentemente, o
credor com garantia real tem direito de preferência à satisfação de
seu crédito. Daí a razão de o art. 680 do CPC dispor que, nos
embargos opostos por esse credor, o embargado somente poderá
alegar, em sua defesa, ser insolvente o devedor comum, ser nulo o
título gerador da garantia real ou não obrigar a terceiro ou,
finalmente, ser outra a coisa dada em garantia, não aquela objeto dos
embargos.
Sendo insolvente o devedor comum, isto é, aquele obrigado com
o embargante e com o embargado, a este é possível contestar os
embargos, demonstrando a situação patrimonial do primeiro ou a
inexistência de outros bens a penhorar.
Pode o embargado ainda sustentar em sua contestação ser nulo
o título constitutivo da garantia real, ou não obrigar a terceiro, ou seja,
não gerar para o embargante qualquer direito de crédito preferencial.
O título será nulo na ocorrência de qualquer das hipóteses previstas
no art. 166 do Código Civil e não obrigará a terceiros quando ausente
qualquer dos requisitos exigidos pelos arts. 221, 288, 1.424 e 1.492
do mesmo diploma legal.
Finalmente, ele também poderá alegar que a coisa dada em
garantia não é aquela objeto dos embargos.

FLUXOGRAMA 18 – PROCEDIMENTO DOS EMBARGOS DE


TERCEIRO
_________
1 V. a respeito, Donaldo Armelin, Embargos de terceiro, nº 4.1 a 44, p. 125
a 252.
2 Súmula 84 do STJ: “É admissível a oposição de embargos de terceiro
fundados em alegação de posse advinda do compromisso de compra e
venda de imóvel, ainda que desprovido do registro.”
3 REsp 285.735/MG, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, Terceira
Turma, julgado em 20/08/2001, DJ 01/10/2001, p. 210; REsp 30854/SP,
4ª Turma, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, julg. 8.3.94, DJU
18.4.94, p. 8500.
4 REsp 908.137/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em
20/10/2009, DJe 17/11/2009, REPDJe 20/11/2009.
5 AgRg no REsp 1196373/SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva,
Terceira Turma, julgado em 20/05/2014, DJe 02/06/2014.
6 REsp 223424/GO, 4ª Turma, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira,
julg. 14.9.99, DJU 25.10.99, p. 94.
7 EDcl no Ag 1180270/SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Quarta
Turma, julgado em 10/05/2011, DJe 19/05/2011; AgRg no REsp
1031368/MG, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Primeira Turma, julgado
em 04/08/2009, DJe 13/08/2009.
8 Por exemplo, o inquilino executado, recaindo a penhora sobre o bem a
ele locado.
9 Súmula 251 do STJ: “A meação só responde pelo ato ilícito quando o
credor, na execução fiscal, provar que o enriquecimento dele resultante
aproveitou ao casal.”
10 Súmula 134 do STJ: “Embora intimado da penhora em imóvel do casal,
o cônjuge do executado pode opor embargos de terceiro para defesa de
sua meação.” Confira-se, na doutrina, Araken de Assis, Manual do
processo de execução, nºs 224-225, p. 715 ss.
11 Cfr. Figueiredo Teixeira, Código de Processo Civil anotado, notas ao art.
1.046.
12 Por todos: STJ, AgRg no Ag 1084508/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
Quarta Turma, julgado em 3.9.09, DJe 21.9.09.
13 Cfr. Cintra Pereira, Dos embargos de terceiro, p. 29. V., ainda, Donaldo
Armelin, Embargos de terceiro, nº 4.4.2, p. 188 a 231.
14 A utilização, pelo CPC, das expressões ação principal e processo
principal pode gerar a equivocada conclusão de que os embargos
tenham natureza acessória. Trata-se, na realidade, de ação autônoma,
dando vida a processo incidente àquele em que se concretizou o ato de
constrição, ou seja, o processo original.
15 Se a posse foi ofendida por ato de outro particular, os embargos de
terceiro são inadequados para a solução do litígio, restando ao
prejudicado pelo esbulho ou turbação valer-se da correspondente ação
possessória.
16 Súmula 84: “É admissível a oposição de embargos de terceiro fundados
em alegação de posse advinda do compromisso de compra e venda de
imóvel, ainda que desprovido do registro.”
17 Súmula 621: “Não enseja embargos de terceiro à penhora a promessa
de compra e venda não inscrita no Registro de Imóveis.”
18 Não obstante a opinião doutrinária sustentando a desnecessidade de
registro da penhora para a caracterização da fraude à execução,
prevalece a orientação enunciada na Súmula 375 do STJ: “O
reconhecimento da fraude à execução depende do registro da penhora
do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente.”.
19 Súmula 195 do STJ: “Em embargos de terceiro não se anula ato
jurídico, por fraude contra credores.”
20 Nesse sentido, a correta posição de Marinoni, Cruz Arenhart e Mitidiero,
Novo curso de processo civil, nº 7.6, p. 221.
21 Há dúvida quanto ao valor a ser atribuído à causa. Prevalecem as
seguintes posições: o valor será o correspondente ao do bem que se
pretende libertar do ato de constrição; se o ato de constrição ocorreu no
processo de execução, o valor equivalerá, na correta lição de Amaro de
Souza, ao crédito exequendo (Valor da causa nos embargos de terceiro,
RePro nº 35, ano 9, abr./jun. 1984, p. 239-248). A respeito confira-se,
ainda, a posição de Cintra Pereira, Código de Processo Civil
Interpretado, nota ao art. 1.050.
22 É evidente que a prova do domínio sobre bem imóvel só poderá ser feita
documentalmente com a apresentação de certidão fornecida pelo
cartório de registro imobiliário.
23 Súmula 303 do STJ: “Em embargos de terceiro, quem deu causa à
constrição indevida deve arcar com os honorários advocatícios.”
Exemplo apresentado por Marinoni, Cruz Arenhart e Mitidiero, ob. cit., nº
24
7.7, p. 223.
Capítulo VIII
OPOSIÇÃO

