Acórdão n. 0003605 - Data: 09-04-1996; Num. 0057225; Ano: 1994 - UF: RJ – Terceira Turma
– Recurso Especial: Publicação DJ: 27/05/1996 p.17865. Promessa de compra e venda por
instrumento particular, não inscrita no registro de imóveis. Caso em que não se pactuou
arrependimento. De acordo com a decisão recorrida, " a promessa de compra e venda, por
instrumento particular, não inscrita no registro público, gera efeitos obrigacionais, já que a
adjudicação compulsória e de caráter pessoal, restrito aos contratantes, sendo que aquele
que se comprometeu a concluir um contrato, caso não conclua a sua obrigação, a outra
parte poderá obter uma sentença que produza o mesmo efeito do contrato firmado". Em tal
sentido, RESP's 30 e 9945, entre outros. 2. O direito de arrependimento supõe que haja sido
pactuado. E que "não poderá o promitente vendedor arrepender-se, se não houver clausula
expressa, no pré-contrato, prevendo essa possibilidade" (REsp-8202). Em caso tal, não tem
aplicação o disposto no art. 1088 do Cód. Civil. 3. Recurso especial não conhecido. Relator:
Min. Nilson Naves – Veja: Recurso Especial n. 9945, 8202, 8944, (STJ).
Aliás, se os tivesse, já não haveria falar num direito real do promitente-comprador, senão
que a promessa se confundiria com a venda, e o promitente comprador, só pelo fato de o ser,
já se equipararia ao comprador (Caio Mário da Silva Pereira. Instituições de Direito Civi –
Vol IV – 13ª ed. Rio de Janeiro, ed. Forense, 1999, p. 314).
Assim, a promessa de compra e venda não é venda, como confundem alguns com
supedâneo no direito francês, no qual promesse de vent vaut vente (Barbosa Lima
Sobrinho. As Transformações da Compra-e-Venda. p. 84; Planiol Ripert et Boulanger, Traité
Elémentaire, vol. II, n.os 2.414 e segs).
Demanda semelhante é a execução de obrigação de fazer disciplinada pelos artigos 461, 639
a 641 do Código de Processo Civil, 48 e 84 do Código de Defesa do Consumidor, pelo rito
sumário ou ordinário, conforme o caso.
Carlyle Popp (Execução de obrigação de fazer. Curitiba, Ed. Juruá, 1995. P. 141 a 143) não faz
distinção entre o direito real atribuído pelo registro da promessa de compra e venda e a
natureza real da ação de adjudicação compulsória. Nessa linha, inadmite a adjudicação
compulsória de contrato não registrado, vez que, apenas seria possível, nesse caso, a
execução de obrigação de fazer.
A nosso ver, tanto a execução de obrigação de fazer, quanto a adjudicação compulsória, são
demandas de caráter pessoal e colocadas a disposição do promissário no caso de
inadimplemento do promitente na transferência do domínio do imóvel:
topo
Adjudicação Compulsória - Necessidade de registro do compromisso de compra e venda -
Inadmissibilidade - Eficácia e validade não condicionadas a formalidade do instrumento
público - Obligatio faciendi assumida pelo promitente-vendedor que possui o condão de dar
ensejo a adjudicação - Inaplicabilidade da Súmula 167 do Supremo Tribunal Federal -
Extinção do processo afastada - Recurso provido. A promessa de venda gera pretensões de
direito pessoal, não dependendo, para sua eficácia e validade, de ser formalizada em
instrumento público. A obligatio faciendi, assumida pelo promitente vendedor, pode dar
ensejo à adjudicação compulsória. O registro imobiliário somente é necessário para
produção de efeitos relativamente a terceiros. (Apelação Cível n. 000.747-4 - São Paulo - 8ª
Câmara de Férias de Direito Privado - Relator: Cesar Lacerda - 31.01.96 - V. U.)
