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CPIII
1º PERÍODO 2022
TEMAS
Tema 08:
Compra e venda I conceito. Classificação. Elementos. Restrições legais à celebração
do contrato de compra e venda. Invalidade da compra e venda. Efeitos da compra e
venda. Tradição. Compra e venda de imóveis. Venda ad corpus e ad mensuram.
Venda em condomínio pro indiviso.
1ª QUESTÃO:
Fabiana propôs demanda de nulidade de escritura pública c/c cancelamento de registro de
imóveis em face de Carlos Augusto. A autora alega em síntese que seu ex-companheiro
alienou ao réu dois imóveis adquiridos na constância da união estável sem o seu
consentimento, sendo que os referidos bens, em decorrência da dissolução da união
estável, deveriam ser objeto de partilha, motivo pela qual seriam nulos os negócios
jurídicos firmados, na forma da Lei 9278/96 e artigos 1647, I e 1725, ambos do Código
Civil.
Em defesa, sustenta o demandado que o alienante se apresentou como solteiro, estado
civil que inclusive consta do seu documento de identificação. Afirma ainda que quando
da compra do imóvel em questão não havia qualquer contrato de convivência entabulado
entre os conviventes, inclusive com registro em cartório que pudesse dar publicidade a
tal relação jurídica. Assim sendo, desconhecia por completo a união estável entre a autora
e o alienante dos imóveis.
Quanto às provas, restou incontroverso o reconhecimento judicial da união estável entre
a autora e o alienante dos bens após a venda dos imóveis, sendo certo que tal
reconhecimento retroagiu a data anterior à aquisição por Carlos Augusto. Restou ainda
provado que a venda dos bens ocorreram sem a outorga convivencial e que o adquirente
desconhecia a união estável quando da compra dos imóveis.
Decida fundamentadamente a questão.
RESPOSTA:
08/02/2018 07:58 - Notícias do STJ
Terceiro de boa-fé deve ser protegido ao adquirir imóvel de parte em união estável
Nos regimes de união estável, assim como nas hipóteses de casamento, há a necessidade
de consentimento do convivente para alienação de imóvel adquirido durante a constância
da relação. Todavia, as peculiaridades que envolvem as uniões estáveis - como a dispensa
de contrato registrado em cartório como requisito para a validade da união - tornam
necessária a proteção do terceiro de boa-fé que adquire imóvel de um dos conviventes,
especialmente nos casos em que o vendedor se apresenta como solteiro perante a
sociedade e não há notícia da averbação de contrato de convivência.
O entendimento foi aplicado pela Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
ao confirmar acórdão do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR) que manteve alienações
de imóveis realizadas pelo ex-companheiro como forma de proteção ao terceiro
comprador, já que o ex-companheiro se apresentava como único proprietário do bem, não
havia registro cartorário sobre a união estável e os imóveis foram vendidos antes do
reconhecimento judicial da convivência.
"Não havendo registro imobiliário em que inscritos os imóveis objetos de alienação em
relação à copropriedade ou à existência de união estável, tampouco qualquer prova de
má-fé dos adquirentes dos bens, impõe-se o reconhecimento da validade dos negócios
jurídicos celebrados, a fim de proteger o terceiro de boa-fé, assegurando-se à recorrente
o direito de buscar as perdas e danos na ação de dissolução de união estável c.c partilha,
a qual já foi, inclusive, ajuizada", apontou o relator do recurso especial, ministro Marco
Aurélio Bellizze.
Consentimento
Na ação de nulidade de escritura pública que originou o recurso, a autora afirmou que seu
ex-companheiro alienou imóveis adquiridos na constância da união estável sem o seu
consentimento, porém, para ela, os bens deveriam ter sido submetidos à partilha após a
dissolução da união.
Em primeira e segunda instâncias, o pedido de nulidade foi julgado improcedente. Para o
TJPR, não havia o reconhecimento da união estável no momento da aquisição dos imóveis
e de sua alienação, o que, para o tribunal, confirmou a validade do negócio jurídico e a
boa-fé do terceiro comprador.
Por meio de recurso especial, a autora alegou que a união estável e a aquisição dos
imóveis durante o período de convivência ficaram comprovadas nos autos e, por
consequência, não havia dúvidas de que os bens pertenciam a ambos os conviventes. Por
isso, para a recorrente, o companheiro não poderia outorgar a escritura de compra e venda
sem o consentimento dela.