177. Natureza jurídica da oposição


Regulada pelo CPC/1973 como modalidade interventiva de
terceiros, no CPC a oposição integra o rol dos procedimentos
especiais contenciosos.
Essa inclusão ensejou questionamento quanto à sua pertinência,
sob o argumento de nada haver de especial no procedimento
regulado pelos arts. 682 a 686;1 no entanto, já na vigência do
CPC/1973 sustentava-se ser incorreta a inserção da oposição como
modalidade interventiva de terceiro, pois enquanto o terceiro
interveniente, embora legitimado a intervir, “ingressa em processo
pendente entre outras partes, sem exercer direito de ação próprio ou
de outrem”, a oposição não é propriamente modalidade interventiva
de terceiro, tanto que o oponente exerce ação contra o autor e réu
primitivos; daí não ser terceiro, mas autor de outra demanda
considerada prejudicial da primeira.”2 Além disso, a oposição
autônoma dá origem a um novo processo, no qual o opoente figura
como sujeito ativo e, os opostos, sujeitos passivos, sem integrar (sem
intervir) a relação jurídica processual do primeiro processo. E apesar
de a oposição autônoma dever ser processada com a observância do
procedimento comum, a interventiva apresenta peculiaridades que
justificam a especialidade procedimental, como, por exemplo, a
formação de litisconsórcio passivo ulterior e anômalo entre autor e
réu-oposto.
Dispensadas outras considerações sobre essa questão, desde
logo se esclarece que se trata de ação pela qual terceiro, estranho a
um processo em curso, deduz pretensão em relação à coisa ou ao
direito nele discutido entre autor e réu (os opostos), sustentando que
lhe pertence, total ou parcialmente; ou, na definição de Dinamarco, “é
a demanda mediante a qual terceiro deduz em juízo pretensão
incompatível com os interesses de autor e réu de um processo
cognitivo pendente.”3
Com o oferecimento da oposição ocorrerá não apenas a
ampliação do objeto do processo – ao juiz agora também competindo
julgar os pedidos do opoente –, como ainda a formação de
litisconsórcio entre as partes originárias, agora denominados opostos.

177.1 Oposição como demanda bifronte: por meio da oposição o


opoente deduz dois pedidos, respectivamente em face do autor e do
réu opostos; em relação ao autor-oposto, esse pedido terá natureza
declaratória, positiva ou negativa e, em face do réu-oposto, natureza
condenatória, declaratória negativa, ou eventualmente constitutiva,
dependendo da natureza do pedido formulado pelo autor.

