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A partilha da herança

1-Generalidades

Satisfeitas as dívidas da herança, há que proceder à sua partilha.

No caso de o de cuiús ter casado no regime de comunhão de bens, a partilha da


herança pressupõe prévia partilha dos bens que integram a comunhão conjugal, a qual
se dissolve igualmente em consequência da morte do de cuiús.

Haverá assim primeiro que partilhar o património do casal, para definir meações, só
depois procedendo a partilha da herança, que integrará os bens próprios do de cuiús
como os bens integrantes da sua meação nos bens comuns.

2-O direito de exigir a partilha

Art. 2101\1: O direito de exigir a partilha compete a qualquer dos herdeiros ou ao


cônjuge meeiro, podendo estes fazê-lo quando quiserem.

Nenhum destes interessados será obrigado a manter a herança na indivisão, a menos


que tal seja convencionado.

O artigo 2101\2 determina que o direito de exigir a partilha é irrenunciável, apenas


sendo admitida a possibilidade de ser convencionado que o património hereditário se
manterá indiviso por certo prazo, que não pode exceder 5 anos (por nova convenção
pode ser estendido, sem qualquer limite).

A cláusula da indivisão não está sujeita a forma especial (art. 219).

3-Atribições preferências

Previstas no artigo 2103 A e 2103 B, garante ao cônjuge sobrevivo a preferência, no


momento da partilha, no direito da habitação de família e no direito de uso do recheio,
devendo tornas aos co-herdeiro se o valor dessas for superior à sua parte e, caso
tenha, meação (art. 2103\1 A)).

Caso a casa não faça parte da herança, como no caso de pertencer a terceiro ou ao
próprio cônjuge, continua a ter direito do uso do recheio (art. 2103 B), tendo direito
aos cômodos, ornamentação e utensílio enquanto recheio, nos termos do artigo2103
C).
Este direito ( direito de preferência) extingue-se se a casa não for habitada no prazo
superior a 1 ano (art. 2103\2 A), salvo nos casos em que a lei permite ao arrendatário a
não ocupação do local arrendado (art. 1093\2).

4-Modalidades da partilha

4.1-Generalidades

As modalidades de partilha correspondem á partilha por acordo ou mediante


inventário (art. 2102\1).

A partilha por acordo pode realizar-se por contrato particular, sempre que a
transmissão dos bens não exija forma especial, ou nos cartórios notariais ou nas
conservatórias do registro civil, através dos processos simplificados de sucessão
hereditária.

Já na partilha mediante inventário realiza-se através do processo de inventário (art.


2102\2). O processo de inventário constitui um processo judicial especial previsto no
1082 CPC, sendo competência exclusiva dos tribunais judiciais nos casos referidos no
1083\1 CPC, podendo nos demais casos, ser instaurado em tribunais ou em cartórios
notariais, à escolha dos interessados que o requere ou não por acordo de todos os
interessados (art. 1083\2).

4.2-A partilha por acordo

4.2.1-A partilha por contrato não formal

Apesar da escrita do artigo 2102, não parece que a partilha da herança tenha passado
a ser sempre um ato sempre um ato formal, incluindo os casos não envolvam bens
imóveis.

Interpretação restritiva: A adoção dos processos simplificados de sucessão hereditária


ou da via notarial, só são exigíveis se a herança compreender bens cuja transmissão
exija forma especial. Não havendo bens na herança que exijam forma especial na sua
transmissão, a partilha pode ter qualquer forma (art. 219).

4.2.2-A partilha por via notarial

Quando se faz partilha por via notarial ( a qual só é obrigatória quando fazem a
partilha também de bens imóveis), tem de ser sujeita a escritura pública ou
documento particular autenticado.
4.2.3-A partilha através de procedimentos simplificados de sucessão hereditária

Os procedimentos simplificados de sucessão hereditária encontram-se nos artigos 210


A a 210 R do CPC.

Há dois procedimentos simplificados de sucessão hereditária que compreendem uma


fase de partilha: o procedimento de habitação de herdeiros, partilha e registros. Esses
procedimentos só podem ser usados se houver, pelo menos, um bem inmóvel.