Leia o acórdão.
Esta notícia refere-se ao(s) processo(s):
REsp 1592072
2ª QUESTÃO:
Renato adquire de Rodrigo uma caixa com oito discos raros de vinil dos Beatles. Essa
caixa foi comercializada por apenas seis meses e se limitou a 100 unidades produzidas no
mundo, o que a tornou um objeto muito raro e, consequentemente, valioso.
Ocorre que um desses vinis, quando foi colocado na vitrola, estava inaudível. Ato
contínuo, diante do vício oculto revelado, Renato pretendeu redibir o contrato e recuperar
o preço pago, com o que Rodrigo não concordou, diante do que dispõe o artigo 503 do
Código Civil.
A quem assiste razão?
Responda fundamentadamente à pergunta.
RESPOSTA:
Marco Aurélio Bezerra de Melo ensina que o artigo 503 do Código Civil exige uma
interpretação que restrinja o seu alcance sob o argumento de que a lei disse mais do que
queria. Se esse exercício não for feito, chegaremos ao absurdo de não permitir a aplicação
das regras referentes aos vícios redibitórios se, por exemplo, um dos sessenta volumes do
tratado de direito privado de Pontes de Miranda - exatamente o que o grande gênio do
direito cuida da teoria do fato jurídico - vier com todas as folhas em branco. Ora, não
seria plausível tal conclusão, pois a coleção é alienada na sua totalidade. (Contratos, 2017,
p. 363)
Tepedino segue a mesma linha de raciocínio ao afirmar que no caso de a coletividade de
coisas formar um conjunto, como se fosse, a rigor, uma só coisa, o defeito de uma delas,
no fundo, é defeito do próprio conjunto, o que, por conseguinte, autorizaria a rejeição de
todas. Aqui, frisa-se, é como se o defeito de uma se propagasse às outras coisas,
desvalorizando o todo. Como na hipótese de uma obra clássica, subdividida em vários
volumes, sendo que a um deles faltam diversas páginas. Ora, a devolução do exemplar
defeituoso desvaloriza toda a obra, sofrendo o adquirente dano maior do que o reembolso
recebido. (Comentários...., 2012, p. 169)
Tema 09:
Compra e venda II. Cláusulas especiais da compra e venda. Retrovenda. Venda a
contento e venda sujeita a prova. Preempção ou preferência. Venda com reserva de
domínio. Venda sobre documentos. Troca ou permuta.
1ª QUESTÃO:
João adquiriu de Cássio uma propriedade imóvel. As partes consignaram no contrato de
compra e venda a cláusula de preempção a ser exercida na forma da lei. Ocorre que, após
um ano da aquisição do bem, João vende o imóvel a Sandro sem conceder o direito de
preferência a Cassio. Inconformado com o descumprimento da cláusula contratual, Cássio
pretende depositar o preço e adquirir a propriedade, assim como acontece no pacto de
retrovenda (art. 505 do CC), na venda da fração ideal de bem indivisível em condomínio
(art. 504 do CC), bem como nos contratos de locação (art. 33 da Lei nº 8245/91). Diante
do que dispõe a lei e conforme a interpretação sistemática, terá Cassio sucesso na sua
investida? Responda fundamentadamente a questão.
RESPOSTA:
Explica o professor Marco Aurélio Bezerra de Melo que ao contrário da retrovenda, o
pacto de preferência gera direito puramente obrigacional em favor do vendedor que
deverá se satisfazer com a verba indenizatória alcançanda acaso lhe seja sonegada a
preempção. Não se trata de obrigação com eficácia real, dotada, portanto, de eficácia erga
omnes, de modo que é eficaz a venda feita a terceiros sem a observância da cláusula de
preferência.
(Melo, Marco Aurélio Bezerra de. Contratos. Rio de Janeiro: Forense. 2018 p. 380
Segundo o professor Nelson Rosenvald, o disposto no artigo 518 do Código Civil desperta
polêmica, isto porque a inobservância do direito de preferência por parte do comprador
não outorga ao vendedor o poder de desfazer o negócio jurídico mediante o depósito da
quantia paga pelo terceiro. Afirma o autor que a opção da lei foi contemplar o pacto de
preempção com efeitos meramente obrigacionais e restritos a comprador e vendedor, sem
alcançar terceiros. Sustenta o autor que, com fulcro no princípio da função social externa
do contrato (art. 421 do CC), atrelada à ciência do adquirente quanto a cláusula de
preferência, seria possível o exercício do poder de sequela. O terceiro lesa o contrato entre
comprador e vendedor quando, conhecedor da cláusula de preempção, simplesmente a
ignora e realiza um novo contrato com o comprador.