Exemplificando: em ação reivindicatória proposta pelo autor,


em relação a ele a oposição terá natureza declaratória
negativa e, em relação ao réu-oposto, natureza condenatória;
em ação de adjudicação compulsória, o pedido do opoente
em face do autor-oposto será declaratório negativo e
constitutivo em relação ao réu-oposto.

178. Modalidades de oposição


Incidente típico do processo de conhecimento, a oposição pode
ser oferecida a qualquer momento antes do advento da sentença,
tanto em processos reivindicatórios, sustentando o opoente ser titular
do direito de propriedade sobre o bem reivindicando, como ainda
naqueles versando direitos pessoais, buscando o reconhecimento de
seu direito sobre o crédito disputado pelos opostos.
Mesmo diante da confusa redação de seu art. 685 e parágrafo,
tudo indica que o CPC também prevê, tal qual o CPC/1973 em seus
arts. 59 e 60, a oposição interventiva e a oposição autônoma.
178.1 Oposição interventiva: ajuizada antes do início da audiência
de instrução do processo em curso, a oposição será processada
conjuntamente com a ação originária, nesse mesmo processo,
embora em autos apensados,4 operando-se, nesse caso, o cúmulo
objetivo dessas demandas.
Com a oposição interventiva amplia-se o objeto do processo em
curso, que agora se desenvolve para o julgamento de três ações: a
original, proposta pelo autor em face do réu e tendo por objeto o bem
da vida por ele reclamado; a do opoente em face do autor-oposto,
pretendendo a rejeição do pedido por ele deduzido em face do réu,
ou seja, a declaração de que ele, autor, não tem direito ao bem que
reclama; e, finalmente, a do opoente em face do réu-oposto, tendo
por objeto o mesmo bem da vida que este reclama.
O processo instaurado por iniciativa do autor também se prestará
agora para o processamento da oposição, ao juiz competindo, assim
que encerrada a instrução, o julgamento conjunto do pedido formulado
na petição inicial e dos pedidos formulados pelo opoente em relação,
respectivamente, ao autor e ao réu – daí falar-se que a oposição é
uma ação bifronte.
Justifica-se, nesse caso, o aproveitamento da base processual já
existente: como ainda não iniciada a fase de coleta de provas em
audiência, esta servirá a seu tempo para a produção daquelas
requeridas oportunamente tanto pelas partes originais (autor e réu
opostos), quanto pelo opoente.

178.2 Oposição autônoma: sendo proposta depois do início da


audiência de instrução, a oposição dará vida a novo processo, com
seus próprios autos. Encerrada a instrução probatória no processo
original, este terá seu curso suspenso no aguardo do processamento
completo da oposição, com o objetivo de propiciar o julgamento
conjunto, em sentença única, da ação original e da oposição. Como
essa suspensão não poderá exceder a um ano (CPC, art. 313, V, a e
§ 4º), esgotado o prazo o juiz julgará a ação original e,
posteriormente, a seu tempo, a oposição – e, nesse caso, o opoente
não ficará submetido aos efeitos da primeira sentença, pois terceiro
em relação ao processo no qual foi proferida (CPC, art. 506)
Ainda estando em curso a fase instrutória do processo original, o
juiz poderá concluir que a unidade da instrução melhor atenderá ao
princípio da duração razoável do processo, hipótese em que
determinará não a suspensão do processo original, mas, sim, a coleta
das provas relacionadas à oposição, igualmente proferindo, ao final,
sentença única.