Apenas o cabeça de casal, seu representante legal ou mandatário tem legitimidade


para promover procedimentos simplificados de sucessão hereditária.

4.3-A partilha mediante inventário

4.3.1-Generalidades

Na falta de acordo dos interessados, o artigo 2102\2 a) determina que a partilha tem
de ser realizada pelo procedimento de inventário, regulado pelo 1082 CPC, quando
seja realizado em tribunal e em regime de inventário notarial.

Há partilha mediante inventário também quando o MP entenda que o interesse do


incapaz a quem a herança é deferida implica aceitação do beneficiário (art. 2102\2 b))
ou nos casos em que algum dos herdeiros não possa, por motivo de ausência ou
incapacidade de facto permanente, intervir em partilha realizada por acordo (art.
2102\2 c)).

O artigo 2103 dispõe que, no caso de haver um único interessado, o inventário tem
apenas o fim de relacionar os bens e servir de base à liquidação da herança. Será o
caso de o interessado único pretender efetuar a aceitação a benefício de inventário,
por forma a evitar responder com os bens próprios pelas dívidas da herança. Nesse
caso, não há lugar a partilha, servindo o processo de inventário apenas de base para
relacionar as os bens do falecido e proceder à liquidação da herança.

O artigo 1082 a) e b) CPC, prevê que o processo de inventário destina-se a por termo à
comunhão hereditária ou, não carecendo de se realizar a partilha, a relacionar os bens
que constituem objeto de sucessão e a servir de base à eventual liquidação da
herança. Pode ainda o inventário destinar-se a partilhar bens em consequência de
ausência ou partilha de bens comuns do casal (1082 CPC d) e c)).

A lei determina que nos casos de 2101 b) e c), o processo de inventário é da


competência exclusiva do tribunal (quando MP entenda que o interesse do incapaz
implica aceitação beneficiária ou quando algum dos herdeiros não possa, por motivo
de ausência ou incapacidade permanente, intervir na partilha por acordo.

Nos demais casos, o processo de inventário pode ser requerido pelo interessado que o
instaura ou por acordo entre os interessados, nos tribunais ou cartórios (art. 1083\2
CPC).

No entanto, se o processo for instaurado no cartório sem a concordância de todos os


interessados, este é remetido para o tribunal se tal for requerido, até ao fim do prazo
de oposição, por interessados que representem conjuntamente 1\2 da herança (art.
1083\3 CPC).

4.3.2-O processo de inventários nos tribunais judiciais

A legitimidade para requerer inventário é (1085\1 CPC):

-Interessados diretos na partilha e o cônjuge meeiro, ou caso de inventário


arrolamento os interessados na elaboração da relação de bens;

-O MP, quando herança deferida a menores ou maiores incapazes ou ausentes.

(A)Requerimento inicial e termos subsequentes

O processo de inventário destinado a fazer cessar a comunhão hereditária inicia-se


com o requerimento inicial, o qual pode se fazer pro apresentação do cabeça de casal
(1097 CPC) ou outro interessado (1099 CPC).

É apresentado a despacho liminar. Aceite, o cabeça de casal deve apresentar os


demais interessados na partilha (1100\2 CPC).

O cabeça de casal deve entregar a relação dos bens que integrem a herança
juntamente com o requerimento inicial (art. 1097\3 c) e 1098 CPC).

(B)Oposição, impugnação e reclamação no inventário

Os interessados diretos na partilha ou o MP podem, no prazo de 30 dias após a sua


citação:

-Opor-se ao inventário;

-Impugnar a legitimidade dos interessados citados ou alegar existência de


outros;
-Impugnar a competência do cabeça de casal;

-Apresentar reclamação à relação de bens;

-Impugnar os créditos e as dívidas da herança (art. 1104\1 CPC);

A mesma faculdade assiste o requerente do inventário e ao cabeça do casal,


contando-se a partir do prazo da notificação do 1100\3 e da citação efetuada nos
termos do 1100\2 b).

Havendo oposição, impugnação ou reclamação, são notificados aqueles que


tenham legitimidade para se pronunciar sobre a questão, respondendo em 30 dias
(1105\1 CPC), sendo as provas indicadas com os requerimentos e as propostas (art.
1105\2 CPC). O juiz decide a questão depois de efetuadas as diligências probatórias
necessárias (art. 1105\3 CPC).