Rosenvald, Nelson. Código Civil Comentado. Org. Cezar Peluzo. Manole. 2013. p. 561
2ª QUESTÃO:
Paulo teve desapropriado pelo Poder Público um bem imóvel da sua titularidade.
Contudo o Poder Público deu ao bem tredestinação ilícita e ainda vendeu o imóvel a um
terceiro.
Inconformado com a conduta do Poder Público, o expropriado ingressa com demanda de
retrocessão em face do ente da federação, na qual pleiteia a sequela do bem em razão do
que dispõe o artigo 519 do Código Civil.
Em defesa, sustenta o Poder Público que não cometeu qualquer irregularidade ao alienar
o bem a um terceiro, tendo em vista que o adquirente pagou o preço correspondente à
coisa, sendo certo ainda que não está previsto no ordenamento jurídico nacional o direito
de sequela ao expropriado.
Decida fundamentadamente a questão.
RESPOSTA:
Ensina o professor Marco Aurélio Bezerra de Melo que há controvérsia doutrinária acerca
da natureza da retrocessão com efeito jurídico relevante. Terá ela natureza real ou
pessoal? Se for real, a sua configuração possibilitará, à semelhança do condômino a quem
não deu direito de preferência, adjudicar o bem de modo forçado mediante o depósito do
valor atual do bem (art. 504, CC). A natureza real da retrocessão permitirá ao expropriado,
preenchidos os requisitos legais pleitear a reincorporação do que saiu de seu patrimônio.
Em favor dessa tese levantam-se argumentos interessantes.
O primeiro é que a preempção convencional não se confunde com a legal e esta última
assegura ao expropriado, não a ação reivindicatória, mas sim a ação de retrocessão. Nessa
linha de raciocínio, não teria sentido o legislador assegurar ao expropriado direito à
indenização se isto já lhe fora outorgado por ocasião da própria desapropriação, nos
moldes da garantia fundamental prevista no artigo 5º, XXIV, da Constituição Federal. O
próprio instituto da desapropriação funciona como um dos mais importantes limites ao
direito de propriedade e a venda forçada materializada pelo instituto apenas se justifica
se houver o efetivo respeito ao interesse público, na forma disciplinada pela lei maior.
Assim, se a desapropriação não se revestir da efetiva utilidade ou necessidade pública, ou
ainda, do interesse social, que serviram de justificativa jurídica para a referida intervenção
estatal, nada mais justo e coerente que o bem retorne ao patrimônio particular se este
pagar o bem pelo seu preço atual
A pequenez do cidadão perante o Estado e o dever deste de orientar a sua ação em estado
de permanente observância do interesse público, levam a que Otavio Luiz Rodrigues
Junior defenda a natureza real da retrocessão com fundamento que deve ser reproduzido
na íntegra: "Com essa força quase sem contraste do Estado, a retrocessão comparece
como uma incipiente forma de se coibirem os abusos e desvios da ação interventiva no
domínio particular. Não é um privilégio do particular sobre o Estado. Cuida-se de uma
proteção mínima de um particular sem recursos jurídicos em face da atuação abusiva,
desviada e ilícita do poder expropriador. Sob essa ótica, é justificável em termos de
política jurídica a existência de uma figura como a retrocessão, com eficácia real."
Além das judiciosas e pertinentes observações, conforme anotamos acima, a lei especial
inadmite a propositura de ação reivindicatória por parte do expropriado contra a Fazenda
Pública e, nessa toada, se a Administração Pública não der o destino devido decorrente
dos fins da desapropriação, o expropriado apenas teria ação indenizatória. que é a posição
majoritária na doutrina e jurisprudência (TJPR, 4a CC, Proc. n° 467261- 7. Rel. Des.
Maria Aparecida Blanco de Lima, julg. 13/10/2009) nos parece mais técnica, sob o ponto
de vista do direito positivo. Qualquer manifestação em sentido contrário nos parece, com
a devida vênia, de lege ferenda ou então posicionamento doutrinário anterior à lei geral
das desapropriações.