179. Oposição e embargos de terceiro


Mesmo apresentando pontos de contato,5 as ações de oposição
e de embargos de terceiro são inconfundíveis,6 tanto no que concerne
à estrutura das respectivas relações jurídico-processuais, quanto aos
seus objetos e aos limites subjetivos e objetivos da coisa julgada
material.
Estruturalmente, a relação processual dos embargos de terceiro
é integrada ativamente pelo embargante e passivamente pelo autor
ou credor exequente no processo original – ou, ainda, qualquer
desses dois últimos, em litisconsórcio passivo com seu adversário,
quando for deste a indicação do bem objeto da constrição (CPC, art.
677, § 4º); já na oposição o opoente assume a titularidade ativa,
instaurando-se litisconsórcio passivo necessário entre o autor e o réu
da ação original.
Também são distintos os objetos dessas ações: na oposição o
opoente postula pronunciamento sobre o mérito da ação original, que
é de natureza material, enquanto que os embargos de terceiro têm
como mérito o próprio ato de constrição judicial que se pretende
evitar ou desconstituir.
Finalmente, nos embargos opera-se a coisa julgada material
exclusivamente em relação à decisão inibitória ou desconstitutiva do
ato de constrição, sem refletir nos fundamentos de direito material
objeto da ação original, ao passo que, na oposição ela tornará imune
a futuras impugnações, por qualquer das partes (opoente ou
opostos), o quanto decidido tanto em relação à ação, quanto à
oposição.

180. A facultatividade da oposição


Tomando conhecimento da existência de processo judicial
envolvendo coisa ou direito de que entenda ser titular, poderá o
interessado simplesmente aguardar o término do processo e,
posteriormente, ajuizar sua própria ação em face do vitorioso,
reivindicando para si, total ou parcialmente, aquela coisa ou aquele
direito, pois não fica submetido à autoridade da coisa julgada material
(CPC, art. 506); ou, então, ingressar no processo deduzindo a
oposição, iniciativa que, podendo prestar-se ao atendimento de
necessidade imediata do opoente (v.g., a concessão de uma tutela
provisória), traz em si o risco de vir ele a sucumbir ao final,
sujeitando-se, agora sim, àquela autoridade (art. 682).
Essa facultatividade não significa que o terceiro necessariamente
ficará imune a eventuais prejuízos colaterais advindos do resultado do
processo no qual, podendo, não interveio como opoente. Assim, por
exemplo, se o vencedor da ação em que se disputa a posse de
determinado bem, vier posteriormente a ocultá-lo, destruí-lo ou
consumi-lo, impedindo o legítimo possuidor (terceiro que não interveio
como opoente no processo anterior) de tê-lo e dele extrair os frutos e
vantagens.7

181. Propositura da oposição: petição inicial e citação


dos opostos
Como a oposição tem natureza jurídica de ação, o opoente
deverá elaborar petição que atenda aos requisitos do art. 319 do
CPC. Atribuída por dependência ao juízo perante o qual se processa
a ação original, os opostos serão citados na pessoa de seus
advogados, para a oferta de contestação no prazo comum de 15 dias
(art. 683).
Cinco observações:
a) apesar da dicção do parágrafo único do art. 683, não haverá
distribuição da oposição. A distribuição deve ser alternada e aleatória
(CPC, art. 285, caput), mas a oposição necessariamente será
atribuída a juízo certo e determinado, aquele perante o qual já se
processa a ação originária. Trata-se, portanto, de atribuição por
dependência ao órgão jurisdicional com competência já preventa (art.
59);
b) não atendidos os requisitos do art. 319 ou evidenciada de
plano a ilegitimidade ou a falta de interesse processual do opoente, o
juiz deverá rejeitar de plano a oposição e, sendo ela autônoma,
dúvida não há quanto à natureza sentencial do ato judicial de
indeferimento (CPC, art. 485, inc. I), a comportar apelação (art.
1.009).
Já o indeferimento da petição de oposição interventiva (ou
incidente) suscita fundadas dúvidas quanto à natureza do respectivo
ato judicial e do recurso cabível. Apesar da tentativa em afastar o
dissenso envolvendo atos que se enquadram nas categorias tanto de
decisão interlocutória quanto de sentença, explicitando a natureza e
conteúdo de uma e outra em seu art. 203, o CPC não escapa da
armadilha – como, de resto, não escapou o CPC/1973 – resultante da
peculiar natureza de determinados atos decisórios, com o
consequente reflexo na esfera recursal. Assim, se de um lado o ato
de indeferimento da oposição é decisão interlocutória encartável no §
2º do art. 203 – pois, diversamente da sentença, não “põe fim à fase
cognitiva do procedimento comum”, nem “extingue a execução” (§ 1º)
–, de outro há a previsão do art. 485, inc. I, reconhecendo como
sentença terminativa o ato de indeferimento da petição inicial – e
apelável, portanto (art. 1.009). Mas a se aceitar que esse ato é
decisão interlocutória, em princípio não comportará impugnação
recursal, salvo se, por analogia, aplicar-se o disposto no art. 1.015,
inc. IX, prevendo o cabimento de agravo de instrumento de decisão
que admite ou rejeita intervenção de terceiros;
c) relativamente à citação dos opostos, prevalece a regra
especial estampada no parágrafo do art. 683 do CPC, afastada a
incidência da geral contida em seu art. 105, ao exigir a outorga de
poderes específicos para o procurador receber citação em nome da
parte constituinte. E são evidentes os motivos determinantes dessa
dispensa: além de ser incomum, na prática forense, a outorga desse
poder ao patrono da parte, principalmente quanto outorgante é o
autor, a citação dos opostos poderá ser concretizada mediante a
intimação direta de seu patrono, inclusive eletronicamente, sendo o
caso – tal como ocorre, aliás, na citação do autor reconvindo (art.
343, § 1º);
d) se o réu-oposto já for seja revel no processo original e não
tiver advogado constituído,8 sua citação será feita por edital (CPC,
art. 256), exceto se sua defesa já estiver a cargo de Defensor
Público (art. 72, inc. II e parágrafo único), na pessoa do qual será
feita a citação;
e) por ser comum e próprio, o prazo para a oferta de
contestação não será computado em dobro, apesar de os opostos
serem litisconsortes e, certamente, terem advogados diferentes
(CPC, art. 229);

