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Compra de imóvel com dinheiro de

herança não entra na partilha

Até aqui, você já sabe que uma herança não é partilhada no


divórcio de um casamento feito em comunhão parcial de bens,
sendo a mais comum no Brasil. Isso serve tanto para uma herança
recebida antes do casamento quanto durante o casamento, porque
é considerado um bem particular. Isso também se aplica quando
o imóvel é comprado antes do casamento.

No entanto, em caso de imóvel comprado com o dinheiro da


herança, você pode tomar alguns cuidados para facilitar na hora de
comprovar que o dinheiro utilizado na compra de um imóvel veio
de uma herança. Para isso:

 Sempre que usar este dinheiro para comprar qualquer bem,


registre a origem do dinheiro;

 Ao comprar um imóvel com o dinheiro recebido por herança,


declare na certidão de compra e venda que o imóvel está
sendo comprado com o valor recebido, ou com parte do
valor, se for o caso. Tecnicamente esse cuidado é chamado
de sub-rogação de bens.

Outras formas de comprovar que um imóvel foi comprado com o


dinheiro da herança é através de algum documento, recibo ou até
prova testemunhal, mas a forma mais simples é o registro no ato
da compra do imóvel.

Outro ponto muito é importante é ter o cuidado de registrar o


imóvel apenas no seu nome, mesmo que esteja em um casamento
ou união estável. Caso contrário, registrando no nome do casal,
como sendo ambos proprietários, o imóvel estará como um bem
em condomínio, havendo a divisão do bem, independentemente se
foi comprado com o dinheiro da herança.

Com esses cuidados, em caso de divórcio, não haverá discussão


sobre esse ponto, e tudo o que for comprado expressamente
declarando a origem da doação ou herança, estará protegido da
divisão.

III — os bens adquiridos por doação, herança ou legado, em


favor de ambos os cônjuges;

No caso concreto, Eduardo alegou que, como o pai de


Mônica não especificou para quem estava doando o
dinheiro, presume-se que foi um presente para o
casal. Essa tese foi aceita pelo STJ? Os R$ 100 mil
doados pelo pai de Mônica devem se comunicar? No
momento do divórcio, tanto Eduardo como Mônica
terão direito à metade desse valor cada um?
NÃO. No caso concreto, o valor doado pelo pai de Mônica não
se comunica e não deve ser partilhado no momento do
divórcio. Isso porque não existe qualquer prova de que essa
doação tenha sido feita em favor em ambos os cônjuges.

Ressalte-se que a doação foi feita sem nenhuma formalidade


nem indicação de quem seria o beneficiário. Diante disso,
presume-se que o pai tenha querido beneficiar apenas a filha,
sua herdeira. Para que se considerasse que a doação foi para o
casal, isso deveria ter sido dito de forma expressa. Veja
precedente do STJ parecido com o caso concreto:

Se o bem for doado para um dos cônjuges, em um


casamento regido pela comunhão parcial dos bens, a
regra é que esse bem pertence apenas ao cônjuge que
recebeu a doação. Em outras palavras, esse bem
doado não se comunica, não passa a integrar os bens
do casal.
Em um regime de comunhão parcial, o bem doado
somente se comunica se, no ato de doação, ficar
expressa a afirmação de que a doação é para o casal.
Logo, em caso de silêncio no ato de doação, deve-se
interpretar que esse ato de liberalidade ocorreu em
favor apenas do donatário (um dos cônjuges).
STJ. 3ª Turma. REsp 1318599/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 23/04/2013 (Info 523).
Dessa forma, os R$ 100 mil doados pelo pai de Mônica deverão
ficar com ela no momento do divórcio, já que não se
comunicaram por não ter sido uma doação em favor de ambos
os cônjuges (art. 1.660, III, do CC).

Ex-nora deverá devolver valor


emprestado para compra de imóvel
Publicado em 21 de fevereiro de 2018
A Justiça determinou que uma mulher devolva aos ex-sogros parte do valor de
empréstimo para a compra de um imóvel. O filho do casal se divorciou e os pais
ajuizaram ação temendo não receber da ex-nora o valor emprestado. O caso
aconteceu em Porto Alegre.

Caso

Conforme os autores, a requerida era casada com o filho do casal e, no intuito de


ajudar, emprestaram a quantia de R$ 160 mil para aquisição de um imóvel.
Afirmaram que o dinheiro veio da venda de um apartamento e que o empréstimo
duraria 24 meses. Após, o valor deveria ser ressarcido pelo filho e a nora. Porém,
com o divórcio do casal, temem não receber os valores após a partilha dos bens.
Segundo eles, o débito atualizado seria de cerca de R$ 241 mil, cabendo à ex-
nora o pagamento de 50% deste valor.

Em sua defesa, a ré alegou que os ex-sogros realizaram uma doação e não


empréstimo.