(C)Verificação do passivo e pagamento de dívidas

No inventário procede-se ainda à verificação do passivo da herança. Consideram-se


integradas aas dívidas relacionadas que não estejam impugnadas pelos interessados
diretos, devendo a sentença homologatória da partilha condenar a pagar (art. 1106\1
CPC). Porém, se houver interessados menores, maiores acompanhados ou ausentes, o
MP pode opor-se ao seu reconhecimento vinculante para os seus interessados (art.
1106\2 CPC).

Se todos os interessados se opuserem ao reconhecimento da dívida, o juiz deve


apreciar existência e montante quando a questão puder ser resolvida com segurança
pelo exame dos documentos apresentados (1106\3 CPC). Se houver divergências dos
interessados sobre o reconhecimento da dívida, a dívida considerasse reconhecida
relativamente á parte dos interessados que não a impugnam, sendo o juiz a decidir
quanto às restantes partes (art. 1106\4 CPC).

Havendo verificação de dívidas, passa-se ao pagamentos destas (reconhecidas por


todos os interessados, ou judicialmente) devem ser pagas imediatamente se o credor
exigir o pagamento (art. 1106\5 CPC). Se porém, não houver na herança dinheiro
suficiente e se os interessados não acordarem noutra forma de pagamento imediato,
procede-se à venda de bens para esse efeito, designando o juiz quais se vende, não
havendo acordo (art. 1106\6 CPC). O credor, porém, pode querer receber em
pagamento os bens indicados para venda (1106\7).

Se a aprovação das dívidas resultar da redução dos legados, compete aos delegados
deliberar sobre o passivo e forma de pagamento (art. 1107\1). Os donatários também
são chamados a pronunciar-se sobre a aprovação das dívidas, sempre que se verifique
a probabilidade séria de delas resultar a redução de liberalidades (1107\2 CPC). No
entanto, se a dívida que dá causa á redução não for reconhecida nem por todos os
herdeiros, donatários e legatários, nem pelo tribunal não pode ser tomada em conta
para redução (1107\3).

Não havendo bens na herança suficientes para pagar todas as dívidas, verifica-se a
insolvência da herança, caso em que o juiz a pedido de algum interessado direto ou
indireto, extingue a instância e remete os interessados para o processo de insolvência
(1108 CPC).

(D)Audiença prévia e saneamento do processo

O 1109 determina que o juiz pode convocar uma audiência prévia se considerar
conveniente, nomeadamente por se lhe afigurar possível a obtenção de acordo sobre a
partilha ou acerca de alguma das questões controvertidas, ou se entender útil ou vir
pessoalmente os interessados sobre alguma questão. Na falta de acordo dos
interessados sobre as questões controvertidas, o juiz toma as medidas necessárias
para decidir as matérias que tenham sido objeto de oposição ou impugnação.

Realizadas as diligências necessárias, o juiz profere despacho de saneamento do


processo em que resolve todas as questões suscetíveis de influir na partilha e na
determinação dos bens a partilhar, ordenando a notificação dos interessados e do MP
que tenha intervenção principal para, no prazo de 20 dias, proporem a forma da
partilha (1110\1 CPC).

Decorrido este prazo o juiz profere despacho sobre o modo como deve ser organizada
a partilha, definindo quotas de cada interessado e designa o dia de realização da
conferência dos interessados (1110\2). São também notificados os cônjuges dos
interessados diretos que não sejam casados em separação de bens e, se entre os bens
a partilhar constar a casa de morada de família de algum dos interessados também o
cônjuge me separação de bens (1110\3).

(E) Conferência de interessados e licitação dos bens

Na conferência dos interessados estes podem acordar, por unanimidade e com


concordância do MP que tenha intervenção nos casos previstos, que a composição dos
quinhões se faça por designação de verbas que vão ocupar no todo ou em parte o
quinhão de cada interessado e os valores por que são adjudicados.
Pode em alternativa, ser realizada por uma indicação de verbas e lotes e respetivos
valores, para que noto ou em parte, sejam objeto de sorteio pelos interessados.