182. A relação litisconsorcial


Citados os opostos, entre eles instaura-se litisconsórcio passivo
(originário ou ulterior), necessário, anômalo e unitário. Passivo, pois
os opostos assumirão em relação ao opoente a condição de réus;
necessário, pois a validade da sentença dependerá da citação de
ambas as partes da ação original (CPC, art. 115, inc. I); anômalo (ou
anormal), pois sendo adversários na ação original, autor e réu
posicionam-se como litisconsortes passivos em relação ao opoente;
unitário porque, em relação à pretensão deduzida pelo opoente,
deverá o juiz decidir de modo uniforme para os opostos (art. 116).
Relativamente à unitariedade litisconsorcial, vale o alerta de que
ela não deve ser entendida no sentido de “julgar de modo igual as
situações dos litisconsortes, ditando para ambos um destino só. O
que está na base da unitariedade do litisconsórcio é a imperiosidade
da coerência no trato destinado a eles.” Portanto, essa “unitariedade
do litisconsórcio entre opostos significa que não se pode chegar a
soluções incoerentes, como p. ex. julgar procedente a oposição para
afastar a pretensão do oposto-autor mas declarar inadmissível o
julgamento do mérito no tocante à pretensão do opoente perante o
oposto-réu. O julgamento da oposição, como um todo, é que há de
ser uno para os opostos.”9
Na oposição autônoma os opostos já figuram como réus no
momento da instauração do processo e, consequentemente, o
litisconsórcio passivo é originário; na interventiva, a relação
litisconsorcial passiva surge no curso do processo, daí denominar-se
ulterior.

183. Os comportamentos dos opostos


Apesar de o parágrafo único do art. 683 do CPC referir-se
apenas à contestação, assim que citados qualquer dos opostos
poderá, se for o caso, reconhecer a procedência do pedido do
opoente, valer-se da reconvenção ou permanecer revel, esses
comportamentos gerando as consequências que se passa a
examinar.

