Você está na página 1de 4

CASO 34

1-Dionísio está numa relação conjugal com Cecília. Ele pondera um eventual pedido de
divórcio.

Ele pensa realizar um pedido de divórcio a Cecília e esta, pensa realizar o divórcio com ele.

O divórcio, que inclusive, é um direito constitucionalmente previsto no artigo 36\2 da CRP.

Temos mutuo consentimento quanto à dissolução do casamento, mas não quanto a todas as
matérias complementares, previstas no artigo 1775 do CC:

-O acordo sobre o destino da casa de morada de família (1775\1 d));

-Acordo sobre a prestação de alimentos, caso disso, um deles careça (ainda não houve
acordo quanto a isso), Artigo 1775\1 c));

-Têm que determinar a divisão à partilha, uma vez que ainda, nada foi indicado,
quanto o terem estipulado (artigo 1775\1 a))

Havendo consenso quanto ao pedido de divórcio, mas divergência relativa aos assuntos que
deveriam ser objeto de acordo das partes, o divórcio por mutuo consentimento terá de ser
requerido no tribunal (de acordo com o artigo 1778 A que prevê que se o requerimento de
divórcio não acompanhar algum dos acordos do artigo 1775\1).

O juiz ainda deve promover o acordo das partes quanto aos assuntos mencionados no 1775\1.
Na falta de acordo (por mútuo consentimento), o juiz procura obter acordo quanto aos
alimentos, quanto ao exercício de responsabilidades parentais e quanto o uso da casa de
morada de família (931\2 CPC).

No entanto, não acontecendo, de acordo com o artigo 1775\3, as consequências deste


divórcio, serão as mesmas de um divórcio sem consentimento de uma das partes.

2-Cecília, sua mulher, pensa que terá a casa, dado estar desempregada, pelo que, deverá
nela permanecer.

Dionísio pensa como a casa da morada de família lhe pertence, ele terá direito de viver nela.

Uma vez que a casa lhe pertence (não estando arrendada), em princípio, o seu direito de
propriedade sobre a casa não será afetado pelo divórcio (não era Dionísio comproprietário,
mas antes, a morada de família era bem próprio deste, apesar de ambos nela habitarem).

No entanto isto não afeta a hipótese de arrendamento forçado, por decisão do tribunal,
mesmo que contra a sua vontade.
Segundo o artigo 1793\1, o tribunal pode dar o arrendamento da casa a qualquer dos
cônjuges, com fundamento nas necessidades de cada um, definindo o conteúdo do contrato.

Se houver arrendamento forçado, Dionísio não poderá viver na casa.

Para determinar esta possibilidade, temos antes de definir como se poderá ponderar a
admissibilidade do arrendamento forçado.

O critério geral para atribuição do direito ao arrendamento da casa de morada da família na


sequência de ação de divórcio é o de que deverá ser atribuído ao ex-cônjuge que mais precise
dela, pois o objetivo da lei é proteger o ex-cônjuge que mais seria atingido pelo divórcio
quanto à estabilidade da habitação familiar”;

Logo, considero, perante as informações, disponíveis no enunciado (não sabemos qual o


interesse dos filhos, necessidade de Dionísio, ou outros fatores secundários), que a casa
deverá ser arrendada a Cecília.

O regime do custo do arrendamento será definido pelo tribunal, e uma vez que o custo,
estamos a falar de um arrendamento forçado, o custo de arrendamento será inferior ao custo
de mercado.

2-Díonisio pensa que terá de pagar uma pensão de alimentos e a metade do seu salário. Em
contrapartida, Dionísio ouviu dizer que receberá o automóvel que doará na pendência do
casamento.

De acordo com o artigo 2016\1, cada cônjuge deve prover à sua subsistência após o divórcio.

No entanto, temos o artigo 2016\2, que vem definir que qualquer um dos cônjuges tem direito
a alimentos.

Por questões de equidade, este direito pode ser afastado, no entanto, dadas as condições das
partes que se divorciam, parece que este não se aplica.

O tribunal, deverá, aquando realizado do processo judicial, definir se há, e em que medida,
direito a alimentos.

Neste caso, temos duas partes, uma desempregada, e mediante interpretação do previsto no
enunciado, não deverá estar, provavelmente, Dionísio em condições que o impeçam de
prestar alimentos.

Havendo direito a alimentos, deverá o tribunal ter em conta os elementos previstos no artigo
2016\1):

-A duração do casamento;

-A colaboração prestada à economia comum do casal;


-Idade;

-Estado de saúde;

-Qualificações profissionais e possibilidades de emprego;

-O tempo que terão de dedicar à criação dos filhos;

-Os seus rendimentos e proventos;

Em geral, todas as condições que influam sobre necessidades do cônjuge que receber os
alimentos e as possibilidades daquele que presta (artigo 2016 A\1).

Assim, faltará ainda definir qual será o valor dessa prestação de alimentos.

De acordo com o artigo 2016\3, “o cônjuge credor não tem direito de manutenção da vida que
beneficiou na constância do matrimónio”.

Aqui temos uma questão que implica ainda divergência doutrinária:

-Deverá ser o mínimo necessário à sobrevivência (incluindo alimentos, vestuário e habitação);

-Um valor entre, o necessário a um nível de vida razoável, acima do indispensável á


sobrevivência, mas abaixo do que era o padrão de vida do casal”

Admitimos a segunda interpretação.

Assim, tendo em conta que o único salário seria o de Dionísio, e caso este fosse um casal sem
filhos, significa que o custo da manutenção da vida que tinha no tempo do casamento será,
teoricamente, metade do salário de dionísio.

Assim, se nada tiverem acordado, terá o tribunal de definir uma prestação de alimentos de
valor inferior a metade do salário, aquilo que Dionísio pensava entregar isto é, metade do seu
salário.

Se as partes tiverem combinado que o valor dos alimentos será metade do salário e em troca,
Dionísio mantem o carro, assim fica.

No entanto, sendo o tribunal a decidir, tendo em conta os elementos do 2016\1, incluindo


também para o cálculo, a própria casa arrendada de forma forçada e a valor inferior ao preço
de mercado, será sempre a prestação de alimentos de valor inferior a metade do salário.

Agora, quanto ao carro, que doará à cecília na constância do matrimónio:

Como é Dionísio que doa, podemos considerar, que o automóvel era bem próprio dele. De
acordo com o artigo 1764\1, os bens doados têm de ser bens próprios do doador).

Se tivéssemos um regime de separação de bens, segundo o artigo 1762, este nunca teria sido
doado, pois teria sido nulo o ato de doação.
Sendo a doação válido, o artigo 1764\2 prevê que os bens doados não se comunicam, seja qual
for o regime.

De acordo com o 1766\1 c), ocorrendo o divórcio, a doação entre casados caduca, pelo que o
automóvel passa para o Dionísio.

Você também pode gostar