Podem também as partes acordar a venda total ou parcial dos bens da herança e na
distribuição do produto da alienação pelos diversos interessados (1111\2).

Os interessados devem ainda deliberar o passivo e forma de pagamento (1111\3). A


partilha pode ser feita parcialmente se houver acordoe entre todos os interessados
quanto ao preenchimento do quinhão hereditário de cada um deles (1112).

Se não houver acordo entre eles, abre-se na própria conferência a licitação entre eles
(1113\1). Só podem licitar os interessados na partilha, salvo nos casos em que a lei
determina que devam ser admitidos os donatários e legatários (1113\3).

Cada verba será licitada separadamente, salvo se todos os concordarem ou o juiz


determinar a formação dos lotes (1113\2).

Até à abertura das licitações pode qualquer dos interessados requerer a avaliação dos
bens (1114\1).

O juiz vai procurar uma distribuição igualitária do valor dos quinhões.

(F)O incidente de inoficiosidade das doações e legados

No âmbito do processo de inventário poderá ter que ser apurada a existência de


inoficiosidades das doações ou legados.

O processo inicia-se com a apresentação, por qualquer herdeiro legitimário, até


abertura das licitações, de requerimento a solicitar, a redução de legado ou doações
(1119\1).

O interessado no requerimento deve fundamentar a pretensão e especificar os


valores, dos bens da herança, doados ou legados. A seguir são ouvidos os herdeiros
legitimários, e o donatário ou legatário requerido ( 1118\2).

Se avaliado, após a avaliação dos bens da herança e os bens doados ou legados, se a


mesma não tiver sido realizada até ao momento (1118\3), vai haver decisão judicial
sobre a existência ou não de inoficiosidade e se esta é sobre o total ou parte do
quinhão hereditário (1118\4).
(G)A PARTILHA E SUA HOMOLOGAÇÃO

Após estas diligências, faz-se notificação dos interessados e MP (quando este


intervenha) para no prazo de 20 dias, apresentarem proposta de mapa da partilha, da
qual constem os elementos necessários (1120\1 CPC). Passado este prazo, o juiz faz
despacho a solucionar as divergências que existam entre as várias propostas de mapa
de partilha e determina a elaboração do mapa da partilha em conformidade com
aquilo por este decidido (1120\2).

O mapa da partilha é organizado com as seguintes regras:

1-Operações da partilha

A partilha pressupõe três operações ideais: cálculo do valor da herança partilhável,


determinação em valor das quotas da herança partilhável, determinação em valor das quotas
dos herdeiros e preenchimento das quotas com bens concretos.

2-Cálculo do valor da herança

1º passo - cálculo do valor ativo hereditário (relictum). Este conceito abarca ficticiamente o
donatum para efeitos de cálculo de herança legitimária e contratual.

À importância total do ativo hereditário é abatido o montante dos encargos gerais da herança
incluindo dívidas e legados.

3-Qualificação da quota do herdeiro

Uma vez apurado o montante da herança partilhável, há que determinar e quantificar as


frações da herança a que cada herdeiro tem direito e os encargos a que ele está especialmente
sujeito.

4-Preenchimento da quota do herdeiro

Tendo o autor da sucessão feito doações em vida ou deixas de bens determinados em favor de
herdeiros legitimários, é preciso atender às regras sucessórias aplicáveis a tais liberalidades, o
que pode implicar alteração do valor dos direitos que o herdeiro beneficiado com a
liberalidade pode reclamar sobre a herança partilhável.

Depois, tenta-se obter o preenchimento dos quinhões hereditários mediante o acordo de


todos os interessados.
Os herdeiros podem: designar os bens que hão de compor no todo ou em parte, as respetivas
quotas; indicar bens para que, no todo ou na parte, sejam objeto de sorteio entre eles; decidir
na venda total ou parcial dos bens e na distribuição do produto da alienação entre eles.

Na falta de consenso, havendo processo de inventário abre-se licitação entre os interessados.


Estão excluídos de licitação os bens que devam ser preferencialmente atribuídos a certas
pessoas.