Ricardo Arcoverde Credie (Adjudicação compulsória, São Paulo, Ed. Malheiros, 1997) e
Mário de Aguiar Moura (Promessa de Compra e Venda, Rio de Janeiro, Ed. Aide, 1986, p. 160)
entendem que não há necessidade de registro para que o promissário se valha da ação de
adjudicação compulsória. De fato, é a interpretação mais coerente com o espírito da própria
Lei que busca a proteção do promissário comprador. Pensar diferente seria impor uma
injustificada sanção em detrimento da obrigação do promitente vendedor outorgar a
escritura. Acrescenta-se, apenas, a necessidade de que a promessa não seja retratável.
Ora, tal obrigação do promitente vendedor decorre do próprio contrato, tenha ele sido ou
não sido registrado. É uma obrigação de fazer que, inadimplida, pode perfeitamente ser
substituída por decisão judicial nos termos dos artigos 461, 639 e 641 do Código de Processo
Civil (execução de obrigação de fazer – pelo rito ordinário ou sumário) ou, facultativamente,
pelo disposto nos artigos 16 e 22 do decreto-lei 58/37 (adjudicação compulsória, pelo rito
sumário).
O registro seria, apenas, mais uma garantia ao promissário comprador, que teria
assegurada a propriedade contra futura alienação do promitente vendedor para terceiros
em face do direito real oponível erga omnes. O registro retira do promitente vendedor a
disponibilidade do bem, a despeito de, estranhamente, continuar com o domínio sobre ele.
O registro atribui à promessa de compra e venda uma eficácia real cujo objeto é o futuro
contrato definitivo.
Antes do registro, observa-se mero direito pessoal, que gera direitos obrigacionais e não
reais.
Na lição de Serpa Lopes (M.M. Serpa Lopes. Curso de Direito Civil. vol. VI, Rio de Janeiro,
topo
Livraria Freitas Bastos, 1961, n° 119) trata-se de um novo direito real: direito real de
aquisição.
Registra-se, contudo, que Orlando Gomes considera a promessa de compra e venda um
misto de direito real de gozo e de garantia (Direitos Reais – 11ª ed. Rio de Janeiro, Ed.
Forense, 1995, p. 313/314)
Para Maria Helena Diniz, a inscrição da promessa de compra e venda de imóvel equivale a
um direito real limitado, direito de aquisição, assecuratório do ‘contrahere’ futuro, não só
em relação às partes contratantes, como ‘erga omnes’ ( Curso de Direito Civil Brasileiro. 4°
Vol. Direito da Coisas. São Paulo, Ed. Saraiva, 1996. p. 413).
Para Wolff, o registro atribuiria ao direito pessoal um direito negativo de senhorio (Martin
Wolff. Derecho de cosas, 8ª ed, traducida de la 32ª ed. Alemana y anotada com referencia al
Derecho español por Blas Pérez Gonçalez y José Alguer, Barcelona, 1936. § 48).
Demais disso, sem o registro, o promissário comprador não terá a garantia de que o imóvel
prometido não será penhorado com sucesso por dívidas posteriores a sua celebração, não
obstante jurisprudência vacilante, ora num ora noutro sentido:
Importante, por fim, ressaltar que a sentença na ação de adjudicação compulsória não
possui o condão de transmitir qualquer domínio, vez que se trata apenas de substituição da
escritura pública e, como tal, sujeitar-se-á as exigências para que seja registrada e, por
conseguinte, transmita a propriedade.
Caso o promitente vendedor não mais disponha do domínio, este não se transmitirá.
Assim, não se registrará, por exemplo, sentença em que o polo passivo não for integrado
pelo proprietário constante do registro.
Matéria: adjudicação Recurso: Apelação 15029 0; Origem: Praia Grande; Relator: Dínio
Garcia; Data: 08/07/92. Registro de imóveis - adjudicação - título de origem judicial
circunstância que não isenta o título dos requisitos básicos par o registro - negativa do
registro que não torna ineficaz ou inválida a sentença judicial, senão apenas verifica se o
título quadra com a exigência do registro imobiliário - necessidade, ademais, da carta de
adjudicação para se reportar a promessa de compra e venda.
a) a promessa de compra e venda, enquanto não registrada, é um direito pessoal, seja por
escritura pública ou por instrumento particular;
b) registrada, passa a constituir um direito real, oponível erga omnes, atribuindo ao seu
titular o direito de seqüela;