183.1 Reconhecimento da procedência da oposição: seja a


interventiva, seja a autônoma, qualquer dos opostos poderá vir a
reconhecer a procedência da oposição (art. 684), com as seguintes
consequências:
a) reconhecimento pelo autor-oposto: ao reconhecer o direito
afirmado pelo opoente, o autor também reconhece não ter esse
mesmo direito em relação ao réu, o que implica, ipso facto, renúncia
à pretensão deduzida na ação original. Encerra-se então o litígio
existente entre os opostos, com a homologação, por decisão
interlocutória de mérito, do reconhecimento feito pelo autor (CPC,
arts. 354, parágrafo único e 487, inc. III, a, combs.) O processo
prosseguirá entre o opoente e o réu-oposto, sobrevindo ao final
sentença com o julgamento da oposição.
b) reconhecimento pelo réu-oposto: ele reconhece que não tem,
em relação ao opoente, direito ao bem por este disputado no
processo. Isto não significa, porém, que também esteja reconhecendo
o direito do autor sobre esse mesmo bem, tanto que, se for acolhida
a oposição em relação a este último, o pedido formulado na ação
original certamente será rejeitado em relação a ele, réu-oposto;
rejeitada a oposição, ainda restará ao juiz decidir o pedido formulado
pelo autor da ação original, acolhendo-o ou rejeitando-o. Mas
independentemente da modalidade da oposição, o reconhecimento da
oposição pelo réu-oposto não acarreta a extinção do processo, que
agora prosseguirá entre o opoente e o autor-oposto até que
sobrevenha, ao final, sentença com o julgamento das ações
remanescentes.
Registra-se, por derradeiro, que mesmo diante do
reconhecimento da oposição “não há como excluir o réu do processo,
porque ao final é que se declarará em face de qual dos outros dois
demandantes (autor inicial e opoente) ele terá uma obrigação, a qual
deles reembolsará despesas do processo etc.”;10
c) reconhecimento por ambos os opostos: em sentença única o
juiz homologará o reconhecimento (CPC, art. 487, inc. III, a) e, lógica
e sucessivamente, rejeitará o pedido formulado pelo autor em face do
réu (idem, inc. I).
Evidente que, diante do resultado final do processo, aquela
autoridade deverá levar em conta a postura de cada um dos litigantes
para a distribuição dos ônus sucumbenciais.

183.2 Contestação: sendo a oposição interventiva, assim que


ofertada contestação pelos opostos no processo original este
prosseguirá com a fase instrutória, se necessária e, ao final, o juiz
proferirá sentença, julgando simultaneamente aquela e o pedido
formulado pelo autor na ação original; tendo em vista a relação de
prejudicialidade existente entre a ação e a oposição, esta será
julgada lógica e antecedentemente àquela, não obstante a sentença
seja una (CPC, art. 686). Tratando-se de oposição autônoma, o juiz
poderá suspender o curso do processo original ao fim de sua
instrução, até que o processo da oposição esteja em termos de
julgamento – quando, então, proferirá sentença única (julgamento in
simultaneus processus), observada a ordem lógica e antecedente
aludida (v. parágrafo único do art. 685).

183.3 Reconvenção: o art. 343 faculta ao réu (e, na oposição,


autor e réu opostos assumem essa posição processual) a oferta de
reconvenção, manifestando pretensão própria em face do autor
reconvindo (no caso, o opoente), conexa com a ação principal ou com
o fundamento da defesa. Os opostos serão intimados na pessoa de
seus advogados para a apresentação de resposta (contestação) no
prazo de 15 dias – o qual, por analogia ao art. 683, parágrafo único,
também deverá ser considerado prazo comum e próprio, sob pena de
instaurar-se conflito temporal entre os momentos de oferta da
contestação à oposição e da reconvenção.

183.4 Revelia: decretada a revelia de um dos opostos, ainda assim


não caberá o julgamento antecipado de mérito, pois inocorrente o
efeito previsto no art. 344 em razão da oferta da contestação pelo
outro oposto (CPC, art. 345, inc. I). Sendo revéis ambos os opostos,
em sentença única o juiz julgará antecipadamente todos os pedidos,
acolhendo os do opoente e rejeitando o do autor (art. 355, inc. II),
ressalvadas a intervenção da Defensoria Pública ofertando
contestação em favor de qualquer dos revéis (arts. 72, inc. II,
parágrafo único e 345, inc. I) e a hipótese enunciada no art. 345, inc.
IV, prevendo o afastamento do efeito da revelia.

184. A relação de prejudicialidade entre a oposição e


a ação original
No curso do processo o juiz poderá ver-se na contingência de
enfrentar e solucionar pontos duvidosos (questões), seja para avaliar
a admissibilidade da ação (v.g., ilegitimidade da parte ou ausência de
interesse processual do autor) ou a viabilidade do próprio processo,
enquanto instrumento para o exercício do poder jurisdicional (v.g.,
nulidades insanáveis), seja para julgar o mérito da causa.

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