Na hipótese de o montante dos bens hereditários atribuídos , a titulo particional, a um co-


herdeiro for superior ao da respetiva quota importa calcular o excesso que corresponderá às
tornas em dinheiro que o co-herdeiro adquiriu por via particional de um montante superior ao
respetivo quinhão terá de pagar aos co-herdeiros cujas quotas não tenham sido totalmente
preenchidas com bens hereditários.

Preenchimento da quota: as atribuições preferenciais do conjuge

O cônjuge sobrevivo tem direito a ser encabeçado, no momento da partilha, no direito de


habitação da casa de morada da família e no direito de uso do respetivo recheio (2103º - A,
nº1).

O membro da união só goza de direitos temporários sobre a casa de morada do de cuius e o


respetivo recheio.; ao convivente em economia comum cabe um direito de real habitação
sobre a casa de morada comum, elo prazo de 5 anos, e, no mesmo prazo, direito de
preferência na sua venda.

Efetuada a partilha, o mesmo é notificado às partes, que podem apresentar


reclamações do mesmo (1120\5 CPC). Depois de decididas as questões, o juiz profere
sentença homologatória da partilha constante do mapa (1122\1), podendo a sentença
ser impugnada por interposição de recurso (1123\2 c)).

O tribunal deve notificar os interessados para requerer a composição dos quinhões por
bens que não tenham sido adjudicados ou reclamar o pagamento das tornas (1121\1).
Caso seja reclamado o pagamento das tornas, é notificado o interessado que as tenha
de pagar para as depositar. Caso tal não seja feito, podem os requerentes, após
trânsito em julgado da sentença homologatória da partilha, que se proceda á venda
dos adjudicados ao devedor até se perfazer o montante para pagar as tornas (1122\2
CPC). Já se não for reclamado o pagamento das tornas, as mesmas vencem juros legais.

Caso algum dos interessados mostre interesse atendível em receber os bens que lhe
tenham cabido em partilha antes do trânsito em julgado da sentença homologatório,
tal apenas é admitido nas condições do artigo 1124 CPC. Caso o recurso determine a
realização de nova partilha, os bens retornam a posse do cabeça de casal.
Efeitos da partilha:

Feita a partilha cada um dos heredeiros é considerado, desde a abertura da sucessão, titular
único dos bens que lhe foram atribuídos, sem prejuízo do disposto quanto a frutos (2119º).

Por conseguinte, convalidam-se os atos de administração e disposição praticados


anteriormente, sem legitimidade, pelo herdeiro a quem os bens couberem.

A cada um dos herdeiros são entregues os documentos relativos aos bens que lhe foram
atribuídos (2120º/7).

Efetuada a partilha, em princípio, cada herdeiro só responde pelos encargos, em proporção da


quota que tenha cabido na herança.

Não tendo passado 5 anos da abertura da sucessão ou da constituição da dívida que recai
sobre a herança, os credores da herança e os legatários gozam de preferência sobre os
credores pessoais do herdeiro, relativamente aos bens que a este couberam na partilha.

Isto significa que nem sempre a partilha assinala o momento em que termina o fenómeno
sucessório em sentido amplo. O estatuto dos bens que foram atribuídos ao herdeiro na partila
pode ser temporariamente distinto dos demais bens do mesmo titular.

Impugnação da partilha

O 2121º prevê que a partilha extrajudicial só é impugnável nos casos em que o sejam os
contratos.

O termo impugnação é usado num sentido amplo abrangendo o reconhecimento de


inexistência jurídica, declaração de nulidade, anulação, rescisão ou outro pedido de declaração
de ineficácia.

À partilha feita fora de inventário aplicam-se as regras gerais sobre o NJ, nomeadamente as
que respeitam à declaração e à vontade. A partilha feita por coação física é inexistente, a
partilha determinada por erro-vício qualificado por dolo é anulável, etc.
A impugnação da partilha feita em inventário pode ser feita por recurso da sentença
homologatória proferida pelo juíz que detém o controlo geral do processo para o Tribunal da
relação.

O regime da impugnação está marcado pelo princípio da conservação do ato jurídico da


partilha.

O 2122º exclui a nulidade da partilha quando tenha havido omissão de bens da herança,
estatuindo unicamente a partilha adicional dos bens omitidos. O 2123º/1 estabelece que a
partilha que tenha recaído sobre bens não pertencentes à herança é nula apenas nessa parte.