Decisão
O Juiz Fernando Antonio Jardim Porto, da 11ª Vara Cível da Comarca de Porto
Alegre, afirmou que cabia à requerida comprovar que o valor havia disso doado,
o que não foi comprovado.

O magistrado também explica que para ser doação, em função do valor elevado,
deveria ter sido feita uma escritura pública ou por instrumento particular.

"O fato de não terem as partes definido data para a devolução do valor não tem o
condão de desnaturar a operação como empréstimo, nem tampouco o fato de o
numerário ter sido alcançado pelos sogros em favor da nora e filho gera a
presunção de que tenha sido transferido a título de doação", ressaltou o Juiz.

Assim, o pedido dos autores foi julgado procedente, ficando a requerida


condenada ao pagamento de 50% do valor total do empréstimo corrigido
monetariamente.

Cabe recurso da decisão.

Fonte: TJRS
Dúvida do internauta: Eu tinha um imóvel e o vendi dois meses
antes de me casar. Após casada, com o valor que obtive com a
venda do imóvel, comprei dois terrenos no meu nome e no nome
do meu cônjuge. Estou me divorciando. Vou precisar dividir os
terrenos com ele, mesmo provando que eles foram comprados com
o dinheiro da minha casa? Não me conformo com a lei. A divisão
seria justa se tivéssemos trabalhado, juntado dinheiro, ou
financiado os terrnos juntos, depois do casamento. Mas esse
dinheiro era meu.
Resposta de Rodrigo da Cunha Pereira*:
Não, você não precisará dividir os terrenos com ele. No regime da
comunhão parcial de bens, serão partilhados apenas os bens
adquiridos na constância do casamento a título oneroso, ou seja, com
trabalho e esforço de um ou de ambos, excetuando os bens recebidos
por doação ou sub-rogação.
Nesse caso, os dois terrenos adquiridos após o casamento não serão
objetos de partilha, pois foram adquiridos por sub-rogação, conforme
determina o art. 1659, II, CC. Ou seja, você utilizou o produto da
venda de um imóvel particular (adquirido antes do casamento), para
adquirir esse bens na constância do casamento.
Contudo, para que você possa excluir esses dois terrenos da partilha, é
preciso provar a origem do dinheiro que gerou a compra desses dois
terrenos, para que o juiz tenha uma certeza documental que se tratam
de imóveis sub-rogados.

PARTILHA DE BENS COMUNS E


DÍVIDAS CONTRAÍDAS DURANTE
UNIÃO ESTÁVEL – PRESUNÇÃO DE
SOLIDARIEDADE DOS CÔNJUGES
Na partilha de bens de cônjuges em união estável, devido à solidariedade entre o
casal, o patrimônio comum é comprometido pelas dívidas contraídas por um dos
companheiros, salvo se o outro comprovar que não houve benefício para a
família. Em sede de ação declaratória de reconhecimento e dissolução de união estável,
o réu interpôs apelação contra sentença que o condenou ao pagamento integral das
dívidas oriundas dos cartões de crédito e de débito bancários. O Relator esclareceu,
inicialmente, que a partilha dos bens comuns e das dívidas contraídas durante a união
estável segue as mesmas regras do regime de comunhão parcial de bens, conforme
disposto no art. 1.725 do Código Civil, desde que não haja acordo escrito entre o casal
para a adoção de um regime patrimonial diverso. Nesse contexto, destacou o § 1º do art.
1.663 do mesmo diploma, no qual está expressamente determinado que as dívidas
contraídas no exercício da administração do patrimônio obrigam os bens comuns. Em
virtude da presunção de solidariedade entre o casal – haja vista que a administração do
patrimônio comum compete a qualquer um dos companheiros –, o Relator ressaltou que
caberá ao meeiro o ônus de comprovar que a dívida não beneficiou a família. Desta
feita, comprovado pelo réu que as despesas originárias dos cartões de crédito e de débito
foram geradas para a compra dos bens que guarneciam a residência da família, a Turma
deu provimento ao apelo.

TJ-MG - Apelação Cível: AC XXXXX11620372001 MG


Jurisprudência • Acórdão • MOSTRAR DATA DE PUBLICAÇÃO
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE DIVÓRCIO E
PARTILHA - DÍVIDAS CONTRAÍDAS NA CONSTÂNCIA DO
CASAMENTO - MEAÇÃO DEVIDA - RECURSO PROVIDO. - As
dívidas contraídas na constância do casamento devem ser partilhadas,
já que se presume que as quantias levantadas foram usadas em favor
da família, cabendo à parte contrária produzir prova objetivando
desconstituir tal presunção relativa - Recurso provido.