A partilha tem caráter meramente declarativo e não constitutivo. Limita-se a concretizar ou


satisfazer direitos que já cabiam aos herdeiros, desde a abertura da sucessão (2119º).

Não é a partilha que transmite a propriedade dos bens hereditários; ela apenas determina os
bens que compõem as quotas dos herdeiros. Os herdeiros recebem diretamente os seus
direitos do defunto e não dos restantes co-herdeiros.

Cumulação da partilha da herança com a partilha dos bens comuns do casal

A partilha dos bens comuns do casal (se cados em comunhão geral ou de adquiridos) é prévia à
hereditária.

(H)Incidentes posteriores à homologação definitiva da partilha

Efetuada definitivamente a homologação da partilha, podem assim haver incidentes


posteriores no processo de inventário, como emenda da partilha, anulação da partilha,
a composição do quinhão ao herdeiro preterido, e a partilha adicional (1126\2 e
1127\2).

Emenda da partilha: Artigo 1126 permite ainda que tenha transitado em julgado a
decisão homologatória, a partilha seja emendada no próprio inventário por acordo de
todos os interessados, se tiver havido erro de facto na descrição ou qualificação dos
bens ou qualquer outro erro suscetível de viciar a vontade das partes.

Não havendo acordo quanto á emenda, o interessado pode ainda requerer no próprio
processo, que a ela se proceda no prazo máximo de 1 ano a contar do conhecimento
do erro, desde que seja conhecimento posterior à decisão.

Anulação da partilha: Confirmada a sentença homologatória transitada em julgado, só


pode-se recorrer quando tenha havido preterição ou falta de intervenção de algum
dos co-herdeiros e se mostre que os outros interessados procederam de dolo ou má
fé, seja quanto à preterição ou ao modo como a partilha foi preparada (1127\1).

A composição do quinhão ao herdeiro preterido: Encontra-se no 1128 do qual resulta


que não havendo fundamento para a anulação da partilha, ou se o herdeiro preterido
preferir receber o quinhão em dinheiro, este deve requerer que seja realizada a
conferência de interessados para se determinar o montante do seu quinhão (1128\1).
No caso de não chegarem a acordo, consigna-se no auto os bens cujo valor se verifica
divergências.

Depois é organizado novo mapa da partilha para fixação de alterações ao primitivo


mapa em consequência dos pagamentos necessários para o pagamento do quinhão
preterido (1128\3).

Partilha adicional: Prevista no 1129, o qual determina que quando se reconheça,


depois de feita a partilha, que houve omissão de alguns bens, procede-se a partilha
adicional no mesmo processo.

4.4-O processo de inventário nos cartórios notariais

Salvo nos casos em que a lei impõe que a partilha corra nos tribunais (1083\1 CPC), por
escolha do interessado que instaura o processo ou mediante acordo dos interessados,
o inventário pode ser tramitado em cartórios notariais (art. 1083\2). No entanto, se o
processo de partilha for instaurado em cartório sem o acordo de todos os interessados
diretos que representem isolada ou conjuntamente mais de metade da herança,
podem recorrer até ao fim do prazo de oposição que o processo seja feito no tribunal
(1083\3 CPC)- O cartório deve ser o do local da abertura da abertura da sucessão, do
estabelecimento comercial ou da maioria dos imóveis que integram a herança ou da
residência da maioria dos interessados na partilha (salvo em caso de impedimento
deste notário pelas mesmas razões do juiz, em que poderão ser escolhidos cartórios
em circunscrições próximas).

A tramitação do processo de inventário segue o regime da tramitação nos tribunais,


com as necessárias adaptações.

O notário deve realizar as diligências do processo, sem prejuízo dos casos em que os
interessados devam ser remetidos para tribunal.

Há casos previstos no art. 3 da lei 117\2019 em que o notário pode proceder à


suspensão do processo de partilha.
A decisão do notário que remeta os interessados para meios judiciais não é suscetível
de recurso. Já a decisão do notário que não decrete a suspensão do processo e não
remete os interessados para meios judiciais pode ser impugnada por qualquer dos
interessados na partilha, mediante recurso para tribunal.

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