TJ-DF - XXXXX20218070001 DF XXXXX-37.2021.8.07.0001


Jurisprudência • Acórdão • MOSTRAR DATA DE PUBLICAÇÃO
APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSO CIVIL E DIREITO CIVIL.
EMBARGOS À EXECUÇÃO. COBRANÇA DE EMPRÉSTIMO
BANCÁRIO. PRELIMINAR. NULIDADE SENTENÇA.
CERCEAMENTO DE DEFESA. REJEIÇÃO. DÍVIDA ADQUIRIDA
NA CONSTÂNCIA DO CASAMENTO. RESPONSABILIDADE DO
CASAL. PARTILHA DE DÍVIDAS. BENEFÍCIO DA FAMÍLIA.
ÔNUS DA PROVA. PRESUNÇÃO GERAL DE SOLIDARIEDADE.
1. Verificado que a prova oral pretendida não seria capaz de
demonstrar o quanto pretendido, sem força para afastar a presunção de
que a dívida contraída por um dos cônjuges beneficiou a família,
correto o juiz que a indeferiu. Preliminar de cerceamento de defesa
rejeitada. Dívidas contraídas na constância do casamento configuram
obrigação solidária, cuja solvência é de responsabilidade do casal. 2.
Não se admite no ordenamento jurídico que uma dívida contraída em
benefício da família seja de responsabilidade de apenas um dos
cônjuges. Cabe ao cônjuge o ônus de provar que a dívida contraída
pelo outro não beneficiou a família, tendo em vista a presunção geral
de solidariedade prevista nos artigos 1.643 e 1.644 do Código Civil .
3. RECURSO CONHECIDO, PRELIMINAR DE CERCEAMENTO
DE DEFESA REJEITADA E, NO MÉRITO, DESPROVIDO.

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE DIVÓRCIO


LITIGIOSO C/C PARTILHA DE BENS, GUARDA, ALIMENTOS E
CONVIVÊNCIA. NULIDADE DA SENTENÇA POR AUSÊNCIA
DE ENTREGA DA PRESTAÇÃO JURISDICIONAL POR
OCASIÃO DO JULGAMENTO DOS EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO. PRELIMINAR AFASTADA. INÉPCIA DA
INICIAL. PRELIMINAR AFASTADA. ALIMENTOS. PEDIDO DE
MINORAÇÃO DO VALOR FIXADO. DESEQUILÍBRIO NO
BINÔMIO ALIMENTAR NÃO EVIDENCIADO.
DESPROVIMENTO. MANUTENÇÃO DO VALOR FIXADO.
PARTILHA DE DÍVIDAS ASSUMIDAS NA CONSTÂNCIA DO
CASAMENTO. REGIME DE COMUNHÃO PARCIAL DE BENS.
COMUNICABILIDADE. PEDIDO DE PARTILHA DE DÍVIDA
FORMULADO EM SEDE DE CONTESTAÇÃO. POSSIBILIDADE.
HONORÁRIOS RECURSAIS. 1. A decisão recorrida restou
devidamente fundamentada, com enfrentamento de todos os tópicos
suscitados pelas partes e argumentos necessários para o deslinde do
caso, infligindo a controvérsia quanto o acerto ou desacerto da decisão
ao mérito recursal. 2. Preenchendo a peça de ingresso todos os
requisitos previstos na legislação processual pátria (artigo 319), não há
falar-se em inépcia da inicial. Preliminar rejeitada. 3. O art. 1.694, §
1º, dispõe que os alimentos devem ser fixados na proporção das
necessidades do alimentando e dos recursos da pessoa obrigada, o que
significa dizer, por outras palavras, que a obrigação alimentar deve ser
fixada observando-se o binômio necessidade/possibilidade. 4. Ausente
elementos probatórios contundentes no sentido de ensejar a minoração
dos alimentos fixados pelo juízo singular, a manutenção da prestação
alimentícia no patamar originariamente fixado é medida que se impõe.
5. Nos termos do art. 1.658 do Código Civil , no regime de comunhão
parcial, comunicam-se os bens e dívidas que sobrevierem ao casal, na
constância do casamento. 6. A dívida contraída na constância do
casamento partilha-se entre o casal submetido ao regime parcial, pois
se presume revertida em prol da entidade familiar, salvo prova em
sentido contrário. 7. O pedido de partilha de dívidas pode ser feito no
curso da ação de divórcio, no bojo da própria contestação, sendo
desnecessária a apresentação de reconvenção. Precedentes STJ. 8. As
quotas da sociedade empresarial constituída durante o casamento e da
qual apenas um dos ex-cônjuges é sócio devem ser divididas pelo
valor da data da separação de fato, observando, se for o caso, a regra
prevista no parágrafo único do artigo 600 do CPC e 1.027 do Código
Civil , para apuração de seus haveres na sociedade, em sede de
liquidação de sentença. 9. Descabe-se a majoração dos honorários em
sede recursal quando o apelo for parcialmente provido. 10. Apelação
cível conhecida e parcialmente provida.

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